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Título original: Killing Lions: A Guide Through the Trials Young Men Face
Copyright © 2014 by John Eldredge and Samuel Eldredge
Edição original por Nelson Books, um selo da Thomas Nelson. Nelson Books e Thomas Nelson são
marcas registradas da HarperCollins Christian Publishing, Inc.
Copyright da tradução © Vida Melhor Editora S.A., 2015
As citações bíblicas são da Nova Versão Internacional (NVI), da Biblica, Inc., a menos que seja
especificada outra versão da Bíblia Sagrada.
PUBLISHER Omar de Souza
EDITORES Aldo Menezes e Samuel Coto
PRODUÇÃO Thalita Aragão Ramalho
PRODUÇÃO EDITORIAL Daniel Borges do Nascimento
TRADUÇÃO Markus Hediger
REVISÃO DE TRADUÇÃO Thayane Assumpção
REVISÃO Mônica Surrage
CAPA Douglas Lucas
PROJETO GRÁFICO E DIAGRAMAÇÃO Filigrana
PRODUÇÃO DE EBOOK S2 Books
CIP-Brasil. Catalogação na fonte
Sindicato Nacional dos Editores de Livros, RJ
Eldredge, John, 1960-
Um leão por dia / John Eldredge , Sam Eldredge ; tradução Markus Hediger. - 1. ed. - Rio
de Janeiro : Thomas Nelson Brasil, 2015.
192 p. : il. ; 21 cm.
Tradução de: Killing lions
ISBN 9788578606114
1. Pais e filhos. 2. Família. I. Eldredge, Sam. II. Título.
CDD 306.87
CDU 392.3
Thomas Nelson Brasil é uma marca licenciada
à Vida Melhor Editora S.A.
Todos os direitos reservados à Vida Melhor Editora S.A.
Rua Nova Jerusalém, 345 – Bonsucesso
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www.thomasnelson.com.br
Para Susie, por acreditar em mim antes de mim.
— Sam
Para Sam, Blaine e Luke, que desbravaram uma trilha para os jovens homens que
viajam com eles e seguem em sua cola. Vocês são os melhores.
— Pai
Para os jovens homens cujas vidas ajudaram a dar forma a este livro, e para os
jovens homens cujas vidas este livro ajudará a formar.
— John e Sam
SUMÁRIO
Capa
Folha de rosto
Créditos
Dedicatória
Prefácio
Capítulo 1 . Faculdade: e depois?
Capítulo 2. Cheques sem fundo
Capítulo 3. O livro do amor
Capítulo 4. Mudando o roteiro pelo qual vivemos
Capítulo 5. Voltando a falar sobre amor, sexo e mulheres
Capítulo 6. Decisões, decisões
Capítulo 7. Lutando por sua vida
Capítulo 8. Algumas perguntas sobre Deus
Capítulo 9. O choque da intimidade
Capítulo 10. Correndo em direção ao desconhecido
Orações para a jornada
A oração diária
Uma oração por orientação
Uma oração por cura sexual
Notas
Agradecimentos
Sobre os autores
Acrescente a isso que ele era, em parte, um rapaz do nosso tempo — isto é, honesto
por natureza, exigente na verdade, buscando-a e acreditando nela, e, nessa crença,
exigindo nela uma participação imediata com todas as forças de sua alma; exigindo
uma ação imediata, com um desejo infalível de sacrificar tudo por essa ação, até a
vida. Mesmo que, infelizmente, esses jovens homens não entendem que o sacrifício da
vida seja, talvez, o mais fácil dos sacrifícios em muitos casos, enquanto, por exemplo,
sacrificar cinco ou seis anos de sua jovem vida fervente a estudos duros e difíceis, ao
aprendizado, a fim de multiplicar por dez sua força para servir àquela verdade e
àquela ação que eles amavam e se propuseram a alcançar — esse sacrifício está,
muitas vezes, além do alcance da força de muitos deles.
— Fiódor Dostoiévski
Os irmãos Karamazov
PREFÁCIO
No verão de 2012, eu completei um ano desde que me formara na faculdade e, de
repente, me vi diante de muitas perguntas. Quando desci as montanhas do Colorado e
as troquei pelas praias da Califórnia à procura de uma formação no ensino superior, eu
o fiz sem muita reflexão. Gostava do clima mais quente, o campus era lindo, e eu
precisava sair da mentalidade que havia mantido enquanto morava na casa dos meus
pais. A maioria das minhas decisões naqueles anos foi impulsiva. “Gosto do que isso
tem a me oferecer? OK, eu topo.”
Então me formei. Após os primeiros meses do êxtase que a liberdade e a
independência podem gerar, minha vida parou. Eu havia pulado na parte funda da
piscina que é a vida aos vinte e poucos anos, e agora, batendo braços e pernas, não
conseguia sair do lugar. A vida estava ficando mais complicada a cada semana que
passava, e minha capacidade de escolher a direção certa estava desaparecendo. A
verdade é que eu já estava engolindo água.
Como a maioria dos jovens que conheço, quero ser autossuficiente. Quero desbravar
o meu próprio caminho e ir atrás dos meus sonhos. Quero saber tudo e nunca precisar
de ninguém. É assim que a maioria dos homens que conheço encara o início da
maturidade: sozinho, sem jamais pedir ajuda, vagando sem rumo ao longo dos anos e
fazendo de conta que estão se dando melhor do que realmente estão.
Talvez as minhas forças tenham se esgotado antes do tempo. Talvez eu soubesse
que não precisava dar conta de tudo sozinho caso não quisesse. Qualquer que tenha
sido a razão, certo dia eu parei e perguntei ao meu pai se podíamos conversar sobre
como as coisas estavam indo na minha vida. Seguiram-se ligações semanais, durante
as quais falamos sobre minhas dificuldades e procuramos soluções juntos —
conversas que nem todos os homens têm, mas que, creio eu, todos desejam ter
desesperadamente. Este livro é o resultado dessas conversas, uma oportunidade para
analisarmos esse processo, o que também beneficiará você.
A história tem seus altos e baixos pelos meus anos de faculdade, a busca por um
emprego significativo, a procura por uma garota, meu casamento, a corrida atrás dos
meus sonhos. Nada disso foi inventado; os questionamentos são reais, assim como as
dúvidas e as respostas. A interação entre pai e filho também é real.
Recentemente li um artigo sobre um jovem da tribo dos massai que veio aos Estados
Unidos para fazer seu mestrado e, depois, seu doutorado. Antes de chegar ao mundo
ocidental, o jovem guerreiro havia matado um leão a fim de proteger sua aldeia e seu
gado. Essa prática está profundamente arraigada em sua tradição: um jovem precisa
confrontar e vencer um leão com uma lança caso este ataque seu gado. Ele foi
gravemente ferido, como era de se esperar, mas, após matar o predador, foi
considerado um herói e um líder. Não consigo imaginar nenhum exame universitário
ou entrevista de emprego que amedronte tanto um homem quanto estar sob as garras
de um leão.
Havia algo nessa história que tocou os lugares mais íntimos da minha alma; algo
sobre ter encarado um grande desafio, um desafio sem vitória garantida, e, mesmo
assim, tê-lo vencido, que me fez pensar. Se eu tivesse passado pela minha própria
grande provação, será que encararia as incertezas do futuro com uma postura mais
firme e uma confiança maior? Fico imaginando que, se eu tivesse vencido um leão, a
vida não me faria sentir como se estivesse me aventurando na selva armado apenas
com um smartphone.
Assim oferecemos este livro como uma confissão, um convite e um manifesto para
uma geração.
É a minha confissão, por eu imaginar que, enquanto narro minha história, você
talvez esteja enfrentando as mesmas perguntas. É nosso convite para que você nos
acompanhe em nossa viagem, para que você possa ser o filho que recebe conselhos do
pai ou o pai que sabe o que precisa dizer ao seu filho. É um manifesto para a geração
que está emergindo e não sabe como iniciar sua caça ao leão ou por trás de que
máscara o leão se esconde. Acreditamos que, com uma pequena ajuda, você possa ser
o homem que deseja ser — o homem que o mundo precisa que você seja.
Sam Eldredge
Minneapolis, Minnesota
CAPÍTULO 1
FACULDADE: E DEPOIS?
Sentiu de repente que ele podia olhar o mundo como uma pobre vítima de um ladrão,
ou como um aventureiro em busca de um tesouro.
“Sou um aventureiro em busca de um tesouro”, pensou.
Paulo Coelho, O Alquimista
Acho que ainda não lhe contei o quanto meu primeiro emprego foi patético.
Provavelmente, porque eu estava envergonhado.
Eu tinha 22 anos, a tinta da assinatura no meu diploma — de uma prestigiada
faculdade da costa leste — ainda não havia secado, e eu era então membro da classe
trabalhista como assistente pessoal profissional. Algumas companhias grandes
empregam pessoas em posições conhecidas como rabbits [coelhos]. (Às vezes, tenho
a impressão de que esse pessoal desiste dos cartões de visita.) Encontrei meu emprego
num anúncio on-line sob o título “Corredor”, e pensei: “Eu corro.”
Não que meu emprego tenha sido muito exigente; na verdade, foi sua trivialidade
entorpecente que me deixou desesperado. Para lhe dar um exemplo dos serviços
prestados a uma família (muito) rica num dia normal, aqui está a lista:
uma caixa de refrigerante light;
três caixas de água mineral com sabor de limão;
12 latas de comida de gato (proibidos os sabores camarão e fígado. O gato deles,
Taco, já havia me mandado devolver esses sabores em inúmeras ocasiões. Mas
quem, afinal de contas, chamaria seu gato de “Taco”?);
dois galões de água destilada;
iogurte grego, sabor natural;
biscoitos;
almoço para os 18 funcionários num restaurante local (após checar três vezes que
a salada de Angie tinha sementes de girassol, e que eu não havia me esquecido da
vitamina especial para Lynn, e que o molho para a salada vinha num recipiente
separado);
deixar pacotes nos Correios e uma caixa de vinho na casa de um membro do
conselho no centro da cidade.
Tudo isso parecia uma piada. Primeiros empregos são infames; todo mundo reclama
sobre eles como adolescentes aterrorizados. Mas enquanto dirigia pela cidade
mudando as estações no rádio durante horas sem fim, fiquei me perguntando: “O que
estou fazendo com minha vida?” Meus amigos que haviam escolhido uma carreira
comercial estavam trabalhando em agências de músicas para publicidade e
contadorias; um amigo estava trabalhando numa start-up da área de tecnologia. Um
colega, que também havia se formado em Letras, comandava a recepção de um hotel
sofisticado para que Paris Hilton pudesse se dedicar a seu hobby de DJ. Contudo,
quando nos reuníamos em torno da mesa do bar às noites de sexta-feira, eu não tinha
certeza se meus colegas com diplomas de economia estavam tendo mais sucesso do
que eu. Eles também estavam decepcionados.
Os fins de semana passavam voando, e na segunda-feira eu estava de volta ao meu
emprego entediante para poder pagar minha comida e meu aluguel, para que eu
pudesse voltar ao meu emprego para pagar minha comida e meu aluguel. Eu me sentia
como um porquinho-da-índia, correndo sem sair do lugar.
Talvez essa história devesse começar no meu segundo ano de faculdade, quando os
pássaros ainda cantavam, o sol brilhava todos os dias e todo mundo estampava um
sorriso no rosto. Quando tínhamos que escolher nossa especialização. Tomar uma
decisão lembrava e muito a época da escola, quando cada estudante precisava escolher
o que queria ser quando crescesse. Eu escolhi Letras porque amo histórias e
criatividade, e quero ser escritor. Ainda fico nervoso quando conto às pessoas o que
estudo, e elas dizem “Ah” — sempre com aquele tom de quem está ouvindo uma
notícia ruim — “O que você vai fazer com isso?”, e eu respondo: “Que tal não ficar
preso num cubículo pelo resto da minha vida, seu traidor?” Mas agora, dois anos mais
tarde, já não é mais tão fácil convencer a mim mesmo de que tomei a decisão certa.
Eu me pergunto: “Será que perdi meu tempo na faculdade?” Pai?
O MBA que tirou o pó da minha escrivaninha ontem à noite e o
bacharelado em arquitetura que me ajudou a encontrar um livro na livraria se
perguntam a mesma coisa. E assim, a grande batalha começa: a batalha pelo
seu coração, a batalha para encontrar algo por que valha a pena viver, a
batalha para não perder sua alma enquanto você tenta encontrar esse algo.
Por isso, respire fundo e dê um passo atrás. No início, cada passo em
direção ao desconhecido lhe dá a sensação de uma queda livre. Eu me lembro
dessa sensação. A faculdade é um espaço de preparação. Mas para quê? A
fim de conseguir ver claramente os seus anos de faculdade, pergunte a si
mesmo: você é simplesmente um trabalhador, um carreirista num ciclo
econômico infinito? Ou você é um ser humano, e aquele coração batendo no
fundo do seu peito está fazendo você sonhar com uma vida cheia de propósito
e sentido para a qual você foi criado? Veja bem, Sam, as perguntas sobre
quem nós somos e por que estamos aqui são muito mais importantes do que
as perguntas sobre como conseguir um emprego maravilhoso e ganhar
dinheiro. Você não quer acabar tendo uma vida que odeia. Alguns anos atrás,
conversei com um dentista bem-sucedido que se aproximava dos cinquenta
anos — na verdade, eu estava ouvindo suas confissões. Ele tinha sucesso,
morava numa casa linda, saía de férias para lugares maravilhosos; e sofria de
profunda depressão. Após uma longa pausa, ele lamentou: “Eu não fazia ideia
daquilo que eu queria quando estava na faculdade; eu era outra pessoa
quando escolhi esta vida.”
A ideia de que um garoto de 18 anos saiba quem ele é e o que deve fazer
pelo resto da vida é pura loucura. No primeiro ano de faculdade, você mal
começou a refletir sobre sua vida ou a se separar de sua família e sua cultura;
é difícil enxergar o mundo com clareza. Acordar a tempo e não se atrasar
para as aulas já é uma conquista; lembrar-se de lavar sua roupa, um triunfo
pessoal.
Meu primeiro ano na faculdade foi como um acampamento. Todo mundo estava tão
animado por estar ali, todos sentiam tanta alegria e liberdade que, na metade do
período, nem parecíamos estar estudando. Deixávamos de fazer as tarefas de casa,
íamos à praia, ficávamos acordados até tarde e flertávamos com todo mundo. Alguns
começaram a fumar. Outros se iniciaram na arte do namoro em série. A única coisa
em que conseguíamos pensar era no fato de que estávamos livres. Livres de nossas
cidades natais e das regras dos nossos pais. Livres daquilo que havíamos sido no
ensino médio. Ainda tínhamos muito tempo para descobrir como o mundo
funcionava.
Não há nada de errado com isso. Afinal de contas, é assim que é o primeiro
ano na faculdade. Mas, pelo amor de Deus, não peça a esses calouros que
definam o curso de suas vidas. Um mundo de descobertas — algumas bem
difíceis — os espera, e eles precisam passar por tudo isso primeiro. Essa é
uma temporada de exploração e transformação, de descobrir quem somos e
do que gostamos, de compreender qual pode ser o nosso lugar no mundo.
Nossos sonhos e desejos precisam despertar, crescer e amadurecer. Nós
precisamos despertar, crescer e amadurecer para podermos lidar com esses
desejos e sonhos. O homem em que estava me transformando aos 18 anos era
muito diferente do homem que fui aos 30, e completamente diferente do
homem que sou hoje, aos 53 anos. Não há nada de vergonhoso nisso; é assim
que a vida funciona, para todos. Quem inventou essa ideia de que no dia em
que se forma na faculdade você já é uma pessoa adulta plenamente
amadurecida, prestes a entrar numa vida maravilhosa e completamente
desenvolvida? Isso é tão insensato quanto frustrante.
E é uma mentira. Acho que faríamos melhor se víssemos essa temporada
como uma viagem por um país selvagem cheio de beleza e perigo — e com
alguns pântanos — em vez de esperar que seja uma estrada clara e bem-
definida do tipo faculdade-trabalho-vida-aposentadoria.
Existem duas abordagens básicas à educação no nível da faculdade. O plano
A corresponde a uma mera preparação para a carreira. Escolha a trajetória
profissional para sua vida, curse as disciplinas prescritas que o prepararão
para essa profissão e suba na hierarquia o mais rápido possível. Compreendo
por que essa abordagem atrai tantas pessoas, pois parece fazer sentido e
promete resultados — pelo menos no papel. As faculdades adoram prometer
carreiras, e os pais amam essas promessas. Mas existem muitas pessoas
graduadas em economia que estão trabalhando em lanchonetes,
decepcionadas. “Siga este plano e você terá esta vida” pode causar um grande
choque quando o plano não der certo. Você se sente traído se esteve
trabalhando sob essa perspectiva. Isso vale especialmente no contexto de uma
economia global volátil.
O plano A ignora um elemento vital da realidade: pouquíssimas pessoas
acabam trabalhando na área de seus estudos. Não conheço ninguém
pessoalmente. Até meu amigo médico se cansou de sua profissão e agora
trabalha numa ONG. Eu me formei em artes cênicas, e depois fiz meu
mestrado em aconselhamento; minha mãe estudou sociologia. Hoje, somos
escritores. A vida não costuma seguir uma trilha limpa, clara e reta. As
pessoas não costumam fazer isso.
Estou lendo um livro fascinante intitulado Shop Class as Soulcraft [A
oficina como ateliê da alma]; o autor é um jovem com doutorado em filosofia
política pela Universidade de Chicago. Após a formatura, ele conseguiu um
bom emprego como diretor executivo num grupo de pesquisas em
Washington, no qual se sentia constantemente cansado e desanimado. Depois
de seis meses, ele se demitiu para realizar seu sonho de montar uma oficina
para motocicletas. Os tempos mudaram. Meu pai era de uma geração que,
depois de se formar na faculdade, trabalhava na mesma empresa a vida
inteira. Mas os sinais dos nossos dias indicam que a geração atual terá algo
em torno de nove carreiras diferentes — não só empregos, mas carreiras —
ao longo de sua vida.
Não somos e não queremos ser como nossos avôs. Sentar-se à mesma escrivaninha
pelo resto das nossas vidas não nos atrai tanto quanto atraía a geração que vivenciou a
Grande Depressão. Mas, mesmo sabendo que você tem razão quando diz que muitos
jamais trabalharão na área que estudaram, isso me parece contradizer o conceito de
“estude o que você ama”. Parece-me que estamos fadados a nunca trabalhar naquilo
que realmente amamos.
É justamente o contrário. Você deve estudar o que ama, porque nessa área
você se desenvolverá e terá seu melhor desempenho, e porque as garantias de
que “esse diploma equivale àquela carreira” costumam ter um prazo de
validade muito curto hoje em dia. O que nos leva ao plano B: exploração e
transformação. Este plano parte do pressuposto de que a faculdade deve ser
aproveitada para a sua transformação como pessoa, como ser humano, que,
muito provavelmente, terá uma vida de carreiras diferenciadas. Esta
abordagem faz muito mais jus àquilo que somos e ao modo como fomos
programados (o que sugere que seja um caminho muito melhor).
Agora, sim, eu entendo que determinadas profissões exigem uma formação
altamente especializada. Neurocirurgiões precisam estudar medicina por
muitos anos, e os engenheiros bioquímicos precisam passar pelas aulas de
cálculo e não devem gastar seu tempo com Platão e Dickens. No entanto,
esses médicos e engenheiros continuam sendo seres humanos, e,
independentemente daquilo que esses cursos possam oferecer para suas
carreiras, seu dever primário é se tornarem o tipo de ser humano ao qual
podemos confiar poder e influência. As faculdades de medicina entenderam
isso já há algum tempo, quando perceberam que o médico precisa estudar não
só a anatomia humana, mas também obter uma compreensão dos seres
humanos reais, especialmente dos que estão em situações de sofrimento. Se
negligenciarem sua própria humanidade em prol de uma carreira acadêmica
rigorosa, eles não se tornarão o tipo de médico com o qual as pessoas se
sentem à vontade.
Nossa primeira tarefa, e mais importante, é a formação como seres
humanos, não apenas como trabalhadores, mas como pessoas que precisam
de um sentido que lhes permita um desenvolvimento favorável.
Minha geração está desesperadamente à procura de sentido. Em todas as áreas da
vida. É difícil encontrar uma categoria em que alguma empresa não tenha se
apressado para satisfazer a demanda por uma “causa” hoje em dia. Há uma empresa
que doa um par de sapatos a uma criança necessitada para cada par vendido. Qualquer
cafeteria com algum autorrespeito — desde a da esquina até as empresas gigantes —
sabe que as pessoas estão comprando mais produtos produzidos em condições justas
para os trabalhadores (sem trabalho escravo), e o mesmo vale para os produtores de
chocolate. Fabricantes de roupa aprenderam que, evitando trabalho escravo e
propagando seus altos padrões morais, conseguem atrair clientes. (Queria que mais
empresas realmente praticassem o que pregam.) As pessoas compram “diamantes sem
sangue”. Na minha cozinha, por exemplo, não uso plástico. Se acrescentamos a isso a
alimentação ética, que justamente luta contra o sistema destrutivo e desumano das
fazendas industrializadas, acho que conseguimos abranger todas as áreas da vida
diária. É isso aí.
Alguns anos atrás, emprestávamos e repassávamos livros como Three Cups of Tea
[Três xícaras de chá], Eating Animals [Comendo animais] e Not for Sale [Não está à
venda], porque eles falavam daquilo que estava errado em nosso mundo e de como
poderíamos mudar isso. Em seu livro The Fourth Turning [A quarta virada], William
Strauss chama nossa geração de “geração herói”. [1] Queremos mudar o mundo. O
meio ambiente, as pessoas em necessidade, situações de injustiça, qualquer coisa,
todos esses assuntos nos preocupam. Queremos uma revolução à qual possamos
aderir. Sem revolução, preenchemos nossas vidas com pequenas transformações que
acendem uma chama e nos despertam momentaneamente. Tantas pequenas revoluções
nos são oferecidas de bandeja como se fossem a resposta para todos os nossos desejos.
Muitas vezes não passam de uma campanha de marketing, mas apelam a um anseio
real dentro de nós.
Você acaba de entrar na fase guerreira da vida de um jovem. Os jovens têm
ocupado o centro da maioria das revoluções na história. Lá no fundo, em seu
íntimo, se esconde uma paixão por derrubar tiranos, vencer a opressão e lutar
por um mundo melhor — de fazer parte de algo grande. E por que Deus lhe
deu esse tipo de motivação? Não é fascinante o fato de você e seus colegas
terem um coração que deseja transformar o mundo? Será que Deus lhe deu
esse desejo para que fosse simplesmente sufocado? Jamais! Sei que as
pessoas mais velhas gostam de olhar para vocês por sobre seus óculos de
leitura e dizer algo desdenhoso sobre “o idealismo da juventude” e como está
na hora de você crescer e aceitar a vida real. Mas essa não é a minha opinião,
e tampouco creio que seja a opinião de Deus. Esse conselho parte de pessoas
que mataram seus corações e suas almas a fim de “sobreviver” no mundo. O
cristianismo tem tudo a ver com revoluções — ele é uma revolução em sua
essência —, e é por isso que Deus dá aos homens e às mulheres jovens a
paixão de transformar o mundo. Deus lhe deu esse coração para que você
descubra a alegria de fazer parte da revolução divina e seu lugar único dentro
dela.
Há muita coisa errada que precisa ser corrigida no mundo. Não importa
para que lado olhemos, o planeta está sangrando, crianças são traficadas, a
escravidão ainda é uma realidade e a própria verdade está em cacos. Vivemos
num tempo perfeito para revoluções, e um dos grandes milagres do
cristianismo é a noção de que você nasceu em seu devido tempo a fim de
corrigi-lo. O que poderia ser mais empolgante? Frederick Buechner
acreditava que “o lugar para o qual Deus chama você é o lugar em que sua
mais profunda alegria e a profunda fome do mundo se encontram”.[2] Que
mensagem poderia trazer mais esperança?
Um dos períodos mais felizes da minha vida foi quando tinha vinte e
poucos anos. Sua mãe e eu fundamos uma companhia de teatro
imediatamente após a faculdade, não porque esperávamos nos transformar
em estrelas de Hollywood dirigindo um Maserati, mas porque queríamos
transformar o mundo. Fizemos apresentações de teatro nas ruas de Los
Angeles durante as Olimpíadas de 1984 — ignorando as regras de segurança
e montando nosso palco em qualquer lugar onde pudéssemos atrair uma
multidão a fim de apresentar peças curtas sobre a vida de Jesus Cristo. Nós
amamos aqueles anos.
Isso é bem legal; é exatamente isso que estou procurando, o que todos os meus
amigos estão procurando. Você chegou a vivenciar aquilo que amava. Chegou a
ganhar a vida com isso?
