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A dinâmica do espaço na habitação mínima
Pedro Fonseca Jorge, 1977, Portugal. Formado em arquitectura pela Faculdade de
Arquitectura da Universidade do Porto (FAUP), Portugal. Mestre em Intervenção no Património
e Doutorando em Habitação Mínima pela mesma instituição.
Monitor da disciplina da Projecto II na FAUP no ano lectivo de 2000/2001, orador convidado
nos Seminários ‘A walk in the Park’ (Novembro 2011) promovidos pelo Departamento de
Arquitectura e Paisagem da Escola Universitária Vasco da Gama.
Participação em numerosos seminários e conferências no âmbito dos temas de Habitação e
Património em Arquitectura com publicação de artigos revistos por pares, como “23rd ENHR
Conference 2011 - ‘Mixité’ : an urban and housing issue ?”, Toulouse, França, 5 a 8 de
Julho de 2011 ou “Heritage 2010”, Évora, Portugal, Junho de 2010.
Colaboração com a revista de arquitectura Editora Caleidoscópio, por exemplo na revista
“Arquitectura Ibérica”, entre outros, de 2006 a 2008.
Colaborador no Gabinete de Arquitectura do Professor Doutor Francisco Barata Fernandes de
2000 a 2003, possuindo actividade em nome próprio desde 2003 até à presente data, onde se
destacam os projectos “Casa no Figueiral” (Publicada no n.º 23 da revista ‘Arquitectura
Ibérica”, Dezembro de 2007 - ISBN: 978-989-8129-28-4 - no texto ‘A profissão do Arquitecto’, e
no site e-architect – http://www.e-architect.co.uk/portugal/casa_figueiral.htm#.TrhAv-
Zhg19.blogger) e ainda a “Casa na Cruz de Oliveira” (Publicada na revista ‘New Generation:
Arquitectos - Architetti under 40,Porto (Portugal) / Pisa (Italia)’, nº 2/2008, da colecção
“Bilblioteca Architetture” da editora ‘Edizioni ETS’).
Resumo
Existem actualmente Grupos Domésticos indefinidos para os quais urge por isso encontrar
novas soluções. Sendo a História operativa procedeu-se à recolha de Modelos do Habitar que
façam do uso do espaço dinâmico como fonte para criação de novos Tipos.
Resumen
Las familias de hoy tienen nuevas características para las cuales nuevas soluciones de
vivienda son necesarias. Utilizando la historia como fuente se han recopilado varios modelos
que utilizan espacios dinámicos con el fin de inspirar nuevos tipos de vivienda.
Abstract
Today’s Households have undefined features for which new housing solutions are needed.
Using History as a source several Models that use dynamic spaces where collected in order to
inspire new Housing Types for new uses.
1. CONCEITO
A definição de ‘dinâmico’ divide-se em vários métodos para diversificar um espaço que à
partida é contido. A noção de ‘mínimo’ não se resume à restrição de área útil, mas quando o
espaço é limitado, esforços foram feitos para que essa realidade fosse contornada. Entende-se
a dinamização do espaço como o conjunto de processos utilizados para dissimular a frieza da
fita métrica, criando a ilusão de um espaço mais vasto através da sua versatilidade.
Dada a multiplicidade de soluções possíveis optou-se por debater no presente artigo o modo
de relacionar os diferentes espaços da casa de modo a que tenham utilidade variável.
O presente estudo resultou de um estudo mais alargado, que abarcou cerca de 200 modelos
de habitação subsidiada edificados ou concebidos no decorrer do século XX, e a partir dos
quais se selecionaram os presentes para ilustrar o modo como o recurso a determinados
artifícios pode aumentar sensorialmente ou fisicamente um espaço regra geral reduzido.
1. PRIVAR/PRIVATIZAR/VERSATILIZAR
Um dos denominadores comuns das propostas avaliadas é a de possuírem espaço
condicionado: para além da área reduzida, esta condição implica na versatilidade com que se
usa o espaço doméstico mas também no tipo de serviços oferecidos. É corrente vermos
associadas certas utilidades a desafogo económico, mas que, sem ser luxos, são confortáveis
por permitirem a não sobreposição de usos ou a simultaneidade dos mesmos. Uma lavandaria
evitaria o uso da cozinha no processo de tratamento da roupa, uma casa de banho (banheiro)
de serviço liberaria a principal de usos ligeiros durante o período dos banhos, rentabilizando o
espaço destinado a um número limitado de pessoas. Neste caso estamos não só a contabilizar
área adicional, mas acabamentos e peças sanitárias adicionais, etc.
Ao longo do tempo foram sendo executadas algumas experiências que visavam contornar este
óbice, tentando propor acessos, compartimentações e zonas que aumentassem a privacidade
dos espaços. Trata-se de simular artificialmente uma área ou orçamento de que não se dispõe,
sobrepondo funções num curto intervalo de tempo.
1.1. INSTALAÇÕES SANITÁRIAS
A casa de banho (banheiro) é das divisões da casa que obrigatoriamente todos os membros do
grupo doméstico usam, na maior parte das vezes em horários similares, e em que se sente
mais facilmente a sobrepovoação da célula habitável.
1.1.1. Individualização da sanita (vaso sanitário): um dos processos mais comuns para o
uso simultâneo das instalações sanitárias consiste na separação da sanita das restantes
peças, podendo fazer-se uso desta enquanto noutro espaço se toma banho, faz a barba, etc.
Consiste, por exemplo, numa solução enraizada na cultura francófona, mesmo na habitação
tradicional: Le Corbusier (1887 – 1965) faz uso desta na Unidade Habitacional de Marselha
(1947 – 1952), ainda que as instalações sanitárias se dupliquem: a sanita e a banheira
possuem um espaço próprio, mas existe ainda um chuveiro num espaço anexo e um lavatório
em cada um dos quartos secundários. Na Unidade Habitacional de Nantes (1952 – 1953), de
área bastante mais reduzida, escusam-se a banheira e os lavatórios privados, permanecendo a
sanita única.
Fig. 1 - Unidade Habitacional de Nantes (1952 – 1953), Le Corbusier (1887 – 1965)
É uma solução que se encontra ligada à definição clara de espaços públicos e privados. A
sanita é uma peça que pode ser usada por elementos estranhos ao grupo doméstico, enquanto
a banheira e o lavatório consistem em espaços de uso exclusivo dos habitantes da célula. Não
é por isso estranho que a primeira peça se associe à entrada, como em Grivegnée (1953):
Charles Carlier (? - ?) coloca a sanita ‘à disposição’ do público, mas remete as restantes peças
para a zona dos quartos, definida como área privada/nocturna.
1.1.2. Desconstrução: este processo de separação é levado mais além, sendo proposta por
alguns a individualização de todas as peças sanitárias. Esta solução é usada por Van den
Broek (1898 – 1978) e Bakema (1914 – 1981) em Overschie (1957) (que dispõem cerca de
metade da área bruta de Corbusier: 66m2
face aos 126m2
da Unidade Habitacional de
Marselha) mas constitui neste caso nas únicas instalações sanitárias e não um complemento
das principais.
Fig. 3 - Overschie, 1957, Van den Broek (1898 – 1978) e Bakema (1914 – 1981)
Fig. 2 - Grivegnée (1953), Charles Carlier (… - …)
Embora tenham participado na sua revisão, são considerados como ‘expoentes do Movimento
Moderno’1
, o que se manifesta no cuidado com que a planta é elaborada preservando o espaço
privado. A separação funcional está ligada à disposição das peças sanitárias, pois os quartos
possuem dois lavatórios privados e um chuveiro apenas acessível por estes (permitindo um
percurso circular da casa), estando apenas a sanita à disposição de família e convivas. Pouco
importa que os quartos abram para o hall de entrada ou para a sala pois tudo o que é funções
íntimas se realiza dentro dos mesmos.
