O documento descreve a poesia brasileira produzida entre 1930 e 1945, período marcado por forte instabilidade política e econômica no Brasil. Apresenta os principais poetas dessa geração, como Cecília Meireles, Carlos Drummond de Andrade e Vinícius de Moraes, que se caracterizaram pela denúncia social e introspeção lírica. Aborda também o contexto histórico da ditadura Vargas e da censura à produção artística nesse período.
1. A poesia brasileira de
1930 a 1945
Profa. Maria Gabriella Flores
Módulo 10 – Capítulo 28
2. Os poetas que escreveram entre 1930 a 1945
compuseram a Segunda Geração Modernista.
Ficaram conhecidos tanto pela forte denúncia
social quanto pelo olhar introspectivo.
Contexto histórico: Quebra da Bolsa de
Valores de Nova York (1929); Grande
instabilidade econômica; Eclosão de diversos
movimentos nacionalistas ao redor do mundo.
3. A elite cafeeira chegou à ruína.
Em 1930, instaurou-se uma ditadura no país
que perdurou até 1945 (Ditadura Varguista).
Durante os anos de 1930 a 1945, com a
ditadura de Vargas, foi criado o Departamento
de Imprensa e Propaganda (DIP), que regulava
e censurava a produção dos artistas.
4. CECÍLIA MEIRELES
(1901- 1964)
Poemas de forte espiritualismo e traços musicais;
Recuperação das cantigas trovadorescas;
Gosto pelo paradoxo;
A maior parte de seus poemas aborda os dilemas
internos do eu lírico, suas dúvidas e sentimentos.
5. Motivo
Eu canto porque o instante existe
E a minha vida está completa.
Não sou alegre nem triste:
Sou poeta.
(MEIRELES, Cecília. Motivo. In: Viagem. Lisboa: Império,
1938, p. 7)
6. CARLOS DRUMMOND DE
ANDRADE
É considerado um dos mais importantes poetas de
literatura brasileira, por representar os problemas tanto do
indivíduo/sujeito quanto do todo social.
Poesia marcada pelo verso livre, ausência de rimas e
pontuação, quebra de sintaxe, presença de ironia,
irreverência e, em alguns momentos, uma retomada do
passado, mencionando Minas Gerais ou paisagens do
interior brasileiro.
Linguagem coloquial;
Exploração de temáticas universais, como o amor, a
ausência, a crítica social, a metafísica, o existencialismo
7. EU MAIOR QUE O
MUNDO
Poema de Sete Faces
Carlos Drummond de Andrade
Quando nasci, um anjo torto
Desses que vivem na sombra
Disse: Vai, Carlos, ser gauche na vida
As casas espiam os homens
Que correm atrás de mulheres
A tarde talvez fosse azul
Não houvesse tantos desejos
O bonde passa cheio de pernas
Pernas brancas, pretas, amarelas
Para que tanta perna, meu Deus? Pergunta
meu coração
Porém, meus olhos
Não perguntam nada
O homem atrás do bigode
É sério, simples e forte
Quase não conversa
Tem poucos, raros amigos
O homem atrás dos óculos e do bigode
Meu Deus, por que me abandonaste?
Se sabias que eu não era Deus
Se sabias que eu era fraco
Mundo, mundo, vasto mundo
Se eu me chamasse Raimundo
Seria uma rima, não seria uma solução
Mundo, mundo, vasto mundo
Mais vasto é meu coração
Eu não devia te dizer
Mas essa Lua
Mas esse conhaque
Botam a gente comovido como o diabo
8. Quadrilha
Carlos Drummond de Andrade
João amava Teresa que amava Raimundo
que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili
que não amava ninguém.
João foi para os Estados Unidos, Teresa para o convento,
Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia,
Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes
que não tinha entrado na história
9. No Meio do Caminho
Carlos Drummond de Andrade
No meio do caminho tinha uma pedra
Tinha uma pedra no meio do caminho
Tinha uma pedra
No meio do caminho tinha uma pedra
Nunca me esquecerei desse acontecimento
Na vida de minhas retinas tão fatigadas
Nunca me esquecerei que no meio do caminho
Tinha uma pedra
Tinha uma pedra no meio do caminho
No meio do caminho tinha uma pedra
10. As questões socioeconômicas históricas ganharam bastante
destaque, com um eu lírico preocupado e envolvido com os
acontecimentos do mundo, com a pobreza, a exploração e a
iminência da Segunda Guerra Mundial e suas
consequências.
