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                                                                                                   OGLOBO



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                                          O dilema de Vargas
       Com o primeiro escalão dividido, ditador hesitou antes de romper com o Eixo na 2a Guerra
                                                                                                                      CPDOC/FGV                                                                     AgÃancia O Globo
             Renato Grandelle
         renato.grandelle@oglobo.com.br




 A
         ntes dos bombardeios da Se-
         gunda Guerra Mundial, a Ale-
         manha e os Estados Unidos
         polarizaram outra disputa,
 esta na América Latina: quem domi-
 naria bolsos e mentes dos governos
 da região. Exatos 70 anos atrás, o
 Brasil decidiu o seu lado. Tornou-se
 o primeiro país entre seus vizinhos
 a romper relações diplomáticas
 com o Eixo. A decisão dividiu não
 apenas o continente, como também
 o próprio Estado Novo, ditadura
 conduzida por Getúlio Vargas. O
 presidente passou anos aflito, pres-
 sionado por seu primeiro escalão a
 pender para um lado. Embora tenha
 reforçado as fileiras dos Aliados,
 suas preferências pessoais até hoje                                                                                              CH Rio de Janeiro (RJ) 25/01/2012
 são questionadas. Não falta quem
 lhe acuse de ser simpático ao nazis-
 mo. Há, também, especialistas que
 o veem como pai de uma política ex-
 terna pragmática, justamente por
 negociar com os representantes de
 dois extremos ideológicos — algo
 que volta e meia se repete por aqui,
 embora com outros personagens.
 Mas o recreio do gaúcho em livrar-
 se da teia americana, que se impu-
 nha do comércio à cultura, acabou
 pesando mais em seu discurso.
    Entre os germanófilos estavam
 Góis Monteiro, chefe do Estado
 Maior do Exército; Eurico Gaspar
 Dutra, ministro da Guerra; e Filinto
 Müller, o temido líder da polícia po-    O PRESIDENTE americano Franklin Roosevelt (no jipe) visita a base aérea de Natal,
 lítica. O front americano era capita-
                                          acompanhado por Vargas (atrás). Ao lado, a primeira página do GLOBO nas três
 neado pelo ministro das Relações
 Exteriores, Oswaldo Aranha, e por        edições de 28/1/42 e na edição matinal do dia seguinte
 Amaral Peixoto, interventor do Es-
 tado do Rio e genro do ditador. Var-     da por décadas em que tratou seus         desde que os EUA financiassem a               concordasse com a instalação de           Segundo Ferreira, quando os 25 mil
 gas ora conversava mais com um           vizinhos do Sul como quintal. Se-         reestruturação de nossas Forças Ar-           bases americanas no Nordeste,           pracinhas embarcaram rumo à Euro-
 grupo; ora confabulava com o ou-         gundo, a visão global de falência         madas, cujo poder era nulo.                   “muito possivelmente haveria uma        pa, Vargas sabia que seu Estado Novo
 tro. Recebeu ministros da Itália, um     das democracias. Os países que                                                          invasão dos EUA à região”.              estava próximo do suspiro final. O dita-

                                                                                    EUA poderiam
 país do Eixo, mas também foi anfi-       mais cresciam à época, Alemanha e                                                         Em janeiro de 1942, o Brasil rom-     dor seria deposto em outubro de 1945,
 trião do presidente americano            União Soviética, estavam sob réde-                                                      peu com o Eixo — garantindo caixa       um mês após o fim da guerra.