Em 1968 Fábio Penteado (1928 - 2011), Vilanova Artigas (1915 – 1985) e Paulo Mendes da
Rocha (1928) apresentam no Complexo Zezinho Magalhães Prado, em São Paulo, uma
solução que consiste em separar o lavatório das restantes peças, colocando-o num espaço que
as antecede. Como não é um espaço encerrado, permite uma utilização livre e o acesso à
sanita e chuveiro em qualquer circunstância. Em Kitagata (1994), o gabinete SANAA2
faz
evoluir este conceito, tornando independentes a sanita e o chuveiro, permanecendo o lavatório
no espaço de circulação (embora de forma muito mais exposta e talvez menos conseguida).
Van den Broek e Bakema resumem a melhor síntese do conjunto, ao proporem um espaço
privado controlado, versátil e contido em área, evitando áreas de distribuição adicionais, o que
1
http//www.answers.com/topic/va-den-broek-bakema-2, [10.2008]
2
Kazuyo Sejima (1956) e Ryue Nishizawa (1966)
Fig. 4 - Complexo Zezinho Magalhães Prado, 1968, Fábio Penteado (1928), Vilanova
Artigas (1915 – 1985) e Paulo Mendes da Rocha (1928),
Fig. 5 - Kitagata (1994 – 1998), Kazuyo Sejima (1956 - …) e Ryue Nishizawa (1966 - …)
se revela fundamental quando se dispõem de uma área útil de 57m2
para albergar um
apartamento com dois quartos.
1.2. ZONAS COMUNS
Uma das principais diferenças entre o espaço comum e o privado de uma casa consiste no
facto do segundo ser constituído por um somatório de unidades independentes. Face ao
comum, em que as unidades que o constituem não se encerram e não têm um acesso limitado
ao ‘proprietário’, os quartos da casa constituem um reduto íntimo em que a entrada é
condicionada. Não é de estranhar que o espaço comum seja território de maior
experimentação, porque é mais fácil unir espaços ou intercomunicá-los. No entanto, o tipo de
trabalho efetuado sobre a sala (living)/cozinha dependeu igualmente das características
próprias de cada população, que se pretendeu rever nas propostas.
1.2.1. Passar pratos…: a mulher como operária, minimização do tempo passado em casa,
refeições ‘pré-fabricadas’: pormenores que levaram á consideração da cozinha como um
espaço menor, eliminando as suas características sociais de convívio entre grupo doméstico e
outros. Esta postura encontra eco no Moderno, mas é em Alexander Klein (1879 – 1961) que
encontramos uma aplicação mais direta deste princípio: Bad Dürrenberg apresenta uma
sucessão de Tipos que vão desde o T2 para 3 pessoas até ao T3 para 6 pessoas em que a
cozinha é a mesma (aumentado apenas a área nesta última proposta): o princípio é o de que a
cozinha apenas se destina a preparar as refeições, função desempenhada por uma única
pessoa, independentemente do número de comensais. A Sala Comum é favorecida, pois o
aumento da área verificado no Público beneficia esta: de acordo com o Tipo, a sala inicia-se
como 19m2
, aumenta para 25m2
, 26m2
, culminando nos 34m2
para, respectivamente T2/3,
T2/4, T3/4 e T3/63
. O contacto entre a cozinha e a sala era realizado por um passa-pratos,
reforçando o carácter laboratorial e oculto do espaço.
Cozinhar em Frankfurt: o expoente desta idealização foi a ‘Cozinha de Frankfurt’,
desenvolvida a partir de 1926 por Margarete Schütte-Lihotzky (1897 – 2000) e usada por Ernst
3
Tx/y, em que x é o número de quartos e y corresponde ao número de camas.
Célula ‘C2’ Célula ‘C9’
Fig. 6 - Bad Dürrenberg (1928), Alexander Klein (1879 – 1961)
Célula ‘C7’ Célula ‘C16’
May (1886 – 1970) na ‘Nova Frankfurt’, conjunto de novos bairros nos quais foram utilizados os
princípios do ‘Existenzminimum’. Este seria o tema do segundo congresso dos CIAM, destinado
a definir parâmetros mínimos de dignidade habitacional, focando aspectos práticos como a
salubridade ou insolação, mas também psíquicos, do Homem. Científica, prática e depurada, a
cozinha de Frankfurt consistia num modelo prefabricado destinado a sair da fábrica
directamente para o canteiro da obra.
Cozinhar em Marselha: Corbusier faz perdurar este Tipo nas suas unidades de habitação,
mas interpretado de modo mais aberto: o balcão fronteiro à cozinha e à sala possui uma
abertura confortável e a parte superior do mesmo consiste numa prateleira de fácil acesso.
Melhora-se o contacto entre os convivas, no que consiste numa evolução da cozinha
funcionalista: esta considera a preparação das refeições um acto único e intervalado, que
antecede o consumo, enquanto Corbusier admite que a preparação faz parte do convívio,
antes, durante e depois da refeição.
1.2.2. Passar pessoas…: o processo acima descrito tem ainda fortes raízes funcionalistas,
postura que esquecia um pouco a humanidade do habitante. As suas necessidades de
relacionamento eram descuradas num ideal de vida asséptico, em que o objetivo era o
‘necessário’ e não o possível. Talvez como reacção, talvez como reflexo de um modo de vida
enraizado, outros processos existem de tornar mais franca a relação entre cozinha e sala, ou
seja, entre as pessoas.
O corredor garante na maior parte dos casos o acesso directo a todas as divisões da casa,
mesmo que se desdobre em dois espaços de modo a controlar o acesso aos quartos. Casos
há em que se incluem os espaços de circulação na zona da sala, o mais ‘público’ dos espaços
e cuja área surge visualmente ampliada. Mas é sempre possível acesso adicional entre cozinha
e sala, resultando num percurso circular em que se acede de diversas formas a estas: a sua
função é a de tornar mais directo o acesso à sala ou ampliar sensorialmente o espaço através
de uma abertura ampla. Não se trata de uma mera porta, pois pode ser pequena, ampla ou
ausente, e também que tipo de sala liga a que tipo de cozinha, ou que espaço da sala liga a
que espaço da cozinha. Cada uma destas soluções esconde uma raiz cultural que revela o tipo
de relações que estabelecem familiarmente ou entre conhecidos e que ganharam o seu lugar
após a tentativa de homogeneização do espaço à escala internacional. Não se trata da
recuperação do modelo burguês de habitar, muito embora a mobília de sala de jantar para
(raras) ocasiões especiais permaneça um hábito muito enraizado entre os países do sul da
Europa (onde funciona como dispositivo de representação).
Após o apogeu do Moderno nos anos anteriores à Segunda Guerra Mundial, nos anos 50
começam a sentir-se algumas mudanças. No geral afectaram toda a concepção da
arquitectura, mas, em particular, o espaço doméstico começa a ser mais sensível às pessoas e
às suas raízes.
Comer a norte: diversos exemplos suportam a existência de diferenças entre os modos de
vida a norte e a sul da Europa. Pode dizer-se que existe uma certa amenização dessas
diferenças nas zonas centrais onde duas influências, mediterrânica (e atlântica) e nórdica
tendem a confluir.
O modo de vida mais liberal dos nórdicos induziu a relações menos rígidas entre os espaços
da casa. No espaço comum da célula, onde se procura interligar os espaços, começa a
desenhar-se um Tipo que parece ser popular no final dos anos 1950: uma cozinha corredor,
perpendicular á fachada, com uma zona para mesa junto desta, aberta para a sala de estar.
Nuno Portas identifica este Tipo4
, mas refere também que na Suécia é comum guardar este
4
Portas, Nuno, ‘A Habitação Social: proposta para a metodologia da sua arquitectura’, Porto: Edições
FAUP, 2004, 1.ª edição, ISBN 972-9483-63-9
espaço para refeições correntes, adicionando uma mobília de jantar mais formal na sala
comum5
.
Exemplares são os apartamentos de Alvar Aalto (1898 – 1976) para a Interbau, em
Hansaviertel, Berlim (1957). A proposta consiste numa cozinha estreita com uma bancada
lateral, acessível desde o hall de entrada, e que culmina numa zona de refeições junto das
janelas. Esta contacta com uma varanda grandes que também se abre para a sala comum.
