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SARLO, Beatriz. Cenas da vida pós-Moderna: intelectuais, 
artes e videocultura. 3ed. Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 
2004. P.13-98 
QUEM É BEATRIZ SARLO: 
Beatriz Sarlo nasceu em Buenos Aires e é professora de literatura argentina na Universidade 
de Buenos Aires, tendo já trabalhado sobre literatura popular, história da imprensa, cinema, 
cultura de massas e o papel dos intelectuais. 
SOBRE O LIVRO: 
Sarlo em Cenas da vida pós-moderna: intelectuais, arte e videocultura na Argentina apresenta 
uma série de textos que discutem a transformação da cidade, os shoppings centers, o lugar do 
mercado, a juventude atual, os videogames, além da arte e do papel dos intelectuais neste 
começo de século XXI na América Latina. 
Sarlo propõe um debate sobre o papel da cultura de massa e de consumo nos países latino-americanos 
mergulhados na lógica da globalização e funcionando sob forte influência das leis 
do mercado. Sua perspectiva de oposição ao neoliberalismo é fruto de uma análise 
extremamente complexa e atual. Ela não tem medo de dizer o que pensa e tem uma profunda 
sensibilidade para o "modus vivendi" urbano e pós moderno. 
Seu livro é uma coletânea de artigos, divididos em cinco capítulos intitulados: "Abundância e 
pobreza", "O sonho acordado", "Culturas populares, velhas e novas", "O lugar da arte" e 
"Intelectuais". Em cada um deles trata de assuntos distintos sempre a partir da experiência 
argentina. Entretanto, suas reflexões servem para um mapa geográfico bem mais amplo. 
CAPÍTULO I - "ABUNDÂNCIA E POBREZA" 
O capítulo está subdividido em 4 subtítulos: cidade, mercado, jovens e videogames. 
No primeiro subtítulo – Cidade - discute a atual padronização das cidades sem "centro", 
distintas dos modelos clássicos europeus, onde o coração da cidade era o espaço geográfico e 
simbólico mais importante, local onde se encontravam os monumentos, a vida comercial, os 
cinemas, os restaurantes, além de luzes, cores e ruídos. Hoje isso mudou com a transferência 
para o shopping center deste papel de aglutinador de pessoas e serviços dentro de um 
ambiente artificial e impregnado pela "estética do mercado". 
p.18 
“...os shoppings podem ser vistos como os monumentos de um novo civismo... nos shoppings 
os cidadãos desempenham papéis diferentes: uns compram, outros simplesmente olham e 
admiram... Tem a atmosfera irreal de uma cidade em miniatura, porque foi construído muito 
rápido e não conheceu vacilações, marchas e contramarchas, correções, destruição, 
influências de projetos mais amplos. A história está ausente, e quando existe ... é usada para 
desempenhar um papel servil, convertendo-se em decoração banal.” “... a história é tratada 
como souvenir...” “...o shopping sofre de uma amnésia necessária ao bom andamento de seus 
negócios, porque se os traços da história forem evidentes demais, superando a função 
decorativa, o shopping viveria um choque de funções e sentidos: p/ o shopping a única 
máquina semiótica e a de seu próprio projeto.”
E para a autora, os shoppings se definem como espaços desterrritorializados, espaços de 
não pertencimento. Todos os shopping centers se parecem e são lugares sem orientação e 
onde o tempo é suspenso. Não se distingue dia e noite e geralmente não há relógios à mostra. 
Diferentemente do flâneur que se perdia pelas ruas e galerias de Paris, como chama a atenção 
Walter Benjamin, o freqüentador dos shoppings atuais encontra nele uma vertente da cidade 
que não vê lá fora: limpa, segura, com serviços e acesso a qualquer hora. Mas para Sarlo este 
não deve ser pensado como o espaço público, ao contrário, ele representa "o espelho de uma 
crise do espaço público" (p.22). 
No segundo subtítulo – Mercado 
p. 25 
“... E quem sonha esses sonhos? A cultura sonha, somos sonhados por ícones da cultura. 
Somos sonhados por ícones da cultura. Somos livremente sonhados pelas capas de revistas, 
pelos cartazes, pela publicidade, pela moda... a instabilidade da sociedade moderna se 
compensa no lar dos sonhos, onde com os retalhos de todos os lados conseguimos operar a 
“linguagem da nossa identidade social”. 
p.26 
“...As identidades, dizem, quebraram. Em seu lugar não ficou o vazio, mas o mercado... 
Sonhamos com as coisas que estão no mercado. ... O desejo do novo é, por definição, 
inextinguível. ... o novo se impõe com seu moto-perpétuo. 
Sujeito – colecionador às avessas. Em vez de colecionar objetos, coleciona atos de aquisição 
de objetos. 
p.27 
... o colecionador às avessas sabe que os objetos que adquire desvalorizam-se assim que ele 
os agarra. ... Ele coleciona atos de compra-e-venda, momentos plenamente ardentes e 
gloriosos... 
p.28 
...No polo oposto ao colecionador às avessas estão os excluídos do mercado: desde os excluídos 
que, de qualquer mode, ainda podem sonhar consumos imaginários, até aqueles cuja pobreza os 
restringe ao curral das fantasias mínimas. ... 
