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ACIDENTES DE TRÂNSITO
1. INTRODUÇÃO
O problema "Acidentes de Trânsito" tem sido incorporado ao cotidiano da vida das pessoas,
silenciosa e assustadoramente. Conhecer melhor essa realidade, criando subsídios para a
tomada de decisões e implementação de ações, é o primeiro passo para a mudança dessa cruel
situação.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), mais de 1 milhão de pessoas ao redor
do mundo morrem em conseqüência de acidente de trânsito nas rodovias. Isso representa,
mundialmente, uma média diária de mais de 3.000 mortes. Além dessas mortes, estima-se que
entre 20 milhões e 50 milhões de pessoas no mundo saem feridas ou incapacitadas em
decorrência de acidentes de trânsito nas rodovias, a cada ano.
Esses números refletem somente os envolvidos diretos nos acidentes de trânsito.
Reconhecer que, além desses, há indivíduos que, de maneira indireta, aproximam-se do
problema - familiares próximos dos acidentados, policiais rodoviários e outros agentes de
controle do trânsito nas estradas, pessoal de emergência e de socorro, repórteres e o público
que acompanha o noticiário, significa constatar que os números dos impactos dos acidentes
alcançam uma dimensão epidêmica.
Segundo o Código de Trânsito Brasileiro - CTB, a segurança e a prevenção de acidentes de
trânsito em rodovias federais são obrigações das autoridades gestoras e operadoras de trânsito
e transporte: o Ministério das Cidades, por meio do Departamento Nacional de Trânsito
(Denatran); o Ministério dos Transportes, por intermédio do Departamento Nacional de Infra-
estrutura de Transportes (DNIT); e o Ministério da Justiça, por meio da Polícia Rodoviária
Federal (PRF); além dos Departamentos de Estradas de Rodagens (DERs) e Departamentos
Estaduais de Trânsito (Detrans).
2. CONCEITOS E DEFINIÇÕES
Os conceitos e definições adotados são os estabelecidos pela OMS, da qual o Brasil é país
membro.
Assim, assume-se que acidente é um evento independente do desejo do homem, causado por
uma força externa, alheia, que atua subitamente (de forma inesperada) e deixa ferimentos no
corpo e na mente.
É um fenômeno complexo que envolve uma série de fatores, nem sempre facilmente
identificáveis. A tentativa de explicação das suas causas é uma tarefa muito difícil que tem
envolvido muitas pesquisas no mundo todo.
Alternativamente, pode-se considerar um acidente um evento não intencional que produz
ferimentos ou danos.
2.1 Acidente de trânsito é todo acidente com veículo ocorrido na via pública.
2.2 Acidente de transporte é todo acidente que envolve um veículo destinado ou usado no
momento do acidente, principalmente, para o transporte de pessoas ou de mercadorias de um
lugar para outro.
Observa-se que a OMS classifica os acidentes segundo o meio de transporte utilizado,
destacando os pedestres e os veículos utilizados pelas vítimas, para depois, subclassificar as
vítimas segundo seu papel no acidente (condutor, passageiro, pingente, etc.). Considera -se,
pois, o veículo como o fator mais importante que deve ser identificado para fins de prevenção.
2.3 Via pública (via de trânsito, estrada, rodovia ou rua) é a largura total entre dois limites de
propriedade de todo o terreno ou caminho aberto ao público, quer por direito, quer por costume,
para a circulação de pessoas ou bens de um lugar para outro. Pista ou leito da via é a parte da
via pública que é preparada, conservada e, habitualmente, usada para o trânsito de veículos.
2.4 Pedestre é toda pessoa envolvida em um acidente, mas que no momento em que este
ocorreu não estava viajando no interior ou sobre um veículo a motor, trem em via férrea, bonde,
veículo de tração animal ou outro veículo, ou sobre bicicleta ou animal. Incluem -se entre os
pedestres as pessoas em cadeiras de rodas (inclusive as motorizadas), carrinhos de bebê,
pessoas com carrinhos de mão ou exercendo qualquer atividade na via pública, tais como
trocando pneu, consertando um veículo ou trabalhando na via.
2.5 Condutor é o ocupante de um veículo que o manobra (dirige/guia) ou tem a intenção de
manobrá-Io.
2.6 Passageiro é todo ocupante de um veículo que não seja o condutor. Exclui pessoa
viajando no exterior do veículo ou não ocupando local reservado normalmente ao condutor ou
aos passageiros ou o local previsto para o transporte de mercadorias, esse normalmente
identificado como pingente.
3. FATORES QUE INTERFEREM NOS ACIDENTES
O acidente de trânsito é um fenômeno complexo que envolve uma série de fatores, nem sempre
facilmente identificáveis. A tentativa de explicação das suas causas é uma tarefa muito difícil que
tem envolvido muitas pesquisas no mundo todo.
A interpretação mais tradicional dos fatores ligados aos acidentes de trânsito divide-os em três
grupos: o homem, a via e o veículo.
3.1 Fatores Humanos
É importante separar as condições humanas, físicas, psicológicas, emocionais, culturais e
político-sociais.
A condição física está ligada à capacidade das pessoas realizarem os movimentos necessários à
sua participação no trânsito. O pedestre precisa ter a capacidade de andar a uma certa
velocidade, principalmente ao atravessar uma via. Já o motorista precisa ter a capacidade de
manejar adequadamente os equipamentos do veículo, como o freio e a direção. Tanto um como
o outro precisam ver e ouvir adequadamente.
Todo esse conjunto de habilidades físicas interfere diretamente na capacidade das pessoas de
circularem pelas vias e negociarem o espaço com segurança, para não se envolverem em
acidentes. Essas condições variam de pessoa a pessoa e dependem da idade de cada um.
É importante observar que a maioria das pessoas, em condições normais, tem as habilidades
mínimas para participar do trânsito e eventualmente dirigir veículos.
Dentre os fatores físicos relevantes, um dos mais importantes para a segurança do trânsito diz
respeito à capacidade das pessoas de perceberem alterações nas condições do ambiente.
