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CULTOS AFROBRASILEIROS
O culto afro-brasileiro acompanha, sob as várias formas que suas diferentes origens determinaram, quase
toda a história do Brasil. Com a proibição de práticas religiosas pelos senhores e o conseqüente
sincretismo dos deuses dos escravos com os santos católicos, cresceu a complexidade do fenômeno.
O I Congresso Afro-Brasileiro, realizado em Recife em 1934 por iniciativa de Gilberto Freire, permitiu um
primeiro levantamento sistematizado da influência negra no Brasil. Em vista das origens diversas dos
escravos e do sincretismo entre os próprios grupos negros que aqui se formaram, sempre foi tarefa muito
complexa uma geografia e uma sociografia dos cultos afro-brasileiros. Esse problema cresceu ainda mais
com a disseminação desses cultos nos grandes centros urbanos, o que propiciou o aparecimento de novas
formas de sincretismo, também com o espiritismo kardecista.
Em 1941 realizou-se no Rio de Janeiro o I Congresso de Espiritismo de Umbanda. A partir de 1950,
acelerou-se o crescimento do número de adeptos e de terreiros dos cultos afro-brasileiros. A Congregação
Espírita Umbandista do Brasil (1950), a União Nacional de Cultos Afro-Brasileiros (1952) e outras
instituições nacionais e regionais coordenam e defendem os interesses de seus fiéis. Inicialmente restritos
aos escravos e seus descendentes, os cultos afro-brasileiros, especialmente a umbanda, ganharam
adeptos da classe média urbana.
O candomblé das diversas "nações" africanas é a religião afro-brasileira que mais fielmente preserva as
tradições dos antepassados e a menos permeável às transformações sincréticas, embora cultue
secundariamente entidades assimiladas, como os caboclos e os pretos velhos. Predomina na Bahia e tem
muitos seguidores no Rio de Janeiro. A umbanda é francamente sincrética com o cristianismo e o
espiritismo kardecista. Os subúrbios do Rio de Janeiro possuem grande quantidade de terreiros ou
barracões de umbanda. O culto afro-brasileiro toma o nome de pajelança na Amazônia, babacuê no Pará,
tambor-de-mina no Maranhão, xangô em Alagoas, Pernambuco e Paraíba e batuque no Rio Grande do
Sul.
Candomblé. Paradigma dos cultos de origem africana em todo o país, o ritual do candomblé pode ser
considerado, do ponto de vista musical, um oratório dançado. Cada entidade -- orixá, exu ou erê -- tem
suas cantigas e suas danças específicas. O canto é puxado, em solo, pelo pai ou mãe-de-santo e é
seguido por um coro em uníssono, formado pelos filhos-de-santo. Nas melodias mais antigas a escala é
pentatônica. Não há funções tonais nem cadenciais, acordes dissonantes ou artificiais. Da cerimônia
participam três instrumentos básicos: os atabaques, o agogô e o piano-de-cuia (aguê); a estes se
acrescentam um adjá (no candomblé das nações do grupo jeje-nagô) e um caxixi (nos ritos do grupo
angola-congo).
Tal como se encontra na Bahia, esse candomblé, que pode ser considerado mais ou menos ortodoxo, na
realidade já se apresenta como um resumo de várias religiões trazidas pelos negros da África e incorpora
ainda elementos ameríndios, do catolicismo popular e do espiritismo.
Xangô. Ainda que com características próprias, o xangô é a versão local, em Pernambuco, Paraíba e
Alagoas, do candomblé baiano. Xangô é também a denominação, em língua africana, do orixá jeje-nagô
das tempestades, raios e trovões, cultuados em vários estados do Brasil. O ritmo do xangô é fortemente
marcado por instrumentos percussivos. A dança se caracteriza pelo aspecto guerreiro, com os braços em
ângulo reto e as mãos viradas para cima.
Tambor-de-mina. Manifestação própria do Maranhão, cuja procedência é o ritual angola-congo do
candomblé, mesclado a outras sobrevivências litúrgicas, o tambor-de-mina ou tambor-de-crioulo
caracteriza-se por uma série de cantos acompanhados por três tambores, uma cabaça e um triângulo de
ferro.
Candomblé-de-caboclo. Manifestação própria da cidade de Salvador e municípios vizinhos, na Bahia, o
candomblé-de-caboclo é uma espécie de candomblé nacionalizado, que toma por base a ortodoxia do
candomblé jeje-nagô. Trata-se de exemplo nítido do sincretismo religioso popular no Brasil. Registram-se
nele influências indígenas e mestiças, resumindo-se os hinos especiais de cada encantado ou caboclo,
cantados em português, a uma declaração de seus poderes sobrenaturais.
Babaçuê. Versão local, em Belém PA, do rito jeje-nagô do candomblé baiano, o babaçuê se assemelha
em muitos pontos ao candomblé-de-caboclo. Canta-se e dança-se ao ritmo de três abadãs (tambores), um
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xequeré (cabaça) e um xeque (chocalho de folha-de-flandres). Os hinos denominam-se doutrinas e podem
ser cantados em língua africana ou em português, segundo os espíritos com que se relacionam. Uma
variedade desse rito, o batuque, tem suplantado o babaçuê nos dias atuais.
Umbanda. Religião sincrética própria do estado do Rio de Janeiro, a umbanda é praticada em terreiros
encabeçados por um pai ou mãe-de-santo, que preside às cerimônias, auxiliado por um cambono (acólito).
Os cânticos denominam-se pontos e, como no candomblé, têm a função de chamar o santo, que se
incorpora nos filhos-de-santo, ou cavalos. Correspondentes às nações do candomblé, as linhas de
umbanda são diversas: linha do Congo, linha do Cabinda, linha da Costa. Como no candomblé, os orixás
se comunicam diretamente com as pessoas em poucas oportunidades; preferem fazê-lo por intermédio de
entidades intermediárias, os pretos velhos.
Pajelança. No caso da pajelança (Amazonas, Pará, Piauí, Maranhão), o elemento gerador é genuinamente
ameríndio. As curas são levadas a efeito pelos pajés, verdadeiros xamãs indígenas. O instrumento básico
de pajelança é o maracá, instrumento sagrado do pajé. As cerimônias acompanham-se sempre de cantos
e danças para divertir os espíritos. Os cantos são melodias folclóricas conhecidas; as danças, exercícios
mímicos, com rugidos e uivos imitativos dos animais invocados. Há inúmeras diferenças rituais entre uma
pajelança e outra, sendo mais característica entre as rurais a pureza dos traços ameríndios, enquanto nas
urbanas se registra uma mescla de elementos afróides, do catimbó, do espiritismo e do baixo catolicismo.
Uma versão da pajelança amazônica é a encanteria ou encantaria piauiense, fortemente aculturada com o
catolicismo popular. Na encantaria, os crentes repetem várias vezes certa quadra rogatória de purificação,
após o que o pai-de-santo dança em volta da guna (forquilha central da sala), no centro de um círculo
formado por todos os dançantes, que giram sobre si mesmos da direita para a esquerda, em torno do
mestre, que entoa cantos (aié) para que algum moço (espírito) se aposse de seu aparelho (filho ou filha-
de-santo) e cante sua doutrina, dançando em transe.
Catimbó. A origem do catimbó, cuja prática pode ser encontrada em todo o Nordeste, parece ser a magia
branca européia, chegada via Portugal, aculturada com elementos negros, ameríndios, do espiritismo e do
baixo catolicismo. Nele se registram cantos de linhas, mas sem nenhum instrumento musical nem bailado
votivo.
Outros Sites
 As Raizes da Umbanda: http://www.nwm.com.br/umbanda/
 Casa de Obaluaie: http://pessoal.mandic.com.br/~hbatista/
 SARAVA UMBANDA: http://www.geocities.com/Athens/Acropolis/9175/banda.htm
 Ile Axe Opo Afonja: http://www.geocities.com/Athens/Acropolis/1322/index.html
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Algumas considerações
A palavra candomblé é sinônimo de religião africana. Sempre foi e é usada ainda neste sentido. Isto
explica muitas coisas. Vejamos. O negro foi arrancado de sua terra e vendido como uma mercadoria,
escravizado. Aqui ele chegou escravo, objeto; de sua terra ele partiu livre, homem. Na viagem, no tráfico,
ele perdeu personalidade, representatividade, mas sua cultura, sua história, suas paisagens, suas
vivências vieram com ele. Estas sementes, estes conhecimentos encontraram um solo, uma terra parecida
com a África, embora estranhamente povoada. O medo se impunha, mas a fé, a crença - o que se sabia -
exigia ser expresso. Surgiram os cultos (onilé - confundidos mais tarde com o culto do Caboclo, uma das
primeiras versões do sincretismo), surgiu a raiva e a necessidade de ser livre. Apareceram os feitiços
(ebós), os quilombos.