A identidade transitória afeta tanto os colecionadores às avessas quanto os menos favorecidos 
colecionadores imaginários: ambos pensam que o objeto lhes dá (ou daria) algo de que precisam, 
não no nível da posse, mas no da identidade. 
Os objetos são os nossos ícones, quando os outros ícones, que representavam alguma divindade, 
demonstram sua impotência simbólica; são os nossos ícones porque podem criar uma comunidade 
imaginária ( a dos consumidores, cujo livro sagrado é o advertising, e cujo ritual é o shopping spree, 
e cujo templo é o shopping, sendo a moda seu código civil). 
p.29 
Entretanto, os objetos escapam... Aquilo que os torna desejáveis também faz com que sejam 
voláteis. A instabilidade dos objetos se origina justamente em seu livro sagrado e nos saberes que a 
enciclopédia da moda codifica a cada temporada. São valiosos porque mudam constantemente, 
mas paradoxal que pareça, também perdem seu valor porque constantemente mudam... 
...os objetos de projeto perfeito vão parar nos museus e nas coleções; os objetos de projeto 
“ordinário” (geralmente, os objetos marcados pela moda) só são preservados enquanto não se 
puder substituí-los por outros mais novos e melhores.
O tempo foi abolido para os objetos comuns do mercado. Não que eles sejam eternos, e sim por 
serem inteiramenrte transitórios. Duram enquanto não se gastar de todo seu valor simbólico, porque, 
além de mercadorias, são objetos hipersignificantes. 
p.30 
Hoje, o mercado pode tanto quanto a religião ou o poder: acrescenta aos objetos um “algo mais” 
simbólico fugaz, porém tão poderoso quanto qualquer outro símbolo. ... 
Os objetos continuam escapando de nós. Tornaram-se tão valiosos para a construção de uma 
identidade, são tão centrais no discurso da fantasia, despejam tamanha infâmia sobre quem não os 
possui, que parecem feitos da matéria resistente e inacessível dos sonhos. 
Os objetos são uma âncora, porém uma âncora paradoxal, pois ela mesma deve mudar o tempo 
todo, oxidar-se e destruir-se, entrar em obsolescência no próprio dia de sua estreia. Com tais 
paradoxos constrói-se o poder dos objetos: a liberdade daqueles que os consomem surge da férrea 
necessidade do mercado de converter-nos em consumidores permanentes. 
P.31 
O tempo dos objetos só pesa para quem não pode substituí-los por outros mais novos. 
... precisamos perguntar o que esta sociedade está buscando em tais avatares da engenharia 
corporal ou do design de mercado. 
No terceiro subtítulo – Jovens 
Ainda neste capítulo, a intelectual reflete sobre a juventude e os videogames. Sempre lançando 
um olhar crítico e muitas vezes impiedoso, Sarlo afirma que "a juventude não é uma idade e 
sim uma estética da vida cotidiana" (p. 36). 
p.32 
... Essa garota pintou o rosto e distribuiu sobre o corpo uma série de signos que já não 
significam o que outrora significaram... 
Ela veste uma fantasia de discoteca na qual o humor disputa o terreno com o erotismo. 
É uma moda que se propõe a desnudar, opondo-se à sua função tradicional de oscilar entre o 
visto e o não visto 
A fantasia da discoteca – realiza quase completamente o ideal de visibilidade total 
A garota está vestida em dois tempos: há um contraponto entre o corpo e sua fantasia. A roupa 
não foi escolhida para favorecer o corpo... 
p.34 
Desde os anos 60, a cultura do rock, por sua vez, fez do traje uma marca central de seu estilo. 
...moveu-se desde o início com o impulso de uma contracultura que se espalhou pela vida 
cotidiana. 
... a cultura rock definiu os limites de um território onde houve mobilização, resistência e 
experimentação.
p.35 ... a ideia do traje como diferenciação p.36 entre tribo culturais se desenvolve em todas as 
suas peripécias. 
... Pura forma, sua fantasia se diferencia da forma da moda “legítima” por não aspirar à 
universalidade e sim a uma fração particular: marca sua idade, sua condição de jovem, e não 
sua condição social ou seu dinheiro. 
A juventude não é uma idade e sim uma estética da vida cotidiana. 
p.38 
...Quando falaram de uma “nova geração”, esses termos foram usados como marca de 
diferença ideológica que, para completar-se, dispensava qualquer recurso a uma reivindicação 
de juventude. 
p. 39 
As modelos de publicidade imitavam as atrizes ou a classe alta; hoje, imitam as modelos mais 
jovens. As atrizes é que imitam as modelos. 
Hoje a juventude é mais prestigiosa do que nunca... 
A categoria de “jovem”, por sua vez, garante um outro set de ilusões com a vantagem de poder 
trazer à cena a sexualidade e, ao mesmo tempo, desvencilhar-se mais livremente de suas 
obrigações adultas, entre elas a de uma definição taxativa do sexo. 
p.40 
Se é quase imposível definir o permitido e o proibido, a moral deixa de ser um território de 
conflitos significativos para converter-se num elenco de enunciados banais: a autoridade 
perdeu seu aspecto terrível e intimidatório... e só é autoridade quando exerce a força 
repressiva... Onde antes se podia enfrentar a proibição discursiva, hoje parece restar só a 
polícia. 