Um dos pontos mais importantes a esse respeito é que a capacidade é seriamente prejudicada
quando o motorista está fatigado ou ingeriu bebida alcoólica ou drogas. A relação entre a
ingestão de bebida alcoólica e o envolvimento em acidentes de trânsito tem sido alvo de estudos
em todo o mundo, pois, é comprovadamente grande o número de vítimas fatais de trânsito
ligadas diretamente a pessoas alcoolizadas que dirigiam veículos. A situação é tão grave, que na
maioria dos países desenvolvidos dirigir alcoolizado é considerado crime, podendo levar à
sanções mais sérias, como a suspensão definitiva do direito de dirigir.
A influência do álcool nas condições das pessoas está ligada basicamente ao seu efeito sobre os
reflexos.
Da mesma forma, o uso de drogas, legais ou não, também interferem nos reflexos das pessoas.
No caso dos medicamentos, pode ocorrer efeitos colaterais, como vertigens, distúrbios visuais e
sonolência.
Analogamente, a fadiga também tem efeitos negativos no desempenho das pessoas,
aumentando a possibilidade de distração e tornando os reflexos mais lentos.
Também os fatores psicológicos influenciam no comportamento das pessoas. Estão ligados
principalmente à personalidade do indivíduo e a forma como ele se manifesta no trânsito. Há
psicólogos que acreditam que as pessoas mais agressivas tendem a ter um comportamento
mais violento no trânsito, o que pode predispô-las à se envolverem em acidentes.
Já os fatores emocionais parecem ter grande relevância na explicação dos acidentes, embora
operem por períodos curtos de tempo. Eles são representados basicamente pela pressa ou pela
tensão, provocada por problemas pessoais de várias naturezas. A pressa pode levar ao abuso
da velocidade e à realização de manobras inseguras, enquanto a tensão pode levar à distração
ou à ação violenta, como forma de alívio.
Adicionalmente, deve-se levar em consideração os aspectos culturais, relativos ao nível de
conhecimento das pessoas sobre as regras de trânsito.
3.2 Condições Dos Veículos
O veículo, especialmente o automóvel, tem sido considerado também um dos fatores que
influenciam na ocorrência dos acidentes. Sendo uma máquina, esta afirmação é óbvia, mas é
preciso ter um conhecimento mais detalhado do problema.
Além do chassis e da carroceria, os freios, os pneus e os faróis, são importantes sob o ponto de
vista de segurança.
A importância dos freios é crucial, na medida em que a distância necessária para parar o veículo
aumenta ao quadrado com relação à velocidade.
A capacidade de frenagem está ligada diretamente ao atrito do pneu e a superfície de
rolamento, que por sua vez depende do tipo de borracha, do estado de conservação do pneu e
do tipo de pavimento.
As luzes dos veículos, desempenham papel fundamental para a segurança da circulação. As
luzes de freio tem a função de alertar sobre a diminuição da velocidade o que permite que a
reação do motorista que vem atrás seja mais rápida.
As condições de manutenção dos veículos tem importância vital para a segurança do trânsito.
Os casos mais preocupantes são sempre os dos veículos com defeitos graves nos sistemas de
freio e iluminação.
3.3 Condições Das Vias
As vias interferem nas condições de segurança por várias de suas características físicas.
É importante ressaltar que esta interferência está sempre ligada à velocidade praticada e ao
espaço utilizado.
A primeira característica está relacionada ao pavimento da via.
Enquanto a via está com piso natural, a velocidade é baixa e a circulação conjunta de pedestres
e veículos pode ser feita sem grandes problemas de segurança. À medida que a via é
pavimentada, aumenta principalmente o risco de atropelamento.
A geometria da via, principalmente das rodovias, a existência de canteiro central, o raio das
curvas e a superelevação, têm influência decisiva na velocidade que os veículos podem pratica r.
Da mesma forma, em vias de pista simples, de mão dupla, a inclinação e a extensão dos trechos
ascendentes, bem como os trechos de pouca visibilidade, influem diretamente na possibilidade
de ultrapassagem e se constituem num dos fatores mais importantes da segurança rodoviária.
4. ANATOMIA, MORFOLOGIA E ASPECTOS SOCIOCULTURAIS DE UM ACIDENTE
O acidente de trânsito é uma realidade objetiva, que adquire expressão no pensamento e nas
ações daqueles que o vivenciaram mais diretamente, seja na condição de vítimas, ou de
parentes e amigos destas, ou ainda na de agentes institucionais, de atendimento, socorristas e
de observadores circunstanciais.
A experiência que a humanidade vai adquirindo em decorrência das externalidades do trânsito e,
mais particularmente, dos acidentes de trânsito, bem como a maneira pela qual eles
(re)modelam a vida das pessoas de acordo com suas necessidades e desejos, tem sido cada
vez mais mediada não só por um imaginário advindo da inundação de notícias, de imagens na
televisão e nas redes de computadores, mas também pela própria experiência de se vivenciar
seqüelas, temporárias ou permanentes, decorrentes de acidentes de trânsito ou a perda de um
ente mais próximo.
Como trabalhar empiricamente o simbólico contido em um acidente de trânsito, indo além 
 do
racional, de modo a se obter um comportamento da sociedade mais consciente? As ações em
segurança viária e em educação de trânsito não se têm mostrado suficientes para evitar tantas
perdas. O combate efetivo à guerra do trânsito passa pela conscientização do que representam
os acidentes de trânsito para o indivíduo em si envolvido e para a sociedade, e pela
compreensão das características, componentes, formas e, principalmente, dos desdobramentos
de um acidente. Assim, além dos estudos comportamentais que visam à educação do trânsito e
para o trânsito, a ciência busca também identificar a estrutura dos acidentes e suas partes
separáveis, as formas dos acidentes e outros aspectos relacionados ao evento indesejável que
se pretende eliminar.
4.1 Anatomia do acidente
Figurativamente, a anatomia de um acidente trata da estrutura básica desse acidente, na procura
das partes, da estrutura associada ao evento.
Por estudo da "anatomia de um acidente de trânsito" entende-se a análise desse evento
singular, para se conhecer os seus componentes básicos, separadamente; a estrutura de cada
parte e os aspectos que lhe são inerentes, numa perspectiva pontual, instantânea, de forma
estática - a ocorrência "fotografada".