Não exatamente. Pelo menos não por alguns anos. Eu trabalhava como
zelador da nossa igreja, e sua mãe conseguiu um emprego como secretária
numa pequena empresa de alta tecnologia. Eu passava meus dias aspirando
pó, limpando banheiros e removendo o lixo; ela se ocupava com números,
relatórios e relações humanas. É muito importante manter isso em mente: sua
paixão, seu sentido — aquilo que os santos do passado chamavam de
“chamado” ou “vocação” — pode não ser aquilo que você faz para pagar suas
contas. Jesus era carpinteiro. Paulo costurava tendas. Pode chegar o dia em
que a sua paixão conseguirá pagar seu aluguel e em que você será o homem
mais rico do mundo. Mas a razão pela qual tantas pessoas desistem de seus
sonhos é que elas confundem as duas coisas. Elas fazem uma rápida
avaliação do “valor de mercado” de suas paixões — ou algum professor as
confronta com as improbabilidades — e trocam seus sonhos por uma vida
mais “previsível”, a qual elas naturalmente acabam odiando, e causa o
desenvolvimento de vários vícios, o que as leva à terapia. Como conselheiro,
eu ganhava minha vida ajudando essas pessoas a saírem de seu desespero, e a
fila na minha porta era longa.
Você não é apenas um “trabalhador”, um empregado ou carreirista. Você é
um ser humano cheio de paixões e desejos, e Deus o fez assim. Você é
também um jovem na oficina de Deus, onde é treinado para ser um homem
maduro. Não importa o que esteja acontecendo em sua vida, cada jovem se
encontra no processo de se tornar um homem maduro. Essa é a sua grande
missão, a correnteza mais profunda, o trabalho muito mais importante do que
a carreira, não importa se ele se juntou ao Corpo da Paz ou conseguiu um
emprego em uma agência de marketing em Nova York. Você precisa matar
alguns leões antes de saber que se transformou num homem ao qual Deus
pode confiar sonhos que se realizam. Não ajudaria se você encarasse esses
anos de trabalho simples como anos de treinamento de um guerreiro?
Talvez. Mas minha geração não gosta de ouvir: “Você precisa esperar.” Neste
instante, com meu telefone na mão, posso transferir dinheiro da minha conta bancária
enquanto leio as manchetes dos jornais, procuro a definição de uma palavra que não
conheço e sua tradução para qualquer língua (cuja pronúncia eu posso ouvir
simplesmente apertando um botão), ao mesmo tempo que envio uma mensagem a um
amigo e gravo um vídeo para postar no Facebook. Tudo isso dentro de poucos
segundos. E você quer que eu espere por algo? Por quantos anos eu vou ter que fazer
isso?
Essa é a voz do menino. O menino quer tudo da maneira fácil, e quer tudo
agora. Será de grande ajuda se você conseguir reconhecer a voz desse menino
— não para ser grosso com ele, mas para escolher o caminho que o leve à
maturidade. Adoro a expressão gravada nas traves de madeira da oficina de
Balian no filme Cruzada. Ela diz: “Que tipo de homem é o homem que não
transforma o mundo num lugar melhor?”[3] Esta é sua bússola, sua estrela
polar, enquanto ele trabalha na oficina de sua própria transformação de garoto
em homem. O menino quer brincar, quer que a maior parte da vida seja
recreio; o homem deseja algo mais nobre, algo maior, por isso, aceita o
processo. Como Dostoiévski escreveu, “sacrificar cinco ou seis anos de sua
jovem vida fervente a estudos duros e difíceis, ao aprendizado, a fim de
multiplicar por dez sua força para servir àquela verdade e àquela ação que
eles amavam e se propuseram a alcançar.”[4] Essa força multiplicada por dez
vale a pena.
Se eu for sincero comigo mesmo, confesso que me envergonho um pouco da forma
como minha geração encara o trabalho — incluindo eu. Se eu não estiver enganado,
no mundo antes da Revolução Industrial, os jovens não sentiam vergonha de iniciar
um aprendizado e trabalhar até se tornarem mestres de sua profissão. Mas as coisas
mudaram e continuam a mudar tão rapidamente que não nos dedicamos mais a uma
carreira específica, porque a profissão pode não existir mais quando a dominarmos.
Não sei. Questionar cada passo na carreira me parece uma receita certa para não se
chegar a lugar nenhum. Não quero chegar a lugar nenhum; quero sentido e propósito.
Quero ter a certeza de que estou iniciando algo que importa e que vale a pena. Então
me pergunto: será que desperdicei a minha faculdade indo atrás de algo que talvez não
me proporcione uma vida sustentável? Será que não conseguirei realizar aquelas
promessas de sentido e propósito? Eu abandonaria meu emprego estúpido neste
momento se encontrasse algo com sentido e propósito evidentes, algo que me
satisfaça. Como encontro isso? Se a oferta existir apenas na imaginação ou for mera
retórica, isso acabará comigo.
Lembro-me de uma piada que um professor de história do ensino médio nos contou
certa vez. “O estudante de ciências pergunta: ‘Como isso funciona?’ O estudante de
economia pergunta: ‘Como podemos vender isso?’ O estudante de engenharia
pergunta: ‘Como podemos construir isso?’ E o estudante de humanas pergunta: ‘Você
quer batatas fritas com isso?’”
Foi duro ouvir isso na época. Hoje, isso me assombra.
Exploração e transformação, meu filho. Existe uma vida que você pode
amar, mas é preciso ter coragem, perseverança e um pouco de esperteza para
alcançá-la. Você precisa ser guerreiro. Está no meio do processo de descobrir
quem é e por que está aqui, como o mundo funciona e como Deus está
agindo, como e para onde ele está levando você. Eu amo o que faço; meu
trabalho é minha paixão. E tenho a profunda alegria de saber que estou
causando um impacto sobre o mundo. Em termos gerais, amo a minha vida.
Você pode encontrar uma vida que ama. Você é capaz. Mas não encontrei
esta vida no dia em que saí da faculdade. Muita coisa teve que acontecer
comigo enquanto jovem antes que Deus pudesse confiar a mim a vida que
tenho agora.
Tudo isso soa um pouco como: “Espere. Trabalhe. Quem sabe, algum dia a vida virá
para você.”
Este é novamente o menino falando — ele está filtrando tudo que estou
tentando dizer. Não estou tentando deixá-lo deprimido dizendo: “Trabalhe e
talvez, em algum momento, a vida acontecerá.” Estamos tentando redefinir
do que se trata esse período de sua vida.
Há algo importante que você precisa saber sobre a nossa cultura — sua
cultura. O escritor Robert Bly chamou nossa cultura de “Sociedade de
Irmãos”, ou seja, uma sociedade formada por colegas em vez de anciãos, uma
sociedade marcada pela perda da paternidade. As crianças são forçadas a
entrar na adolescência cada vez mais cedo (garotas de 12 anos se vestem hoje
em dia como universitárias). Ao mesmo tempo, a adolescência é estendida até
a idade adulta, de forma que os adultos querem permanecer adolescentes.
Mulheres de 55 anos aparecem em bares vestidas como estudantes da
faculdade; e eu quero dizer a elas: “Vocês tem 55 anos, ajam como mulheres
maduras, pelo amor de Deus.” Uma Sociedade de Irmãos venera a juventude
e rejeita a rigidez da idade adulta; trata-se do mundo do eterno estudante de
primeiro ano. Segundo Bly, o fruto é simplesmente este: “As pessoas não se
preocupam em crescer.”[5]
Sim, quando penso nos caras que conheço — Michael, Skye, Julian, TJ, na verdade,
quase todos eles — me identifico com seus sentimentos, mas, é verdade, realmente
grande parte de nós ainda é “menino”. O menino pode ser uma fonte de maravilhas,
criatividade e alegria espontânea; mas ele também desiste rapidamente, exige que a
vida aconteça agora, e é ele que nos leva a querer beber e jogar videogame em vez de
fazer algo para as nossas vidas.
Exatamente. Portanto, a escolha que você precisa fazer é ousada: aceitar o
processo selvagem e corajoso de se tornar um homem.
As horas que gastei como zelador não foram desperdiçadas. Aprendi tanto
— a satisfação que resulta de um dia de trabalho duro, de perseverar em
situações difíceis para produzir um resultado bom, e o rigor da perseverança
— que me fortaleci como se estivesse fazendo corridas matinais ou exercícios
na academia. Aprendi também a lidar com todo tipo de pessoas e suas
manias. Na verdade, isso tira muita pressão de cima de você. A beleza de
aceitar o processo o liberta da pressão de chegar lá imediatamente.
Entendo aonde você quer chegar, mas detecto nisso um tom de “Aproveite a
viagem; a jornada é seu destino”. Espero que esteja errado; esse mantra não ajuda em
nada, e sempre imagino que a pessoa que o usa está sob a influência de alguma droga.
“A jornada é o destino” não me convence. Isso foi inventado por pessoas
que estavam eternamente perdidas e precisavam justificar a sua
desorientação. É desculpa de adolescente. A viagem é a viagem; o destino é o
destino. O voo noturno para Istambul não se parece em nada com Istambul.
Você precisa manter a esperança de Istambul — seus sonhos e desejos — em
vista. Esses voos de 13 horas podem ser brutais se você achar que nunca
alcançará seu destino, preso a uma “viagem” sem fim. O coração desanima, e
a próxima passagem do carrinho de bebidas se transforma em sua maior
esperança.
Sim, é claro que você tem uma jornada diante de você. Mas ela tem um
destino: a idade adulta — possuir uma sabedoria e uma força que lhe permita
amar uma mulher por uma vida inteira, ser um pai maravilhoso, liderar um
movimento, governar um reino e mudar o mundo. Você está na escola da
Fase do Guerreiro. (Esta é também a fase do Amante — falaremos sobre isso
em breve.) Esse período da sua vida começou mais ou menos aos 17 ou 18
anos e agora se tornou seu trabalho para valer. O guerreiro aprende a dominar
a arte de se agarrar ao sonho, aceitando ao mesmo tempo os rigores de se
transformar no tipo de homem ao qual esse sonho pode ser confiado; as
paixões do menino, por sua vez, são indisciplinadas e desorientadas, por isso,
sim, ele facilmente se perde e se desanima.
Um dos grandes inimigos contra os quais sua geração terá que lutar é a
pretensão. Sua infância foi uma em que cada menino ganhava um troféu —
independentemente de ter vencido ou perdido ou até mesmo de ter
participado do jogo. Minha geração deve a todos vocês um grande pedido de
desculpas. Nós tínhamos tanto medo de falhar, como tantos dos nossos pais
falharam, que mimamos e enfraquecemos a corrida, preocupando-nos mais
com sua autoestima do que com sua ética de trabalho. O menino pretensioso
acredita que a vida precisa ser fácil, que os sonhos devem se realizar e que
todos devem ganhar um prêmio qualquer que seja seu desempenho. Esse
menino fica realmente chocado quando percebe — muitas vezes de forma
dolorosa — que o mundo não lhe deve nada.
Isso está começando a me lembrar de Santiago, em O Alquimista, de Paulo Coelho.
Essa é uma daquelas histórias que me cativou, e eu a reli várias vezes. Santiago é um
jovem que sonha com um tesouro enterrado, e ele aprende a ouvir seu coração e
observar os sinais enquanto persegue seu sonho. A trama é simples assim em sua
essência, mas eu amo o livro. Temos aqui uma história sobre seguir a direção dos seus
sonhos, perseverar em meio a dúvidas e reveses, uma história cheia de amor e perigo
— e no fim o sonho dele se realiza.
Amo essa história, porque quero que seja verdade — para mim. Quero acreditar que
se eu seguir a direção dos meus sonhos, observar os “sinais” e lutar pelo meu caminho
apesar das derrotas, minha vida será cheia de aventuras e romance e eu encontrarei
meu tesouro. Logo no início do livro, Coelho oferece essa maravilhosa esperança para
começar a jornada — a figura do “sábio” Melquisedeque visita o menino Santiago no
exato momento em que ele precisa decidir se seguirá seu sonho ou não.
Todas as pessoas, no começo da juventude, sabem qual é sua lenda pessoal. Nesta
altura da vida, tudo é claro, tudo é possível, e não temos medo de sonhar e de
desejar tudo aquilo que gostaríamos de fazer. Entretanto, à medida que o tempo vai
passando, uma misteriosa força começa a tentar provar que é impossível realizar a
Lenda Pessoal. [6]
Pouco antes, Melquisedeque havia dito:
“[Elas acreditam] na maior mentira do mundo.”
“Qual é a maior mentira do mundo”, perguntou o garoto, totalmente surpreso.
“É esta: em determinado momento da nossa existência, perdemos o controle das
nossas vidas, e ela passa a ser governada pelo destino. Esta é a maior mentira do
mundo.” [7]
Recomendo este livro às pessoas o tempo todo. Algumas das minhas conversas
favoritas com meus amigos aconteceram tarde de noite quando acabávamos de
começar a falar sobre sonhos e como nada poderia nos impedir de ir à África, ou de
fundar uma empresa, ou de criar o primeiro jornal que realmente falasse a verdade.
Nessas noites, ninguém censurava seus sonhos. De alguma forma, sob a luz das
estrelas, voltávamos a sentir que tudo era possível. Eu adorava esses momentos. Mas,
como Santiago quando é roubado em Tânger, nós nos esquecemos desse sentimento e,
ao nascer do sol, a dúvida volta a nos atormentar, e não conheço muitas pessoas que
tenham chegado perto dos sonhos que expressaram naquelas noites. Sinto muito por
meus amigos. Quero que cada um persiga seus sonhos, antes de “mudarem” (ou seja,
se entregarem) com a voz do conforto ou do medo. Ou eles saem correndo atrás de
tudo, qualquer coisa, esperando que algo de bom resulte disso.
Mais tarde, quando Santiago não desiste de seu sonho, Coelho oferece outro
conselho: “Só sentimos medo de perder aquilo que temos, sejam nossas vidas ou
nossas plantações. Mas esse medo passa quando entendemos que nossa história e a
história do mundo foram escritas pela mesma mão.” [8] Gosto disso; é tão
reconfortante.
A razão pela qual você — assim como eu — ama O Alquimista é que a
história transmite uma verdade profunda. Ela sussurra uma promessa que o
coração anseia ouvir: “É possível. A vida pode dar certo. Sonhos se
realizam.” Mas lembre-se: Você está assistindo ao Santiago do lado de fora
da história. Como você acha que ele se sentiu dentro dela? Provavelmente de
forma semelhante a como você está se sentindo agora — por vezes,
esperançoso; por outras, confuso, e até desorientado e um pouco
desencorajado. Amamos Santiago porque ele se sente como nós. E não se
esqueça: Santiago é adolescente no início da história. No fim, ele já se
transformou num jovem homem.
Essas histórias são como mapas: a vista do alto lhe apresenta a estrutura da
terra, ajuda você a se orientar, mas é bem diferente quando você volta sua
atenção do mapa para o mundo bem a sua frente — é a velha história de
conseguir ver as árvores, mas não a floresta. É vital que nos lembremos disto:
viver dentro de uma história maravilhosa é bem diferente de assisti-la. “O
caminho através do mundo/ é bem mais difícil de achar do que o caminho
para além dele”, como disse o poeta Wallace Stevens.[9] Uma das mensagens
essenciais de O Alquimista — ou de O Hobbit, da Eneida, e de qualquer
grande história — é esta: não ceda ao desespero; não desanime. Essa luta por
uma vida que valha a pena é muito mais arte do que ciência. É a arte do
guerreiro.
Certo dia, assisti a um documentário notável sobre os caçadores da tribo
dorobo, que vivem no sul da Quênia. Seus arcos simplesmente não são fortes
o bastante para matar animais de grande porte, por isso, eles roubam as presas
dos leões. Numa manifestação incrível de coragem e astúcia, eles caminham
diretamente para um leão que está devorando um gnu; sua confiança
inabalável faz com que o leão fuja. Na cena seguinte, vemos os homens
assando a carne do gnu sobre uma fogueira, conversando e rindo. Um deles
diz: “Mas nem todos lutam contra leões; algumas pessoas são covardes.” [10]
Esta é a fogueira à qual você quer se sentar — a festa dos ousados.
Isso exige coragem, pois o medo é a razão número um pela qual os homens
desistem e se vendem. Isso exige perseverança, pois nada que valha a pena
possuir vem sem algum tipo de luta. Isso exige esperteza, pois a maioria dos
homens-que-na-verdade-ainda-são-meninos enfrenta o mundo com um tipo
de ingenuidade infantil, ignora os leões, falha em alcançar seus sonhos e
depois acusa o mundo ou Deus quando, na verdade, eles estavam
simplesmente insistindo que a vida lhes permitisse serem calouros para o
resto de suas vidas. Você terá que matar alguns leões — o medo é um deles.
O desespero é outro. A pretensão — a pretensão da adolescência — é o
terceiro. Ou você os mata, ou eles devoram você e seus.
Coragem, perseverança, esperteza — é assim que se mata um leão. Viva
isso e você terá uma história para contar.
CAPÍTULO 2
CHEQUES SEM FUNDO
Eu gostaria de viver como um homem pobre com muito dinheiro.
Pablo Picasso
O emprego de assistente pessoal não se parecia em nada com aquilo por que eu me
esforçava na faculdade. Eu aceitei o emprego para pagar as contas— e porque foram
os primeiros a responder aos meus e-mails. Quatro anos de ensino superior, e lá estava
eu comprando comida de gato. Minha faculdade não oferecia um curso para esse tipo
de carreira, e esse emprego certamente fazia com que eu me sentisse ridículo.
Quando é que o desejo de fazer algo que valesse a pena se transformou no desejo de
que o dia passasse o mais rápido possível? Antes da formatura, costumávamos ir à
praia e conversar sobre “mergulhar de cabeça” no desconhecido. O chão desaparecia
sob nossos pés, mas já que íamos ser lançados na escuridão, queríamos afundar com
grandeza.
Eu levei quase um ano até não aguentar mais essa completa falta de sentido. Levei
quase um ano antes de voltar ao que parecia ser o deserto selvagem do mercado de
trabalho. Eu me demiti no meu aniversário, como maneira de celebrar, mas a maioria
dos meus colegas não me apoiou. Olharam para mim como seu eu estivesse louco por
abrir mão de um emprego tão fácil, que pagava minhas contas e me rendia boas
histórias para contar. Para muitos deles, insistir em algo com o que havíamos sonhado
na faculdade era ingênuo. Criar o sonho que cobiçávamos era uma fantasia. A
expectativa de vida dos sonhos parece ser muito curta.
Tudo se reduz ao dinheiro.
Tenho amigos que estão perseguindo o sonho americano, outros que estão optando
pelo movimento minimalista, e alguns que tentam harmonizar os dois. Na verdade,
acho que minha geração está ficando louca e completamente desorientada no que diz
respeito ao dinheiro. De um lado, vemos (como nenhuma geração antes de nós)
milionários aparecerem do nada, e não estou falando de um milhão de dólares. Estou
falando de centenas de milhões de dólares ganhos com a venda de um simples
aplicativo. Em 2012, Rovio, a empresa que criou o jogo Angry Birds, valia mais do
que 2,25 bilhões de dólares. [11] Qualquer moça pode publicar seu vídeo no YouTube,
tornar-se uma sensação instantânea e ganhar muito dinheiro vendendo anúncios.
Conheço um cara que desenvolveu um aplicativo e lucrou 75 mil dólares no mês
passado, e a festa continua.
E quer saber? Não culpo meus amigos por tentarem. Meu emprego como entregador
era ridiculamente bem pago, e eu consegui comprar uma moto. Eu amava aquela
moto. O dono anterior havia transformado a máquina num lutador de rua. Ele retirou o
assento do passageiro e fez modificações para transformá-la no epítome de uma
máquina preta. Voando pelos cânions, eu me sentia como Sam Flynn no filme Tron:
O legado. Comecei a acreditar que dinheiro comprava felicidade sim.
Mas então comecei a namorar uma garota muito responsável financeiramente e
ciente das necessidades do mundo. Ela prefere dar tudo aos sem-teto a comprar algo
bonito para si mesma. Ela compra suas coisas em lojas de segunda mão (antes de isso
se tornar relativamente comum) e remenda roupas velhas várias vezes antes de
aposentá-las. Esta é uma daquelas novas revoluções das quais falei mais acima — o
movimento minimalista como rejeição ao excesso norte-americano, pregando a
desistência de todas as coisas desnecessárias e a doação de tudo que não seja
realmente indispensável. Recentemente, um amigo esteve numa conferência para
jovens do novo milênio, e o palestrante disse que, se tivermos duas camisetas, temos o
dobro daquilo que precisamos. No momento, isso está cativando a imaginação de
muitos jovens cristãos.
Quem está certo? Alguém está certo? Essas duas posturas me parecem ser dois
extremos. A primeira nos leva a crer que podemos ter sucesso instantâneo e usar notas
de cem dólares como toalha de banho. (Acabo de ter notícia de um amigo que
desenvolveu um aplicativo: neste mês em que escrevo ele ganhou 90 mil dólares.) A
segunda apela ao sentimento de culpa e nos obriga doar tudo que possuímos a um
asilo. Perseguir um novo sonho americano ou ser um cidadão do mundo — ambos me
fazem sentir como se alguém tivesse encomendado ostras das Montanhas Rochosas
para mim. Bem, pelo menos a segunda opção me permite doá-las ao meu vizinho.
Odeio dinheiro. Mas gosto de comer. Quero um celular para poder entrar em contato
com as pessoas. Quero poder sair com a Susie. Prefiro dormir sob um teto. E para
fazer tudo isso, preciso de dinheiro. Meus amigos estão se vendendo por dinheiro ou
recusando o dinheiro e voltando a viver como nos anos 1960. Odeio como o dinheiro
confunde tudo. Talvez ele realmente seja a raiz de todo mal.
Estou ouvindo você. Dinheiro é complicado, e, no futuro, quando você
acrescentar uma esposa e filhos à essa equação, o dinheiro se tornará urgente.
Mas ele também é muito esclarecedor — nada revela suas prioridades tão
rapidamente quanto o dinheiro. É isso que as Escrituras estavam tentando
dizer quando afirmaram que “o amor ao dinheiro é raiz de todos os males”
(1Timóteo 6:10; grifado pelo autor). O dinheiro em si não é mau — mas a
ganância é. Os homens derrubaram as matas virgens por causa de sua
ganância, sem pensar no futuro ou nas implicações éticas de seus atos;
exploraram os oceanos pelas mesmas razões. Trabalho escravo e infantil —
todas essas injustiças que deixam sua geração enfurecida — isso tudo é
resultado da ganância. A questão é o desejo, a gula, o excesso — estes estão
na raiz de todos os males. Não o dinheiro. A ganância.
Mas quanto ao fato de tudo funcionar em virtude do dinheiro? É tão normal homens
e mulheres aceitarem empregos que matam suas almas e trabalharem até se
desgastarem, abrindo mão do tempo com a família, nunca se alegrando com o mundo
em que vivem, e tudo isso apenas para sustentar uma vida que todos os outros dizem
ser “importante”. Em The Everlasting Stream [O rio eterno], Walt Harrington
escreveu: “Alguns anos atrás, eu saí para o meu jardim com uma taça de vinho na mão
e senti uma grande satisfação por tudo aquilo que conseguira adquirir. Mas
rapidamente comecei a me perguntar se todas essas aquisições não poderiam se
transformar numa armadilha, obrigando-me a continuar num emprego que já não me
dava nenhum prazer apenas para pagar as contas.” [12]
O dinheiro é como uma sedução que o atrai para uma armadilha, e, então, essa
armadilha se transforma na prisão de sua vida.
Nunca ouvimos falar do carpinteiro que passou a vida inteira construindo mesas e
cadeiras para conseguir sobreviver; ouvimos as histórias de pessoas bem-sucedidas,
poderosas, realizadas. Uma pessoa pode ter uma vida gratificante, mas ser pobre, e
ninguém a conhecer; outra pessoa parece ter uma vida glamorosa e importante, mas eu
sei que jamais conseguiria me transformar numa pessoa assim. Acho que você está
começando a entender minha frustração.
O que você está criticando é o Mundo. Com todo direito. O Mundo
inventou os shoppings, as minas de ouro e as casas noturnas. O Mundo é
governado pela injustiça e pelo excesso. Mas ganhar dinheiro não é,
necessariamente, “do mundo”. As Escrituras dizem: “O generoso prosperará;
quem dá alívio aos outros, alívio receberá. [...] Quem é generoso será
abençoado, pois reparte seu pão com o pobre” (Provérbios 11:25; 22:9). Uma
das grandes alegrias de ganhar dinheiro é ter algo para compartilhar. Mas
você não pode compartilhar o que não tem; quanto mais você tem, mais
oportunidades você tem para fazer o bem. Alguns amigos da igreja queriam
muito adotar uma criança, mas não conseguiam arcar com as despesas. O
dinheiro pode ser um recurso para realizar uma grande obra.