... O mercado ganha relevo e corteja a juventude, depois de instituí-la como protagonista da 
maioria de seus mitos. 
p.41 
...Nunca as necessidades do mercado estiveram afinadas tão precisamente ao imaginário de 
seus consumidores. 
O impulso igualitário que às vezes se crê encontrar na cultura dos jovens, tem seu limites nos 
preconceitos sociais e racistas, sexuais e morais. 
No quarto subtítulo – Videogames 
E os videogames são um espaço predominantemente jovem e masculino. Faz uma descrição 
sensível das casas de videogames e das relações que se estabelecem no isolamento daquele 
espaço, um misto de discoteca e bar. Os olhares estão voltados para a tela e dela não se 
desviam. As máquinas são um conjunto de "temporalidades diversas" no qual as tecnologias de 
imagem e som se misturam em ritmo frenético e onde as performances são valorizadas. 
Performances que se definem como boas pela maneira como o jogador lida com o tempo, ou 
melhor, dribla o tempo. E aqui se pode apontar para uma das ausências na análise da 
pesquisadora. Sua reflexão é fruto de uma observação sensível, com insights instigantes sobre
este universo. Entretanto, faz falta a voz do "outro", do "jogador" de videogame, de seu 
sentimento e pensamento sobre aquela atividade e aquele espaço. Essa ausência ofusca o 
brilho de suas percepções tão ricas. 
p.47 
efeito espelunca – tbm tem a ver com a presença minoritária de mulheres. 
CAPÍTULO II- "O SONHO ACORDADO" 
No capítulo dois "O sonho acordado" ela ainda aborda a questão da imagem desde o zapping, 
a televisão interativa, os programas "ao vivo" até a dimensão politica presente no veículo. Sarlo 
não é uma adorniana, mas sua crítica da televisão é feroz. A idéia de uma televisão de 
mercado está na base de sua análise. Televisão que possui uma lógica própria na qual a 
repetição (em relação ao comercial) e a velocidade constróem uma forma de ver o mundo. A 
autora afirma inclusive que o zapping é um discurso televisivo que subentende a presença do 
telespectador, assim como os programas participativos e os reality shows são a maior 
expressão da chamada "nova televisão". Nela também os programas ao vivo proporcionam aos 
telespectadores, não a idéia de verossimilhança, mas de que a vida está ali. E no dia a dia da 
vida moderna, as piadas, as frases, os personagens da televisão asseguram a quem os 
conhece um pertencimento. Mas Sarlo não se ilude com a idéia de que a partilha de aparelhos 
de televisão implica no estabelecimento de novos laços entre os indivíduos. Para ela, esta 
imagem da família não tem veracidade, pois se sabe do enfraquecimento das relações 
familiares na atualidade. E isso não é por acaso, porque, a seu ver, a televisão precisa de uma 
sociedade com laços fracos para que ocorra a mimese entre televisão e público. Assim neste 
contexto uma crítica mais profunda da televisão é banida ou acusada de, entre outras coisas, 
ultrapassada. Entretanto, ela ressalta que só há um jeito de aprender a ver televi televisão: 
vendo-a. E não se pode negar que esse aprendizado é barato, antielitista e nivelador, enfatiza 
ela. 
O capítulo está subdividido em 4 subtítulos: Zapping, Gravação ao vivo, Política e Citação. 
No primeiro subtítulo – Zapping – 
p.57 
O controle remoto é uma máquina sintática, uma moviola caseira de resultados imprevisíveis e 
instantâneos, uma base de poder simbólico que é exercido segundo leis que a televisão 
ensinou a seus espectadores. 
Primeira lei: produzir a maior acumulação possível de imagens de alto impacto por unidade de 
tempo e baixa quantidade de informação por unidade de tempo indiferenciada 
Segunda lei: extrair todas as consequências do fato de que a retroleitura dos discursos visuais 
ou sonoros, que se sucedem no tempo, é impossível ... 
A velocidade do meio é superior à nossa capacidade de reter seus conteúdos. 
p.58 
Terceira lei: a variada repetição do mesmo 
Quarta lei: montagem ideal ... para evitar a mudança de canal. 
O switcher é a arma dos diretores de câmara. O controle remoto é uma arma dos espectadores que 
apertam botões. 
p.59 
O switcher ancora os diretores de câmera nu certo ambiente. 
O controle remoto não ancora ninguém em parte aluma: é a sintaxe irreverente e irresponsável do 
sonho produzido por um inconsciente pós-moderno que embaralha imagens planetárias. 
O zapping suscita uma série de questões interessantes. Entre elas, evidentemente, a Liberdade do 
espectador...
No segundo subtítulo – Gravação ao vivo 
p.70 
nova televisão – ou televisão interativa 
1º. Gravação ao vivo 
2º apresentar uma faixa de vida 
3º estúdio de TV parece mais seguro, mais acessível e à altura do protagonista do que as 
instituições 
4º somo, potencialmente, objetos e sujeitos que podem entrar no ar. 
p.74 
... De todas as instituições, a televisão ao vivo foi a que lhe pareceu a mais digna de confiança: 
ninguém poderá distorcer nem seus gestos nem suas afirmações e, mais ainda, nenhum policial 
poderá força-lo a dizer mais do que deseja, nem deixá-lo incomunicável por horas. A televisão se 
converteu em guarda de seu habeas corpus. 
