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EngenhariaClínica
MAR-ABR
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Em textos anteriores, mencionei alguns dos fatores que
levaram ao crescimento do engenheiro clínico no Brasil.
Também comentei sobre os diferentes profissionais da área,
escolas, associações e conselho. Posso dizer que estamos
fazendo a nossa lição de casa e que muitos países ainda não
dispõem desta estruturação e das chances que ela cria.
Entre estas oportunidades, quero comentar e, de certa
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hospital pode aproveitar ainda mais esta estruturação.
Para isso, pergunto: como este grupo de profissionais faz a
manutenção do conhecimento e da sua capacitação frente
aos avanços tecnológicos diários? Como desenvolvem
novas habilidades? Como o hospital contribui para construir
uma equipe adequada? Como identificar as necessidades
de treinamento que a equipe necessita para apoiar a
organização?
O melhor momento para se pensar na manutenção
das capacidades é durante o planejamento estratégico,
quando se decide, por diversas razões, que novas
tecnologias serão implantadas. A indústria é a grande
responsável por sua disponibilidade, já os hospitais, fazem
uso delas para obter resultados. Por isso, creio que é
neste momento que o futuro das capacidades essenciais
da equipe pode ser melhor definido e aproveitado. É a
ocasião para se construir um verdadeiro ganha-ganha
em termos de conhecimentos para ambos, afinal, quanto
mais o fabricante conhecer de fato o desempenho de suas
soluções no hospital (ambiente real), mais e melhores
produtos virão para todos.
O que vejo ocorrer com frequência é uma certa perda
de potencial produtivo na etapa da transferência de
tecnologia (indústria-hospital-EC). São problemas que
vão desde um inventário de ativos, que pode melhorar
muito, até pouco ou nenhum treinamento no método de
compra que ajude a definir, por exemplo, como garantir a
rastreabilidade de equipamentos, segundo requer a RDC
nº 02 de 2010.
Minha proposição aqui é refletir sobre quando a EC precisa ser
treinada e como determinar em que áreas tais treinamentos
são requeridos. Como evidenciar sua necessidade? Minha
recomendação é perguntar para cada membro da equipe e
também para os usuários dos equipamentos.
A administração pode ajudar muito na identificação
de carências, tanto do indivíduo como do grupo que
ele compõe. Pode, a partir daí, planejar e viabilizar a
capacitação adequada que leve a EC a contribuir mais
e melhor com a execução dos objetivos e das metas da
organização.
Sua equipe está bem treinada?
Para isso, pode produzir uma ferramenta que permita
avaliar conhecimentos, habilidades, atitudes e dados
complementares, como o perfil do profissional.
Em nível organizacional, é necessário determinar o impacto
do treinamento frente aos resultados de desempenho
desejados. A ideia é identificar os problemas reais e também
as situações em que existam potenciais de crescimento e
desenvolvimento do indivíduo e da equipe como um todo.
Também é relevante analisar as tarefas e a capacidade em
executá-las. Sempre que houver discrepância entre estes
dois, e a razão para isso for falta de conhecimento, habilidade
ou atitude, o treinamento pode ser considerado legítimo.
Outro componente importante: deve-se avaliar que
profissional e qual tipo de capacitação ele necessita.
Significa identificar necessidades específicas de pessoas
e grupos e, a partir daí, estabelecer a metodologia
educacional a ser aplicada de maneira sistemática e
organizada. Será através dele que a equipe de EC irá crescer
e contribuir mais, indo além das atividades básicas de
manutenção preventiva, corretiva e calibração.
Para elaborar os quesitos e o modo de coleta das informações
para posterior avaliação e conclusão, sugiro considerar –
além de informações como grau de instrução, idade, anos de
experiência, tempo de trabalho na organização – questões que
revelem o grau de conhecimento, as habilidades e mesmo a
atitude do profissional.
As informações de natureza técnica ou administrativa
que permitem o trabalho com desempenho podem
envolver o conhecimento: de todas as rotinas de abertura,
operacionalização e fechamento de ordens de serviços; dos
equipamentos de maior risco ao paciente; das principais fontes
de riscos e mecanismos de ação relacionados à sua área de
atuação; do processo da organização utilizado para especificação
de equipamentos e peças de reposição; dos princípios de
funcionamento das máquinas com as quais trabalha; e das
principais leis e normas relacionadas às atividades que realiza.
A capacidade de desempenhar o trabalho com facilidade
e precisão pode ser abordada a partir de perguntas como:
configura equipamentos médicos? Efetua cálculos? Confere
cálculos? Faz diagnóstico de falhas? Elabora relatórios? Lê
projetos? Modifica projetos?
Em relação à atitude, pode-se inferir, por exemplo, sobre a
atuação perante pacientes, em situações de emergência e
mesmo em salas cirúrgicas ou durante certas ocasiões em
que participam ou assistem a um procedimento diagnóstico
ou terapêutico.
Assim, o treinamento na área de EC deve ser pensado como
estratégico. Ele deixa o hospital mais forte e os indivíduos
mais capacitados, permitindo que contribuam de forma
direta para a melhoria dos resultados da instituição de saúde.
Lúcio Flávio de Magalhães Brito
Engenheiro Clínico Certificado
Lb@engenhariaclinica.com
Engenharia Clinica.indd 80 17/04/2015 14:40:03

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