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CAPÍTULO 14
As relações entre vivos e mortos
PERGUNTA: — Que pensais do modo por que encara-
mos a morte do corpo físico, e que dizeis do intercâmbio que
mantemos com os desencarnados?
ATANAGILDO: — Na Terra ainda são muito comuns os
julgamentos extremistas com referência ao “falecimento” da
criatura, assim como há uma grande confusão quanto à
nossa verdadeira situação após a travessia do túmulo.
Segundo ensinam os teólogos sentenciosos do Catolicismo
Romano, a alma desencarnada ou deve obter uma excelen-
te cadeira cativa no Paraíso, ou então, se não sair do Pur-
gatório, há de se transformar em apetitoso assado no bra-
seiro satânico do Inferno. O Protestantismo ainda é mais
severo, afirmando que não há Purgatório; a alma ou vai
diretamente para o céu ou diretamente para o inferno,
onde permanecerá por toda eternidade. Não faltam, tam-
bém, as correntes espiritualistas demasiadamente comple-
xas, que extinguem o nosso aspecto humano e desorientam
os estudiosos, quando apresentam o “plano astral” como
um cenário povoado por autômatos a viverem entre som-
bras e imagens virtuais!
No entanto, embora sejam verídicas as situações aterra-
doras de muitos espíritos lançados nas trevas dos abismos
dantescos, mas não eternamente, aqui no Além vivemos de
modo racional e rapidamente assimilável pelos desencarna-
dos. Mas é certo que só usufruímos o resultado exato de
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2. nossas ações já concretizadas na intimidade de nossa pró-
pria alma; gozamos de alegrias e atrativos ou então passa-
mos por vicissitudes e retificações dolorosas, conforme a
boa ou má aplicação que na Terra tenhamos dado aos dons
da vida espiritual. E por isso somos ainda criaturas acalen-
tando sonhos ou topando com decepções; encontrando
alegrias ou curtindo tristezas, mas profundamente humanas
e distantes dos extremismos das opiniões que comumente
se formulam sobre aqueles que “morreram”. Aliás, mesmo
entre os espíritas — que formam idéia mais sensata a nosso
respeito — ainda há os que nos recebem compungidamen-
te, em suas sessões, entre suspiros e temores, convictos de
que baixamos dos “páramos celestiais” ou, como dizem,
“dos pés de Deus”, enquanto nos cobrem de “graças” sobre
“graças”!
Outros mais pessimistas, consideram-nos terrivelmente
sisudos e severos, certos de que só nos preocupamos em
excomungar os pecados dos homens e desejarmos toda
sorte de castigos para a Terra diabólica, apesar de haver
sido criada por Deus!
PERGUNTA: — Temos a impressão de que a morte do
corpo físico extingue nas almas o gosto pelos divertimentos
e pelo humorismo, tão comuns na Terra. Estamos certos?
ATANAGILDO:— Creio que a convicção da imortalida-
de do espírito e a certeza de que o futuro é abençoada
oportunidade de recuperação espiritual seriam o bastante
para que até as almas mais degradadas pudessem se reju-
bilar mesmo diante das maiores vicissitudes da vida. No
entanto, muitos espiritualistas, e até espíritas já convenci-
dos da imortalidade da alma, ainda vivem no mundo com
a fisionomia carrancuda e ar solene, espalhando em torno
de si injustificável e doentio pessimismo.
É que eles nos imaginam espíritos destituídos da graça
comum e natural à vida prazenteira, crentes de que, devi-
do ao fato de havermos perdido o esqueleto, estamos trans-
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