Os trezentos anos da história da escravidão do negro no Brasil, atestam acima de tudo, a resistência, a
organização dos negros. A cultura africana sobreviveu para o negro através de sua crença, de sua religião.
O que se acredita, se deseja, é mais forte do que o que se vive, sempre que há uma situação limite. A
religião, sua organização em terreiros (roças), foi como muito já se escreveu, a resistência negra. Resistiu-
se por haver organização. A organização consigo mesmo. Cada negro tinha, ou sabia que seu avô teve,
um farol, um guia, um orixá protetor.
No meio dos objetos traficados (os escravos) haviam jóias raras: Babalorixás e Iyalorixás. Estes
sacerdotes, inteiros nas suas crenças, criaram a África no Brasil. Esta mágica, esta organização
reestruturante só é possível de ser entendida se pensarmos no que é a iniciação , todo processo que
implica e estabelece. A cana de açúcar do Senhor de Engenho era plantada por Iaôs recém saídos das
camarinhas, dos roncós.
A força se espalhou, o axé cresceu e apareceu na sociedade sob a forma dos terreiros de candomblé
(religião de negros yorubá como é definido no Dicionário de Aurélio Buarque). Era coisa de negros,
portanto escusa, ignorante, desprezível e rapidamente traduzida como coisa ruim, coisa do diabo, bem e
mal, certo e errado, branco e preto. Antagonismos opressores, sem possibilidades alternativas. O negro
resolveu tentar agir como se fora branco, para ser aceito. Ele dizia:
- Meu Senhor, a gente tá tocando para Senhor do Bomfim, seu Santo, nhô! Não é para Oxalá, quer dizer,
Oxalá é o Pai Nosso, é o mesmo que Senhor do Bomfim. Sincretismo. Forma de resistência que criou
grande onus, severas cicatrizes desfiguradoras. O processo social, a dinâmica é implacável. A imobilidade
não se mantém. O filho do africano já dizia que não confiava em negro brasileiro (o sìgìdì, por exemplo, um
encantamento de invisibilidade e criação de elemental, não foi ensinado). Muito se perdeu, a terra africana
reduziu-se a pequenos torrões, o candomblé era eficaz; o Senhor procurava a negra velha para fazer um
feitiço, para que lhe desse um banho de folha, lhe desse um patuá.
Proliferação de terreiros. Massificação, turismo, folclore.
Mas os grandes iniciados, iguais àqueles criadores da terra africana no Brasil, ainda existem. Odé Kayode
- Mãe Stella de Oxossi , em 1983, dizia: "Iansã não é Santa Bárbara", e explicava. Mostrou que candomblé
não era uma seita, era uma religião independente do catolicismo. A terra tremeu; algumas pessoas
falavam: "- sempre fomos à missa, sempre a última benção, depois da iniciação, era na Igreja, fazemos
missa de corpo presente quando alguém morre, não pode mudar isso". Era a tradição alienada versus a
revolução coerente, era a quebra do último grilhão. A represa foi quebrada e as águas fertilizaram os
campos quase estéreis da sobrevivência. O negro é livre. Veio da África, tem uma história, tem uma
religião igual à qualquer outra e ainda, não é politeista, é monoteista: acima de todos os Orixás está
Olorum. Nina Rodrigues conta que uma vez perguntou a um Babalorixá porque ele não recebia Olorum, já
que este existia. Ouvindo a seguinte resposta: "- Meu Doutor, se eu recebesse, eu explodia".
Agora um novo limite, uma nova configuração se instala. Neste fim de século com a corrosão das
instituições religiosas tradicionais, com o surgimento de novas religiões, com as doutrinas esotéricas
alternativas, o candomblé, agora considerado religião, é visto também como uma agência eficiente: resolve
problemas, cura doenças, acalma as cabeças. Os brancos querem ser negros, já não se ouve "o negro de
alma branca", agora o privilégio é ser um branco de alma negra, ter ancestralidade, "ter enredo, história
com o Santo". Mais do que nunca as Iyalorixás e Babalorixás se questionam. As armadilhas, os "caça-
fugitivos" estão instalados. São os congressos, a TV - é a mídia - os livros, a 'web', em certo sentido. Tudo
isto é transformado, por nós, em pinças para separar o joio do trigo, porisso estamos aqui. Dizendo o que
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somos, damos condição para que se perceba o que está posto e se entenda o suposto, o oposto e o
aposto. Diferenciação é conhecimento, candomblé é religião, não é seita.
As Iyalorixás organizam as cabeças. O processo de organização do ori é awo (segredo). O candomblé é
uma religião que trabalha com o segredo, o lado mudo do ser, o que a Olorum pertence. O candomblé
organiza o fragmentado, abrindo canais de expressão para o ser humano.
Hoje, quando se fala em "candomblé", o que se tem em mente é um tipo específico de religião formada na
Bahia, denominado candomblé "queto" ou "Ketu", que atualmente pode ser encontrado em praticamente
todo o País. Mas o termo candomblé designa muitas variedades religiosas, como veremos adiante.
O Candomblé: Suas Nações E Variantes
• NAÇÃO KETÚ
• NAÇÃO ANGOLA
• NAÇÃO JEJÊ
• HISTÓRICO
O candomblé e demais religiões afro-brasileiras tradicionais formaram-se em diferentes áreas do Brasil
com diferentes ritos e nomes locais derivados de tradições africanas diversas: candomblé na Bahia, xangô
em Pernambuco e Alagoas, tambor de mina no Maranhão e Pará, batuque no Rio Grande do Sul e
macumba no Rio de Janeiro.
A organização das religiões negras no Brasil deu-se bastante recentemente, no curso do século XIX. Uma
vez que as últimas levas de africanos trazidos para o Novo Mundo durante o período final da escravidão
(últimas décadas do século XIX) foram fixadas sobretudo nas cidades e em ocupações urbanas, os
africanos desse período puderam viver no Brasil em maior contato uns com os outros, físico e socialmente,
com maior mobilidade e, de certo modo, liberdade de movimentos, num processo de interação que não
conheceram antes. Este fato propiciou condições sociais favoráveis para a sobrevivência de algumas
religiões africanas, com a formação de grupos de culto organizados.
Até o final do século passado, tais religiões estavam consolidadas, mas continuavam a ser religiões étnicas
dos grupos negros descendentes dos escravos. No início deste século, no Rio de janeiro, o contato do
candomblé com o espiritismo kardecista trazido da França no final do século propiciou o surgimento de
uma outra religião afro-brasileira: a umbanda, que tem sido reiteradamente identificada como sendo a
religião brasileira por excelência, pois, nascida no Brasil, ela resulta do encontro de tradições africanas,
espíritas e católicas.
Desde o início as religiões afro-brasileiras formaram-se em sincretismo com o catolicismo, e em grau
menor com religiões indígenas. O culto católico aos santos, numa dimensão popular politeísta, ajustou-se
como uma luva ao culto dos panteões africanos. A partir de 1930, a umbanda espraiou-se por todas a
regiões do País, sem limites de classe, raça, cor, de modo que todo o País passou a conhecer, pelo menos
de nome, divindades como Iemanjá, Ogum, Oxalá etc.
O candomblé, que até 20 ou 30 anos atrás era religião confinada sobretudo na Bahia e Pernambuco e
outros locais em que se formara, caracterizando-se ainda uma religião exclusiva dos grupos negros
descendentes de escravos, começou a mudar nos anos 60 e a partir de então a se espalhar por todos os
lugares, como acontecera antes com a umbanda, oferecendo-se então como religião também voltada para
segmentos da população de origem não-africana. Assim o candomblé deixou de ser uma religião exclusiva
do segmento negro, passando a ser uma religião para todos. Neste período a umbanda já começara a se
propagar também para fora do Brasil.
Durante os anos 1960, com a larga migração do Nordeste em busca das grandes cidades industrializadas
no Sudeste, o candomblé começou a penetrar o bem estabelecido território da umbanda, e velhos
umbandistas começaram e se iniciar no candomblé, muitos deles abandonando os ritos da umbanda para
se estabelecer como pais e mães-de-santo das modalidades mais tradicionais de culto aos orixás. Neste
movimento, a umbanda é remetida de novo ao candomblé, sua velha e "verdadeira" raiz original,
considerada pelos novos seguidores como sendo mais misteriosa, mais forte, mais poderosa que sua
moderna e embranquecida descendente, a umbanda.
