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A Deus, que me chamou à existência e fez-me vocacionado ao matrimônio.
A Kelen Galvan, minha esposa e namorada para toda a vida.
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Apresentação
Para que o seu relacionamento
dê certo
Estou firmemente convencido de que para um relacionamento se tornar fonte de
alegria e felicidade duradouras ele precisa avançar sem queimar etapas. A precipitação e
o abuso estão entre as maiores causas que levam amizades, namoros e casamentos à
destruição. Se percorrermos a história da humanidade, vamos perceber que para o
envolvimento afetivo ser bem-sucedido sempre houve e sempre haverá regras. Em outras
palavras, há coisas que se devem fazer e outras que se devem evitar.
Fiquei muito feliz quando o Sandro me contou que estava tratando deste tema porque
vejo a urgência e a importância de cada vez mais se falar no assunto de forma clara,
objetiva e competente. Por falta de conhecimento e apoio, relacionamentos que não
deveriam acabar chegaram ao fim, amizades comoventes se perderam, pessoas que eram
íntimas e se amaram não querem nem mesmo se ver. São coisas que acontecem perto de
nós todos os dias e que poderão ser evitadas ao colocarmos em prática as propostas
trazidas neste livro.
Sei que alguns apresentam certa resistência ao ouvir falar de etapas e regras porque se
sentem ameaçados. Não querem alguém lhes dizendo o que fazer e muito menos
restringindo sua liberdade. O problema é que ainda não perceberam que as etapas
existem para proteger o amor, para que não se perca o que naquela relação já existiu de
belo. Elas são as guardiãs que protegem seu namoro de feridas fatais. São etapas em seu
favor, nunca contra você.
No momento em que aceitar o desafio de cruzar essas cinco fronteiras posso lhe
garantir que uma dessas duas coisas vai lhe acontecer: se você está namorando, seu
relacionamento, de um jeito ou de outro, vai dar certo. Se ainda não está namorando, este
livro vai ajudá-lo a se preparar para seu próximo relacionamento com uma segurança tal
que você não imaginava ser possível.
Tenho certeza de que este livro será um presente para você e para quem você ama. Boa
leitura!
Atenciosamente,
Marcio Mendes
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Prefácio
Ter contato com pessoas é essencial ao ser humano, pois necessitamos do convívio
com o semelhante: “O ser humano tem necessidade de vida social. Esta não constitui
para ele algo acrescentado, mas é uma exigência de sua natureza” (Catecismo da Igreja
Católica, art. 1879, pág. 502). E dentre as diversas formas de relacionamentos, a
inclinação a ter alguém único para dividir a vida tem uma posição de destaque em nosso
coração, pois “a vocação para o Matrimônio está inscrita na própria natureza do homem
e da mulher, conforme saíram da mão do Criador” (Catecismo da Igreja Católica, art.
1603, pág. 438). Porém, antes de fazer uma opção definitiva por uma pessoa e preencher
o anseio desta nossa vocação, é necessário viver um tempo de namoro, para nos
reconhecermos em complementaridade um ao outro.
Muitas vezes, ouvimos falar da existência de fases nos diversos tipos de
relacionamentos, e é legítimo concordar que percebemos níveis diferentes de intimidade
conforme o tempo de convívio e a disposição interior que temos com as pessoas a nossa
volta. Em um namoro, não é diferente. Existem etapas, tempos e vivências necessários
para se alcançar um amadurecimento afetivo e uma cumplicidade com a outra pessoa,
como nos atesta o papa Bento XVI: “Ele e ela têm de ‘dar tempo ao tempo’ e perceber
que cada coisa, cada passo em frente tem um tempo próprio para acontecer. Acelerar as
etapas acaba por comprometer o amor, que ao contrário, precisa respeitar os tempos e a
gradualidade nas expressões” (Bento XVI, Encontro com os namorados, em sua visita
pastoral a Ancona - 11/09/2011).
Além do sumo pontífice, é comum pais, educadores e pessoas que estudam e
trabalham com afetividade humana recomendarem aos casais de namorados que
respeitem as fases, o caminho progressivo de entrega de si, sempre com o intuito de
gerar o equilíbrio e uma visão consciente do(a) parceiro(a) e de si mesmo.
Então surgem as perguntas: quais são as fases de um namoro? Como delimitar a
caminhada de duas pessoas que se amam? Como se perceber pronto para a fase seguinte
ou para decidir-se pelo noivado e pelo matrimônio? Há um roteiro ou meio de formação
para os casais de namorados?
Para responder tais questões é que foi elaborada esta obra: As Cinco Fases do Namoro.
Sim, é possível traçar um itinerário, um mapa das fases existentes em um
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relacionamento e, consequentemente, propiciar uma formação para aqueles que estão
namorando ou iniciar uma preparação para quem, atualmente, não tem um par amoroso,
mas que deseja um dia firmar esse compromisso.
Já existe alguma literatura que trata dos estágios de um namoro, mas a maioria dos
textos foi veiculada em sites, com o formato de artigos e matérias breves e fortes traços
de humor. Isso nos mostra o grande interesse das pessoas em buscar entender e delimitar
esse importante tipo de relacionamento, mas também uma lacuna no que diz respeito ao
tratamento teórico do assunto. As poucas publicações mais sérias que foram encontradas
diferenciam-se deste livro por fragmentar algumas das fases aqui descritas em dois ou
três estágios, resultando, no final, em seis ou sete fases. Entretanto, excluem as etapas de
Formação de Identidade e Noivado, nem sequer incluem o noivado como etapa do
namoro – ao ler sobre essas duas fases, você entenderá por que devem ser incluídas.
Além disso, estes escritos trazem uma proposta cristã dentro do namoro, que também os
diferenciam dos demais. Creio que somente em Cristo, modelo pleno de pessoa,
conseguiremos entender o ser humano e tudo o que o envolve, inclusive a vocação
esponsal. Encontraremos Nele o protótipo perfeito de esposo, respaldados pelo fato de
que Ele mesmo se autodenomina “o Noivo” (cf. Mt 9,15; 25,1-10; Jo 3,29), “o Esposo”
(cf. Ef 5,21-33).
Embora cada casal tenha suas particularidades e processos próprios, há como
identificar os passos inerentes que todos os casais dão. Eu não pretendo, no entanto,
decretar esta proposta um meio único e absoluto de experiência de namoro. No decorrer
da leitura, você verá que existe uma gradualidade, uma trilha baseada em um sistema que
avança em autoconhecimento e consciência madura de amor, que, se seguida, pode ser,
no mínimo, uma luz para pautar o seu namoro.
Você pode estar se perguntando: em que fundamentos se ampara a tese das fases de
um namoro?
As primeiras fases são facilmente identificadas e conhecidas por todos nós, contudo,
tanto essas iniciais quanto as posteriores, mais aprofundadas, estão nos documentos da
Igreja que tratam do relacionamento entre homem e mulher, como, por exemplo, na
Teologia do Corpo, na Sagrada Escritura, nas audiências dos santos padres, no
Catecismo da Igreja Católica e em alguns artigos científicos. Apesar de os argumentos
não estarem montados com essa disposição – como as cinco fases do namoro –
encontraremos, nesses documentos e artigos a que faço referência, escritos e citações que
comprovam este estudo.
Vejamos agora algumas das constatações que faremos ao conhecer as fases de um
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namoro.
Ao abordar este tema que contempla as fases de um namoro, poderemos perceber
alguns fatores relevantes, como o fato de que todo casal que deu certo (e por dar certo
refiro-me não apenas a chegar ao altar, mas a fazer perdurar o compromisso do “para
sempre”) passou por aquilo que é próprio de cada uma das fases, mesmo que já dentro
do casamento. Pode-se até inverter a ordem das experiências descritas aqui, mas não há
como suprimir uma delas. É de extrema importância saber identificar no que estão
baseados seus sentimentos, para que seja possível definir qual tipo de envolvimento eles
podem originar.
Chegar à celebração do casamento não é sinônimo de ter passado por todos os níveis, e
algumas pessoas sofrem porque acabam vivendo algo que era próprio do namoro já em
uma vida a dois. Entretanto, a menos que tenha havido uma anulação de uma das partes,
de alguma forma o casal acaba atravessando todas as etapas que mencionaremos neste
livro, e, então, continuam juntos.
É importante também, ao analisar as etapas pertinentes a um envolvimento amoroso,
verificar em quais fases se detiveram possíveis namoros anteriores, quais não se
conseguiu atravessar e quais impediram o avanço do relacionamento rompido. Essa
análise ajudará a compreender e trabalhar melhor suas limitações, evitando que os
mesmos erros se repitam.
Poderemos notar, ainda, que algumas das fases de um namoro correspondem a etapas
de outros tipos de relacionamento, embora com motivações e sentimentos bem menos
intensos, como a amizade, por exemplo.
As fases se sucedem umas às outras como os passos em uma caminhada. Haverá um
avanço gradual, uma fluência natural nas impressões que teremos em relação a(o)
namorado(a) e ao relacionamento, e não adianta querer antecipar as etapas. O grau de
maturidade afetiva e a abertura para as curas e os processos a se viver de cada um dos
indivíduos é que vai ditar o tempo que se levará para atravessar cada fase. Por exemplo,
para chegar ao “conhecimento” do outro, não basta desenvolver um esquema de
perguntas acerca da vida da pessoa amada para que ela nos responda. É preciso deixar
que as reações e testemunhos do dia a dia venham expressar a verdade do que ele(a) é.
Por vezes, com a convivência, talvez você acabe percebendo que seu(sua) parceiro(a)
afetivo difere em alguns aspectos do que você imaginava, mas isso não quer dizer que a
outra pessoa escondeu algo ou mentiu, apenas que não tem uma mesma noção, um
mesmo conhecimento, uma mesma opinião que você. Para se observar tudo isso é
necessário tempo, zelo pelo relacionamento e muito diálogo.
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Além disso, torna-se necessário compreender que o tempo de evolução não é o mesmo
para cada pessoa. É possível também que uma das partes acabe percebendo que está em
um nível que a outra pessoa ainda não alcançou. Mas, se isso acontecer, geralmente a
diferença será de apenas uma etapa, pois não é possível caminhar muito à frente sem a
contribuição dos dois, mesmo que desde o início uma das partes seja mais resolvida
afetivamente. Nesses casos, deve-se ter paciência para aguardar o progresso da pessoa
amada, pois de nada adianta querer caminhar sozinho. Não é para evoluir de modo
solitário que existe o namoro, e a travessia e conquista das fases deve ser uma
experiência do casal.
E, logicamente, a experiência das fases vivenciadas por um adulto que já tenha
passado por outros relacionamentos e a de um adolescente em descoberta de si e do amor
serão bem diferentes. A partir desta leitura, o adulto poderá introduzir o conhecimento
das fases em sua experiência de vida, enquanto o jovem poderá construir a sua
experiência. O mais adulto encontrará testemunhos concretos das etapas em sua vida,
alguns amargos outros mais doces, e percorrerá um novo caminho. O mais jovem, como
uma folha em branco, não terá exemplos, mas também não apresentará tantas marcas
negativas. O adulto conta com uma experiência maior para lidar com diferenças, já o
adolescente, ao conhecer as fases, estará amadurecendo na arte de relacionar-se.
Esse processo irá exigir que se explorem todas as instâncias do ser humano –
biológica, psíquica, social e espiritual – e, a cada etapa, haverá uma evolução natural dos
sentidos, da capacidade psicológica e da inteligência. Dessa forma, tornar-se-á apto a
compreender os conceitos e as vivências das fases e a reconhecer em que nível se
encontra. A partir da obtenção desse conhecimento, passa-se a ser responsável por essa
evolução, e será necessário investir o melhor de si no desenvolvimento do
relacionamento.
Viver bem as fases que estamos propondo irá libertar você das primeiras impressões,
só sensitivas, do amor e possibilitar uma escolha livre, real e decisiva, baseada na
racionalidade, na consciência e na afetividade da pessoa com quem se relacionar. Ter
propriedade e bases para definir o que é um namoro lhe dará meios mais consistentes de
realizar-se nessa caminhada rumo à vocação de amor.
A vantagem em reconhecer as fases do namoro está em que, ao conhecer e
esquematizar os conceitos e vivências de cada etapa, ao tomar consciência de onde se
encontra, será possível, a partir daí, haver um esforço em investir para o melhor
desenvolvimento do relacionamento. Ao conhecer as fases, apropria-se de uma realidade,
que então gera a responsabilidade sobre o objeto conhecido. Isso significa que o avanço
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pelas fases será notado de forma natural, em que a inteligência e a percepção irão
detectá-las e depois dar pleno termo ao seu cumprimento por meio de esforço consciente
e responsabilidade.
Sou casado com Kelen Galvan. Ela, assim como eu, também é missionária da
Comunidade Canção Nova. É a nossa experiência de namoro que quero passar,
compartilhar com as pessoas, pois, mesmo tendo documentos ou textos bíblicos que
amparem essa tese, é o nosso testemunho, o anúncio, a transmissão de nossas alegrias e
dificuldades que comprovarão o que afirmam esses escritos. Sim! Tivemos dificuldades,
mas também a alegria de, pelo amor, superar e transformar em felicidade e decisão tudo
o que entre nós era inverso.
Desejo-lhe, desde já, uma boa leitura e um ótimo namoro!
Sandro Arquejada
Comunidade Canção Nova
Na delicadeza dos gestos,
a força dos sentimentos.
O beijo, o afago,
o olhar apaixonado, o contato
são, antes mesmo que o desejo,
a contemplação do ser amado.
“Olhar com o coração” (Sandro Arquejada)
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NAMORO
“Como namorados estais a viver uma fase única,
que abre para a maravilha do encontro e faz
descobrir a beleza de existir e de ser precioso para
alguém, de poder dizer um ao outro: tu és
importante para mim.”
(Bento XVI, Encontro com os namorados, discurso em visita
pastoral a Ancona, praça do Plebiscito, domingo 11/9/2011)
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Breve histórico
do namoro
É interessante contextualizar essa forma de envolvimento afetivo, pois assim
entenderemos que vivemos em tempos privilegiados, já que a mentalidade corrente torna
possível a percepção e a vivência das etapas a que nos referimos neste livro.
Afirmo isso porque, mesmo com todos os entraves e mentalidades contrárias a um
relacionamento virtuoso, a atual sociedade privilegia a vivência de um modelo mais
consciente de aproximação e conhecimento, em que existe uma maior liberdade de
escolha por parte dos enamorados. Mas nem sempre foi assim. Há algum tempo, a
decisão de iniciar um namoro não cabia ao casal, e sim à família. Imagine-se em uma
época em que os pais arranjavam o casamento para os filhos!
Também na Europa, para dizer a verdade, até o ano de 1800, havia outro modelo de
matrimônio dominante: normalmente era um contrato dentro do clã, onde se buscava
conservar o clã, abrir-se ao futuro, defender as propriedades etc. [...] Mas, depois de
1800, segue a emancipação dos indivíduos, a liberdade da pessoa e o matrimônio não é
mais baseado na vontade dos outros, mas na própria escolha (Diálogo com as Famílias,
Festa dos Testemunhos no Parque Bresso de Milão, Itália - Encontro Mundial das
Famílias, 2 de junho de 2012).
No passado, quando um jovem demonstrava interesse por uma moça, ele
primeiramente se declarava aos pais dela, e, quando estes concordavam, já começavam a
providenciar o casamento. O contato entre os noivos era feito no ambiente domiciliar,
geralmente na casa da moça e em presença de sua família, ou seja, quase não havia
condições de o casal ter um momento a sós que propiciasse uma conversa mais íntima.
Aliás, na maioria das vezes, os namorados nem desejavam esse momento, para não ter
sua reputação manchada diante da sociedade.
Entre algumas famílias havia também a prática do dote, uma quantia ou bens que eram
repassados de uma família à outra mediante a consumação do casamento. Também nesse
caso todo o acordo era acertado pelos pais do noivo e da noiva, o casal pouco se envolvia
e, usualmente, sequer expressava sua vontade. Em alguns casos, as famílias chegavam a
prometer seus filhos em casamento quando ainda crianças ou recém-nascidos, e eles
cresciam sabendo com quem passariam o resto de suas vidas.
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A mentalidade e o modelo social dessa época faziam as pessoas acreditarem que o
amor viria com o tempo, e, por vezes, isso realmente acontecia, contudo, já dentro de
uma vida a dois. Consideravam outros fatores – tais como a estabilidade, a segurança,
uma descendência – mais importantes que a livre escolha e o sentimento.
O sentimento apaixonado sempre foi tratado como algo impossível, até proibido. Em
todas as sociedades, inclusive recentemente, o matrimônio era um tipo de acordo com o
objetivo de procriar, gerir propriedades e garantir a sobrevivência da prole. O amor viria
com a convivência do casal, se viesse. Ninguém de bom senso apostaria seu futuro num
sentimento de existência tão breve como a paixão (CARELLI, 2002).
Mesmo em nosso país, de acordo com relatos de pessoas de algumas gerações atrás,
existiam casamentos que seguiam esses moldes. Em minha própria família, há o caso de
meus avós maternos: depois da morte dos pais, minha avó Olívia foi criada por uma tia,
que, preocupada com o futuro da sobrinha, concedeu ao meu avô Francisco, um recém-
conhecido, sua mão em casamento. Isso aconteceu na década de 1930, bem próximo de
nós, talvez duas ou três gerações anteriores à sua, leitor(a).
Outras problemáticas, bem diferentes das vivenciadas hoje, envolviam a decisão de
casar-se, e não nos cabe julgar se essa forma de proceder era correta ou não. Era um
modo de cuidado, de garantir um futuro, de proporcionar bem-estar, que hoje perderam
significado. O fato é que hoje podemos escolher com quem namorar, quando casar e
determinar o tempo de que precisamos para chegar a essa decisão. Por isso, podemos
apurar instintos e purificar nossa consciência num relacionamento, além de identificar
como se dá o desenvolvimento de um namoro.
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O que é um namoro?
O modelo atual de namoro é absolutamente diferente do de tempos passados, mas o
que é um namoro hoje? Para responder de maneira profunda essa pergunta, é necessário
fazer várias considerações.
Antes de tudo, namoro é o tempo que precede o matrimônio, a época de conhecer e
amar uma pessoa e preparar-se para o casamento. É um modo privilegiado de vivermos a
paixão, a amizade, o companheirismo e a apreciação de uma pessoa por outra e uma
experiência imprescindível a todo casal. É a primeira noção de como é e será conviver
“para sempre” com a pessoa amada, a base para, no futuro, optar por continuar com o(a)
pretendente ou não, escolha que deverá ser para toda a vida e que carrega consequências
importantes, nas quais nunca mais se poderá voltar atrás, como os filhos.
É importante recordar e salientar que namorar é algo grandioso e sério, e significa
preparar-se para o casamento e para a formação de uma nova família. Entretanto, tudo
isso precisa de tempo, pois o namoro, em si, não é somente um projeto para o futuro,
mas também é um processo, pelo qual, desde o início, entra-se num “território santo”.
“Tira as sandálias dos pés, porque o lugar onde estás é chão sagrado” (Ex 3,5). Essa
passagem bíblica ilustra o zelo e a responsabilidade que devemos ter ao adentrar o
espaço sagrado da outra pessoa e ao firmar com ela um compromisso de amor, fidelidade
e cuidado, com as particularidades e intensidades próprias a um casal de namorados, não
comum em outros tipos de relacionamento.
A palavra afetividade tem sua raiz no verbo “afetar”; isso quer dizer que nossos gestos,
palavras e ações terão um impacto, positivo ou negativo, sobre a vida da outra pessoa,
seu íntimo e sobre nossa capacidade de amar. Um namoro marca nossa existência de
forma determinante, pois fica registrado em nossas lembranças e histórias de vida. Quem
nunca se orientou, no presente, por deficiências, tristezas ou alegrias e acertos do namoro
passado?
Estamos em território santo, conheceremos instâncias muito íntimas, particularidades
que talvez ele(a) não tenha tido coragem de revelar a ninguém, mas que, com o tempo,
perceberemos, porque a proximidade entre um casal de namorados é grande o bastante
para revelar tais características. E ao adentrar o interior do(a) parceiro(a), também
abrimos os portões de nossa intimidade, ficamos expostos e vulneráveis à aceitação e à
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disposição da outra pessoa.
Com certeza, encontraremos também áreas feridas um no outro, pois em algum
momento essas mágoas, lembranças dolorosas e situações não resolvidas virão à tona,
por simplesmente fazerem parte das realidades contidas no terreno santo que estamos
desbravando. Mas, se prezarmos pelo bem do(a) namorado(a), ainda que erremos
algumas vezes, o nosso esforço será fonte de cura, pois acaba sendo ponto de partida
para o avanço do outro. O relacionamento saudável, que cuida e se preocupa, nos lança
para a vida, enquanto um afeto doentio, caracterizado pelo egoísmo, nos fecha e nos
limita.
Outra característica, e uma das maiores belezas do namoro, é que descobrimos o que a
pessoa realmente é, e não ficamos com a mera referência do que ela(e) representa ou do
papel que exerce. Não é raro conhecer aqueles que estão em nosso círculo de amizades
pelo que eles aparentam ou fazem. Quando somos questionados a respeito de alguém,
comumente dizemos “ele é médico” ou “é mecânico”, “é pobre” ou “é rico”, é “filho(a)
de fulano de tal”. Pautamo-nos na profissão, na cultura, em referência familiar, nível
intelectual, aparência física etc., e facilmente levamos muito em consideração a primeira
impressão que temos sobre as outras pessoas. Mas todo ser humano é bem mais que
esses pontos citados e, quem namora, pode e vai enxergar além e conhecer a maior parte
das características que definem a pessoa com quem está se relacionando, tais como o
temperamento, a índole, as fraquezas e fortalezas, o jeito de lidar com as coisas do dia a
dia e, principalmente, o coração, o que a pessoa traz em sua alma, em sua essência.
Namoro também é, ou pelo menos deveria ser, um relacionamento gerador de
crescimento pessoal e cura interior, mesmo que o casal decida terminar, porque no
tempo de convívio firmou-se o acordo de viverem a experiência recíproca de amarem e
serem amados. Imagine se pudéssemos dizer dos nossos relacionamentos: “Sou uma
pessoa melhor e sei que ajudei a pessoa que amo (ou amei) a ser melhor também!” Como
disse o Papa Bento XVI, “namorar é uma caminhada de crescimento pessoal e a dois”.
Contudo, o que vemos na grande maioria dos casos são pessoas destruídas após um
namoro.
O amor apaixonado (Eros) pode ter o objetivo de buscar recompensas, de satisfazer
desejos e instintos próprios, que não contribuem na construção do(a) outro(a) como
pessoa. Mas, se o anseio do nosso coração for compatível com o verdadeiro objetivo do
namoro – conhecer, amar e entrar com cuidado no território santo do outro para crescer
como pessoa e ter o coração curado –, ouso aqui afirmar que todo relacionamento de
namorados seria positivo, mesmo aqueles que não deram certo.
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Apesar de ser tão sério, devemos lembrar-nos de que o namoro não é um compromisso
definitivo, mas um caminho para aquilo que um dia o será. Não estamos descartando
todas as outras definições, mas sim reiterando que namoro é a experiência de verificar se
existem traços de identificação, felicidade e sentido no relacionamento. Se detectarmos
ao longo dessa caminhada sinais de que, apesar da responsabilidade empreendida, da boa
vontade e do amor, não nos complementamos, devemos ter a coragem de romper o
relacionamento. As pressões originadas pelo medo de estar só e pelo sentimento de
obrigação perante nossos parentes e amigos não podem ser argumentos para protelar o
rompimento, pois qualquer prolongamento só irá gerar desconforto e minar a afinidade e
a amizade que se pode manter com a outra pessoa.
Namoro também não é uma parceria semelhante à sociedade empresarial, caracterizada
pela troca de compensações, favores, interesses ou pela satisfação das carências um do
outro, e tampouco o casamento deveria sê-lo. Existe um modelo de união que mostra os
casamentos modernos como parcerias, ou seja, o homem e a mulher comportam-se como
sócios num empreendimento (o matrimônio) e devem contribuir para que essa “empresa
casamento” dê certo. Quando deixa de haver lucros, confortos ou conveniências, deixa
também de existir uma razão para o relacionamento continuar existindo. No entanto, isso
é contrário à natureza do namoro e, principalmente, do matrimônio, que não deve ser
baseado em trocas desse tipo.