O Happening – modo de apresentação que amplia e aperfeiçoa o realismo 
p.75 
Investida da autoridade que as igrejas, os partidos e as escolas perderam, a televisão faz soar a voz 
de uma verdade que todo mundo pode compreender rapidamente. A epistemologia televisiva é, 
neste sentido, tão realista quanto populista, e submeteu a uma demolidora crítica prática todos os 
paradigmas de transmissão do saber conhecidos pela cultura letrada. 
p.77 
cultura espelho 
televisão como espaço mítico 
Essa comunidade de sentidos reforça um imaginário igualitarista e, ao mesmo tempo, paternalista. 
O público recorre à televisão para alcançar aquelas coisas que as instituições não garantem: justiça, 
indenizações, atenção. 
O cenário televisivo vive do impulso, enquanto o cenário institucional cumpre adequadamente suas 
funções, se processar comeficácia os impulsos coletivos. 
p.78 
A televisão reconhece seu público, entre outras coisas, porque necessita desse reconhecimento 
para que seu público seja, efetivamente, seu. 
O têrmo caudilho, do espanhol ¨caudillo¨, refere-se à um 
lider político-militar no comando de uma força autoritária. 
Este têrmo está, normalmente, associado à América La-tina, 
do século XIX e início do século XX , ou relacionado 
à época Franquista, na Espanha. O caudilhismo susten-ta- 
se por causa do culto à personalidade. Os caudilhos 
são capazes de comandar grande número de pessoas 
e prender a atenção de vastas multidões entusiasmadas. 
Exemplos de personalidades consideradas caudilhos famo-sos 
: Peron; Franco; Trujillo; Pancho Villa; etc.
p.79 
Há quem pense que um aparelho de TV une com laços aqueles que estão sentados diante do 
mesmo vídeo. Videofamílias, às quais o enfraquecimento das relações de autoridade, paternidade e 
filiação tradicionais teria lançado ao limite da dissolução, voltariam a unir-se no calor da luz 
cromática. 
p.80 
se a televisão fala como nós, nós tbm falamos como a televisão. 
p.82 
a televisão é acessível – reflete seu público e nele se reflete 
a televisão é laica e democrática, mas não deixa de ter fortes elementos de fundamento mítico. 
p.83 
Mimética e ultra-realista, a televisão constrói seu público a fim de poder refleti-lo, e o reflete para 
poder construí-lo. 
Para produzir-se como televisão, basta ler o livro do público; para produzir-se como público, basta 
ler o livro da televisão. 
No terceiro subtítulo – Política 
p. 83 
A televisão faz circular tudo o que pode ser convertido em assunto: desde os costumes sexuais 
até a política. E tbm reduz à poeira do esquecimento os assuntos de que não trata: desde os 
costumes sexuais até a política. 
p.84 
Hoje a política existe, na medida em que exista televisão. ... Tudo que se pode fazer é a crítica 
mais radical da videopolítica realmente existente. 
p. 87 
Se algumas questões importantes para amplas maiorias se convertem em objeto 
exclusivamente midiático, o sentido da política e dos políticos não parecerá evidente para 
ninguém. 
No quarto subtítulo – Citação 
p.89 
Porém, o que é ainda mais excitante é que os espectadores se dão conta do que está 
acontecendo, porque esse programa e muitos outros nos ensinaram não só sua comicidade 
mas tbm suas leis de produção. 
A auto-reflexividade – recurso que oferece uma garantia de transparência 
p. 91 
Talvez esteja aí um dos milagres da retórica televisiva do últimos anos: um “realismo” que 
assegura a presença da “vida” chegou até ali; e providências discursivas para que a “vida” seja 
atraente e não simplesmente sórdida ou banal. 
A auto-reflexividade, que na literatura é uma marca de distância, opera na televisão como uma 
marca de proximidade que torna possível o jogo de cumplicidades entre a televisão e o público. 
De todos os discrsos que circulam na sociedade, o da televisão produz o efeito de maior 
familiaridade: a aura televisiva não vive da distância e sim de mitos cotidianos. Só existe um
jeito de aprender televisão: vendo-a. E é preciso convir que esse aprendizado é barato, 
antielitista e nivelador.Por isso a TV não enfrenta obstáculos culturais para realizar suas 
operações auto-reflexivas. Tbm por isso, 
p.92 
a citação (que na literatura ou na pintura sempre implica uma dificuldade de reconhecimento) 
pode ser utilizada pela TV sem problemas: todos os espectadores habituados à televisão estão, 
em teoria, aptos a reconhecer as citações que ela apresenta. 
... o saber dos espectadores é indispensável para completar o sentido... 
A culminância da citação é a paródia, hj usada como recurso fundamental da comicidade 
televisiva. 
No outro extremo do arco está a cópia, que funciona como estratégia das emissoras invejosas 
do sucesso dos programas concorrentes. 
p.93 
A TV vive da citção mais por preguiça intelectual do que por qualquer outra coisa. 