Ainda em 1957 Kaija e Heikki Siren (1920 – 2001; 1918 – ?) fazem uso do mesmo Tipo em
Otaharju, mas com um segundo balcão de cozinha aberto para a sala. A amplitude destas
aberturas sublinha o aspecto convivial do espaço comum, mas também deriva do facto destes
edifícios consistirem em alojamentos para professores universitários, temporários e menos
circunspectos. E talvez por isso Nils Lonnroth (… - …) reduza as aberturas a uma porta em
Forshagagatan (1959), mantendo contudo o duplo acesso à cozinha a partir do hall de entrada
e da sala de estar. Em nenhum destes casos se exclui a possibilidade de haver um espaço de
refeições mais formal nas salas, dado que a dimensão destas o permite. O mesmo se sucede
em Leninova Trida (1974), de Joseph Polak (? - ?), na República Checa, onde apenas uma
parede separa cozinha e sala.
Fig. 7 - Hansaviertel,
(1957), Alvar Aalto
(1898 – 1976)
Fig. 8 - Otaharju (1957),
Kaija e Heikki Siren
(1920 – 2001; 1918 - ?)
Fig. 9 -
Forshagagatan
(1959), Nils
Lonnroth (? - ?)
Fig. 10 -Leninova
Trida (1974),
Joseph Polak (? -
?)
Aparentada a esta solução é a de Nyem, em Finspäng, na Suécia (1970)6
, onde a cozinha é
central, situando a sala de estar na fachada oposta da zona de refeições. Parecendo apenas
uma deslocalização da sala acaba por parecer uma sala de jantar assumida, apenas
pertencendo à categoria acima porque não existe limite físico entre refeições e preparação.
5
Portas, Nuno, ‘Funções e Exigências de Áreas da Habitação, Informação Técnica: Edifícios’, Lisboa,
Laboratório Nacional de Engenharia Civil, Fevereiro de 1969
6
Bertil Engstrand (1922 - …) e Hans Speek (1920 - …)
Fig. 11 - Nyem, (1970),
Bertil Engstrand (1922
- ?) e Hans Speek (1920
- ?)
Fig. 12 - Barrio
Comasina Nord (1957),
Attilio Mariano (? - ?) e
Carlo Perogalli (1921 –
?)
De referir que a solução em ‘kitchenette’ nunca foi encontrada nos Modelos recolhidos, sendo
preterida a favor de soluções que resguardam a cozinha, mesmo que esta se veja reduzida ao
espaço do balcão e um corredor paralelo, como em Comasina Nord (1957), Milão7
.
Comer a sul: no Pós-Guerra italiano o ‘retorno’ a modos de vida mais convencionais induziu à
escolha de sistemas organizativos onde a cozinha surge como um local privado face a
elementos externos. Outras derivações consistem no ‘nicho’ para a cozinha com uma zona de
refeições anexa (Sorgane, Florença, 1968, por Leonardo Savioli, (1917 – 1981/82), ou ainda a
cozinha espaçosa com espaço de refeições integrado, solução mais tradicional (Tiburtino Est,
Roma, de Federico Gorio (?-?), datado de 1952.
Fig. 13 - Sorgane,
(1968), Leonardo
Savioli, (1917 –
1981/82)
Fig. 14 - Tiburtino Est
(1952), Federico Gorio
(…-…)
Esta passa por ser a situação exemplar do período em causa, mas no entanto foi igualmente
realizado um esforço para fazer evoluir este Tipo doméstico, que se caracterizava por definir
limites precisos entre utilitarismo e formalidade. Se a cozinha era refúgio de muitos labores,
pretendeu-se a determinado momento criar um espaço de uso indiferenciado onde se
pudessem realizar actividades domésticas desligadas do acto de cozinhar. Cria-se o lavoro,
‘espaço não convencional destinado às tarefas domésticas, que frequentemente se impunha
como centro organizativo do fogo’8
. Um exemplo o Núcleo Noncello, 1964, de Giulio Brunetta
(1906 – 1978), onde no ‘lavoro’ entre a cozinha e a sala comum seriam realizadas as tarefas
domésticas, que não sendo do âmbito privado individual, permaneciam privados face às visitas
e aos espaços de representação por estas acedidos: uma pequena mesa de trabalho, uma
tábua de passar a ferro, e claro, a mesa de refeições diárias.
Fig. 15 - Núcleo
Noncello, 1964,
Giulio Brunetta
(1906 – 1978)
Fig. 16 - Massarelos
(1994), Francisco
Barata Fernandes
(1950)
7
Attilio Mariano (? - ?) e Carlo Perogalli (1921 - ?)
8
Bandeirinha, José António, ‘O processo SAAL e a arquitectura no 25 de Abril de 1974’, Coimbra:
Imprensa da Universidade de Coimbra, 2007, ISBN: 978-972-8704-76-6
1.2.3. Passar por…: Espaço de convívio entre família, grupo doméstico e elementos exteriores
ao grupo, a sala permite não ser um espaço totalmente encerrado, adicionando circulações que
permitem criar desafogo visual. A pertinência desta solução encontra-se ligada a modos de
vida menos formais: Nuno Portas desaconselha esta solução, referindo-a mesmo como
incompatível com a entrada da casa por não oferecer resguardo da vida privada da família9
.
Mas é possível contornar esta situação, oferecendo um hall de entrada, com possibilidades de
encerramento, e o corredor integrado na sala, à semelhança da Cooperativa de Massarelos de
Francisco Barata Fernandes.
A nível das aspirações das populações, o desejo de uma casa burguesa nascia da comparação
das suas vidas com a dos mais abastados. As casas operárias ou rurais consistiam num
espaço único onde se desenvolviam todas as actividades, sem privacidade ou conforto,
enquanto a casa burguesa, dividida em espaços consoante os usos, com espaços de aparato e
zonas recatadas, se manifestava como um desejo legítimo.
Mas foi a planta livre que permitiu maior desenvolvimento, pois a distribuição da casa deixa de
obedecer a uma ordem ritmada pelos elementos de suporte. O aproveitamento intencional
deste benefício foi demonstrado por Mies van der Rohe (1886 – 1969) em Weissenhof,
exposição da Deutscher Werkbund (1927). Sem um cliente específico, serve-se desta valência
para variar paredes, portas e espaços para produzir várias modalidades do espaço. A
comunicação entre estes é favorecida, com cozinhas, salas ou quartos a terem mais do que
uma entrada. A sala é espaço de circulação, em muitos casos, mas Mies amplia esse carácter
também aos quartos, o que se revela numa solução possível num T1, mas improvável num T2.
Actualmente têm sido preferidos esquemas que favoreçam a independência da sala, porque a
ambiguidade que na contemporaneidade se pretende atribuir aos espaços de permanência da
casa assim o induz: para que uma sala se possa transformar num quarto, é necessário que a
9
Portas, Nuno, ‘Funções e Exigências de Áreas da Habitação, Informação Técnica: Edifícios’, Lisboa,
Laboratório Nacional de Engenharia Civil, Fevereiro de 1969
Fig. 17 - Bahnhofstrasse, (1992), Florian
Riegler (1954 - ...) e Roger Riewe (1959 - …)
Fig. 18 - Schlesischestrasse (1994), Hilde
Léon (1953 – …) e Konrad Wohlhage (1953 –
2007)
sala possa oferecer o nível de privacidade/conforto que oferece o quarto comum. Se deste se
quiser fazer um escritório ou uma sala, não é necessário produzir alterações na sua estrutura,
já o inverso não é verdade. Assim sendo, em prol dessa ambiguidade pretendida, a sala
encerra-se, ainda que possuindo portas/paredes de correr, que ‘versatilizam’ o seu uso.
Florian Riegler e Roger Riewe (1954 - ?; 1959 - ?) concebem em Bahnhofstrasse uma planta
modulada que sugere a livre apropriação dos espaços: a localização do balcão da cozinha
define o espaço de refeições contíguo, mas a zona de estar pode encontrar-se contida neste
espaço ou junto da fachada oposta. Este espaço pode ainda vir a ser um quarto porque
existem dispositivos de encerramento que o tornam independente.
Hilde Léon e Konrad Wohlhage defendem o mesmo, mas aplicam-no de forma menos evidente
em Schlesischstrasse: no T3 é oferecida uma sala ‘encerrada’ que é de dimensões similares ao
quarto no extremo oposto, o que significa que podem ser intercambiáveis.