A expectativa do futuro nos leva a abraçar responsabilidades que nos ensinam a chegar
bem conscientes ao casamento, mas isso não nos dá o direito de viver coisas que são
próprias do matrimônio, como a vida sexual e o ato de morar juntos, durante o namoro
ou o noivado. Ao queimar etapas, a chance de sairmos magoados é muito grande, pois
falta preparo de ambas as partes. Mal comparando, é como degustar algo que não está
maduro ou ainda está cru: por mais que tenhamos a expectativa do sabor, ele nunca será
tão bom como seria se estivesse no ponto certo. Você verá no decorrer dessa leitura
como e por que essas práticas no namoro atrapalham e impedem o casal de se conhecer.
16
Por que nos dias de hoje parece tão difícil ter um(a)
namorado(a)?
Embora a consciência sobre relacionamento seja hoje muito maior do que no tempo de
nossos pais e avós, atualmente parece ser mais difícil conseguir um namorado(a). Há
claramente um desinteresse das pessoas por compromisso. Mas qual a diferença, que
mudanças aconteceram? E como driblar essa tendência atual, uma vez que apesar de
todas essas dificuldades, no cerne do coração humano está o chamado ao casamento?
Como já vimos, no contexto social dos nossos avós, muitas vezes, eram os pais deles
que escolhiam o pretendente. Então, aos jovens era “poupado o trabalho” de arrumar um
namorado(a). Hoje, você tem de passar pelo processo da paquera, do conhecimento do
outro, tem de expressar seus sentimentos e questionamentos interiores e construir uma
cumplicidade com a outra pessoa. Na maioria das vezes, nada disso nos é ensinado pelos
mais velhos, porque essa dinâmica é recente, ou seja, tudo depende de você! Encare esse
momento como um privilégio, porque você pode escolher um(a) companheiro(a).
Antigamente, nossos avós e pais se casavam com menos idade. Hoje, na idade em que
eles se casavam, a juventude quer “curtir” e ir às inúmeras festas. Então, filtre o tipo de
ambiente e evento que mais lhe convém e não se entregue às facilidades e aos modismos.
Desculpe a sinceridade, mas mal comparando, quando queremos um médico vamos ao
hospital, quando precisamos de combustível nos dirigimos ao posto, portanto, quem quer
namorar e busca na “balada” encontrar um pretendente, provavelmente vai encontrar
quem quer “curtição” e não um namoro sério.
Não estou dizendo com isso que você não deve ir aos lugares de que gosta, a festas e
lugares da moda. Mas que seu primeiro intuito ali seja o de se divertir ou estar junto com
seus amigos. Prefira conhecer pessoas interessantes onde você possa, antes de decidir
namorar, ter contato até saber mais sobre ele(a). Na escola, no trabalho, em algum grupo
de interesse comum você pode estabelecer primeiro um vínculo de amizade.
Tempos atrás, só existia namoro sério, no máximo as pessoas teriam um ou dois
relacionamentos em toda sua juventude antes de optar pelo casamento. Valorizava-se
mais o fato de estar junto de alguém. Em nossos dias, a sociedade minou a mentalidade
sobre o que é namoro, tornando-o “descartável” tanto no sentido de terminar o
relacionamento quando não se sente mais uma paixão frenética, quanto no do “ficar”,
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que deu ares de “fast-food” às relações amorosas. Portanto, não aceite “ficar”, e quando
estiver com alguém, curta sua paixão, mas saiba que um relacionamento sobrevive mais
por atração e com a construção de valores.
A estabilidade financeira que alguns procuram, para só depois entrar num
relacionamento, toma tempo. O antigo costume do dote solucionava boa parte desse
problema. Mas, na geração de hoje, muitos levam alguns anos se estruturando
profissional e financeiramente. No entanto, saiba que você pode conciliar namoro com
estudo e trabalho. Não precisa esperar a formatura para amar e se comprometer com
alguém especial.
A independência feminina é positiva, sem dúvida! Mas o que o feminismo fez foi
forçar a mulher a competir com o homem naquilo que é papel dele, naquilo que os traços
masculinos conseguem desempenhar melhor. Por exemplo: forçou a mulher – que tem
características melhores que o homem em criar empatia e colaboração dentro de uma
instituição – a ser competitiva e desenvolver certa agressividade (características
masculinas para proteção), o que é próprio do ser masculino.
Então, com a mulher mais agressiva e competitiva, o homem acabou não se
interessando pelo compromisso. Afinal, um elo com uma pessoa que ele não pode
proteger e que vai competir com ele não lhe parece uma parceria, muito menos amor.
Isso fez com que o homem perdesse um pouco da referência de sua identidade, seu papel
e seu lugar no mundo.
Não que o homem tenha medo da mulher bem resolvida ou de competir com ela. O
problema foi que ele se desinteressou mesmo pelo compromisso. E com tantas
facilidades no mundo de hoje, muitos homens não querem se prender a relacionamentos.
Homens, tenham iniciativa, mas não só no namoro. O cavalheirismo lhes cai bem no
trabalho, com a família, em qualquer ambiente e situação. Sejam práticos onde houver a
necessidade de praticidade e estejam atentos quando a sensibilidade precisar falar mais
alto; e não tenham receio de compromisso! Iniciativa faz bem, porque está na sua
essência.
Mulheres, sejam belas de alma, depositem amor em tudo o que fizerem. E que tal
aceitar a proteção e o cuidado dos homens? Ao contrário do que muitas mulheres
pensam, homens apreciam mulheres inteligentes, que acrescentem algo no
relacionamento por meio de suas ideias, de sua força e da união do casal.
Os meios modernos, a rapidez em resolver as coisas trouxeram muitos benefícios.
Entretanto, isso provocou no ser humano muita ansiedade. Queremos tudo ao toque de
um botão. Consequentemente, não aprendemos as gradações da vida. Muitos não sabem
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o que é “plantar para colher”, investir e esperar para chegar a um resultado. E sem uma
iniciação com essas dinâmicas da vida, nós nos tornamos tímidos, introspectivos e
reclusos em várias dimensões do nosso ser.
No campo da afetividade, isso resulta na falta de iniciativa em ir na direção da paquera
para conquistá-la(o). Quase sempre ficamos na torcida para que aquela pessoa, por quem
nutrimos um interesse, venha até nós, nos dê sinais ou que o céu se mova em nosso
favor. Até mesmo do nosso “mundinho” e da nossa rotina é difícil sairmos para nos
aventurarmos em conhecer pessoas novas. Portanto, experimente sair do seu casulo!
Nem que seja aos poucos, se lance na direção de amizades novas. Tenha iniciativa!
Hoje em dia, as pessoas não sabem se relacionar. Muitas têm receio de conversar e
falar de seus pensamentos e suas experiências por medo de perder o(a) namorado(a) e de
não serem compreendidas, devido às mágoas colecionadas durante a vida por causa de
relacionamentos antigos. Ou, então, entram “de cabeça”, principalmente na área sexual.
Por exemplo, ao optarem por morar juntos, não cultivam as gradativas etapas de
conhecimento um do outro, não prezam por descobrir se há cumplicidade, não protegem
o que há de mais sagrado em si mesmos nem a sua capacidade de amar, aumentando a
carência e as feridas no coração.
Viva a castidade, virtude pela qual, naturalmente, se sublima todo e qualquer tipo de
relacionamento: amizade, namoro, família, profissão… Essa prática lhe permitirá, ainda,
cultivar o domínio e o amor-próprio.
É claro que podem existir outros aspectos ligados ao namoro e mesmo a sua
personalidade. Muitos talvez não se reconheçam no que foi aqui mencionado. Minha
intenção foi fazer uma análise geral dos relacionamentos na sociedade atual, por isso não
se sinta na obrigação de se ver num desses argumentos. Contudo, eles podem lhe servir
para uma reflexão pessoal.
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Virtudes para um bom relacionamento
Para que você possa vivenciar o namoro de uma maneira saudável e promissora,
gostaria de aconselhá-lo a cultivar, mesmo antes de iniciá-lo, três virtudes essenciais em
seu coração: a paciência, a reta intenção (ou altruísmo) para com o outro e a capacidade
de estabelecer diálogo. Não saia de casa sem elas. Não saia da sua casa interior, em
direção a um início de relacionamento, se não tiver em sua bagagem, em suas
disposições, essas três virtudes.
A paciência
No namoro, estabelecemos uma relação interpessoal muito próxima e profunda, com
um nível de intimidade maior do que em qualquer outra relação fraterna da sociedade. E
por mais que tenhamos afinidades, ainda haverá diferenças entre nossos conceitos,
anseios, aprendizado de vida, gostos, opiniões etc. Então, prepare-se para ter conflitos de
ideias!
Nessas horas, a paciência é uma poderosa face do amor, e muitas vezes será
imprescindível para fazer as coisas voltarem ao equilíbrio. Quanto mais uma situação
nos deixar “com os nervos à flor da pele”, menos se estará perto da concórdia. Ter
paciência é a única forma de enxergar com clareza as situações ao nosso redor e os
pontos de vista do outro.
Altruísmo
Essa virtude, a reta intenção, produzirá em nós um antídoto contra as tendências
instintivas do ego, de desejar somente obter as vantagens de ser amado, não ajudando a
construir o outro e tornando-o apenas objeto dos nossos prazeres. Para cultivá-la,
devemos manter pensamentos puros e bons, de favorecimento para com nosso par.
A paciência e a reta intenção devem estar sempre agindo em conjunto, pois pode
acontecer, em um primeiro momento, de nossas iniciativas não serem bem recebidas ou
bem interpretadas, e a paciência, nesse caso, será a ferramenta chave para que,
posteriormente, o real desejo do nosso coração seja revelado, gerando a confiança.
Da mesma forma, se usarmos somente a paciência, sem a reta intenção, poderemos
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estar apenas manipulando o(a) amado(a) ou esperando um momento de maior
vulnerabilidade dele(a) para satisfazer nosso ego ou nossos prazeres.
Capacidade de diálogo
Para que a paciência e a reta intenção alcancem alguma eficácia, não podemos
dispensar a capacidade de diálogo. Digo capacidade de diálogo, e não simplesmente
diálogo, porque essa virtude é muito mais que o simples falar e ouvir, e diz respeito ao
dom de compreender e interagir.
Em todas as fases, idades e situações, precisamos nos comunicar bem, e a vivência das
etapas irá nos preparar para entender o modo particular de comunicação do nosso par.
Muitas vezes, existe o amor, o respeito entre o casal, mas, apesar de todos os esforços
em demonstrar essas virtudes, alguma coisa acontece e os namorados não se entendem.
Conversam, passeiam juntos, beijam-se, abraçam-se, entreolham-se, mas não sabem ao
certo o que o outro está pensando ou o que está sentindo. Quando isso nos acontece, não
seria o caso de nos questionar se não estamos muito ansiosos para falar e esquecendo um
pouco de ouvir?
“Quem é sábio mantém-se calado até certo tempo, mas o leviano e o imprudente não
esperam ocasião” (Eclo 20,7). Por isso, é importante primeiro a disposição em escutar.
“Cada um deve ser pronto para ouvir, mas lento para falar e lento para se irritar” (Tg
1,19).
Nessa atitude calma e atenta, tente reparar detalhes que escapam à fala, como situações
que frequentemente fazem a pessoa que você ama ter reações que você não entende e
deseja compreender. Quanto mais conhecer seus anseios, planos, cultura e até sua
concepção e história de vida, mais fácil será entender o que está por trás de seus gestos.
Se não temos o costume de observar e ouvir, devemos começar o mais rápido possível,
lembrando sempre que a sensibilidade também é ferramenta da comunicação.
Contudo, depois de ouvir, tenha também a iniciativa de interagir, de agir sobre a fala e
a exposição da outra pessoa, pois se assumimos o papel de meros ouvintes, nos
frustramos e desistimos; afinal, um diálogo é uma comunicação entre duas pessoas, e
não um monólogo.
Aja sempre com a verdade! Nada de mentiras, informações parciais ou omissões. Ter
uma informação e não partilhá-la passa a funcionar como uma mentira para o parceiro,
pois lhe negamos algo que poderia ser essencial em sua construção de pensamento, no
que diz respeito a nós e ao relacionamento.
Quanto mais clara for a informação, melhor, então nada de pensar que podemos apenas
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nos expressar por sinais. Exemplo: a namorada quer fazer um programa diferente, então
se arruma mais do que de costume e, sem verbalizar, fica esperando que o namorado
perceba pela roupa e maquiagem o que ela deseja e a leve para sair. Nada disso funciona!
Se sentir algo, fale, se pensar, expresse, se perceber reações diferentes, examine,
pergunte. Se não entender da primeira vez, pergunte de novo. Lembre-se de que as
primeiras e as mais privilegiadas formas de comunicação ainda são a fala e a escuta.
Precisamos insistir no diálogo com as pessoas com as quais convivemos. Ignorar a
presença ou a palavra do outro quando este não concorda conosco não é a atitude mais
adequada perante um impasse. A habilidade de saber expressar uma ideia de maneira
clara elimina qualquer possibilidade de um mal-entendido (MOURA, 2012).
Mas lembre-se de fazer tudo isso com caridade e observando a conveniência do
momento e do local, pois ninguém precisa perder a compostura e o bom senso para
praticar a capacidade de comunicação e para abrir o coração ao outro.
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Ficar – brincar com o coração das pessoas
Quem ama de verdade quer compromisso, por isso existe o namoro. Entretanto, temos
presenciado, nos últimos tempos, uma liberalidade e uma relativização de muitos
conceitos de moral e ética que deturparam a mentalidade, principalmente dos jovens, na
área afetiva e sexual. Os namoros são desregrados e, sem o sentido do amor verdadeiro,
tudo é válido pela busca do próprio prazer.
Surgiu então o “ficar”! As pessoas trocam carícias próprias de um namoro, mas sem
assumir a essência do relacionamento: o compromisso. Ficar é uma atitude muito
comum nos dias de hoje, e isso faz a prática – que destrói a nossa capacidade de amar e
tira nosso olhar da beleza de um namoro virtuoso – parecer um comportamento normal.
Aos poucos, na sociedade, os gestos próprios do namoro foram sendo desconsiderados
como manifestações de amor enamorado. Fomos acostumados a ter no beijo, no abraço,
na companhia com o outro, algo apenas válido para busca do próprio prazer.
Por que não se deixar levar por essa onda?
Em primeiro lugar, porque essa prática é contrária aos princípios cristãos, como nos
mostra a Palavra de Deus, e ao sentido pleno da existência humana. Fomos criados para
amar e não para viver o egoísmo.
No Livro da Sabedoria, no capítulo 1, versículo 16, podemos encontrar uma narrativa
que apresenta o pensamento do ímpio e que culmina com a afirmação:
“Agora, portanto, gozemos dos bens presentes e aproveitemos das criaturas com ânsia
juvenil” (Sb 2,6).
Essa mentalidade do ímpio não vai ao encontro do discurso daqueles que “ficam”?
Quem tem o anseio de santidade e de um dia constituir uma família não pode pensar e
agir como os ímpios. “Ficar” é moldar-se, condicionar-se a não assumir compromissos,
sem perceber a gravidade do que se está fazendo com a outra pessoa e consigo mesmo.
Parece uma brincadeira afetiva inocente, mas não é, pois quem começa a entrar nessa
prática vai envenenando o coração, infundindo em sua mentalidade a concepção do uso e
transformando as pessoas em objetos de consumo. Aprende-se a qualificar os outros por
padrões pré-fixados pela mídia ou por modismos que levam em conta apenas fatores
superficiais, como o status, a beleza física, a condição social, a influência que a pessoa
possui etc. Acabamos parando nas primeiras impressões a respeito dos outros, e não
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existe nem mesmo a amizade, só o interesse passageiro fixado no exterior das pessoas,
como se fossem um produto.
Fazendo isso, nos treinamos, nos condicionamos a não aprofundar relacionamentos, e
essa mentalidade pode, aos poucos, se alastrar até outros aspectos importantes da nossa
vida, como o envolvimento com a família e com os amigos. Passamos a nos importar só
com o que o outro pode nos oferecer e estendemos a nós mesmos a exigência de
corresponder às expectativas da sociedade. Quem entra nessa onda do “não
compromisso” acaba se sentindo na obrigação de ter também um ótimo rótulo para ser
aceito pelos outros e passa a fazer de tudo para transparecer só qualidades, deixando que
vejam somente seu exterior. Deficiências, mágoas e inseguranças, tudo aquilo de que
não nos orgulhamos, acaba de lado e escondido, às vezes até de Deus, embora não seja
sanado. Ao criar padrões para os outros, de fortaleza, de perfeição, de falsa identidade,
sentimo-nos na obrigação de segui-los também e tornamo-nos uma fantasia, uma
idealização de nosso próprio ego, certos de que somente dessa forma seremos aceitos.
Além disso, quando adotamos essa postura, perdemos a oportunidade de aprender a
amar pelas diferenças, pelos erros e pela capacidade de perdão. Não há espaço para o
crescimento.
Ainda pior é quando agimos seguindo padrões que saem do julgamento próprio e são
influenciados pela opinião dos amigos, como, por exemplo, ao deixar de estar com uma
pessoa que se está aprendendo a amar porque seu círculo de amizades não a aceita, ou
quando “ficamos” com alguém só porque é popular, ou ficamos com o maior número de
parceiros(as), somente para causar boa impressão no grupo.
O orgulho e a vaidade também podem empurrar as pessoas para relacionamentos
superficiais e destrutivos, pois quando a pessoa se julga poderosa, a mais sedutora ou
bela de todas, com pensamentos do tipo “Toda vez que saio, fico com alguém”, os dons
e qualidades de um ser humano vão sendo colocados à disposição da sensualidade e da
sedução. Por isso, é necessário observar a dimensão desses dois fatores, que tanto podem
desequilibrar a força interior da complementaridade.
Quando adolescente, eu tinha o propósito de não “ficar”, pois queria conhecer uma boa
pessoa para namorar. Aos poucos, o discurso dos colegas e a imposição do mundo foram
me convencendo do contrário, e eu comecei a “ficar” com a intenção de conhecer uma
menina legal, com a qual eu poderia ter um relacionamento sério. Mas, na verdade, achar
que “ficando” há uma possibilidade maior de encontrar alguém para namorar é um
terrível engano.
Eu entrava nessas aventuras, nesses relacionamentos superficiais, realmente para,
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quem sabe, começar a namorar, mas esse nem sempre era o intuito de quem ficava
comigo, e quando acabava esse “ficar”, eu saía machucado. De ferimento em ferimento,
fui abrindo concessões e me permitindo também machucar, e passei a encarar o ferir e
ser ferido como algo natural, parte da brincadeira, regra do “jogo”, como se fosse normal
as pessoas satisfazerem suas carências momentâneas “ficando”, sem pensar no amanhã e
no coração do outro. A partir daí, eu comecei a não mais me envolver com uma moça
para conhecê-la e namorar, mas somente para curtir o momento, ou então para mostrar
aos amigos, e assim por diante. Passei a aceitar o risco entre perder ou ganhar.
Fui sendo aliciado aos poucos, colecionando frustrações e também decepcionando
pessoas, só que, mais à frente, aprendi a bloquear o amor e a só entrar nesse tipo de jogo
para “ganhar” (entenda ganhar como não me envolver para não sair machucado, apenas
para curtir, não importando se isso magoava alguém).
Somente em meu encontro com Cristo tive restituída minha vocação de amar
verdadeiramente, meu dom maior, minha capacidade de fazer o bem. Jesus me salvou
em minha afetividade e sexualidade, dando-me a consciência do mal que eu estava
fazendo a mim mesmo e às pessoas.
Quem pretende viver a sua dimensão afetiva da melhor forma possível não pode olhar
o outro como alguém que deve satisfazer seus desejos egoístas, mas sim viver tudo o que
o amor tem a oferecer. “Ficar” é contrário a tudo o que propomos aqui.
Penso que, juntamente com as drogas, uma sexualidade mal vivida é um dos fatores
que mais alienam os jovens, que praticamente vivem em função disso. A pessoa que
aceita essas condições de vida passa a não ter mais ideais nem ânimo para outras coisas,
pois esses dois vícios atingem em cheio sua força vital.
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As ofensas à castidade
Em qualquer uma das fases, a ofensa à castidade irá atrapalhar o casal em seu processo
de identificação, mesmo no noivado, às portas do casamento, pois lança fora a
oportunidade de cultivar o amor desinteressado. Somente no sacramento do matrimônio
é que sobrevirá a graça do amor total, porque não é iniciativa humana, mas divina: é
Deus quem une. Antes disso, tudo é parcial, e todo ato contra a castidade defrauda o
outro, não o complementa, ainda que estejam profundamente amando um ao outro.
Explico!
Uma das primeiras impressões do amor é a paixão. Quando estamos apaixonados
sentimos um prazer enorme pela simples presença da pessoa amada. Os atos próprios de
namorados, como o beijo, o abraço, o carinho, embora sejam gestos agradáveis ao
namorado(a) que os recebe, dão também satisfação àquele que os proporciona. Até
mesmo as atitudes de presentear ou prestar favores ao par nos trarão uma sensação
agradável quando as fizermos. Você já experimentou isso? Se está ou esteve apaixonado,
já descobriu o quanto lhe faz bem fazer coisas boas por essa outra pessoa? Ou seja, o seu
gesto de amor resulta, junto com a alegria da outra pessoa por se sentir amada, também
em satisfação do nosso instinto, nosso ego. E tudo isso é muito bom e necessário.
Sim! Quem não se sente bem por poder expressar quão grande é seu sentimento
através de um beijo apaixonado, de um toque de carinho no rosto, de ajudar naquele
trabalho da faculdade, em ofertar um presente embalado caprichosamente, e,
principalmente, se por essas atitudes todas recebermos uma resposta positiva do outro?
Faz parte da iniciação nesse relacionamento amoroso.
Porém, ainda é uma sensação e experiência muito superficial de amor. Uma alegria
ainda “à flor da pele”. Não é o amor em sua capacidade máxima, porque não é
totalmente doação. A prova disso é que quanto mais apaixonada a pessoa estiver, essas
atitudes, digamos, gestos externos, lhe parecerão sempre pouco. Algo dentro de nós irá
querer sempre mais. Quanto mais for crescendo a paixão, mais contínua será a impressão
de que ainda não manifestamos toda a força do que sentimos. Sempre irá faltar alguma
coisa. Por mais que faça, o namorado vai querer beijar mais intensamente, estar mais
tempo ainda junto, fazer mais coisas, dizer mais vezes sobre seu amor...
O amor ainda se acha em seu primeiro estágio, em sua dimensão primitiva, por isso
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não preenche o íntimo da pessoa, ainda não foi ao encontro de sua alma, não está
compatível com a centralidade do “eu”, com toda sua capacidade de amar.
Entretanto, se você, alguma vez na vida, viveu o júbilo de perdoar quem não merecia
seu perdão, ou pediu perdão ainda que estivesse certo e o outro errado, e o fez
simplesmente pela consciência de concórdia e paz, ou se você doou, fez algo por alguém
que não tinha como lhe retribuir, ou esteve em clima de paz e profunda reciprocidade
com seus pais, irmãos, familiares, amigos, ao ponto de ir além de si e sentir que teria a
coragem de entregar-lhes, se preciso fosse, uma parte de você mesmo ou a sua própria
vida por algum deles, então, você experimentou o amor que atinge o mais profundo do
ser humano e sabe para onde deve caminhar e crescer o seu amor romântico. É o amor
Ágape, que abandonou as instâncias primitivas do Eros e caminhou para preencher o
interior da pessoa em sua dimensão mais particular.
O amor se manifesta em toda sua plenitude quando expressa sua capacidade de doar-se
desinteressadamente. Dessa forma, acaba sendo grandioso a quem recebe o gesto
amoroso e sacia a alma de quem deu de si. Por exemplo: não é verdade que um
profissional quando encontra um sentido nobre em sua profissão, o gosto por ajudar o
próximo, e trabalha, não pelo salário, nem por mérito perante os homens, mas o faz
simplesmente pela consciência de que pode contribuir para o bem dos outros, ou porque
percebe que está sendo um ser humano melhor através de suas capacidades, seus dons
que estão se desenvolvendo, essa pessoa torna-se mais feliz? A compensação financeira
ou de qualquer outra forma passa a ficar em segundo plano, pois, “serás feliz porque eles
não têm com que te retribuir” (Lc 14,14).