A anatomia de um acidente de trânsito, assim entendida como a identificação dos componentes
básicos, compreende:
a(s) pessoa(s) envolvida(s) - feridos, mortos e pessoas sem ferimento algum, incluindo-se
pedestres e transeuntes que venham a participar do acidente;
o(s) veículo(s) envolvido(s) - parcial ou totalmente destruídos; com pequenos problemas ou,
ainda, sem dano algum;
a via e o ambiente - mobiliário, bens e propriedades públicas e privadas, além da via e seus
equipamentos complementares, bem como as condições climáticas, iluminação, vegetação e
tudo o mais que compõe o ambiente;
o aparato institucional e os aspectos socioambientais - legislação, fiscalização e gestão da
circulação de bens e pessoas e administração da via e de seu entorno, bem como as "regras"
não escritas e não oficiais aceitas pela maioria dos usuários, que venham a fazer parte de
cultura regional e que possam influenciar nos acidentes.
A separação em partes permite investigações mais aprofundadas, desde que cada componente
esteja devidamente identificado em sua origem, de forma a permitir a reversão da linha de
estudo e pesquisa, em se fazendo necessário.
Assim, das pessoas emergem as condições socioeconômicas - idade, sexo, nível de
escolaridade, profissão, etc., numa perspectiva de decurso de tempo, a busca de informações
sobre as circunstâncias "antes e depois" do acidente, mapeiam-se acontecimentos como as
condições de resgate e os impactos decorrentes - gravidade das seqüelas, óbito a posteriori, etc.
Da observação e estudo das pessoas envolvidas nos acidentes podem-se quantificar os tempos
e valores associados aos ferimentos tratados e as conseqüências do acidente em sua vida
futura e de seus familiares, bem como ações e procedimentos tanto preventivos, para evitar ou
minimizar riscos, como corretivos, para melhorar as ações de atendimento aos acidentes.
Outras características dos acidentes estão além da investigação deste componente, valendo
destacar nos acidentes os veículos envolvidos, quanto ao número, tipo, categoria e dano sofrido
- pequena, média ou grande monta, até perda total. Os acontecimentos pós-acidente também
podem ser mapeados - tipo de medida adotada em relação à remoção do local do acidente,
recolhimento a pátios ou oficinas, substituição por outro veículo, etc.
O estudo posterior dos veículos envolvidos em um acidente, além de permitir medir os danos
sofridos, quantificar os dispêndios com reparos, as perdas e os transtornos advindos de cada
acidente, pode permitir identificar ações corretivas e preventivas na direção da redução dos
efeitos do acidente, tanto em relação aos danos materiais como aos ferimentos e vítimas.
Quanto à via e ao ambiente, que compreendem as condições físicas e ambientais no local do
acidente tanto da infra-estrutura viária (pista simples, dupla, múltipla, trechos em tangente, curva,
etc.) como do entorno, podem-se verificar os efeitos dos acidentes na deterioração do local,
incluindo-se os impactos sobre a fauna a flora, recursos hídricos, etc., quantificá-Ios e avaliar
seus custos, identificando os elementos que contribuíram para a ocorrência e gravidade do
evento, de forma a propor medidas mitigadoras dos problemas.
Quanto às partes institucional e socioambiental - relacionam-se com os agentes envolvidos, que
lidam durante e após o acontecimento, em suas atividades de fiscalização, controle,
atendimento, socorristas, de policiamento, de apuração de responsabilidades, etc. Trata -se
também das referências legais que estabelecem condutas, direitos e deveres, penalidades, no
âmbito das relações socioambientais, das regras e normas e dos procedimentos rotineiros na
administração e gerenciamento da via e de seu entorno.
O estudo anatômico do acidente, portanto, examina cada parte ou "componente" de cada
acidente, permitindo avaliar os custos associados a cada um dos componentes examinados.
O estudo anatômico, por outro lado, não se preocupa com a forma do acidente, ou seja, não
busca examinar como aconteceu o acidente ou como normalmente se conhece, o "tipo" do
acidente: se uma colisão frontal ou lateral, um capotamento ou tombamento.
4.2 Morfologia do acidente
O estudo da "morfologia de um acidente" é campo de pesquisa que vai além da descrição das
formas dos acidentes, buscando explicar as conexões existentes entre os diversos elementos,
considerando a dinâmica do acidente, visualizando-o em uma dimensão temporal, estudando as
forças atuantes durante o período em que o acidente ocorreu, os materiais, sua resistência e
deformação, incluindo-se o que se poderia chamar de "fisiologia dos materiais". Por exemplo, a
identificação de elementos, fraturas e análises que indiquem a causa de um dano (pneus e
rodas danificados, relacionando o vínculo do dano com a peça) - se a suspensão de um veículo
ficou danificada antes ou depois de um acidente são investigações que se situam no campo
morfológico do acidente.
Para compreender as formas que são reveladas mediante a observação, é necessário reunir,
comparar e decifrar os padrões espaciais, temporais e culturais constatados buscando analisar a
condição dos elementos/componentes envolvidos, a teia de relações que os unem e os
processos que os ensejam e alteram. Esses elementos são agrupados entre os "Aspectos
Socioculturais" associados a cada acidente. Dessa maneira, os elementos de um acidente de
trânsito não são vistos como formas separadas, mas em íntimo e dinâmico inter-relacionamento.
Depois de analisar os acidentes sob o aspecto morfológico, os aspectos socioculturais também
são levados em consideração para que se tenha uma visão compreensiva de cada acidente.
Deve-se, nesse caso, considerar a presença ou não do policiamento, os costumes de uma
região, bem como o gerenciamento da via e a legislação em vigor e a capacidade e disposição
da autoridade local em aplicá-Ia.
A experiência que a humanidade vai adquirindo em decorrência das externalidades do trânsito
e, mais particularmente, dos acidentes de trânsito, bem como a maneira pela qual eles
(re)modelam a vida das pessoas de acordo com suas necessidades e desejos, tem sido cada
vez mais mediada não só por um imaginário advindo da inundação de notícias, de imagens na
televisão e nas redes de computadores, mas também pela própria experiência de se vivenciar
seqüelas - temporárias ou permanentes - decorrentes de acidentes de trânsito ou a perda de um
ente mais próximo.