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Nesse período da história brasileira, as velhas tradições até então preservadas na Bahia e outros pontos
do País encontraram excelentes condições econômicas para se reproduzirem e se multiplicarem mais ao
sul; o alto custo dos ritos deixou de ser um constrangimento que as pudesse conter. E mais, nesse
período, importantes movimentos de classe média buscavam por aquilo que poderia ser tomado como as
raízes originais da cultura brasileira. Intelectuais, poetas, estudantes, escritores e artistas participaram
desta empreitada, que tantas vezes foi bater à porta das velhas casas de candomblé da Bahia. Ir a
Salvador para se ter o destino lido nos búzios pelas mães-de-santo tornou-se um must para muitos, uma
necessidade que preenchia o vazio aberto por um estilo de vida moderno e secularizado tão enfaticamente
constituído com as mudanças sociais que demarcavam o jeito de viver nas cidades industrializadas do
Sudeste, estilo de vida já, quem sabe?, eivado de tantas desilusões.
O candomblé encontrou condições sociais, econômicas e culturais muito favoráveis para o seu
renascimento num novo território, em que a presença de instituições de origem negra até então pouco
contavam. Nos novos terreiros de orixás que foram se criando então, entretanto, podiam ser encontrados
pobres de todas as origens étnicas e raciais. Eles se interessaram pelo candomblé. E os terreiros
cresceram às centenas.
O termo candomblé designe vários ritos com diferentes ênfases culturais, aos quais os seguidores dão o
nome de "nações" (Lima, 1984). Basicamente, as culturas africanas que foram as principais fontes culturais
para as atuais "nações" de candomblé vieram da área cultural banto (onde hoje estão os países da Angola,
Congo, Gabão, Zaire e Moçambique) e da região sudanesa do Golfo da Guiné, que contribuiu com os
iorubás e os ewê-fons, circunscritos principalmente aos atuais território da Nigéria e Benin. Mas estas
origens na verdade se interpenetram tanto no Brasil como na origem africana.
Na chamada "nação" queto, na Bahia, predominam os orixás e ritos de iniciação de origem iorubá. Quando
se fala em candomblé, geralmente a referência é o candomblé queto e seus antigos terreiros são os mais
conhecidos: a Casa Branca do Engenho Velho e duas casas derivadas da Casa Branca, o Axé Opô Afonjá
e o Gantois; além do candomblé do Alaketo. O candomblé queto tem tido grande influência sobre outras
"nações", que têm incorporado muitas de suas prática rituais. Sua língua ritual deriva do iorubá, mas o
significado das palavras e a sintaxe em grande parte se perderam através do tempo. Além do queto, as
seguintes "nações" também são do tronco iorubá (ou nagô, como os povos iorubanos são também
denominados): efã e ijexá na Bahia, nagô ou eba em Pernambuco, oió-ijexá ou batuque de nação no Rio
Grande do Sul, mina-nagô no Maranhão, e a quase extinta "nação" xambá de Alagoas e Pernambuco.
Mais recentemente, quando o candomblé (de origem baiana, nação queto) já se encontrava espalhado por
todos os grandes centros urbanos, tendo já, inclusive, iniciado sua propagação por países do Cone Sul e
também da Europa, iniciou-se um movimento de recuperação de raízes africanas conhecido como
"africanização", que rejeita o sincretismo católico, procura reaprender o iorubá como língua original e tenta
reintroduzir ritos que se perderam ao longo do tempo e redescobrir os mitos esquecidos dos orixás.
A "nação" angola, de origem banto, adotou o panteão dos orixás iorubás (embora os chame pelos nomes
de seus esquecidos inquices, divindades bantos, assim como incorporou muitas das práticas iniciáticas da
nação queto. Sua linguagem ritual, também intraduzível, originou-se predominantemente das línguas
quimbundo e quicongo. Nesta "nação", tem fundamental importância o culto dos caboclos, que são
espíritos de índios, considerados pelos antigos africanos como sendo os verdadeiros ancestrais brasileiros,
portanto os que são dignos de culto no novo território a que foram confinados pela escravidão. O
candomblé de caboclo é uma modalidade da nação angola, centrado no culto exclusivo dos antepassados
indígenas. Foram provavelmente o candomblé angola e o de caboclo que deram origem à umbanda. Há
outras nações menores de origem banto, como a congo e a cambinda, hoje quase inteiramente absorvidas
pela nação angola.
A nação jeje-mahin, do estado da Bahia, e a jeje-mina, do Maranhão, derivaram suas tradições
e língua ritual do ewê-fon, ou jejes, como já eram chamados pelos nagôs, e suas divindades
centrais são os voduns.As tradições rituais jejes As tradições rituais jejes foram muito
importantes na formação dos candomblés com predominância iorubá.
• ORIGEM DA PALAVRA JEJÊ
• ORIGEM DA PALAVRA DAOMÉ
• DIALETOS FALADOS
• OS PRIMEIROS NO BRASIL
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• VODUNS
• FUNDADORES
• OGANS
• MINA JEJÊ
• CURIOSIDADES
A palavra JEJE vem do yorubá adjeje que significa estrangeiro, forasteiro. Portanto, não existe e nunca
existiu nenhuma nação Jeje, em termos políticos. O que é chamado de nação Jeje é o candomblé formado
pelos povos fons vindo da região de Dahomé e pelos povos mahins. Jeje era o nome dado de forma
perjurativa pelos yorubás para as pessoas que habitavam o leste, porque os mahins eram uma tribo do
lado leste e Saluvá ou Savalu eram povos do lado sul. O termo Saluvá ou Savalu, na verdade, vem de
"Savê" que era o lugar onde se cultuava Nanã. Nanã, uma das origens das quais seria Bariba, uma antiga
dinastia originária de um filho de Oduduá, que é o fundador de Savê (tendo neste caso a ver com os povos
fons). O Abomei ficava no oeste, enquanto Axantis era a tribo do norte. Todas essas tribos eram de povos
Jeje.
A palavra DAHOMÉ, tem dois significados: Um está relacionado com um certo Rei Ramilé que se
transformava em serpente e morreu na terra de Dan. Daí ficou "Dan Imé" ou "Dahomé", ou seja, aquele
que morreu na Terra da Serpente. Segundo as pesquisas, o trono desse rei era sustentado por serpentes
de cobre cujas cabeças formavam os pés que iam até a terra. Esse seria um dos significados encontrados:
Dan = “serpente sagrada” e Homé = “a terra de Dan”, ou seja, Dahomé = “a terra da serpente sagrada”.
Acredita-se ainda que o culto à Dan é oriundo do antigo Egito. Ali começou o verdadeiro culto à serpente,
onde os Faraós usavam seus anéis e coroas com figuras de cobra. Encontramos também Cleópatra com a
figura da cobra confeccionada em platina, prata, ouro e muitos outros adornos femininos. Então, posso
dizer que este culto veio descendo do Egito até Dahomé.
Os povos Jejes se enumeravam em muitas tribos e idiomas, como: Axantis, Gans, Agonis, Popós, Crus,
etc. Portanto, teríamos dezenas de idiomas para uma tribo só, ou seja, todas eram Jeje, o que foge
evidentemente às leis da lingüística - muitas tribos falando diversos idiomas, dialetos e cultuando os
mesmos Voduns. As diferenças vinham, por exemplo, dos Minas - Gans ou Agonis, Popós que falavam a
língua das Tobosses, que a meu ver, existe uma grande confusão com essa língua.
Os primeiros negros Jeje chegados ao Brasil entraram por São Luís do Maranhão e de São Luís desceram
para Salvador, Bahia e de lá para Cachoeira de São Félix. Também ali, há uma grande concentração de
povos Jeje. Além de São Luís (Maranhão), Salvador e Cachoeira de São Félix (Bahia), o Amazonas e bem
mais tarde o Rio de Janeiro, foram lugares aonde encontram-se evidências desta cultura.
Muitos Voduns Jeje são originários de Ajudá. Porém, o culto desses voduns só cresceram no antigo
Dahomé. Muitos desses Voduns não se fundiram com os orixás nagos e desapareceram totalmente. O
culto da serpente Dãng-bi é um exemplo, pois ele nasceu em Ajudá, foi para o Dahomé, atravessou o
Atlântico e foi até as Antilhas.