Comparemos o Mundo e o Reino de Deus — o dinheiro é um daqueles
lugares dramáticos em que a diferença entre o Reino e o Mundo se manifesta
claramente. O Mundo é impulsionado por aquilo que Aristóteles chamou de
“desejo mimético”. Funciona assim: dois garotos se encontram num quarto;
um deles pega uma bola e começa a brincar; e, de repente, o outro garoto
também quer a bola. Você pode observar isso todos os anos, no Natal —
existe “a coisa” que todos querem receber. Pessoas são pisoteadas em dias de
promoção por causa do desejo mimético. As pessoas “querem” o que as
outras pessoas parecem curtir. Todo o sistema foi construído na base da
inveja e do consumo infinito. O Mundo alega que o dinheiro equivale à
felicidade, e assim você gasta sua vida correndo atrás dele. Jesus se opôs à
loucura como o único homem sensato num prédio em chamas, calmamente
apontando o caminho para a saída, quando disse:
Ninguém pode servir a dois senhores; pois odiará um e amará o outro, ou se
dedicará a um e desprezará o outro. Vocês não podem servir a Deus e ao
Dinheiro.
Portanto eu lhes digo: Não se preocupem com sua própria vida, quanto ao
que comer ou beber; nem com seu próprio corpo, quanto ao que vestir. Não
é a vida mais importante que a comida, e o corpo mais importante que a
roupa? Observem as aves do céu: não semeiam nem colhem nem
armazenam em celeiros; contudo, o Pai celestial as alimenta. Não têm vocês
muito mais valor do que elas? Quem de vocês, por mais que se preocupe,
pode acrescentar uma hora que seja à sua vida?
Por que vocês se preocupam com roupas? Vejam como crescem os lírios
do campo. Eles não trabalham nem tecem. Contudo, eu lhes digo que nem
Salomão, em todo o seu esplendor, vestiu-se como um deles. Se Deus veste
assim a erva do campo, que hoje existe e amanhã é lançada ao fogo, não
vestirá muito mais a vocês, homens de pequena fé? Portanto, não se
preocupem, dizendo: “Que vamos comer?” ou “Que vamos beber?” ou
“Que vamos vestir?”. Pois os pagãos é que correm atrás dessas coisas; mas
o Pai celestial sabe que vocês precisam delas. Busquem, pois, em primeiro
lugar o Reino de Deus e a sua justiça, e todas essas coisas lhes serão
acrescentadas.
Mateus 6:24-33
Então os minimalistas estão certos — não deveríamos nem pensar em dinheiro ou
possuir “coisas”.
Bem, mais ou menos. Quando a Bíblia nos diz que, se tivermos dois
mantos, devemos dar um ao pobre, precisamos ficar de olho na matemática
— você não pode dar a alguém seu segundo manto a não ser que você tenha
um segundo manto. Você não pode ajudar aos pobres se você mesmo for
pobre. E você não gostaria de fazer isso mais do que uma vez em sua vida?
Portanto, precisará de recursos para adquirir mais mantos. Se você tiver
recursos, você pode fazer um grande bem. Acho que o movimento
minimalista é um exemplo de uma intenção muito boa tirada de seu contexto.
Como advertiu G.K. Chesterton:
Quando um esquema religioso é abalado (como o cristianismo foi abalado
pela Reforma), não são apenas os vícios que são liberados. Os vícios são, de
fato, liberados, e eles se propagam e causam danos. Mas as virtudes
também são liberadas; e as virtudes se propagam de forma ainda mais feroz,
e causam danos ainda mais terríveis. O mundo moderno está repleto de
antigas virtudes cristãs descontroladas. As virtudes se descontrolaram
porque foram isoladas umas das outras e estão vagando sozinhas.[13]
Respeito a virtude dos minimalistas, mas, assim como os hippies dos anos
1960, seu conceito representa uma noção infantil de como o mundo funciona.
(E, falando nisso, de onde vem a fascinação de sua geração pela década de
1960? Ela foi um desastre.) Só porque um movimento parece ser humilde ou
nobre não significa que ele representa o Reino de Deus. O comunismo
prometeu ao homem trabalhador uma remuneração mais justa, mas acabou
destruindo todas as economias de cada país que o adotou, e as pessoas que
mais sofreram com isso foram os trabalhadores. Alguns anos atrás, passei por
uma linda aldeia na Eslováquia, onde mora um amigo. A praça da cidade
estava rodeada de lojas vazias. “É aqui que os artesãos costumavam trabalhar
e vender seus produtos”, Bo explicou. “Produtos lindos. Mas o comunismo
destruiu essas oficinas e o comércio. Ninguém possui mais as habilidades
para passá-las adiante. É realmente muito triste.”
Minha geração considera o capitalismo algo mau por causa de toda a ganância. O
movimento Occupy Wall Street foi causado por uma fúria legítima. Não conheço
ninguém da minha idade que não tenha ficado empolgado e apoiado a revolução. Mas
agora que mudou a legislação, é a revolta prolongada que se tornou quase ilegal, e não
a manipulação de fundos e o roubo descarado que está sendo cometido por executivos
e gerentes de ações.
Não há dúvida de que a ganância corrompeu o sistema capitalista. Mas isso
não significa que o sistema em si seja corrupto. Dinheiro é como um carro —
ele pode levá-lo a lugares bons e a lugares ruins. Ele pode propiciar aventuras
ou causar grandes danos. Tudo depende do motorista. As pessoas fazem
coisas estúpidas com carros, mas isso não transforma o carro em si em algo
mau. Ficou comprovado que o capitalismo é o melhor sistema existente, por
permitir que a classe de trabalhadores melhore sua vida. Sugiro que você o
encare da seguinte forma — os pobres votam com seus pés. Por que temos
um controle de imigração tão rígido na fronteira com o México? Não é
porque os cidadãos norte-americanos estariam tentando ir para o sul. No
mundo inteiro, os trabalhadores sabem que sua maior chance de melhorar sua
vida está nos Estados Unidos — a não ser que destruamos nossa própria
economia, é claro.
Mas deixemos o dinheiro de lado por um minuto e falemos sobre os frutos
do trabalho. O dinheiro é simplesmente a representação do nosso trabalho.
Jamais voltaremos ao sistema de troca de bens — eu conserto seus sapatos e,
em troca, você me dá o pão que assou hoje de manhã. Atualmente,
trabalhamos e somos pagos, e usamos esses salários para satisfazer nossas
necessidades e, com o amor de Deus, as necessidades dos outros. O dinheiro
é simplesmente o fruto do nosso trabalho, e o trabalho é uma coisa muito boa
e muito importante para que um homem se sinta homem de verdade. Quando
Deus criou o homem, ele o criou para que fosse “fértil” (Gênesis 1:28). A
primeira coisa que Adão fez foi conseguir um emprego. Um dia de trabalho
duro rende uma satisfação profunda. Nenhum homem de verdade quer se
sentir como um parasita, como alguém que vive a custo de outro.
Um dos empregos mais duros que já tive na minha vida foi nas férias de
verão, quando eu tinha 18 anos. Eu estava trabalhando no município de
Oregon, e meu trabalho consistia em fazer o isolamento de sótãos. Naquele
mês de julho, as temperaturas atingiram 32 graus, e no sótão a temperatura
chegava aos 48. Eu suei como um político ligado ao detector de mentiras;
suei como nunca antes, o que fez com que as minúsculas fibras de isolamento
ficassem grudadas em cada milímetro da minha pele. Foi uma coisa horrível.
Mesmo assim, quando encerrávamos o dia, tínhamos a profunda sensação de:
“Cara, conseguimos! Persistimos numa tarefa muito dura. Merecemos essa
folha de pagamento!”
Isso é essencial para a masculinidade — dedicar-se com tudo a um trabalho.
Não a um trabalho escravo e sem sentido, mas como homens que estão aqui
para serem produtivos, que desejam ser produtivos. Como escreveu o
apóstolo Paulo:
Não vivemos ociosamente quando estivemos entre vocês, nem comemos
coisa alguma à custa de ninguém. Ao contrário, trabalhamos arduamente e
com fadiga, dia e noite, para não sermos pesados a nenhum de vocês, não
porque não tivéssemos tal direito, mas para que nos tornássemos um
modelo para ser imitado por vocês. Quando ainda estávamos com vocês,
nós lhes ordenamos isto: Se alguém não quiser trabalhar, também não
coma.
2Tessalonicenses 3:7-10
Acho que preciso ser sincero e confessar que, muitas vezes, não é o emprego que
me desagrada; durante muito tempo, foi o trabalho em geral. Ele não me fornecia essa
sensação de satisfação, e eu atribuí isso ao fato de sempre fazer trabalhos pequenos.
Mas um projeto no verão passado esclareceu um pouco as coisas. Meu amigo Trevor e
eu estávamos pintando uma grande plataforma ao ar livre. Os dias eram longos e
quentes, e o produto químico que estávamos usando era agressivo; mesmo com
máscaras e óculos protetores, precisávamos fazer pausas sempre que o mundo
começava a girar e personagens de desenhos animados começavam a dançar ao redor
de nossas cabeças. Mas à noite, quando o trabalho estava feito e nos sentamos à mesa
de pôquer, nós dois sentimos que o refrigerante e a camaradagem eram ainda mais
preciosos por causa do trabalho que havíamos feito.
Uma das melhores sensações que tive como um jovem homem foi cortar os laços
financeiros que eu tinha com você e mamãe. Eu estava grato pela ajuda que vocês me
deram durante a faculdade, mas depois não aguentava mais depender de vocês. Existe
algo em mim que diz que eu devo resolver meus problemas sozinho. Talvez seja até
um instinto animal que me diz que eu devo ser capaz de colocar comida na mesa. Seja
o que for, para mim, a independência financeira é essencial para que eu me sinta
homem.
Certo, então abandonamos a questão do dinheiro e focamos no trabalho, e
descobrimos que o trabalho honesto e seus frutos são coisas muito boas. Isso
é crucial na transição da fase de garoto para homem. O dinheiro nos obriga a
crescer; ele é uma dose constante de realidade, e a realidade é uma dádiva de
Deus. Ela tem esse jeito maravilhoso de manter nossos pés no chão. Dean
Potter é um alpinista fenomenal, mas agora ele acredita que consegue voar. O
menino está de volta. Os psicólogos chamam isso de “pensamento mágico”.
Os filósofos chegaram ao ponto de duvidar que a realidade existe. Então
batem com seu carro na árvore do vizinho, e a realidade os acorda de seu
“pensamento mágico”. Você precisa comer. Você precisa de roupas para
vestir. A realidade nos mostra o quão dependente somos como criaturas.
E é aí que entra o medo. Conheço tantos homens que tomam suas decisões baseadas
nele. Medo de não ter dinheiro; por isso, aceitam o primeiro emprego que conseguem
encontrar. Medo de não serem bem-sucedidos na área de seus sonhos; por isso, nem
tentam conseguir o emprego. Medo de não encontrar algo melhor ou de não realizar
seus sonhos; por isso, jamais abandonam o emprego que os está matando.
O que me lembra de uma conversa que tive com Blaine e Luke sobre o medo...
Blaine sugeriu que muitas pessoas têm medo de nadar e, por isso, nunca chegam perto
de uma piscina. Da mesma forma, muitas pessoas da igreja evitam o dinheiro,
afastando-se dele ou optando por um caminho mais “humilde”. Segundo Blaine, isso
não representa um ato de força ou santidade; não se envolver com o mundo do
dinheiro é, em sua opinião, um ato motivado pelo medo. “O tamanho da torta é
limitado”, ele continuou. “Ela será repartida, e eu gostaria de poder participar da
decisão sobre o destino desse dinheiro, fortalecendo os sistemas que eu apoio...”
(Tenho certeza de que ele foi bem mais eloquente do que minha paráfrase, perdão.)
Mas a ideia ficou gravada na minha mente: É preciso ser corajoso para entrar no
mundo do dinheiro, e se nos mantivermos afastados, perdemos a oportunidade de
exercer um papel maior em sua distribuição.
Ontem à tarde, recebi uma ligação terrível do mecânico ao qual confiei o conserto
do meu fusquinha. Ele me disse aquela frase antiga, que eu já ouvi tantas vezes na
minha vida: “Parece que isso será mais difícil do que imaginávamos.” Imediatamente,
pensei: “Como é que eu vou pagar por isso?” Mas ele estava certo. O fusca precisava
de uma reforma geral. E agora a reserva que eu havia acumulado na minha poupança
não bastava para pagar a conta, e eu me senti como se o chão estivesse cedendo sob
meus pés. Foi difícil manter o foco no fato de que Deus cuida de mim. Pensei em
maneiras de conseguir outro emprego ou em abrir os velhos cartões de aniversário na
esperança de encontrar algum dinheiro da vovó. A sensação dominante era: “Estou
afundando, e não há ninguém para me salvar.”
Era disso que eu estava falando quando chamei o dinheiro de dose
constante de realidade. Ele nos obriga a lidar com aquilo em que realmente
acreditamos. Você é fundamentalmente independente? Está tudo em suas
mãos? Creio que essa seja a essência subjacente ao dízimo cristão. Quando
você recebe seu cheque no fim do mês e a primeira coisa que você faz é
separar dez por cento para ajudar a outros, você se pergunta imediatamente:
“Eu realmente confio que Deus cuidará de mim?” Era disso que Jesus estava
falando quando contou sua história dos lírios no campo:
Quero convencê-los a relaxar, a não se preocuparem tanto em adquirir. Em
vez disso, prefiram dar, correspondendo, assim, ao cuidado de Deus. Quem
não conhece Deus e não sabe como ele trabalha é que se prende a essas
coisas, mas vocês conhecem Deus e sabem como ele trabalha. Orientem sua
vida de acordo com a realidade, a iniciativa e a provisão de Deus. Não se
preocupem com as perdas, e descobrirão que todas as suas necessidades
serão satisfeitas.
Mateus 6:31-33 (A Mensagem)
O Mundo diz: “Corra atrás de dinheiro. Dinheiro é sua segurança.” Deus
diz: “Corra atrás de mim. Eu sou sua segurança.” Quando sua mãe e eu nos
casamos, nenhum de nós tinha nem sequer um centavo. Nossas poupanças
estavam vazias. Todos os nossos móveis eram doados ou emprestados.
Comemos numa mesa dobrável de acampamento, que sua avó Jane nos
emprestou, durante dez anos. Fazíamos nossas compras em lojas de segunda
mão. Vivíamos de mês em mês, e aqueles foram os anos mais felizes de
nossas vidas. Tínhamos amigos maravilhosos, amávamos nossa igreja, e nos
divertíamos muito. Deus cuidou de nós. A grande mentira é que mais
dinheiro o deixa mais feliz. Não é verdade.
Mas sem dinheiro, sua vida pode ser miserável.
Isso também é verdade. As Escrituras não veem dinheiro como “lucro
sujo”, mas como benção de Deus:
A bênção do Senhor traz riqueza, e não inclui dor alguma.
Provérbios 10:22
A recompensa da humildade e do temor do Senhor são a riqueza, a honra e
a vida.
Provérbios 22:4
Essa é a beleza do Reino. Há uma condição vinculada à promessa de que
todas as coisas lhe serão dadas: busque primeiro o reino de Deus. Deus
providenciará tudo se você estiver buscando o seu Reino, se você estiver
vivendo para ele.
Veja, ou você tem Deus, ou não tem Deus. Ou ele é seu aliado, ou está por
conta própria. Sua convicção em relação a isso afeta todo o resto.
Se você não tem Deus — e estou falando de Deus como aliado íntimo, que
está do seu lado, colado em você —, precisa empenhar todas as suas forças
para definir um caminho para sua vida. Evidentemente, é assim que a maioria
dos homens vive. O mundo inteiro se apoia nessa suposição, em todas as
áreas — acadêmica, profissional, econômica. Eu não posso lhe dar conselho
algum quanto a isso, pois rejeitei essa visão do mundo e não posso lhe dizer
como funciona ou como se dar bem. Eu rejeito a premissa sobre a qual esse
castelo de cartas se ergue.
“Existe um Deus; ele é nosso Pai” muda tudo.
Agora, deixe-me acrescentar rapidamente que quando digo “acreditar em
Deus” não me refiro a um reconhecimento casual de sua existência. Se você
tem Deus, precisa agir de acordo. Pois ele não ajuda àqueles que não o levam
a sério — da mesma forma como você não oferece os tesouros de sua
amizade a uma pessoa que não o leva a sério. Você precisa buscá-lo com todo
seu coração para descobrir sua ajuda, para alinhar-se aos seus movimentos e
suas ações e para tirar proveito de tudo aquilo que ele estiver lhe oferecendo.
Deus nos prometeu: “Procurarão o Senhor, o seu Deus, e o acharão, se o
procurarem de todo o seu coração e de toda a sua alma” (Deuteronômio
4:29). No entanto, há uma condição vinculada a essa promessa: se você o
buscar com todo o seu coração e com toda a sua alma. A maioria dos cristãos
ignora essa parte e depois se pergunta por que Deus não se faz mais presente
em suas vidas.
Sim, é verdade. Alguns meses atrás, recebi um e-mail de um amigo que dizia:
Não sei como não me dei conta disso antes. Como pude ser tão cego, tão insensível
aos meus próprios sentidos? Agora é tão óbvio. Se não fosse assim, como poderia
explicar o que experimentei aqui? O cheiro, o fedor rançoso que entra pelas portas
abertas e que eles atribuem ao oceano, mas não é que detecto um traço de enxofre?
As pessoas, almas miseráveis que se agarram a seus salários, como se aqueles
míseros benefícios, aos quais estão tão acostumadas, pudessem salvar suas almas.
Elas gritam e choram, socam o ar, rangem os dentes, exigem um tratamento justo,
como se o merecessem mais do que o resto do mundo. O meu castigo é suportar
seus gritos, e o que os trouxe aqui foram seus pecados de gula, ganância, orgulho,
vaidade e ira. Tudo que posso fazer é me perguntar que pecado abominável eu
cometi em meu passado para ter que aturar um castigo tão severo.
Não sei como não me dei conta disso antes. Trabalho no inferno.
Minha reação ao ler isso? Eu ri, e de imediato concordei mentalmente. Não que seu
emprego fosse pior do que o de qualquer outra pessoa, mas entendo que ele se sinta
muito distante de onde deseja estar, de onde sonha estar, mas precisa pagar as contas.
O que, então, devo dizer ao meu amigo? Isso é algo que ele precisa simplesmente
suportar? Se estivermos apenas trabalhando para sobreviver — ou, como diria o pai de
Calvin em Calvin & Haroldo, se estivermos “desenvolvendo caráter” —, o que
acontece com nossos sonhos?
Obviamente, fomos instruídos a perseguir nossos sonhos. Cada discurso no ensino
médio e na faculdade nos desafiou a conquistar os céus. Mas, ao mesmo tempo, não
nos ofereceram muita ajuda para nos transformarmos nas pessoas capazes de lidar
com o sonho quando o alcançássemos. Provavelmente, porque a Disney não
conseguiu transformar isso num musical.
O que eu diria ao seu amigo é: “Por enquanto, apenas por enquanto. Você
tem um futuro. Você tem um Pai que o ama. Mas, sim, você está na fornalha;
permita que ela o fortaleça. Aguente firme. Deus está planejando algo — veja
como ele o está formando. Valerá a pena.” Como guerreiro, você terá que
lutar para se agarrar aos seus sonhos. Como jovem, precisa aprender também
a disciplina para não desanimar em meio a situações realmente difíceis. Hoje,
sou um escritor bem-sucedido, mas aos vinte anos passei por maus bocados.
Deus está nos formando, e transformando, em homens que conseguem lidar
com a vida. O dinheiro destrói muitos homens. Nas mãos de pessoas que
ainda são crianças por dentro, o dinheiro — e também o poder, a fama e a
influência — causa danos enormes.
A humanidade é alérgica a Deus. Achamos desagradável buscá-lo, alinhar
nossos desejos e nossa maneira de resolver as coisas aos desejos de Deus e
sua maneira de resolver as coisas. O agnosticismo nos parece tão natural,
esquecê-lo e aceitar as “evidências” de que estamos por conta própria nessa
vida. Quando se trata de Deus e de sua maneira de resolver as coisas, somos
criaturas pouco entusiasmadas. Assim, ele permite provações, confusão e
desespero, na esperança de que isso nos impulsione a buscá-lo. E quando o
fazemos, algumas questões são levantadas: nossa descrença, nossa
independência, nossa autoconfiança, nosso medo, nosso orgulho. (É melhor
tratar dessas questões o quanto antes, são essas coisas que, em algum
momento, costumam destruir a vida de um homem.)
O cristão se parece com um anfíbio. Vivemos em dois mundos: neste
mundo dos homens e do comércio, do nosso tempo e da nossa cultura, mas
também no reino de Deus. Muitos cristãos aceitam a noção vaga de que, de
alguma forma, Deus esteja operando neste mundo, mas normalmente aceitam
o mundo dos homens como sendo o mais real e, por isso, vivem de acordo
com as regras e suposições dele.
Você precisa resolver esta questão primeiro: eu vivo num universo
paralelo? Existe um Reino de Deus do qual eu sou membro e do qual
participo? Eu posso contar com sua ajuda? Se sua resposta for “sim”, então
aja de acordo — busque-o, aprenda a viver nele. Caso contrário, tudo que lhe
resta é: “Aqui está o mundo: ele é instável, injusto e imprevisível. Encontre
uma maneira de viver com isso.” O que é muito difícil para a maioria dos
homens, mas praticamente impossível para o cristão, pois Deus é ciumento e
não lhe ajudará em seus esforços de viver a vida se você não buscar sua
proximidade.
Observe como seu coração reage a algumas disciplinas fundamentais do
dinheiro: não faça dívidas. Viva de acordo com seus recursos. Se você não
tiver dinheiro para comprar aquele cappuccino todos os dias, não compre. É o
menino que não consegue se controlar e que compra a TV de 60 polegadas
com o cartão de crédito — e acaba pagando o dobro de seu preço em juros.
Você não quer ser o escravo de outra pessoa, e a dívida o escraviza.
Sim, é isso mesmo. Tenho um amigo que esgota o limite de cada cartão de crédito
que recebe para comprar roupas e frequentar restaurantes chiques. Chamamos isso de
“síndrome de homem rico, homem pobre”, como o povo que ganha um salário
mínimo, mas rebaixa sua van em vez de comprar mochilas para seus filhos. Não quero
ser um escravo. O menino dentro de mim pode não gostar de ter que esperar, mas o
homem em mim sabe: prefiro viver sem dívidas e ficar longe dessa terrível dicotomia
entre a corrida de ratos e os minimalistas.
E a coisa mais linda de tudo isso é: se rejeitarmos todo esse pesadelo
mimético do Mundo, se nos alinharmos com a maneira divina de fazer as
coisas, nem o dinheiro nem o medo dominarão nossa vida. Não pensaremos
mais no dinheiro como coisa mais importante; estaremos buscando coisas
mais nobres. Então, nossas finanças se transformam numa das principais
oportunidades de experimentar como Deus se manifesta. E Deus adora se
manifestar.
CAPÍTULO 3
O LIVRO DO AMOR
Ela não disse aquilo, eu apenas achei que ela disse. Então, na verdade, o
pensamento, as palavras eram minhas, não dela. Como pude confundir “Eu te amo”
com “Posso anotar seu pedido?”
Jarod Kintz
Chamávamos isso de turkey drop [levar um fora do peru], e, segundo o Urban
Dictionary, não éramos os únicos a usar essa expressão. Ela se refere à situação de
estudantes que tentam manter seu namoro a longa distância quando entram na
faculdade, mas no feriado de Ação de Graças descobrem que a paixão se perdeu,
levando um ou o outro a terminar o relacionamento. Por isso, turkey drop. Em algum
lugar, li que 95% dos casais a distância não sobrevivem ao primeiro ano de faculdade.
Quando entrei na faculdade, eu namorava uma garota havia quase dois anos, e,
semelhante a muitos estudantes calouros, meu tempo estava dividido em dois. Por um
lado, mergulhei em todos os rituais de iniciação — como churrascos na praia e
reuniões. Mas minha atenção nunca estava totalmente lá. Eu me definia por meio de
um relacionamento que existia num mundo de SMS e conversas pelo computador, e,
enquanto outros calouros almoçavam juntos, eu ficava no meu quarto esperando por
uma ligação. Na verdade, eu não possuía uma identidade própria. Eu sabia que queria
sair para o mundo, e pouco tempo depois de “levar um fora do peru”, eu me encontrei
solteiro e feliz. (Ou melhor, levei mais ou menos um mês para reencontrar minha
felicidade.)
Foi apenas naquele período após o rompimento que percebi que eu sempre havia
ficado com alguma garota desde os 12 anos. O período mais longo que passei sem
namorada ou sem correr atrás de uma garota tinha sido um mês. Agora, queria saber
como seria ter uma identidade fora de um relacionamento. Eu não queria mais ser
“Sam e Christina”, ou “Sam e Liz”, mas apenas “Sam”. No entanto, ser “apenas Sam”
não foi tão fácil assim. Tive que me adaptar.