                                                                                    invadir Nordeste
 Franklin Roosevelt. Assinou vanta-       as totalitárias.                                                                        não só para as suas Forças Armadas,       — A postura tomada pelo gover-
 josos acordos comerciais com am-           Cientes de que a fama da Casa                                                         como também para construir a Com-       no brasileiro no início da guerra,
 bos os lados. E, enquanto (não) de-      Branca não era das melhores, os                                                         panhia Siderúrgica Nacional, em         com uma política externa liderada
 cidia, manteve o cofre aberto para       EUA comemoraram quando os                 l Dulce Pandolfi, do Centro de                Volta Redonda.                          pelo pragmatismo, ficou até hoje —
 seus planos econômicos.                  chanceleres latino-americanos, reu-       Pesquisa e Documentação de Histó-               — Filinto Müller, que era favorá-     assinala. — Essa independência re-
    — Nos anos 30, os EUA eram o mai-     nidos no Panamá em 1939, decidi-          ria Contemporânea do Brasil (CP-              vel ao alinhamento com a Alema-         lativa dos grandes centros se repe-
 or parceiro econômico da América         ram que a região iria manter-se neu-      Doc-FGV), não duvida da habilidade            nha, proibiu diversas manifesta-        te em diversos outros governos, co-
 Latina, mas a Alemanha já vinha em       tra na guerra.                            política e da capacidade de barga-            ções que exigiam a entrada do Bra-      mo os de Jânio (Quadros), Jango
 segundo lugar — ressalta Jorge Fer-        — Saber que as águas do continen-       nha de Vargas. Mas, após ler os diá-          sil na guerra — conta Israel Beloch,    (João Goulart) e até (Ernesto) Gei-
 reira, professor de História do Brasil   te não ficariam à disposição de navi-     rios do ditador, ela concluiu que o           editor do site Brasiliana Eletrônica,   sel. Todos deixaram as ideologias
 da UFF. — Com os EUA, trocava-se,        os de guerra alemães era uma vitó-        alinhamento com os EUA foi sofrido.           da UFRJ. — Então Amaral Peixoto,        de lado para negociar o que fosse
 em dólar, matéria-prima por produ-       ria para os EUA — destaca Ferreira.         — Vargas tinha uma simpatia muito           que sempre fora favorável aos EUA,      melhor para o país.
 tos industrializados. Já o Terceiro      — Mas logo depois aumentou a              grande pelo Eixo e acreditava na sobe-        levava esses protestos a Niterói, se-     Boa parte dos simpáticos ao Reich
 Reich oferecia o chamado comércio        pressão sobre Vargas, que manti-          rania militar alemã. E o Estado Novo          de de seu governo e fora da jurisdi-    do Estado Novo fizeram parte do
 compensado. O Brasil, por exemplo,       nha uma política externa chamada          estava mais afinado com a ideologia           ção de Filinto.                         golpe que depôs Vargas. Um deles,
 exportava café e ficava com crédito      de equidistância pragmática. Em           totalitária — ressalta. — Mas havia             Em agosto, a Alemanha retaliou a      Dutra, sucedeu-o na Presidência.
 no Banco Central Alemão para, com        1940, os militares americanos consi-      um investimento muito grande, seja            escolha de Vargas. Afundou cinco          — Havia um temor do caminho
 ele, importar o que bem entendesse.      deraram que a neutralidade brasilei-      militar ou cultural, dos EUA no Brasil.       navios mercantes do país em nossa       que Vargas seguiria, amparado por
 Era uma grande vantagem.                 ra era incompatível, e que seria fun-     De certa forma, ele foi um refém, em-         costa, provocando a morte de cente-     suas alianças trabalhistas — avalia
    Washington colecionava proble-        damental instalar bases militares         bora isso não tenha sido consciente.          nas de pessoas. O Brasil, no entanto,   Dulce. — A elite ajustou-se para
 mas nos trópicos. Primeiro, sua          em Recife, Natal e Fernando de No-          A Casa Branca, de fato, soube se            só iniciou o envio de tropas para a     manter o seu poder. Mudou para, no
 própria imagem negativa, cultiva-        ronha. O Estado Novo concordou,           impor. Para Ferreira, se Vargas não           Itália em julho de 1944.                fim das contas, nada mudar. n

                                                           Divulgação




                                                                                                      O olhar dos prisioneiros
                                                                                   Recuperados 32 desenhos inéditos feitos por preso de campo de Auschwitz