Embora o amor seja infinito, é esse amor Ágape que é capaz de fazer vibrar em júbilo
o coração humano, de tal forma que não sentimos a lacuna, que pede sempre que
manifestemos mais e mais, como acontece com o amor apaixonado. Esse Ágape ainda
não é a plenitude, até porque somos limitados para alcançar a perfeição, mas é a face do
amor que mais nos eleva como pessoas humanas, daí a felicidade terrena mais profunda.
E não é uma felicidade por orgulho de algum favor ao outro, pelo gesto de nobreza,
atitude grandiosa ou por status perante outras pessoas. Invade-nos essa felicidade por
nos reconhecermos capazes desse amor que vai além, que trabalha em nosso interior as
potencialidades que temos, através do dom do servir. É a semelhança do amor de um
Deus que, não tendo delito, assumiu nossas culpas e, não merecendo punição, aceitou
morrer por nós. Jesus se doou por nós. Esse é o amor que é dom do Céu.
Esse amor faz parte de nós mesmos, é parte da identidade do ser humano; precisamos
nos reconhecer capazes de um amor assim. Quando buscamos esse tipo de amor,
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estamos buscando a referência máxima de sermos pessoas. Se podemos vivê-lo, então
por que nivelar-nos por baixo e contentar-nos com menos que isso? Nós podemos e
merecemos vivê-lo!
Pois bem, o ato sexual como máxima expressão corporal de amor, complementaridade
de corpos – desses corpos que nos identificam à imagem e à semelhança de Deus – sem
a bênção do Senhor, é apenas parcial. E quando destituído de amor total, o sexo entra no
mesmo pacote dos primeiros gestos puramente apaixonados, que no fundo fazemos por
prazer próprio, sem levar tanto em conta a outra pessoa, apenas para satisfazer o instinto,
consequentemente um ato que pode despertar a sensação de vazio interior. É só se
perguntar: “A outra pessoa tem esse tipo de amor por mim? Tenho certeza disso?”
O sexo só é total quando a pessoa pode se entregar totalmente. E somente no
sacramento do matrimônio é que esse gesto de amor pode atingir tal dimensão de
complementaridade. De acordo com a Encíclica Humanae Vitae (art. 9, 1968), do Papa
Paulo VI, o amor deve ter quatro características: ser livre, total, fiel e fecundo.
Somente dentro do sacramento, o homem e a mulher fazem do ato sexual uma
manifestação de amor total, em que um pode ter garantia do outro.
O amor ser livre significa liberar-se do instinto e tornar-se um ato da vontade, um ato
comandado pela decisão.
Ser total implica que é uma forma muito especial de amizade, em que as duas pessoas
compartilham tudo, inclusive o que têm de espiritual e sensível. Como que dizendo:
conhecendo você por inteiro(a), sabendo de suas qualidades e imperfeições, eu o(a)
assumo “para sempre” em minha vida, todo(a) inteiro(a), com tudo o que você é.
Também me entrego em tudo o que sou, independentemente do prazer que você pode me
proporcionar.
O amor ser fiel significa que o homem e a mulher comprometem-se numa aliança de
amor “até que a morte os separem”. Há o comprometimento de que o ato conjugal deve
ser exclusivo do marido para a esposa e vice-versa.
E o amor deve ser fecundo, porque não se esgota na comunhão entre os cônjuges, mas
continua suscitando vidas. Propicia-se o ambiente necessário para que a vida seja gerada.
Só dentro do matrimônio é que se pode garantir verdadeiramente os fatores ideais e o
conforto psicológico para a criança e os pais. Afinal, a natureza dotou os seres humanos
de meios para a união afetiva dos cônjuges e também para a reprodução; são partes do
corpo destinadas a fazer acontecer uma nova vida. É claro que se deve levar em conta a
paternidade responsável, e existem métodos de planejamento familiar. Mas o amor
nunca será total se não houver nenhuma probabilidade de gerar; então, que a reprodução
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aconteça no ambiente e nas condições certas. Que o casal, ao se entregar um ao outro,
assuma e aceite totalmente as consequências do que pode acontecer no corpo da mulher.
Isso é responsabilidade para com o amor.
O sexo sem essas quatro características sempre levará a pessoa a se perguntar. “Será
que ele(a) me ama ou está usando a mim, ao meu corpo?”. Na ausência de uma delas,
não se pode dizer que a outra pessoa o(a) aceita em tudo e que dará a vida por você. Não
é Ágape.
Mas consideremos que a pessoa concorde em fazer sexo somente pelo prazer,
consciente de que será usado(a), cedendo a essa condição para também usar o outro ou
preencher sua carência afetiva ou seu instinto.
Passado o momento do gozo, a carência irá embora? Concordar em obter prazer,
satisfazer o instinto irá preencher a vocação e busca de ser amado(a) verdadeiramente?
Com certeza, não!
Nosso íntimo, no inconsciente, busca sempre a continuidade, a complementaridade, o
amor total.
A sexualidade, mediante a qual o homem e a mulher se doam um ao outro com os atos
próprios e exclusivos dos esposos, não é, em absoluto, algo puramente biológico, mas
diz respeito ao núcleo íntimo da pessoa humana como tal. Ela só se realiza de maneira
verdadeiramente humana se for parte integral do amor com o qual homem e mulher se
empenham totalmente um para com o outro até a morte (João Paulo II, Familiaris
Consortio, art. 11).
Sexo não envolve só o corpo. O ato sexual, não é somente a entrega do corpo, mas,
acima disso, os esposos doam-se uma parte de si mesmos, do íntimo mais profundo, de
suas instâncias e impressões existenciais próprias, doa-se a morada interior de cada um,
onde estão depositados também a dignidade e a centralidade do “eu”, por isso, é um ato
lícito somente dentro do sacramento do matrimônio, em que um se comprometeu com o
outro em entregar até a própria vida.
Sem esse compromisso do matrimônio, essa jura de amor, essa certeza de que um é do
outro por toda a vida, o sexo irá ferir a dignidade da pessoa (por isso, muitas vezes, fica
o sentimento ruim de alguns quando acontece o ato sexual antes do casamento. Isso é
fruto de um ato contrário à verdadeira identidade do amor e não da imposição cultural e
religiosa).
São impressões da pessoa a respeito de si mesma, tão íntimas, que quando entregues,
levam uma parte dela mesma. E digo “dignidade” não só no sentido de pudor, embora,
pelo pudor, tenhamos a primeira e mais básica referência de dignidade.
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Tomemos como exemplo um casal de namorados, ou “ficantes”, que tem relação
sexual. Se acabar a paixão de um pelo outro, o primeiro irá embora da vida do segundo,
mas levando o conhecimento do corpo, das fragilidades, das partes íntimas, da moral e
muito mais da outra pessoa. Imagine tal pessoa usando esse conhecimento para gabar-se
à custa da outra. E não pense que isso é raro! Num encontro casual dos dois, a pessoa
que decidiu terminar pode olhar para a outra com uma expressão de “você foi
minha(meu) enquanto eu quis”. Poderá até mesmo dizer aos amigos o que fizeram,
exaltando ou denegrindo a imagem do(a) ex-parceiro(a). Em ambos os exemplos estará
expondo a dignidade dessa pessoa. Também entre o próprio casal pode haver situações
constrangedoras, em que eles mesmos se agridem. A mulher, por exemplo, pode acabar
com a autoestima do homem, cobrando sua potência, sua masculinidade, insinuando que
ele não é bom o bastante, e ele, por seu lado, pode feri-la profundamente em sua essência
de mulher, quando demonstra de alguma forma que ela foi um objeto.
Um ficará muito exposto ao outro e levarão essa marca pela vida inteira. Até mesmo
num noivado pode acontecer um rompimento e um ficar marcado pelo outro.
No casamento, a exposição de cada um entre o casal acontecerá também, mas será que
os esposos escarnecerão de alguém a quem juraram amor eterno? Tudo acontecerá no
respeito, na paciência, no compromisso de guardarem a dignidade um do outro para toda
a vida. Só no casamento o casal pode, de verdade, assumir um ao outro, em tudo o que o
ato sexual pode proporcionar, sem surpresas, sem exceções, pois o casamento
proporciona o ambiente e as condições ideais para um fazer o outro feliz, trazendo
sentido existencial ao ato conjugal e não somente prazer.
Antes disso, o mínimo contato sexual, uma carícia indevida, já leva uma parte da
pessoa, sem nenhuma garantia a ela.
A sexualidade no ser humano faz parte do seu ser inteiro e não pode ser vista como
uma potencialidade isolada. Tratá-la como uma simples capacidade de ter prazer é um
grande erro, apesar de ser o que o “mundo” ensina e apresenta como natural,
principalmente aos jovens.
Sexualidade e afetividade andam juntas, lado a lado, e são essas duas forças que
impulsionam o dom do amor. Em outras palavras, é predominantemente por meio da
afetividade e da sexualidade que o ser humano expressa o amor.
A sexualidade afeta todos os aspectos da pessoa humana, em sua unidade de corpo e
alma. Diz respeito, particularmente, à afetividade, à capacidade de amar e de procriar e,
de uma maneira mais geral, à aptidão para criar vínculos de comunhão com os outros
(Catecismo da Igreja Católica, art. 2332).
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Quando ferimos uma dessas faculdades, acabamos por atingir negativamente também a
alguma outra. Portanto, para não avariarmos nossa capacidade de amar – em nenhum de
seus aspectos – e para preservar, ou mesmo curar, um coração já sofrido, vivamos a
castidade, antídoto contra os males que podem afetar nosso relacionamento, própria para
cada estado de vida: os casados a vivem pela entrega total e fidelidade ao cônjuge; os
solteiros, pela abstinência sexual, com o propósito de preparar-se para o matrimônio ou
para outro chamado vocacional; e os celibatários, igualmente pela abstinência, mas já
com dedicação integral ao Reino de Deus.
Ao contrário do que propagam nos dias de hoje, a castidade não é impossível de ser
vivida, não aliena e não extirpa a capacidade de prazer. Antes, devolve o que é dom do
ser, pois equilibra e tranquiliza os impulsos, ensina o autodomínio e permite que cada
coisa seja vivida ao seu tempo e nos lugares certos.
Contudo, castidade não é só exercício de autocontrole, porque seus efeitos também
permitem que a pessoa que a vive aprimore sua capacidade de comunicação e de
perceber o outro e trazem maior noção de complementaridade a um casal (Castidade
antes do casamento traz mais estabilidade e satisfação, 2010).
A castidade integra as três dimensões do ser humano – física, psíquica e espiritual – e é
o meio pelo qual o dom do amor entranha-se em nós, de modo que formatamos
corretamente e equilibradamente aquele que é o maior sentido da vida do ser humano – o
ato de amar. Além disso, a castidade prepara o homem e a mulher para uma união íntima
verdadeira, pautada em uma entrega total de si, possibilita o domínio dos impulsos
físicos e dos desejos mais instintivos, proporciona um equilíbrio nos pensamentos, nas
disposições interiores, na mente e no coração e ordena as aspirações mais nobres do ser
humano ligadas ao amor – desde o amor fraternal, disposição natural de ser comunitário,
até o romântico. Por isso, a castidade desabrocha também em amizades sadias, não só
em namoros, e potencializa a pessoa a amar de verdade, sem se ligar a segundos
interesses e sem se deixar dominar pela paixão.
Sendo casta e tendo aprendido a controlar de modo sadio e equilibrado as três
dimensões humanas, a pessoa pode dizer que efetivamente se doa, porque não está
subjugada, dominada pela sensação do prazer, portanto apta a fazer uma escolha
consciente. Essa pessoa irá amar o(a) namorado(a) com paixão e sentimento, mas
também por livre e decisiva escolha racional.
De fato, “a sexualidade está ordenada para o amor conjugal entre o homem e a mulher.
No casamento, a intimidade corporal dos esposos se torna um penhor de comunhão
espiritual” (Catecismo da Igreja Católica, art. 2360), e quem não vive a castidade pode
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até encontrar prazer, mas este virá acompanhado do vazio existencial, pois desaprende-se
a amar. E, sem saber amar, como poderá ser feliz em sua vida afetiva? Ele(a) até terá
sentimentos, desejos, mas não conseguirá mantê-los nem cultivá-los. Mesmo que
encontre uma ótima pessoa, quando se deparar com as diferenças e os desafios de um
verdadeiro amor, não terá maturidade para ultrapassá-los.
Repare que até mesmo em contos de fadas e histórias de amor da TV, o amor exige
sacrifícios por parte do(a) amado(a). Sem castidade, perde-se a dimensão do amor
oblativo e passa-se a não admiti-lo, pois todo sacrifício irá parecer perda e privação.
Torna-se difícil perceber que algo maior está sendo construído.
Castidade não é só controle sexual; é, antes, uma virtude que se inicia com pequenos
gestos, como o olhar: “Todo aquele que olhar para uma mulher com o desejo de possuí-
la, já cometeu adultério com ela em seu coração” (Mt 5,28). Em outra citação, também
encontramos: “Não circules os olhos pelas ruelas da cidade nem vagues por suas praças.
Desvia teu olhar da mulher enfeitada e não olhes com curiosidade para a beleza alheia”
(Eclo 9,7-8).
Partindo de situações mais cotidianas, como o ato de observar o outro de uma maneira
casta, mostrado nos exemplos acima, alcançamos a purificação dos valores mais
elevados, como a amizade verdadeira, pois passamos a fazer amigos sem segundos
interesses.
“A castidade aparece como uma escola de doação da pessoa [...]. Desabrocha na
amizade” (Catecismo da Igreja Católica, arts. 2348 e 2347).
“Ficar” prejudica não somente o namoro, mas também deprecia a amizade que existia
ou que pode vir a existir. Veja só quantas consequências esse ato causa nos
relacionamentos de quem anda ferindo sua castidade e desaprendeu a amar. A pessoa
que não moldou o seu olhar com a pureza, olha para os outros, seja em que ambiente for
– festas, escola ou mesmo trabalho – quase que exclusivamente para rastrear belezas e
possibilidades de obter favores e vantagens, não só afetivas, mas também de status ou
um bem material. Você já reparou como geralmente a impressão que temos de beleza –
pessoas e coisas que avaliamos como belas – nos dá também o desejo de possuir?
Precisamos purificar o olhar. Purificar o olhar é purificar os desejos do egoísmo.
Dessa forma, não há amizades verdadeiras. O contato com o sexo oposto acaba sendo
mera troca de sensações momentâneas, e com o mesmo sexo, uma associação que busca
os mesmos interesses mesquinhos, ou talvez uma disputa, em que os homens querem
apenas provar ser mais másculos e mais sedutores que seus colegas, e as mulheres, mais
sensuais e poderosas umas que as outras. Até dizem por aí que uma mulher se arruma
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para competir com a outra, um pensamento mundano a respeito da beleza do universo
feminino.
Pessoas feridas na castidade são ávidas por sensações, não praticaram nem praticam a
paciência e têm pressa de chegar ao fim, para ver se lá há algo de diferente que preencha
seu coração – isso em todos os seus relacionamentos. Não admitem os processos dos
outros, e, se não lhes entregam o que querem em pouco tempo, dispensam a companhia.
Não estou dizendo com tudo isso que todos aqueles que estão sem ninguém ou
sofrendo por amor pecaram contra a castidade. Não é isso! Estou somente salientando
que investir contra essa virtude nos afasta do sentido do amor em nossa vida, porque
ainda que estejamos com uma pessoa, não saberemos valorizá-la devidamente.
Quem espera uma pessoa especial se dedica, desde já, com muito carinho para esse
alguém. É pela pureza que se plenifica um coração no dom do amor, portanto, seja
puro(a) e prepare-se por e para quem irá merecer seu amor. Se queremos e desejamos ser
felizes, temos que aprender a amar, pois felicidade e alegria não sobrevivem longe do
amor, e é um grande erro tratá-las como simples capacidade de ter prazer.
Na verdade, ao nos relacionarmos com alguém, o que nosso coração mais anseia é ter
intimidade, e ela nunca será alcançada se começarmos a conhecer a outra pessoa pelo seu
corpo. A entrega total de si é reservada ao matrimônio, porque é como uma coroação de
tudo o que conhecemos e decidimos fazer e ser pelo outro. Queremos ser valorizados,
considerados pelo que somos, descobertos em nossa essência, por isso, ainda que
inconscientemente e com as reações físicas à flor da pele, ao querer prazer, buscamos, na
verdade, nos revelar a quem está demonstrando amor.
Pena que muitas pessoas, para atrair amor, amizade e atenção e preencher o anseio de
ser íntimo de alguém, usam o artifício da sensualidade e roupas que exibem o corpo,
adotam comportamentos e atitudes provocantes e assim por diante.
Relacionamento nenhum será profundo se não invertermos esses valores. O ideal, a
despeito do que muitas pessoas pregam hoje em dia, é conhecer primeiro a essência da
pessoa e deixar o ato sexual para depois do casamento, pois ele condiciona ao prazer e
pode bloquear as intenções de conhecer a alma e os pensamentos do outro. Invista em
um bom papo, em estar junto para notar as reações do dia a dia e para perceber os sonhos
de quem você ama.
O pecado original nos levou a ver a nudez – revelação do corpo – a partir do prazer
próprio, e por isso temos a sensação de que por meio do corpo desenvolveremos a
intimidade total com o outro. Mas isso não é verdade, pois quando acontece a relação
sexual no namoro, dificilmente o relacionamento deixa de girar em torno do ato sexual,
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mantendo-se única e exclusivamente para ele e colocando a intimidade verdadeira para
fora.
Para ter um namoro virtuoso, é preciso assumir responsabilidades, estar aberto a
desprender-se de si mesmo e abrir mão do conforto egoísta, em vista do bem de quem
amamos ou do melhor para o casal.
Você pode, neste momento, achar que o desafio é grande, mas se existe em seu íntimo
a aspiração a amar e ser amado, é exatamente nessa direção que está a felicidade. Aceita
o desafio?
Oh, Deus de bondade, Deus de ternura.
Nós confiamos em Tua misericórdia, e, por isso, pedimos hoje
que venha em socorro de nossa afetividade.
Renunciamos pelo nome de Jesus,
pelo Teu sangue preciosíssimo,
a toda obra do pecado, a tudo aquilo que
em nossas vidas seja vício ou desequilíbrio.
Que Teu Espírito Santo venha hoje
inundando de amor, inteiramente, nossos corpos, nossas mentes,
pensamentos e sentimentos.
Que seja cancelada toda falta de amor, toda falta de perdão
que existiu em algum momento das nossas vidas,
de nossa parte ou por aquilo que não recebemos.
Seja agora preenchido esse vazio dos nossos corações,
pelo amor de Nosso Senhor Jesus Cristo.
Vem reordenar nossos dons,
nossa capacidade para o amor.
Amar como Cristo amou,
como Nossa Senhora e São José amaram os seus.
Quero ter os sentimentos e emoções de Jesus Cristo.
Amém!
“Não desperteis nem perturbeis o amor, antes que ele o queira” (Ct 8, 4).
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O PROCESSO DE APROXIMAÇÃO
“Deus modelou uma mulher e apresentou-a para o
homem” (Gn 2, 22).
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A aproximação inicial
Todo namoro é precedido por um processo de aproximação e conquista, e isso
acontece porque são ativadas em nosso corpo emoções que parecem nos guiar um em
direção ao outro. Por sermos seres inclinados à vocação de amar, todo o nosso
organismo estará envolvido nesse processo.
Podemos perceber que o amor está presente em nós por conta da manifestação de
sentimentos. Antes de ser uma experiência psíquica, o amor é uma realidade bioquímica.
Nosso organismo responde aos estímulos que a outra pessoa provoca em nós com
algumas substâncias químicas que são despejadas na corrente sanguínea e provocam os
sentimentos que nos fazem experimentar bem-estar quando pensamos na pessoa amada.
A capacidade de desenvolver e cultivar sentimentos está enraizada em nossos instintos
mais primitivos e básicos, que garantem a sobrevivência própria e da espécie humana.
Ter essa capacidade é uma maneira encontrada pela natureza de nos mover em busca do
bem comum aos indivíduos (união) e a partir daí garantir a espécie (reprodução). Em
entrevista à revista Veja, James Leckman, psiquiatra norte-americano da Universidade
Yale que estuda as raízes biológicas do amor, explicou: “Ao dotar o ser humano da
capacidade de se apaixonar, a mãe natureza só queria forçar dois corpos a se aproximar o
suficiente para procriar” (CARELLI, 2002).
Abrahan Maslow, psicólogo norte-americano reconhecido como o pai do humanismo
na psicologia, apresenta uma teoria que afirma que as necessidades humanas são
divididas em cinco categorias:
Fisiológicas: respiração, alimentação, sexo, sono...
Segurança: ausência de riscos ao corpo e à saúde (incluem-se os recursos da
moralidade e de sustento).
Social: amizade, família, intimidade.
Estima: respeito, reconhecimento, ser bem considerado pelos outros.
Realização pessoal: sentir-se bem fazendo o melhor com suas habilidades, ausência
de preconceitos, aceitação dos fatos, superação de desafios (MASLOW, 1979).
Outro pesquisador, Frederick Herzberg Gonçalves, vem complementar a teoria de
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Maslow, afirmando que as duas primeiras categorias – Fisiológicas e Segurança – não
são fatores de motivação e satisfação humana, servem apenas para manutenção, ou seja,
só evitam a insatisfação, uma vez que conseguem apenas satisfazer instintos. Servem de
base para as outras.
Já nas outras três categorias seguintes, o homem alcança um sentido existencial. Ele as
chama de Fatores Motivacionais – Social, Estima e Autorrealização –, sendo que a
última é a mais elevada (GONÇALVES, 1997).
Então concluímos que os estímulos do instinto servem para amparar o ser para que ele
atinja instâncias mais elevadas. É bonito ver como as necessidades do corpo, que estão
no primeiro degrau, devem estar voltadas à manutenção da vida, mas como também
pedem e abrem caminho para encontrarmos realização desde as necessidades de
amizades, contato familiar e de intimidade, até nos encontrarmos fazendo o bem com
nossas habilidades. Podemos também comprovar com isso que o sexo, fator instintivo,
sem intimidade, é, no mínimo, vazio de sentido existencial.
Com essa teoria, concluímos que emoções e sentimentos existem também para
aproximar os seres humanos, o que é uma necessidade do nosso organismo.
O amor enquanto sentimento e, portanto, efeito emocional desencadeado pela
quantidade de hormônios produzidos em nosso corpo, é somente a primeira e mais
superficial experiência sobre o que é o dom do amor. É fator de aproximação inicial.
Funciona como primeiro degrau para inserir a outra pessoa em nosso mundo e vice-
versa, pois sentimentos uma hora ou outra serão frustrados. Pelo bem-estar de
permanecer ao lado do outro, iremos aprender a conhecê-lo verdadeiramente e daí optar
por amar também, usando das capacidades da vontade e da razão.
A língua grega classifica o amor com três palavras distintas:
– Eros: é o amor romântico, o qual une duas pessoas pelos sentimentos. É a paixão, a
libido, sentimentos que impulsionam para a relação sexual e as uniões amorosas como o
namoro, por exemplo. É um anseio que busca recompensa, ainda que seja somente a
presença da pessoa amada. É por meio dele que podemos satisfazer nossas expectativas
afetivas. Também é o querer para si, o desejo, a contemplação da beleza nas artes, das
formas, na natureza etc.
– Philos: é um amor desapaixonado, como o que existe entre amigos e familiares.
– Ágape: é o amor altruísta, não dependente de sentimentos carnais. Capaz de doar a
própria vida pelo outro, seja amigo ou inimigo. É capaz de autossacrifício e identifica-se
com o amor de Deus pelos seres humanos.