A hiperparódia é um falta de imaginação para produzir outras formas de humor, sátira, de 
estilização ou de grotesco, mais do que uma demonstração de audácia criativa ou crítica. 
p. 94 
A TV que conhecemos trabalha com o nível mais baixo de transformação, para não impedir 
indevidamente o reconhecimento do discurso citado e, assim, arriscar o efeito cômico ou 
crítico. 
...descarta-se, geralmente, a estilização, a ironia, a homenagem. 
p.95 
admitamos que a TV fez justiça ao folhetim, desprezado pelas elites intelectuais por 
preconceitos estéticos e sociais. 
p.98 
Como o imperialismo branco no século passado, a televisão não reconhece fronteiras: daí sua 
força.

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Resumo beatriz sarlo

  • 1. SARLO, Beatriz. Cenas da vida pós-Moderna: intelectuais, artes e videocultura. 3ed. Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 2004. P.13-98 QUEM É BEATRIZ SARLO: Beatriz Sarlo nasceu em Buenos Aires e é professora de literatura argentina na Universidade de Buenos Aires, tendo já trabalhado sobre literatura popular, história da imprensa, cinema, cultura de massas e o papel dos intelectuais. SOBRE O LIVRO: Sarlo em Cenas da vida pós-moderna: intelectuais, arte e videocultura na Argentina apresenta uma série de textos que discutem a transformação da cidade, os shoppings centers, o lugar do mercado, a juventude atual, os videogames, além da arte e do papel dos intelectuais neste começo de século XXI na América Latina. Sarlo propõe um debate sobre o papel da cultura de massa e de consumo nos países latino-americanos mergulhados na lógica da globalização e funcionando sob forte influência das leis do mercado. Sua perspectiva de oposição ao neoliberalismo é fruto de uma análise extremamente complexa e atual. Ela não tem medo de dizer o que pensa e tem uma profunda sensibilidade para o "modus vivendi" urbano e pós moderno. Seu livro é uma coletânea de artigos, divididos em cinco capítulos intitulados: "Abundância e pobreza", "O sonho acordado", "Culturas populares, velhas e novas", "O lugar da arte" e "Intelectuais". Em cada um deles trata de assuntos distintos sempre a partir da experiência argentina. Entretanto, suas reflexões servem para um mapa geográfico bem mais amplo. CAPÍTULO I - "ABUNDÂNCIA E POBREZA" O capítulo está subdividido em 4 subtítulos: cidade, mercado, jovens e videogames. No primeiro subtítulo – Cidade - discute a atual padronização das cidades sem "centro", distintas dos modelos clássicos europeus, onde o coração da cidade era o espaço geográfico e simbólico mais importante, local onde se encontravam os monumentos, a vida comercial, os cinemas, os restaurantes, além de luzes, cores e ruídos. Hoje isso mudou com a transferência para o shopping center deste papel de aglutinador de pessoas e serviços dentro de um ambiente artificial e impregnado pela "estética do mercado". p.18 “...os shoppings podem ser vistos como os monumentos de um novo civismo... nos shoppings os cidadãos desempenham papéis diferentes: uns compram, outros simplesmente olham e admiram... Tem a atmosfera irreal de uma cidade em miniatura, porque foi construído muito rápido e não conheceu vacilações, marchas e contramarchas, correções, destruição, influências de projetos mais amplos. A história está ausente, e quando existe ... é usada para desempenhar um papel servil, convertendo-se em decoração banal.” “... a história é tratada como souvenir...” “...o shopping sofre de uma amnésia necessária ao bom andamento de seus negócios, porque se os traços da história forem evidentes demais, superando a função decorativa, o shopping viveria um choque de funções e sentidos: p/ o shopping a única máquina semiótica e a de seu próprio projeto.”
  • 2. E para a autora, os shoppings se definem como espaços desterrritorializados, espaços de não pertencimento. Todos os shopping centers se parecem e são lugares sem orientação e onde o tempo é suspenso. Não se distingue dia e noite e geralmente não há relógios à mostra. Diferentemente do flâneur que se perdia pelas ruas e galerias de Paris, como chama a atenção Walter Benjamin, o freqüentador dos shoppings atuais encontra nele uma vertente da cidade que não vê lá fora: limpa, segura, com serviços e acesso a qualquer hora. Mas para Sarlo este não deve ser pensado como o espaço público, ao contrário, ele representa "o espelho de uma crise do espaço público" (p.22). No segundo subtítulo – Mercado p. 25 “... E quem sonha esses sonhos? A cultura sonha, somos sonhados por ícones da cultura. Somos sonhados por ícones da cultura. Somos livremente sonhados pelas capas de revistas, pelos cartazes, pela publicidade, pela moda... a instabilidade da sociedade moderna se compensa no lar dos sonhos, onde com os retalhos de todos os lados conseguimos operar a “linguagem da nossa identidade social”. p.26 “...As identidades, dizem, quebraram. Em seu lugar não ficou o vazio, mas o mercado... Sonhamos com as coisas que estão no mercado. ... O desejo do novo é, por definição, inextinguível. ... o novo se impõe com seu moto-perpétuo. Sujeito – colecionador às avessas. Em vez de colecionar objetos, coleciona atos de aquisição de objetos. p.27 ... o colecionador às avessas sabe que os objetos que adquire desvalorizam-se assim que ele os agarra. ... Ele coleciona atos de compra-e-venda, momentos plenamente ardentes e gloriosos... p.28 ...No polo oposto ao colecionador às avessas estão os excluídos do mercado: desde os excluídos que, de qualquer mode, ainda podem sonhar consumos imaginários, até aqueles cuja pobreza os restringe ao curral das fantasias mínimas. ... A identidade transitória afeta tanto os colecionadores às avessas quanto os menos favorecidos colecionadores imaginários: ambos pensam que o objeto lhes dá (ou daria) algo de que precisam, não no nível da posse, mas no da identidade. Os objetos são os nossos ícones, quando os outros ícones, que representavam alguma divindade, demonstram sua impotência simbólica; são os nossos ícones porque podem criar uma comunidade imaginária ( a dos consumidores, cujo livro sagrado é o advertising, e cujo ritual é o shopping spree, e cujo templo é o shopping, sendo a moda seu código civil). p.29 Entretanto, os objetos escapam... Aquilo que os torna desejáveis também faz com que sejam voláteis. A instabilidade dos objetos se origina justamente em seu livro sagrado e nos saberes que a enciclopédia da moda codifica a cada temporada. São valiosos porque mudam constantemente, mas paradoxal que pareça, também perdem seu valor porque constantemente mudam... ...os objetos de projeto perfeito vão parar nos museus e nas coleções; os objetos de projeto “ordinário” (geralmente, os objetos marcados pela moda) só são preservados enquanto não se puder substituí-los por outros mais novos e melhores.