1.3. ESPAÇOS PRIVADOS
Como dispositivo de adição de funções ao espaço (mas não de substituição, como no ponto 3)
podem estabelecer-se relações entre os quartos que compõem o fogo. São raros os modelos
onde se pode dizer que existe esta intenção de providenciar mais um uso ao quarto, pois
implica com o espaço privado do seu ocupante: alterar a função deste implica ‘expulsar’ o seu
inquilino, para que se possa ocupar o seu espaço com outra actividade.
Há a possibilidade de complementar o uso do quarto através de actividades que possam ser
exercidas por ambos (ou mais) ocupantes de dois quartos durante um período de tempo que
não se sobreponha à função de dormir. Nuno portas fala da incompatibilidade entre
‘dormir/descanso pessoal’ e o ‘recreio das crianças’10
, mas o facto é que estas não têm de se
realizar simultaneamente, e é também o próprio que afirma que os quartos deveriam ser
dotados de uma zona de expansão ‘como na Unidade Habitacional de Marselha’11
(Figura 5I).
Este exemplo oferece uma porta de correr que une os dois quartos secundários. Mais do que
providenciar uma passagem pretende-se criar um espaço de brincar comum, mantendo o
carácter recolhido da zona destinada à cama.
O já referido projeto de Bahnhofstrasse, de Riegler/Riewe usa duas portas de correr em todos
os espaços da casa. Possuem a dimensão de uma porta normal, e estabelecem uma relação
dinâmica entre espaços comuns e privados, e não apenas entre espaços privados. Este seria o
caso se a sala de estar fosse usada como quarto, o que de resto é possível, pois a lógica que
dita as propostas contemporâneas é precisamente a ambiguidade dos espaços.
1.4. DESVIOS
Propostas há que sobressaem pela sua singularidade, não pelo seu carácter extremo ou
experimental, mas por pequenas características que não influenciam o carácter ‘vivível’ da
célula (o que não é o caso de determinadas utopias).
Uma solução curiosa é a de fornecer um acesso suplementar à casa de banho, através da…
cozinha. Pouco usual, esta proposta parece não ter feito escola, pois apenas se encontra
presente em dois Modelos levantados, e separados por quase vinte anos. Otaharju, em 1957,
cruza as instalações sanitárias por um percurso que vai do hall de entrada à cozinha, e em
Leninova Trida, de 1974, de Joseph Polák (? - ?) faz o mesmo, embora torne a sanita num
espaço independente. Em ambas as células recorre-se ao já referido Tipo nórdico que oferece
10
Portas, Nuno, ‘Funções e Exigências de Áreas da Habitação, Informação Técnica: Edifícios’, Lisboa,
Laboratório Nacional de Engenharia Civil, Fevereiro de 1969
11
Portas, Nuno, ‘A Habitação Social: proposta para a metodologia da sua arquitectura’, Porto: Edições
FAUP, 2004, 1.ª edição, ISBN 972-9483-63-9
a zona de refeições na terminação da cozinha, com uma abertura ampla para a sala. Contudo,
nestes casos, essa abertura consiste no único acesso á cozinha, não havendo uma entrada
‘principal’, como em Hansaviertel. Talvez por isso se tenha considerado um acesso
suplementar à cozinha, de modo a favorecer a dona de casa durante as tarefas domésticas,
mas parece mais bizarro no caso de Polák, em a sanita se encontra separada: apenas se faz
acesso ao lavatório (e banheira), num uso que pode ser desempenhado pela pia da loiça.
Fig. 19 - Otaharju (1957), Kaija e Heikki
Siren (1920 – 2001; 1918 - ?)
Fig. 20 - Leninova Trida (1974), Joseph
Polak (? - ?)
1.5. CONCLUINDO
O artigo apresentado, tal como foi referenciado, nasce da análise de cerca de 200 casos de
estudo de habitação social ou subsidiada. De acordo com os modelos estudados foram
'sugeridos' temas a desenvolver de acordo com as características físicas do mesmo. No
presente caso, optou-se por apresentar as soluções empregues nos modelos para tornar o
espaço menos estático, privilegiando um uso multiplicado de determinadas áreas da casa. Com
isto pretendeu-se contornar a área diminuta, através de soluções que ao longo do tempo
mostraram a sua pertinência, e outras que foram abandonadas.
Dentro da mesma análise, outros temas foram sendo sugeridos (como por exemplo o modo
como a organização da casa manifestava a estrutura familiar, real ou idealizada) que se
formalizaram numa Tese de Doutoramento ('A Célula Mínima na Experiência da Habitação de
Custos Controlados', Pedro Fonseca Jorge, Faculdade de Arquitetura da Universidade do
Porto, 2012). O fundamento deste trabalho não consistiu em estudar habitação social para
fazer habitação social, mas sim produzir uma análise do século XX no âmbito do habitar
(grande território de experimentação), 'descobrindo' soluções empregues por variados autores
(conhecidos e desconhecidos na História 'oficial' da Arquitetura). Na verdade, o objetivo
subjacente foi o de encontrar soluções espaciais que pudessem ser também usadas na
habitação corrente, menos restringida no espaço e no custo. Consequentemente, produzir
casas mais racionais na distribuição social e dotadas de mecanismos que se adaptassem a
soluções atuais.
Num momento em que a família já não é a estrutura do grupo doméstico que habita a casa
torna-se fundamental analisar exemplos, atuais ou precedentes, que permitam tornar versátil o
espaço, adaptando-o a necessidades que se vão alterando em curtos espaços de tempo: a
coabitação entre conhecidos ou desconhecidos é um exemplo contemporâneo, situação que se
pode alterar rapidamente, caso a situação financeira do habitante o permita (por exemplo) ou o
grupo doméstico se altere (de coabitação para matrimónio, aumento do número de familiares).
Permitir essa alteração sem grandes esforços tornou-se por isso uma premissa maior.
Finalmente, no cerne deste artigo e do estudo mais alargado em que se insere pretendeu-se
demonstrar que a História não está morta, oferecendo um catálogo de soluções úteis na
atualidade (mesmo que no tempo em que foram idealizadas se revelassem despropositadas),
porque a sociedade se encontra em constante mutação: o que antes podia não fazer sentido
para o grupo doméstico vigente é agora essencial para as novas necessidades. Resumindo,
trata-se de tentar fazer História com História.