O amor Eros é o que primeiro nos impele a cumprir a aspiração que o próprio Senhor
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depositou no gênero humano, de “ser para” e “ter” uma pessoa única que o
complemente: “Por isso deixará o homem o pai e a mãe e se unirá à sua mulher, e eles
serão uma só carne” (Gn 2,24).
A afetividade e a sexualidade (vocação do ser humano) pedem complemento, e a partir
do que sentimos começamos a vislumbrar o(a) outro(a) como parte de nós. Por isso
também temos um sentimento de posse em relação a ele(a), que quando desequilibrado
dá origem ao ciúme exagerado.
Pelos sentimentos é que podemos experimentar o romantismo da forma Eros. Dentro
da esfera do romantismo – Eros – podemos enumerar três deles como os principais
agentes de união entre pessoas: a atração, a paixão e o encanto gradual. Os dois
primeiros podem nascer com um tempo de convívio ou de imediato, de forma
arrebatadora, desencadeando o que chamamos de “amor à primeira vista”. Já o último
acontece de modo mais reservado e tímido e poderia ser chamado de “amor a um
segundo olhar”.
No entanto, existem outros propósitos que podem colocar duas pessoas nesse tipo de
relacionamento, como a carência afetiva e outras motivações não tão honrosas (casos de
namoros que começam por interesse em bens materiais, status social etc.), que pouco
têm a ver com o envolvimento de afetos. Convém tratar aqui somente do que realmente é
relacionado ao romantismo.
Atração
Encontramos beleza na outra pessoa, e isso provoca em nós uma vontade de ter contato
físico. Talvez seja uma beleza que até nos surpreenda, pois não fazia parte do nosso
universo ou do que considerávamos belo. Essa atração pode ser somente por uma parte
do corpo, como a cor dos olhos, ou por um conjunto de características, como o jeito de
andar, de falar, de fazer alguma atividade. De repente, algo começa a nos impulsionar a
querer tocá-la, e sua presença nos faz bem, apesar de, durante sua ausência, não
sentirmos muito a sua falta.
Atração é aquele tipo de interesse que destaca para nós as características visuais na
outra pessoa, tanto traços exteriores, como o corpo ou as feições do rosto, quanto
aspectos de comportamento, como o jeito de agir, de vestir-se, o seu charme. Pode haver
atração por todo um conjunto de características ou por apenas parte delas. Não ficamos
pensando na pessoa o tempo todo, mas quase que somente quando estamos por perto.
É essa sensação que desperta em nós o desejo como apelo carnal. Ficamos
deslumbrados com os aspectos da beleza, literalmente atraídos, e, por vezes,
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simplificamos essa explicação com os dizeres “temos química”. Perceba como, nesse
caso, tudo parece estar “à flor da pele”.
Paixão
Tudo está bem, até que, um belo dia, avistamos alguém que nos arrebata o coração
simplesmente por existir. Essa sensação, ao mesmo tempo que parece elevar o nosso
espírito e dar um sentido novo ao mundo, nos provoca um nó no peito e sequestra nossa
vontade. Algo tira-nos o chão e ficamos sem saber como nos comportar quando estamos
perto dele(a). Perdemos o fôlego e, por vezes, temos calafrios ou rubor. Ficamos à mercê
de sua aceitação, dependentes, cativados por esse sentimento, mas aceitando-o, felizes.
Chega a doer, de tão prazerosa que é, e se você identifica em si mesmo tal
comportamento, com certeza está apaixonado.
É uma emoção mais potente que a atração, causa-nos euforia e torna a preocupação
com a pessoa amada, na qual pensamos o tempo todo, quase que uma constante. São
sensações tão extremas que não são raros os relatos de pessoas que cometem loucuras
por causa da paixão que sentem.
Salvo por algum trauma ou por seguir alguma ideologia contrária à vocação mais
nobre do ser humano, que é amar, nós desejamos estar apaixonados, talvez pelo prazer
causado pela intensidade desse sentimento. A maioria de nós sonha em encontrar uma
cara-metade através da experiência da paixão, e é devido a essa emoção que a maioria
dos seres humanos decide iniciar o namoro.
Das fases da aproximação, a paixão é a mais valorizada nos dias de hoje e, por esse
motivo, pode também ser prejudicial, pois acabamos esperando demais desse sentimento
e, consequentemente, da pessoa por quem nos apaixonamos. A supervalorização da
paixão é um fenômeno recente, dado que antigamente, como vimos no tópico “Breve
histórico do namoro”, outros valores eram tidos como mais importantes. Em outras
épocas, era difícil alguém investir sua vida nesse sentimento passageiro.
Algumas pessoas pensam que a paixão é diferente do amor, mas estão erradas! A
paixão é boa, desde que atribuamos a ela sua devida importância. Paixão é uma forma
de amor, necessária, básica, primitiva – pois surge do instinto –, mas um modo de querer
bem o outro e grande artifício de união. Portanto, é amor em suas primeiras instâncias.
Encantamento gradual
Temos um contato com uma pessoa que, a princípio, não nos chama tanta atenção, ou
talvez, quem sabe, até se destaque num aspecto ou outro, mas nada que nos faça vê-lo(a)
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como companhia para toda a vida. Conforme vão se passando os dias e meses, a amizade
com essa pessoa vai nos revelando, no cotidiano, mais sobre ele(a), suas atitudes e
qualidades, e surpreendemo-nos com um olhar de admiração de nossa parte. Queremos
vasculhar seu íntimo, porque acabamos de encontrar um tesouro, e a nossa curiosidade
ficou aguçada. Pronto! De repente, invade-nos o pensamento: “Bem que eu poderia
namorar com ele(a)”.
Esse tipo de admiração provoca em nós um sabor de possibilidade. A boa impressão
que tivemos nesse segundo momento desperta a nossa atenção para fatores que
apreciamos, mas que foram percebidos de forma gradual e discreta, para traços dele(a)
que nos agradam, mas só perceptíveis quando observamos os detalhes, ou para
características próprias de seu interior, portanto, invisíveis aos olhos.
Bem menos intenso que a atração e a paixão, o encanto gradual pode levar a relação de
amizade entre duas pessoas ao âmbito de amor complemento, esponsal, partindo do
círculo de amizades ao universo íntimo. É uma afinidade mais equilibrada e tranquila,
um tipo de relação mais elevada e consciente, uma forma de alcançar o Eros
atravessando a ponte entre a amizade e o “algo mais que o Philos”. É processual.
Basicamente, estes três tipos de sentimentos caracterizam o amor na forma Eros e são
os fatores que mais nos levam a nos aproximar uns dos outros.
Essas formas de aproximação podem não atuar isoladamente, mas acontecer de
sentirmos duas ao mesmo tempo. Por exemplo: sentir atração por alguém e também
admirá-la cada vez mais. Outra coisa que podemos perceber é que essas emoções podem
ser geradoras umas das outras: a atração pode gerar a paixão, o encanto gradual pode
gerar atração, e assim por diante. Entre esses sentimentos existe uma grande variedade
de combinações e essa variedade pode levar ao início do namoro.
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Como identificar sinais de que ele(a) também está
apaixonado(a) por você?
Que momento bom é quando estamos começando a nos apaixonar! O amor nos faz
bem, várias sensações prazerosas nos invadem e o mundo fica mais colorido.
Isso pode acontecer a qualquer tempo e em várias situações: com alguém na escola, no
trabalho, do grupo de oração e até mesmo com um(a) desconhecido(a), alguém que cruza
nosso caminho nos ambientes que frequentamos.
Só tem um probleminha em tudo isso, que é saber se a outra pessoa também está tendo
o mesmo sentimento. A dúvida se torna angustiante, queremos obter uma resposta a
qualquer custo.
Contudo, digo a você que tenha um pouco de calma. Quando estiver namorando, você
se lembrará desses momentos de paquera com muita saudade. Até os seus
comportamentos absurdos, como desviar-se do caminho cotidiano em dez quarteirões só
para encontrar com o(a) amado(a). Até mesmo os “foras” que você acha que levou irão
servir como provas de amor. O casal alimenta o amor quando guarda na memória as
lembranças dos esforços que ambos fizeram para se conquistar. Meus pais contam, de
vez em quando, ainda com brilho nos olhos, como eles se conheceram e se aproximaram.
A paquera deve obedecer um processo que aos poucos vai aumentando o amor.
Se você desconfia de que é correspondido(a), mas não tem certeza, darei algumas dicas
que poderão lhe dar uma direção para saber se ele(a) está a fim de você. Estou me
referindo a namoro, compromisso sério, e não sinais de paquera de uma noite só.
Troca de olhares. Vocês trocam olhares quando passam um pelo outro ou estão no
mesmo ambiente? Se “rolar” um sorriso ou cumprimento, ainda que um discreto
“oi”, será um bom começo.
Chamar a atenção do outro. Ele(a) quererá impressioná-la(o), ou no caso das
mulheres, ela criará uma oportunidade para que ele faça algo por ela. Geralmente o
rapaz tentará chamar a atenção fazendo algo incomum quando estiver no mesmo
ambiente que a moça, já as mulheres tendem a se colocar em situação em que
precisem da força ou da segurança masculina.
Estar um pouco fora do contexto. Pode acontecer de ele(a) falar alguma coisa ou
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demonstrar qualidades que não combinam muito com o momento e a ocasião, mais
para impressionar ou chamar a atenção do outro.
Ficar atrapalhado(a) perto do outro. É muito comum “perder o rumo”, “enfiar os pés
pelas mãos” quando ele ou ela chegam perto da paquera.
Se vocês já tiverem amizade, observe estes comportamentos:
Tomar partido a seu favor. Em uma conversa em grupo de amigos, mesmo quando
você entra numa assunto controverso, ele(a) fica do seu lado?
Ele(a) aceita acompanhar você para fazer o seu gosto, como o rapaz topar fazer
compras no shopping com ela, ou a moça que nunca foi ao futebol aceitar ir ao
estádio com ele?
Ele(a) encara alguns de seus defeitos como um charme?
Costumam elogiar um ao outro ou trocar presentes? É mais comum os rapazes
elogiarem a aparência das moças e as mulheres algo de bom que eles fazem. É
comum a outra pessoa exaltar as suas qualidades ou de vez em quando chegar com
uma surpresa, um “presentinho”, do nada?
A pessoa cerca você de cuidados? Prepara ou providencia coisas de que talvez você
precise, como algo para incrementar seu trabalho na faculdade ou na apresentação
que você fará na empresa? Ou, para lhe dar carona de carro, até sai da sua rota
normal? Enfim, ele(a) está se mostrando mais disponível do que seria normal entre
amigos?
Faz questão de estar perto? Quando vocês estão com um grupo de amigos, por
exemplo, ele(a) sempre dá um jeito de sentar perto de você?
Demonstra interesse em saber sobre você e os lugares em que estará? Ele(a) entra em
contato durante o dia, ou à noite manda um whatsapp só para saber como você está
ou onde está?
Se respondeu à maioria dessas perguntas com um “sim”, pode ter certeza de que o
sentimento é recíproco. Gradualmente, ele(a) quererá conhecer mais detalhes de sua
vida, se interessará em saber as coisas que se passam dentro do seu coração.
Se ficar ainda com alguma dúvida, olhe a pessoa fixamente nos olhos. Depois de todo
esse processo, em que esses sinais vão se manifestando, provavelmente ele(a) se
entregará pelo olhar.
O bonito é que quando temos calma e paciência, cultivando antes a amizade, os
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sentimentos vão ficando expostos e naturalmente um não conseguirá mais esconder do
outro o que sente, daí acontecerá o início do namoro.
Quando mais perto, mais o amor aumenta.
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O que uma moça cristã precisa saber para paquerar
Tocar nesse assunto pode causar polêmica. Uns imaginam que a mulher cristã deve ser
recatada ao ponto de sufocar todos os anseios do seu coração.
Se você pensa assim, eu lhe digo: ei, estamos no século XXI! E, principalmente, o
Espírito Santo nos fez livres!
A moça católica paquera, sim, e tem o direito e o dever de participar do processo de
aproximação.
Então, digamos que você, mulher, está interessada em se aproximar de um rapaz para
conhecê-lo melhor. Ou talvez já nutre um sentimento ou interesse romântico e lhe agrada
a ideia de namorar com ele.
Vão aqui algumas dicas em como atrair a atenção desse homem de Deus:
Não seja tão tímida. Saia um pouco de si para se mostrar mais. Ache um jeito de
estar por perto dele. Não tem como ele notá-la, se só você o vê.
Capriche no visual. Não podemos descartar que o masculino é muito conduzido pelo
sentido visual, mesmo os cristãos. Foi Deus quem nos fez assim. Por isso, invista em
você!
Olhe e dê algum sinal. Troque olhares com ele, mas de vez em quando, e não a todo
momento. Não “entregue de cara” que você está interessada. Deixe-o somente supor
que talvez haja uma curiosidade sua em relação a ele, sem dar-lhe certeza, assim ele
terá que vir verificar.
Depois que ele se aproximar ou que você já pertença ao círculo de amizades dele:
Mantenha o recato e a delicadeza. Que homem não gosta de mulher que se expressa
como uma dama? Não, não estou querendo que você seja contida como uma lady da
Idade Média. Mas não precisa dar tapas na mesa quando discute algum assunto entre
amigos, nem competir para ver quem fala mais alto. Nós homens (a grande maioria)
até achamos divertido estar por perto da mulher “barraqueira ou escandalosa”,
aquelas que “rodam a baiana”, mas dificilmente as escolhemos como candidatas a
namorada. Você pode ser alegre, espontânea e não se preocupe se é de dar uns “foras
”de vez em quando. Só não seja vulgar. Seja moderna e prática, mas de forma
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equilibrada, educada e sóbria no falar, no vestir e nos gestos, sem exageros. Acredite,
a sua feminilidade é que encantará o pretendente.
Demonstre seu brilho próprio. E de que forma a mulher pode brilhar para um
homem? Englobo nessa resposta três aspectos: demonstrando bom humor,
inteligência e simpatia.
Bom humor – Como os homens são dados à praticidade, eles se encantam quando a
mulher dá leveza a alguns assuntos e sabe “levar na esportiva”.
Inteligência – Não precisa ser doutora, nem PHD em nenhuma matéria. Contudo,
tenha sua opinião sobre as coisas. Os rapazes adoram quando se deparam com uma
mulher que é segura, principalmente em seus princípios. O que também não quer
dizer ser teimosa, nem inflexível.
Simpatia – Ah, o sorriso da mulher é tudo! Sorria mais, mas sem forçar. Seja
espontânea! Para isso, busque dentro do seu coração os motivos que você tem agora
para ser feliz. E vou contar um segredo. Uma mulher simpática, além de atrair a
atenção do pretendente, fará com que nos pensamentos dele se passe o seguinte:
“Quero apresentá-la aos meus amigos e à minha família, porque eles vão adorá-la”.
Esses pontos fazem parte do mistério da mulher. Cultive-os. Inconscientemente,
quanto mais o rapaz se aproximar de você, mais irá querer saber o que é que você tem de
diferente.
Mas, por favor, não o beije, não se renda enquanto não ouvir as palavras mágicas
“Quer namorar comigo?” Afinal, você não quer colocar todo esse investimento a perder,
por causa de um momento romântico apenas, não é mesmo?
Você merece ter alguém que a apresente para os amigos, para a família e no trabalho
dele como “Esta é minha namorada”! Nada menos que isso!
Com essas dicas, espero que sua chance cresça bastante. Contudo, se você não
concorda com alguma dessas ideias, sinta-se livre em discordar, são apenas dicas.
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O que o rapaz cristão precisa saber para paquerar
E o rapaz? Quando ele está interessado em se aproximar de uma moça, o que ele pode
fazer para tentar chamar a atenção dela e conquistá-la?
Lembrar-se de que mais vale o conjunto do que você é do que a beleza. Nós, homens,
somos mais visuais que as mulheres. No entanto, por motivos biológicos e psíquicos,
todos ligados à geração da vida, as garotas são mais seletivas para escolher um par,
então tendem a perceber outros aspectos além da aparência e fazer muito mais
considerações do que nós. Isso é equivalente a dizer que se você não é tão bonito ou
não está muito em forma (mas é claro que isso tudo ajuda bastante), pode investir
assim mesmo.
Seja um homem bom de coração. Quantas vezes ouvimos uma mulher dizer “ele é
tão bom para mim!”? Os fatores segurança, proteção e disponibilidade para cuidar
dela muitas vezes falam mais alto do que imaginamos.
Ter cuidados consigo mesmo. Tudo bem, não precisa ser um galã, mas também não
vá relaxar! Compense de outra forma. Que mulher não gosta de estar com um
homem bem-vestido e cheiroso?
Estar apresentável significa para ela que você é cuidadoso, e será assim também com
o relacionamento e com ela. Você já reparou que quando elas estão apaixonadas se
arrumam mais? Portanto, a recíproca é verdadeira, as moças dão importância a isso.
Pare de andar só de camiseta e bermuda! Se a camiseta for daquelas promocionais de
divulgação comercial, então, aposente-a ainda hoje. No mínimo coloque uma camisa
polo e tênis ou sapatênis.
Invista também num perfume (geralmente as mulheres conhecem o nome, a marca e
onde vendem quase todos os perfumes). O olfato feminino é até cem vezes mais
desenvolvido que o masculino, e ela associa a fragrância com os momentos com
você.
Reparar nos detalhes. Ok! Nós homens não somos muito bons nisso, então, aprenda a
procurá-los. Se você mostrar que está reparando nela, que percebeu o penteado novo
ou a roupa que ela está usando, ela sentirá que é importante para você. Então, a
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chance do coração dela se abrir será bem maior. E aproveite e seja assim
constantemente.
Ouvir e ter interesse pela história dela. Também é outra forma de a garota sentir-se
importante. A ciência diz que, em um dia, a mulher tem a necessidade de usar mais
palavras que o homem. Portanto, deixe-a gastar sua cota diária. Ao agir assim, você
demonstra que não está interessado só na beleza dela, mas em tudo o que ela é,
principalmente seu coração.
Ter iniciativa. Sua iniciativa representa segurança para ela. Como se ela pensasse: “É
ele que cuida de mim, e não vai ser o contrário”.
Leia os sinais que ela lhe dá e, se for o caso, arrisque-se a dizer o que você sente.
Hoje em dia são elas que estão tomando a frente para esclarecer o que há entre os
dois, porque os homens estão ficando medrosos!
Quando sair com ela, escolha você o cardápio, o filme. Sabe quando o casal fica
naquela “escolha você! Não! Escolha você”? Para elas, é confortável estar com um
homem que sabe o que quer, que conhece ou tem coragem de arriscar e dar um rumo
às coisas.
Nos primeiros encontros, pelo menos, pague a conta, nem que seja para levá-la só
para comer um cachorro-quente.
E uma última dica dentro desta questão. Quando estiver namorando, seja você a
propor a castidade. Temos falta de homens que sejam másculos o suficiente para
encarar esse desafio. Mas para ela vai significar uma grande prova de amor.
E mais uma vez digo, se o rapaz não concorda com algo ou se a mulher achar que
vocês não são como eu disse, sintam-se à vontade, só estamos trocando umas ideias.
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Possuir-se implica conhecer-se
A chave do amor é o autoconhecimento. “Amarás teu próximo como a ti mesmo” (Mt
22,39). O amor é doação, mas só consegue doar-se quem se possui. Possuir-se não para
reservar-se, mas para dar-se melhor.
Por isso, somente tendo uma noção exata daquilo que somos conseguiremos valorizar
cada aspecto do nosso ser. É importantíssimo notar onde estão nossas forças e nossas
fraquezas, pois assim será possível balizar o melhor caminho a seguir na vida, cuidar
adequadamente de nossas fragilidades, tratar nossas feridas, buscar a cura interior e
evitar completamente coisas que nos oferecem risco à vida, à santidade e à integridade.
Além disso, o autoconhecimento também nos faz ter segurança naquilo que somos fortes
e no que não nos atrai aos pecados ou a outros tipos de perigo.
Por exemplo, aqueles que têm fraqueza diante de bebidas alcoólicas, quando se
conhecem – possuem-se – sabem de onde vem sua inclinação a querer sempre um gole a
mais, então, podem antecipar-se e manter distância de certos ambientes, de más
influências que o levam ao consumo e do próprio álcool. O mesmo vale nos aspectos da
dimensão afetiva da pessoa, pois sabemos que existem certas ocasiões que podem nos
fazer cair no pecado. Quando um certo fator ou combinação de coisas podem nos fazer
pecar contra a castidade, devemos evitá-los. Fugir mesmo das situações que nos
envolvem de maneira a nos deixar mais propensos a não resistir aos apelos da
sexualidade.
Em meu namoro com a Kelen, muitas vezes precisamos sair do cômodo da casa em
que ficamos sozinhos e ir para onde havia mais pessoas. Porque havia certos dias, certos
momentos, em que um de nós, ou os dois, se percebia mais sensível e desejoso do que
não nos era lícito no tempo de namoro.
Conhecer-se é isso! Podemos, dessa forma, proceder com nosso ser: cada um se revê e
assinala o que em si é talento ou deficiência. Mas e quando não percebemos tudo aquilo
que somos? Quando ainda estamos em formação? Conhecer-se será sempre processual, e
até o final da vida estaremos nos configurando e descobrindo. O importante não é
enxergarmo-nos na totalidade, pois nunca chegaremos a esse final, mas “tomar conta”
daquilo que já percebemos em nós mesmos. Possuir-se não é conhecer-se inteiramente,
mas “sacralizar” o que em si já é conhecido.
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Sobretudo, em todas as áreas do ser, daquilo que identificamos em nós, é mais que
urgente gostarmos de nós mesmos, para podermos viver bem o amor para com o
próximo.
Senhor, infunde Seu Santo Espírito sobre nós, para que nossa percepção e sentidos
sejam iluminados pela reta consciência de sermos pessoas capazes de conceber
belos sentimentos e emoções.
Que descubramos o encanto do amor e venhamos a receber esse dom.
Sabemos que somente em Cristo Jesus conseguiremos descobrir aquilo que somos.
Então, que, por intermédio da Virgem Maria e de São José, nós possamos ser
gerados em Jesus, reconhecendo nossas belezas e fragilidades, para crescermos e
elevarmos o que temos de melhor e apararmos as arestas que necessitam de cura e
correção.
Amém!
Não sê indiferente às tuas mazelas,
mas captura todos os teus sonhos
e depõe sobre eles o teu olhar.
Pois limitações não determinam quem és,
apenas significam que não és Deus.
Acreditar que podes um passo mais
é o mínimo que fazes a ti
e a tua breve estada aqui.
Existir é muito pouco,
escolha o viver!
Pois tua alma sempre pulsará
querendo transfigurar a existência
“Caminhando para o infinito”
(Sandro Arquejada)
49
PRIMEIRA FASE –
OS SENTIMENTOS
“A partir da ‘atração inicial’ e do ‘sentir-se bem’
com o outro, educai-vos a ‘amar’
o outro, a ‘querer o bem’ do outro.”
(Encontro com os namorados, discurso do Papa
Bento XVI, visita pastoral a Ancona, praça do
Plebiscito, domingo 11/09/2011).
50
Adentrando a
primeira fase
O que dá início a essa primeira etapa do namoro é o compromisso firmado diante
daquilo que duas pessoas sentem. Não basta viver o sentimento e trocar afetos de vez em
quando, é preciso haver o vínculo. Uma pessoa tem que ter a iniciativa de ir em direção à
outra e dizer ou perguntar “Quer namorar comigo?”, e ela aceitar. Ao firmar claramente
o acordo de viver um relacionamento, o casal adentra a primeira fase do namoro.
Os sentimentos continuarão tendo um papel importante nessa etapa. Se um dos
namorados não sentir o amor Eros (atração, paixão ou encanto), os estímulos do casal
para se encontrar e se identificar serão desiguais, e será muito difícil manter a real
identidade de um relacionamento, pois se um tem esse tipo de apreço pelo outro, a
reciprocidade é o mínimo que merece em troca. Isso não quer dizer que os dois têm que
sentir tudo na mesma intensidade, e isso, aliás, é algo que nunca conseguiremos medir.
No entanto, é necessário que ambos estejam amparados na real vontade de namorar e
que só comecem um relacionamento se sentirem um amor Eros pelo(a) companheiro(a).