No início não me dei conta, mas eu havia aberto a porta para uma tonelada de
questões prontas para me atacar. No ano seguinte, comecei a perceber o quanto eu
havia me sentido como a ovelha negra da família e o quanto eu permitira que isso
definisse minhas ações. Eu comecei a tomar remédios para melhorar meu humor; eu
bebia, entrava nos quartos dos meus amigos e deitava em seus sofás para descarregar
toda minha frustração. Enquanto isso, eu me apaixonei perdidamente por uma amiga
—a garota que ninguém conseguia conquistar — e, quando finalmente lhe confessei
meus sentimentos, ela me acrescentou à lista de rejeitados.
Ao ouvir — não verbalmente, mas por meio de uma reação clara e da perda de uma
amiga — que eu não era bom o bastante, passei o segundo ano da faculdade no
exterior e em algum lugar dentro de mim eu decidi que nunca mais não seria “bom o
bastante”. Assim, comecei a brincar com as garotas na viagem: como um babaca
brinca com garotas. E rapidamente adquiri outra fama: Sam é problema.
Eu estaria mentindo se dissesse que não gostei daquilo.
Pela primeira vez em muito tempo, eu não estava sendo definido pela garota que
namorava, pois não estava ficando com nenhuma garota, e eu não estava sendo
definido como perdedor. Eu significava encrenca. “Cuidado com ele, porque ele vai
arrebentar seu coração.”
Nunca ser considerado “bom o bastante” por garota após garota é tão
emasculador; nas regiões íntimas do coração, você acaba acreditando que não
é homem o bastante, destinado a ser o “cara legal”, mas nunca o namorado,
nunca o amante. Não me surpreende que você tenha decidido romper esse
padrão. Não ser mais definido pela garota e, mesmo assim, continuar a ser
definido — agora como o cara perigoso.
Para ser sincero, isso ainda me lembra muito o menino.
Você acha mesmo? Existem muitos meninos aí fora, especialmente no mundo do
namoro. Durante a primeira semana de faculdade, o supervisor do nosso dormitório
nos disse: “Agora vocês entraram no ‘Vale Dourado da Flor Selvagem’.” Todos esses
garotos, que agora se viam nos campos verdes das belezas da faculdade, começaram a
namorar feito doidos, pulando de um relacionamento superficial para o próximo. Ou
sonhando com isso.
Eu tinha um amigo chamado Dale que evitava todas as garotas para se concentrar
em seus estudos da Grécia antiga ou em sua coleção de discos de vinil do Velvet
Underground. Ele queria um relacionamento e até chegou a se fixar durante um ano
inteiro numa paixão por uma loira de sua aula de latim, mas ele nunca teve coragem
para tentar conquistá-la. Toda essa atmosfera de amor de faculdade me parecia um
reality show dramático com roteiro ruim.
Um dos meus colegas de dormitório chegou a se envolver num pesadelo. Todos os
seus colegas sabiam que aquilo não daria certo, e nós até lhe dissemos; mas apesar de
ser um cara legal, ele nunca conseguiu ser firme o bastante para se afastar. Eles
rompiam o namoro o tempo todo, mas ele continuava voltando para esse
relacionamento. Ela o havia fisgado, e ele levou anos para se livrar dela. Àquela
altura, não se tratava de reconhecer que ela não era saudável para ele — ele sabia que
ela não era —, mas ele achava que precisava ser o herói dela e torná-la uma pessoa
saudável. Ele não tinha coragem para se afastar, e também não tinha força para
reconhecer o fato de que, ficando com ela, nenhum dos dois ficaria bem. Felizmente,
meu colega conseguiu sobreviver a essa experiência terrível antes de se afundar
demais nesse drama.
Não acho que seja apenas o menino agindo. Acho que, no fundo de seus corações,
os caras queriam ser homens e assumir o papel de herói, mas eles estragavam tudo.
Eram os caras que sabiam que suas namoradas desejavam ser confortadas ou
conquistadas, e assim — querendo fazer o que eles sabiam que elas esperavam —
diziam às garotas que as amavam ou faziam outras promessas românticas, e o
relacionamento ficava íntimo demais. Na maioria das vezes, era a garota errada. Os
casos mais afortunados se desfaziam em lágrimas após um ano; outros se
transformaram em caso para os tribunais.
Outro amigo realmente gostava de uma garota que era alguns anos mais nova do que
ele. Ela era descontraída e atraente, e incitou nele o desejo de ser “o herói”. Bem,
assim que começaram a namorar, ela começou a agir... diferente. Ela enlouqueceu
totalmente após alguns dias, literalmente perseguindo-o e enviando mensagens a cada
hora para saber onde ele estava, tentando controlá-lo. Ela parecia ser maravilhosa, mas
acabou revelando que tinha muitos problemas ocultos, que se manifestaram assim que
ele se aproximou. Finalmente, ele rompeu com ela.
Acho que a maioria dos caras quer conhecer a resposta à grande pergunta referente
às mulheres: O que, diabos, está acontecendo?
Exatamente. É a mesma pergunta que ainda atormenta homens que têm o
dobro de sua idade.
A resposta é simples e profunda: você é um homem, ela é uma mulher,
vocês têm uma história. Vocês são irresistível e inexplicavelmente atraídos
uns pelos outros por um campo de força para um mundo estranho que contém
os êxtases do Éden e o desespero do inferno. Esse é o bê-á-bá do amor.
Não estou tentando ser espertinho; estou falando sobre a verdade nua e
crua. Quando o amor é bom, ele é maravilhoso. O mundo inteiro parece
brilhar sob a luz de um lindo sol. Quando o amor se torna ruim, a escuridão
encobre o resto de sua vida. Ele eclipsa seu coração durante muito tempo.
Mas, evidentemente, fomos criados para o amor. Ele é muito mais importante
do que dinheiro, do que a carreira, e até mais do que seu chamado. O amor é
literalmente a batida do coração do universo. Santiago aprende que era “[...] a
linguagem que todos na terra eram capazes de entender em seus corações. Era
o amor. Algo mais antigo do que a humanidade, mais velho do que o
deserto.”[14]
Então, vamos deixar três coisas bem claras desde o início:
Primeiro, é claro que você quer namorar. Nada neste planeta é capaz de
reduzir um homem a uma tigela de pudim quanto a presença de uma mulher
que o atrai. A feminilidade é um remédio poderoso. Vá e tente ler um livro na
praia; a distração é muito forte. Não é só a testosterona e o desejo de passar
seus genes adiante — isso é apenas outro exemplo de como o Mundo tenta
estragar algo lindo com suas “explicações” científicas. Os atrativos femininos
são mágicos, meu filho. Nos primórdios da nossa história, em meio a um
sono encantado, a mulher foi extraída das nossas costelas, e nós nunca mais
nos recuperamos. Procuramos pela deusa perdida durante nossa vida inteira.
Você precisa se reconciliar com o seguinte fato: somos assombrados por Eva.
Segundo a vontade de Deus. O cara que alega que não está sendo assombrado
ou matou sua alma ou tem outras questões que precisa resolver em sua vida.
“Não é bom que o homem esteja só”, ou seja, sem mulher — não é bom
agora nem jamais foi. Alguns poucos podem ser chamados para viver uma
vida no celibato, mas a maioria de nós foi chamada para passar o resto de sua
vida com uma mulher.
Em segundo lugar: é claro que isso nos deixa confusos. Você tem mais em
comum com um porco-da-terra do que com as filhas de Eva. Encontrar uma
garota é como receber o Código de Hammurabi com a ordem de decifrá-lo.
Na verdade, isso é uma boa notícia — você não é apenas um idiota, o “cara
ignorante”. Deus criou Eva como um mistério. Que maravilha! Por mais
frustrante que esse mistério possa ser, você não ficará entediado após duas
semanas. Justamente quando acha que conseguiu decifrar as mulheres ou uma
mulher específica, ela o surpreende com algo completamente novo. O
relacionamento com uma mulher sempre nos deixará atentos. Isso é bom e é
uma das razões pelas quais o sexo após uma briga pode ser tão selvagem.
Quando tudo se torna previsível, o homem começa a olhar para o jardim do
vizinho.
Agora, ao dizer que ela é um mistério, não estou dizendo que ela esteja
“para sempre além da sua compreensão”. De forma alguma. O amor deve
observar seu funcionamento. Existe uma razão. Os caras leem manuais sobre
motores de motocicletas e comércio on-line, mas nunca leem um artigo sobre
o sexo feminino. Não seja um desses tolos. O amor funcionará bem melhor se
você aprender algo sobre o coração feminino.
Por fim, você não vai querer brincar com isso. Não aqui, não na arena do
amor. Não existem exercícios leves aqui, não é um campo de treinamento.
Alguém vai se machucar, e essas feridas podem ser devastadoras. Não existe
namoro por diversão. Amar uma mulher é como descer uma queda d’água
num caiaque — você não vai querer cometer erros. Quando tudo está bem
com Eva, o amor é glorioso. Mas existem muitos casais divorciados neste
mundo que tropeçam pela vida como vítimas de um acidente terrível e que se
perguntam o que deu errado. O amor importa. Corações humanos importam.
Com cada ano que nos aproximamos da idade adulta, as apostas se tornam
cada vez mais altas.
Agora que você já se encontra na Fase do Guerreiro Amante, tenho certeza
de que já está sentindo a pressão para não errar no amor.
Comecei a sentir essa pressão no último ano de faculdade. Todas as piadas sobre “
faculdade de casamento” e “aliança na primavera” estavam nos atingindo mais do que
queríamos admitir. Pode parecer tolo, mas eu conhecia muitos rapazes que ficaram
deprimidos porque estavam encerrando seu tempo de faculdade e ainda não tinham
namorada. Esse medo se ligava, provavelmente, à suposição tácita de que encontrar
alguém, principalmente a garota certa, é bem mais difícil no mundo lá fora. Nem
sempre um cara deseja conhecer uma garota num bar, porque isso supostamente
revela algo sobre o tipo de garota que ela é, mas nós não estávamos andando em
círculos enquanto podíamos encontrar inúmeras garotas “certas” por qualquer motivo.
Depois, há o medo do compromisso. Um dos meus amigos mais próximos faz parte
do grupo de jovens que está assustado com a geração do divórcio que tantos dos meus
colegas têm como pais. Nossos pais — ou os amigos dos nossos pais ou os pais dos
nossos amigos — não tiveram que lutar pela sobrevivência numa selva ou durante a
invasão de uma praia; tiveram que lutar nos tribunais. Agora, seus filhos não querem
nem ouvir falar em casamento. E por que deveriam? O medo os afasta dos
relacionamentos tanto quanto um coração partido.
E já que estamos falando sobre razões para não se envolver num relacionamento:
Um rapaz deve se sentir firme e resolvido antes de ir atrás de uma garota? Seguir uma
carreira e conquistar segurança financeira parece lhe fornecer um solo firme, mas
quando é que isso acontece? Daqui a dez anos? Vinte? Isso jamais acontecerá?
Segundo o centro de pesquisas Pew, a geração do novo milênio se casa mais tarde. [15]
Por outro lado, parece-me que casais cristãos estão se casando mais cedo. O que resta
são dois grupos de colegas diferentes: um adia o casamento para depois dos trinta
anos, o outro se casa no primeiro final de semana após a formatura.
Quando sabemos que o amor é real e não apenas uma quedinha? Como nos
aproximamos com firmeza de uma mulher — e quando?
É como começar tudo de novo, desde o início, quando você conhece alguém. É um
processo desgastante descobrir o bastante sobre ela para saber se você deve pedi-la em
namoro; é cansativo redefinir como o namoro deveria ser e depois saber até onde levá-
lo antes de pular no navio e partir rumo ao pôr do sol — e você espera que este não te
leve ao fim do mundo. As apostas parecem ser cada vez mais altas quanto mais velho
você for.
Tenho um amigo chamado Derek. Ele foi para a América do Sul como professor de
inglês após sua formatura. Enquanto estava lá, conheceu uma linda mulher da Nova
Zelândia, que também era professora. Eles se apaixonaram rapidamente, mas, como
ela já havia se comprometido a iniciar um programa de pós-graduação naquele
outono, decidiram não levar o relacionamento adiante, e, quando seus contratos se
esgotaram, cada um seguiu seu caminho. Bem, quando Derek voltou para casa, ele
sofreu uma crise no sótão da casa do seu irmão e não saiu dali durante meses.
Conversei com ele recentemente. Ele finalmente conseguiu se erguer e começou a
trabalhar numa fazenda no meio do nada; ele me parecia tão infeliz quanto no dia em
que saiu do avião.
Agora chegamos à essência da questão. Por isso, devemos fazer um
pequeno intervalo; precisamos interromper a conversa, porque tocamos num
ponto crítico. Estamos tentando responder perguntas sobre o amor sem
resolver antes uma questão mais profunda e bem mais urgente: identidade —
saber quem somos, não só como seres humanos, mas como homens. Eva vai
colocar você à prova, como você já descobriu. Até você encontrar uma
resolução, uma firmeza interior, as tempestades do relacionamento vão ficar
jogando você para todos os lados como um barquinho de brinquedo, e talvez
afundem seu navio, como aconteceu com seu amigo Derek. Vamos deixar o
amor e o romance de lado por um instante e falar um pouco mais sobre por
que os homens não se sentem como homens na presença das mulheres.
CAPÍTULO 4
MUDANDO O ROTEIRO PELO QUAL VIVEMOS
“E o que te interessa se eu for apenas uma garota? Você provavelmente é apenas um
garoto; um garoto comum e rude — provavelmente um escravo que roubou o cavalo
do seu mestre.” [...]
“Por que você não diz logo que você acha que não sou bom o bastante para você?”,
respondeu Shasta.
C. S. Lewis, O cavalo e seu menino
Fui eu quem escolhi a minha faculdade; reconheço que sou o único que pode colher os
frutos que semeei ali. E não foram todos bons. Após frequentar o ensino médio numa
escola pública, a transição para uma faculdade cristã foi um choque cultural tão
grande quanto para a garotada que seguiu o caminho inverso. Eu sabia que queria
estudar mais a fundo a minha fé, e o campus era lindo, mas tive grandes dificuldades
para me adaptar à nova cultura. Eu me senti como se tivesse sido transportado para o
reino de Oz.
Apesar de assinar um contrato que me obrigava a respeitar os “padrões comunais”
— um belo eufemismo para regras desmancha-prazeres — eu fui pego fumando meu
cachimbo no campus. Fui pego várias vezes entrando de fininho no final do culto
obrigatório, tentando ganhar presença após dar uma volta pela multidão e sair por
outra porta. Escrevi um ensaio exacerbado que deveria elogiar o “feminismo cristão”,
mas que focou no problema de obrigar-nos a elogiar um ponto de vista com o qual não
concordávamos. (Eu defendi o igualitarismo ou algo parecido.) Recebi nota 8 por me
afastar do tema.
Dancei. Bebi. Se o dia estava lindo, matava as aulas e ia para a praia.
Você não precisa ser muito esperto para saber o que aconteceu; eu me meti em
encrenca. Rapidamente conheci a “alavanca” motivacional que aquela faculdade
favorecia: a vergonha. A vexação acadêmica era usada por professores e colegas para
combater o fraco desempenho — na verdade, para combater qualquer coisa abaixo de
um desempenho “exemplar”. Parecia que minha faculdade era um lugar onde se
reuniam os melhores alunos do país. O envergonhamento espiritual era aplicado pela
comunidade cristã com narizes empinados ou, pior, na forma de uma abordagem
sincera do líder espiritual que vinha oferecer “aconselhamento”: “Você acha que isso
é coisa que um cristão faria, Sam? É isso o que Jesus faria?” Blá, blá, blá.
O engraçado é que eu os condenava por me tratarem de acordo com a forma com
que eu me apresentava a eles. Uma expressão que ouvi com frequência durante meu
tempo na faculdade era: “Ah Sam, você é um perdedor tão amável.” Eu era charmoso,
de forma que as pessoas não ficavam chateadas ou decepcionadas comigo por muito
tempo, mas eu sabia disso, e eu sabia também que eles me viam como a piada que eu
sentia que era, por isso continuei a me comportar dessa forma.
Em todo caso, comecei a me sentir rodeado pela vergonha, pela decepção e pela
reprovação. Quando certo número de pessoas lhe diz que você é de tal maneira, você
começa a acreditar nelas. Eu escrevia na faculdade, mas apenas durante os últimos três
semestres, e, mesmo assim, eu escrevia e coeditava apenas uma página do jornal
estudantil — uma página sarcástica, humorística e rebelde. Confesso que adoro ser um
rebelde; esse espírito lutador existe em mim por uma boa razão. Mas as aspirações da
rebeldia daquela página não eram nobres. Eu escrevia a partir da identidade que
tinham me dado, e eu me irritava com ela, o que gerou muitos trabalhos vaidosos e
mordazes, dos quais não me orgulho.
Quando me formei, tinha certeza de que não teria futuro como escritor, apesar do
fato de continuar a sonhar com isso.
A identidade é como a rotação da terra — você nunca percebe que ela o
arrasta consigo, mas a todos os momentos você está se movimentando a
1.673 quilômetros por hora. É uma força poderosa. Não podemos viver além
da forma como nos vemos. Quando o mundo nos entrega um roteiro, quando
nos encontramos repetidamente em determinado papel, precisamos de uma
força quase sobrenatural para escapar de sua força gravitacional. Esses
roteiros nos são dados por muitos círculos — família, “amigos”, um
treinador, uma igreja, nossa cultura. Na verdade, nunca me preocupei muito
com o resto — com aquilo que a comunidade teria chamado de “agir
impulsivamente” ou de “viver a sua fase rebelde”. Eu sabia que era sua forma
de lidar com o sufoco religioso, e, francamente, isso é mais saudável do que
obedecer todas as regras, permitir que o legalismo imponha suas visões falsas
de Deus e da vida cristã. Jesus não era exatamente o maior fã do povo
religioso. Mas os efeitos cumulativos da vergonha me doeram no coração,
porque eu sabia que, a despeito de sua força, eles desgastariam você. Eles
desgastam todos nós.
John Watson, o pastor escocês, disse: “Seja gentil, pois cada homem está
travando uma batalha difícil.”[16] Essa era a sua — a batalha pelo seu
coração. A luta para permanecer leal a Jesus e, ao mesmo tempo, jogar a
religião pela janela do segundo andar. A batalha de perseverar em meio à
crítica e permanecer fiel a seu desejo de escrever. A luta para se agarrar às
verdades mais importantes de sua vida — a verdade de que o coração é e
sempre será central, o gerador da energia de vida dentro de nós. “Acima de
tudo”, disse o homem mais sábio da história, “guarde o seu coração, pois dele
depende toda a sua vida” (Provérbios 4:23).
Acho que isso é verdade para a maioria das faculdades, mas a minha realmente
priorizava (leia-se: idolatrava) a mente. Eu tinha muitos amigos queridos que
encontravam sua autoestima no desempenho acadêmico, o que então se transformou
numa pressão para ter um bom desempenho sempre. Foi um turbilhão que levou
consigo os melhores e do qual poucos conseguiram escapar. Ninguém lhes dizia que
seus corações eram importantes. Ninguém sabia dizer isso. Portanto, você não deve
ficar surpreso ao ouvir que, em vez de cultivar um coração vivo, a mente reinava toda
poderosa, como devoradora de tudo.
Fiquei chocado quando os poderes acima mencionados me nomearam conselheiro
estudantil em meu último ano de faculdade. Mas eu tinha um dom de lidar com as
pessoas, e senti que podia ajudar os estudantes mais novos a se adaptarem ao sistema
depois de tudo que eu havia experimentado. Eu disse aos meus supervisores que, no
que dizia respeito aos meus estudantes, seus corações importavam mais para mim do
que a observação da lei ao pé da letra. Provavelmente foi desnecessário anunciar isso,
mas eu sabia o que era importante. Como contracultura, creio que consegui
desenvolver relacionamentos mais profundos com os meus homens do que aqueles
conselheiros estudantis que se viam apenas como “executores da lei”. E os corações
daqueles jovens precisavam de muita atenção.
Um dos rapazes era muito passional — amava a igreja que ele frequentava, amava
as pessoas à sua volta e se empenhava com tudo naquele mundo. O fato triste é que,
em seus relacionamentos, ele sempre se metia em situações difíceis. Em algum lugar
dentro dele existia muita raiva e um disco arranhado que repetia em sua cabeça algo
como “você não vale muito”, o que acabou afetando a forma como ele se relacionava
com as pessoas e investia seu tempo. Isso destruiu muitas amizades e queimou muitas
pontes. Infelizmente.
Outro rapaz era a atração das festas, era muito divertido estar com ele, porque ele
possuía uma sensibilidade social que transformava tudo que fazia em algo muito legal.
Certa vez, saímos para tomar café, e ele compartilhou comigo a dor e a tristeza que
viviam dentro nele, como a família havia sido destruída pela morte de seu irmão,
como ele achava que ninguém o conhecia de verdade nem se importava em perguntar.
Sua fachada de alegria e descontração era seu mecanismo para lidar com sua crença
verdadeira num mundo horrível repleto de tristeza. E daí se eles tinham ótimas notas?
Suas vidas eram trágicas.
É simplesmente impossível negligenciar o coração e sair ileso. A mente é
um instrumento lindo, que devemos desenvolver durante toda a vida e não só
durante os anos de faculdade. Mas Deus nos deu a mente para proteger o
coração, não para traí-lo. Como disse Walker Percy: “Você pode tirar nota 10
em tudo e mesmo assim estragar sua vida.”[17]
Por isso, sugiro que reflitamos sobre a identidade e o coração por um
momento. Todos os homens, jovens ou velhos, têm dentro de si um desejo
ardente de validação. Esse desejo não será negado. Buscamos legitimação em
todos os lugares, e aprendemos rapidamente o que o mundo recompensa, o
que ele condena, com o que ele não se importa. Assim, os atletas buscam sua
validação na rapidez, na força e na vitória, enquanto os estudantes se dedicam
a redações, exames e notas altas. O “líder espiritual” se alimenta dos elogios
que recebe, e dedica sua alma e seu coração àquela dança, enquanto os
garotos “maneiros” andam descalços e não cortam o cabelo. Todos estamos
procurando a mesma coisa.
Quando um jovem não sabe quem ele é e do que é feito, resistir àqueles
“roteiros” é tão inútil quanto resistir à gravitação. “Vejamos — preciso lavar
a roupa, sair de carro e — ah é, acho que vou voar um pouco mais tarde.”
A despeito do meu amor pelo teatro, eu desisti dele completamente e aceitei
um emprego no mundo das grandes corporações aos vinte e poucos anos,
principalmente porque achava que não conseguiria chegar ao nível do teatro
profissional. Eu era bom, mas será que eu era bom o bastante? Eu ansiava ser
reconhecido pelos homens mais velhos da empresa para a qual trabalhava, e
quanto mais recompensavam minhas conquistas, mais eu me entregava ao
carrossel do mundo corporativo. Camisas da Brooks Brothers, pastas da
Tumi, o pacote inteiro. Não que haja algo de errado em querer uma vida
nesse mundo, contanto que esse seja o seu chamado. No meu caso, minha
vida se apoiava completamente numa autoimagem falsa — eu estava
simplesmente vivendo por algo que os outros aprovavam, faminto pela
validação masculina.
Mas essa autoimagem falsa — mesmo quando ela é construída sobre algum
dom genuíno — nunca resolverá a questão em seu íntimo. A coisa horrível de
correr atrás de validação por meio de dinheiro, trabalho ou mulheres é que
você nunca pode diminuir seus esforços; você precisa continuar batalhando
para não cair da escada.
Mas aqui está você — assumindo um risco enorme ao voltar a escrever para
que o mundo inteiro o veja. Como você explica isso?
Eu me sinto como se ainda estivesse no meio do processo. Quando me formei, eu
estava perdido. Evidentemente, muitos estudantes se sentem perdidos após a
formatura, mas eu realmente não fazia ideia de para onde ir. Não me sentia confiante
como escritor, apesar de ter sido essa a meta que eu havia perseguido durante quatro
anos. Por isso, pedi a alguns amigos que me ajudassem a orar por orientação. Tudo
indicava que as coisas não seriam tão simples assim. Após meses de estancamento
espiritual, vi apenas duas possibilidades: Deus simplesmente não vai me revelar “o
plano” ou Deus quer que eu faça outra pergunta. Optando pelo caminho otimista —
que Deus realmente fala e não me abandonou — meus amigos perguntaram a Deus
sobre o que ele estava querendo falar em relação à minha vida.
Dessa vez, ele respondeu imediatamente: identidade.
