O documento discute como os cidadãos estão se sentindo descartáveis sob as políticas de austeridade. A narrativa que justifica cortes em serviços públicos e proteção social para beneficiar os ricos precisa ser combatida em 2013. O aumento da contestação pública contra a austeridade forçou os governos a ouvirem mais as preocupações dos cidadãos.
Descartáveis ou sujeitos de mudança? Cidadãos reagem à austeridade
1. Fevereiro 2013
SINAPSA
Descartáveis ou sujeitos de mudança?
Quantos cidadãos terão começado o ano de 2013 com a impressão de que o governo do seu país,
apesar de democraticamente eleito, e a União Europeia, que já alimentou sonhos de modernidade
e desenvolvimento, diariamente se empenham em fazê-los sentir que estão a mais? Quantos
estarão a sentir que quem decide das suas vidas legisla apesar deles, e não para eles nem com
eles? Quantos acreditaram na retórica manipuladora da expiação da «culpa» através do
«sacrifício» e descobrem agora que esse poço sem fundo da austeridade sempre traduziu um
profundo desrespeito pela sua inteligência, pelo seu trabalho e pela sua humanidade, e
perpetuamente se transmuta em mais exploração, menos rendimento disponível, mais
desemprego, menos protecção social, mais acumulação de riqueza no topo, menos Estado social,
mais privatizações, menos serviços públicos e, claro, mais salvamentos de bancos – agora foi o
BANIF, quantos mais virão?
Não fora o simples facto de serem os cidadãos, com o seu trabalho, quem cria essa mesma riqueza
que os decisores políticos se comprazem em canalizar, directa ou indirectamente, para engordar
fortunas e satisfazer interesses privados, já há muito que teriam passado de mera variável de
ajustamento, objecto de todas as desvalorizações, para serem liminarmente abandonados à sua
sorte, descartados como qualquer mercadoria já consumida ou sem valor.
Como cidadãos, já estávamos a caminhar para este estatuto cada vez que aceitámos o aumento da
exploração, a corrosão dos serviços públicos, as engenharias de concessões e privatizações que
deixam o país sem recursos para sustentar o aparelho produtivo e o Estado social. Mas também
cada vez que nos deixámos convencer de que o privado faz melhor do que o público, de que a
desregulação liberta o desenvolvimento, de que a limitação da riqueza afugenta os ricos, de que a
desvalorização social não tem alternativa.
Esta narrativa e esta arquitectura de subalternização do estatuto dos cidadãos terá de ser
contrariada no ano que agora começa. Não é tarefa fácil. Desde 2012 que os responsáveis pela
austeridade, pela espiral recessiva e pelo desastre social perceberam que os cidadãos são uma
maçada. Um «entrave» à governação, tal como a Constituição e a democracia. O aumento da
contestação, nas suas múltiplas formas, fez regressar o povo como sujeito histórico e mostrou-
lhes que era tempo de juntar algumas cenouras ao discurso do bastão dos
1e6
«malandros culpados».
Sandra Monteiro | Le Monde Diplomatique - Janeiro de 2013
2013
f v Aceda ao artigo completo no site do SINAPSA, em http://www.sinapsa.pt/articles/descartaveis-
ou-sujeitos-de-mudanca-3
GRANDE
MANIFESTAÇÃO NACIONAL TODOS À RUA!