Nada de pensar “Fulano(a) é legal, então irei namorá-lo(a)”, porque isso será uma
injustiça, assim como também será negativo namorar porque é o desejo de uma das
famílias ou porque seus amigos insistem e pressionam você.
O que caracteriza esta primeira fase é o compromisso firmado por causa dos
sentimentos e sua incidência constante. É uma etapa instintiva: agimos e decidimos
quase que exclusivamente por meio da emoção. Ninguém escolhe conscientemente o que
sentir por outra pessoa ou de quem vai gostar.
Os sentimentos são bons e também fazem parte da vontade de Deus, para que haja o
encontro entre homem e mulher. A Sagrada Escritura diz que, depois de ter concluído o
universo e criado os seres humanos, “Deus viu tudo quanto havia feito, e era muito bom”
(Gn 1,31). Tudo, inclusive os sentimentos.
Com base no que sentimos, serão pautadas nossas reações próprias e, individuais, o
pensamento e a idealização a respeito do outro. Por algum tempo, ainda responderemos
aos estímulos que tivemos no processo de aproximação, tanto aos positivos quanto aos
negativos, tanto ao reais quanto aos irreais, que julgamos ser características do(a)
namorado(a). Aquilo que nos atraiu e a primeira impressão que temos do outro ainda
51
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  • 4. A Deus, que me chamou à existência e fez-me vocacionado ao matrimônio. A Kelen Galvan, minha esposa e namorada para toda a vida. 4
  • 5. Apresentação Para que o seu relacionamento dê certo Estou firmemente convencido de que para um relacionamento se tornar fonte de alegria e felicidade duradouras ele precisa avançar sem queimar etapas. A precipitação e o abuso estão entre as maiores causas que levam amizades, namoros e casamentos à destruição. Se percorrermos a história da humanidade, vamos perceber que para o envolvimento afetivo ser bem-sucedido sempre houve e sempre haverá regras. Em outras palavras, há coisas que se devem fazer e outras que se devem evitar. Fiquei muito feliz quando o Sandro me contou que estava tratando deste tema porque vejo a urgência e a importância de cada vez mais se falar no assunto de forma clara, objetiva e competente. Por falta de conhecimento e apoio, relacionamentos que não deveriam acabar chegaram ao fim, amizades comoventes se perderam, pessoas que eram íntimas e se amaram não querem nem mesmo se ver. São coisas que acontecem perto de nós todos os dias e que poderão ser evitadas ao colocarmos em prática as propostas trazidas neste livro. Sei que alguns apresentam certa resistência ao ouvir falar de etapas e regras porque se sentem ameaçados. Não querem alguém lhes dizendo o que fazer e muito menos restringindo sua liberdade. O problema é que ainda não perceberam que as etapas existem para proteger o amor, para que não se perca o que naquela relação já existiu de belo. Elas são as guardiãs que protegem seu namoro de feridas fatais. São etapas em seu favor, nunca contra você. No momento em que aceitar o desafio de cruzar essas cinco fronteiras posso lhe garantir que uma dessas duas coisas vai lhe acontecer: se você está namorando, seu relacionamento, de um jeito ou de outro, vai dar certo. Se ainda não está namorando, este livro vai ajudá-lo a se preparar para seu próximo relacionamento com uma segurança tal que você não imaginava ser possível. Tenho certeza de que este livro será um presente para você e para quem você ama. Boa leitura! Atenciosamente, Marcio Mendes 5
  • 6. Prefácio Ter contato com pessoas é essencial ao ser humano, pois necessitamos do convívio com o semelhante: “O ser humano tem necessidade de vida social. Esta não constitui para ele algo acrescentado, mas é uma exigência de sua natureza” (Catecismo da Igreja Católica, art. 1879, pág. 502). E dentre as diversas formas de relacionamentos, a inclinação a ter alguém único para dividir a vida tem uma posição de destaque em nosso coração, pois “a vocação para o Matrimônio está inscrita na própria natureza do homem e da mulher, conforme saíram da mão do Criador” (Catecismo da Igreja Católica, art. 1603, pág. 438). Porém, antes de fazer uma opção definitiva por uma pessoa e preencher o anseio desta nossa vocação, é necessário viver um tempo de namoro, para nos reconhecermos em complementaridade um ao outro. Muitas vezes, ouvimos falar da existência de fases nos diversos tipos de relacionamentos, e é legítimo concordar que percebemos níveis diferentes de intimidade conforme o tempo de convívio e a disposição interior que temos com as pessoas a nossa volta. Em um namoro, não é diferente. Existem etapas, tempos e vivências necessários para se alcançar um amadurecimento afetivo e uma cumplicidade com a outra pessoa, como nos atesta o papa Bento XVI: “Ele e ela têm de ‘dar tempo ao tempo’ e perceber que cada coisa, cada passo em frente tem um tempo próprio para acontecer. Acelerar as etapas acaba por comprometer o amor, que ao contrário, precisa respeitar os tempos e a gradualidade nas expressões” (Bento XVI, Encontro com os namorados, em sua visita pastoral a Ancona - 11/09/2011). Além do sumo pontífice, é comum pais, educadores e pessoas que estudam e trabalham com afetividade humana recomendarem aos casais de namorados que respeitem as fases, o caminho progressivo de entrega de si, sempre com o intuito de gerar o equilíbrio e uma visão consciente do(a) parceiro(a) e de si mesmo. Então surgem as perguntas: quais são as fases de um namoro? Como delimitar a caminhada de duas pessoas que se amam? Como se perceber pronto para a fase seguinte ou para decidir-se pelo noivado e pelo matrimônio? Há um roteiro ou meio de formação para os casais de namorados? Para responder tais questões é que foi elaborada esta obra: As Cinco Fases do Namoro. Sim, é possível traçar um itinerário, um mapa das fases existentes em um 6
  • 7. relacionamento e, consequentemente, propiciar uma formação para aqueles que estão namorando ou iniciar uma preparação para quem, atualmente, não tem um par amoroso, mas que deseja um dia firmar esse compromisso. Já existe alguma literatura que trata dos estágios de um namoro, mas a maioria dos textos foi veiculada em sites, com o formato de artigos e matérias breves e fortes traços de humor. Isso nos mostra o grande interesse das pessoas em buscar entender e delimitar esse importante tipo de relacionamento, mas também uma lacuna no que diz respeito ao tratamento teórico do assunto. As poucas publicações mais sérias que foram encontradas diferenciam-se deste livro por fragmentar algumas das fases aqui descritas em dois ou três estágios, resultando, no final, em seis ou sete fases. Entretanto, excluem as etapas de Formação de Identidade e Noivado, nem sequer incluem o noivado como etapa do namoro – ao ler sobre essas duas fases, você entenderá por que devem ser incluídas. Além disso, estes escritos trazem uma proposta cristã dentro do namoro, que também os diferenciam dos demais. Creio que somente em Cristo, modelo pleno de pessoa, conseguiremos entender o ser humano e tudo o que o envolve, inclusive a vocação esponsal. Encontraremos Nele o protótipo perfeito de esposo, respaldados pelo fato de que Ele mesmo se autodenomina “o Noivo” (cf. Mt 9,15; 25,1-10; Jo 3,29), “o Esposo” (cf. Ef 5,21-33). Embora cada casal tenha suas particularidades e processos próprios, há como identificar os passos inerentes que todos os casais dão. Eu não pretendo, no entanto, decretar esta proposta um meio único e absoluto de experiência de namoro. No decorrer da leitura, você verá que existe uma gradualidade, uma trilha baseada em um sistema que avança em autoconhecimento e consciência madura de amor, que, se seguida, pode ser, no mínimo, uma luz para pautar o seu namoro. Você pode estar se perguntando: em que fundamentos se ampara a tese das fases de um namoro? As primeiras fases são facilmente identificadas e conhecidas por todos nós, contudo, tanto essas iniciais quanto as posteriores, mais aprofundadas, estão nos documentos da Igreja que tratam do relacionamento entre homem e mulher, como, por exemplo, na Teologia do Corpo, na Sagrada Escritura, nas audiências dos santos padres, no Catecismo da Igreja Católica e em alguns artigos científicos. Apesar de os argumentos não estarem montados com essa disposição – como as cinco fases do namoro – encontraremos, nesses documentos e artigos a que faço referência, escritos e citações que comprovam este estudo. Vejamos agora algumas das constatações que faremos ao conhecer as fases de um 7
  • 8. namoro. Ao abordar este tema que contempla as fases de um namoro, poderemos perceber alguns fatores relevantes, como o fato de que todo casal que deu certo (e por dar certo refiro-me não apenas a chegar ao altar, mas a fazer perdurar o compromisso do “para sempre”) passou por aquilo que é próprio de cada uma das fases, mesmo que já dentro do casamento. Pode-se até inverter a ordem das experiências descritas aqui, mas não há como suprimir uma delas. É de extrema importância saber identificar no que estão baseados seus sentimentos, para que seja possível definir qual tipo de envolvimento eles podem originar. Chegar à celebração do casamento não é sinônimo de ter passado por todos os níveis, e algumas pessoas sofrem porque acabam vivendo algo que era próprio do namoro já em uma vida a dois. Entretanto, a menos que tenha havido uma anulação de uma das partes, de alguma forma o casal acaba atravessando todas as etapas que mencionaremos neste livro, e, então, continuam juntos. É importante também, ao analisar as etapas pertinentes a um envolvimento amoroso, verificar em quais fases se detiveram possíveis namoros anteriores, quais não se conseguiu atravessar e quais impediram o avanço do relacionamento rompido. Essa análise ajudará a compreender e trabalhar melhor suas limitações, evitando que os mesmos erros se repitam. Poderemos notar, ainda, que algumas das fases de um namoro correspondem a etapas de outros tipos de relacionamento, embora com motivações e sentimentos bem menos intensos, como a amizade, por exemplo. As fases se sucedem umas às outras como os passos em uma caminhada. Haverá um avanço gradual, uma fluência natural nas impressões que teremos em relação a(o) namorado(a) e ao relacionamento, e não adianta querer antecipar as etapas. O grau de maturidade afetiva e a abertura para as curas e os processos a se viver de cada um dos indivíduos é que vai ditar o tempo que se levará para atravessar cada fase. Por exemplo, para chegar ao “conhecimento” do outro, não basta desenvolver um esquema de perguntas acerca da vida da pessoa amada para que ela nos responda. É preciso deixar que as reações e testemunhos do dia a dia venham expressar a verdade do que ele(a) é. Por vezes, com a convivência, talvez você acabe percebendo que seu(sua) parceiro(a) afetivo difere em alguns aspectos do que você imaginava, mas isso não quer dizer que a outra pessoa escondeu algo ou mentiu, apenas que não tem uma mesma noção, um mesmo conhecimento, uma mesma opinião que você. Para se observar tudo isso é necessário tempo, zelo pelo relacionamento e muito diálogo. 8
  • 9. Além disso, torna-se necessário compreender que o tempo de evolução não é o mesmo para cada pessoa. É possível também que uma das partes acabe percebendo que está em um nível que a outra pessoa ainda não alcançou. Mas, se isso acontecer, geralmente a diferença será de apenas uma etapa, pois não é possível caminhar muito à frente sem a contribuição dos dois, mesmo que desde o início uma das partes seja mais resolvida afetivamente. Nesses casos, deve-se ter paciência para aguardar o progresso da pessoa amada, pois de nada adianta querer caminhar sozinho. Não é para evoluir de modo solitário que existe o namoro, e a travessia e conquista das fases deve ser uma experiência do casal. E, logicamente, a experiência das fases vivenciadas por um adulto que já tenha passado por outros relacionamentos e a de um adolescente em descoberta de si e do amor serão bem diferentes. A partir desta leitura, o adulto poderá introduzir o conhecimento das fases em sua experiência de vida, enquanto o jovem poderá construir a sua experiência. O mais adulto encontrará testemunhos concretos das etapas em sua vida, alguns amargos outros mais doces, e percorrerá um novo caminho. O mais jovem, como uma folha em branco, não terá exemplos, mas também não apresentará tantas marcas negativas. O adulto conta com uma experiência maior para lidar com diferenças, já o adolescente, ao conhecer as fases, estará amadurecendo na arte de relacionar-se. Esse processo irá exigir que se explorem todas as instâncias do ser humano – biológica, psíquica, social e espiritual – e, a cada etapa, haverá uma evolução natural dos sentidos, da capacidade psicológica e da inteligência. Dessa forma, tornar-se-á apto a compreender os conceitos e as vivências das fases e a reconhecer em que nível se encontra. A partir da obtenção desse conhecimento, passa-se a ser responsável por essa evolução, e será necessário investir o melhor de si no desenvolvimento do relacionamento. Viver bem as fases que estamos propondo irá libertar você das primeiras impressões, só sensitivas, do amor e possibilitar uma escolha livre, real e decisiva, baseada na racionalidade, na consciência e na afetividade da pessoa com quem se relacionar. Ter propriedade e bases para definir o que é um namoro lhe dará meios mais consistentes de realizar-se nessa caminhada rumo à vocação de amor. A vantagem em reconhecer as fases do namoro está em que, ao conhecer e esquematizar os conceitos e vivências de cada etapa, ao tomar consciência de onde se encontra, será possível, a partir daí, haver um esforço em investir para o melhor desenvolvimento do relacionamento. Ao conhecer as fases, apropria-se de uma realidade, que então gera a responsabilidade sobre o objeto conhecido. Isso significa que o avanço 9
  • 10. pelas fases será notado de forma natural, em que a inteligência e a percepção irão detectá-las e depois dar pleno termo ao seu cumprimento por meio de esforço consciente e responsabilidade. Sou casado com Kelen Galvan. Ela, assim como eu, também é missionária da Comunidade Canção Nova. É a nossa experiência de namoro que quero passar, compartilhar com as pessoas, pois, mesmo tendo documentos ou textos bíblicos que amparem essa tese, é o nosso testemunho, o anúncio, a transmissão de nossas alegrias e dificuldades que comprovarão o que afirmam esses escritos. Sim! Tivemos dificuldades, mas também a alegria de, pelo amor, superar e transformar em felicidade e decisão tudo o que entre nós era inverso. Desejo-lhe, desde já, uma boa leitura e um ótimo namoro! Sandro Arquejada Comunidade Canção Nova Na delicadeza dos gestos, a força dos sentimentos. O beijo, o afago, o olhar apaixonado, o contato são, antes mesmo que o desejo, a contemplação do ser amado. “Olhar com o coração” (Sandro Arquejada) 10
  • 11. NAMORO “Como namorados estais a viver uma fase única, que abre para a maravilha do encontro e faz descobrir a beleza de existir e de ser precioso para alguém, de poder dizer um ao outro: tu és importante para mim.” (Bento XVI, Encontro com os namorados, discurso em visita pastoral a Ancona, praça do Plebiscito, domingo 11/9/2011) 11
  • 12. Breve histórico do namoro É interessante contextualizar essa forma de envolvimento afetivo, pois assim entenderemos que vivemos em tempos privilegiados, já que a mentalidade corrente torna possível a percepção e a vivência das etapas a que nos referimos neste livro. Afirmo isso porque, mesmo com todos os entraves e mentalidades contrárias a um relacionamento virtuoso, a atual sociedade privilegia a vivência de um modelo mais consciente de aproximação e conhecimento, em que existe uma maior liberdade de escolha por parte dos enamorados. Mas nem sempre foi assim. Há algum tempo, a decisão de iniciar um namoro não cabia ao casal, e sim à família. Imagine-se em uma época em que os pais arranjavam o casamento para os filhos! Também na Europa, para dizer a verdade, até o ano de 1800, havia outro modelo de matrimônio dominante: normalmente era um contrato dentro do clã, onde se buscava conservar o clã, abrir-se ao futuro, defender as propriedades etc. [...] Mas, depois de 1800, segue a emancipação dos indivíduos, a liberdade da pessoa e o matrimônio não é mais baseado na vontade dos outros, mas na própria escolha (Diálogo com as Famílias, Festa dos Testemunhos no Parque Bresso de Milão, Itália - Encontro Mundial das Famílias, 2 de junho de 2012). No passado, quando um jovem demonstrava interesse por uma moça, ele primeiramente se declarava aos pais dela, e, quando estes concordavam, já começavam a providenciar o casamento. O contato entre os noivos era feito no ambiente domiciliar, geralmente na casa da moça e em presença de sua família, ou seja, quase não havia condições de o casal ter um momento a sós que propiciasse uma conversa mais íntima. Aliás, na maioria das vezes, os namorados nem desejavam esse momento, para não ter sua reputação manchada diante da sociedade. Entre algumas famílias havia também a prática do dote, uma quantia ou bens que eram repassados de uma família à outra mediante a consumação do casamento. Também nesse caso todo o acordo era acertado pelos pais do noivo e da noiva, o casal pouco se envolvia e, usualmente, sequer expressava sua vontade. Em alguns casos, as famílias chegavam a prometer seus filhos em casamento quando ainda crianças ou recém-nascidos, e eles cresciam sabendo com quem passariam o resto de suas vidas. 12
  • 13. A mentalidade e o modelo social dessa época faziam as pessoas acreditarem que o amor viria com o tempo, e, por vezes, isso realmente acontecia, contudo, já dentro de uma vida a dois. Consideravam outros fatores – tais como a estabilidade, a segurança, uma descendência – mais importantes que a livre escolha e o sentimento. O sentimento apaixonado sempre foi tratado como algo impossível, até proibido. Em todas as sociedades, inclusive recentemente, o matrimônio era um tipo de acordo com o objetivo de procriar, gerir propriedades e garantir a sobrevivência da prole. O amor viria com a convivência do casal, se viesse. Ninguém de bom senso apostaria seu futuro num sentimento de existência tão breve como a paixão (CARELLI, 2002). Mesmo em nosso país, de acordo com relatos de pessoas de algumas gerações atrás, existiam casamentos que seguiam esses moldes. Em minha própria família, há o caso de meus avós maternos: depois da morte dos pais, minha avó Olívia foi criada por uma tia, que, preocupada com o futuro da sobrinha, concedeu ao meu avô Francisco, um recém- conhecido, sua mão em casamento. Isso aconteceu na década de 1930, bem próximo de nós, talvez duas ou três gerações anteriores à sua, leitor(a). Outras problemáticas, bem diferentes das vivenciadas hoje, envolviam a decisão de casar-se, e não nos cabe julgar se essa forma de proceder era correta ou não. Era um modo de cuidado, de garantir um futuro, de proporcionar bem-estar, que hoje perderam significado. O fato é que hoje podemos escolher com quem namorar, quando casar e determinar o tempo de que precisamos para chegar a essa decisão. Por isso, podemos apurar instintos e purificar nossa consciência num relacionamento, além de identificar como se dá o desenvolvimento de um namoro. 13
  • 14. O que é um namoro? O modelo atual de namoro é absolutamente diferente do de tempos passados, mas o que é um namoro hoje? Para responder de maneira profunda essa pergunta, é necessário fazer várias considerações. Antes de tudo, namoro é o tempo que precede o matrimônio, a época de conhecer e amar uma pessoa e preparar-se para o casamento. É um modo privilegiado de vivermos a paixão, a amizade, o companheirismo e a apreciação de uma pessoa por outra e uma experiência imprescindível a todo casal. É a primeira noção de como é e será conviver “para sempre” com a pessoa amada, a base para, no futuro, optar por continuar com o(a) pretendente ou não, escolha que deverá ser para toda a vida e que carrega consequências importantes, nas quais nunca mais se poderá voltar atrás, como os filhos. É importante recordar e salientar que namorar é algo grandioso e sério, e significa preparar-se para o casamento e para a formação de uma nova família. Entretanto, tudo isso precisa de tempo, pois o namoro, em si, não é somente um projeto para o futuro, mas também é um processo, pelo qual, desde o início, entra-se num “território santo”. “Tira as sandálias dos pés, porque o lugar onde estás é chão sagrado” (Ex 3,5). Essa passagem bíblica ilustra o zelo e a responsabilidade que devemos ter ao adentrar o espaço sagrado da outra pessoa e ao firmar com ela um compromisso de amor, fidelidade e cuidado, com as particularidades e intensidades próprias a um casal de namorados, não comum em outros tipos de relacionamento. A palavra afetividade tem sua raiz no verbo “afetar”; isso quer dizer que nossos gestos, palavras e ações terão um impacto, positivo ou negativo, sobre a vida da outra pessoa, seu íntimo e sobre nossa capacidade de amar. Um namoro marca nossa existência de forma determinante, pois fica registrado em nossas lembranças e histórias de vida. Quem nunca se orientou, no presente, por deficiências, tristezas ou alegrias e acertos do namoro passado? Estamos em território santo, conheceremos instâncias muito íntimas, particularidades que talvez ele(a) não tenha tido coragem de revelar a ninguém, mas que, com o tempo, perceberemos, porque a proximidade entre um casal de namorados é grande o bastante para revelar tais características. E ao adentrar o interior do(a) parceiro(a), também abrimos os portões de nossa intimidade, ficamos expostos e vulneráveis à aceitação e à 14
  • 15. disposição da outra pessoa. Com certeza, encontraremos também áreas feridas um no outro, pois em algum momento essas mágoas, lembranças dolorosas e situações não resolvidas virão à tona, por simplesmente fazerem parte das realidades contidas no terreno santo que estamos desbravando. Mas, se prezarmos pelo bem do(a) namorado(a), ainda que erremos algumas vezes, o nosso esforço será fonte de cura, pois acaba sendo ponto de partida para o avanço do outro. O relacionamento saudável, que cuida e se preocupa, nos lança para a vida, enquanto um afeto doentio, caracterizado pelo egoísmo, nos fecha e nos limita. Outra característica, e uma das maiores belezas do namoro, é que descobrimos o que a pessoa realmente é, e não ficamos com a mera referência do que ela(e) representa ou do papel que exerce. Não é raro conhecer aqueles que estão em nosso círculo de amizades pelo que eles aparentam ou fazem. Quando somos questionados a respeito de alguém, comumente dizemos “ele é médico” ou “é mecânico”, “é pobre” ou “é rico”, é “filho(a) de fulano de tal”. Pautamo-nos na profissão, na cultura, em referência familiar, nível intelectual, aparência física etc., e facilmente levamos muito em consideração a primeira impressão que temos sobre as outras pessoas. Mas todo ser humano é bem mais que esses pontos citados e, quem namora, pode e vai enxergar além e conhecer a maior parte das características que definem a pessoa com quem está se relacionando, tais como o temperamento, a índole, as fraquezas e fortalezas, o jeito de lidar com as coisas do dia a dia e, principalmente, o coração, o que a pessoa traz em sua alma, em sua essência. Namoro também é, ou pelo menos deveria ser, um relacionamento gerador de crescimento pessoal e cura interior, mesmo que o casal decida terminar, porque no tempo de convívio firmou-se o acordo de viverem a experiência recíproca de amarem e serem amados. Imagine se pudéssemos dizer dos nossos relacionamentos: “Sou uma pessoa melhor e sei que ajudei a pessoa que amo (ou amei) a ser melhor também!” Como disse o Papa Bento XVI, “namorar é uma caminhada de crescimento pessoal e a dois”. Contudo, o que vemos na grande maioria dos casos são pessoas destruídas após um namoro. O amor apaixonado (Eros) pode ter o objetivo de buscar recompensas, de satisfazer desejos e instintos próprios, que não contribuem na construção do(a) outro(a) como pessoa. Mas, se o anseio do nosso coração for compatível com o verdadeiro objetivo do namoro – conhecer, amar e entrar com cuidado no território santo do outro para crescer como pessoa e ter o coração curado –, ouso aqui afirmar que todo relacionamento de namorados seria positivo, mesmo aqueles que não deram certo. 15