Mostra a incapacidade do poeta de mudar o contexto em
que vive diante da presença de tantos problemas.
11. Sentimento do mundo [Carlos
Drummond de Andrade]
Tenho apenas duas mãos
e o sentimento do mundo,
mas estou cheio de escravos,
minhas lembranças escorrem
e o corpo transige
na confluência do amor.
Quando me levantar, o céu
estará morto e saqueado,
eu mesmo estarei morto,
morto meu desejo, morto
o pântano sem acordes.
Os camaradas não disseram
que havia uma guerra
e era necessário
trazer fogo e alimento.
Sinto-me disperso,
anterior a fronteiras,
humildemente vos peço
que me perdoeis.
Quando os corpos passarem,
eu ficarei sozinho
desfiando a recordação
do sineiro, da viúva e do
microscopista
que habitavam a barraca
e não foram encontrados
ao amanhecer
esse amanhecer
mais noite que a noite.
[Sentimento do mundo]
12. Melancolia, desesperança, negação e o pessimismo do
poeta.
O poeta volta-se para si mesmo, revelando um lado
introspectivo, intimista.
O poeta está igual ao mundo, pois se encontra como todo o
restante, individualista, discorrendo sobre seus problemas, e
não sobre os dos outros.
13. A máquina do mundo
E como eu palmilhasse vagamente
uma estrada de Minas, pedregosa,
e no fecho da tarde um sino rouco
se misturasse ao som de meus sapatos
que era pausado e seco; e aves
pairassem
no céu de chumbo, e suas formas pretas
lentamente se fossem diluindo
na escuridão maior, vinda dos montes
e de meu próprio ser desenganado,
a máquina do mundo se entreabriu
para quem de a romper já se esquivava
e só de o ter pensado se carpia.
[...]
baixei os olhos, incurioso, lasso,
desdenhando colher a coisa oferta
que se abria gratuita a meu engenho.
A treva mais estrita já pousara
sobre a estrada de Minas, pedregosa,
e a máquina do mundo, repelida,
se foi miudamente recompondo,
enquanto eu, avaliando o que perdera,
seguia vagaroso, de mãos pensas.
14. É um dos mais conhecidos poetas brasileiros, com grandes
contribuições para o teatro e para a música nacional,
sobretudo à bossa nova e ao samba.
Um mote recorrente nas produções de Vinicius de Moraes,
contudo, é a pulsação dos sentidos, o repúdio ao
pensamento lógico e ao idealismo, e a negação e a
interferência filosófica ou moral.
15. SONETO DE FIDELIDADE
São Paulo , 1946
De tudo, ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.
Quero vivê-lo em cada vão momento
E em louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento.
E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem
vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama
Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.
Estoril, outubro de 1939
16. Jorge de Lima: Praticou uma poesia voltada ao
regionalismo, representando o Nordeste brasileiro e
incorporando os aspectos da vida do negro em seus
versos.
Murilo Mendes: Reordena o mundo segundo uma
espécie de agressiva lógica poética, sendo um
modernista radical e humorístico.
17. 1. É correto afirmar, em relação à poesia do segundo momento
modernista brasileiro, que
a)amadurece e amplia as conquistas da geração anterior.
b)o poeta para de se questionar como indivíduo e como artista.
c)deixa de ser influenciada por Mário e Oswald de Andrade.
d)fortalece a busca pela poesia construtiva e apolitizada.
e)se liberta das profundas transformações ocorridas no período
18. 2.
Não serei o poeta de um mundo caduco.
Também não cantarei o mundo futuro.
Estou preso à vida e olho meus
companheiros.
Estão taciturnos mas nutrem grandes
esperanças.
Entre eles, considero a enorme realidade.
Os versos acima, do poema "Mãos
dadas", de Carlos Drummond de
Andrade, prendem-se a uma fase de sua
poesia na qual o poeta mineiro,
a) promovendo um balanço crítico de sua
poesia, aventura-se em novas formas
poéticas, de caráter experimental.
b) influenciado diretamente por Oswald
de Andrade, passa a compor epigramas
irônicos.
c) relativizando a ironia que caracterizava
momentos anteriores, escreve poemas de
cunho político-social.
d) desiludido com os rumos do mundo
contemporâneo, recolhe-se à intimidade e
passa a refletir sobre o absurdo da
existência.
e) já na casa dos setenta anos, entrega-
se a um memorialismo em tom de
crônica, revivendo suas experiências
juvenis.