  • 3. O tempo foi abolido para os objetos comuns do mercado. Não que eles sejam eternos, e sim por serem inteiramenrte transitórios. Duram enquanto não se gastar de todo seu valor simbólico, porque, além de mercadorias, são objetos hipersignificantes. p.30 Hoje, o mercado pode tanto quanto a religião ou o poder: acrescenta aos objetos um “algo mais” simbólico fugaz, porém tão poderoso quanto qualquer outro símbolo. ... Os objetos continuam escapando de nós. Tornaram-se tão valiosos para a construção de uma identidade, são tão centrais no discurso da fantasia, despejam tamanha infâmia sobre quem não os possui, que parecem feitos da matéria resistente e inacessível dos sonhos. Os objetos são uma âncora, porém uma âncora paradoxal, pois ela mesma deve mudar o tempo todo, oxidar-se e destruir-se, entrar em obsolescência no próprio dia de sua estreia. Com tais paradoxos constrói-se o poder dos objetos: a liberdade daqueles que os consomem surge da férrea necessidade do mercado de converter-nos em consumidores permanentes. P.31 O tempo dos objetos só pesa para quem não pode substituí-los por outros mais novos. ... precisamos perguntar o que esta sociedade está buscando em tais avatares da engenharia corporal ou do design de mercado. No terceiro subtítulo – Jovens Ainda neste capítulo, a intelectual reflete sobre a juventude e os videogames. Sempre lançando um olhar crítico e muitas vezes impiedoso, Sarlo afirma que "a juventude não é uma idade e sim uma estética da vida cotidiana" (p. 36). p.32 ... Essa garota pintou o rosto e distribuiu sobre o corpo uma série de signos que já não significam o que outrora significaram... Ela veste uma fantasia de discoteca na qual o humor disputa o terreno com o erotismo. É uma moda que se propõe a desnudar, opondo-se à sua função tradicional de oscilar entre o visto e o não visto A fantasia da discoteca – realiza quase completamente o ideal de visibilidade total A garota está vestida em dois tempos: há um contraponto entre o corpo e sua fantasia. A roupa não foi escolhida para favorecer o corpo... p.34 Desde os anos 60, a cultura do rock, por sua vez, fez do traje uma marca central de seu estilo. ...moveu-se desde o início com o impulso de uma contracultura que se espalhou pela vida cotidiana. ... a cultura rock definiu os limites de um território onde houve mobilização, resistência e experimentação.