  • 16. Apesar de ser tão sério, devemos lembrar-nos de que o namoro não é um compromisso definitivo, mas um caminho para aquilo que um dia o será. Não estamos descartando todas as outras definições, mas sim reiterando que namoro é a experiência de verificar se existem traços de identificação, felicidade e sentido no relacionamento. Se detectarmos ao longo dessa caminhada sinais de que, apesar da responsabilidade empreendida, da boa vontade e do amor, não nos complementamos, devemos ter a coragem de romper o relacionamento. As pressões originadas pelo medo de estar só e pelo sentimento de obrigação perante nossos parentes e amigos não podem ser argumentos para protelar o rompimento, pois qualquer prolongamento só irá gerar desconforto e minar a afinidade e a amizade que se pode manter com a outra pessoa. Namoro também não é uma parceria semelhante à sociedade empresarial, caracterizada pela troca de compensações, favores, interesses ou pela satisfação das carências um do outro, e tampouco o casamento deveria sê-lo. Existe um modelo de união que mostra os casamentos modernos como parcerias, ou seja, o homem e a mulher comportam-se como sócios num empreendimento (o matrimônio) e devem contribuir para que essa “empresa casamento” dê certo. Quando deixa de haver lucros, confortos ou conveniências, deixa também de existir uma razão para o relacionamento continuar existindo. No entanto, isso é contrário à natureza do namoro e, principalmente, do matrimônio, que não deve ser baseado em trocas desse tipo. A expectativa do futuro nos leva a abraçar responsabilidades que nos ensinam a chegar bem conscientes ao casamento, mas isso não nos dá o direito de viver coisas que são próprias do matrimônio, como a vida sexual e o ato de morar juntos, durante o namoro ou o noivado. Ao queimar etapas, a chance de sairmos magoados é muito grande, pois falta preparo de ambas as partes. Mal comparando, é como degustar algo que não está maduro ou ainda está cru: por mais que tenhamos a expectativa do sabor, ele nunca será tão bom como seria se estivesse no ponto certo. Você verá no decorrer dessa leitura como e por que essas práticas no namoro atrapalham e impedem o casal de se conhecer. 16
  • 17. Por que nos dias de hoje parece tão difícil ter um(a) namorado(a)? Embora a consciência sobre relacionamento seja hoje muito maior do que no tempo de nossos pais e avós, atualmente parece ser mais difícil conseguir um namorado(a). Há claramente um desinteresse das pessoas por compromisso. Mas qual a diferença, que mudanças aconteceram? E como driblar essa tendência atual, uma vez que apesar de todas essas dificuldades, no cerne do coração humano está o chamado ao casamento? Como já vimos, no contexto social dos nossos avós, muitas vezes, eram os pais deles que escolhiam o pretendente. Então, aos jovens era “poupado o trabalho” de arrumar um namorado(a). Hoje, você tem de passar pelo processo da paquera, do conhecimento do outro, tem de expressar seus sentimentos e questionamentos interiores e construir uma cumplicidade com a outra pessoa. Na maioria das vezes, nada disso nos é ensinado pelos mais velhos, porque essa dinâmica é recente, ou seja, tudo depende de você! Encare esse momento como um privilégio, porque você pode escolher um(a) companheiro(a). Antigamente, nossos avós e pais se casavam com menos idade. Hoje, na idade em que eles se casavam, a juventude quer “curtir” e ir às inúmeras festas. Então, filtre o tipo de ambiente e evento que mais lhe convém e não se entregue às facilidades e aos modismos. Desculpe a sinceridade, mas mal comparando, quando queremos um médico vamos ao hospital, quando precisamos de combustível nos dirigimos ao posto, portanto, quem quer namorar e busca na “balada” encontrar um pretendente, provavelmente vai encontrar quem quer “curtição” e não um namoro sério. Não estou dizendo com isso que você não deve ir aos lugares de que gosta, a festas e lugares da moda. Mas que seu primeiro intuito ali seja o de se divertir ou estar junto com seus amigos. Prefira conhecer pessoas interessantes onde você possa, antes de decidir namorar, ter contato até saber mais sobre ele(a). Na escola, no trabalho, em algum grupo de interesse comum você pode estabelecer primeiro um vínculo de amizade. Tempos atrás, só existia namoro sério, no máximo as pessoas teriam um ou dois relacionamentos em toda sua juventude antes de optar pelo casamento. Valorizava-se mais o fato de estar junto de alguém. Em nossos dias, a sociedade minou a mentalidade sobre o que é namoro, tornando-o “descartável” tanto no sentido de terminar o relacionamento quando não se sente mais uma paixão frenética, quanto no do “ficar”, 17
  • 18. que deu ares de “fast-food” às relações amorosas. Portanto, não aceite “ficar”, e quando estiver com alguém, curta sua paixão, mas saiba que um relacionamento sobrevive mais por atração e com a construção de valores. A estabilidade financeira que alguns procuram, para só depois entrar num relacionamento, toma tempo. O antigo costume do dote solucionava boa parte desse problema. Mas, na geração de hoje, muitos levam alguns anos se estruturando profissional e financeiramente. No entanto, saiba que você pode conciliar namoro com estudo e trabalho. Não precisa esperar a formatura para amar e se comprometer com alguém especial. A independência feminina é positiva, sem dúvida! Mas o que o feminismo fez foi forçar a mulher a competir com o homem naquilo que é papel dele, naquilo que os traços masculinos conseguem desempenhar melhor. Por exemplo: forçou a mulher – que tem características melhores que o homem em criar empatia e colaboração dentro de uma instituição – a ser competitiva e desenvolver certa agressividade (características masculinas para proteção), o que é próprio do ser masculino. Então, com a mulher mais agressiva e competitiva, o homem acabou não se interessando pelo compromisso. Afinal, um elo com uma pessoa que ele não pode proteger e que vai competir com ele não lhe parece uma parceria, muito menos amor. Isso fez com que o homem perdesse um pouco da referência de sua identidade, seu papel e seu lugar no mundo. Não que o homem tenha medo da mulher bem resolvida ou de competir com ela. O problema foi que ele se desinteressou mesmo pelo compromisso. E com tantas facilidades no mundo de hoje, muitos homens não querem se prender a relacionamentos. Homens, tenham iniciativa, mas não só no namoro. O cavalheirismo lhes cai bem no trabalho, com a família, em qualquer ambiente e situação. Sejam práticos onde houver a necessidade de praticidade e estejam atentos quando a sensibilidade precisar falar mais alto; e não tenham receio de compromisso! Iniciativa faz bem, porque está na sua essência. Mulheres, sejam belas de alma, depositem amor em tudo o que fizerem. E que tal aceitar a proteção e o cuidado dos homens? Ao contrário do que muitas mulheres pensam, homens apreciam mulheres inteligentes, que acrescentem algo no relacionamento por meio de suas ideias, de sua força e da união do casal. Os meios modernos, a rapidez em resolver as coisas trouxeram muitos benefícios. Entretanto, isso provocou no ser humano muita ansiedade. Queremos tudo ao toque de um botão. Consequentemente, não aprendemos as gradações da vida. Muitos não sabem 18
  • 19. o que é “plantar para colher”, investir e esperar para chegar a um resultado. E sem uma iniciação com essas dinâmicas da vida, nós nos tornamos tímidos, introspectivos e reclusos em várias dimensões do nosso ser. No campo da afetividade, isso resulta na falta de iniciativa em ir na direção da paquera para conquistá-la(o). Quase sempre ficamos na torcida para que aquela pessoa, por quem nutrimos um interesse, venha até nós, nos dê sinais ou que o céu se mova em nosso favor. Até mesmo do nosso “mundinho” e da nossa rotina é difícil sairmos para nos aventurarmos em conhecer pessoas novas. Portanto, experimente sair do seu casulo! Nem que seja aos poucos, se lance na direção de amizades novas. Tenha iniciativa! Hoje em dia, as pessoas não sabem se relacionar. Muitas têm receio de conversar e falar de seus pensamentos e suas experiências por medo de perder o(a) namorado(a) e de não serem compreendidas, devido às mágoas colecionadas durante a vida por causa de relacionamentos antigos. Ou, então, entram “de cabeça”, principalmente na área sexual. Por exemplo, ao optarem por morar juntos, não cultivam as gradativas etapas de conhecimento um do outro, não prezam por descobrir se há cumplicidade, não protegem o que há de mais sagrado em si mesmos nem a sua capacidade de amar, aumentando a carência e as feridas no coração. Viva a castidade, virtude pela qual, naturalmente, se sublima todo e qualquer tipo de relacionamento: amizade, namoro, família, profissão… Essa prática lhe permitirá, ainda, cultivar o domínio e o amor-próprio. É claro que podem existir outros aspectos ligados ao namoro e mesmo a sua personalidade. Muitos talvez não se reconheçam no que foi aqui mencionado. Minha intenção foi fazer uma análise geral dos relacionamentos na sociedade atual, por isso não se sinta na obrigação de se ver num desses argumentos. Contudo, eles podem lhe servir para uma reflexão pessoal. 19
  • 20. Virtudes para um bom relacionamento Para que você possa vivenciar o namoro de uma maneira saudável e promissora, gostaria de aconselhá-lo a cultivar, mesmo antes de iniciá-lo, três virtudes essenciais em seu coração: a paciência, a reta intenção (ou altruísmo) para com o outro e a capacidade de estabelecer diálogo. Não saia de casa sem elas. Não saia da sua casa interior, em direção a um início de relacionamento, se não tiver em sua bagagem, em suas disposições, essas três virtudes. A paciência No namoro, estabelecemos uma relação interpessoal muito próxima e profunda, com um nível de intimidade maior do que em qualquer outra relação fraterna da sociedade. E por mais que tenhamos afinidades, ainda haverá diferenças entre nossos conceitos, anseios, aprendizado de vida, gostos, opiniões etc. Então, prepare-se para ter conflitos de ideias! Nessas horas, a paciência é uma poderosa face do amor, e muitas vezes será imprescindível para fazer as coisas voltarem ao equilíbrio. Quanto mais uma situação nos deixar “com os nervos à flor da pele”, menos se estará perto da concórdia. Ter paciência é a única forma de enxergar com clareza as situações ao nosso redor e os pontos de vista do outro. Altruísmo Essa virtude, a reta intenção, produzirá em nós um antídoto contra as tendências instintivas do ego, de desejar somente obter as vantagens de ser amado, não ajudando a construir o outro e tornando-o apenas objeto dos nossos prazeres. Para cultivá-la, devemos manter pensamentos puros e bons, de favorecimento para com nosso par. A paciência e a reta intenção devem estar sempre agindo em conjunto, pois pode acontecer, em um primeiro momento, de nossas iniciativas não serem bem recebidas ou bem interpretadas, e a paciência, nesse caso, será a ferramenta chave para que, posteriormente, o real desejo do nosso coração seja revelado, gerando a confiança. Da mesma forma, se usarmos somente a paciência, sem a reta intenção, poderemos 20
  • 21. estar apenas manipulando o(a) amado(a) ou esperando um momento de maior vulnerabilidade dele(a) para satisfazer nosso ego ou nossos prazeres. Capacidade de diálogo Para que a paciência e a reta intenção alcancem alguma eficácia, não podemos dispensar a capacidade de diálogo. Digo capacidade de diálogo, e não simplesmente diálogo, porque essa virtude é muito mais que o simples falar e ouvir, e diz respeito ao dom de compreender e interagir. Em todas as fases, idades e situações, precisamos nos comunicar bem, e a vivência das etapas irá nos preparar para entender o modo particular de comunicação do nosso par. Muitas vezes, existe o amor, o respeito entre o casal, mas, apesar de todos os esforços em demonstrar essas virtudes, alguma coisa acontece e os namorados não se entendem. Conversam, passeiam juntos, beijam-se, abraçam-se, entreolham-se, mas não sabem ao certo o que o outro está pensando ou o que está sentindo. Quando isso nos acontece, não seria o caso de nos questionar se não estamos muito ansiosos para falar e esquecendo um pouco de ouvir? “Quem é sábio mantém-se calado até certo tempo, mas o leviano e o imprudente não esperam ocasião” (Eclo 20,7). Por isso, é importante primeiro a disposição em escutar. “Cada um deve ser pronto para ouvir, mas lento para falar e lento para se irritar” (Tg 1,19). Nessa atitude calma e atenta, tente reparar detalhes que escapam à fala, como situações que frequentemente fazem a pessoa que você ama ter reações que você não entende e deseja compreender. Quanto mais conhecer seus anseios, planos, cultura e até sua concepção e história de vida, mais fácil será entender o que está por trás de seus gestos. Se não temos o costume de observar e ouvir, devemos começar o mais rápido possível, lembrando sempre que a sensibilidade também é ferramenta da comunicação. Contudo, depois de ouvir, tenha também a iniciativa de interagir, de agir sobre a fala e a exposição da outra pessoa, pois se assumimos o papel de meros ouvintes, nos frustramos e desistimos; afinal, um diálogo é uma comunicação entre duas pessoas, e não um monólogo. Aja sempre com a verdade! Nada de mentiras, informações parciais ou omissões. Ter uma informação e não partilhá-la passa a funcionar como uma mentira para o parceiro, pois lhe negamos algo que poderia ser essencial em sua construção de pensamento, no que diz respeito a nós e ao relacionamento. Quanto mais clara for a informação, melhor, então nada de pensar que podemos apenas 21
  • 22. nos expressar por sinais. Exemplo: a namorada quer fazer um programa diferente, então se arruma mais do que de costume e, sem verbalizar, fica esperando que o namorado perceba pela roupa e maquiagem o que ela deseja e a leve para sair. Nada disso funciona! Se sentir algo, fale, se pensar, expresse, se perceber reações diferentes, examine, pergunte. Se não entender da primeira vez, pergunte de novo. Lembre-se de que as primeiras e as mais privilegiadas formas de comunicação ainda são a fala e a escuta. Precisamos insistir no diálogo com as pessoas com as quais convivemos. Ignorar a presença ou a palavra do outro quando este não concorda conosco não é a atitude mais adequada perante um impasse. A habilidade de saber expressar uma ideia de maneira clara elimina qualquer possibilidade de um mal-entendido (MOURA, 2012). Mas lembre-se de fazer tudo isso com caridade e observando a conveniência do momento e do local, pois ninguém precisa perder a compostura e o bom senso para praticar a capacidade de comunicação e para abrir o coração ao outro. 22
  • 23. Ficar – brincar com o coração das pessoas Quem ama de verdade quer compromisso, por isso existe o namoro. Entretanto, temos presenciado, nos últimos tempos, uma liberalidade e uma relativização de muitos conceitos de moral e ética que deturparam a mentalidade, principalmente dos jovens, na área afetiva e sexual. Os namoros são desregrados e, sem o sentido do amor verdadeiro, tudo é válido pela busca do próprio prazer. Surgiu então o “ficar”! As pessoas trocam carícias próprias de um namoro, mas sem assumir a essência do relacionamento: o compromisso. Ficar é uma atitude muito comum nos dias de hoje, e isso faz a prática – que destrói a nossa capacidade de amar e tira nosso olhar da beleza de um namoro virtuoso – parecer um comportamento normal. Aos poucos, na sociedade, os gestos próprios do namoro foram sendo desconsiderados como manifestações de amor enamorado. Fomos acostumados a ter no beijo, no abraço, na companhia com o outro, algo apenas válido para busca do próprio prazer. Por que não se deixar levar por essa onda? Em primeiro lugar, porque essa prática é contrária aos princípios cristãos, como nos mostra a Palavra de Deus, e ao sentido pleno da existência humana. Fomos criados para amar e não para viver o egoísmo. No Livro da Sabedoria, no capítulo 1, versículo 16, podemos encontrar uma narrativa que apresenta o pensamento do ímpio e que culmina com a afirmação: “Agora, portanto, gozemos dos bens presentes e aproveitemos das criaturas com ânsia juvenil” (Sb 2,6). Essa mentalidade do ímpio não vai ao encontro do discurso daqueles que “ficam”? Quem tem o anseio de santidade e de um dia constituir uma família não pode pensar e agir como os ímpios. “Ficar” é moldar-se, condicionar-se a não assumir compromissos, sem perceber a gravidade do que se está fazendo com a outra pessoa e consigo mesmo. Parece uma brincadeira afetiva inocente, mas não é, pois quem começa a entrar nessa prática vai envenenando o coração, infundindo em sua mentalidade a concepção do uso e transformando as pessoas em objetos de consumo. Aprende-se a qualificar os outros por padrões pré-fixados pela mídia ou por modismos que levam em conta apenas fatores superficiais, como o status, a beleza física, a condição social, a influência que a pessoa possui etc. Acabamos parando nas primeiras impressões a respeito dos outros, e não 23
  • 24. existe nem mesmo a amizade, só o interesse passageiro fixado no exterior das pessoas, como se fossem um produto. Fazendo isso, nos treinamos, nos condicionamos a não aprofundar relacionamentos, e essa mentalidade pode, aos poucos, se alastrar até outros aspectos importantes da nossa vida, como o envolvimento com a família e com os amigos. Passamos a nos importar só com o que o outro pode nos oferecer e estendemos a nós mesmos a exigência de corresponder às expectativas da sociedade. Quem entra nessa onda do “não compromisso” acaba se sentindo na obrigação de ter também um ótimo rótulo para ser aceito pelos outros e passa a fazer de tudo para transparecer só qualidades, deixando que vejam somente seu exterior. Deficiências, mágoas e inseguranças, tudo aquilo de que não nos orgulhamos, acaba de lado e escondido, às vezes até de Deus, embora não seja sanado. Ao criar padrões para os outros, de fortaleza, de perfeição, de falsa identidade, sentimo-nos na obrigação de segui-los também e tornamo-nos uma fantasia, uma idealização de nosso próprio ego, certos de que somente dessa forma seremos aceitos. Além disso, quando adotamos essa postura, perdemos a oportunidade de aprender a amar pelas diferenças, pelos erros e pela capacidade de perdão. Não há espaço para o crescimento. Ainda pior é quando agimos seguindo padrões que saem do julgamento próprio e são influenciados pela opinião dos amigos, como, por exemplo, ao deixar de estar com uma pessoa que se está aprendendo a amar porque seu círculo de amizades não a aceita, ou quando “ficamos” com alguém só porque é popular, ou ficamos com o maior número de parceiros(as), somente para causar boa impressão no grupo. O orgulho e a vaidade também podem empurrar as pessoas para relacionamentos superficiais e destrutivos, pois quando a pessoa se julga poderosa, a mais sedutora ou bela de todas, com pensamentos do tipo “Toda vez que saio, fico com alguém”, os dons e qualidades de um ser humano vão sendo colocados à disposição da sensualidade e da sedução. Por isso, é necessário observar a dimensão desses dois fatores, que tanto podem desequilibrar a força interior da complementaridade. Quando adolescente, eu tinha o propósito de não “ficar”, pois queria conhecer uma boa pessoa para namorar. Aos poucos, o discurso dos colegas e a imposição do mundo foram me convencendo do contrário, e eu comecei a “ficar” com a intenção de conhecer uma menina legal, com a qual eu poderia ter um relacionamento sério. Mas, na verdade, achar que “ficando” há uma possibilidade maior de encontrar alguém para namorar é um terrível engano. Eu entrava nessas aventuras, nesses relacionamentos superficiais, realmente para, 24
  • 25. quem sabe, começar a namorar, mas esse nem sempre era o intuito de quem ficava comigo, e quando acabava esse “ficar”, eu saía machucado. De ferimento em ferimento, fui abrindo concessões e me permitindo também machucar, e passei a encarar o ferir e ser ferido como algo natural, parte da brincadeira, regra do “jogo”, como se fosse normal as pessoas satisfazerem suas carências momentâneas “ficando”, sem pensar no amanhã e no coração do outro. A partir daí, eu comecei a não mais me envolver com uma moça para conhecê-la e namorar, mas somente para curtir o momento, ou então para mostrar aos amigos, e assim por diante. Passei a aceitar o risco entre perder ou ganhar. Fui sendo aliciado aos poucos, colecionando frustrações e também decepcionando pessoas, só que, mais à frente, aprendi a bloquear o amor e a só entrar nesse tipo de jogo para “ganhar” (entenda ganhar como não me envolver para não sair machucado, apenas para curtir, não importando se isso magoava alguém). Somente em meu encontro com Cristo tive restituída minha vocação de amar verdadeiramente, meu dom maior, minha capacidade de fazer o bem. Jesus me salvou em minha afetividade e sexualidade, dando-me a consciência do mal que eu estava fazendo a mim mesmo e às pessoas. Quem pretende viver a sua dimensão afetiva da melhor forma possível não pode olhar o outro como alguém que deve satisfazer seus desejos egoístas, mas sim viver tudo o que o amor tem a oferecer. “Ficar” é contrário a tudo o que propomos aqui. Penso que, juntamente com as drogas, uma sexualidade mal vivida é um dos fatores que mais alienam os jovens, que praticamente vivem em função disso. A pessoa que aceita essas condições de vida passa a não ter mais ideais nem ânimo para outras coisas, pois esses dois vícios atingem em cheio sua força vital. 25
  • 26. As ofensas à castidade Em qualquer uma das fases, a ofensa à castidade irá atrapalhar o casal em seu processo de identificação, mesmo no noivado, às portas do casamento, pois lança fora a oportunidade de cultivar o amor desinteressado. Somente no sacramento do matrimônio é que sobrevirá a graça do amor total, porque não é iniciativa humana, mas divina: é Deus quem une. Antes disso, tudo é parcial, e todo ato contra a castidade defrauda o outro, não o complementa, ainda que estejam profundamente amando um ao outro. Explico! Uma das primeiras impressões do amor é a paixão. Quando estamos apaixonados sentimos um prazer enorme pela simples presença da pessoa amada. Os atos próprios de namorados, como o beijo, o abraço, o carinho, embora sejam gestos agradáveis ao namorado(a) que os recebe, dão também satisfação àquele que os proporciona. Até mesmo as atitudes de presentear ou prestar favores ao par nos trarão uma sensação agradável quando as fizermos. Você já experimentou isso? Se está ou esteve apaixonado, já descobriu o quanto lhe faz bem fazer coisas boas por essa outra pessoa? Ou seja, o seu gesto de amor resulta, junto com a alegria da outra pessoa por se sentir amada, também em satisfação do nosso instinto, nosso ego. E tudo isso é muito bom e necessário. Sim! Quem não se sente bem por poder expressar quão grande é seu sentimento através de um beijo apaixonado, de um toque de carinho no rosto, de ajudar naquele trabalho da faculdade, em ofertar um presente embalado caprichosamente, e, principalmente, se por essas atitudes todas recebermos uma resposta positiva do outro? Faz parte da iniciação nesse relacionamento amoroso. Porém, ainda é uma sensação e experiência muito superficial de amor. Uma alegria ainda “à flor da pele”. Não é o amor em sua capacidade máxima, porque não é totalmente doação. A prova disso é que quanto mais apaixonada a pessoa estiver, essas atitudes, digamos, gestos externos, lhe parecerão sempre pouco. Algo dentro de nós irá querer sempre mais. Quanto mais for crescendo a paixão, mais contínua será a impressão de que ainda não manifestamos toda a força do que sentimos. Sempre irá faltar alguma coisa. Por mais que faça, o namorado vai querer beijar mais intensamente, estar mais tempo ainda junto, fazer mais coisas, dizer mais vezes sobre seu amor... O amor ainda se acha em seu primeiro estágio, em sua dimensão primitiva, por isso 26