Quanto a classificação dos Voduns Jeje, por exemplo, no Jeje Mahin tem-se a classificação do povo da
terra, ou os voduns Caviunos, que seriam os voduns Azanssu, Nanã e Becém. Temos, também, o vodun
chamado Ayzain que vem da nata da terra. Este é um vodun que nasce em cima da terra. É o vodun
protetor da Azan, onde Azan quer dizer "esteira", em Jeje. Achamos em outro dialeto Jeje, o dialeto Gans-
Crus, também o termo Zenin ou Azeni ou Zani e ainda o Zoklé. Ainda sobre os voduns da terra
encontramos Loko. Ele apesar de estar ligado também aos astros e a família de Heviosso, também está na
família Caviuno, porque Loko é árvore sagrada; é a gameleira branca, que é uma árvore muito importante
na nação Jeje. Seus filhos são chamados de Lokoses. Ague, Azaká é também um vodun Caviuno. A
família Heviosso é encabeçada por Badë, Acorumbé, também filho de Sogbô, chamado de Runhó. Mawu-
Lissá seria o orixá Oxalá dos yorubás. Sogbô também tem particularidade com o Orixá em Yorubá, Xangô,
e ainda com o filho mais velho do Deus do trovão que seria Averekete, que é filho de Ague e irmão de
Anaite. Anaite seria uma outra família que viria da família de Aziri, pois são as Aziris ou Tobosses que
viriam a ser as Yabás dos Yorubás, achamos assim Aziritobosse. Estou falando do Jeje de um modo geral,
não especificamente do Mahin, mas das famílias que englobam o Mahin e também outras famílias Jeje.
Como relatei, Jeje era um apelido dado pelos yorubás. Na verdade, esta família, ou seja, nós que
pertencemos a esta nação deveríamos ser classificados de povo Ewe, que seria o mais certo. Ewe-Fon
seria a nossa verdadeira denominação. Nós seríamos povos Ewe ou povos Fons. Então, se fôssemos
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pensar em alguma possibilidade de mudança, nós iríamos nos chamar, ao invés de nação Jeje, de nação
Ewe-Fon. Somente assim estaríamos fazendo jus ao que é encontrado em solo africano. Jeje é então um
apelido, mas assim ficamos para todas as nossas gerações classificados como povo Jeje, em respeito aos
nossos antepassados.
Continuando com algumas nomenclaturas da palavra Ewe-Fon, por exemplo, a casa de candomblé da
nação Jeje chama-se Kwe = "casa". A casa matricial em Cachoeira de São Félix chama-se Kwe Ceja
Undé. Toda casa Jeje tem que ser situada afastada das ruas, dentro de florestas, onde exista espaço com
árvores sagradas e rios. Depende das matas, das cachoeiras e depende de animais, porque o Jeje
também tem a ver com os animais. Existem até cultos com os animais tais como, o leopardo, crocodilo,
pantera, gavião e elefante que são identificados com os voduns. Então, este espaço sagrado, este grande
sítio, esta grande fazenda onde fica o Kwe chama-se Runpame, que quer dizer "fazenda" na língua Ewe-
Fon. Sendo assim, a casa chama-se Kwe e o local onde fica situado o candomblé, Runpame. No
Maranhão predomina o culto às divindades como Azoanador e Tobosses e vários Voduns onde a
"sacerdotisa" é chamada Noche e o cargo masculino, Toivoduno.
Voltando a falar sobre "Kwe Ceja Undé", esta casa como é chamada em Cachoeira de São Félix de "Roça
de Baixo" foi fundada por escravos como Manoel Ventura, Tixerem, Zé do Brechó e Ludovina Pessoa.
Ludovina Pessoa era esposa de Manoel Ventura, que no caso africano é o dono da terra. Eles eram donos
do sítio e foram os fundadores da Kwe Ceja Undé. Essa Kwe ainda seria chamada de Pozerren, que vem
de Kipó, "pantera".
Darei um pequeno relatório dos criadores do Pozerren Tixarene que seria o primeiro Pejigan da roça; e
Ludovina, pessoa que seria a primeira Gaiacú.
A roça de cima que também é em Cachoeira é oriunda do Jeje Dahomé, ou seja, uma outra forma de Jeje.
Estou falando do Mahin, que era comandada por Sinhá Romana que vinha a ser "Irmã de santo" de
Ludovina Pessoa (esta última mais tarde assumiria o cargo de Gaiacú na Kwe de Boa Ventura). Mas, pela
ordem temos Manoel Ventura, que seria o fundador, depois viria Sinhá Pararase, Sinhá Balle e atualmente
Gamo Loko-se. O Kwe Ceja Undé encontra-se em controvérsia, ou seja, Gamo Loko-se é escolhida por
Sinhá Pararase para ser a verdadeira herdeira do trono e Gaiacú Agué-se, que seria Elisa Gonçalves de
Souza, vem a ser a dona da terra atualmente. Ela pertence a família Gonçalves, os donos da terra. Assim,
temos os fundadores da Kwe Ceja Undé.
Aqui, no Rio de Janeiro, saindo de Cachoeira de São Félix, Tatá Fomutinho deu obrigação com Maria
Angorense, conhecida como Kisinbi Kisinbi.
Uma das curiosidades encontradas durante minha pesquisa sobre Jeje é o que chamamos de Deká, que
na verdade vem do termo idecar, do termo fon iidecar, que quer dizer "transmissão de segredo". Esse ritual
é feito quando uma Gaiacú passa os segredos da nação Jeje para futura Gaiacú pois, na nação Jeje não
se tem notícias, que possa ter havido "Pai de santo". O cargo de sacerdotisa ou "Mãe de santo" era
exclusivamente das mulheres.
Só as mulheres poderiam ser Gaiacús.
Os cargos de Ogan na nação Jeje são assim classificados: Pejigan que é o primeiro Ogan da casa Jeje. A
palavra Pejigan quer dizer “Senhor que zela pelo altar sagrado”, porque Peji = "altar sagrado" e Gan =
"senhor". O segundo é o Runtó que é o tocador do atabaque Run, porque na verdade os atabaques Run,
Runpi e Lé são Jeje. No Ketu, os atabaques são chamados de Ilú. Há também outros Ogans como Gaipé,
Runsó, Gaitó, Arrow, Arrontodé, etc.
Podemos ver que a nação Jeje é muito particular em suas propriedades. É uma nação que vive de forma
independente em seus cultos e tradições de raízes profundas em solo africano e trazida de forma fiel pelos
negros ao Brasil.
Em 1796, foi fundado no Maranhão o culto Mina Jeje pelos negros fons vindos de Abomey, a então capital
de Dahomé, como relatei anteriormente, atual República Popular de Benin.
A família real Fon trouxe consigo o culto de suas divindades ancestrais, chamados Voduns e,
principalmente, o culto à Dan ou o culto da Serpente Sagrada.
7
Espaço Oásis Grupo de Estudos Mediúnicos 2005 – Apostila 21 21ª aula – 29/ago/05
Uma grande Noche ou Sacerdotisa, posteriormente, foi Mãe Andresa, última princesa de linhagem direta
Fon que nasceu em 1850 e morreu em 1954, com 104 anos de vida.
Aqui, alguns nomes dos Deuses Voduns:
*Ayzan - Vodun da nata da terra
*Sogbô - Vodun do trovão da família de Heviosso
*Aguê - Vodun da folhagem
*Loko - Vodun do tempo
*A primeira Casa Jeje no Rio de Janeiro foi, em 1848, de D.Rozena, cuja filha de santo foi
D.Adelaide Santos
*Ekede – termo Jeje
*Done – cargo feminino na casa Jeje, similar à Yalorixá
*Doté – cargo ilustre do filho de Sogbô
Os vodun-ses da família de Dan são chamados de Megitó, enquanto que da família de Kaviuno, do sexo
masculino, são chamados de Doté; e do sexo feminino, de Doné.
Os cumprimentos ou pedidos de bençãos entre os iniciados da família de Dan seria “Megitó Benoí?”
Resposta: “Benoí”; e aos iniciados da família Kaviuno, ou seja, Doté e Doné seria “Doté Ao?” Resposta:
"Aótin".
O termo usado "Okolofé", cuja resposta é "Olorun Kolofé" vem da fusão das Nações de Jeje e de Ketu.
