1. A voz da experiência
Autora: Priscilla Martins de Oliveira
A vida é sempre cheia de surpresas e sempre acaba nos pregando uma peça. Às vezes as
coisas vão tão mal que até as mais simples, como respirar, chegam a ser difíceis.
Nesse mundo conturbado no qual todos vivem uma luta constante pela sobrevivência e
por dias melhores, as pessoas vão lutando para encontrar aquilo que realmente importa.
O caminho certo, e às vezes as decisões certas estão na nossa frente e não nos damos
conta, só depois de errar, fazer e refazer a lição é que descobrimos que na realidade ela
era muito fácil e o que nos faltava era coragem e paciência. Coragem para admitir
nossos erros e pedir ajuda quando necessitamos e paciência para ler e reler o mesmo
texto quantas vezes for preciso.
Realidade vivida por milhões e milhões de pessoas.
Estudantes que humildemente lutaram ou lutam por dias melhores, acreditando na
educação. Muitos, apesar de conhecerem o sabor amargo da desilusão de não poderem
concluir seus estudos, sempre acreditaram que a educação pode realizar seus sonhos e
acarretar valores tão cobrados e exigidos pela sociedade.
E foi nessa surpreendente saga da vida que, sem perceber, me vi constrangida pelo seu
jeito alegre e por sua enorme vontade de viver! Aproximei-me e começamos a
conversar. Seu nome é Cecília Martins Coelho, moradora de um pequeno povoado no
município de Niquelândia. Apesar de seus 70 anos de idade, é dona de um pique
invejável! Mãe de 6 filhos, tem 17 netos e uma bisneta.
Dona Cecília, de origem humilde, já passou por muitas dificuldades na vida, mais nunca
deixou de lutar por seus sonhos. Quando criança, passou por muitos colégios, mas não
concluiu nem mesmo a 4ª Série do Ensino Fundamental. Ela diz “naquela época as
coisas eram difíceis e apesar de ser boa aluna, tive que abandonar os estudos para
trabalhar e ajudar na renda familiar. Eu sentava na porta de casa e pedia para as pessoas
que passavam na rua escreverem algumas tarefinhas no meu caderno”, diz emocionada,
“apesar da pouca experiência de vida, já sabia que não estudar me faria falta no futuro!”
Dona Cecília, apesar de carregar uma bagagem de mulher simples e do interior, tem
uma grande sabedoria, diz com um sorriso largo na boca que, o pouco que aprendeu na
escola e a educação que recebeu de seus pais, foi o que contou durante esses 70 anos de
luta. Relata também a importância de os jovens de hoje aproveitarem as oportunidades,
o que faltou a ela no passado. “Hoje todos têm acesso a escola, internet e informações
que há algumas décadas era impossível de um jovem, principalmente uma jovem pobre
usufruir.”
Dona Cecília relembra das dificuldades encontradas, por não ter estudado,
principalmente na hora de arrumar um emprego, ela temeu a fome. Desde criança teve
que aprender sozinha algumas noções de matemática para ajudar os pais na pequena
mercearia. “Aprendi a contar, separando as moedinhas que apareciam de vez enquanto
na vendinha!” Diz com voz trêmula e emocionada. Apesar da aparência frágil, se
considera uma vencedora e diz que o pouco de educação que recebeu na escola foi
2. essencial para a formação do seu caráter: “vivi tempos muito difíceis, o pouco que
aprendi na escola foi a construção do meu caminho e a garantia do meu futuro”,
completa ela.
A escola é o único lugar onde podemos sempre ser melhores do que já somos. Com a
educação, quebramos barreiras, superamos limites, aprendemos valores, tais como:
convivência e respeito, sem contar que aprendemos a viver em grupos e a entrar em
consenso, quando necessário. Só ela muda, transforma, capacita. É responsável por nos
formar enquanto pessoas, nos fazer e nos tornar melhores. A história de Dona Cecília
me fez compreender isso e perceber que o saber é tudo de mais completo e valioso na
minha vida!