  • 27. não preenche o íntimo da pessoa, ainda não foi ao encontro de sua alma, não está compatível com a centralidade do “eu”, com toda sua capacidade de amar. Entretanto, se você, alguma vez na vida, viveu o júbilo de perdoar quem não merecia seu perdão, ou pediu perdão ainda que estivesse certo e o outro errado, e o fez simplesmente pela consciência de concórdia e paz, ou se você doou, fez algo por alguém que não tinha como lhe retribuir, ou esteve em clima de paz e profunda reciprocidade com seus pais, irmãos, familiares, amigos, ao ponto de ir além de si e sentir que teria a coragem de entregar-lhes, se preciso fosse, uma parte de você mesmo ou a sua própria vida por algum deles, então, você experimentou o amor que atinge o mais profundo do ser humano e sabe para onde deve caminhar e crescer o seu amor romântico. É o amor Ágape, que abandonou as instâncias primitivas do Eros e caminhou para preencher o interior da pessoa em sua dimensão mais particular. O amor se manifesta em toda sua plenitude quando expressa sua capacidade de doar-se desinteressadamente. Dessa forma, acaba sendo grandioso a quem recebe o gesto amoroso e sacia a alma de quem deu de si. Por exemplo: não é verdade que um profissional quando encontra um sentido nobre em sua profissão, o gosto por ajudar o próximo, e trabalha, não pelo salário, nem por mérito perante os homens, mas o faz simplesmente pela consciência de que pode contribuir para o bem dos outros, ou porque percebe que está sendo um ser humano melhor através de suas capacidades, seus dons que estão se desenvolvendo, essa pessoa torna-se mais feliz? A compensação financeira ou de qualquer outra forma passa a ficar em segundo plano, pois, “serás feliz porque eles não têm com que te retribuir” (Lc 14,14). Embora o amor seja infinito, é esse amor Ágape que é capaz de fazer vibrar em júbilo o coração humano, de tal forma que não sentimos a lacuna, que pede sempre que manifestemos mais e mais, como acontece com o amor apaixonado. Esse Ágape ainda não é a plenitude, até porque somos limitados para alcançar a perfeição, mas é a face do amor que mais nos eleva como pessoas humanas, daí a felicidade terrena mais profunda. E não é uma felicidade por orgulho de algum favor ao outro, pelo gesto de nobreza, atitude grandiosa ou por status perante outras pessoas. Invade-nos essa felicidade por nos reconhecermos capazes desse amor que vai além, que trabalha em nosso interior as potencialidades que temos, através do dom do servir. É a semelhança do amor de um Deus que, não tendo delito, assumiu nossas culpas e, não merecendo punição, aceitou morrer por nós. Jesus se doou por nós. Esse é o amor que é dom do Céu. Esse amor faz parte de nós mesmos, é parte da identidade do ser humano; precisamos nos reconhecer capazes de um amor assim. Quando buscamos esse tipo de amor, 27
  • 28. estamos buscando a referência máxima de sermos pessoas. Se podemos vivê-lo, então por que nivelar-nos por baixo e contentar-nos com menos que isso? Nós podemos e merecemos vivê-lo! Pois bem, o ato sexual como máxima expressão corporal de amor, complementaridade de corpos – desses corpos que nos identificam à imagem e à semelhança de Deus – sem a bênção do Senhor, é apenas parcial. E quando destituído de amor total, o sexo entra no mesmo pacote dos primeiros gestos puramente apaixonados, que no fundo fazemos por prazer próprio, sem levar tanto em conta a outra pessoa, apenas para satisfazer o instinto, consequentemente um ato que pode despertar a sensação de vazio interior. É só se perguntar: “A outra pessoa tem esse tipo de amor por mim? Tenho certeza disso?” O sexo só é total quando a pessoa pode se entregar totalmente. E somente no sacramento do matrimônio é que esse gesto de amor pode atingir tal dimensão de complementaridade. De acordo com a Encíclica Humanae Vitae (art. 9, 1968), do Papa Paulo VI, o amor deve ter quatro características: ser livre, total, fiel e fecundo. Somente dentro do sacramento, o homem e a mulher fazem do ato sexual uma manifestação de amor total, em que um pode ter garantia do outro. O amor ser livre significa liberar-se do instinto e tornar-se um ato da vontade, um ato comandado pela decisão. Ser total implica que é uma forma muito especial de amizade, em que as duas pessoas compartilham tudo, inclusive o que têm de espiritual e sensível. Como que dizendo: conhecendo você por inteiro(a), sabendo de suas qualidades e imperfeições, eu o(a) assumo “para sempre” em minha vida, todo(a) inteiro(a), com tudo o que você é. Também me entrego em tudo o que sou, independentemente do prazer que você pode me proporcionar. O amor ser fiel significa que o homem e a mulher comprometem-se numa aliança de amor “até que a morte os separem”. Há o comprometimento de que o ato conjugal deve ser exclusivo do marido para a esposa e vice-versa. E o amor deve ser fecundo, porque não se esgota na comunhão entre os cônjuges, mas continua suscitando vidas. Propicia-se o ambiente necessário para que a vida seja gerada. Só dentro do matrimônio é que se pode garantir verdadeiramente os fatores ideais e o conforto psicológico para a criança e os pais. Afinal, a natureza dotou os seres humanos de meios para a união afetiva dos cônjuges e também para a reprodução; são partes do corpo destinadas a fazer acontecer uma nova vida. É claro que se deve levar em conta a paternidade responsável, e existem métodos de planejamento familiar. Mas o amor nunca será total se não houver nenhuma probabilidade de gerar; então, que a reprodução 28
  • 29. aconteça no ambiente e nas condições certas. Que o casal, ao se entregar um ao outro, assuma e aceite totalmente as consequências do que pode acontecer no corpo da mulher. Isso é responsabilidade para com o amor. O sexo sem essas quatro características sempre levará a pessoa a se perguntar. “Será que ele(a) me ama ou está usando a mim, ao meu corpo?”. Na ausência de uma delas, não se pode dizer que a outra pessoa o(a) aceita em tudo e que dará a vida por você. Não é Ágape. Mas consideremos que a pessoa concorde em fazer sexo somente pelo prazer, consciente de que será usado(a), cedendo a essa condição para também usar o outro ou preencher sua carência afetiva ou seu instinto. Passado o momento do gozo, a carência irá embora? Concordar em obter prazer, satisfazer o instinto irá preencher a vocação e busca de ser amado(a) verdadeiramente? Com certeza, não! Nosso íntimo, no inconsciente, busca sempre a continuidade, a complementaridade, o amor total. A sexualidade, mediante a qual o homem e a mulher se doam um ao outro com os atos próprios e exclusivos dos esposos, não é, em absoluto, algo puramente biológico, mas diz respeito ao núcleo íntimo da pessoa humana como tal. Ela só se realiza de maneira verdadeiramente humana se for parte integral do amor com o qual homem e mulher se empenham totalmente um para com o outro até a morte (João Paulo II, Familiaris Consortio, art. 11). Sexo não envolve só o corpo. O ato sexual, não é somente a entrega do corpo, mas, acima disso, os esposos doam-se uma parte de si mesmos, do íntimo mais profundo, de suas instâncias e impressões existenciais próprias, doa-se a morada interior de cada um, onde estão depositados também a dignidade e a centralidade do “eu”, por isso, é um ato lícito somente dentro do sacramento do matrimônio, em que um se comprometeu com o outro em entregar até a própria vida. Sem esse compromisso do matrimônio, essa jura de amor, essa certeza de que um é do outro por toda a vida, o sexo irá ferir a dignidade da pessoa (por isso, muitas vezes, fica o sentimento ruim de alguns quando acontece o ato sexual antes do casamento. Isso é fruto de um ato contrário à verdadeira identidade do amor e não da imposição cultural e religiosa). São impressões da pessoa a respeito de si mesma, tão íntimas, que quando entregues, levam uma parte dela mesma. E digo “dignidade” não só no sentido de pudor, embora, pelo pudor, tenhamos a primeira e mais básica referência de dignidade. 29
  • 30. Tomemos como exemplo um casal de namorados, ou “ficantes”, que tem relação sexual. Se acabar a paixão de um pelo outro, o primeiro irá embora da vida do segundo, mas levando o conhecimento do corpo, das fragilidades, das partes íntimas, da moral e muito mais da outra pessoa. Imagine tal pessoa usando esse conhecimento para gabar-se à custa da outra. E não pense que isso é raro! Num encontro casual dos dois, a pessoa que decidiu terminar pode olhar para a outra com uma expressão de “você foi minha(meu) enquanto eu quis”. Poderá até mesmo dizer aos amigos o que fizeram, exaltando ou denegrindo a imagem do(a) ex-parceiro(a). Em ambos os exemplos estará expondo a dignidade dessa pessoa. Também entre o próprio casal pode haver situações constrangedoras, em que eles mesmos se agridem. A mulher, por exemplo, pode acabar com a autoestima do homem, cobrando sua potência, sua masculinidade, insinuando que ele não é bom o bastante, e ele, por seu lado, pode feri-la profundamente em sua essência de mulher, quando demonstra de alguma forma que ela foi um objeto. Um ficará muito exposto ao outro e levarão essa marca pela vida inteira. Até mesmo num noivado pode acontecer um rompimento e um ficar marcado pelo outro. No casamento, a exposição de cada um entre o casal acontecerá também, mas será que os esposos escarnecerão de alguém a quem juraram amor eterno? Tudo acontecerá no respeito, na paciência, no compromisso de guardarem a dignidade um do outro para toda a vida. Só no casamento o casal pode, de verdade, assumir um ao outro, em tudo o que o ato sexual pode proporcionar, sem surpresas, sem exceções, pois o casamento proporciona o ambiente e as condições ideais para um fazer o outro feliz, trazendo sentido existencial ao ato conjugal e não somente prazer. Antes disso, o mínimo contato sexual, uma carícia indevida, já leva uma parte da pessoa, sem nenhuma garantia a ela. A sexualidade no ser humano faz parte do seu ser inteiro e não pode ser vista como uma potencialidade isolada. Tratá-la como uma simples capacidade de ter prazer é um grande erro, apesar de ser o que o “mundo” ensina e apresenta como natural, principalmente aos jovens. Sexualidade e afetividade andam juntas, lado a lado, e são essas duas forças que impulsionam o dom do amor. Em outras palavras, é predominantemente por meio da afetividade e da sexualidade que o ser humano expressa o amor. A sexualidade afeta todos os aspectos da pessoa humana, em sua unidade de corpo e alma. Diz respeito, particularmente, à afetividade, à capacidade de amar e de procriar e, de uma maneira mais geral, à aptidão para criar vínculos de comunhão com os outros (Catecismo da Igreja Católica, art. 2332). 30
  • 31. Quando ferimos uma dessas faculdades, acabamos por atingir negativamente também a alguma outra. Portanto, para não avariarmos nossa capacidade de amar – em nenhum de seus aspectos – e para preservar, ou mesmo curar, um coração já sofrido, vivamos a castidade, antídoto contra os males que podem afetar nosso relacionamento, própria para cada estado de vida: os casados a vivem pela entrega total e fidelidade ao cônjuge; os solteiros, pela abstinência sexual, com o propósito de preparar-se para o matrimônio ou para outro chamado vocacional; e os celibatários, igualmente pela abstinência, mas já com dedicação integral ao Reino de Deus. Ao contrário do que propagam nos dias de hoje, a castidade não é impossível de ser vivida, não aliena e não extirpa a capacidade de prazer. Antes, devolve o que é dom do ser, pois equilibra e tranquiliza os impulsos, ensina o autodomínio e permite que cada coisa seja vivida ao seu tempo e nos lugares certos. Contudo, castidade não é só exercício de autocontrole, porque seus efeitos também permitem que a pessoa que a vive aprimore sua capacidade de comunicação e de perceber o outro e trazem maior noção de complementaridade a um casal (Castidade antes do casamento traz mais estabilidade e satisfação, 2010). A castidade integra as três dimensões do ser humano – física, psíquica e espiritual – e é o meio pelo qual o dom do amor entranha-se em nós, de modo que formatamos corretamente e equilibradamente aquele que é o maior sentido da vida do ser humano – o ato de amar. Além disso, a castidade prepara o homem e a mulher para uma união íntima verdadeira, pautada em uma entrega total de si, possibilita o domínio dos impulsos físicos e dos desejos mais instintivos, proporciona um equilíbrio nos pensamentos, nas disposições interiores, na mente e no coração e ordena as aspirações mais nobres do ser humano ligadas ao amor – desde o amor fraternal, disposição natural de ser comunitário, até o romântico. Por isso, a castidade desabrocha também em amizades sadias, não só em namoros, e potencializa a pessoa a amar de verdade, sem se ligar a segundos interesses e sem se deixar dominar pela paixão. Sendo casta e tendo aprendido a controlar de modo sadio e equilibrado as três dimensões humanas, a pessoa pode dizer que efetivamente se doa, porque não está subjugada, dominada pela sensação do prazer, portanto apta a fazer uma escolha consciente. Essa pessoa irá amar o(a) namorado(a) com paixão e sentimento, mas também por livre e decisiva escolha racional. De fato, “a sexualidade está ordenada para o amor conjugal entre o homem e a mulher. No casamento, a intimidade corporal dos esposos se torna um penhor de comunhão espiritual” (Catecismo da Igreja Católica, art. 2360), e quem não vive a castidade pode 31
  • 32. até encontrar prazer, mas este virá acompanhado do vazio existencial, pois desaprende-se a amar. E, sem saber amar, como poderá ser feliz em sua vida afetiva? Ele(a) até terá sentimentos, desejos, mas não conseguirá mantê-los nem cultivá-los. Mesmo que encontre uma ótima pessoa, quando se deparar com as diferenças e os desafios de um verdadeiro amor, não terá maturidade para ultrapassá-los. Repare que até mesmo em contos de fadas e histórias de amor da TV, o amor exige sacrifícios por parte do(a) amado(a). Sem castidade, perde-se a dimensão do amor oblativo e passa-se a não admiti-lo, pois todo sacrifício irá parecer perda e privação. Torna-se difícil perceber que algo maior está sendo construído. Castidade não é só controle sexual; é, antes, uma virtude que se inicia com pequenos gestos, como o olhar: “Todo aquele que olhar para uma mulher com o desejo de possuí- la, já cometeu adultério com ela em seu coração” (Mt 5,28). Em outra citação, também encontramos: “Não circules os olhos pelas ruelas da cidade nem vagues por suas praças. Desvia teu olhar da mulher enfeitada e não olhes com curiosidade para a beleza alheia” (Eclo 9,7-8). Partindo de situações mais cotidianas, como o ato de observar o outro de uma maneira casta, mostrado nos exemplos acima, alcançamos a purificação dos valores mais elevados, como a amizade verdadeira, pois passamos a fazer amigos sem segundos interesses. “A castidade aparece como uma escola de doação da pessoa [...]. Desabrocha na amizade” (Catecismo da Igreja Católica, arts. 2348 e 2347). “Ficar” prejudica não somente o namoro, mas também deprecia a amizade que existia ou que pode vir a existir. Veja só quantas consequências esse ato causa nos relacionamentos de quem anda ferindo sua castidade e desaprendeu a amar. A pessoa que não moldou o seu olhar com a pureza, olha para os outros, seja em que ambiente for – festas, escola ou mesmo trabalho – quase que exclusivamente para rastrear belezas e possibilidades de obter favores e vantagens, não só afetivas, mas também de status ou um bem material. Você já reparou como geralmente a impressão que temos de beleza – pessoas e coisas que avaliamos como belas – nos dá também o desejo de possuir? Precisamos purificar o olhar. Purificar o olhar é purificar os desejos do egoísmo. Dessa forma, não há amizades verdadeiras. O contato com o sexo oposto acaba sendo mera troca de sensações momentâneas, e com o mesmo sexo, uma associação que busca os mesmos interesses mesquinhos, ou talvez uma disputa, em que os homens querem apenas provar ser mais másculos e mais sedutores que seus colegas, e as mulheres, mais sensuais e poderosas umas que as outras. Até dizem por aí que uma mulher se arruma 32
  • 33. para competir com a outra, um pensamento mundano a respeito da beleza do universo feminino. Pessoas feridas na castidade são ávidas por sensações, não praticaram nem praticam a paciência e têm pressa de chegar ao fim, para ver se lá há algo de diferente que preencha seu coração – isso em todos os seus relacionamentos. Não admitem os processos dos outros, e, se não lhes entregam o que querem em pouco tempo, dispensam a companhia. Não estou dizendo com tudo isso que todos aqueles que estão sem ninguém ou sofrendo por amor pecaram contra a castidade. Não é isso! Estou somente salientando que investir contra essa virtude nos afasta do sentido do amor em nossa vida, porque ainda que estejamos com uma pessoa, não saberemos valorizá-la devidamente. Quem espera uma pessoa especial se dedica, desde já, com muito carinho para esse alguém. É pela pureza que se plenifica um coração no dom do amor, portanto, seja puro(a) e prepare-se por e para quem irá merecer seu amor. Se queremos e desejamos ser felizes, temos que aprender a amar, pois felicidade e alegria não sobrevivem longe do amor, e é um grande erro tratá-las como simples capacidade de ter prazer. Na verdade, ao nos relacionarmos com alguém, o que nosso coração mais anseia é ter intimidade, e ela nunca será alcançada se começarmos a conhecer a outra pessoa pelo seu corpo. A entrega total de si é reservada ao matrimônio, porque é como uma coroação de tudo o que conhecemos e decidimos fazer e ser pelo outro. Queremos ser valorizados, considerados pelo que somos, descobertos em nossa essência, por isso, ainda que inconscientemente e com as reações físicas à flor da pele, ao querer prazer, buscamos, na verdade, nos revelar a quem está demonstrando amor. Pena que muitas pessoas, para atrair amor, amizade e atenção e preencher o anseio de ser íntimo de alguém, usam o artifício da sensualidade e roupas que exibem o corpo, adotam comportamentos e atitudes provocantes e assim por diante. Relacionamento nenhum será profundo se não invertermos esses valores. O ideal, a despeito do que muitas pessoas pregam hoje em dia, é conhecer primeiro a essência da pessoa e deixar o ato sexual para depois do casamento, pois ele condiciona ao prazer e pode bloquear as intenções de conhecer a alma e os pensamentos do outro. Invista em um bom papo, em estar junto para notar as reações do dia a dia e para perceber os sonhos de quem você ama. O pecado original nos levou a ver a nudez – revelação do corpo – a partir do prazer próprio, e por isso temos a sensação de que por meio do corpo desenvolveremos a intimidade total com o outro. Mas isso não é verdade, pois quando acontece a relação sexual no namoro, dificilmente o relacionamento deixa de girar em torno do ato sexual, 33
  • 34. mantendo-se única e exclusivamente para ele e colocando a intimidade verdadeira para fora. Para ter um namoro virtuoso, é preciso assumir responsabilidades, estar aberto a desprender-se de si mesmo e abrir mão do conforto egoísta, em vista do bem de quem amamos ou do melhor para o casal. Você pode, neste momento, achar que o desafio é grande, mas se existe em seu íntimo a aspiração a amar e ser amado, é exatamente nessa direção que está a felicidade. Aceita o desafio? Oh, Deus de bondade, Deus de ternura. Nós confiamos em Tua misericórdia, e, por isso, pedimos hoje que venha em socorro de nossa afetividade. Renunciamos pelo nome de Jesus, pelo Teu sangue preciosíssimo, a toda obra do pecado, a tudo aquilo que em nossas vidas seja vício ou desequilíbrio. Que Teu Espírito Santo venha hoje inundando de amor, inteiramente, nossos corpos, nossas mentes, pensamentos e sentimentos. Que seja cancelada toda falta de amor, toda falta de perdão que existiu em algum momento das nossas vidas, de nossa parte ou por aquilo que não recebemos. Seja agora preenchido esse vazio dos nossos corações, pelo amor de Nosso Senhor Jesus Cristo. Vem reordenar nossos dons, nossa capacidade para o amor. Amar como Cristo amou, como Nossa Senhora e São José amaram os seus. Quero ter os sentimentos e emoções de Jesus Cristo. Amém! “Não desperteis nem perturbeis o amor, antes que ele o queira” (Ct 8, 4). 34
  • 35. O PROCESSO DE APROXIMAÇÃO “Deus modelou uma mulher e apresentou-a para o homem” (Gn 2, 22). 35
  • 36. A aproximação inicial Todo namoro é precedido por um processo de aproximação e conquista, e isso acontece porque são ativadas em nosso corpo emoções que parecem nos guiar um em direção ao outro. Por sermos seres inclinados à vocação de amar, todo o nosso organismo estará envolvido nesse processo. Podemos perceber que o amor está presente em nós por conta da manifestação de sentimentos. Antes de ser uma experiência psíquica, o amor é uma realidade bioquímica. Nosso organismo responde aos estímulos que a outra pessoa provoca em nós com algumas substâncias químicas que são despejadas na corrente sanguínea e provocam os sentimentos que nos fazem experimentar bem-estar quando pensamos na pessoa amada. A capacidade de desenvolver e cultivar sentimentos está enraizada em nossos instintos mais primitivos e básicos, que garantem a sobrevivência própria e da espécie humana. Ter essa capacidade é uma maneira encontrada pela natureza de nos mover em busca do bem comum aos indivíduos (união) e a partir daí garantir a espécie (reprodução). Em entrevista à revista Veja, James Leckman, psiquiatra norte-americano da Universidade Yale que estuda as raízes biológicas do amor, explicou: “Ao dotar o ser humano da capacidade de se apaixonar, a mãe natureza só queria forçar dois corpos a se aproximar o suficiente para procriar” (CARELLI, 2002). Abrahan Maslow, psicólogo norte-americano reconhecido como o pai do humanismo na psicologia, apresenta uma teoria que afirma que as necessidades humanas são divididas em cinco categorias: Fisiológicas: respiração, alimentação, sexo, sono... Segurança: ausência de riscos ao corpo e à saúde (incluem-se os recursos da moralidade e de sustento). Social: amizade, família, intimidade. Estima: respeito, reconhecimento, ser bem considerado pelos outros. Realização pessoal: sentir-se bem fazendo o melhor com suas habilidades, ausência de preconceitos, aceitação dos fatos, superação de desafios (MASLOW, 1979). Outro pesquisador, Frederick Herzberg Gonçalves, vem complementar a teoria de 36
  • 37. Maslow, afirmando que as duas primeiras categorias – Fisiológicas e Segurança – não são fatores de motivação e satisfação humana, servem apenas para manutenção, ou seja, só evitam a insatisfação, uma vez que conseguem apenas satisfazer instintos. Servem de base para as outras. Já nas outras três categorias seguintes, o homem alcança um sentido existencial. Ele as chama de Fatores Motivacionais – Social, Estima e Autorrealização –, sendo que a última é a mais elevada (GONÇALVES, 1997). Então concluímos que os estímulos do instinto servem para amparar o ser para que ele atinja instâncias mais elevadas. É bonito ver como as necessidades do corpo, que estão no primeiro degrau, devem estar voltadas à manutenção da vida, mas como também pedem e abrem caminho para encontrarmos realização desde as necessidades de amizades, contato familiar e de intimidade, até nos encontrarmos fazendo o bem com nossas habilidades. Podemos também comprovar com isso que o sexo, fator instintivo, sem intimidade, é, no mínimo, vazio de sentido existencial. Com essa teoria, concluímos que emoções e sentimentos existem também para aproximar os seres humanos, o que é uma necessidade do nosso organismo. O amor enquanto sentimento e, portanto, efeito emocional desencadeado pela quantidade de hormônios produzidos em nosso corpo, é somente a primeira e mais superficial experiência sobre o que é o dom do amor. É fator de aproximação inicial. Funciona como primeiro degrau para inserir a outra pessoa em nosso mundo e vice- versa, pois sentimentos uma hora ou outra serão frustrados. Pelo bem-estar de permanecer ao lado do outro, iremos aprender a conhecê-lo verdadeiramente e daí optar por amar também, usando das capacidades da vontade e da razão. A língua grega classifica o amor com três palavras distintas: – Eros: é o amor romântico, o qual une duas pessoas pelos sentimentos. É a paixão, a libido, sentimentos que impulsionam para a relação sexual e as uniões amorosas como o namoro, por exemplo. É um anseio que busca recompensa, ainda que seja somente a presença da pessoa amada. É por meio dele que podemos satisfazer nossas expectativas afetivas. Também é o querer para si, o desejo, a contemplação da beleza nas artes, das formas, na natureza etc. – Philos: é um amor desapaixonado, como o que existe entre amigos e familiares. – Ágape: é o amor altruísta, não dependente de sentimentos carnais. Capaz de doar a própria vida pelo outro, seja amigo ou inimigo. É capaz de autossacrifício e identifica-se com o amor de Deus pelos seres humanos. O amor Eros é o que primeiro nos impele a cumprir a aspiração que o próprio Senhor 37