(Texto de Reginaldo Prandi (in: Herdeiras do Axé. Sao Paulo, Hucitec, 1996), adaptado para este site pelo
autor: http://acaiaba.vilabol.uol.com.br/historia.html)
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Apostila 21

  • 1. Espaço Oásis Grupo de Estudos Mediúnicos 2005 – Apostila 21 21ª aula – 29/ago/05 CULTOS AFROBRASILEIROS O culto afro-brasileiro acompanha, sob as várias formas que suas diferentes origens determinaram, quase toda a história do Brasil. Com a proibição de práticas religiosas pelos senhores e o conseqüente sincretismo dos deuses dos escravos com os santos católicos, cresceu a complexidade do fenômeno. O I Congresso Afro-Brasileiro, realizado em Recife em 1934 por iniciativa de Gilberto Freire, permitiu um primeiro levantamento sistematizado da influência negra no Brasil. Em vista das origens diversas dos escravos e do sincretismo entre os próprios grupos negros que aqui se formaram, sempre foi tarefa muito complexa uma geografia e uma sociografia dos cultos afro-brasileiros. Esse problema cresceu ainda mais com a disseminação desses cultos nos grandes centros urbanos, o que propiciou o aparecimento de novas formas de sincretismo, também com o espiritismo kardecista. Em 1941 realizou-se no Rio de Janeiro o I Congresso de Espiritismo de Umbanda. A partir de 1950, acelerou-se o crescimento do número de adeptos e de terreiros dos cultos afro-brasileiros. A Congregação Espírita Umbandista do Brasil (1950), a União Nacional de Cultos Afro-Brasileiros (1952) e outras instituições nacionais e regionais coordenam e defendem os interesses de seus fiéis. Inicialmente restritos aos escravos e seus descendentes, os cultos afro-brasileiros, especialmente a umbanda, ganharam adeptos da classe média urbana. O candomblé das diversas "nações" africanas é a religião afro-brasileira que mais fielmente preserva as tradições dos antepassados e a menos permeável às transformações sincréticas, embora cultue secundariamente entidades assimiladas, como os caboclos e os pretos velhos. Predomina na Bahia e tem muitos seguidores no Rio de Janeiro. A umbanda é francamente sincrética com o cristianismo e o espiritismo kardecista. Os subúrbios do Rio de Janeiro possuem grande quantidade de terreiros ou barracões de umbanda. O culto afro-brasileiro toma o nome de pajelança na Amazônia, babacuê no Pará, tambor-de-mina no Maranhão, xangô em Alagoas, Pernambuco e Paraíba e batuque no Rio Grande do Sul. Candomblé. Paradigma dos cultos de origem africana em todo o país, o ritual do candomblé pode ser considerado, do ponto de vista musical, um oratório dançado. Cada entidade -- orixá, exu ou erê -- tem suas cantigas e suas danças específicas. O canto é puxado, em solo, pelo pai ou mãe-de-santo e é seguido por um coro em uníssono, formado pelos filhos-de-santo. Nas melodias mais antigas a escala é pentatônica. Não há funções tonais nem cadenciais, acordes dissonantes ou artificiais. Da cerimônia participam três instrumentos básicos: os atabaques, o agogô e o piano-de-cuia (aguê); a estes se acrescentam um adjá (no candomblé das nações do grupo jeje-nagô) e um caxixi (nos ritos do grupo angola-congo). Tal como se encontra na Bahia, esse candomblé, que pode ser considerado mais ou menos ortodoxo, na realidade já se apresenta como um resumo de várias religiões trazidas pelos negros da África e incorpora ainda elementos ameríndios, do catolicismo popular e do espiritismo. Xangô. Ainda que com características próprias, o xangô é a versão local, em Pernambuco, Paraíba e Alagoas, do candomblé baiano. Xangô é também a denominação, em língua africana, do orixá jeje-nagô das tempestades, raios e trovões, cultuados em vários estados do Brasil. O ritmo do xangô é fortemente marcado por instrumentos percussivos. A dança se caracteriza pelo aspecto guerreiro, com os braços em ângulo reto e as mãos viradas para cima. Tambor-de-mina. Manifestação própria do Maranhão, cuja procedência é o ritual angola-congo do candomblé, mesclado a outras sobrevivências litúrgicas, o tambor-de-mina ou tambor-de-crioulo caracteriza-se por uma série de cantos acompanhados por três tambores, uma cabaça e um triângulo de ferro. Candomblé-de-caboclo. Manifestação própria da cidade de Salvador e municípios vizinhos, na Bahia, o candomblé-de-caboclo é uma espécie de candomblé nacionalizado, que toma por base a ortodoxia do candomblé jeje-nagô. Trata-se de exemplo nítido do sincretismo religioso popular no Brasil. Registram-se nele influências indígenas e mestiças, resumindo-se os hinos especiais de cada encantado ou caboclo, cantados em português, a uma declaração de seus poderes sobrenaturais. Babaçuê. Versão local, em Belém PA, do rito jeje-nagô do candomblé baiano, o babaçuê se assemelha em muitos pontos ao candomblé-de-caboclo. Canta-se e dança-se ao ritmo de três abadãs (tambores), um 1
  • 2. Espaço Oásis Grupo de Estudos Mediúnicos 2005 – Apostila 21 21ª aula – 29/ago/05 xequeré (cabaça) e um xeque (chocalho de folha-de-flandres). Os hinos denominam-se doutrinas e podem ser cantados em língua africana ou em português, segundo os espíritos com que se relacionam. Uma variedade desse rito, o batuque, tem suplantado o babaçuê nos dias atuais. Umbanda. Religião sincrética própria do estado do Rio de Janeiro, a umbanda é praticada em terreiros encabeçados por um pai ou mãe-de-santo, que preside às cerimônias, auxiliado por um cambono (acólito). Os cânticos denominam-se pontos e, como no candomblé, têm a função de chamar o santo, que se incorpora nos filhos-de-santo, ou cavalos. Correspondentes às nações do candomblé, as linhas de umbanda são diversas: linha do Congo, linha do Cabinda, linha da Costa. Como no candomblé, os orixás se comunicam diretamente com as pessoas em poucas oportunidades; preferem fazê-lo por intermédio de entidades intermediárias, os pretos velhos. Pajelança. No caso da pajelança (Amazonas, Pará, Piauí, Maranhão), o elemento gerador é genuinamente ameríndio. As curas são levadas a efeito pelos pajés, verdadeiros xamãs indígenas. O instrumento básico de pajelança é o maracá, instrumento sagrado do pajé. As cerimônias acompanham-se sempre de cantos e danças para divertir os espíritos. Os cantos são melodias folclóricas conhecidas; as danças, exercícios mímicos, com rugidos e uivos imitativos dos animais invocados. Há inúmeras diferenças rituais entre uma pajelança e outra, sendo mais característica entre as rurais a pureza dos traços ameríndios, enquanto nas urbanas se registra uma mescla de elementos afróides, do catimbó, do espiritismo e do baixo catolicismo. Uma versão da pajelança amazônica é a encanteria ou encantaria piauiense, fortemente aculturada com o catolicismo popular. Na encantaria, os crentes repetem várias vezes certa quadra rogatória de purificação, após o que o pai-de-santo dança em volta da guna (forquilha central da sala), no centro de um círculo formado por todos os dançantes, que giram sobre si mesmos da direita para a esquerda, em torno do mestre, que entoa cantos (aié) para que algum moço (espírito) se aposse de seu aparelho (filho ou filha- de-santo) e cante sua doutrina, dançando em transe. Catimbó. A origem do catimbó, cuja prática pode ser encontrada em todo o Nordeste, parece ser a magia branca européia, chegada via Portugal, aculturada com elementos negros, ameríndios, do espiritismo e do baixo catolicismo. Nele se registram cantos de linhas, mas sem nenhum instrumento musical nem bailado votivo. Outros Sites  As Raizes da Umbanda: http://www.nwm.com.br/umbanda/  Casa de Obaluaie: http://pessoal.mandic.com.br/~hbatista/  SARAVA UMBANDA: http://www.geocities.com/Athens/Acropolis/9175/banda.htm  Ile Axe Opo Afonja: http://www.geocities.com/Athens/Acropolis/1322/index.html 2