Referências:
Ábalos, Iñaki, ‘A boa-vida, visita guiada às casas da modernidade’, 1ª edição, 2ª reimpressão,
Barcelona. Editorial Gustavo Gili, 2008
ISBN: 978-84-252-1931-3
Aymonino, Carlo, ‘La Vivienda Racional: ponencias de los congresos CIAM 1929-1930’,
Barcelona: Editorial Gustavo Gili, 1973. ISBN 84-252-0755-X
Bandeirinha, José António, ‘O processo SAAL e a arquitectura no 25 de Abril de 1974’,
Coimbra: Imprensa da Universidade de Coimbra, 2007, ISBN: 978-972-8704-76-6
French, Hilary, 'Key Urban Housing of the Twentieth Century', Londres: Laurence King
Publishing Ltd, 2008, pág. 38, ISBN-13: 978 1 85669 564 0
Klein, Alexander, ‘Vivienda Mínima: 1906 - 1957’, Barcelona: Editorial Gustavo Gili, 1980
Monteys, Xavier; Fuertes, Pere, ‘Casa Collage – un ensayo sobre la arquitectura de la casa’,
Barcelona: Editorial Gustavo Gili, pág. 72, 2005, 4ª edição, ISBN 84-252-1869-1
Portas, Nuno, ‘Considerações sobre o organismo distributivo das habitações’, in ‘Arquitectura(s)
– Teoria e Desenho, Investigação e Projecto’, Série 2 – Argumentos, volume 3, Porto: FAUP
Publicações, Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto, 2005, ISBN: 972 9483 71 X
Portas, Nuno, ‘Funções e Exigências de Áreas da Habitação, Informação Técnica: Edifícios’,
Lisboa, Laboratório Nacional de Engenharia Civil, Fevereiro de 1969
Portas, Nuno, ‘A Habitação Social: proposta para a metodologia da sua arquitectura’, Porto:
Edições FAUP, 2004, 1.ª edição, ISBN 972-9483-63-9
Teige, Karel, ‘The Minimum Dwelling’, Cambridge, Massachusetts: The MIT Press, 2002, ISBN
0-262-20136-4

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Dinâmica do espaço na habitação

  • 1. A dinâmica do espaço na habitação mínima Pedro Fonseca Jorge, 1977, Portugal. Formado em arquitectura pela Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto (FAUP), Portugal. Mestre em Intervenção no Património e Doutorando em Habitação Mínima pela mesma instituição. Monitor da disciplina da Projecto II na FAUP no ano lectivo de 2000/2001, orador convidado nos Seminários ‘A walk in the Park’ (Novembro 2011) promovidos pelo Departamento de Arquitectura e Paisagem da Escola Universitária Vasco da Gama. Participação em numerosos seminários e conferências no âmbito dos temas de Habitação e Património em Arquitectura com publicação de artigos revistos por pares, como “23rd ENHR Conference 2011 - ‘Mixité’ : an urban and housing issue ?”, Toulouse, França, 5 a 8 de Julho de 2011 ou “Heritage 2010”, Évora, Portugal, Junho de 2010. Colaboração com a revista de arquitectura Editora Caleidoscópio, por exemplo na revista “Arquitectura Ibérica”, entre outros, de 2006 a 2008. Colaborador no Gabinete de Arquitectura do Professor Doutor Francisco Barata Fernandes de 2000 a 2003, possuindo actividade em nome próprio desde 2003 até à presente data, onde se destacam os projectos “Casa no Figueiral” (Publicada no n.º 23 da revista ‘Arquitectura Ibérica”, Dezembro de 2007 - ISBN: 978-989-8129-28-4 - no texto ‘A profissão do Arquitecto’, e no site e-architect – http://www.e-architect.co.uk/portugal/casa_figueiral.htm#.TrhAv- Zhg19.blogger) e ainda a “Casa na Cruz de Oliveira” (Publicada na revista ‘New Generation: Arquitectos - Architetti under 40,Porto (Portugal) / Pisa (Italia)’, nº 2/2008, da colecção “Bilblioteca Architetture” da editora ‘Edizioni ETS’). Resumo Existem actualmente Grupos Domésticos indefinidos para os quais urge por isso encontrar novas soluções. Sendo a História operativa procedeu-se à recolha de Modelos do Habitar que façam do uso do espaço dinâmico como fonte para criação de novos Tipos. Resumen Las familias de hoy tienen nuevas características para las cuales nuevas soluciones de vivienda son necesarias. Utilizando la historia como fuente se han recopilado varios modelos que utilizan espacios dinámicos con el fin de inspirar nuevos tipos de vivienda. Abstract Today’s Households have undefined features for which new housing solutions are needed. Using History as a source several Models that use dynamic spaces where collected in order to inspire new Housing Types for new uses. 1. CONCEITO A definição de ‘dinâmico’ divide-se em vários métodos para diversificar um espaço que à partida é contido. A noção de ‘mínimo’ não se resume à restrição de área útil, mas quando o espaço é limitado, esforços foram feitos para que essa realidade fosse contornada. Entende-se a dinamização do espaço como o conjunto de processos utilizados para dissimular a frieza da fita métrica, criando a ilusão de um espaço mais vasto através da sua versatilidade.
  • 2. Dada a multiplicidade de soluções possíveis optou-se por debater no presente artigo o modo de relacionar os diferentes espaços da casa de modo a que tenham utilidade variável. O presente estudo resultou de um estudo mais alargado, que abarcou cerca de 200 modelos de habitação subsidiada edificados ou concebidos no decorrer do século XX, e a partir dos quais se selecionaram os presentes para ilustrar o modo como o recurso a determinados artifícios pode aumentar sensorialmente ou fisicamente um espaço regra geral reduzido. 1. PRIVAR/PRIVATIZAR/VERSATILIZAR Um dos denominadores comuns das propostas avaliadas é a de possuírem espaço condicionado: para além da área reduzida, esta condição implica na versatilidade com que se usa o espaço doméstico mas também no tipo de serviços oferecidos. É corrente vermos associadas certas utilidades a desafogo económico, mas que, sem ser luxos, são confortáveis por permitirem a não sobreposição de usos ou a simultaneidade dos mesmos. Uma lavandaria evitaria o uso da cozinha no processo de tratamento da roupa, uma casa de banho (banheiro) de serviço liberaria a principal de usos ligeiros durante o período dos banhos, rentabilizando o espaço destinado a um número limitado de pessoas. Neste caso estamos não só a contabilizar área adicional, mas acabamentos e peças sanitárias adicionais, etc. Ao longo do tempo foram sendo executadas algumas experiências que visavam contornar este óbice, tentando propor acessos, compartimentações e zonas que aumentassem a privacidade dos espaços. Trata-se de simular artificialmente uma área ou orçamento de que não se dispõe, sobrepondo funções num curto intervalo de tempo. 1.1. INSTALAÇÕES SANITÁRIAS A casa de banho (banheiro) é das divisões da casa que obrigatoriamente todos os membros do grupo doméstico usam, na maior parte das vezes em horários similares, e em que se sente mais facilmente a sobrepovoação da célula habitável. 1.1.1. Individualização da sanita (vaso sanitário): um dos processos mais comuns para o uso simultâneo das instalações sanitárias consiste na separação da sanita das restantes peças, podendo fazer-se uso desta enquanto noutro espaço se toma banho, faz a barba, etc. Consiste, por exemplo, numa solução enraizada na cultura francófona, mesmo na habitação tradicional: Le Corbusier (1887 – 1965) faz uso desta na Unidade Habitacional de Marselha (1947 – 1952), ainda que as instalações sanitárias se dupliquem: a sanita e a banheira possuem um espaço próprio, mas existe ainda um chuveiro num espaço anexo e um lavatório em cada um dos quartos secundários. Na Unidade Habitacional de Nantes (1952 – 1953), de área bastante mais reduzida, escusam-se a banheira e os lavatórios privados, permanecendo a sanita única. Fig. 1 - Unidade Habitacional de Nantes (1952 – 1953), Le Corbusier (1887 – 1965)
  • 3. É uma solução que se encontra ligada à definição clara de espaços públicos e privados. A sanita é uma peça que pode ser usada por elementos estranhos ao grupo doméstico, enquanto a banheira e o lavatório consistem em espaços de uso exclusivo dos habitantes da célula. Não é por isso estranho que a primeira peça se associe à entrada, como em Grivegnée (1953): Charles Carlier (? - ?) coloca a sanita ‘à disposição’ do público, mas remete as restantes peças para a zona dos quartos, definida como área privada/nocturna. 1.1.2. Desconstrução: este processo de separação é levado mais além, sendo proposta por alguns a individualização de todas as peças sanitárias. Esta solução é usada por Van den Broek (1898 – 1978) e Bakema (1914 – 1981) em Overschie (1957) (que dispõem cerca de metade da área bruta de Corbusier: 66m2 face aos 126m2 da Unidade Habitacional de Marselha) mas constitui neste caso nas únicas instalações sanitárias e não um complemento das principais. Fig. 3 - Overschie, 1957, Van den Broek (1898 – 1978) e Bakema (1914 – 1981) Fig. 2 - Grivegnée (1953), Charles Carlier (… - …)