  • 38. depositou no gênero humano, de “ser para” e “ter” uma pessoa única que o complemente: “Por isso deixará o homem o pai e a mãe e se unirá à sua mulher, e eles serão uma só carne” (Gn 2,24). A afetividade e a sexualidade (vocação do ser humano) pedem complemento, e a partir do que sentimos começamos a vislumbrar o(a) outro(a) como parte de nós. Por isso também temos um sentimento de posse em relação a ele(a), que quando desequilibrado dá origem ao ciúme exagerado. Pelos sentimentos é que podemos experimentar o romantismo da forma Eros. Dentro da esfera do romantismo – Eros – podemos enumerar três deles como os principais agentes de união entre pessoas: a atração, a paixão e o encanto gradual. Os dois primeiros podem nascer com um tempo de convívio ou de imediato, de forma arrebatadora, desencadeando o que chamamos de “amor à primeira vista”. Já o último acontece de modo mais reservado e tímido e poderia ser chamado de “amor a um segundo olhar”. No entanto, existem outros propósitos que podem colocar duas pessoas nesse tipo de relacionamento, como a carência afetiva e outras motivações não tão honrosas (casos de namoros que começam por interesse em bens materiais, status social etc.), que pouco têm a ver com o envolvimento de afetos. Convém tratar aqui somente do que realmente é relacionado ao romantismo. Atração Encontramos beleza na outra pessoa, e isso provoca em nós uma vontade de ter contato físico. Talvez seja uma beleza que até nos surpreenda, pois não fazia parte do nosso universo ou do que considerávamos belo. Essa atração pode ser somente por uma parte do corpo, como a cor dos olhos, ou por um conjunto de características, como o jeito de andar, de falar, de fazer alguma atividade. De repente, algo começa a nos impulsionar a querer tocá-la, e sua presença nos faz bem, apesar de, durante sua ausência, não sentirmos muito a sua falta. Atração é aquele tipo de interesse que destaca para nós as características visuais na outra pessoa, tanto traços exteriores, como o corpo ou as feições do rosto, quanto aspectos de comportamento, como o jeito de agir, de vestir-se, o seu charme. Pode haver atração por todo um conjunto de características ou por apenas parte delas. Não ficamos pensando na pessoa o tempo todo, mas quase que somente quando estamos por perto. É essa sensação que desperta em nós o desejo como apelo carnal. Ficamos deslumbrados com os aspectos da beleza, literalmente atraídos, e, por vezes, 38
  • 39. simplificamos essa explicação com os dizeres “temos química”. Perceba como, nesse caso, tudo parece estar “à flor da pele”. Paixão Tudo está bem, até que, um belo dia, avistamos alguém que nos arrebata o coração simplesmente por existir. Essa sensação, ao mesmo tempo que parece elevar o nosso espírito e dar um sentido novo ao mundo, nos provoca um nó no peito e sequestra nossa vontade. Algo tira-nos o chão e ficamos sem saber como nos comportar quando estamos perto dele(a). Perdemos o fôlego e, por vezes, temos calafrios ou rubor. Ficamos à mercê de sua aceitação, dependentes, cativados por esse sentimento, mas aceitando-o, felizes. Chega a doer, de tão prazerosa que é, e se você identifica em si mesmo tal comportamento, com certeza está apaixonado. É uma emoção mais potente que a atração, causa-nos euforia e torna a preocupação com a pessoa amada, na qual pensamos o tempo todo, quase que uma constante. São sensações tão extremas que não são raros os relatos de pessoas que cometem loucuras por causa da paixão que sentem. Salvo por algum trauma ou por seguir alguma ideologia contrária à vocação mais nobre do ser humano, que é amar, nós desejamos estar apaixonados, talvez pelo prazer causado pela intensidade desse sentimento. A maioria de nós sonha em encontrar uma cara-metade através da experiência da paixão, e é devido a essa emoção que a maioria dos seres humanos decide iniciar o namoro. Das fases da aproximação, a paixão é a mais valorizada nos dias de hoje e, por esse motivo, pode também ser prejudicial, pois acabamos esperando demais desse sentimento e, consequentemente, da pessoa por quem nos apaixonamos. A supervalorização da paixão é um fenômeno recente, dado que antigamente, como vimos no tópico “Breve histórico do namoro”, outros valores eram tidos como mais importantes. Em outras épocas, era difícil alguém investir sua vida nesse sentimento passageiro. Algumas pessoas pensam que a paixão é diferente do amor, mas estão erradas! A paixão é boa, desde que atribuamos a ela sua devida importância. Paixão é uma forma de amor, necessária, básica, primitiva – pois surge do instinto –, mas um modo de querer bem o outro e grande artifício de união. Portanto, é amor em suas primeiras instâncias. Encantamento gradual Temos um contato com uma pessoa que, a princípio, não nos chama tanta atenção, ou talvez, quem sabe, até se destaque num aspecto ou outro, mas nada que nos faça vê-lo(a) 39
  • 40. como companhia para toda a vida. Conforme vão se passando os dias e meses, a amizade com essa pessoa vai nos revelando, no cotidiano, mais sobre ele(a), suas atitudes e qualidades, e surpreendemo-nos com um olhar de admiração de nossa parte. Queremos vasculhar seu íntimo, porque acabamos de encontrar um tesouro, e a nossa curiosidade ficou aguçada. Pronto! De repente, invade-nos o pensamento: “Bem que eu poderia namorar com ele(a)”. Esse tipo de admiração provoca em nós um sabor de possibilidade. A boa impressão que tivemos nesse segundo momento desperta a nossa atenção para fatores que apreciamos, mas que foram percebidos de forma gradual e discreta, para traços dele(a) que nos agradam, mas só perceptíveis quando observamos os detalhes, ou para características próprias de seu interior, portanto, invisíveis aos olhos. Bem menos intenso que a atração e a paixão, o encanto gradual pode levar a relação de amizade entre duas pessoas ao âmbito de amor complemento, esponsal, partindo do círculo de amizades ao universo íntimo. É uma afinidade mais equilibrada e tranquila, um tipo de relação mais elevada e consciente, uma forma de alcançar o Eros atravessando a ponte entre a amizade e o “algo mais que o Philos”. É processual. Basicamente, estes três tipos de sentimentos caracterizam o amor na forma Eros e são os fatores que mais nos levam a nos aproximar uns dos outros. Essas formas de aproximação podem não atuar isoladamente, mas acontecer de sentirmos duas ao mesmo tempo. Por exemplo: sentir atração por alguém e também admirá-la cada vez mais. Outra coisa que podemos perceber é que essas emoções podem ser geradoras umas das outras: a atração pode gerar a paixão, o encanto gradual pode gerar atração, e assim por diante. Entre esses sentimentos existe uma grande variedade de combinações e essa variedade pode levar ao início do namoro. 40
  • 41. Como identificar sinais de que ele(a) também está apaixonado(a) por você? Que momento bom é quando estamos começando a nos apaixonar! O amor nos faz bem, várias sensações prazerosas nos invadem e o mundo fica mais colorido. Isso pode acontecer a qualquer tempo e em várias situações: com alguém na escola, no trabalho, do grupo de oração e até mesmo com um(a) desconhecido(a), alguém que cruza nosso caminho nos ambientes que frequentamos. Só tem um probleminha em tudo isso, que é saber se a outra pessoa também está tendo o mesmo sentimento. A dúvida se torna angustiante, queremos obter uma resposta a qualquer custo. Contudo, digo a você que tenha um pouco de calma. Quando estiver namorando, você se lembrará desses momentos de paquera com muita saudade. Até os seus comportamentos absurdos, como desviar-se do caminho cotidiano em dez quarteirões só para encontrar com o(a) amado(a). Até mesmo os “foras” que você acha que levou irão servir como provas de amor. O casal alimenta o amor quando guarda na memória as lembranças dos esforços que ambos fizeram para se conquistar. Meus pais contam, de vez em quando, ainda com brilho nos olhos, como eles se conheceram e se aproximaram. A paquera deve obedecer um processo que aos poucos vai aumentando o amor. Se você desconfia de que é correspondido(a), mas não tem certeza, darei algumas dicas que poderão lhe dar uma direção para saber se ele(a) está a fim de você. Estou me referindo a namoro, compromisso sério, e não sinais de paquera de uma noite só. Troca de olhares. Vocês trocam olhares quando passam um pelo outro ou estão no mesmo ambiente? Se “rolar” um sorriso ou cumprimento, ainda que um discreto “oi”, será um bom começo. Chamar a atenção do outro. Ele(a) quererá impressioná-la(o), ou no caso das mulheres, ela criará uma oportunidade para que ele faça algo por ela. Geralmente o rapaz tentará chamar a atenção fazendo algo incomum quando estiver no mesmo ambiente que a moça, já as mulheres tendem a se colocar em situação em que precisem da força ou da segurança masculina. Estar um pouco fora do contexto. Pode acontecer de ele(a) falar alguma coisa ou 41
  • 42. demonstrar qualidades que não combinam muito com o momento e a ocasião, mais para impressionar ou chamar a atenção do outro. Ficar atrapalhado(a) perto do outro. É muito comum “perder o rumo”, “enfiar os pés pelas mãos” quando ele ou ela chegam perto da paquera. Se vocês já tiverem amizade, observe estes comportamentos: Tomar partido a seu favor. Em uma conversa em grupo de amigos, mesmo quando você entra numa assunto controverso, ele(a) fica do seu lado? Ele(a) aceita acompanhar você para fazer o seu gosto, como o rapaz topar fazer compras no shopping com ela, ou a moça que nunca foi ao futebol aceitar ir ao estádio com ele? Ele(a) encara alguns de seus defeitos como um charme? Costumam elogiar um ao outro ou trocar presentes? É mais comum os rapazes elogiarem a aparência das moças e as mulheres algo de bom que eles fazem. É comum a outra pessoa exaltar as suas qualidades ou de vez em quando chegar com uma surpresa, um “presentinho”, do nada? A pessoa cerca você de cuidados? Prepara ou providencia coisas de que talvez você precise, como algo para incrementar seu trabalho na faculdade ou na apresentação que você fará na empresa? Ou, para lhe dar carona de carro, até sai da sua rota normal? Enfim, ele(a) está se mostrando mais disponível do que seria normal entre amigos? Faz questão de estar perto? Quando vocês estão com um grupo de amigos, por exemplo, ele(a) sempre dá um jeito de sentar perto de você? Demonstra interesse em saber sobre você e os lugares em que estará? Ele(a) entra em contato durante o dia, ou à noite manda um whatsapp só para saber como você está ou onde está? Se respondeu à maioria dessas perguntas com um “sim”, pode ter certeza de que o sentimento é recíproco. Gradualmente, ele(a) quererá conhecer mais detalhes de sua vida, se interessará em saber as coisas que se passam dentro do seu coração. Se ficar ainda com alguma dúvida, olhe a pessoa fixamente nos olhos. Depois de todo esse processo, em que esses sinais vão se manifestando, provavelmente ele(a) se entregará pelo olhar. O bonito é que quando temos calma e paciência, cultivando antes a amizade, os 42
  • 43. sentimentos vão ficando expostos e naturalmente um não conseguirá mais esconder do outro o que sente, daí acontecerá o início do namoro. Quando mais perto, mais o amor aumenta. 43
  • 44. O que uma moça cristã precisa saber para paquerar Tocar nesse assunto pode causar polêmica. Uns imaginam que a mulher cristã deve ser recatada ao ponto de sufocar todos os anseios do seu coração. Se você pensa assim, eu lhe digo: ei, estamos no século XXI! E, principalmente, o Espírito Santo nos fez livres! A moça católica paquera, sim, e tem o direito e o dever de participar do processo de aproximação. Então, digamos que você, mulher, está interessada em se aproximar de um rapaz para conhecê-lo melhor. Ou talvez já nutre um sentimento ou interesse romântico e lhe agrada a ideia de namorar com ele. Vão aqui algumas dicas em como atrair a atenção desse homem de Deus: Não seja tão tímida. Saia um pouco de si para se mostrar mais. Ache um jeito de estar por perto dele. Não tem como ele notá-la, se só você o vê. Capriche no visual. Não podemos descartar que o masculino é muito conduzido pelo sentido visual, mesmo os cristãos. Foi Deus quem nos fez assim. Por isso, invista em você! Olhe e dê algum sinal. Troque olhares com ele, mas de vez em quando, e não a todo momento. Não “entregue de cara” que você está interessada. Deixe-o somente supor que talvez haja uma curiosidade sua em relação a ele, sem dar-lhe certeza, assim ele terá que vir verificar. Depois que ele se aproximar ou que você já pertença ao círculo de amizades dele: Mantenha o recato e a delicadeza. Que homem não gosta de mulher que se expressa como uma dama? Não, não estou querendo que você seja contida como uma lady da Idade Média. Mas não precisa dar tapas na mesa quando discute algum assunto entre amigos, nem competir para ver quem fala mais alto. Nós homens (a grande maioria) até achamos divertido estar por perto da mulher “barraqueira ou escandalosa”, aquelas que “rodam a baiana”, mas dificilmente as escolhemos como candidatas a namorada. Você pode ser alegre, espontânea e não se preocupe se é de dar uns “foras ”de vez em quando. Só não seja vulgar. Seja moderna e prática, mas de forma 44
  • 45. equilibrada, educada e sóbria no falar, no vestir e nos gestos, sem exageros. Acredite, a sua feminilidade é que encantará o pretendente. Demonstre seu brilho próprio. E de que forma a mulher pode brilhar para um homem? Englobo nessa resposta três aspectos: demonstrando bom humor, inteligência e simpatia. Bom humor – Como os homens são dados à praticidade, eles se encantam quando a mulher dá leveza a alguns assuntos e sabe “levar na esportiva”. Inteligência – Não precisa ser doutora, nem PHD em nenhuma matéria. Contudo, tenha sua opinião sobre as coisas. Os rapazes adoram quando se deparam com uma mulher que é segura, principalmente em seus princípios. O que também não quer dizer ser teimosa, nem inflexível. Simpatia – Ah, o sorriso da mulher é tudo! Sorria mais, mas sem forçar. Seja espontânea! Para isso, busque dentro do seu coração os motivos que você tem agora para ser feliz. E vou contar um segredo. Uma mulher simpática, além de atrair a atenção do pretendente, fará com que nos pensamentos dele se passe o seguinte: “Quero apresentá-la aos meus amigos e à minha família, porque eles vão adorá-la”. Esses pontos fazem parte do mistério da mulher. Cultive-os. Inconscientemente, quanto mais o rapaz se aproximar de você, mais irá querer saber o que é que você tem de diferente. Mas, por favor, não o beije, não se renda enquanto não ouvir as palavras mágicas “Quer namorar comigo?” Afinal, você não quer colocar todo esse investimento a perder, por causa de um momento romântico apenas, não é mesmo? Você merece ter alguém que a apresente para os amigos, para a família e no trabalho dele como “Esta é minha namorada”! Nada menos que isso! Com essas dicas, espero que sua chance cresça bastante. Contudo, se você não concorda com alguma dessas ideias, sinta-se livre em discordar, são apenas dicas. 45
  • 46. O que o rapaz cristão precisa saber para paquerar E o rapaz? Quando ele está interessado em se aproximar de uma moça, o que ele pode fazer para tentar chamar a atenção dela e conquistá-la? Lembrar-se de que mais vale o conjunto do que você é do que a beleza. Nós, homens, somos mais visuais que as mulheres. No entanto, por motivos biológicos e psíquicos, todos ligados à geração da vida, as garotas são mais seletivas para escolher um par, então tendem a perceber outros aspectos além da aparência e fazer muito mais considerações do que nós. Isso é equivalente a dizer que se você não é tão bonito ou não está muito em forma (mas é claro que isso tudo ajuda bastante), pode investir assim mesmo. Seja um homem bom de coração. Quantas vezes ouvimos uma mulher dizer “ele é tão bom para mim!”? Os fatores segurança, proteção e disponibilidade para cuidar dela muitas vezes falam mais alto do que imaginamos. Ter cuidados consigo mesmo. Tudo bem, não precisa ser um galã, mas também não vá relaxar! Compense de outra forma. Que mulher não gosta de estar com um homem bem-vestido e cheiroso? Estar apresentável significa para ela que você é cuidadoso, e será assim também com o relacionamento e com ela. Você já reparou que quando elas estão apaixonadas se arrumam mais? Portanto, a recíproca é verdadeira, as moças dão importância a isso. Pare de andar só de camiseta e bermuda! Se a camiseta for daquelas promocionais de divulgação comercial, então, aposente-a ainda hoje. No mínimo coloque uma camisa polo e tênis ou sapatênis. Invista também num perfume (geralmente as mulheres conhecem o nome, a marca e onde vendem quase todos os perfumes). O olfato feminino é até cem vezes mais desenvolvido que o masculino, e ela associa a fragrância com os momentos com você. Reparar nos detalhes. Ok! Nós homens não somos muito bons nisso, então, aprenda a procurá-los. Se você mostrar que está reparando nela, que percebeu o penteado novo ou a roupa que ela está usando, ela sentirá que é importante para você. Então, a 46
  • 47. chance do coração dela se abrir será bem maior. E aproveite e seja assim constantemente. Ouvir e ter interesse pela história dela. Também é outra forma de a garota sentir-se importante. A ciência diz que, em um dia, a mulher tem a necessidade de usar mais palavras que o homem. Portanto, deixe-a gastar sua cota diária. Ao agir assim, você demonstra que não está interessado só na beleza dela, mas em tudo o que ela é, principalmente seu coração. Ter iniciativa. Sua iniciativa representa segurança para ela. Como se ela pensasse: “É ele que cuida de mim, e não vai ser o contrário”. Leia os sinais que ela lhe dá e, se for o caso, arrisque-se a dizer o que você sente. Hoje em dia são elas que estão tomando a frente para esclarecer o que há entre os dois, porque os homens estão ficando medrosos! Quando sair com ela, escolha você o cardápio, o filme. Sabe quando o casal fica naquela “escolha você! Não! Escolha você”? Para elas, é confortável estar com um homem que sabe o que quer, que conhece ou tem coragem de arriscar e dar um rumo às coisas. Nos primeiros encontros, pelo menos, pague a conta, nem que seja para levá-la só para comer um cachorro-quente. E uma última dica dentro desta questão. Quando estiver namorando, seja você a propor a castidade. Temos falta de homens que sejam másculos o suficiente para encarar esse desafio. Mas para ela vai significar uma grande prova de amor. E mais uma vez digo, se o rapaz não concorda com algo ou se a mulher achar que vocês não são como eu disse, sintam-se à vontade, só estamos trocando umas ideias. 47
  • 48. Possuir-se implica conhecer-se A chave do amor é o autoconhecimento. “Amarás teu próximo como a ti mesmo” (Mt 22,39). O amor é doação, mas só consegue doar-se quem se possui. Possuir-se não para reservar-se, mas para dar-se melhor. Por isso, somente tendo uma noção exata daquilo que somos conseguiremos valorizar cada aspecto do nosso ser. É importantíssimo notar onde estão nossas forças e nossas fraquezas, pois assim será possível balizar o melhor caminho a seguir na vida, cuidar adequadamente de nossas fragilidades, tratar nossas feridas, buscar a cura interior e evitar completamente coisas que nos oferecem risco à vida, à santidade e à integridade. Além disso, o autoconhecimento também nos faz ter segurança naquilo que somos fortes e no que não nos atrai aos pecados ou a outros tipos de perigo. Por exemplo, aqueles que têm fraqueza diante de bebidas alcoólicas, quando se conhecem – possuem-se – sabem de onde vem sua inclinação a querer sempre um gole a mais, então, podem antecipar-se e manter distância de certos ambientes, de más influências que o levam ao consumo e do próprio álcool. O mesmo vale nos aspectos da dimensão afetiva da pessoa, pois sabemos que existem certas ocasiões que podem nos fazer cair no pecado. Quando um certo fator ou combinação de coisas podem nos fazer pecar contra a castidade, devemos evitá-los. Fugir mesmo das situações que nos envolvem de maneira a nos deixar mais propensos a não resistir aos apelos da sexualidade. Em meu namoro com a Kelen, muitas vezes precisamos sair do cômodo da casa em que ficamos sozinhos e ir para onde havia mais pessoas. Porque havia certos dias, certos momentos, em que um de nós, ou os dois, se percebia mais sensível e desejoso do que não nos era lícito no tempo de namoro. Conhecer-se é isso! Podemos, dessa forma, proceder com nosso ser: cada um se revê e assinala o que em si é talento ou deficiência. Mas e quando não percebemos tudo aquilo que somos? Quando ainda estamos em formação? Conhecer-se será sempre processual, e até o final da vida estaremos nos configurando e descobrindo. O importante não é enxergarmo-nos na totalidade, pois nunca chegaremos a esse final, mas “tomar conta” daquilo que já percebemos em nós mesmos. Possuir-se não é conhecer-se inteiramente, mas “sacralizar” o que em si já é conhecido. 48
  • 49. Sobretudo, em todas as áreas do ser, daquilo que identificamos em nós, é mais que urgente gostarmos de nós mesmos, para podermos viver bem o amor para com o próximo. Senhor, infunde Seu Santo Espírito sobre nós, para que nossa percepção e sentidos sejam iluminados pela reta consciência de sermos pessoas capazes de conceber belos sentimentos e emoções. Que descubramos o encanto do amor e venhamos a receber esse dom. Sabemos que somente em Cristo Jesus conseguiremos descobrir aquilo que somos. Então, que, por intermédio da Virgem Maria e de São José, nós possamos ser gerados em Jesus, reconhecendo nossas belezas e fragilidades, para crescermos e elevarmos o que temos de melhor e apararmos as arestas que necessitam de cura e correção. Amém! Não sê indiferente às tuas mazelas, mas captura todos os teus sonhos e depõe sobre eles o teu olhar. Pois limitações não determinam quem és, apenas significam que não és Deus. Acreditar que podes um passo mais é o mínimo que fazes a ti e a tua breve estada aqui. Existir é muito pouco, escolha o viver! Pois tua alma sempre pulsará querendo transfigurar a existência “Caminhando para o infinito” (Sandro Arquejada) 49
  • 50. PRIMEIRA FASE – OS SENTIMENTOS “A partir da ‘atração inicial’ e do ‘sentir-se bem’ com o outro, educai-vos a ‘amar’ o outro, a ‘querer o bem’ do outro.” (Encontro com os namorados, discurso do Papa Bento XVI, visita pastoral a Ancona, praça do Plebiscito, domingo 11/09/2011). 50
  • 51. Adentrando a primeira fase O que dá início a essa primeira etapa do namoro é o compromisso firmado diante daquilo que duas pessoas sentem. Não basta viver o sentimento e trocar afetos de vez em quando, é preciso haver o vínculo. Uma pessoa tem que ter a iniciativa de ir em direção à outra e dizer ou perguntar “Quer namorar comigo?”, e ela aceitar. Ao firmar claramente o acordo de viver um relacionamento, o casal adentra a primeira fase do namoro. Os sentimentos continuarão tendo um papel importante nessa etapa. Se um dos namorados não sentir o amor Eros (atração, paixão ou encanto), os estímulos do casal para se encontrar e se identificar serão desiguais, e será muito difícil manter a real identidade de um relacionamento, pois se um tem esse tipo de apreço pelo outro, a reciprocidade é o mínimo que merece em troca. Isso não quer dizer que os dois têm que sentir tudo na mesma intensidade, e isso, aliás, é algo que nunca conseguiremos medir. No entanto, é necessário que ambos estejam amparados na real vontade de namorar e que só comecem um relacionamento se sentirem um amor Eros pelo(a) companheiro(a). Nada de pensar “Fulano(a) é legal, então irei namorá-lo(a)”, porque isso será uma injustiça, assim como também será negativo namorar porque é o desejo de uma das famílias ou porque seus amigos insistem e pressionam você. O que caracteriza esta primeira fase é o compromisso firmado por causa dos sentimentos e sua incidência constante. É uma etapa instintiva: agimos e decidimos quase que exclusivamente por meio da emoção. Ninguém escolhe conscientemente o que sentir por outra pessoa ou de quem vai gostar. Os sentimentos são bons e também fazem parte da vontade de Deus, para que haja o encontro entre homem e mulher. A Sagrada Escritura diz que, depois de ter concluído o universo e criado os seres humanos, “Deus viu tudo quanto havia feito, e era muito bom” (Gn 1,31). Tudo, inclusive os sentimentos. Com base no que sentimos, serão pautadas nossas reações próprias e, individuais, o pensamento e a idealização a respeito do outro. Por algum tempo, ainda responderemos aos estímulos que tivemos no processo de aproximação, tanto aos positivos quanto aos negativos, tanto ao reais quanto aos irreais, que julgamos ser características do(a) namorado(a). Aquilo que nos atraiu e a primeira impressão que temos do outro ainda 51