  • 3. Espaço Oásis Grupo de Estudos Mediúnicos 2005 – Apostila 21 21ª aula – 29/ago/05 Algumas considerações A palavra candomblé é sinônimo de religião africana. Sempre foi e é usada ainda neste sentido. Isto explica muitas coisas. Vejamos. O negro foi arrancado de sua terra e vendido como uma mercadoria, escravizado. Aqui ele chegou escravo, objeto; de sua terra ele partiu livre, homem. Na viagem, no tráfico, ele perdeu personalidade, representatividade, mas sua cultura, sua história, suas paisagens, suas vivências vieram com ele. Estas sementes, estes conhecimentos encontraram um solo, uma terra parecida com a África, embora estranhamente povoada. O medo se impunha, mas a fé, a crença - o que se sabia - exigia ser expresso. Surgiram os cultos (onilé - confundidos mais tarde com o culto do Caboclo, uma das primeiras versões do sincretismo), surgiu a raiva e a necessidade de ser livre. Apareceram os feitiços (ebós), os quilombos. Os trezentos anos da história da escravidão do negro no Brasil, atestam acima de tudo, a resistência, a organização dos negros. A cultura africana sobreviveu para o negro através de sua crença, de sua religião. O que se acredita, se deseja, é mais forte do que o que se vive, sempre que há uma situação limite. A religião, sua organização em terreiros (roças), foi como muito já se escreveu, a resistência negra. Resistiu- se por haver organização. A organização consigo mesmo. Cada negro tinha, ou sabia que seu avô teve, um farol, um guia, um orixá protetor. No meio dos objetos traficados (os escravos) haviam jóias raras: Babalorixás e Iyalorixás. Estes sacerdotes, inteiros nas suas crenças, criaram a África no Brasil. Esta mágica, esta organização reestruturante só é possível de ser entendida se pensarmos no que é a iniciação , todo processo que implica e estabelece. A cana de açúcar do Senhor de Engenho era plantada por Iaôs recém saídos das camarinhas, dos roncós. A força se espalhou, o axé cresceu e apareceu na sociedade sob a forma dos terreiros de candomblé (religião de negros yorubá como é definido no Dicionário de Aurélio Buarque). Era coisa de negros, portanto escusa, ignorante, desprezível e rapidamente traduzida como coisa ruim, coisa do diabo, bem e mal, certo e errado, branco e preto. Antagonismos opressores, sem possibilidades alternativas. O negro resolveu tentar agir como se fora branco, para ser aceito. Ele dizia: - Meu Senhor, a gente tá tocando para Senhor do Bomfim, seu Santo, nhô! Não é para Oxalá, quer dizer, Oxalá é o Pai Nosso, é o mesmo que Senhor do Bomfim. Sincretismo. Forma de resistência que criou grande onus, severas cicatrizes desfiguradoras. O processo social, a dinâmica é implacável. A imobilidade não se mantém. O filho do africano já dizia que não confiava em negro brasileiro (o sìgìdì, por exemplo, um encantamento de invisibilidade e criação de elemental, não foi ensinado). Muito se perdeu, a terra africana reduziu-se a pequenos torrões, o candomblé era eficaz; o Senhor procurava a negra velha para fazer um feitiço, para que lhe desse um banho de folha, lhe desse um patuá. Proliferação de terreiros. Massificação, turismo, folclore. Mas os grandes iniciados, iguais àqueles criadores da terra africana no Brasil, ainda existem. Odé Kayode - Mãe Stella de Oxossi , em 1983, dizia: "Iansã não é Santa Bárbara", e explicava. Mostrou que candomblé não era uma seita, era uma religião independente do catolicismo. A terra tremeu; algumas pessoas falavam: "- sempre fomos à missa, sempre a última benção, depois da iniciação, era na Igreja, fazemos missa de corpo presente quando alguém morre, não pode mudar isso". Era a tradição alienada versus a revolução coerente, era a quebra do último grilhão. A represa foi quebrada e as águas fertilizaram os campos quase estéreis da sobrevivência. O negro é livre. Veio da África, tem uma história, tem uma religião igual à qualquer outra e ainda, não é politeista, é monoteista: acima de todos os Orixás está Olorum. Nina Rodrigues conta que uma vez perguntou a um Babalorixá porque ele não recebia Olorum, já que este existia. Ouvindo a seguinte resposta: "- Meu Doutor, se eu recebesse, eu explodia". Agora um novo limite, uma nova configuração se instala. Neste fim de século com a corrosão das instituições religiosas tradicionais, com o surgimento de novas religiões, com as doutrinas esotéricas alternativas, o candomblé, agora considerado religião, é visto também como uma agência eficiente: resolve problemas, cura doenças, acalma as cabeças. Os brancos querem ser negros, já não se ouve "o negro de alma branca", agora o privilégio é ser um branco de alma negra, ter ancestralidade, "ter enredo, história com o Santo". Mais do que nunca as Iyalorixás e Babalorixás se questionam. As armadilhas, os "caça- fugitivos" estão instalados. São os congressos, a TV - é a mídia - os livros, a 'web', em certo sentido. Tudo isto é transformado, por nós, em pinças para separar o joio do trigo, porisso estamos aqui. Dizendo o que 3
  • 4. Espaço Oásis Grupo de Estudos Mediúnicos 2005 – Apostila 21 21ª aula – 29/ago/05 somos, damos condição para que se perceba o que está posto e se entenda o suposto, o oposto e o aposto. Diferenciação é conhecimento, candomblé é religião, não é seita. As Iyalorixás organizam as cabeças. O processo de organização do ori é awo (segredo). O candomblé é uma religião que trabalha com o segredo, o lado mudo do ser, o que a Olorum pertence. O candomblé organiza o fragmentado, abrindo canais de expressão para o ser humano. Hoje, quando se fala em "candomblé", o que se tem em mente é um tipo específico de religião formada na Bahia, denominado candomblé "queto" ou "Ketu", que atualmente pode ser encontrado em praticamente todo o País. Mas o termo candomblé designa muitas variedades religiosas, como veremos adiante. O Candomblé: Suas Nações E Variantes • NAÇÃO KETÚ • NAÇÃO ANGOLA • NAÇÃO JEJÊ • HISTÓRICO O candomblé e demais religiões afro-brasileiras tradicionais formaram-se em diferentes áreas do Brasil com diferentes ritos e nomes locais derivados de tradições africanas diversas: candomblé na Bahia, xangô em Pernambuco e Alagoas, tambor de mina no Maranhão e Pará, batuque no Rio Grande do Sul e macumba no Rio de Janeiro. A organização das religiões negras no Brasil deu-se bastante recentemente, no curso do século XIX. Uma vez que as últimas levas de africanos trazidos para o Novo Mundo durante o período final da escravidão (últimas décadas do século XIX) foram fixadas sobretudo nas cidades e em ocupações urbanas, os africanos desse período puderam viver no Brasil em maior contato uns com os outros, físico e socialmente, com maior mobilidade e, de certo modo, liberdade de movimentos, num processo de interação que não conheceram antes. Este fato propiciou condições sociais favoráveis para a sobrevivência de algumas religiões africanas, com a formação de grupos de culto organizados. Até o final do século passado, tais religiões estavam consolidadas, mas continuavam a ser religiões étnicas dos grupos negros descendentes dos escravos. No início deste século, no Rio de janeiro, o contato do candomblé com o espiritismo kardecista trazido da França no final do século propiciou o surgimento de uma outra religião afro-brasileira: a umbanda, que tem sido reiteradamente identificada como sendo a religião brasileira por excelência, pois, nascida no Brasil, ela resulta do encontro de tradições africanas, espíritas e católicas. Desde o início as religiões afro-brasileiras formaram-se em sincretismo com o catolicismo, e em grau menor com religiões indígenas. O culto católico aos santos, numa dimensão popular politeísta, ajustou-se como uma luva ao culto dos panteões africanos. A partir de 1930, a umbanda espraiou-se por todas a regiões do País, sem limites de classe, raça, cor, de modo que todo o País passou a conhecer, pelo menos de nome, divindades como Iemanjá, Ogum, Oxalá etc. O candomblé, que até 20 ou 30 anos atrás era religião confinada sobretudo na Bahia e Pernambuco e outros locais em que se formara, caracterizando-se ainda uma religião exclusiva dos grupos negros descendentes de escravos, começou a mudar nos anos 60 e a partir de então a se espalhar por todos os lugares, como acontecera antes com a umbanda, oferecendo-se então como religião também voltada para segmentos da população de origem não-africana. Assim o candomblé deixou de ser uma religião exclusiva do segmento negro, passando a ser uma religião para todos. Neste período a umbanda já começara a se propagar também para fora do Brasil. Durante os anos 1960, com a larga migração do Nordeste em busca das grandes cidades industrializadas no Sudeste, o candomblé começou a penetrar o bem estabelecido território da umbanda, e velhos umbandistas começaram e se iniciar no candomblé, muitos deles abandonando os ritos da umbanda para se estabelecer como pais e mães-de-santo das modalidades mais tradicionais de culto aos orixás. Neste movimento, a umbanda é remetida de novo ao candomblé, sua velha e "verdadeira" raiz original, considerada pelos novos seguidores como sendo mais misteriosa, mais forte, mais poderosa que sua moderna e embranquecida descendente, a umbanda. 4