                                                                                          Graça Magalhães-Ruether                             que a criança foi imediatamente selecionada para a morte,
                                                                                              ciencia@oglobo.com.br                           o que acontecia também com os doentes e fracos, enquan-
                                                                                           Correspondente • BERLIM
                                                                                                                                              to o pai ficou do lado dos que eram destinados ao trabalho
                                                                                                                                              forçado. Em um outro desenho, uma cena anterior, o mes-
                                                                        l Quase 70 anos depois da libertação do campo de concen-              mo garoto, de cerca de quatro anos, aparece com a mão
                                                                        tração que entrou para a História como sinônimo da mons-              agarrada ao pai, na rampa de Auschwitz, pouco depois de
                                                                        truosidade do regime nazista, o Museu de Auschwitz-                   desembarcar do trem. Atrás dos dois, pode ser vista uma
                                                                        Birkenau, na Polônia, acaba de publicar um livro com 32               multidão de pessoas portando a estrela amarela.
                                                                        desenhos inéditos feitos por um dos prisioneiros do cam-                Os desenhos, publicados com o título de “The Sketchbo-
                                                                        po, mostrando o dia a dia dos presos. Segundo Jarek Mens-             ok from Auschwitz”, com 115 páginas, editados pela histo-
     ACIMA, o desenho do menino em roupa de marinheiro;                 felt, porta-voz do Museu Auschwitz-Birkenau, o autor dos              riadora Agnieszka Sieradzka, ajudam a reconstituir os
     abaixo, um prisioneiro ao lado de um guarda de Auschwitz           desenhos, que assinava os trabalhos com as iniciais M.M.,             acontecimentos no maior campo de extermínio. Para Sie-
                                                                        continua desconhecido. Ao contrário dos outros cerca de               radzka, o autor dos desenhos deve ter sido um prisioneiro
                                                                        dois mil desenhos e pinturas que já eram conhecidos, fei-             antigo, que tinha acesso a diversas áreas. Uma das possibi-
                                                                        tos pelos prisioneiros por encomenda dos nazistas, os 32              lidades é que o autor tenha sido o pai do menino vestido de
                                                                        que acabam de ser publicados mostram as cenas do martí-               traje de marinheiro. De acordo com o porta-voz do museu,
                                                                        rio das vítimas de perto, o transporte dos mortos das câ-             o desenhista deve ter trabalhado nas “tropas de triagem”
                                                                        maras de gás para os fornos crematórios, cenas que mos-               dos prisioneiros e pode ter tido acesso também à enferma-
                                                                        tram uma certa rotina de trabalho que era acompanhado                 ria, pois, de outra forma, não teria conseguido lápis e pa-
                                                                        de perto pelos indiferentes guardas nazistas.                         pel. Também não se sabe o que aconteceu com o autor. O
                                                                          Num dos desenhos, um guarda nazista fuma enquanto os                fato é que o desenhista, que arriscou tudo ao fazer cada
                                                                        prisioneiros cuidam do transporte de corpos esqueléti-                desenho, para mostrar ao mundo o que na época parecia
                                                                        cos. Um outro desenho mostra o desembarque dos prisio-                inacreditável — pois era estritamente proibido pelos na-
                                                                        neiros, alguns estafados, outros ainda bem vestidos e com             zistas registrar informações sobre o que acontecia no
                                                                        boa aparência, o que indica que tinham sido presos em um              campo — escondeu os 32 desenhos feitos em um papel
                                                                        lugar não muito distante. O mais chocante dos desenhos é              amarelado em uma garrafa, que depositou no fundamento
                                                                        o de número 14, que mostra um garoto vestido de traje de              de uma barraca próximas às câmaras de gás e a dois cre-
                                                                        marinheiro que é arrancado do pai por um guarda nazista.              matórios. Em 1947, dois anos depois da libertação do cam-
                                                                        O pai continua com os braços estendidos, como se ainda                po, o ex-prisioneiro Józef Odi, um dos cofundadores do
                                                                        tivesse a chance de recuperar o menino. O desenho indica              museu, encontrou os contundentes documentos.

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O dilema de Vargas na 2a Guerra