Como trabalhar empiricamente o simbólico contido em um acidente de trânsito, indo além do
racional, de modo a se obter um comportamento da sociedade mais consciente?
As ações em segurança viária e em educação de trânsito não se têm mostrado suficientes para
evitar tantas perdas. o combate efetivo à guerra do trânsito passa pela conscientização do que
representam os acidentes de trânsito para o indivíduo em si envolvido e para a sociedade, e pela
compreensão das características, componentes, formas e, principalmente, dos desdobramentos
de um acidente. Assim, além dos estudos comportamentais que visam à educação do trânsito e
para o trânsito, a ciência busca também identificar a estrutura dos acidentes e suas partes
separáveis, as formas dos acidentes e outros aspectos relacionados ao evento indesejável que
se pretende eliminar.
4.3 Anatomia do acidente
Figurativamente, a anatomia de um acidente trata da estrutura básica desse acidente, na
procura das partes, da estrutura associada ao evento.
Por estudo da "anatomia de um acidente de trânsito" entende-se a análise desse evento
singular, para se conhecer os seus componentes básicos, separadamente; a estrutura de
cada parte e os aspectos que lhe são inerentes, numa perspectiva pontual, instantâne a,
de forma estática - a ocorrência "fotografada".
A anatomia de um acidente de trânsito, assim entendida como a identificação dos
componentes básicos, compreende:
• a(s) pessoa(s) envolvida(s) - feridos, mortos e pessoas sem ferimento algum, 
 incluindo-se
pedestres e transeuntes que venham a participar do acidente;
•
• o(s) veículo(s) envolvido(s) - parcial ou totalmente destruídos; com pequenos 
 problemas ou,
ainda, sem dano algum;
• a via e o ambiente - mobiliário, bens e propriedades públicas e privadas, além da via e seus
equipamentos complementares, bem como as condições climáticas, iluminação,
vegetação e tudo o mais que compõe o ambiente;
• o aparato institucional e os aspectos socioambientais - legislação, fiscalização e gestão da
circulação de bens e pessoas e administração da via e de seu entorno, bem como as
"regras" não escritas e não oficiais aceitas pela maioria dos usuários, que venham a
fazer parte de cultura regional e que possam influenciar nos acidentes.
A separação em partes permite investigações mais aprofundadas, desde que cada

 componente esteja devidamente identificado em sua origem, de forma a permitir a
reversão da linha de estudo e pesquisa, em se fazendo necessário.
Assim, das pessoas emergem as condições socioeconômicas - idade, sexo, nível de
escolaridade, profissão, etc., numa perspectiva de decurso de tempo, a busca de
informações sobre as circunstâncias "antes e depois" do acidente, mapeiam-se
acontecimentos como as condições de resgate e os impactos decorrentes - gravidade das
seqüelas, óbito a posteriori, etc.
Da observação e estudo das pessoas envolvidas nos acidentes podem -se quantificar os
tempos e valores associados aos ferimentos tratados e as conseqüências do acidente em
sua vida futura e de seus familiares, bem como ações e procedimentos tanto preventivos,
para evitar ou minimizar riscos, como corretivos, para melhorar as ações de atendimento
aos acidentes.

 Outras características dos acidentes estão além da investigação deste componente,
valendo destacar nos acidentes os veículos envolvidos, quanto ao número, tipo, categoria
e dano sofrido - pequena, média ou grande monta, até perda total. Os acontecimentos
pós- acidente também podem ser mapeados - tipo de medida adotada em relação à
remoção do local do acidente, recolhimento a pátios ou oficinas, substituição por outro
veículo, etc.
O estudo posterior dos veículos envolvidos em um acidente, além de permitir medir os 
 danos
sofridos, quantificar os dispêndios com reparos, as perdas e os transtornos advindos de cada
acidente, pode permitir identificar ações corretivas e preventivas na direção da redução dos
efeitos do acidente, tanto em relação aos danos materiais como aos ferimentos e vítimas.
Quanto à via e ao ambiente, que compreendem as condições físicas e ambientais no local do
acidente tanto da infra-estrutura viária (pista simples, dupla, múltipla, trechos em tangente,
curva, etc.) como do entorno, podem-se verificar os efeitos dos acidentes na deterioração do
local, incluindo-se os impactos sobre a fauna a flora, recursos hídricos, etc., quantificá-Ios e
avaliar seus custos, identificando os elementos que contribuíram para a ocorrência e gravidade
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 envolvidos,
que lidam durante e após o acontecimento, em suas atividades de fiscalização, controle,
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também das referências legais que estabelecem condutas, direitos e deveres, penalidades, no
âmbito das relações socioambientais, das regras e normas e dos procedimentos rotineiros na
administração e gerenciamento da via e de seu entorno.
O estudo anatômico do acidente, portanto, examina cada parte ou "componente" de cada
acidente, permitindo avaliar os custos associados a cada um dos componentes examinados.
O estudo anatômico, por outro lado, não se preocupa com a forma do acidente, ou seja, 
 não
busca examinar como aconteceu o acidente ou como normalmente se conhece, o "tipo" do
acidente: se uma colisão frontal ou lateral, um capotamento ou tombamento.
Morfologia do acidente o estudo da "morfologia de um acidente" é campo de pesquisa que vai
além da descrição das formas dos acidentes, buscando explicar as conexões existentes entre os
diversos elementos, considerando a dinâmica do acidente, visualizando-o em uma dimensão
temporal, estudando as forças atuantes durante o período em que o acidente ocorreu, os
materiais, sua resistência e deformação, incluindo-se o que se poderia chamar de "fisiologia dos
materiais". Por exemplo, a identificação de elementos, fraturas e análises que indiquem a causa
de um dano (pneus e rodas danificados, relacionando o vínculo do dano com a peça) - se a
suspensão de um veículo ficou danificada antes ou depois de um acidente são investigações
que se situam no campo morfológico do acidente.
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Socioculturais" associados a cada acidente. Dessa maneira, os elementos de um acidente de
trânsito não são vistos como formas separadas, mas em íntimo e dinâmico inter-relacionamento.