  • 4. Embora tenham participado na sua revisão, são considerados como ‘expoentes do Movimento Moderno’1 , o que se manifesta no cuidado com que a planta é elaborada preservando o espaço privado. A separação funcional está ligada à disposição das peças sanitárias, pois os quartos possuem dois lavatórios privados e um chuveiro apenas acessível por estes (permitindo um percurso circular da casa), estando apenas a sanita à disposição de família e convivas. Pouco importa que os quartos abram para o hall de entrada ou para a sala pois tudo o que é funções íntimas se realiza dentro dos mesmos. Em 1968 Fábio Penteado (1928 - 2011), Vilanova Artigas (1915 – 1985) e Paulo Mendes da Rocha (1928) apresentam no Complexo Zezinho Magalhães Prado, em São Paulo, uma solução que consiste em separar o lavatório das restantes peças, colocando-o num espaço que as antecede. Como não é um espaço encerrado, permite uma utilização livre e o acesso à sanita e chuveiro em qualquer circunstância. Em Kitagata (1994), o gabinete SANAA2 faz evoluir este conceito, tornando independentes a sanita e o chuveiro, permanecendo o lavatório no espaço de circulação (embora de forma muito mais exposta e talvez menos conseguida). Van den Broek e Bakema resumem a melhor síntese do conjunto, ao proporem um espaço privado controlado, versátil e contido em área, evitando áreas de distribuição adicionais, o que 1 http//www.answers.com/topic/va-den-broek-bakema-2, [10.2008] 2 Kazuyo Sejima (1956) e Ryue Nishizawa (1966) Fig. 4 - Complexo Zezinho Magalhães Prado, 1968, Fábio Penteado (1928), Vilanova Artigas (1915 – 1985) e Paulo Mendes da Rocha (1928), Fig. 5 - Kitagata (1994 – 1998), Kazuyo Sejima (1956 - …) e Ryue Nishizawa (1966 - …)
  • 5. se revela fundamental quando se dispõem de uma área útil de 57m2 para albergar um apartamento com dois quartos. 1.2. ZONAS COMUNS Uma das principais diferenças entre o espaço comum e o privado de uma casa consiste no facto do segundo ser constituído por um somatório de unidades independentes. Face ao comum, em que as unidades que o constituem não se encerram e não têm um acesso limitado ao ‘proprietário’, os quartos da casa constituem um reduto íntimo em que a entrada é condicionada. Não é de estranhar que o espaço comum seja território de maior experimentação, porque é mais fácil unir espaços ou intercomunicá-los. No entanto, o tipo de trabalho efetuado sobre a sala (living)/cozinha dependeu igualmente das características próprias de cada população, que se pretendeu rever nas propostas. 1.2.1. Passar pratos…: a mulher como operária, minimização do tempo passado em casa, refeições ‘pré-fabricadas’: pormenores que levaram á consideração da cozinha como um espaço menor, eliminando as suas características sociais de convívio entre grupo doméstico e outros. Esta postura encontra eco no Moderno, mas é em Alexander Klein (1879 – 1961) que encontramos uma aplicação mais direta deste princípio: Bad Dürrenberg apresenta uma sucessão de Tipos que vão desde o T2 para 3 pessoas até ao T3 para 6 pessoas em que a cozinha é a mesma (aumentado apenas a área nesta última proposta): o princípio é o de que a cozinha apenas se destina a preparar as refeições, função desempenhada por uma única pessoa, independentemente do número de comensais. A Sala Comum é favorecida, pois o aumento da área verificado no Público beneficia esta: de acordo com o Tipo, a sala inicia-se como 19m2 , aumenta para 25m2 , 26m2 , culminando nos 34m2 para, respectivamente T2/3, T2/4, T3/4 e T3/63 . O contacto entre a cozinha e a sala era realizado por um passa-pratos, reforçando o carácter laboratorial e oculto do espaço. Cozinhar em Frankfurt: o expoente desta idealização foi a ‘Cozinha de Frankfurt’, desenvolvida a partir de 1926 por Margarete Schütte-Lihotzky (1897 – 2000) e usada por Ernst 3 Tx/y, em que x é o número de quartos e y corresponde ao número de camas. Célula ‘C2’ Célula ‘C9’ Fig. 6 - Bad Dürrenberg (1928), Alexander Klein (1879 – 1961) Célula ‘C7’ Célula ‘C16’
  • 6. May (1886 – 1970) na ‘Nova Frankfurt’, conjunto de novos bairros nos quais foram utilizados os princípios do ‘Existenzminimum’. Este seria o tema do segundo congresso dos CIAM, destinado a definir parâmetros mínimos de dignidade habitacional, focando aspectos práticos como a salubridade ou insolação, mas também psíquicos, do Homem. Científica, prática e depurada, a cozinha de Frankfurt consistia num modelo prefabricado destinado a sair da fábrica directamente para o canteiro da obra. Cozinhar em Marselha: Corbusier faz perdurar este Tipo nas suas unidades de habitação, mas interpretado de modo mais aberto: o balcão fronteiro à cozinha e à sala possui uma abertura confortável e a parte superior do mesmo consiste numa prateleira de fácil acesso. Melhora-se o contacto entre os convivas, no que consiste numa evolução da cozinha funcionalista: esta considera a preparação das refeições um acto único e intervalado, que antecede o consumo, enquanto Corbusier admite que a preparação faz parte do convívio, antes, durante e depois da refeição. 1.2.2. Passar pessoas…: o processo acima descrito tem ainda fortes raízes funcionalistas, postura que esquecia um pouco a humanidade do habitante. As suas necessidades de relacionamento eram descuradas num ideal de vida asséptico, em que o objetivo era o ‘necessário’ e não o possível. Talvez como reacção, talvez como reflexo de um modo de vida enraizado, outros processos existem de tornar mais franca a relação entre cozinha e sala, ou seja, entre as pessoas. O corredor garante na maior parte dos casos o acesso directo a todas as divisões da casa, mesmo que se desdobre em dois espaços de modo a controlar o acesso aos quartos. Casos há em que se incluem os espaços de circulação na zona da sala, o mais ‘público’ dos espaços e cuja área surge visualmente ampliada. Mas é sempre possível acesso adicional entre cozinha e sala, resultando num percurso circular em que se acede de diversas formas a estas: a sua função é a de tornar mais directo o acesso à sala ou ampliar sensorialmente o espaço através de uma abertura ampla. Não se trata de uma mera porta, pois pode ser pequena, ampla ou ausente, e também que tipo de sala liga a que tipo de cozinha, ou que espaço da sala liga a que espaço da cozinha. Cada uma destas soluções esconde uma raiz cultural que revela o tipo de relações que estabelecem familiarmente ou entre conhecidos e que ganharam o seu lugar após a tentativa de homogeneização do espaço à escala internacional. Não se trata da recuperação do modelo burguês de habitar, muito embora a mobília de sala de jantar para (raras) ocasiões especiais permaneça um hábito muito enraizado entre os países do sul da Europa (onde funciona como dispositivo de representação). Após o apogeu do Moderno nos anos anteriores à Segunda Guerra Mundial, nos anos 50 começam a sentir-se algumas mudanças. No geral afectaram toda a concepção da arquitectura, mas, em particular, o espaço doméstico começa a ser mais sensível às pessoas e às suas raízes. Comer a norte: diversos exemplos suportam a existência de diferenças entre os modos de vida a norte e a sul da Europa. Pode dizer-se que existe uma certa amenização dessas diferenças nas zonas centrais onde duas influências, mediterrânica (e atlântica) e nórdica tendem a confluir. O modo de vida mais liberal dos nórdicos induziu a relações menos rígidas entre os espaços da casa. No espaço comum da célula, onde se procura interligar os espaços, começa a desenhar-se um Tipo que parece ser popular no final dos anos 1950: uma cozinha corredor, perpendicular á fachada, com uma zona para mesa junto desta, aberta para a sala de estar. Nuno Portas identifica este Tipo4 , mas refere também que na Suécia é comum guardar este 4 Portas, Nuno, ‘A Habitação Social: proposta para a metodologia da sua arquitectura’, Porto: Edições FAUP, 2004, 1.ª edição, ISBN 972-9483-63-9
  • 7. espaço para refeições correntes, adicionando uma mobília de jantar mais formal na sala comum5 . Exemplares são os apartamentos de Alvar Aalto (1898 – 1976) para a Interbau, em Hansaviertel, Berlim (1957). A proposta consiste numa cozinha estreita com uma bancada lateral, acessível desde o hall de entrada, e que culmina numa zona de refeições junto das janelas. Esta contacta com uma varanda grandes que também se abre para a sala comum. Ainda em 1957 Kaija e Heikki Siren (1920 – 2001; 1918 – ?) fazem uso do mesmo Tipo em Otaharju, mas com um segundo balcão de cozinha aberto para a sala. A amplitude destas aberturas sublinha o aspecto convivial do espaço comum, mas também deriva do facto destes edifícios consistirem em alojamentos para professores universitários, temporários e menos circunspectos. E talvez por isso Nils Lonnroth (… - …) reduza as aberturas a uma porta em Forshagagatan (1959), mantendo contudo o duplo acesso à cozinha a partir do hall de entrada e da sala de estar. Em nenhum destes casos se exclui a possibilidade de haver um espaço de refeições mais formal nas salas, dado que a dimensão destas o permite. O mesmo se sucede em Leninova Trida (1974), de Joseph Polak (? - ?), na República Checa, onde apenas uma parede separa cozinha e sala. Fig. 7 - Hansaviertel, (1957), Alvar Aalto (1898 – 1976) Fig. 8 - Otaharju (1957), Kaija e Heikki Siren (1920 – 2001; 1918 - ?) Fig. 9 - Forshagagatan (1959), Nils Lonnroth (? - ?) Fig. 10 -Leninova Trida (1974), Joseph Polak (? - ?) Aparentada a esta solução é a de Nyem, em Finspäng, na Suécia (1970)6 , onde a cozinha é central, situando a sala de estar na fachada oposta da zona de refeições. Parecendo apenas uma deslocalização da sala acaba por parecer uma sala de jantar assumida, apenas pertencendo à categoria acima porque não existe limite físico entre refeições e preparação. 5 Portas, Nuno, ‘Funções e Exigências de Áreas da Habitação, Informação Técnica: Edifícios’, Lisboa, Laboratório Nacional de Engenharia Civil, Fevereiro de 1969 6 Bertil Engstrand (1922 - …) e Hans Speek (1920 - …) Fig. 11 - Nyem, (1970), Bertil Engstrand (1922 - ?) e Hans Speek (1920 - ?) Fig. 12 - Barrio Comasina Nord (1957), Attilio Mariano (? - ?) e Carlo Perogalli (1921 – ?)