Meus amigos sentiram, corretamente, que Deus estava querendo rever o modo como
via a mim mesmo. Após vencer a decepção de que Deus não me ofereceria um mapa
para os próximos anos da minha vida, perguntei para onde isso estava indo. A resposta
dos meus amigos: “Bem, como é que você vê a si mesmo, Sam?” “Isso é fácil”,
pensei. “Eu sou um perdedor, uma ovelha negra, um marginalizado. No melhor dos
casos, sou o Dharma Bum de Jack Kerouac — um andarilho que não consegue
encontrar seu lugar no mundo, à procura de respostas, um homem irresponsável e
malcompreendido, que não tem para onde ir nem nada a conquistar.”
Hoje, isso parece patético. Mas eu acreditava naquilo e estava pensando em pegar
minha mochila e viajar pela Europa durante alguns anos vivendo uma aventura sem
rumo — como Dharma Bum. Perdido, mas cool. Eu estava vivendo a identidade que
recebera na faculdade.
“OK, entendi. E agora?” perguntei. Oramos e perguntamos a Deus o que ele achava
de mim, e um dos meus amigos arregalou os olhos e começou a falar sobre O cavalo e
seu menino, de C.S. Lewis. “Este é você! Você é Shasta!” Levei um tempinho para
entender o que ele estava insinuando. Naquela história maravilhosa, o protagonista é
um garoto chamado Shasta. Ele fugiu do pescador cruel que o criou, e em algum
momento de sua viagem, Shasta — juntamente com seu cavalo falante — cruza o
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Um leao por dia john eldredge

  • 1.
  • 2.
  • 3. Título original: Killing Lions: A Guide Through the Trials Young Men Face Copyright © 2014 by John Eldredge and Samuel Eldredge Edição original por Nelson Books, um selo da Thomas Nelson. Nelson Books e Thomas Nelson são marcas registradas da HarperCollins Christian Publishing, Inc. Copyright da tradução © Vida Melhor Editora S.A., 2015 As citações bíblicas são da Nova Versão Internacional (NVI), da Biblica, Inc., a menos que seja especificada outra versão da Bíblia Sagrada. PUBLISHER Omar de Souza EDITORES Aldo Menezes e Samuel Coto PRODUÇÃO Thalita Aragão Ramalho PRODUÇÃO EDITORIAL Daniel Borges do Nascimento TRADUÇÃO Markus Hediger REVISÃO DE TRADUÇÃO Thayane Assumpção REVISÃO Mônica Surrage CAPA Douglas Lucas PROJETO GRÁFICO E DIAGRAMAÇÃO Filigrana PRODUÇÃO DE EBOOK S2 Books CIP-Brasil. Catalogação na fonte Sindicato Nacional dos Editores de Livros, RJ Eldredge, John, 1960- Um leão por dia / John Eldredge , Sam Eldredge ; tradução Markus Hediger. - 1. ed. - Rio de Janeiro : Thomas Nelson Brasil, 2015. 192 p. : il. ; 21 cm. Tradução de: Killing lions ISBN 9788578606114 1. Pais e filhos. 2. Família. I. Eldredge, Sam. II. Título. CDD 306.87 CDU 392.3 Thomas Nelson Brasil é uma marca licenciada à Vida Melhor Editora S.A. Todos os direitos reservados à Vida Melhor Editora S.A. Rua Nova Jerusalém, 345 – Bonsucesso Rio de Janeiro – RJ – CEP 21402-325 Tel.: (21) 3882-8200 – Fax: (21) 3882-8212 / 3882-8313 www.thomasnelson.com.br
  • 4. Para Susie, por acreditar em mim antes de mim. — Sam Para Sam, Blaine e Luke, que desbravaram uma trilha para os jovens homens que viajam com eles e seguem em sua cola. Vocês são os melhores. — Pai Para os jovens homens cujas vidas ajudaram a dar forma a este livro, e para os jovens homens cujas vidas este livro ajudará a formar. — John e Sam
  • 5. SUMÁRIO Capa Folha de rosto Créditos Dedicatória Prefácio Capítulo 1 . Faculdade: e depois? Capítulo 2. Cheques sem fundo Capítulo 3. O livro do amor Capítulo 4. Mudando o roteiro pelo qual vivemos Capítulo 5. Voltando a falar sobre amor, sexo e mulheres Capítulo 6. Decisões, decisões Capítulo 7. Lutando por sua vida Capítulo 8. Algumas perguntas sobre Deus Capítulo 9. O choque da intimidade Capítulo 10. Correndo em direção ao desconhecido Orações para a jornada
  • 6. A oração diária Uma oração por orientação Uma oração por cura sexual Notas Agradecimentos Sobre os autores
  • 7. Acrescente a isso que ele era, em parte, um rapaz do nosso tempo — isto é, honesto por natureza, exigente na verdade, buscando-a e acreditando nela, e, nessa crença, exigindo nela uma participação imediata com todas as forças de sua alma; exigindo uma ação imediata, com um desejo infalível de sacrificar tudo por essa ação, até a vida. Mesmo que, infelizmente, esses jovens homens não entendem que o sacrifício da vida seja, talvez, o mais fácil dos sacrifícios em muitos casos, enquanto, por exemplo, sacrificar cinco ou seis anos de sua jovem vida fervente a estudos duros e difíceis, ao aprendizado, a fim de multiplicar por dez sua força para servir àquela verdade e àquela ação que eles amavam e se propuseram a alcançar — esse sacrifício está, muitas vezes, além do alcance da força de muitos deles. — Fiódor Dostoiévski Os irmãos Karamazov
  • 8. PREFÁCIO No verão de 2012, eu completei um ano desde que me formara na faculdade e, de repente, me vi diante de muitas perguntas. Quando desci as montanhas do Colorado e as troquei pelas praias da Califórnia à procura de uma formação no ensino superior, eu o fiz sem muita reflexão. Gostava do clima mais quente, o campus era lindo, e eu precisava sair da mentalidade que havia mantido enquanto morava na casa dos meus pais. A maioria das minhas decisões naqueles anos foi impulsiva. “Gosto do que isso tem a me oferecer? OK, eu topo.” Então me formei. Após os primeiros meses do êxtase que a liberdade e a independência podem gerar, minha vida parou. Eu havia pulado na parte funda da piscina que é a vida aos vinte e poucos anos, e agora, batendo braços e pernas, não conseguia sair do lugar. A vida estava ficando mais complicada a cada semana que passava, e minha capacidade de escolher a direção certa estava desaparecendo. A verdade é que eu já estava engolindo água. Como a maioria dos jovens que conheço, quero ser autossuficiente. Quero desbravar o meu próprio caminho e ir atrás dos meus sonhos. Quero saber tudo e nunca precisar de ninguém. É assim que a maioria dos homens que conheço encara o início da maturidade: sozinho, sem jamais pedir ajuda, vagando sem rumo ao longo dos anos e fazendo de conta que estão se dando melhor do que realmente estão. Talvez as minhas forças tenham se esgotado antes do tempo. Talvez eu soubesse que não precisava dar conta de tudo sozinho caso não quisesse. Qualquer que tenha sido a razão, certo dia eu parei e perguntei ao meu pai se podíamos conversar sobre como as coisas estavam indo na minha vida. Seguiram-se ligações semanais, durante as quais falamos sobre minhas dificuldades e procuramos soluções juntos — conversas que nem todos os homens têm, mas que, creio eu, todos desejam ter desesperadamente. Este livro é o resultado dessas conversas, uma oportunidade para analisarmos esse processo, o que também beneficiará você. A história tem seus altos e baixos pelos meus anos de faculdade, a busca por um emprego significativo, a procura por uma garota, meu casamento, a corrida atrás dos meus sonhos. Nada disso foi inventado; os questionamentos são reais, assim como as dúvidas e as respostas. A interação entre pai e filho também é real.
  • 9. Recentemente li um artigo sobre um jovem da tribo dos massai que veio aos Estados Unidos para fazer seu mestrado e, depois, seu doutorado. Antes de chegar ao mundo ocidental, o jovem guerreiro havia matado um leão a fim de proteger sua aldeia e seu gado. Essa prática está profundamente arraigada em sua tradição: um jovem precisa confrontar e vencer um leão com uma lança caso este ataque seu gado. Ele foi gravemente ferido, como era de se esperar, mas, após matar o predador, foi considerado um herói e um líder. Não consigo imaginar nenhum exame universitário ou entrevista de emprego que amedronte tanto um homem quanto estar sob as garras de um leão. Havia algo nessa história que tocou os lugares mais íntimos da minha alma; algo sobre ter encarado um grande desafio, um desafio sem vitória garantida, e, mesmo assim, tê-lo vencido, que me fez pensar. Se eu tivesse passado pela minha própria grande provação, será que encararia as incertezas do futuro com uma postura mais firme e uma confiança maior? Fico imaginando que, se eu tivesse vencido um leão, a vida não me faria sentir como se estivesse me aventurando na selva armado apenas com um smartphone. Assim oferecemos este livro como uma confissão, um convite e um manifesto para uma geração. É a minha confissão, por eu imaginar que, enquanto narro minha história, você talvez esteja enfrentando as mesmas perguntas. É nosso convite para que você nos acompanhe em nossa viagem, para que você possa ser o filho que recebe conselhos do pai ou o pai que sabe o que precisa dizer ao seu filho. É um manifesto para a geração que está emergindo e não sabe como iniciar sua caça ao leão ou por trás de que máscara o leão se esconde. Acreditamos que, com uma pequena ajuda, você possa ser o homem que deseja ser — o homem que o mundo precisa que você seja. Sam Eldredge Minneapolis, Minnesota
  • 10. CAPÍTULO 1 FACULDADE: E DEPOIS? Sentiu de repente que ele podia olhar o mundo como uma pobre vítima de um ladrão, ou como um aventureiro em busca de um tesouro. “Sou um aventureiro em busca de um tesouro”, pensou. Paulo Coelho, O Alquimista Acho que ainda não lhe contei o quanto meu primeiro emprego foi patético. Provavelmente, porque eu estava envergonhado. Eu tinha 22 anos, a tinta da assinatura no meu diploma — de uma prestigiada faculdade da costa leste — ainda não havia secado, e eu era então membro da classe trabalhista como assistente pessoal profissional. Algumas companhias grandes empregam pessoas em posições conhecidas como rabbits [coelhos]. (Às vezes, tenho a impressão de que esse pessoal desiste dos cartões de visita.) Encontrei meu emprego num anúncio on-line sob o título “Corredor”, e pensei: “Eu corro.” Não que meu emprego tenha sido muito exigente; na verdade, foi sua trivialidade entorpecente que me deixou desesperado. Para lhe dar um exemplo dos serviços prestados a uma família (muito) rica num dia normal, aqui está a lista: uma caixa de refrigerante light; três caixas de água mineral com sabor de limão; 12 latas de comida de gato (proibidos os sabores camarão e fígado. O gato deles, Taco, já havia me mandado devolver esses sabores em inúmeras ocasiões. Mas quem, afinal de contas, chamaria seu gato de “Taco”?); dois galões de água destilada; iogurte grego, sabor natural; biscoitos;
  • 11. almoço para os 18 funcionários num restaurante local (após checar três vezes que a salada de Angie tinha sementes de girassol, e que eu não havia me esquecido da vitamina especial para Lynn, e que o molho para a salada vinha num recipiente separado); deixar pacotes nos Correios e uma caixa de vinho na casa de um membro do conselho no centro da cidade. Tudo isso parecia uma piada. Primeiros empregos são infames; todo mundo reclama sobre eles como adolescentes aterrorizados. Mas enquanto dirigia pela cidade mudando as estações no rádio durante horas sem fim, fiquei me perguntando: “O que estou fazendo com minha vida?” Meus amigos que haviam escolhido uma carreira comercial estavam trabalhando em agências de músicas para publicidade e contadorias; um amigo estava trabalhando numa start-up da área de tecnologia. Um colega, que também havia se formado em Letras, comandava a recepção de um hotel sofisticado para que Paris Hilton pudesse se dedicar a seu hobby de DJ. Contudo, quando nos reuníamos em torno da mesa do bar às noites de sexta-feira, eu não tinha certeza se meus colegas com diplomas de economia estavam tendo mais sucesso do que eu. Eles também estavam decepcionados. Os fins de semana passavam voando, e na segunda-feira eu estava de volta ao meu emprego entediante para poder pagar minha comida e meu aluguel, para que eu pudesse voltar ao meu emprego para pagar minha comida e meu aluguel. Eu me sentia como um porquinho-da-índia, correndo sem sair do lugar. Talvez essa história devesse começar no meu segundo ano de faculdade, quando os pássaros ainda cantavam, o sol brilhava todos os dias e todo mundo estampava um sorriso no rosto. Quando tínhamos que escolher nossa especialização. Tomar uma decisão lembrava e muito a época da escola, quando cada estudante precisava escolher o que queria ser quando crescesse. Eu escolhi Letras porque amo histórias e criatividade, e quero ser escritor. Ainda fico nervoso quando conto às pessoas o que estudo, e elas dizem “Ah” — sempre com aquele tom de quem está ouvindo uma notícia ruim — “O que você vai fazer com isso?”, e eu respondo: “Que tal não ficar preso num cubículo pelo resto da minha vida, seu traidor?” Mas agora, dois anos mais tarde, já não é mais tão fácil convencer a mim mesmo de que tomei a decisão certa. Eu me pergunto: “Será que perdi meu tempo na faculdade?” Pai? O MBA que tirou o pó da minha escrivaninha ontem à noite e o bacharelado em arquitetura que me ajudou a encontrar um livro na livraria se perguntam a mesma coisa. E assim, a grande batalha começa: a batalha pelo seu coração, a batalha para encontrar algo por que valha a pena viver, a batalha para não perder sua alma enquanto você tenta encontrar esse algo.
  • 12. Por isso, respire fundo e dê um passo atrás. No início, cada passo em direção ao desconhecido lhe dá a sensação de uma queda livre. Eu me lembro dessa sensação. A faculdade é um espaço de preparação. Mas para quê? A fim de conseguir ver claramente os seus anos de faculdade, pergunte a si mesmo: você é simplesmente um trabalhador, um carreirista num ciclo econômico infinito? Ou você é um ser humano, e aquele coração batendo no fundo do seu peito está fazendo você sonhar com uma vida cheia de propósito e sentido para a qual você foi criado? Veja bem, Sam, as perguntas sobre quem nós somos e por que estamos aqui são muito mais importantes do que as perguntas sobre como conseguir um emprego maravilhoso e ganhar dinheiro. Você não quer acabar tendo uma vida que odeia. Alguns anos atrás, conversei com um dentista bem-sucedido que se aproximava dos cinquenta anos — na verdade, eu estava ouvindo suas confissões. Ele tinha sucesso, morava numa casa linda, saía de férias para lugares maravilhosos; e sofria de profunda depressão. Após uma longa pausa, ele lamentou: “Eu não fazia ideia daquilo que eu queria quando estava na faculdade; eu era outra pessoa quando escolhi esta vida.” A ideia de que um garoto de 18 anos saiba quem ele é e o que deve fazer pelo resto da vida é pura loucura. No primeiro ano de faculdade, você mal começou a refletir sobre sua vida ou a se separar de sua família e sua cultura; é difícil enxergar o mundo com clareza. Acordar a tempo e não se atrasar para as aulas já é uma conquista; lembrar-se de lavar sua roupa, um triunfo pessoal. Meu primeiro ano na faculdade foi como um acampamento. Todo mundo estava tão animado por estar ali, todos sentiam tanta alegria e liberdade que, na metade do período, nem parecíamos estar estudando. Deixávamos de fazer as tarefas de casa, íamos à praia, ficávamos acordados até tarde e flertávamos com todo mundo. Alguns começaram a fumar. Outros se iniciaram na arte do namoro em série. A única coisa em que conseguíamos pensar era no fato de que estávamos livres. Livres de nossas cidades natais e das regras dos nossos pais. Livres daquilo que havíamos sido no ensino médio. Ainda tínhamos muito tempo para descobrir como o mundo funcionava. Não há nada de errado com isso. Afinal de contas, é assim que é o primeiro ano na faculdade. Mas, pelo amor de Deus, não peça a esses calouros que definam o curso de suas vidas. Um mundo de descobertas — algumas bem
  • 13. difíceis — os espera, e eles precisam passar por tudo isso primeiro. Essa é uma temporada de exploração e transformação, de descobrir quem somos e do que gostamos, de compreender qual pode ser o nosso lugar no mundo. Nossos sonhos e desejos precisam despertar, crescer e amadurecer. Nós precisamos despertar, crescer e amadurecer para podermos lidar com esses desejos e sonhos. O homem em que estava me transformando aos 18 anos era muito diferente do homem que fui aos 30, e completamente diferente do homem que sou hoje, aos 53 anos. Não há nada de vergonhoso nisso; é assim que a vida funciona, para todos. Quem inventou essa ideia de que no dia em que se forma na faculdade você já é uma pessoa adulta plenamente amadurecida, prestes a entrar numa vida maravilhosa e completamente desenvolvida? Isso é tão insensato quanto frustrante. E é uma mentira. Acho que faríamos melhor se víssemos essa temporada como uma viagem por um país selvagem cheio de beleza e perigo — e com alguns pântanos — em vez de esperar que seja uma estrada clara e bem- definida do tipo faculdade-trabalho-vida-aposentadoria. Existem duas abordagens básicas à educação no nível da faculdade. O plano A corresponde a uma mera preparação para a carreira. Escolha a trajetória profissional para sua vida, curse as disciplinas prescritas que o prepararão para essa profissão e suba na hierarquia o mais rápido possível. Compreendo por que essa abordagem atrai tantas pessoas, pois parece fazer sentido e promete resultados — pelo menos no papel. As faculdades adoram prometer carreiras, e os pais amam essas promessas. Mas existem muitas pessoas graduadas em economia que estão trabalhando em lanchonetes, decepcionadas. “Siga este plano e você terá esta vida” pode causar um grande choque quando o plano não der certo. Você se sente traído se esteve trabalhando sob essa perspectiva. Isso vale especialmente no contexto de uma economia global volátil. O plano A ignora um elemento vital da realidade: pouquíssimas pessoas acabam trabalhando na área de seus estudos. Não conheço ninguém pessoalmente. Até meu amigo médico se cansou de sua profissão e agora trabalha numa ONG. Eu me formei em artes cênicas, e depois fiz meu mestrado em aconselhamento; minha mãe estudou sociologia. Hoje, somos escritores. A vida não costuma seguir uma trilha limpa, clara e reta. As pessoas não costumam fazer isso. Estou lendo um livro fascinante intitulado Shop Class as Soulcraft [A
  • 14. oficina como ateliê da alma]; o autor é um jovem com doutorado em filosofia política pela Universidade de Chicago. Após a formatura, ele conseguiu um bom emprego como diretor executivo num grupo de pesquisas em Washington, no qual se sentia constantemente cansado e desanimado. Depois de seis meses, ele se demitiu para realizar seu sonho de montar uma oficina para motocicletas. Os tempos mudaram. Meu pai era de uma geração que, depois de se formar na faculdade, trabalhava na mesma empresa a vida inteira. Mas os sinais dos nossos dias indicam que a geração atual terá algo em torno de nove carreiras diferentes — não só empregos, mas carreiras — ao longo de sua vida. Não somos e não queremos ser como nossos avôs. Sentar-se à mesma escrivaninha pelo resto das nossas vidas não nos atrai tanto quanto atraía a geração que vivenciou a Grande Depressão. Mas, mesmo sabendo que você tem razão quando diz que muitos jamais trabalharão na área que estudaram, isso me parece contradizer o conceito de “estude o que você ama”. Parece-me que estamos fadados a nunca trabalhar naquilo que realmente amamos. É justamente o contrário. Você deve estudar o que ama, porque nessa área você se desenvolverá e terá seu melhor desempenho, e porque as garantias de que “esse diploma equivale àquela carreira” costumam ter um prazo de validade muito curto hoje em dia. O que nos leva ao plano B: exploração e transformação. Este plano parte do pressuposto de que a faculdade deve ser aproveitada para a sua transformação como pessoa, como ser humano, que, muito provavelmente, terá uma vida de carreiras diferenciadas. Esta abordagem faz muito mais jus àquilo que somos e ao modo como fomos programados (o que sugere que seja um caminho muito melhor). Agora, sim, eu entendo que determinadas profissões exigem uma formação altamente especializada. Neurocirurgiões precisam estudar medicina por muitos anos, e os engenheiros bioquímicos precisam passar pelas aulas de cálculo e não devem gastar seu tempo com Platão e Dickens. No entanto, esses médicos e engenheiros continuam sendo seres humanos, e, independentemente daquilo que esses cursos possam oferecer para suas carreiras, seu dever primário é se tornarem o tipo de ser humano ao qual podemos confiar poder e influência. As faculdades de medicina entenderam isso já há algum tempo, quando perceberam que o médico precisa estudar não só a anatomia humana, mas também obter uma compreensão dos seres
  • 15. humanos reais, especialmente dos que estão em situações de sofrimento. Se negligenciarem sua própria humanidade em prol de uma carreira acadêmica rigorosa, eles não se tornarão o tipo de médico com o qual as pessoas se sentem à vontade. Nossa primeira tarefa, e mais importante, é a formação como seres humanos, não apenas como trabalhadores, mas como pessoas que precisam de um sentido que lhes permita um desenvolvimento favorável. Minha geração está desesperadamente à procura de sentido. Em todas as áreas da vida. É difícil encontrar uma categoria em que alguma empresa não tenha se apressado para satisfazer a demanda por uma “causa” hoje em dia. Há uma empresa que doa um par de sapatos a uma criança necessitada para cada par vendido. Qualquer cafeteria com algum autorrespeito — desde a da esquina até as empresas gigantes — sabe que as pessoas estão comprando mais produtos produzidos em condições justas para os trabalhadores (sem trabalho escravo), e o mesmo vale para os produtores de chocolate. Fabricantes de roupa aprenderam que, evitando trabalho escravo e propagando seus altos padrões morais, conseguem atrair clientes. (Queria que mais empresas realmente praticassem o que pregam.) As pessoas compram “diamantes sem sangue”. Na minha cozinha, por exemplo, não uso plástico. Se acrescentamos a isso a alimentação ética, que justamente luta contra o sistema destrutivo e desumano das fazendas industrializadas, acho que conseguimos abranger todas as áreas da vida diária. É isso aí. Alguns anos atrás, emprestávamos e repassávamos livros como Three Cups of Tea [Três xícaras de chá], Eating Animals [Comendo animais] e Not for Sale [Não está à venda], porque eles falavam daquilo que estava errado em nosso mundo e de como poderíamos mudar isso. Em seu livro The Fourth Turning [A quarta virada], William Strauss chama nossa geração de “geração herói”. [1] Queremos mudar o mundo. O meio ambiente, as pessoas em necessidade, situações de injustiça, qualquer coisa, todos esses assuntos nos preocupam. Queremos uma revolução à qual possamos aderir. Sem revolução, preenchemos nossas vidas com pequenas transformações que acendem uma chama e nos despertam momentaneamente. Tantas pequenas revoluções nos são oferecidas de bandeja como se fossem a resposta para todos os nossos desejos. Muitas vezes não passam de uma campanha de marketing, mas apelam a um anseio real dentro de nós. Você acaba de entrar na fase guerreira da vida de um jovem. Os jovens têm ocupado o centro da maioria das revoluções na história. Lá no fundo, em seu íntimo, se esconde uma paixão por derrubar tiranos, vencer a opressão e lutar por um mundo melhor — de fazer parte de algo grande. E por que Deus lhe
  • 16. deu esse tipo de motivação? Não é fascinante o fato de você e seus colegas terem um coração que deseja transformar o mundo? Será que Deus lhe deu esse desejo para que fosse simplesmente sufocado? Jamais! Sei que as pessoas mais velhas gostam de olhar para vocês por sobre seus óculos de leitura e dizer algo desdenhoso sobre “o idealismo da juventude” e como está na hora de você crescer e aceitar a vida real. Mas essa não é a minha opinião, e tampouco creio que seja a opinião de Deus. Esse conselho parte de pessoas que mataram seus corações e suas almas a fim de “sobreviver” no mundo. O cristianismo tem tudo a ver com revoluções — ele é uma revolução em sua essência —, e é por isso que Deus dá aos homens e às mulheres jovens a paixão de transformar o mundo. Deus lhe deu esse coração para que você descubra a alegria de fazer parte da revolução divina e seu lugar único dentro dela. Há muita coisa errada que precisa ser corrigida no mundo. Não importa para que lado olhemos, o planeta está sangrando, crianças são traficadas, a escravidão ainda é uma realidade e a própria verdade está em cacos. Vivemos num tempo perfeito para revoluções, e um dos grandes milagres do cristianismo é a noção de que você nasceu em seu devido tempo a fim de corrigi-lo. O que poderia ser mais empolgante? Frederick Buechner acreditava que “o lugar para o qual Deus chama você é o lugar em que sua mais profunda alegria e a profunda fome do mundo se encontram”.[2] Que mensagem poderia trazer mais esperança? Um dos períodos mais felizes da minha vida foi quando tinha vinte e poucos anos. Sua mãe e eu fundamos uma companhia de teatro imediatamente após a faculdade, não porque esperávamos nos transformar em estrelas de Hollywood dirigindo um Maserati, mas porque queríamos transformar o mundo. Fizemos apresentações de teatro nas ruas de Los Angeles durante as Olimpíadas de 1984 — ignorando as regras de segurança e montando nosso palco em qualquer lugar onde pudéssemos atrair uma multidão a fim de apresentar peças curtas sobre a vida de Jesus Cristo. Nós amamos aqueles anos. Isso é bem legal; é exatamente isso que estou procurando, o que todos os meus amigos estão procurando. Você chegou a vivenciar aquilo que amava. Chegou a ganhar a vida com isso?