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 também
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Acidentes de trânsito

  • 1. ACIDENTES DE TRÂNSITO 1. INTRODUÇÃO O problema "Acidentes de Trânsito" tem sido incorporado ao cotidiano da vida das pessoas, silenciosa e assustadoramente. Conhecer melhor essa realidade, criando subsídios para a tomada de decisões e implementação de ações, é o primeiro passo para a mudança dessa cruel situação. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), mais de 1 milhão de pessoas ao redor do mundo morrem em conseqüência de acidente de trânsito nas rodovias. Isso representa, mundialmente, uma média diária de mais de 3.000 mortes. Além dessas mortes, estima-se que entre 20 milhões e 50 milhões de pessoas no mundo saem feridas ou incapacitadas em decorrência de acidentes de trânsito nas rodovias, a cada ano. Esses números refletem somente os envolvidos diretos nos acidentes de trânsito. Reconhecer que, além desses, há indivíduos que, de maneira indireta, aproximam-se do problema - familiares próximos dos acidentados, policiais rodoviários e outros agentes de controle do trânsito nas estradas, pessoal de emergência e de socorro, repórteres e o público que acompanha o noticiário, significa constatar que os números dos impactos dos acidentes alcançam uma dimensão epidêmica. Segundo o Código de Trânsito Brasileiro - CTB, a segurança e a prevenção de acidentes de trânsito em rodovias federais são obrigações das autoridades gestoras e operadoras de trânsito e transporte: o Ministério das Cidades, por meio do Departamento Nacional de Trânsito (Denatran); o Ministério dos Transportes, por intermédio do Departamento Nacional de Infra- estrutura de Transportes (DNIT); e o Ministério da Justiça, por meio da Polícia Rodoviária Federal (PRF); além dos Departamentos de Estradas de Rodagens (DERs) e Departamentos Estaduais de Trânsito (Detrans). 2. CONCEITOS E DEFINIÇÕES Os conceitos e definições adotados são os estabelecidos pela OMS, da qual o Brasil é país membro. Assim, assume-se que acidente é um evento independente do desejo do homem, causado por uma força externa, alheia, que atua subitamente (de forma inesperada) e deixa ferimentos no corpo e na mente. É um fenômeno complexo que envolve uma série de fatores, nem sempre facilmente identificáveis. A tentativa de explicação das suas causas é uma tarefa muito difícil que tem envolvido muitas pesquisas no mundo todo. Alternativamente, pode-se considerar um acidente um evento não intencional que produz ferimentos ou danos. 2.1 Acidente de trânsito é todo acidente com veículo ocorrido na via pública. 2.2 Acidente de transporte é todo acidente que envolve um veículo destinado ou usado no momento do acidente, principalmente, para o transporte de pessoas ou de mercadorias de um lugar para outro.
  • 2. Observa-se que a OMS classifica os acidentes segundo o meio de transporte utilizado, destacando os pedestres e os veículos utilizados pelas vítimas, para depois, subclassificar as vítimas segundo seu papel no acidente (condutor, passageiro, pingente, etc.). Considera -se, pois, o veículo como o fator mais importante que deve ser identificado para fins de prevenção. 2.3 Via pública (via de trânsito, estrada, rodovia ou rua) é a largura total entre dois limites de propriedade de todo o terreno ou caminho aberto ao público, quer por direito, quer por costume, para a circulação de pessoas ou bens de um lugar para outro. Pista ou leito da via é a parte da via pública que é preparada, conservada e, habitualmente, usada para o trânsito de veículos. 2.4 Pedestre é toda pessoa envolvida em um acidente, mas que no momento em que este ocorreu não estava viajando no interior ou sobre um veículo a motor, trem em via férrea, bonde, veículo de tração animal ou outro veículo, ou sobre bicicleta ou animal. Incluem -se entre os pedestres as pessoas em cadeiras de rodas (inclusive as motorizadas), carrinhos de bebê, pessoas com carrinhos de mão ou exercendo qualquer atividade na via pública, tais como trocando pneu, consertando um veículo ou trabalhando na via. 2.5 Condutor é o ocupante de um veículo que o manobra (dirige/guia) ou tem a intenção de manobrá-Io. 2.6 Passageiro é todo ocupante de um veículo que não seja o condutor. Exclui pessoa viajando no exterior do veículo ou não ocupando local reservado normalmente ao condutor ou aos passageiros ou o local previsto para o transporte de mercadorias, esse normalmente identificado como pingente. 3. FATORES QUE INTERFEREM NOS ACIDENTES O acidente de trânsito é um fenômeno complexo que envolve uma série de fatores, nem sempre facilmente identificáveis. A tentativa de explicação das suas causas é uma tarefa muito difícil que tem envolvido muitas pesquisas no mundo todo. A interpretação mais tradicional dos fatores ligados aos acidentes de trânsito divide-os em três grupos: o homem, a via e o veículo. 3.1 Fatores Humanos É importante separar as condições humanas, físicas, psicológicas, emocionais, culturais e político-sociais. A condição física está ligada à capacidade das pessoas realizarem os movimentos necessários à sua participação no trânsito. O pedestre precisa ter a capacidade de andar a uma certa velocidade, principalmente ao atravessar uma via. Já o motorista precisa ter a capacidade de manejar adequadamente os equipamentos do veículo, como o freio e a direção. Tanto um como o outro precisam ver e ouvir adequadamente. Todo esse conjunto de habilidades físicas interfere diretamente na capacidade das pessoas de circularem pelas vias e negociarem o espaço com segurança, para não se envolverem em acidentes. Essas condições variam de pessoa a pessoa e dependem da idade de cada um. É importante observar que a maioria das pessoas, em condições normais, tem as habilidades mínimas para participar do trânsito e eventualmente dirigir veículos. Dentre os fatores físicos relevantes, um dos mais importantes para a segurança do trânsito diz respeito à capacidade das pessoas de perceberem alterações nas condições do ambiente. Um dos pontos mais importantes a esse respeito é que a capacidade é seriamente prejudicada