  • 8. De referir que a solução em ‘kitchenette’ nunca foi encontrada nos Modelos recolhidos, sendo preterida a favor de soluções que resguardam a cozinha, mesmo que esta se veja reduzida ao espaço do balcão e um corredor paralelo, como em Comasina Nord (1957), Milão7 . Comer a sul: no Pós-Guerra italiano o ‘retorno’ a modos de vida mais convencionais induziu à escolha de sistemas organizativos onde a cozinha surge como um local privado face a elementos externos. Outras derivações consistem no ‘nicho’ para a cozinha com uma zona de refeições anexa (Sorgane, Florença, 1968, por Leonardo Savioli, (1917 – 1981/82), ou ainda a cozinha espaçosa com espaço de refeições integrado, solução mais tradicional (Tiburtino Est, Roma, de Federico Gorio (?-?), datado de 1952. Fig. 13 - Sorgane, (1968), Leonardo Savioli, (1917 – 1981/82) Fig. 14 - Tiburtino Est (1952), Federico Gorio (…-…) Esta passa por ser a situação exemplar do período em causa, mas no entanto foi igualmente realizado um esforço para fazer evoluir este Tipo doméstico, que se caracterizava por definir limites precisos entre utilitarismo e formalidade. Se a cozinha era refúgio de muitos labores, pretendeu-se a determinado momento criar um espaço de uso indiferenciado onde se pudessem realizar actividades domésticas desligadas do acto de cozinhar. Cria-se o lavoro, ‘espaço não convencional destinado às tarefas domésticas, que frequentemente se impunha como centro organizativo do fogo’8 . Um exemplo o Núcleo Noncello, 1964, de Giulio Brunetta (1906 – 1978), onde no ‘lavoro’ entre a cozinha e a sala comum seriam realizadas as tarefas domésticas, que não sendo do âmbito privado individual, permaneciam privados face às visitas e aos espaços de representação por estas acedidos: uma pequena mesa de trabalho, uma tábua de passar a ferro, e claro, a mesa de refeições diárias. Fig. 15 - Núcleo Noncello, 1964, Giulio Brunetta (1906 – 1978) Fig. 16 - Massarelos (1994), Francisco Barata Fernandes (1950) 7 Attilio Mariano (? - ?) e Carlo Perogalli (1921 - ?) 8 Bandeirinha, José António, ‘O processo SAAL e a arquitectura no 25 de Abril de 1974’, Coimbra: Imprensa da Universidade de Coimbra, 2007, ISBN: 978-972-8704-76-6
  • 9. 1.2.3. Passar por…: Espaço de convívio entre família, grupo doméstico e elementos exteriores ao grupo, a sala permite não ser um espaço totalmente encerrado, adicionando circulações que permitem criar desafogo visual. A pertinência desta solução encontra-se ligada a modos de vida menos formais: Nuno Portas desaconselha esta solução, referindo-a mesmo como incompatível com a entrada da casa por não oferecer resguardo da vida privada da família9 . Mas é possível contornar esta situação, oferecendo um hall de entrada, com possibilidades de encerramento, e o corredor integrado na sala, à semelhança da Cooperativa de Massarelos de Francisco Barata Fernandes. A nível das aspirações das populações, o desejo de uma casa burguesa nascia da comparação das suas vidas com a dos mais abastados. As casas operárias ou rurais consistiam num espaço único onde se desenvolviam todas as actividades, sem privacidade ou conforto, enquanto a casa burguesa, dividida em espaços consoante os usos, com espaços de aparato e zonas recatadas, se manifestava como um desejo legítimo. Mas foi a planta livre que permitiu maior desenvolvimento, pois a distribuição da casa deixa de obedecer a uma ordem ritmada pelos elementos de suporte. O aproveitamento intencional deste benefício foi demonstrado por Mies van der Rohe (1886 – 1969) em Weissenhof, exposição da Deutscher Werkbund (1927). Sem um cliente específico, serve-se desta valência para variar paredes, portas e espaços para produzir várias modalidades do espaço. A comunicação entre estes é favorecida, com cozinhas, salas ou quartos a terem mais do que uma entrada. A sala é espaço de circulação, em muitos casos, mas Mies amplia esse carácter também aos quartos, o que se revela numa solução possível num T1, mas improvável num T2. Actualmente têm sido preferidos esquemas que favoreçam a independência da sala, porque a ambiguidade que na contemporaneidade se pretende atribuir aos espaços de permanência da casa assim o induz: para que uma sala se possa transformar num quarto, é necessário que a 9 Portas, Nuno, ‘Funções e Exigências de Áreas da Habitação, Informação Técnica: Edifícios’, Lisboa, Laboratório Nacional de Engenharia Civil, Fevereiro de 1969 Fig. 17 - Bahnhofstrasse, (1992), Florian Riegler (1954 - ...) e Roger Riewe (1959 - …) Fig. 18 - Schlesischestrasse (1994), Hilde Léon (1953 – …) e Konrad Wohlhage (1953 – 2007)
  • 10. sala possa oferecer o nível de privacidade/conforto que oferece o quarto comum. Se deste se quiser fazer um escritório ou uma sala, não é necessário produzir alterações na sua estrutura, já o inverso não é verdade. Assim sendo, em prol dessa ambiguidade pretendida, a sala encerra-se, ainda que possuindo portas/paredes de correr, que ‘versatilizam’ o seu uso. Florian Riegler e Roger Riewe (1954 - ?; 1959 - ?) concebem em Bahnhofstrasse uma planta modulada que sugere a livre apropriação dos espaços: a localização do balcão da cozinha define o espaço de refeições contíguo, mas a zona de estar pode encontrar-se contida neste espaço ou junto da fachada oposta. Este espaço pode ainda vir a ser um quarto porque existem dispositivos de encerramento que o tornam independente. Hilde Léon e Konrad Wohlhage defendem o mesmo, mas aplicam-no de forma menos evidente em Schlesischstrasse: no T3 é oferecida uma sala ‘encerrada’ que é de dimensões similares ao quarto no extremo oposto, o que significa que podem ser intercambiáveis. 1.3. ESPAÇOS PRIVADOS Como dispositivo de adição de funções ao espaço (mas não de substituição, como no ponto 3) podem estabelecer-se relações entre os quartos que compõem o fogo. São raros os modelos onde se pode dizer que existe esta intenção de providenciar mais um uso ao quarto, pois implica com o espaço privado do seu ocupante: alterar a função deste implica ‘expulsar’ o seu inquilino, para que se possa ocupar o seu espaço com outra actividade. Há a possibilidade de complementar o uso do quarto através de actividades que possam ser exercidas por ambos (ou mais) ocupantes de dois quartos durante um período de tempo que não se sobreponha à função de dormir. Nuno portas fala da incompatibilidade entre ‘dormir/descanso pessoal’ e o ‘recreio das crianças’10 , mas o facto é que estas não têm de se realizar simultaneamente, e é também o próprio que afirma que os quartos deveriam ser dotados de uma zona de expansão ‘como na Unidade Habitacional de Marselha’11 (Figura 5I). Este exemplo oferece uma porta de correr que une os dois quartos secundários. Mais do que providenciar uma passagem pretende-se criar um espaço de brincar comum, mantendo o carácter recolhido da zona destinada à cama. O já referido projeto de Bahnhofstrasse, de Riegler/Riewe usa duas portas de correr em todos os espaços da casa. Possuem a dimensão de uma porta normal, e estabelecem uma relação dinâmica entre espaços comuns e privados, e não apenas entre espaços privados. Este seria o caso se a sala de estar fosse usada como quarto, o que de resto é possível, pois a lógica que dita as propostas contemporâneas é precisamente a ambiguidade dos espaços. 