  • 17. Não exatamente. Pelo menos não por alguns anos. Eu trabalhava como zelador da nossa igreja, e sua mãe conseguiu um emprego como secretária numa pequena empresa de alta tecnologia. Eu passava meus dias aspirando pó, limpando banheiros e removendo o lixo; ela se ocupava com números, relatórios e relações humanas. É muito importante manter isso em mente: sua paixão, seu sentido — aquilo que os santos do passado chamavam de “chamado” ou “vocação” — pode não ser aquilo que você faz para pagar suas contas. Jesus era carpinteiro. Paulo costurava tendas. Pode chegar o dia em que a sua paixão conseguirá pagar seu aluguel e em que você será o homem mais rico do mundo. Mas a razão pela qual tantas pessoas desistem de seus sonhos é que elas confundem as duas coisas. Elas fazem uma rápida avaliação do “valor de mercado” de suas paixões — ou algum professor as confronta com as improbabilidades — e trocam seus sonhos por uma vida mais “previsível”, a qual elas naturalmente acabam odiando, e causa o desenvolvimento de vários vícios, o que as leva à terapia. Como conselheiro, eu ganhava minha vida ajudando essas pessoas a saírem de seu desespero, e a fila na minha porta era longa. Você não é apenas um “trabalhador”, um empregado ou carreirista. Você é um ser humano cheio de paixões e desejos, e Deus o fez assim. Você é também um jovem na oficina de Deus, onde é treinado para ser um homem maduro. Não importa o que esteja acontecendo em sua vida, cada jovem se encontra no processo de se tornar um homem maduro. Essa é a sua grande missão, a correnteza mais profunda, o trabalho muito mais importante do que a carreira, não importa se ele se juntou ao Corpo da Paz ou conseguiu um emprego em uma agência de marketing em Nova York. Você precisa matar alguns leões antes de saber que se transformou num homem ao qual Deus pode confiar sonhos que se realizam. Não ajudaria se você encarasse esses anos de trabalho simples como anos de treinamento de um guerreiro? Talvez. Mas minha geração não gosta de ouvir: “Você precisa esperar.” Neste instante, com meu telefone na mão, posso transferir dinheiro da minha conta bancária enquanto leio as manchetes dos jornais, procuro a definição de uma palavra que não conheço e sua tradução para qualquer língua (cuja pronúncia eu posso ouvir simplesmente apertando um botão), ao mesmo tempo que envio uma mensagem a um amigo e gravo um vídeo para postar no Facebook. Tudo isso dentro de poucos segundos. E você quer que eu espere por algo? Por quantos anos eu vou ter que fazer isso?
  • 18. Essa é a voz do menino. O menino quer tudo da maneira fácil, e quer tudo agora. Será de grande ajuda se você conseguir reconhecer a voz desse menino — não para ser grosso com ele, mas para escolher o caminho que o leve à maturidade. Adoro a expressão gravada nas traves de madeira da oficina de Balian no filme Cruzada. Ela diz: “Que tipo de homem é o homem que não transforma o mundo num lugar melhor?”[3] Esta é sua bússola, sua estrela polar, enquanto ele trabalha na oficina de sua própria transformação de garoto em homem. O menino quer brincar, quer que a maior parte da vida seja recreio; o homem deseja algo mais nobre, algo maior, por isso, aceita o processo. Como Dostoiévski escreveu, “sacrificar cinco ou seis anos de sua jovem vida fervente a estudos duros e difíceis, ao aprendizado, a fim de multiplicar por dez sua força para servir àquela verdade e àquela ação que eles amavam e se propuseram a alcançar.”[4] Essa força multiplicada por dez vale a pena. Se eu for sincero comigo mesmo, confesso que me envergonho um pouco da forma como minha geração encara o trabalho — incluindo eu. Se eu não estiver enganado, no mundo antes da Revolução Industrial, os jovens não sentiam vergonha de iniciar um aprendizado e trabalhar até se tornarem mestres de sua profissão. Mas as coisas mudaram e continuam a mudar tão rapidamente que não nos dedicamos mais a uma carreira específica, porque a profissão pode não existir mais quando a dominarmos. Não sei. Questionar cada passo na carreira me parece uma receita certa para não se chegar a lugar nenhum. Não quero chegar a lugar nenhum; quero sentido e propósito. Quero ter a certeza de que estou iniciando algo que importa e que vale a pena. Então me pergunto: será que desperdicei a minha faculdade indo atrás de algo que talvez não me proporcione uma vida sustentável? Será que não conseguirei realizar aquelas promessas de sentido e propósito? Eu abandonaria meu emprego estúpido neste momento se encontrasse algo com sentido e propósito evidentes, algo que me satisfaça. Como encontro isso? Se a oferta existir apenas na imaginação ou for mera retórica, isso acabará comigo. Lembro-me de uma piada que um professor de história do ensino médio nos contou certa vez. “O estudante de ciências pergunta: ‘Como isso funciona?’ O estudante de economia pergunta: ‘Como podemos vender isso?’ O estudante de engenharia pergunta: ‘Como podemos construir isso?’ E o estudante de humanas pergunta: ‘Você quer batatas fritas com isso?’” Foi duro ouvir isso na época. Hoje, isso me assombra. Exploração e transformação, meu filho. Existe uma vida que você pode
  • 19. amar, mas é preciso ter coragem, perseverança e um pouco de esperteza para alcançá-la. Você precisa ser guerreiro. Está no meio do processo de descobrir quem é e por que está aqui, como o mundo funciona e como Deus está agindo, como e para onde ele está levando você. Eu amo o que faço; meu trabalho é minha paixão. E tenho a profunda alegria de saber que estou causando um impacto sobre o mundo. Em termos gerais, amo a minha vida. Você pode encontrar uma vida que ama. Você é capaz. Mas não encontrei esta vida no dia em que saí da faculdade. Muita coisa teve que acontecer comigo enquanto jovem antes que Deus pudesse confiar a mim a vida que tenho agora. Tudo isso soa um pouco como: “Espere. Trabalhe. Quem sabe, algum dia a vida virá para você.” Este é novamente o menino falando — ele está filtrando tudo que estou tentando dizer. Não estou tentando deixá-lo deprimido dizendo: “Trabalhe e talvez, em algum momento, a vida acontecerá.” Estamos tentando redefinir do que se trata esse período de sua vida. Há algo importante que você precisa saber sobre a nossa cultura — sua cultura. O escritor Robert Bly chamou nossa cultura de “Sociedade de Irmãos”, ou seja, uma sociedade formada por colegas em vez de anciãos, uma sociedade marcada pela perda da paternidade. As crianças são forçadas a entrar na adolescência cada vez mais cedo (garotas de 12 anos se vestem hoje em dia como universitárias). Ao mesmo tempo, a adolescência é estendida até a idade adulta, de forma que os adultos querem permanecer adolescentes. Mulheres de 55 anos aparecem em bares vestidas como estudantes da faculdade; e eu quero dizer a elas: “Vocês tem 55 anos, ajam como mulheres maduras, pelo amor de Deus.” Uma Sociedade de Irmãos venera a juventude e rejeita a rigidez da idade adulta; trata-se do mundo do eterno estudante de primeiro ano. Segundo Bly, o fruto é simplesmente este: “As pessoas não se preocupam em crescer.”[5] Sim, quando penso nos caras que conheço — Michael, Skye, Julian, TJ, na verdade, quase todos eles — me identifico com seus sentimentos, mas, é verdade, realmente grande parte de nós ainda é “menino”. O menino pode ser uma fonte de maravilhas, criatividade e alegria espontânea; mas ele também desiste rapidamente, exige que a
  • 20. vida aconteça agora, e é ele que nos leva a querer beber e jogar videogame em vez de fazer algo para as nossas vidas. Exatamente. Portanto, a escolha que você precisa fazer é ousada: aceitar o processo selvagem e corajoso de se tornar um homem. As horas que gastei como zelador não foram desperdiçadas. Aprendi tanto — a satisfação que resulta de um dia de trabalho duro, de perseverar em situações difíceis para produzir um resultado bom, e o rigor da perseverança — que me fortaleci como se estivesse fazendo corridas matinais ou exercícios na academia. Aprendi também a lidar com todo tipo de pessoas e suas manias. Na verdade, isso tira muita pressão de cima de você. A beleza de aceitar o processo o liberta da pressão de chegar lá imediatamente. Entendo aonde você quer chegar, mas detecto nisso um tom de “Aproveite a viagem; a jornada é seu destino”. Espero que esteja errado; esse mantra não ajuda em nada, e sempre imagino que a pessoa que o usa está sob a influência de alguma droga. “A jornada é o destino” não me convence. Isso foi inventado por pessoas que estavam eternamente perdidas e precisavam justificar a sua desorientação. É desculpa de adolescente. A viagem é a viagem; o destino é o destino. O voo noturno para Istambul não se parece em nada com Istambul. Você precisa manter a esperança de Istambul — seus sonhos e desejos — em vista. Esses voos de 13 horas podem ser brutais se você achar que nunca alcançará seu destino, preso a uma “viagem” sem fim. O coração desanima, e a próxima passagem do carrinho de bebidas se transforma em sua maior esperança. Sim, é claro que você tem uma jornada diante de você. Mas ela tem um destino: a idade adulta — possuir uma sabedoria e uma força que lhe permita amar uma mulher por uma vida inteira, ser um pai maravilhoso, liderar um movimento, governar um reino e mudar o mundo. Você está na escola da Fase do Guerreiro. (Esta é também a fase do Amante — falaremos sobre isso em breve.) Esse período da sua vida começou mais ou menos aos 17 ou 18 anos e agora se tornou seu trabalho para valer. O guerreiro aprende a dominar a arte de se agarrar ao sonho, aceitando ao mesmo tempo os rigores de se transformar no tipo de homem ao qual esse sonho pode ser confiado; as paixões do menino, por sua vez, são indisciplinadas e desorientadas, por isso, sim, ele facilmente se perde e se desanima.
  • 21. Um dos grandes inimigos contra os quais sua geração terá que lutar é a pretensão. Sua infância foi uma em que cada menino ganhava um troféu — independentemente de ter vencido ou perdido ou até mesmo de ter participado do jogo. Minha geração deve a todos vocês um grande pedido de desculpas. Nós tínhamos tanto medo de falhar, como tantos dos nossos pais falharam, que mimamos e enfraquecemos a corrida, preocupando-nos mais com sua autoestima do que com sua ética de trabalho. O menino pretensioso acredita que a vida precisa ser fácil, que os sonhos devem se realizar e que todos devem ganhar um prêmio qualquer que seja seu desempenho. Esse menino fica realmente chocado quando percebe — muitas vezes de forma dolorosa — que o mundo não lhe deve nada. Isso está começando a me lembrar de Santiago, em O Alquimista, de Paulo Coelho. Essa é uma daquelas histórias que me cativou, e eu a reli várias vezes. Santiago é um jovem que sonha com um tesouro enterrado, e ele aprende a ouvir seu coração e observar os sinais enquanto persegue seu sonho. A trama é simples assim em sua essência, mas eu amo o livro. Temos aqui uma história sobre seguir a direção dos seus sonhos, perseverar em meio a dúvidas e reveses, uma história cheia de amor e perigo — e no fim o sonho dele se realiza. Amo essa história, porque quero que seja verdade — para mim. Quero acreditar que se eu seguir a direção dos meus sonhos, observar os “sinais” e lutar pelo meu caminho apesar das derrotas, minha vida será cheia de aventuras e romance e eu encontrarei meu tesouro. Logo no início do livro, Coelho oferece essa maravilhosa esperança para começar a jornada — a figura do “sábio” Melquisedeque visita o menino Santiago no exato momento em que ele precisa decidir se seguirá seu sonho ou não. Todas as pessoas, no começo da juventude, sabem qual é sua lenda pessoal. Nesta altura da vida, tudo é claro, tudo é possível, e não temos medo de sonhar e de desejar tudo aquilo que gostaríamos de fazer. Entretanto, à medida que o tempo vai passando, uma misteriosa força começa a tentar provar que é impossível realizar a Lenda Pessoal. [6] Pouco antes, Melquisedeque havia dito: “[Elas acreditam] na maior mentira do mundo.” “Qual é a maior mentira do mundo”, perguntou o garoto, totalmente surpreso. “É esta: em determinado momento da nossa existência, perdemos o controle das nossas vidas, e ela passa a ser governada pelo destino. Esta é a maior mentira do mundo.” [7]
  • 22. Recomendo este livro às pessoas o tempo todo. Algumas das minhas conversas favoritas com meus amigos aconteceram tarde de noite quando acabávamos de começar a falar sobre sonhos e como nada poderia nos impedir de ir à África, ou de fundar uma empresa, ou de criar o primeiro jornal que realmente falasse a verdade. Nessas noites, ninguém censurava seus sonhos. De alguma forma, sob a luz das estrelas, voltávamos a sentir que tudo era possível. Eu adorava esses momentos. Mas, como Santiago quando é roubado em Tânger, nós nos esquecemos desse sentimento e, ao nascer do sol, a dúvida volta a nos atormentar, e não conheço muitas pessoas que tenham chegado perto dos sonhos que expressaram naquelas noites. Sinto muito por meus amigos. Quero que cada um persiga seus sonhos, antes de “mudarem” (ou seja, se entregarem) com a voz do conforto ou do medo. Ou eles saem correndo atrás de tudo, qualquer coisa, esperando que algo de bom resulte disso. Mais tarde, quando Santiago não desiste de seu sonho, Coelho oferece outro conselho: “Só sentimos medo de perder aquilo que temos, sejam nossas vidas ou nossas plantações. Mas esse medo passa quando entendemos que nossa história e a história do mundo foram escritas pela mesma mão.” [8] Gosto disso; é tão reconfortante. A razão pela qual você — assim como eu — ama O Alquimista é que a história transmite uma verdade profunda. Ela sussurra uma promessa que o coração anseia ouvir: “É possível. A vida pode dar certo. Sonhos se realizam.” Mas lembre-se: Você está assistindo ao Santiago do lado de fora da história. Como você acha que ele se sentiu dentro dela? Provavelmente de forma semelhante a como você está se sentindo agora — por vezes, esperançoso; por outras, confuso, e até desorientado e um pouco desencorajado. Amamos Santiago porque ele se sente como nós. E não se esqueça: Santiago é adolescente no início da história. No fim, ele já se transformou num jovem homem. Essas histórias são como mapas: a vista do alto lhe apresenta a estrutura da terra, ajuda você a se orientar, mas é bem diferente quando você volta sua atenção do mapa para o mundo bem a sua frente — é a velha história de conseguir ver as árvores, mas não a floresta. É vital que nos lembremos disto: viver dentro de uma história maravilhosa é bem diferente de assisti-la. “O caminho através do mundo/ é bem mais difícil de achar do que o caminho para além dele”, como disse o poeta Wallace Stevens.[9] Uma das mensagens essenciais de O Alquimista — ou de O Hobbit, da Eneida, e de qualquer grande história — é esta: não ceda ao desespero; não desanime. Essa luta por
  • 23. uma vida que valha a pena é muito mais arte do que ciência. É a arte do guerreiro. Certo dia, assisti a um documentário notável sobre os caçadores da tribo dorobo, que vivem no sul da Quênia. Seus arcos simplesmente não são fortes o bastante para matar animais de grande porte, por isso, eles roubam as presas dos leões. Numa manifestação incrível de coragem e astúcia, eles caminham diretamente para um leão que está devorando um gnu; sua confiança inabalável faz com que o leão fuja. Na cena seguinte, vemos os homens assando a carne do gnu sobre uma fogueira, conversando e rindo. Um deles diz: “Mas nem todos lutam contra leões; algumas pessoas são covardes.” [10] Esta é a fogueira à qual você quer se sentar — a festa dos ousados. Isso exige coragem, pois o medo é a razão número um pela qual os homens desistem e se vendem. Isso exige perseverança, pois nada que valha a pena possuir vem sem algum tipo de luta. Isso exige esperteza, pois a maioria dos homens-que-na-verdade-ainda-são-meninos enfrenta o mundo com um tipo de ingenuidade infantil, ignora os leões, falha em alcançar seus sonhos e depois acusa o mundo ou Deus quando, na verdade, eles estavam simplesmente insistindo que a vida lhes permitisse serem calouros para o resto de suas vidas. Você terá que matar alguns leões — o medo é um deles. O desespero é outro. A pretensão — a pretensão da adolescência — é o terceiro. Ou você os mata, ou eles devoram você e seus. Coragem, perseverança, esperteza — é assim que se mata um leão. Viva isso e você terá uma história para contar.
  • 24. CAPÍTULO 2 CHEQUES SEM FUNDO Eu gostaria de viver como um homem pobre com muito dinheiro. Pablo Picasso O emprego de assistente pessoal não se parecia em nada com aquilo por que eu me esforçava na faculdade. Eu aceitei o emprego para pagar as contas— e porque foram os primeiros a responder aos meus e-mails. Quatro anos de ensino superior, e lá estava eu comprando comida de gato. Minha faculdade não oferecia um curso para esse tipo de carreira, e esse emprego certamente fazia com que eu me sentisse ridículo. Quando é que o desejo de fazer algo que valesse a pena se transformou no desejo de que o dia passasse o mais rápido possível? Antes da formatura, costumávamos ir à praia e conversar sobre “mergulhar de cabeça” no desconhecido. O chão desaparecia sob nossos pés, mas já que íamos ser lançados na escuridão, queríamos afundar com grandeza. Eu levei quase um ano até não aguentar mais essa completa falta de sentido. Levei quase um ano antes de voltar ao que parecia ser o deserto selvagem do mercado de trabalho. Eu me demiti no meu aniversário, como maneira de celebrar, mas a maioria dos meus colegas não me apoiou. Olharam para mim como seu eu estivesse louco por abrir mão de um emprego tão fácil, que pagava minhas contas e me rendia boas histórias para contar. Para muitos deles, insistir em algo com o que havíamos sonhado na faculdade era ingênuo. Criar o sonho que cobiçávamos era uma fantasia. A expectativa de vida dos sonhos parece ser muito curta. Tudo se reduz ao dinheiro. Tenho amigos que estão perseguindo o sonho americano, outros que estão optando pelo movimento minimalista, e alguns que tentam harmonizar os dois. Na verdade, acho que minha geração está ficando louca e completamente desorientada no que diz respeito ao dinheiro. De um lado, vemos (como nenhuma geração antes de nós)
  • 25. milionários aparecerem do nada, e não estou falando de um milhão de dólares. Estou falando de centenas de milhões de dólares ganhos com a venda de um simples aplicativo. Em 2012, Rovio, a empresa que criou o jogo Angry Birds, valia mais do que 2,25 bilhões de dólares. [11] Qualquer moça pode publicar seu vídeo no YouTube, tornar-se uma sensação instantânea e ganhar muito dinheiro vendendo anúncios. Conheço um cara que desenvolveu um aplicativo e lucrou 75 mil dólares no mês passado, e a festa continua. E quer saber? Não culpo meus amigos por tentarem. Meu emprego como entregador era ridiculamente bem pago, e eu consegui comprar uma moto. Eu amava aquela moto. O dono anterior havia transformado a máquina num lutador de rua. Ele retirou o assento do passageiro e fez modificações para transformá-la no epítome de uma máquina preta. Voando pelos cânions, eu me sentia como Sam Flynn no filme Tron: O legado. Comecei a acreditar que dinheiro comprava felicidade sim. Mas então comecei a namorar uma garota muito responsável financeiramente e ciente das necessidades do mundo. Ela prefere dar tudo aos sem-teto a comprar algo bonito para si mesma. Ela compra suas coisas em lojas de segunda mão (antes de isso se tornar relativamente comum) e remenda roupas velhas várias vezes antes de aposentá-las. Esta é uma daquelas novas revoluções das quais falei mais acima — o movimento minimalista como rejeição ao excesso norte-americano, pregando a desistência de todas as coisas desnecessárias e a doação de tudo que não seja realmente indispensável. Recentemente, um amigo esteve numa conferência para jovens do novo milênio, e o palestrante disse que, se tivermos duas camisetas, temos o dobro daquilo que precisamos. No momento, isso está cativando a imaginação de muitos jovens cristãos. Quem está certo? Alguém está certo? Essas duas posturas me parecem ser dois extremos. A primeira nos leva a crer que podemos ter sucesso instantâneo e usar notas de cem dólares como toalha de banho. (Acabo de ter notícia de um amigo que desenvolveu um aplicativo: neste mês em que escrevo ele ganhou 90 mil dólares.) A segunda apela ao sentimento de culpa e nos obriga doar tudo que possuímos a um asilo. Perseguir um novo sonho americano ou ser um cidadão do mundo — ambos me fazem sentir como se alguém tivesse encomendado ostras das Montanhas Rochosas para mim. Bem, pelo menos a segunda opção me permite doá-las ao meu vizinho. Odeio dinheiro. Mas gosto de comer. Quero um celular para poder entrar em contato com as pessoas. Quero poder sair com a Susie. Prefiro dormir sob um teto. E para fazer tudo isso, preciso de dinheiro. Meus amigos estão se vendendo por dinheiro ou recusando o dinheiro e voltando a viver como nos anos 1960. Odeio como o dinheiro confunde tudo. Talvez ele realmente seja a raiz de todo mal. Estou ouvindo você. Dinheiro é complicado, e, no futuro, quando você acrescentar uma esposa e filhos à essa equação, o dinheiro se tornará urgente.