  • 1. 38 Sábado, 28 de janeiro de 2012 OGLOBO HISTÓRIA O dilema de Vargas Com o primeiro escalão dividido, ditador hesitou antes de romper com o Eixo na 2a Guerra CPDOC/FGV AgÃancia O Globo Renato Grandelle renato.grandelle@oglobo.com.br A ntes dos bombardeios da Se- gunda Guerra Mundial, a Ale- manha e os Estados Unidos polarizaram outra disputa, esta na América Latina: quem domi- naria bolsos e mentes dos governos da região. Exatos 70 anos atrás, o Brasil decidiu o seu lado. Tornou-se o primeiro país entre seus vizinhos a romper relações diplomáticas com o Eixo. A decisão dividiu não apenas o continente, como também o próprio Estado Novo, ditadura conduzida por Getúlio Vargas. O presidente passou anos aflito, pres- sionado por seu primeiro escalão a pender para um lado. Embora tenha reforçado as fileiras dos Aliados, suas preferências pessoais até hoje CH Rio de Janeiro (RJ) 25/01/2012 são questionadas. Não falta quem lhe acuse de ser simpático ao nazis- mo. Há, também, especialistas que o veem como pai de uma política ex- terna pragmática, justamente por negociar com os representantes de dois extremos ideológicos — algo que volta e meia se repete por aqui, embora com outros personagens. Mas o recreio do gaúcho em livrar- se da teia americana, que se impu- nha do comércio à cultura, acabou pesando mais em seu discurso. Entre os germanófilos estavam Góis Monteiro, chefe do Estado Maior do Exército; Eurico Gaspar Dutra, ministro da Guerra; e Filinto Müller, o temido líder da polícia po- O PRESIDENTE americano Franklin Roosevelt (no jipe) visita a base aérea de Natal, lítica. O front americano era capita- acompanhado por Vargas (atrás). Ao lado, a primeira página do GLOBO nas três neado pelo ministro das Relações Exteriores, Oswaldo Aranha, e por edições de 28/1/42 e na edição matinal do dia seguinte Amaral Peixoto, interventor do Es- tado do Rio e genro do ditador. Var- da por décadas em que tratou seus desde que os EUA financiassem a concordasse com a instalação de Segundo Ferreira, quando os 25 mil gas ora conversava mais com um vizinhos do Sul como quintal. Se- reestruturação de nossas Forças Ar- bases americanas no Nordeste, pracinhas embarcaram rumo à Euro- grupo; ora confabulava com o ou- gundo, a visão global de falência madas, cujo poder era nulo. “muito possivelmente haveria uma pa, Vargas sabia que seu Estado Novo tro. Recebeu ministros da Itália, um das democracias. Os países que invasão dos EUA à região”. estava próximo do suspiro final. O dita- EUA poderiam país do Eixo, mas também foi anfi- mais cresciam à época, Alemanha e Em janeiro de 1942, o Brasil rom- dor seria deposto em outubro de 1945, trião do presidente americano União Soviética, estavam sob réde- peu com o Eixo — garantindo caixa um mês após o fim da guerra. invadir Nordeste Franklin Roosevelt. Assinou vanta- as totalitárias. não só para as suas Forças Armadas, — A postura tomada pelo gover- josos acordos comerciais com am- Cientes de que a fama da Casa como também para construir a Com- no brasileiro no início da guerra, bos os lados. E, enquanto (não) de- Branca não era das melhores, os panhia Siderúrgica Nacional, em com uma política externa liderada cidia, manteve o cofre aberto para EUA comemoraram quando os l Dulce Pandolfi, do Centro de Volta Redonda. pelo pragmatismo, ficou até hoje — seus planos econômicos. chanceleres latino-americanos, reu- Pesquisa e Documentação de Histó- — Filinto Müller, que era favorá- assinala. — Essa independência re- — Nos anos 30, os EUA eram o mai- nidos no Panamá em 1939, decidi- ria Contemporânea do Brasil (CP- vel ao alinhamento com a Alema- lativa dos grandes centros se repe- or parceiro econômico da América ram que a região iria manter-se neu- Doc-FGV), não duvida da habilidade nha, proibiu diversas manifesta- te em diversos outros governos, co- Latina, mas a Alemanha já vinha em tra na guerra. política e da capacidade de barga- ções que exigiam a entrada do Bra- mo os de Jânio (Quadros), Jango segundo lugar — ressalta Jorge Fer- — Saber que as águas do continen- nha de Vargas. Mas, após ler os diá- sil na guerra — conta Israel Beloch, (João Goulart) e até (Ernesto) Gei- reira, professor de História do Brasil te não ficariam à disposição de navi- rios do ditador, ela concluiu que o editor do site Brasiliana Eletrônica, sel. Todos deixaram as ideologias da UFF. — Com os EUA, trocava-se, os de guerra alemães era uma vitó- alinhamento com os EUA foi sofrido. da UFRJ. — Então Amaral Peixoto, de lado para negociar o que fosse em dólar, matéria-prima por produ- ria para os EUA — destaca Ferreira. — Vargas tinha uma simpatia muito que sempre fora favorável aos EUA, melhor para o país. tos industrializados. Já o Terceiro — Mas logo depois aumentou a grande pelo Eixo e acreditava na sobe- levava esses protestos a Niterói, se- Boa parte dos simpáticos ao Reich Reich oferecia o chamado comércio