  • 4. p.35 ... a ideia do traje como diferenciação p.36 entre tribo culturais se desenvolve em todas as suas peripécias. ... Pura forma, sua fantasia se diferencia da forma da moda “legítima” por não aspirar à universalidade e sim a uma fração particular: marca sua idade, sua condição de jovem, e não sua condição social ou seu dinheiro. A juventude não é uma idade e sim uma estética da vida cotidiana. p.38 ...Quando falaram de uma “nova geração”, esses termos foram usados como marca de diferença ideológica que, para completar-se, dispensava qualquer recurso a uma reivindicação de juventude. p. 39 As modelos de publicidade imitavam as atrizes ou a classe alta; hoje, imitam as modelos mais jovens. As atrizes é que imitam as modelos. Hoje a juventude é mais prestigiosa do que nunca... A categoria de “jovem”, por sua vez, garante um outro set de ilusões com a vantagem de poder trazer à cena a sexualidade e, ao mesmo tempo, desvencilhar-se mais livremente de suas obrigações adultas, entre elas a de uma definição taxativa do sexo. p.40 Se é quase imposível definir o permitido e o proibido, a moral deixa de ser um território de conflitos significativos para converter-se num elenco de enunciados banais: a autoridade perdeu seu aspecto terrível e intimidatório... e só é autoridade quando exerce a força repressiva... Onde antes se podia enfrentar a proibição discursiva, hoje parece restar só a polícia. ... O mercado ganha relevo e corteja a juventude, depois de instituí-la como protagonista da maioria de seus mitos. p.41 ...Nunca as necessidades do mercado estiveram afinadas tão precisamente ao imaginário de seus consumidores. O impulso igualitário que às vezes se crê encontrar na cultura dos jovens, tem seu limites nos preconceitos sociais e racistas, sexuais e morais. No quarto subtítulo – Videogames E os videogames são um espaço predominantemente jovem e masculino. Faz uma descrição sensível das casas de videogames e das relações que se estabelecem no isolamento daquele espaço, um misto de discoteca e bar. Os olhares estão voltados para a tela e dela não se desviam. As máquinas são um conjunto de "temporalidades diversas" no qual as tecnologias de imagem e som se misturam em ritmo frenético e onde as performances são valorizadas. Performances que se definem como boas pela maneira como o jogador lida com o tempo, ou melhor, dribla o tempo. E aqui se pode apontar para uma das ausências na análise da pesquisadora. Sua reflexão é fruto de uma observação sensível, com insights instigantes sobre
  • 5. este universo. Entretanto, faz falta a voz do "outro", do "jogador" de videogame, de seu sentimento e pensamento sobre aquela atividade e aquele espaço. Essa ausência ofusca o brilho de suas percepções tão ricas. p.47 efeito espelunca – tbm tem a ver com a presença minoritária de mulheres. CAPÍTULO II- "O SONHO ACORDADO" No capítulo dois "O sonho acordado" ela ainda aborda a questão da imagem desde o zapping, a televisão interativa, os programas "ao vivo" até a dimensão politica presente no veículo. Sarlo não é uma adorniana, mas sua crítica da televisão é feroz. A idéia de uma televisão de mercado está na base de sua análise. Televisão que possui uma lógica própria na qual a repetição (em relação ao comercial) e a velocidade constróem uma forma de ver o mundo. A autora afirma inclusive que o zapping é um discurso televisivo que subentende a presença do telespectador, assim como os programas participativos e os reality shows são a maior expressão da chamada "nova televisão". Nela também os programas ao vivo proporcionam aos telespectadores, não a idéia de verossimilhança, mas de que a vida está ali. E no dia a dia da vida moderna, as piadas, as frases, os personagens da televisão asseguram a quem os conhece um pertencimento. Mas Sarlo não se ilude com a idéia de que a partilha de aparelhos de televisão implica no estabelecimento de novos laços entre os indivíduos. Para ela, esta imagem da família não tem veracidade, pois se sabe do enfraquecimento das relações familiares na atualidade. E isso não é por acaso, porque, a seu ver, a televisão precisa de uma sociedade com laços fracos para que ocorra a mimese entre televisão e público. Assim neste contexto uma crítica mais profunda da televisão é banida ou acusada de, entre outras coisas, ultrapassada. Entretanto, ela ressalta que só há um jeito de aprender a ver televi televisão: vendo-a. E não se pode negar que esse aprendizado é barato, antielitista e nivelador, enfatiza ela. O capítulo está subdividido em 4 subtítulos: Zapping, Gravação ao vivo, Política e Citação. No primeiro subtítulo – Zapping – p.57 O controle remoto é uma máquina sintática, uma moviola caseira de resultados imprevisíveis e instantâneos, uma base de poder simbólico que é exercido segundo leis que a televisão ensinou a seus espectadores. Primeira lei: produzir a maior acumulação possível de imagens de alto impacto por unidade de tempo e baixa quantidade de informação por unidade de tempo indiferenciada Segunda lei: extrair todas as consequências do fato de que a retroleitura dos discursos visuais ou sonoros, que se sucedem no tempo, é impossível ... A velocidade do meio é superior à nossa capacidade de reter seus conteúdos. p.58 Terceira lei: a variada repetição do mesmo Quarta lei: montagem ideal ... para evitar a mudança de canal. O switcher é a arma dos diretores de câmara. O controle remoto é uma arma dos espectadores que apertam botões. p.59 O switcher ancora os diretores de câmera nu certo ambiente. O controle remoto não ancora ninguém em parte aluma: é a sintaxe irreverente e irresponsável do sonho produzido por um inconsciente pós-moderno que embaralha imagens planetárias. O zapping suscita uma série de questões interessantes. Entre elas, evidentemente, a Liberdade do espectador...