  • 5. Espaço Oásis Grupo de Estudos Mediúnicos 2005 – Apostila 21 21ª aula – 29/ago/05 Nesse período da história brasileira, as velhas tradições até então preservadas na Bahia e outros pontos do País encontraram excelentes condições econômicas para se reproduzirem e se multiplicarem mais ao sul; o alto custo dos ritos deixou de ser um constrangimento que as pudesse conter. E mais, nesse período, importantes movimentos de classe média buscavam por aquilo que poderia ser tomado como as raízes originais da cultura brasileira. Intelectuais, poetas, estudantes, escritores e artistas participaram desta empreitada, que tantas vezes foi bater à porta das velhas casas de candomblé da Bahia. Ir a Salvador para se ter o destino lido nos búzios pelas mães-de-santo tornou-se um must para muitos, uma necessidade que preenchia o vazio aberto por um estilo de vida moderno e secularizado tão enfaticamente constituído com as mudanças sociais que demarcavam o jeito de viver nas cidades industrializadas do Sudeste, estilo de vida já, quem sabe?, eivado de tantas desilusões. O candomblé encontrou condições sociais, econômicas e culturais muito favoráveis para o seu renascimento num novo território, em que a presença de instituições de origem negra até então pouco contavam. Nos novos terreiros de orixás que foram se criando então, entretanto, podiam ser encontrados pobres de todas as origens étnicas e raciais. Eles se interessaram pelo candomblé. E os terreiros cresceram às centenas. O termo candomblé designe vários ritos com diferentes ênfases culturais, aos quais os seguidores dão o nome de "nações" (Lima, 1984). Basicamente, as culturas africanas que foram as principais fontes culturais para as atuais "nações" de candomblé vieram da área cultural banto (onde hoje estão os países da Angola, Congo, Gabão, Zaire e Moçambique) e da região sudanesa do Golfo da Guiné, que contribuiu com os iorubás e os ewê-fons, circunscritos principalmente aos atuais território da Nigéria e Benin. Mas estas origens na verdade se interpenetram tanto no Brasil como na origem africana. Na chamada "nação" queto, na Bahia, predominam os orixás e ritos de iniciação de origem iorubá. Quando se fala em candomblé, geralmente a referência é o candomblé queto e seus antigos terreiros são os mais conhecidos: a Casa Branca do Engenho Velho e duas casas derivadas da Casa Branca, o Axé Opô Afonjá e o Gantois; além do candomblé do Alaketo. O candomblé queto tem tido grande influência sobre outras "nações", que têm incorporado muitas de suas prática rituais. Sua língua ritual deriva do iorubá, mas o significado das palavras e a sintaxe em grande parte se perderam através do tempo. Além do queto, as seguintes "nações" também são do tronco iorubá (ou nagô, como os povos iorubanos são também denominados): efã e ijexá na Bahia, nagô ou eba em Pernambuco, oió-ijexá ou batuque de nação no Rio Grande do Sul, mina-nagô no Maranhão, e a quase extinta "nação" xambá de Alagoas e Pernambuco. Mais recentemente, quando o candomblé (de origem baiana, nação queto) já se encontrava espalhado por todos os grandes centros urbanos, tendo já, inclusive, iniciado sua propagação por países do Cone Sul e também da Europa, iniciou-se um movimento de recuperação de raízes africanas conhecido como "africanização", que rejeita o sincretismo católico, procura reaprender o iorubá como língua original e tenta reintroduzir ritos que se perderam ao longo do tempo e redescobrir os mitos esquecidos dos orixás. A "nação" angola, de origem banto, adotou o panteão dos orixás iorubás (embora os chame pelos nomes de seus esquecidos inquices, divindades bantos, assim como incorporou muitas das práticas iniciáticas da nação queto. Sua linguagem ritual, também intraduzível, originou-se predominantemente das línguas quimbundo e quicongo. Nesta "nação", tem fundamental importância o culto dos caboclos, que são espíritos de índios, considerados pelos antigos africanos como sendo os verdadeiros ancestrais brasileiros, portanto os que são dignos de culto no novo território a que foram confinados pela escravidão. O candomblé de caboclo é uma modalidade da nação angola, centrado no culto exclusivo dos antepassados indígenas. Foram provavelmente o candomblé angola e o de caboclo que deram origem à umbanda. Há outras nações menores de origem banto, como a congo e a cambinda, hoje quase inteiramente absorvidas pela nação angola. A nação jeje-mahin, do estado da Bahia, e a jeje-mina, do Maranhão, derivaram suas tradições e língua ritual do ewê-fon, ou jejes, como já eram chamados pelos nagôs, e suas divindades centrais são os voduns.As tradições rituais jejes As tradições rituais jejes foram muito importantes na formação dos candomblés com predominância iorubá. • ORIGEM DA PALAVRA JEJÊ • ORIGEM DA PALAVRA DAOMÉ • DIALETOS FALADOS • OS PRIMEIROS NO BRASIL 5
  • 6. Espaço Oásis Grupo de Estudos Mediúnicos 2005 – Apostila 21 21ª aula – 29/ago/05 • VODUNS • FUNDADORES • OGANS • MINA JEJÊ • CURIOSIDADES A palavra JEJE vem do yorubá adjeje que significa estrangeiro, forasteiro. Portanto, não existe e nunca existiu nenhuma nação Jeje, em termos políticos. O que é chamado de nação Jeje é o candomblé formado pelos povos fons vindo da região de Dahomé e pelos povos mahins. Jeje era o nome dado de forma perjurativa pelos yorubás para as pessoas que habitavam o leste, porque os mahins eram uma tribo do lado leste e Saluvá ou Savalu eram povos do lado sul. O termo Saluvá ou Savalu, na verdade, vem de "Savê" que era o lugar onde se cultuava Nanã. Nanã, uma das origens das quais seria Bariba, uma antiga dinastia originária de um filho de Oduduá, que é o fundador de Savê (tendo neste caso a ver com os povos fons). O Abomei ficava no oeste, enquanto Axantis era a tribo do norte. Todas essas tribos eram de povos Jeje. A palavra DAHOMÉ, tem dois significados: Um está relacionado com um certo Rei Ramilé que se transformava em serpente e morreu na terra de Dan. Daí ficou "Dan Imé" ou "Dahomé", ou seja, aquele que morreu na Terra da Serpente. Segundo as pesquisas, o trono desse rei era sustentado por serpentes de cobre cujas cabeças formavam os pés que iam até a terra. Esse seria um dos significados encontrados: Dan = “serpente sagrada” e Homé = “a terra de Dan”, ou seja, Dahomé = “a terra da serpente sagrada”. Acredita-se ainda que o culto à Dan é oriundo do antigo Egito. Ali começou o verdadeiro culto à serpente, onde os Faraós usavam seus anéis e coroas com figuras de cobra. Encontramos também Cleópatra com a figura da cobra confeccionada em platina, prata, ouro e muitos outros adornos femininos. Então, posso dizer que este culto veio descendo do Egito até Dahomé. Os povos Jejes se enumeravam em muitas tribos e idiomas, como: Axantis, Gans, Agonis, Popós, Crus, etc. Portanto, teríamos dezenas de idiomas para uma tribo só, ou seja, todas eram Jeje, o que foge evidentemente às leis da lingüística - muitas tribos falando diversos idiomas, dialetos e cultuando os mesmos Voduns. As diferenças vinham, por exemplo, dos Minas - Gans ou Agonis, Popós que falavam a língua das Tobosses, que a meu