pressão sobre Vargas, que manti- rania militar alemã. E o Estado Novo de de seu governo e fora da jurisdi- do Estado Novo fizeram parte do compensado. O Brasil, por exemplo, nha uma política externa chamada estava mais afinado com a ideologia ção de Filinto. golpe que depôs Vargas. Um deles, exportava café e ficava com crédito de equidistância pragmática. Em totalitária — ressalta. — Mas havia Em agosto, a Alemanha retaliou a Dutra, sucedeu-o na Presidência. no Banco Central Alemão para, com 1940, os militares americanos consi- um investimento muito grande, seja escolha de Vargas. Afundou cinco — Havia um temor do caminho ele, importar o que bem entendesse. deraram que a neutralidade brasilei- militar ou cultural, dos EUA no Brasil. navios mercantes do país em nossa que Vargas seguiria, amparado por Era uma grande vantagem. ra era incompatível, e que seria fun- De certa forma, ele foi um refém, em- costa, provocando a morte de cente- suas alianças trabalhistas — avalia Washington colecionava proble- damental instalar bases militares bora isso não tenha sido consciente. nas de pessoas. O Brasil, no entanto, Dulce. — A elite ajustou-se para mas nos trópicos. Primeiro, sua em Recife, Natal e Fernando de No- A Casa Branca, de fato, soube se só iniciou o envio de tropas para a manter o seu poder. Mudou para, no própria imagem negativa, cultiva- ronha. O Estado Novo concordou, impor. Para Ferreira, se Vargas não Itália em julho de 1944. fim das contas, nada mudar. n Divulgação O olhar dos prisioneiros Recuperados 32 desenhos inéditos feitos por preso de campo de Auschwitz Graça Magalhães-Ruether que a criança foi imediatamente selecionada para a morte, ciencia@oglobo.com.br o que acontecia também com os doentes e fracos, enquan- Correspondente • BERLIM to o pai ficou do lado dos que eram destinados ao trabalho forçado. Em um outro desenho, uma cena anterior, o mes- l Quase 70 anos depois da libertação do campo de concen- mo garoto, de cerca de quatro anos, aparece com a mão tração que entrou para a História como sinônimo da mons- agarrada ao pai, na rampa de Auschwitz, pouco depois de truosidade do regime nazista, o Museu de Auschwitz- desembarcar do trem. Atrás dos dois, pode ser vista uma Birkenau, na Polônia, acaba de publicar um livro com 32 multidão de pessoas portando a estrela amarela. desenhos inéditos feitos por um dos prisioneiros do cam- Os desenhos, publicados com o título de “The Sketchbo- po, mostrando o dia a dia dos presos. Segundo Jarek Mens- ok from Auschwitz”, com 115 páginas, editados pela histo- ACIMA, o desenho do menino em roupa de marinheiro; felt, porta-voz do Museu Auschwitz-Birkenau, o autor dos riadora Agnieszka Sieradzka, ajudam a reconstituir os abaixo, um prisioneiro ao lado de um guarda de Auschwitz desenhos, que assinava os trabalhos com as iniciais M.M., acontecimentos no maior campo de extermínio. Para Sie- continua desconhecido. Ao contrário dos outros cerca de radzka, o autor dos desenhos deve ter sido um prisioneiro dois mil desenhos e pinturas que já eram conhecidos, fei- antigo, que tinha acesso a diversas áreas. Uma das possibi- tos pelos prisioneiros por encomenda dos nazistas, os 32 lidades é que o autor tenha sido o pai do menino vestido de que acabam de ser publicados mostram as cenas do martí- traje de marinheiro. De acordo com o porta-voz do museu, rio das vítimas de perto, o transporte dos mortos das câ- o desenhista deve ter trabalhado nas “tropas de triagem” maras de gás para os fornos crematórios, cenas que mos- dos prisioneiros e pode ter tido acesso também à enferma- tram uma certa rotina de trabalho que era acompanhado ria, pois, de outra forma, não teria conseguido lápis e pa- de perto pelos indiferentes guardas nazistas. pel. Também não se sabe o que aconteceu com o autor. O Num dos desenhos, um guarda nazista fuma enquanto os fato é que o desenhista, que arriscou tudo ao fazer cada prisioneiros cuidam do transporte de corpos esqueléti- desenho, para mostrar ao mundo o que na época parecia cos. Um outro desenho mostra o desembarque dos prisio- inacreditável — pois era estritamente proibido pelos na- neiros, alguns estafados, outros ainda bem vestidos e com zistas registrar informações sobre o que acontecia no boa aparência, o que indica que tinham sido presos em um campo — escondeu os 32 desenhos feitos em um papel lugar não muito distante. O mais chocante dos desenhos é amarelado em uma garrafa, que depositou no fundamento o de número 14, que mostra um garoto vestido de traje de de uma barraca próximas às câmaras de gás e a dois cre- marinheiro que é arrancado do pai por um guarda nazista. matórios. Em 1947, dois anos depois da libertação do cam- O pai continua com os braços estendidos, como se ainda po, o ex-prisioneiro Józef Odi, um dos cofundadores do tivesse a chance de recuperar o menino. O desenho indica museu, encontrou os contundentes documentos.