A origem da engenharia clínica no Brasil remonta à década de 1980, quando a OMS e a FDA debateram a necessidade de um novo perfil profissional para lidar com os problemas gerados pelas inovações tecnológicas na saúde. Em 1989, três engenheiros apresentaram o termo "engenharia clínica" no IV Seminário Nacional de Engenharia e Manutenção Hospitalar. Nos anos seguintes, universidades e organizações promoveram cursos e eventos para disseminar o conceito no Brasil, culminando na
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A origem da EC no Brasil
Você já ouviu falar da denominação profissional engenheiro clínico? Mas afinal,
de onde ele vem? Para responder esta pergunta, apresento de forma resumida
um pouco da sua história no Brasil. Por ser um resumo, não esgotará o assunto,
mas permitirá apresentar os principais eventos que consolidaram a profissão.
Em 1983, a Organização Mundial da Saúde – OMS/Genebra e a FDA – Food and
Drug Administration debateram sobre a necessidade de a administração pública
ter ferramentas para solucionar os problemas gerados pela alta velocidade das
inovações e proliferação de tecnologias relacionadas a dispositivos médicos. O
sucesso deste debate levou a uma série de outros encontros, com o objetivo de
desenvolver ferramentas que permitissem maior cooperação internacional, troca
de informações e criação de fóruns.
Era necessário um novo perfil profissional para contribuir com a redução dos
impactos negativos dos avanços tecnológicos na área da saúde, oferecidos pela
indústria. Afinal, este problema, de natureza complexa, não poderia ser tratado
apenas do ponto de vista de atividades de manutenção.
Documentos produzidos por organizações de diversos países reportando
encontros posteriores a 1983 e oferecendo informações adicionais sobre o tema
são encontrados em todos os anos seguintes, até que, em novembro de 1989,
em Campinas, SP, durante o IV Seminário Nacional de Engenharia e Manutenção
Hospitalar, três engenheiros apresentaram o termo clinical engineering, o
que, sem dúvida, chamou atenção de todos os participantes que, até então,
trabalhavam com os termos manutenção hospitalar ou manutenção predial, tão
usados no Brasil naqueles anos.
O plano, iniciado em 1983 ou antes, estava se materializando. De fato,
o nosso seminário era realizado simultaneamente a outro evento
internacional, no auditório ao lado. O Manpower Development for a
Health Care Technical Service promovido pela OMS, com 22 participantes,
representou o interesse de 16 outros países e avançou na discussão dos
eventos anteriores. Os objetivos do encontro eram priorizar os requisitos
para este tipo de mão de obra; delinear características específicas de
conteúdos de treinamento; relacionar instituições de ensino existentes;
identificar necessidades de treinamento futuro e elaborar recomendações.
Foi um momento determinante, um divisor de águas. O termo “manutenção
hospitalar” nunca mais seria o mesmo.
Em 1991, como continuidade dos esforços para o melhor aproveitamento de
recursos tecnológicos em saúde, foi promovido o I Advanced Clinical Engineering
Workshop, em Washington-DC, como parte do programa internacional de
capacitação de mão de obra nesta área. Seis engenheiros brasileiros e 17 latino-
americanos, atuantes na área, participaram do evento.
Foi um curso teórico e prático, que abordou temas como: avaliação
tecnológica em saúde; planejamento estratégico e de equipamentos;
aquisição de equipamentos; gerenciamento de ativos; garantia de
qualidade; princípios de análise financeira; segurança, leis e normas; gestão
de pessoas; treinamento; relacionamento com fabricantes; edificações e
instalações hospitalares; treinamento de usuário, integração com pesquisa
e desenvolvimento; sistemas de saúde; manutenção em áreas remotas;
experiências de outros países em desenvolvimento; equipamentos
radiológicos, de laboratório, high tech e perinatal. O conteúdo do programa
produziu uma mudança de paradigma, afinal, não poderíamos mais reduzir
o papel do engenheiro neste processo às necessidades de manutenção. O
tema seria tratado, a partir de então, como gestão de recursos tecnológicos
em saúde. Na parte prática, o mais relevante foi perceber a extrema diferença
de recursos e ferramentas de trabalho oferecidos aos engenheiros dos EUA,
em comparação com o que tínhamos no Brasil.
De volta ao país, o trabalho continuou, tanto por parte do governo
quanto por iniciativas de outras
organizações. As universidades
UFPB, UFRGS, UNICAMP e
USP promoveram por dois
anos consecutivos cursos de
especialização em engenharia
clínica. Neste mesmo período, o
SENAC Saúde, SP, promoveu vários
encontros com participantes de
renome nacional e internacional
que trabalhavam nesta área.
Posteriormente, o Hospital
Sírio Libanês contribuiu com a
disseminação da terminologia e
da profissão, através da oferta de
eventos na área, sendo que, um dos
últimos que sediou foi o Advanced
Clinical Engineering Workshop
para países de língua portuguesa,
com palestrantes nacionais e
internacionais.
Na primeira década dos anos 2000,
o Hospital Albert Einstein promoveu
vários simpósios nesta área até que,
em 2003, foi fundada a Associação
Brasileira de Engenharia Clínica
que, com diversas fontes de apoio,
promove seminários e congressos
e assume a tarefa apoiar os
profissionais da área e desenvolver a
profissão.
Hoje, Engenharia Clínica é uma
realidade, porém, assim como na
assistência à saúde, é desigual entre
o setor público e privado, diferença
que pode ser mais ou menos
acentuada, dependendo da região
do país onde o hospital se encontra.
E ainda requer investimentos
adequados.
Lúcio Flávio de Magalhães Brito
Engenheiro Clínico Certificado l lb@engenhariaclinica.com
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