  • 26. Mas ele também é muito esclarecedor — nada revela suas prioridades tão rapidamente quanto o dinheiro. É isso que as Escrituras estavam tentando dizer quando afirmaram que “o amor ao dinheiro é raiz de todos os males” (1Timóteo 6:10; grifado pelo autor). O dinheiro em si não é mau — mas a ganância é. Os homens derrubaram as matas virgens por causa de sua ganância, sem pensar no futuro ou nas implicações éticas de seus atos; exploraram os oceanos pelas mesmas razões. Trabalho escravo e infantil — todas essas injustiças que deixam sua geração enfurecida — isso tudo é resultado da ganância. A questão é o desejo, a gula, o excesso — estes estão na raiz de todos os males. Não o dinheiro. A ganância. Mas quanto ao fato de tudo funcionar em virtude do dinheiro? É tão normal homens e mulheres aceitarem empregos que matam suas almas e trabalharem até se desgastarem, abrindo mão do tempo com a família, nunca se alegrando com o mundo em que vivem, e tudo isso apenas para sustentar uma vida que todos os outros dizem ser “importante”. Em The Everlasting Stream [O rio eterno], Walt Harrington escreveu: “Alguns anos atrás, eu saí para o meu jardim com uma taça de vinho na mão e senti uma grande satisfação por tudo aquilo que conseguira adquirir. Mas rapidamente comecei a me perguntar se todas essas aquisições não poderiam se transformar numa armadilha, obrigando-me a continuar num emprego que já não me dava nenhum prazer apenas para pagar as contas.” [12] O dinheiro é como uma sedução que o atrai para uma armadilha, e, então, essa armadilha se transforma na prisão de sua vida. Nunca ouvimos falar do carpinteiro que passou a vida inteira construindo mesas e cadeiras para conseguir sobreviver; ouvimos as histórias de pessoas bem-sucedidas, poderosas, realizadas. Uma pessoa pode ter uma vida gratificante, mas ser pobre, e ninguém a conhecer; outra pessoa parece ter uma vida glamorosa e importante, mas eu sei que jamais conseguiria me transformar numa pessoa assim. Acho que você está começando a entender minha frustração. O que você está criticando é o Mundo. Com todo direito. O Mundo inventou os shoppings, as minas de ouro e as casas noturnas. O Mundo é governado pela injustiça e pelo excesso. Mas ganhar dinheiro não é, necessariamente, “do mundo”. As Escrituras dizem: “O generoso prosperará; quem dá alívio aos outros, alívio receberá. [...] Quem é generoso será abençoado, pois reparte seu pão com o pobre” (Provérbios 11:25; 22:9). Uma das grandes alegrias de ganhar dinheiro é ter algo para compartilhar. Mas você não pode compartilhar o que não tem; quanto mais você tem, mais
  • 27. oportunidades você tem para fazer o bem. Alguns amigos da igreja queriam muito adotar uma criança, mas não conseguiam arcar com as despesas. O dinheiro pode ser um recurso para realizar uma grande obra. Comparemos o Mundo e o Reino de Deus — o dinheiro é um daqueles lugares dramáticos em que a diferença entre o Reino e o Mundo se manifesta claramente. O Mundo é impulsionado por aquilo que Aristóteles chamou de “desejo mimético”. Funciona assim: dois garotos se encontram num quarto; um deles pega uma bola e começa a brincar; e, de repente, o outro garoto também quer a bola. Você pode observar isso todos os anos, no Natal — existe “a coisa” que todos querem receber. Pessoas são pisoteadas em dias de promoção por causa do desejo mimético. As pessoas “querem” o que as outras pessoas parecem curtir. Todo o sistema foi construído na base da inveja e do consumo infinito. O Mundo alega que o dinheiro equivale à felicidade, e assim você gasta sua vida correndo atrás dele. Jesus se opôs à loucura como o único homem sensato num prédio em chamas, calmamente apontando o caminho para a saída, quando disse: Ninguém pode servir a dois senhores; pois odiará um e amará o outro, ou se dedicará a um e desprezará o outro. Vocês não podem servir a Deus e ao Dinheiro. Portanto eu lhes digo: Não se preocupem com sua própria vida, quanto ao que comer ou beber; nem com seu próprio corpo, quanto ao que vestir. Não é a vida mais importante que a comida, e o corpo mais importante que a roupa? Observem as aves do céu: não semeiam nem colhem nem armazenam em celeiros; contudo, o Pai celestial as alimenta. Não têm vocês muito mais valor do que elas? Quem de vocês, por mais que se preocupe, pode acrescentar uma hora que seja à sua vida? Por que vocês se preocupam com roupas? Vejam como crescem os lírios do campo. Eles não trabalham nem tecem. Contudo, eu lhes digo que nem Salomão, em todo o seu esplendor, vestiu-se como um deles. Se Deus veste assim a erva do campo, que hoje existe e amanhã é lançada ao fogo, não vestirá muito mais a vocês, homens de pequena fé? Portanto, não se preocupem, dizendo: “Que vamos comer?” ou “Que vamos beber?” ou “Que vamos vestir?”. Pois os pagãos é que correm atrás dessas coisas; mas o Pai celestial sabe que vocês precisam delas. Busquem, pois, em primeiro
  • 28. lugar o Reino de Deus e a sua justiça, e todas essas coisas lhes serão acrescentadas. Mateus 6:24-33 Então os minimalistas estão certos — não deveríamos nem pensar em dinheiro ou possuir “coisas”. Bem, mais ou menos. Quando a Bíblia nos diz que, se tivermos dois mantos, devemos dar um ao pobre, precisamos ficar de olho na matemática — você não pode dar a alguém seu segundo manto a não ser que você tenha um segundo manto. Você não pode ajudar aos pobres se você mesmo for pobre. E você não gostaria de fazer isso mais do que uma vez em sua vida? Portanto, precisará de recursos para adquirir mais mantos. Se você tiver recursos, você pode fazer um grande bem. Acho que o movimento minimalista é um exemplo de uma intenção muito boa tirada de seu contexto. Como advertiu G.K. Chesterton: Quando um esquema religioso é abalado (como o cristianismo foi abalado pela Reforma), não são apenas os vícios que são liberados. Os vícios são, de fato, liberados, e eles se propagam e causam danos. Mas as virtudes também são liberadas; e as virtudes se propagam de forma ainda mais feroz, e causam danos ainda mais terríveis. O mundo moderno está repleto de antigas virtudes cristãs descontroladas. As virtudes se descontrolaram porque foram isoladas umas das outras e estão vagando sozinhas.[13] Respeito a virtude dos minimalistas, mas, assim como os hippies dos anos 1960, seu conceito representa uma noção infantil de como o mundo funciona. (E, falando nisso, de onde vem a fascinação de sua geração pela década de 1960? Ela foi um desastre.) Só porque um movimento parece ser humilde ou nobre não significa que ele representa o Reino de Deus. O comunismo prometeu ao homem trabalhador uma remuneração mais justa, mas acabou destruindo todas as economias de cada país que o adotou, e as pessoas que mais sofreram com isso foram os trabalhadores. Alguns anos atrás, passei por uma linda aldeia na Eslováquia, onde mora um amigo. A praça da cidade estava rodeada de lojas vazias. “É aqui que os artesãos costumavam trabalhar
  • 29. e vender seus produtos”, Bo explicou. “Produtos lindos. Mas o comunismo destruiu essas oficinas e o comércio. Ninguém possui mais as habilidades para passá-las adiante. É realmente muito triste.” Minha geração considera o capitalismo algo mau por causa de toda a ganância. O movimento Occupy Wall Street foi causado por uma fúria legítima. Não conheço ninguém da minha idade que não tenha ficado empolgado e apoiado a revolução. Mas agora que mudou a legislação, é a revolta prolongada que se tornou quase ilegal, e não a manipulação de fundos e o roubo descarado que está sendo cometido por executivos e gerentes de ações. Não há dúvida de que a ganância corrompeu o sistema capitalista. Mas isso não significa que o sistema em si seja corrupto. Dinheiro é como um carro — ele pode levá-lo a lugares bons e a lugares ruins. Ele pode propiciar aventuras ou causar grandes danos. Tudo depende do motorista. As pessoas fazem coisas estúpidas com carros, mas isso não transforma o carro em si em algo mau. Ficou comprovado que o capitalismo é o melhor sistema existente, por permitir que a classe de trabalhadores melhore sua vida. Sugiro que você o encare da seguinte forma — os pobres votam com seus pés. Por que temos um controle de imigração tão rígido na fronteira com o México? Não é porque os cidadãos norte-americanos estariam tentando ir para o sul. No mundo inteiro, os trabalhadores sabem que sua maior chance de melhorar sua vida está nos Estados Unidos — a não ser que destruamos nossa própria economia, é claro. Mas deixemos o dinheiro de lado por um minuto e falemos sobre os frutos do trabalho. O dinheiro é simplesmente a representação do nosso trabalho. Jamais voltaremos ao sistema de troca de bens — eu conserto seus sapatos e, em troca, você me dá o pão que assou hoje de manhã. Atualmente, trabalhamos e somos pagos, e usamos esses salários para satisfazer nossas necessidades e, com o amor de Deus, as necessidades dos outros. O dinheiro é simplesmente o fruto do nosso trabalho, e o trabalho é uma coisa muito boa e muito importante para que um homem se sinta homem de verdade. Quando Deus criou o homem, ele o criou para que fosse “fértil” (Gênesis 1:28). A primeira coisa que Adão fez foi conseguir um emprego. Um dia de trabalho duro rende uma satisfação profunda. Nenhum homem de verdade quer se sentir como um parasita, como alguém que vive a custo de outro. Um dos empregos mais duros que já tive na minha vida foi nas férias de
  • 30. verão, quando eu tinha 18 anos. Eu estava trabalhando no município de Oregon, e meu trabalho consistia em fazer o isolamento de sótãos. Naquele mês de julho, as temperaturas atingiram 32 graus, e no sótão a temperatura chegava aos 48. Eu suei como um político ligado ao detector de mentiras; suei como nunca antes, o que fez com que as minúsculas fibras de isolamento ficassem grudadas em cada milímetro da minha pele. Foi uma coisa horrível. Mesmo assim, quando encerrávamos o dia, tínhamos a profunda sensação de: “Cara, conseguimos! Persistimos numa tarefa muito dura. Merecemos essa folha de pagamento!” Isso é essencial para a masculinidade — dedicar-se com tudo a um trabalho. Não a um trabalho escravo e sem sentido, mas como homens que estão aqui para serem produtivos, que desejam ser produtivos. Como escreveu o apóstolo Paulo: Não vivemos ociosamente quando estivemos entre vocês, nem comemos coisa alguma à custa de ninguém. Ao contrário, trabalhamos arduamente e com fadiga, dia e noite, para não sermos pesados a nenhum de vocês, não porque não tivéssemos tal direito, mas para que nos tornássemos um modelo para ser imitado por vocês. Quando ainda estávamos com vocês, nós lhes ordenamos isto: Se alguém não quiser trabalhar, também não coma. 2Tessalonicenses 3:7-10 Acho que preciso ser sincero e confessar que, muitas vezes, não é o emprego que me desagrada; durante muito tempo, foi o trabalho em geral. Ele não me fornecia essa sensação de satisfação, e eu atribuí isso ao fato de sempre fazer trabalhos pequenos. Mas um projeto no verão passado esclareceu um pouco as coisas. Meu amigo Trevor e eu estávamos pintando uma grande plataforma ao ar livre. Os dias eram longos e quentes, e o produto químico que estávamos usando era agressivo; mesmo com máscaras e óculos protetores, precisávamos fazer pausas sempre que o mundo começava a girar e personagens de desenhos animados começavam a dançar ao redor de nossas cabeças. Mas à noite, quando o trabalho estava feito e nos sentamos à mesa de pôquer, nós dois sentimos que o refrigerante e a camaradagem eram ainda mais preciosos por causa do trabalho que havíamos feito. Uma das melhores sensações que tive como um jovem homem foi cortar os laços financeiros que eu tinha com você e mamãe. Eu estava grato pela ajuda que vocês me deram durante a faculdade, mas depois não aguentava mais depender de vocês. Existe algo em mim que diz que eu devo resolver meus problemas sozinho. Talvez seja até
  • 31. um instinto animal que me diz que eu devo ser capaz de colocar comida na mesa. Seja o que for, para mim, a independência financeira é essencial para que eu me sinta homem. Certo, então abandonamos a questão do dinheiro e focamos no trabalho, e descobrimos que o trabalho honesto e seus frutos são coisas muito boas. Isso é crucial na transição da fase de garoto para homem. O dinheiro nos obriga a crescer; ele é uma dose constante de realidade, e a realidade é uma dádiva de Deus. Ela tem esse jeito maravilhoso de manter nossos pés no chão. Dean Potter é um alpinista fenomenal, mas agora ele acredita que consegue voar. O menino está de volta. Os psicólogos chamam isso de “pensamento mágico”. Os filósofos chegaram ao ponto de duvidar que a realidade existe. Então batem com seu carro na árvore do vizinho, e a realidade os acorda de seu “pensamento mágico”. Você precisa comer. Você precisa de roupas para vestir. A realidade nos mostra o quão dependente somos como criaturas. E é aí que entra o medo. Conheço tantos homens que tomam suas decisões baseadas nele. Medo de não ter dinheiro; por isso, aceitam o primeiro emprego que conseguem encontrar. Medo de não serem bem-sucedidos na área de seus sonhos; por isso, nem tentam conseguir o emprego. Medo de não encontrar algo melhor ou de não realizar seus sonhos; por isso, jamais abandonam o emprego que os está matando. O que me lembra de uma conversa que tive com Blaine e Luke sobre o medo... Blaine sugeriu que muitas pessoas têm medo de nadar e, por isso, nunca chegam perto de uma piscina. Da mesma forma, muitas pessoas da igreja evitam o dinheiro, afastando-se dele ou optando por um caminho mais “humilde”. Segundo Blaine, isso não representa um ato de força ou santidade; não se envolver com o mundo do dinheiro é, em sua opinião, um ato motivado pelo medo. “O tamanho da torta é limitado”, ele continuou. “Ela será repartida, e eu gostaria de poder participar da decisão sobre o destino desse dinheiro, fortalecendo os sistemas que eu apoio...” (Tenho certeza de que ele foi bem mais eloquente do que minha paráfrase, perdão.) Mas a ideia ficou gravada na minha mente: É preciso ser corajoso para entrar no mundo do dinheiro, e se nos mantivermos afastados, perdemos a oportunidade de exercer um papel maior em sua distribuição. Ontem à tarde, recebi uma ligação terrível do mecânico ao qual confiei o conserto do meu fusquinha. Ele me disse aquela frase antiga, que eu já ouvi tantas vezes na minha vida: “Parece que isso será mais difícil do que imaginávamos.” Imediatamente, pensei: “Como é que eu vou pagar por isso?” Mas ele estava certo. O fusca precisava de uma reforma geral. E agora a reserva que eu havia acumulado na minha poupança não bastava para pagar a conta, e eu me senti como se o chão estivesse cedendo sob meus pés. Foi difícil manter o foco no fato de que Deus cuida de mim. Pensei em
  • 32. maneiras de conseguir outro emprego ou em abrir os velhos cartões de aniversário na esperança de encontrar algum dinheiro da vovó. A sensação dominante era: “Estou afundando, e não há ninguém para me salvar.” Era disso que eu estava falando quando chamei o dinheiro de dose constante de realidade. Ele nos obriga a lidar com aquilo em que realmente acreditamos. Você é fundamentalmente independente? Está tudo em suas mãos? Creio que essa seja a essência subjacente ao dízimo cristão. Quando você recebe seu cheque no fim do mês e a primeira coisa que você faz é separar dez por cento para ajudar a outros, você se pergunta imediatamente: “Eu realmente confio que Deus cuidará de mim?” Era disso que Jesus estava falando quando contou sua história dos lírios no campo: Quero convencê-los a relaxar, a não se preocuparem tanto em adquirir. Em vez disso, prefiram dar, correspondendo, assim, ao cuidado de Deus. Quem não conhece Deus e não sabe como ele trabalha é que se prende a essas coisas, mas vocês conhecem Deus e sabem como ele trabalha. Orientem sua vida de acordo com a realidade, a iniciativa e a provisão de Deus. Não se preocupem com as perdas, e descobrirão que todas as suas necessidades serão satisfeitas. Mateus 6:31-33 (A Mensagem) O Mundo diz: “Corra atrás de dinheiro. Dinheiro é sua segurança.” Deus diz: “Corra atrás de mim. Eu sou sua segurança.” Quando sua mãe e eu nos casamos, nenhum de nós tinha nem sequer um centavo. Nossas poupanças estavam vazias. Todos os nossos móveis eram doados ou emprestados. Comemos numa mesa dobrável de acampamento, que sua avó Jane nos emprestou, durante dez anos. Fazíamos nossas compras em lojas de segunda mão. Vivíamos de mês em mês, e aqueles foram os anos mais felizes de nossas vidas. Tínhamos amigos maravilhosos, amávamos nossa igreja, e nos divertíamos muito. Deus cuidou de nós. A grande mentira é que mais dinheiro o deixa mais feliz. Não é verdade. Mas sem dinheiro, sua vida pode ser miserável. Isso também é verdade. As Escrituras não veem dinheiro como “lucro sujo”, mas como benção de Deus:
  • 33. A bênção do Senhor traz riqueza, e não inclui dor alguma. Provérbios 10:22 A recompensa da humildade e do temor do Senhor são a riqueza, a honra e a vida. Provérbios 22:4 Essa é a beleza do Reino. Há uma condição vinculada à promessa de que todas as coisas lhe serão dadas: busque primeiro o reino de Deus. Deus providenciará tudo se você estiver buscando o seu Reino, se você estiver vivendo para ele. Veja, ou você tem Deus, ou não tem Deus. Ou ele é seu aliado, ou está por conta própria. Sua convicção em relação a isso afeta todo o resto. Se você não tem Deus — e estou falando de Deus como aliado íntimo, que está do seu lado, colado em você —, precisa empenhar todas as suas forças para definir um caminho para sua vida. Evidentemente, é assim que a maioria dos homens vive. O mundo inteiro se apoia nessa suposição, em todas as áreas — acadêmica, profissional, econômica. Eu não posso lhe dar conselho algum quanto a isso, pois rejeitei essa visão do mundo e não posso lhe dizer como funciona ou como se dar bem. Eu rejeito a premissa sobre a qual esse castelo de cartas se ergue. “Existe um Deus; ele é nosso Pai” muda tudo. Agora, deixe-me acrescentar rapidamente que quando digo “acreditar em Deus” não me refiro a um reconhecimento casual de sua existência. Se você tem Deus, precisa agir de acordo. Pois ele não ajuda àqueles que não o levam a sério — da mesma forma como você não oferece os tesouros de sua amizade a uma pessoa que não o leva a sério. Você precisa buscá-lo com todo seu coração para descobrir sua ajuda, para alinhar-se aos seus movimentos e suas ações e para tirar proveito de tudo aquilo que ele estiver lhe oferecendo. Deus nos prometeu: “Procurarão o Senhor, o seu Deus, e o acharão, se o procurarem de todo o seu coração e de toda a sua alma” (Deuteronômio 4:29). No entanto, há uma condição vinculada a essa promessa: se você o
  • 34. buscar com todo o seu coração e com toda a sua alma. A maioria dos cristãos ignora essa parte e depois se pergunta por que Deus não se faz mais presente em suas vidas. Sim, é verdade. Alguns meses atrás, recebi um e-mail de um amigo que dizia: Não sei como não me dei conta disso antes. Como pude ser tão cego, tão insensível aos meus próprios sentidos? Agora é tão óbvio. Se não fosse assim, como poderia explicar o que experimentei aqui? O cheiro, o fedor rançoso que entra pelas portas abertas e que eles atribuem ao oceano, mas não é que detecto um traço de enxofre? As pessoas, almas miseráveis que se agarram a seus salários, como se aqueles míseros benefícios, aos quais estão tão acostumadas, pudessem salvar suas almas. Elas gritam e choram, socam o ar, rangem os dentes, exigem um tratamento justo, como se o merecessem mais do que o resto do mundo. O meu castigo é suportar seus gritos, e o que os trouxe aqui foram seus pecados de gula, ganância, orgulho, vaidade e ira. Tudo que posso fazer é me perguntar que pecado abominável eu cometi em meu passado para ter que aturar um castigo tão severo. Não sei como não me dei conta disso antes. Trabalho no inferno. Minha reação ao ler isso? Eu ri, e de imediato concordei mentalmente. Não que seu emprego fosse pior do que o de qualquer outra pessoa, mas entendo que ele se sinta muito distante de onde deseja estar, de onde sonha estar, mas precisa pagar as contas. O que, então, devo dizer ao meu amigo? Isso é algo que ele precisa simplesmente suportar? Se estivermos apenas trabalhando para sobreviver — ou, como diria o pai de Calvin em Calvin & Haroldo, se estivermos “desenvolvendo caráter” —, o que acontece com nossos sonhos? Obviamente, fomos instruídos a perseguir nossos sonhos. Cada discurso no ensino médio e na faculdade nos desafiou a conquistar os céus. Mas, ao mesmo tempo, não nos ofereceram muita ajuda para nos transformarmos nas pessoas capazes de lidar com o sonho quando o alcançássemos. Provavelmente, porque a Disney não conseguiu transformar isso num musical. O que eu diria ao seu amigo é: “Por enquanto, apenas por enquanto. Você tem um futuro. Você tem um Pai que o ama. Mas, sim, você está na fornalha; permita que ela o fortaleça. Aguente firme. Deus está planejando algo — veja como ele o está formando. Valerá a pena.” Como guerreiro, você terá que lutar para se agarrar aos seus sonhos. Como jovem, precisa aprender também a disciplina para não desanimar em meio a situações realmente difíceis. Hoje, sou um escritor bem-sucedido, mas aos vinte anos passei por maus bocados.
  • 35. Deus está nos formando, e transformando, em homens que conseguem lidar com a vida. O dinheiro destrói muitos homens. Nas mãos de pessoas que ainda são crianças por dentro, o dinheiro — e também o poder, a fama e a influência — causa danos enormes. A humanidade é alérgica a Deus. Achamos desagradável buscá-lo, alinhar nossos desejos e nossa maneira de resolver as coisas aos desejos de Deus e sua maneira de resolver as coisas. O agnosticismo nos parece tão natural, esquecê-lo e aceitar as “evidências” de que estamos por conta própria nessa vida. Quando se trata de Deus e de sua maneira de resolver as coisas, somos criaturas pouco entusiasmadas. Assim, ele permite provações, confusão e desespero, na esperança de que isso nos impulsione a buscá-lo. E quando o fazemos, algumas questões são levantadas: nossa descrença, nossa independência, nossa autoconfiança, nosso medo, nosso orgulho. (É melhor tratar dessas questões o quanto antes, são essas coisas que, em algum momento, costumam destruir a vida de um homem.) O cristão se parece com um anfíbio. Vivemos em dois mundos: neste mundo dos homens e do comércio, do nosso tempo e da nossa cultura, mas também no reino de Deus. Muitos cristãos aceitam a noção vaga de que, de alguma forma, Deus esteja operando neste mundo, mas normalmente aceitam o mundo dos homens como sendo o mais real e, por isso, vivem de acordo com as regras e suposições dele. Você precisa resolver esta questão primeiro: eu vivo num universo paralelo? Existe um Reino de Deus do qual eu sou membro e do qual participo? Eu posso contar com sua ajuda? Se sua resposta for “sim”, então aja de acordo — busque-o, aprenda a viver nele. Caso contrário, tudo que lhe resta é: “Aqui está o mundo: ele é instável, injusto e imprevisível. Encontre uma maneira de viver com isso.” O que é muito difícil para a maioria dos homens, mas praticamente impossível para o cristão, pois Deus é ciumento e não lhe ajudará em seus esforços de viver a vida se você não buscar sua proximidade. Observe como seu coração reage a algumas disciplinas fundamentais do dinheiro: não faça dívidas. Viva de acordo com seus recursos. Se você não tiver dinheiro para comprar aquele cappuccino todos os dias, não compre. É o menino que não consegue se controlar e que compra a TV de 60 polegadas com o cartão de crédito — e acaba pagando o dobro de seu preço em juros. Você não quer ser o escravo de outra pessoa, e a dívida o escraviza.
  • 36. Sim, é isso mesmo. Tenho um amigo que esgota o limite de cada cartão de crédito que recebe para comprar roupas e frequentar restaurantes chiques. Chamamos isso de “síndrome de homem rico, homem pobre”, como o povo que ganha um salário mínimo, mas rebaixa sua van em vez de comprar mochilas para seus filhos. Não quero ser um escravo. O menino dentro de mim pode não gostar de ter que esperar, mas o homem em mim sabe: prefiro viver sem dívidas e ficar longe dessa terrível dicotomia entre a corrida de ratos e os minimalistas. E a coisa mais linda de tudo isso é: se rejeitarmos todo esse pesadelo mimético do Mundo, se nos alinharmos com a maneira divina de fazer as coisas, nem o dinheiro nem o medo dominarão nossa vida. Não pensaremos mais no dinheiro como coisa mais importante; estaremos buscando coisas mais nobres. Então, nossas finanças se transformam numa das principais oportunidades de experimentar como Deus se manifesta. E Deus adora se manifestar.
  • 37. CAPÍTULO 3 O LIVRO DO AMOR Ela não disse aquilo, eu apenas achei que ela disse. Então, na verdade, o pensamento, as palavras eram minhas, não dela. Como pude confundir “Eu te amo” com “Posso anotar seu pedido?” Jarod Kintz Chamávamos isso de turkey drop [levar um fora do peru], e, segundo o Urban Dictionary, não éramos os únicos a usar essa expressão. Ela se refere à situação de estudantes que tentam manter seu namoro a longa distância quando entram na faculdade, mas no feriado de Ação de Graças descobrem que a paixão se perdeu, levando um ou o outro a terminar o relacionamento. Por isso, turkey drop. Em algum lugar, li que 95% dos casais a distância não sobrevivem ao primeiro ano de faculdade. Quando entrei na faculdade, eu namorava uma garota havia quase dois anos, e, semelhante a muitos estudantes calouros, meu tempo estava dividido em dois. Por um lado, mergulhei em todos os rituais de iniciação — como churrascos na praia e reuniões. Mas minha atenção nunca estava totalmente lá. Eu me definia por meio de um relacionamento que existia num mundo de SMS e conversas pelo computador, e, enquanto outros calouros almoçavam juntos, eu ficava no meu quarto esperando por uma ligação. Na verdade, eu não possuía uma identidade própria. Eu sabia que queria sair para o mundo, e pouco tempo depois de “levar um fora do peru”, eu me encontrei solteiro e feliz. (Ou melhor, levei mais ou menos um mês para reencontrar minha felicidade.) Foi apenas naquele período após o rompimento que percebi que eu sempre havia ficado com alguma garota desde os 12 anos. O período mais longo que passei sem namorada ou sem correr atrás de uma garota tinha sido um mês. Agora, queria saber como seria ter uma identidade fora de um relacionamento. Eu não queria mais ser
  • 38. “Sam e Christina”, ou “Sam e Liz”, mas apenas “Sam”. No entanto, ser “apenas Sam” não foi tão fácil assim. Tive que me adaptar. No início não me dei conta, mas eu havia aberto a porta para uma tonelada de questões prontas para me atacar. No ano seguinte, comecei a perceber o quanto eu havia me sentido como a ovelha negra da família e o quanto eu permitira que isso definisse minhas ações. Eu comecei a tomar remédios para melhorar meu humor; eu bebia, entrava nos quartos dos meus amigos e deitava em seus sofás para descarregar toda minha frustração. Enquanto isso, eu me apaixonei perdidamente por uma amiga —a garota que ninguém conseguia conquistar — e, quando finalmente lhe confessei meus sentimentos, ela me acrescentou à lista de rejeitados. Ao ouvir — não verbalmente, mas por meio de uma reação clara e da perda de uma amiga — que eu não era bom o bastante, passei o segundo ano da faculdade no exterior e em algum lugar dentro de mim eu decidi que nunca mais não seria “bom o bastante”. Assim, comecei a brincar com as garotas na viagem: como um babaca brinca com garotas. E rapidamente adquiri outra fama: Sam é problema. Eu estaria mentindo se dissesse que não gostei daquilo. Pela primeira vez em muito tempo, eu não estava sendo definido pela garota que namorava, pois não estava ficando com nenhuma garota, e eu não estava sendo definido como perdedor. Eu significava encrenca. “Cuidado com ele, porque ele vai arrebentar seu coração.” Nunca ser considerado “bom o bastante” por garota após garota é tão emasculador; nas regiões íntimas do coração, você acaba acreditando que não é homem o bastante, destinado a ser o “cara legal”, mas nunca o namorado, nunca o amante. Não me surpreende que você tenha decidido romper esse padrão. Não ser mais definido pela garota e, mesmo assim, continuar a ser definido — agora como o cara perigoso. Para ser sincero, isso ainda me lembra muito o menino. Você acha mesmo? Existem muitos meninos aí fora, especialmente no mundo do namoro. Durante a primeira semana de faculdade, o supervisor do nosso dormitório nos disse: “Agora vocês entraram no ‘Vale Dourado da Flor Selvagem’.” Todos esses garotos, que agora se viam nos campos verdes das belezas da faculdade, começaram a namorar feito doidos, pulando de um relacionamento superficial para o próximo. Ou sonhando com isso. Eu tinha um amigo chamado Dale que evitava todas as garotas para se concentrar em seus estudos da Grécia antiga ou em sua coleção de discos de vinil do Velvet Underground. Ele queria um relacionamento e até chegou a se fixar durante um ano inteiro numa paixão por uma loira de sua aula de latim, mas ele nunca teve coragem para tentar conquistá-la. Toda essa atmosfera de amor de faculdade me parecia um reality show dramático com roteiro ruim.