ver, existe uma grande confusão com essa língua. Os primeiros negros Jeje chegados ao Brasil entraram por São Luís do Maranhão e de São Luís desceram para Salvador, Bahia e de lá para Cachoeira de São Félix. Também ali, há uma grande concentração de povos Jeje. Além de São Luís (Maranhão), Salvador e Cachoeira de São Félix (Bahia), o Amazonas e bem mais tarde o Rio de Janeiro, foram lugares aonde encontram-se evidências desta cultura. Muitos Voduns Jeje são originários de Ajudá. Porém, o culto desses voduns só cresceram no antigo Dahomé. Muitos desses Voduns não se fundiram com os orixás nagos e desapareceram totalmente. O culto da serpente Dãng-bi é um exemplo, pois ele nasceu em Ajudá, foi para o Dahomé, atravessou o Atlântico e foi até as Antilhas. Quanto a classificação dos Voduns Jeje, por exemplo, no Jeje Mahin tem-se a classificação do povo da terra, ou os voduns Caviunos, que seriam os voduns Azanssu, Nanã e Becém. Temos, também, o vodun chamado Ayzain que vem da nata da terra. Este é um vodun que nasce em cima da terra. É o vodun protetor da Azan, onde Azan quer dizer "esteira", em Jeje. Achamos em outro dialeto Jeje, o dialeto Gans- Crus, também o termo Zenin ou Azeni ou Zani e ainda o Zoklé. Ainda sobre os voduns da terra encontramos Loko. Ele apesar de estar ligado também aos astros e a família de Heviosso, também está na família Caviuno, porque Loko é árvore sagrada; é a gameleira branca, que é uma árvore muito importante na nação Jeje. Seus filhos são chamados de Lokoses. Ague, Azaká é também um vodun Caviuno. A família Heviosso é encabeçada por Badë, Acorumbé, também filho de Sogbô, chamado de Runhó. Mawu- Lissá seria o orixá Oxalá dos yorubás. Sogbô também tem particularidade com o Orixá em Yorubá, Xangô, e ainda com o filho mais velho do Deus do trovão que seria Averekete, que é filho de Ague e irmão de Anaite. Anaite seria uma outra família que viria da família de Aziri, pois são as Aziris ou Tobosses que viriam a ser as Yabás dos Yorubás, achamos assim Aziritobosse. Estou falando do Jeje de um modo geral, não especificamente do Mahin, mas das famílias que englobam o Mahin e também outras famílias Jeje. Como relatei, Jeje era um apelido dado pelos yorubás. Na verdade, esta família, ou seja, nós que pertencemos a esta nação deveríamos ser classificados de povo Ewe, que seria o mais certo. Ewe-Fon seria a nossa verdadeira denominação. Nós seríamos povos Ewe ou povos Fons. Então, se fôssemos 6
  • 7. Espaço Oásis Grupo de Estudos Mediúnicos 2005 – Apostila 21 21ª aula – 29/ago/05 pensar em alguma possibilidade de mudança, nós iríamos nos chamar, ao invés de nação Jeje, de nação Ewe-Fon. Somente assim estaríamos fazendo jus ao que é encontrado em solo africano. Jeje é então um apelido, mas assim ficamos para todas as nossas gerações classificados como povo Jeje, em respeito aos nossos antepassados. Continuando com algumas nomenclaturas da palavra Ewe-Fon, por exemplo, a casa de candomblé da nação Jeje chama-se Kwe = "casa". A casa matricial em Cachoeira de São Félix chama-se Kwe Ceja Undé. Toda casa Jeje tem que ser situada afastada das ruas, dentro de florestas, onde exista espaço com árvores sagradas e rios. Depende das matas, das cachoeiras e depende de animais, porque o Jeje também tem a ver com os animais. Existem até cultos com os animais tais como, o leopardo, crocodilo, pantera, gavião e elefante que são identificados com os voduns. Então, este espaço sagrado, este grande sítio, esta grande fazenda onde fica o Kwe chama-se Runpame, que quer dizer "fazenda" na língua Ewe- Fon. Sendo assim, a casa chama-se Kwe e o local onde fica situado o candomblé, Runpame. No Maranhão predomina o culto às divindades como Azoanador e Tobosses e vários Voduns onde a "sacerdotisa" é chamada Noche e o cargo masculino, Toivoduno. Voltando a falar sobre "Kwe Ceja Undé", esta casa como é chamada em Cachoeira de São Félix de "Roça de Baixo" foi fundada por escravos como Manoel Ventura, Tixerem, Zé do Brechó e Ludovina Pessoa. Ludovina Pessoa era esposa de Manoel Ventura, que no caso africano é o dono da terra. Eles eram donos do sítio e foram os fundadores da Kwe Ceja Undé. Essa Kwe ainda seria chamada de Pozerren, que vem de Kipó, "pantera". Darei um pequeno relatório dos criadores do Pozerren Tixarene que seria o primeiro Pejigan da roça; e Ludovina, pessoa que seria a primeira Gaiacú. A roça de cima que também é em Cachoeira é oriunda do Jeje Dahomé, ou seja, uma outra forma de Jeje. Estou falando do Mahin, que era comandada por Sinhá Romana que vinha a ser "Irmã de santo" de Ludovina Pessoa (esta última mais tarde assumiria o cargo de Gaiacú na Kwe de Boa Ventura). Mas, pela ordem temos Manoel Ventura, que seria o fundador, depois viria Sinhá Pararase, Sinhá Balle e atualmente Gamo Loko-se. O Kwe Ceja Undé encontra-se em controvérsia, ou seja, Gamo Loko-se é escolhida por Sinhá Pararase para ser a verdadeira herdeira do trono e Gaiacú Agué-se, que seria Elisa Gonçalves de Souza, vem a ser a dona da terra atualmente. Ela pertence a família Gonçalves, os donos da terra. Assim, temos os fundadores da Kwe Ceja Undé. Aqui, no Rio de Janeiro, saindo de Cachoeira de São Félix, Tatá Fomutinho deu obrigação com Maria Angorense, conhecida como Kisinbi Kisinbi. Uma das curiosidades encontradas durante minha pesquisa sobre Jeje é o que chamamos de Deká, que na verdade vem do termo idecar, do termo fon iidecar, que quer dizer "transmissão de segredo". Esse ritual é feito quando uma Gaiacú passa os segredos da nação Jeje para futura Gaiacú pois, na nação Jeje não se tem notícias, que possa ter havido "Pai de santo". O cargo de sacerdotisa ou "Mãe de santo" era exclusivamente das mulheres. Só as mulheres poderiam ser Gaiacús. Os cargos de Ogan na nação Jeje são assim classificados: Pejigan que é o primeiro Ogan da casa Jeje. A palavra Pejigan quer dizer “Senhor que zela pelo altar sagrado”, porque Peji = "altar sagrado" e Gan = "senhor". O segundo é o Runtó que é o tocador do atabaque Run, porque na verdade os atabaques Run, Runpi e Lé são Jeje. No Ketu, os atabaques são chamados de Ilú. Há também outros Ogans como Gaipé, Runsó, Gaitó, Arrow, Arrontodé, etc. Podemos ver que a nação Jeje é muito particular em suas propriedades. É uma nação que vive de forma independente em seus cultos e tradições de raízes profundas em solo africano e trazida de forma fiel pelos negros ao Brasil. Em 1796, foi fundado no Maranhão o culto Mina Jeje pelos negros fons vindos de Abomey, a então capital de Dahomé, como relatei anteriormente, atual República Popular de Benin. A família real Fon trouxe consigo o culto de suas divindades ancestrais, chamados Voduns e, principalmente, o culto à Dan ou o culto da Serpente Sagrada. 7
  • 8. Espaço Oásis Grupo de Estudos Mediúnicos 2005 – Apostila 21 21ª aula – 29/ago/05 Uma grande Noche ou Sacerdotisa, posteriormente, foi Mãe Andresa, última princesa de linhagem direta Fon que nasceu em 1850 e morreu em 1954, com 104 anos de vida. Aqui, alguns nomes dos Deuses Voduns: *Ayzan - Vodun da nata da terra *Sogbô - Vodun do trovão da família de Heviosso *Aguê - Vodun da folhagem *Loko - Vodun do tempo *A primeira Casa Jeje no Rio de Janeiro foi, em 1848, de D.Rozena, cuja filha de santo foi D.Adelaide Santos *Ekede – termo Jeje *Done – cargo feminino na casa Jeje, similar à Yalorixá *Doté – cargo ilustre do filho de Sogbô Os vodun-ses da família de Dan são chamados de Megitó, enquanto que da família de Kaviuno, do sexo masculino, são chamados de Doté; e do sexo feminino, de Doné. Os cumprimentos ou pedidos de bençãos entre os iniciados da família de Dan seria “Megitó Benoí?” Resposta: “Benoí”; e aos iniciados da família Kaviuno, ou seja, Doté e Doné seria “Doté Ao?” Resposta: "Aótin". O termo usado "Okolofé", cuja resposta é "Olorun Kolofé" vem da fusão das Nações de Jeje e de Ketu. (Texto de Reginaldo Prandi (in: Herdeiras do Axé. Sao Paulo, Hucitec, 1996), adaptado para este site pelo autor: http://acaiaba.vilabol.uol.com.br/historia.html) 8