  • 6. No segundo subtítulo – Gravação ao vivo p.70 nova televisão – ou televisão interativa 1º. Gravação ao vivo 2º apresentar uma faixa de vida 3º estúdio de TV parece mais seguro, mais acessível e à altura do protagonista do que as instituições 4º somo, potencialmente, objetos e sujeitos que podem entrar no ar. p.74 ... De todas as instituições, a televisão ao vivo foi a que lhe pareceu a mais digna de confiança: ninguém poderá distorcer nem seus gestos nem suas afirmações e, mais ainda, nenhum policial poderá força-lo a dizer mais do que deseja, nem deixá-lo incomunicável por horas. A televisão se converteu em guarda de seu habeas corpus. O Happening – modo de apresentação que amplia e aperfeiçoa o realismo p.75 Investida da autoridade que as igrejas, os partidos e as escolas perderam, a televisão faz soar a voz de uma verdade que todo mundo pode compreender rapidamente. A epistemologia televisiva é, neste sentido, tão realista quanto populista, e submeteu a uma demolidora crítica prática todos os paradigmas de transmissão do saber conhecidos pela cultura letrada. p.77 cultura espelho televisão como espaço mítico Essa comunidade de sentidos reforça um imaginário igualitarista e, ao mesmo tempo, paternalista. O público recorre à televisão para alcançar aquelas coisas que as instituições não garantem: justiça, indenizações, atenção. O cenário televisivo vive do impulso, enquanto o cenário institucional cumpre adequadamente suas funções, se processar comeficácia os impulsos coletivos. p.78 A televisão reconhece seu público, entre outras coisas, porque necessita desse reconhecimento para que seu público seja, efetivamente, seu. O têrmo caudilho, do espanhol ¨caudillo¨, refere-se à um lider político-militar no comando de uma força autoritária. Este têrmo está, normalmente, associado à América La-tina, do século XIX e início do século XX , ou relacionado à época Franquista, na Espanha. O caudilhismo susten-ta- se por causa do culto à personalidade. Os caudilhos são capazes de comandar grande número de pessoas e prender a atenção de vastas multidões entusiasmadas. Exemplos de personalidades consideradas caudilhos famo-sos : Peron; Franco; Trujillo; Pancho Villa; etc.
  • 7. p.79 Há quem pense que um aparelho de TV une com laços aqueles que estão sentados diante do mesmo vídeo. Videofamílias, às quais o enfraquecimento das relações de autoridade, paternidade e filiação tradicionais teria lançado ao limite da dissolução, voltariam a unir-se no calor da luz cromática. p.80 se a televisão fala como nós, nós tbm falamos como a televisão. p.82 a televisão é acessível – reflete seu público e nele se reflete a televisão é laica e democrática, mas não deixa de ter fortes elementos de fundamento mítico. p.83 Mimética e ultra-realista, a televisão constrói seu público a fim de poder refleti-lo, e o reflete para poder construí-lo. Para produzir-se como televisão, basta ler o livro do público; para produzir-se como público, basta ler o livro da televisão. No terceiro subtítulo – Política p. 83 A televisão faz circular tudo o que pode ser convertido em assunto: desde os costumes sexuais até a política. E tbm reduz à poeira do esquecimento os assuntos de que não trata: desde os costumes sexuais até a política. p.84 Hoje a política existe, na medida em que exista televisão. ... Tudo que se pode fazer é a crítica mais radical da videopolítica realmente existente. p. 87 Se algumas questões importantes para amplas maiorias se convertem em objeto exclusivamente midiático, o sentido da política e dos políticos não parecerá evidente para ninguém. No quarto subtítulo – Citação p.89 Porém, o que é ainda mais excitante é que os espectadores se dão conta do que está acontecendo, porque esse programa e muitos outros nos ensinaram não só sua comicidade mas tbm suas leis de produção. A auto-reflexividade – recurso que oferece uma garantia de transparência p. 91 Talvez esteja aí um dos milagres da retórica televisiva do últimos anos: um “realismo” que assegura a presença da “vida” chegou até ali; e providências discursivas para que a “vida” seja atraente e não simplesmente sórdida ou banal. A auto-reflexividade, que na literatura é uma marca de distância, opera na televisão como uma marca de proximidade que torna possível o jogo de cumplicidades entre a televisão e o público. De todos os discrsos que circulam na sociedade, o da televisão produz o efeito de maior familiaridade: a aura televisiva não vive da distância e sim de mitos cotidianos. Só existe um
  • 8. jeito de aprender televisão: vendo-a. E é preciso convir que esse aprendizado é barato, antielitista e nivelador.Por isso a TV não enfrenta obstáculos culturais para realizar suas operações auto-reflexivas. Tbm por isso, p.92 a citação (que na literatura ou na pintura sempre implica uma dificuldade de reconhecimento) pode ser utilizada pela TV sem problemas: todos os espectadores habituados à televisão estão, em teoria, aptos a reconhecer as citações que ela apresenta. ... o saber dos espectadores é indispensável para completar o sentido... A culminância da citação é a paródia, hj usada como recurso fundamental da comicidade televisiva. No outro extremo do arco está a cópia, que funciona como estratégia das emissoras invejosas do sucesso dos programas concorrentes. p.93 A TV vive da citção mais por preguiça intelectual do que por qualquer outra coisa. A hiperparódia é um falta de imaginação para produzir outras formas de humor, sátira, de estilização ou de grotesco, mais do que uma demonstração de audácia criativa ou crítica. p. 94 A TV que conhecemos trabalha com o nível mais baixo de transformação, para não impedir indevidamente o reconhecimento do discurso citado e, assim, arriscar o efeito cômico ou crítico. ...descarta-se, geralmente, a estilização, a ironia, a homenagem. p.95 admitamos que a TV fez justiça ao folhetim, desprezado pelas elites intelectuais por preconceitos estéticos e sociais. p.98 Como o imperialismo branco no século passado, a televisão não reconhece fronteiras: daí sua força.