  • 39. Um dos meus colegas de dormitório chegou a se envolver num pesadelo. Todos os seus colegas sabiam que aquilo não daria certo, e nós até lhe dissemos; mas apesar de ser um cara legal, ele nunca conseguiu ser firme o bastante para se afastar. Eles rompiam o namoro o tempo todo, mas ele continuava voltando para esse relacionamento. Ela o havia fisgado, e ele levou anos para se livrar dela. Àquela altura, não se tratava de reconhecer que ela não era saudável para ele — ele sabia que ela não era —, mas ele achava que precisava ser o herói dela e torná-la uma pessoa saudável. Ele não tinha coragem para se afastar, e também não tinha força para reconhecer o fato de que, ficando com ela, nenhum dos dois ficaria bem. Felizmente, meu colega conseguiu sobreviver a essa experiência terrível antes de se afundar demais nesse drama. Não acho que seja apenas o menino agindo. Acho que, no fundo de seus corações, os caras queriam ser homens e assumir o papel de herói, mas eles estragavam tudo. Eram os caras que sabiam que suas namoradas desejavam ser confortadas ou conquistadas, e assim — querendo fazer o que eles sabiam que elas esperavam — diziam às garotas que as amavam ou faziam outras promessas românticas, e o relacionamento ficava íntimo demais. Na maioria das vezes, era a garota errada. Os casos mais afortunados se desfaziam em lágrimas após um ano; outros se transformaram em caso para os tribunais. Outro amigo realmente gostava de uma garota que era alguns anos mais nova do que ele. Ela era descontraída e atraente, e incitou nele o desejo de ser “o herói”. Bem, assim que começaram a namorar, ela começou a agir... diferente. Ela enlouqueceu totalmente após alguns dias, literalmente perseguindo-o e enviando mensagens a cada hora para saber onde ele estava, tentando controlá-lo. Ela parecia ser maravilhosa, mas acabou revelando que tinha muitos problemas ocultos, que se manifestaram assim que ele se aproximou. Finalmente, ele rompeu com ela. Acho que a maioria dos caras quer conhecer a resposta à grande pergunta referente às mulheres: O que, diabos, está acontecendo? Exatamente. É a mesma pergunta que ainda atormenta homens que têm o dobro de sua idade. A resposta é simples e profunda: você é um homem, ela é uma mulher, vocês têm uma história. Vocês são irresistível e inexplicavelmente atraídos uns pelos outros por um campo de força para um mundo estranho que contém os êxtases do Éden e o desespero do inferno. Esse é o bê-á-bá do amor. Não estou tentando ser espertinho; estou falando sobre a verdade nua e crua. Quando o amor é bom, ele é maravilhoso. O mundo inteiro parece brilhar sob a luz de um lindo sol. Quando o amor se torna ruim, a escuridão encobre o resto de sua vida. Ele eclipsa seu coração durante muito tempo.
  • 40. Mas, evidentemente, fomos criados para o amor. Ele é muito mais importante do que dinheiro, do que a carreira, e até mais do que seu chamado. O amor é literalmente a batida do coração do universo. Santiago aprende que era “[...] a linguagem que todos na terra eram capazes de entender em seus corações. Era o amor. Algo mais antigo do que a humanidade, mais velho do que o deserto.”[14] Então, vamos deixar três coisas bem claras desde o início: Primeiro, é claro que você quer namorar. Nada neste planeta é capaz de reduzir um homem a uma tigela de pudim quanto a presença de uma mulher que o atrai. A feminilidade é um remédio poderoso. Vá e tente ler um livro na praia; a distração é muito forte. Não é só a testosterona e o desejo de passar seus genes adiante — isso é apenas outro exemplo de como o Mundo tenta estragar algo lindo com suas “explicações” científicas. Os atrativos femininos são mágicos, meu filho. Nos primórdios da nossa história, em meio a um sono encantado, a mulher foi extraída das nossas costelas, e nós nunca mais nos recuperamos. Procuramos pela deusa perdida durante nossa vida inteira. Você precisa se reconciliar com o seguinte fato: somos assombrados por Eva. Segundo a vontade de Deus. O cara que alega que não está sendo assombrado ou matou sua alma ou tem outras questões que precisa resolver em sua vida. “Não é bom que o homem esteja só”, ou seja, sem mulher — não é bom agora nem jamais foi. Alguns poucos podem ser chamados para viver uma vida no celibato, mas a maioria de nós foi chamada para passar o resto de sua vida com uma mulher. Em segundo lugar: é claro que isso nos deixa confusos. Você tem mais em comum com um porco-da-terra do que com as filhas de Eva. Encontrar uma garota é como receber o Código de Hammurabi com a ordem de decifrá-lo. Na verdade, isso é uma boa notícia — você não é apenas um idiota, o “cara ignorante”. Deus criou Eva como um mistério. Que maravilha! Por mais frustrante que esse mistério possa ser, você não ficará entediado após duas semanas. Justamente quando acha que conseguiu decifrar as mulheres ou uma mulher específica, ela o surpreende com algo completamente novo. O relacionamento com uma mulher sempre nos deixará atentos. Isso é bom e é uma das razões pelas quais o sexo após uma briga pode ser tão selvagem. Quando tudo se torna previsível, o homem começa a olhar para o jardim do vizinho. Agora, ao dizer que ela é um mistério, não estou dizendo que ela esteja
  • 41. “para sempre além da sua compreensão”. De forma alguma. O amor deve observar seu funcionamento. Existe uma razão. Os caras leem manuais sobre motores de motocicletas e comércio on-line, mas nunca leem um artigo sobre o sexo feminino. Não seja um desses tolos. O amor funcionará bem melhor se você aprender algo sobre o coração feminino. Por fim, você não vai querer brincar com isso. Não aqui, não na arena do amor. Não existem exercícios leves aqui, não é um campo de treinamento. Alguém vai se machucar, e essas feridas podem ser devastadoras. Não existe namoro por diversão. Amar uma mulher é como descer uma queda d’água num caiaque — você não vai querer cometer erros. Quando tudo está bem com Eva, o amor é glorioso. Mas existem muitos casais divorciados neste mundo que tropeçam pela vida como vítimas de um acidente terrível e que se perguntam o que deu errado. O amor importa. Corações humanos importam. Com cada ano que nos aproximamos da idade adulta, as apostas se tornam cada vez mais altas. Agora que você já se encontra na Fase do Guerreiro Amante, tenho certeza de que já está sentindo a pressão para não errar no amor. Comecei a sentir essa pressão no último ano de faculdade. Todas as piadas sobre “ faculdade de casamento” e “aliança na primavera” estavam nos atingindo mais do que queríamos admitir. Pode parecer tolo, mas eu conhecia muitos rapazes que ficaram deprimidos porque estavam encerrando seu tempo de faculdade e ainda não tinham namorada. Esse medo se ligava, provavelmente, à suposição tácita de que encontrar alguém, principalmente a garota certa, é bem mais difícil no mundo lá fora. Nem sempre um cara deseja conhecer uma garota num bar, porque isso supostamente revela algo sobre o tipo de garota que ela é, mas nós não estávamos andando em círculos enquanto podíamos encontrar inúmeras garotas “certas” por qualquer motivo. Depois, há o medo do compromisso. Um dos meus amigos mais próximos faz parte do grupo de jovens que está assustado com a geração do divórcio que tantos dos meus colegas têm como pais. Nossos pais — ou os amigos dos nossos pais ou os pais dos nossos amigos — não tiveram que lutar pela sobrevivência numa selva ou durante a invasão de uma praia; tiveram que lutar nos tribunais. Agora, seus filhos não querem nem ouvir falar em casamento. E por que deveriam? O medo os afasta dos relacionamentos tanto quanto um coração partido. E já que estamos falando sobre razões para não se envolver num relacionamento: Um rapaz deve se sentir firme e resolvido antes de ir atrás de uma garota? Seguir uma carreira e conquistar segurança financeira parece lhe fornecer um solo firme, mas quando é que isso acontece? Daqui a dez anos? Vinte? Isso jamais acontecerá?
  • 42. Segundo o centro de pesquisas Pew, a geração do novo milênio se casa mais tarde. [15] Por outro lado, parece-me que casais cristãos estão se casando mais cedo. O que resta são dois grupos de colegas diferentes: um adia o casamento para depois dos trinta anos, o outro se casa no primeiro final de semana após a formatura. Quando sabemos que o amor é real e não apenas uma quedinha? Como nos aproximamos com firmeza de uma mulher — e quando? É como começar tudo de novo, desde o início, quando você conhece alguém. É um processo desgastante descobrir o bastante sobre ela para saber se você deve pedi-la em namoro; é cansativo redefinir como o namoro deveria ser e depois saber até onde levá- lo antes de pular no navio e partir rumo ao pôr do sol — e você espera que este não te leve ao fim do mundo. As apostas parecem ser cada vez mais altas quanto mais velho você for. Tenho um amigo chamado Derek. Ele foi para a América do Sul como professor de inglês após sua formatura. Enquanto estava lá, conheceu uma linda mulher da Nova Zelândia, que também era professora. Eles se apaixonaram rapidamente, mas, como ela já havia se comprometido a iniciar um programa de pós-graduação naquele outono, decidiram não levar o relacionamento adiante, e, quando seus contratos se esgotaram, cada um seguiu seu caminho. Bem, quando Derek voltou para casa, ele sofreu uma crise no sótão da casa do seu irmão e não saiu dali durante meses. Conversei com ele recentemente. Ele finalmente conseguiu se erguer e começou a trabalhar numa fazenda no meio do nada; ele me parecia tão infeliz quanto no dia em que saiu do avião. Agora chegamos à essência da questão. Por isso, devemos fazer um pequeno intervalo; precisamos interromper a conversa, porque tocamos num ponto crítico. Estamos tentando responder perguntas sobre o amor sem resolver antes uma questão mais profunda e bem mais urgente: identidade — saber quem somos, não só como seres humanos, mas como homens. Eva vai colocar você à prova, como você já descobriu. Até você encontrar uma resolução, uma firmeza interior, as tempestades do relacionamento vão ficar jogando você para todos os lados como um barquinho de brinquedo, e talvez afundem seu navio, como aconteceu com seu amigo Derek. Vamos deixar o amor e o romance de lado por um instante e falar um pouco mais sobre por que os homens não se sentem como homens na presença das mulheres.
  • 43. CAPÍTULO 4 MUDANDO O ROTEIRO PELO QUAL VIVEMOS “E o que te interessa se eu for apenas uma garota? Você provavelmente é apenas um garoto; um garoto comum e rude — provavelmente um escravo que roubou o cavalo do seu mestre.” [...] “Por que você não diz logo que você acha que não sou bom o bastante para você?”, respondeu Shasta. C. S. Lewis, O cavalo e seu menino Fui eu quem escolhi a minha faculdade; reconheço que sou o único que pode colher os frutos que semeei ali. E não foram todos bons. Após frequentar o ensino médio numa escola pública, a transição para uma faculdade cristã foi um choque cultural tão grande quanto para a garotada que seguiu o caminho inverso. Eu sabia que queria estudar mais a fundo a minha fé, e o campus era lindo, mas tive grandes dificuldades para me adaptar à nova cultura. Eu me senti como se tivesse sido transportado para o reino de Oz. Apesar de assinar um contrato que me obrigava a respeitar os “padrões comunais” — um belo eufemismo para regras desmancha-prazeres — eu fui pego fumando meu cachimbo no campus. Fui pego várias vezes entrando de fininho no final do culto obrigatório, tentando ganhar presença após dar uma volta pela multidão e sair por outra porta. Escrevi um ensaio exacerbado que deveria elogiar o “feminismo cristão”, mas que focou no problema de obrigar-nos a elogiar um ponto de vista com o qual não concordávamos. (Eu defendi o igualitarismo ou algo parecido.) Recebi nota 8 por me afastar do tema. Dancei. Bebi. Se o dia estava lindo, matava as aulas e ia para a praia. Você não precisa ser muito esperto para saber o que aconteceu; eu me meti em encrenca. Rapidamente conheci a “alavanca” motivacional que aquela faculdade favorecia: a vergonha. A vexação acadêmica era usada por professores e colegas para
  • 44. combater o fraco desempenho — na verdade, para combater qualquer coisa abaixo de um desempenho “exemplar”. Parecia que minha faculdade era um lugar onde se reuniam os melhores alunos do país. O envergonhamento espiritual era aplicado pela comunidade cristã com narizes empinados ou, pior, na forma de uma abordagem sincera do líder espiritual que vinha oferecer “aconselhamento”: “Você acha que isso é coisa que um cristão faria, Sam? É isso o que Jesus faria?” Blá, blá, blá. O engraçado é que eu os condenava por me tratarem de acordo com a forma com que eu me apresentava a eles. Uma expressão que ouvi com frequência durante meu tempo na faculdade era: “Ah Sam, você é um perdedor tão amável.” Eu era charmoso, de forma que as pessoas não ficavam chateadas ou decepcionadas comigo por muito tempo, mas eu sabia disso, e eu sabia também que eles me viam como a piada que eu sentia que era, por isso continuei a me comportar dessa forma. Em todo caso, comecei a me sentir rodeado pela vergonha, pela decepção e pela reprovação. Quando certo número de pessoas lhe diz que você é de tal maneira, você começa a acreditar nelas. Eu escrevia na faculdade, mas apenas durante os últimos três semestres, e, mesmo assim, eu escrevia e coeditava apenas uma página do jornal estudantil — uma página sarcástica, humorística e rebelde. Confesso que adoro ser um rebelde; esse espírito lutador existe em mim por uma boa razão. Mas as aspirações da rebeldia daquela página não eram nobres. Eu escrevia a partir da identidade que tinham me dado, e eu me irritava com ela, o que gerou muitos trabalhos vaidosos e mordazes, dos quais não me orgulho. Quando me formei, tinha certeza de que não teria futuro como escritor, apesar do fato de continuar a sonhar com isso. A identidade é como a rotação da terra — você nunca percebe que ela o arrasta consigo, mas a todos os momentos você está se movimentando a 1.673 quilômetros por hora. É uma força poderosa. Não podemos viver além da forma como nos vemos. Quando o mundo nos entrega um roteiro, quando nos encontramos repetidamente em determinado papel, precisamos de uma força quase sobrenatural para escapar de sua força gravitacional. Esses roteiros nos são dados por muitos círculos — família, “amigos”, um treinador, uma igreja, nossa cultura. Na verdade, nunca me preocupei muito com o resto — com aquilo que a comunidade teria chamado de “agir impulsivamente” ou de “viver a sua fase rebelde”. Eu sabia que era sua forma de lidar com o sufoco religioso, e, francamente, isso é mais saudável do que obedecer todas as regras, permitir que o legalismo imponha suas visões falsas de Deus e da vida cristã. Jesus não era exatamente o maior fã do povo religioso. Mas os efeitos cumulativos da vergonha me doeram no coração,
  • 45. porque eu sabia que, a despeito de sua força, eles desgastariam você. Eles desgastam todos nós. John Watson, o pastor escocês, disse: “Seja gentil, pois cada homem está travando uma batalha difícil.”[16] Essa era a sua — a batalha pelo seu coração. A luta para permanecer leal a Jesus e, ao mesmo tempo, jogar a religião pela janela do segundo andar. A batalha de perseverar em meio à crítica e permanecer fiel a seu desejo de escrever. A luta para se agarrar às verdades mais importantes de sua vida — a verdade de que o coração é e sempre será central, o gerador da energia de vida dentro de nós. “Acima de tudo”, disse o homem mais sábio da história, “guarde o seu coração, pois dele depende toda a sua vida” (Provérbios 4:23). Acho que isso é verdade para a maioria das faculdades, mas a minha realmente priorizava (leia-se: idolatrava) a mente. Eu tinha muitos amigos queridos que encontravam sua autoestima no desempenho acadêmico, o que então se transformou numa pressão para ter um bom desempenho sempre. Foi um turbilhão que levou consigo os melhores e do qual poucos conseguiram escapar. Ninguém lhes dizia que seus corações eram importantes. Ninguém sabia dizer isso. Portanto, você não deve ficar surpreso ao ouvir que, em vez de cultivar um coração vivo, a mente reinava toda poderosa, como devoradora de tudo. Fiquei chocado quando os poderes acima mencionados me nomearam conselheiro estudantil em meu último ano de faculdade. Mas eu tinha um dom de lidar com as pessoas, e senti que podia ajudar os estudantes mais novos a se adaptarem ao sistema depois de tudo que eu havia experimentado. Eu disse aos meus supervisores que, no que dizia respeito aos meus estudantes, seus corações importavam mais para mim do que a observação da lei ao pé da letra. Provavelmente foi desnecessário anunciar isso, mas eu sabia o que era importante. Como contracultura, creio que consegui desenvolver relacionamentos mais profundos com os meus homens do que aqueles conselheiros estudantis que se viam apenas como “executores da lei”. E os corações daqueles jovens precisavam de muita atenção. Um dos rapazes era muito passional — amava a igreja que ele frequentava, amava as pessoas à sua volta e se empenhava com tudo naquele mundo. O fato triste é que, em seus relacionamentos, ele sempre se metia em situações difíceis. Em algum lugar dentro dele existia muita raiva e um disco arranhado que repetia em sua cabeça algo como “você não vale muito”, o que acabou afetando a forma como ele se relacionava com as pessoas e investia seu tempo. Isso destruiu muitas amizades e queimou muitas pontes. Infelizmente. Outro rapaz era a atração das festas, era muito divertido estar com ele, porque ele possuía uma sensibilidade social que transformava tudo que fazia em algo muito legal.
  • 46. Certa vez, saímos para tomar café, e ele compartilhou comigo a dor e a tristeza que viviam dentro nele, como a família havia sido destruída pela morte de seu irmão, como ele achava que ninguém o conhecia de verdade nem se importava em perguntar. Sua fachada de alegria e descontração era seu mecanismo para lidar com sua crença verdadeira num mundo horrível repleto de tristeza. E daí se eles tinham ótimas notas? Suas vidas eram trágicas. É simplesmente impossível negligenciar o coração e sair ileso. A mente é um instrumento lindo, que devemos desenvolver durante toda a vida e não só durante os anos de faculdade. Mas Deus nos deu a mente para proteger o coração, não para traí-lo. Como disse Walker Percy: “Você pode tirar nota 10 em tudo e mesmo assim estragar sua vida.”[17] Por isso, sugiro que reflitamos sobre a identidade e o coração por um momento. Todos os homens, jovens ou velhos, têm dentro de si um desejo ardente de validação. Esse desejo não será negado. Buscamos legitimação em todos os lugares, e aprendemos rapidamente o que o mundo recompensa, o que ele condena, com o que ele não se importa. Assim, os atletas buscam sua validação na rapidez, na força e na vitória, enquanto os estudantes se dedicam a redações, exames e notas altas. O “líder espiritual” se alimenta dos elogios que recebe, e dedica sua alma e seu coração àquela dança, enquanto os garotos “maneiros” andam descalços e não cortam o cabelo. Todos estamos procurando a mesma coisa. Quando um jovem não sabe quem ele é e do que é feito, resistir àqueles “roteiros” é tão inútil quanto resistir à gravitação. “Vejamos — preciso lavar a roupa, sair de carro e — ah é, acho que vou voar um pouco mais tarde.” A despeito do meu amor pelo teatro, eu desisti dele completamente e aceitei um emprego no mundo das grandes corporações aos vinte e poucos anos, principalmente porque achava que não conseguiria chegar ao nível do teatro profissional. Eu era bom, mas será que eu era bom o bastante? Eu ansiava ser reconhecido pelos homens mais velhos da empresa para a qual trabalhava, e quanto mais recompensavam minhas conquistas, mais eu me entregava ao carrossel do mundo corporativo. Camisas da Brooks Brothers, pastas da Tumi, o pacote inteiro. Não que haja algo de errado em querer uma vida nesse mundo, contanto que esse seja o seu chamado. No meu caso, minha vida se apoiava completamente numa autoimagem falsa — eu estava
  • 47. simplesmente vivendo por algo que os outros aprovavam, faminto pela validação masculina. Mas essa autoimagem falsa — mesmo quando ela é construída sobre algum dom genuíno — nunca resolverá a questão em seu íntimo. A coisa horrível de correr atrás de validação por meio de dinheiro, trabalho ou mulheres é que você nunca pode diminuir seus esforços; você precisa continuar batalhando para não cair da escada. Mas aqui está você — assumindo um risco enorme ao voltar a escrever para que o mundo inteiro o veja. Como você explica isso? Eu me sinto como se ainda estivesse no meio do processo. Quando me formei, eu estava perdido. Evidentemente, muitos estudantes se sentem perdidos após a formatura, mas eu realmente não fazia ideia de para onde ir. Não me sentia confiante como escritor, apesar de ter sido essa a meta que eu havia perseguido durante quatro anos. Por isso, pedi a alguns amigos que me ajudassem a orar por orientação. Tudo indicava que as coisas não seriam tão simples assim. Após meses de estancamento espiritual, vi apenas duas possibilidades: Deus simplesmente não vai me revelar “o plano” ou Deus quer que eu faça outra pergunta. Optando pelo caminho otimista — que Deus realmente fala e não me abandonou — meus amigos perguntaram a Deus sobre o que ele estava querendo falar em relação à minha vida. Dessa vez, ele respondeu imediatamente: identidade. Meus amigos sentiram, corretamente, que Deus estava querendo rever o modo como via a mim mesmo. Após vencer a decepção de que Deus não me ofereceria um mapa para os próximos anos da minha vida, perguntei para onde isso estava indo. A resposta dos meus amigos: “Bem, como é que você vê a si mesmo, Sam?” “Isso é fácil”, pensei. “Eu sou um perdedor, uma ovelha negra, um marginalizado. No melhor dos casos, sou o Dharma Bum de Jack Kerouac — um andarilho que não consegue encontrar seu lugar no mundo, à procura de respostas, um homem irresponsável e malcompreendido, que não tem para onde ir nem nada a conquistar.” Hoje, isso parece patético. Mas eu acreditava naquilo e estava pensando em pegar minha mochila e viajar pela Europa durante alguns anos vivendo uma aventura sem rumo — como Dharma Bum. Perdido, mas cool. Eu estava vivendo a identidade que recebera na faculdade. “OK, entendi. E agora?” perguntei. Oramos e perguntamos a Deus o que ele achava de mim, e um dos meus amigos arregalou os olhos e começou a falar sobre O cavalo e seu menino, de C.S. Lewis. “Este é você! Você é Shasta!” Levei um tempinho para entender o que ele estava insinuando. Naquela história maravilhosa, o protagonista é um garoto chamado Shasta. Ele fugiu do pescador cruel que o criou, e em algum momento de sua viagem, Shasta — juntamente com seu cavalo falante — cruza o