  • 3. quando o motorista está fatigado ou ingeriu bebida alcoólica ou drogas. A relação entre a ingestão de bebida alcoólica e o envolvimento em acidentes de trânsito tem sido alvo de estudos em todo o mundo, pois, é comprovadamente grande o número de vítimas fatais de trânsito ligadas diretamente a pessoas alcoolizadas que dirigiam veículos. A situação é tão grave, que na maioria dos países desenvolvidos dirigir alcoolizado é considerado crime, podendo levar à sanções mais sérias, como a suspensão definitiva do direito de dirigir. A influência do álcool nas condições das pessoas está ligada basicamente ao seu efeito sobre os reflexos. Da mesma forma, o uso de drogas, legais ou não, também interferem nos reflexos das pessoas. No caso dos medicamentos, pode ocorrer efeitos colaterais, como vertigens, distúrbios visuais e sonolência. Analogamente, a fadiga também tem efeitos negativos no desempenho das pessoas, aumentando a possibilidade de distração e tornando os reflexos mais lentos. Também os fatores psicológicos influenciam no comportamento das pessoas. Estão ligados principalmente à personalidade do indivíduo e a forma como ele se manifesta no trânsito. Há psicólogos que acreditam que as pessoas mais agressivas tendem a ter um comportamento mais violento no trânsito, o que pode predispô-las à se envolverem em acidentes. Já os fatores emocionais parecem ter grande relevância na explicação dos acidentes, embora operem por períodos curtos de tempo. Eles são representados basicamente pela pressa ou pela tensão, provocada por problemas pessoais de várias naturezas. A pressa pode levar ao abuso da velocidade e à realização de manobras inseguras, enquanto a tensão pode levar à distração ou à ação violenta, como forma de alívio. Adicionalmente, deve-se levar em consideração os aspectos culturais, relativos ao nível de conhecimento das pessoas sobre as regras de trânsito. 3.2 Condições Dos Veículos O veículo, especialmente o automóvel, tem sido considerado também um dos fatores que influenciam na ocorrência dos acidentes. Sendo uma máquina, esta afirmação é óbvia, mas é preciso ter um conhecimento mais detalhado do problema. Além do chassis e da carroceria, os freios, os pneus e os faróis, são importantes sob o ponto de vista de segurança. A importância dos freios é crucial, na medida em que a distância necessária para parar o veículo aumenta ao quadrado com relação à velocidade. A capacidade de frenagem está ligada diretamente ao atrito do pneu e a superfície de rolamento, que por sua vez depende do tipo de borracha, do estado de conservação do pneu e do tipo de pavimento. As luzes dos veículos, desempenham papel fundamental para a segurança da circulação. As luzes de freio tem a função de alertar sobre a diminuição da velocidade o que permite que a reação do motorista que vem atrás seja mais rápida. As condições de manutenção dos veículos tem importância vital para a segurança do trânsito. Os casos mais preocupantes são sempre os dos veículos com defeitos graves nos sistemas de freio e iluminação. 3.3 Condições Das Vias
  • 4. As vias interferem nas condições de segurança por várias de suas características físicas. É importante ressaltar que esta interferência está sempre ligada à velocidade praticada e ao espaço utilizado. A primeira característica está relacionada ao pavimento da via. Enquanto a via está com piso natural, a velocidade é baixa e a circulação conjunta de pedestres e veículos pode ser feita sem grandes problemas de segurança. À medida que a via é pavimentada, aumenta principalmente o risco de atropelamento. A geometria da via, principalmente das rodovias, a existência de canteiro central, o raio das curvas e a superelevação, têm influência decisiva na velocidade que os veículos podem pratica r. Da mesma forma, em vias de pista simples, de mão dupla, a inclinação e a extensão dos trechos ascendentes, bem como os trechos de pouca visibilidade, influem diretamente na possibilidade de ultrapassagem e se constituem num dos fatores mais importantes da segurança rodoviária. 4. ANATOMIA, MORFOLOGIA E ASPECTOS SOCIOCULTURAIS DE UM ACIDENTE O acidente de trânsito é uma realidade objetiva, que adquire expressão no pensamento e nas ações daqueles que o vivenciaram mais diretamente, seja na condição de vítimas, ou de parentes e amigos destas, ou ainda na de agentes institucionais, de atendimento, socorristas e de observadores circunstanciais. A experiência que a humanidade vai adquirindo em decorrência das externalidades do trânsito e, mais particularmente, dos acidentes de trânsito, bem como a maneira pela qual eles (re)modelam a vida das pessoas de acordo com suas necessidades e desejos, tem sido cada vez mais mediada não só por um imaginário advindo da inundação de notícias, de imagens na televisão e nas redes de computadores, mas também pela própria experiência de se vivenciar seqüelas, temporárias ou permanentes, decorrentes de acidentes de trânsito ou a perda de um ente mais próximo. Como trabalhar empiricamente o simbólico contido em um acidente de trânsito, indo além 
 do racional, de modo a se obter um comportamento da sociedade mais consciente? As ações em segurança viária e em educação de trânsito não se têm mostrado suficientes para evitar tantas perdas. O combate efetivo à guerra do trânsito passa pela conscientização do que representam os acidentes de trânsito para o indivíduo em si envolvido e para a sociedade, e pela compreensão das características, componentes, formas e, principalmente, dos desdobramentos de um acidente. Assim, além dos estudos comportamentais que visam à educação do trânsito e para o trânsito, a ciência busca também identificar a estrutura dos acidentes e suas partes separáveis, as formas dos acidentes e outros aspectos relacionados ao evento indesejável que se pretende eliminar. 4.1 Anatomia do acidente Figurativamente, a anatomia de um acidente trata da estrutura básica desse acidente, na procura das partes, da estrutura associada ao evento. Por estudo da "anatomia de um acidente de trânsito" entende-se a análise desse evento singular, para se conhecer os seus componentes básicos, separadamente; a estrutura de cada parte e os aspectos que lhe são inerentes, numa perspectiva pontual, instantânea, de forma estática - a ocorrência "fotografada". A anatomia de um acidente de trânsito, assim entendida como a identificação dos componentes básicos, compreende: a(s) pessoa(s) envolvida(s) - feridos, mortos e pessoas sem ferimento algum, incluindo-se