1.4. DESVIOS Propostas há que sobressaem pela sua singularidade, não pelo seu carácter extremo ou experimental, mas por pequenas características que não influenciam o carácter ‘vivível’ da célula (o que não é o caso de determinadas utopias). Uma solução curiosa é a de fornecer um acesso suplementar à casa de banho, através da… cozinha. Pouco usual, esta proposta parece não ter feito escola, pois apenas se encontra presente em dois Modelos levantados, e separados por quase vinte anos. Otaharju, em 1957, cruza as instalações sanitárias por um percurso que vai do hall de entrada à cozinha, e em Leninova Trida, de 1974, de Joseph Polák (? - ?) faz o mesmo, embora torne a sanita num espaço independente. Em ambas as células recorre-se ao já referido Tipo nórdico que oferece 10 Portas, Nuno, ‘Funções e Exigências de Áreas da Habitação, Informação Técnica: Edifícios’, Lisboa, Laboratório Nacional de Engenharia Civil, Fevereiro de 1969 11 Portas, Nuno, ‘A Habitação Social: proposta para a metodologia da sua arquitectura’, Porto: Edições FAUP, 2004, 1.ª edição, ISBN 972-9483-63-9
  • 11. a zona de refeições na terminação da cozinha, com uma abertura ampla para a sala. Contudo, nestes casos, essa abertura consiste no único acesso á cozinha, não havendo uma entrada ‘principal’, como em Hansaviertel. Talvez por isso se tenha considerado um acesso suplementar à cozinha, de modo a favorecer a dona de casa durante as tarefas domésticas, mas parece mais bizarro no caso de Polák, em a sanita se encontra separada: apenas se faz acesso ao lavatório (e banheira), num uso que pode ser desempenhado pela pia da loiça. Fig. 19 - Otaharju (1957), Kaija e Heikki Siren (1920 – 2001; 1918 - ?) Fig. 20 - Leninova Trida (1974), Joseph Polak (? - ?) 1.5. CONCLUINDO O artigo apresentado, tal como foi referenciado, nasce da análise de cerca de 200 casos de estudo de habitação social ou subsidiada. De acordo com os modelos estudados foram 'sugeridos' temas a desenvolver de acordo com as características físicas do mesmo. No presente caso, optou-se por apresentar as soluções empregues nos modelos para tornar o espaço menos estático, privilegiando um uso multiplicado de determinadas áreas da casa. Com isto pretendeu-se contornar a área diminuta, através de soluções que ao longo do tempo mostraram a sua pertinência, e outras que foram abandonadas. Dentro da mesma análise, outros temas foram sendo sugeridos (como por exemplo o modo como a organização da casa manifestava a estrutura familiar, real ou idealizada) que se formalizaram numa Tese de Doutoramento ('A Célula Mínima na Experiência da Habitação de Custos Controlados', Pedro Fonseca Jorge, Faculdade de Arquitetura da Universidade do Porto, 2012). O fundamento deste trabalho não consistiu em estudar habitação social para fazer habitação social, mas sim produzir uma análise do século XX no âmbito do habitar (grande território de experimentação), 'descobrindo' soluções empregues por variados autores (conhecidos e desconhecidos na História 'oficial' da Arquitetura). Na verdade, o objetivo subjacente foi o de encontrar soluções espaciais que pudessem ser também usadas na habitação corrente, menos restringida no espaço e no custo. Consequentemente, produzir casas mais racionais na distribuição social e dotadas de mecanismos que se adaptassem a soluções atuais. Num momento em que a família já não é a estrutura do grupo doméstico que habita a casa torna-se fundamental analisar exemplos, atuais ou precedentes, que permitam tornar versátil o espaço, adaptando-o a necessidades que se vão alterando em curtos espaços de tempo: a
  • 12. coabitação entre conhecidos ou desconhecidos é um exemplo contemporâneo, situação que se pode alterar rapidamente, caso a situação financeira do habitante o permita (por exemplo) ou o grupo doméstico se altere (de coabitação para matrimónio, aumento do número de familiares). Permitir essa alteração sem grandes esforços tornou-se por isso uma premissa maior. Finalmente, no cerne deste artigo e do estudo mais alargado em que se insere pretendeu-se demonstrar que a História não está morta, oferecendo um catálogo de soluções úteis na atualidade (mesmo que no tempo em que foram idealizadas se revelassem despropositadas), porque a sociedade se encontra em constante mutação: o que antes podia não fazer sentido para o grupo doméstico vigente é agora essencial para as novas necessidades. Resumindo, trata-se de tentar fazer História com História.
  • 13. Referências: Ábalos, Iñaki, ‘A boa-vida, visita guiada às casas da modernidade’, 1ª edição, 2ª reimpressão, Barcelona. Editorial Gustavo Gili, 2008 ISBN: 978-84-252-1931-3 Aymonino, Carlo, ‘La Vivienda Racional: ponencias de los congresos CIAM 1929-1930’, Barcelona: Editorial Gustavo Gili, 1973. ISBN 84-252-0755-X Bandeirinha, José António, ‘O processo SAAL e a arquitectura no 25 de Abril de 1974’, Coimbra: Imprensa da Universidade de Coimbra, 2007, ISBN: 978-972-8704-76-6 French, Hilary, 'Key Urban Housing of the Twentieth Century', Londres: Laurence King Publishing Ltd, 2008, pág. 38, ISBN-13: 978 1 85669 564 0 Klein, Alexander, ‘Vivienda Mínima: 1906 - 1957’, Barcelona: Editorial Gustavo Gili, 1980 Monteys, Xavier; Fuertes, Pere, ‘Casa Collage – un ensayo sobre la arquitectura de la casa’, Barcelona: Editorial Gustavo Gili, pág. 72, 2005, 4ª edição, ISBN 84-252-1869-1 Portas, Nuno, ‘Considerações sobre o organismo distributivo das habitações’, in ‘Arquitectura(s) – Teoria e Desenho, Investigação e Projecto’, Série 2 – Argumentos, volume 3, Porto: FAUP Publicações, Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto, 2005, ISBN: 972 9483 71 X Portas, Nuno, ‘Funções e Exigências de Áreas da Habitação, Informação Técnica: Edifícios’, Lisboa, Laboratório Nacional de Engenharia Civil, Fevereiro de 1969 Portas, Nuno, ‘A Habitação Social: proposta para a metodologia da sua arquitectura’, Porto: Edições FAUP, 2004, 1.ª edição, ISBN 972-9483-63-9 Teige, Karel, ‘The Minimum Dwelling’, Cambridge, Massachusetts: The MIT Press, 2002, ISBN 0-262-20136-4