  • 5. pedestres e transeuntes que venham a participar do acidente; o(s) veículo(s) envolvido(s) - parcial ou totalmente destruídos; com pequenos problemas ou, ainda, sem dano algum; a via e o ambiente - mobiliário, bens e propriedades públicas e privadas, além da via e seus equipamentos complementares, bem como as condições climáticas, iluminação, vegetação e tudo o mais que compõe o ambiente; o aparato institucional e os aspectos socioambientais - legislação, fiscalização e gestão da circulação de bens e pessoas e administração da via e de seu entorno, bem como as "regras" não escritas e não oficiais aceitas pela maioria dos usuários, que venham a fazer parte de cultura regional e que possam influenciar nos acidentes. A separação em partes permite investigações mais aprofundadas, desde que cada componente esteja devidamente identificado em sua origem, de forma a permitir a reversão da linha de estudo e pesquisa, em se fazendo necessário. Assim, das pessoas emergem as condições socioeconômicas - idade, sexo, nível de escolaridade, profissão, etc., numa perspectiva de decurso de tempo, a busca de informações sobre as circunstâncias "antes e depois" do acidente, mapeiam-se acontecimentos como as condições de resgate e os impactos decorrentes - gravidade das seqüelas, óbito a posteriori, etc. Da observação e estudo das pessoas envolvidas nos acidentes podem-se quantificar os tempos e valores associados aos ferimentos tratados e as conseqüências do acidente em sua vida futura e de seus familiares, bem como ações e procedimentos tanto preventivos, para evitar ou minimizar riscos, como corretivos, para melhorar as ações de atendimento aos acidentes. Outras características dos acidentes estão além da investigação deste componente, valendo destacar nos acidentes os veículos envolvidos, quanto ao número, tipo, categoria e dano sofrido - pequena, média ou grande monta, até perda total. Os acontecimentos pós-acidente também podem ser mapeados - tipo de medida adotada em relação à remoção do local do acidente, recolhimento a pátios ou oficinas, substituição por outro veículo, etc. O estudo posterior dos veículos envolvidos em um acidente, além de permitir medir os danos sofridos, quantificar os dispêndios com reparos, as perdas e os transtornos advindos de cada acidente, pode permitir identificar ações corretivas e preventivas na direção da redução dos efeitos do acidente, tanto em relação aos danos materiais como aos ferimentos e vítimas. Quanto à via e ao ambiente, que compreendem as condições físicas e ambientais no local do acidente tanto da infra-estrutura viária (pista simples, dupla, múltipla, trechos em tangente, curva, etc.) como do entorno, podem-se verificar os efeitos dos acidentes na deterioração do local, incluindo-se os impactos sobre a fauna a flora, recursos hídricos, etc., quantificá-Ios e avaliar seus custos, identificando os elementos que contribuíram para a ocorrência e gravidade do evento, de forma a propor medidas mitigadoras dos problemas. Quanto às partes institucional e socioambiental - relacionam-se com os agentes envolvidos, que lidam durante e após o acontecimento, em suas atividades de fiscalização, controle, atendimento, socorristas, de policiamento, de apuração de responsabilidades, etc. Trata -se também das referências legais que estabelecem condutas, direitos e deveres, penalidades, no âmbito das relações socioambientais, das regras e normas e dos procedimentos rotineiros na administração e gerenciamento da via e de seu entorno. O estudo anatômico do acidente, portanto, examina cada parte ou "componente" de cada acidente, permitindo avaliar os custos associados a cada um dos componentes examinados. O estudo anatômico, por outro lado, não se preocupa com a forma do acidente, ou seja, não
  • 6. busca examinar como aconteceu o acidente ou como normalmente se conhece, o "tipo" do acidente: se uma colisão frontal ou lateral, um capotamento ou tombamento. 4.2 Morfologia do acidente O estudo da "morfologia de um acidente" é campo de pesquisa que vai além da descrição das formas dos acidentes, buscando explicar as conexões existentes entre os diversos elementos, considerando a dinâmica do acidente, visualizando-o em uma dimensão temporal, estudando as forças atuantes durante o período em que o acidente ocorreu, os materiais, sua resistência e deformação, incluindo-se o que se poderia chamar de "fisiologia dos materiais". Por exemplo, a identificação de elementos, fraturas e análises que indiquem a causa de um dano (pneus e rodas danificados, relacionando o vínculo do dano com a peça) - se a suspensão de um veículo ficou danificada antes ou depois de um acidente são investigações que se situam no campo morfológico do acidente. Para compreender as formas que são reveladas mediante a observação, é necessário reunir, comparar e decifrar os padrões espaciais, temporais e culturais constatados buscando analisar a condição dos elementos/componentes envolvidos, a teia de relações que os unem e os processos que os ensejam e alteram. Esses elementos são agrupados entre os "Aspectos Socioculturais" associados a cada acidente. Dessa maneira, os elementos de um acidente de trânsito não são vistos como formas separadas, mas em íntimo e dinâmico inter-relacionamento. Depois de analisar os acidentes sob o aspecto morfológico, os aspectos socioculturais também são levados em consideração para que se tenha uma visão compreensiva de cada acidente. Deve-se, nesse caso, considerar a presença ou não do policiamento, os costumes de uma região, bem como o gerenciamento da via e a legislação em vigor e a capacidade e disposição da autoridade local em aplicá-Ia. A experiência que a humanidade vai adquirindo em decorrência das externalidades do trânsito e, mais particularmente, dos acidentes de trânsito, bem como a maneira pela qual eles (re)modelam a vida das pessoas de acordo com suas necessidades e desejos, tem sido cada vez mais mediada não só por um imaginário advindo da inundação de notícias, de imagens na televisão e nas redes de computadores, mas também pela própria experiência de se vivenciar seqüelas - temporárias ou permanentes - decorrentes de acidentes de trânsito ou a perda de um ente mais próximo. Como trabalhar empiricamente o simbólico contido em um acidente de trânsito, indo além do racional, de modo a se obter um comportamento da sociedade mais consciente? As ações em segurança viária e em educação de trânsito não se têm mostrado suficientes para evitar tantas perdas. o combate efetivo à guerra do trânsito passa pela conscientização do que representam os acidentes de trânsito para o indivíduo em si envolvido e para a sociedade, e pela compreensão das características, componentes, formas e, principalmente, dos desdobramentos de um acidente. Assim, além dos estudos comportamentais que visam à educação do trânsito e para o trânsito, a ciência busca também identificar a estrutura dos acidentes e suas partes separáveis, as formas dos acidentes e outros aspectos relacionados ao evento indesejável que se pretende eliminar. 4.3 Anatomia do acidente Figurativamente, a anatomia de um acidente trata da estrutura básica desse acidente, na procura das partes, da estrutura associada ao evento. Por estudo da "anatomia de um acidente de trânsito" entende-se a análise desse evento singular, para se conhecer os seus componentes básicos, separadamente; a estrutura de cada parte e os aspectos que lhe são inerentes, numa perspectiva pontual, instantâne a, de forma estática - a ocorrência "fotografada".
  • 7. A anatomia de um acidente de trânsito, assim entendida como a identificação dos componentes básicos, compreende: • a(s) pessoa(s) envolvida(s) - feridos, mortos e pessoas sem ferimento algum, 
 incluindo-se pedestres e transeuntes que venham a participar do acidente; • • o(s) veículo(s) envolvido(s) - parcial ou totalmente destruídos; com pequenos 
 problemas ou, ainda, sem dano algum; • a via e o ambiente - mobiliário, bens e propriedades públicas e privadas, além da via e seus equipamentos complementares, bem como as condições climáticas, iluminação, vegetação e tudo o mais que compõe o ambiente; • o aparato institucional e os aspectos socioambientais - legislação, fiscalização e gestão da circulação de bens e pessoas e administração da via e de seu entorno, bem como as "regras" não escritas e não oficiais aceitas pela maioria dos usuários, que venham a fazer parte de cultura regional e que possam influenciar nos acidentes. A separação em partes permite investigações mais aprofundadas, desde que cada 
 componente esteja devidamente identificado em sua origem, de forma a permitir a reversão da linha de estudo e pesquisa, em se fazendo necessário. Assim, das pessoas emergem as condições socioeconômicas - idade, sexo, nível de escolaridade, profissão, etc., numa perspectiva de decurso de tempo, a busca de informações sobre as circunstâncias "antes e depois" do acidente, mapeiam-se acontecimentos como as condições de resgate e os impactos decorrentes - gravidade das seqüelas, óbito a posteriori, etc. Da observação e estudo das pessoas envolvidas nos acidentes podem -se quantificar os tempos e valores associados aos ferimentos tratados e as conseqüências do acidente em sua vida futura e de seus familiares, bem como ações e procedimentos tanto preventivos, para evitar ou minimizar riscos, como corretivos, para melhorar as ações de atendimento aos acidentes. 
 Outras características dos acidentes estão além da investigação deste componente, valendo destacar nos acidentes os veículos envolvidos, quanto ao número, tipo, categoria e dano sofrido - pequena, média ou grande monta, até perda total. Os acontecimentos pós- acidente também podem ser mapeados - tipo de medida adotada em relação à remoção do local do acidente, recolhimento a pátios ou oficinas, substituição por outro veículo, etc. O estudo posterior dos veículos envolvidos em um acidente, além de permitir medir os 
 danos sofridos, quantificar os dispêndios com reparos, as perdas e os transtornos advindos de cada acidente, pode permitir identificar ações corretivas e preventivas na direção da redução dos efeitos do acidente, tanto em relação aos danos materiais como aos ferimentos e vítimas. Quanto à via e ao ambiente, que compreendem as condições físicas e ambientais no local do acidente tanto da infra-estrutura viária (pista simples, dupla, múltipla, trechos em tangente, curva, etc.) como do entorno, podem-se verificar os efeitos dos acidentes na deterioração do local, incluindo-se os impactos sobre a fauna a flora, recursos hídricos, etc., quantificá-Ios e avaliar seus custos, identificando os elementos que contribuíram para a ocorrência e gravidade do evento, de forma a propor medidas mitigadoras dos problemas. Quanto às partes institucional e socioambiental - relacionam-se com os agentes 
 envolvidos, que lidam durante e após o acontecimento, em suas atividades de fiscalização, controle, atendimento, socorristas, de policiamento, de apuração de responsabilidades, etc. Trata -se
  • 8. também das referências legais que estabelecem condutas, direitos e deveres, penalidades, no âmbito das relações socioambientais, das regras e normas e dos procedimentos rotineiros na administração e gerenciamento da via e de seu entorno. O estudo anatômico do acidente, portanto, examina cada parte ou "componente" de cada acidente, permitindo avaliar os custos associados a cada um dos componentes examinados. O estudo anatômico, por outro lado, não se preocupa com a forma do acidente, ou seja, 
 não busca examinar como aconteceu o acidente ou como normalmente se conhece, o "tipo" do acidente: se uma colisão frontal ou lateral, um capotamento ou tombamento. Morfologia do acidente o estudo da "morfologia de um acidente" é campo de pesquisa que vai além da descrição das formas dos acidentes, buscando explicar as conexões existentes entre os diversos elementos, considerando a dinâmica do acidente, visualizando-o em uma dimensão temporal, estudando as forças atuantes durante o período em que o acidente ocorreu, os materiais, sua resistência e deformação, incluindo-se o que se poderia chamar de "fisiologia dos materiais". Por exemplo, a identificação de elementos, fraturas e análises que indiquem a causa de um dano (pneus e rodas danificados, relacionando o vínculo do dano com a peça) - se a suspensão de um veículo ficou danificada antes ou depois de um acidente são investigações que se situam no campo morfológico do acidente. Para compreender as formas que são reveladas mediante a observação, é necessário reunir, comparar e decifrar os padrões espaciais, temporais e culturais constatados buscando analisar a condição dos elementos/componentes envolvidos, a teia de relações que os unem e os processos que os ensejam e alteram. Esses elementos são agrupados entre os "Aspectos Socioculturais" associados a cada acidente. Dessa maneira, os elementos de um acidente de trânsito não são vistos como formas separadas, mas em íntimo e dinâmico inter-relacionamento. Depois de analisar os acidentes sob o aspecto morfológico, os aspectos socioculturais 
 também são levados em consideração para que se tenha uma visão compreensiva de cada acidente. Deve-se, nesse caso, considerar a presença ou não do policiamento, os costumes de uma região, bem como o gerenciamento da via e a legislação em vigor e a capacidade e disposição da autoridade local em aplicá-Ia.