1. ENGENHARIACLÍNICASET-OUT
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O INVENTÁRIO DE TECNOLOGIAS,
A BUSCA ATIVA DE RECALLS E A
SEGURANÇA DO PACIENTE
O inventário das tecnologias de um hospital é um instrumento que permite
organizar o serviço de engenharia de maneira racional. Por isso, sua
elaboração deve ser planejada, complementando as informações contábeis e
administrativas normalmente encontradas nos hospitais.
Deste modo, o profissional responsável pelo serviço de engenharia clínica (EC)
deverá fazer uma proposta de revisão (reconfiguração do inventário) para tornar
sua contribuição mais adequada e alinhada com as práticas de gerenciamento
de tecnologias que se deseja implantar no hospital.
A RDC 02/2010 da Anvisa requer que os estabelecimentos assistenciais de
saúde (EAS) elaborem e implementem um plano que garanta rastreabilidade,
qualidade, eficácia, efetividade, segurança e, no que couber, desempenho,
desde a entrada de cada tecnologia no EAS até seu destino final, incluindo o
planejamento dos recursos físicos, materiais e humanos, além da capacitação
dos profissionais envolvidos no processo.
Assim, apresento abaixo um conjunto de orientações que permitirá
aos profissionais do setor planejar sua proposta para o inventário de
tecnologias do hospital.
Nome do equipamento: É comum utilizar o descritivo da nota fiscal de compra,
embora exista uma nomenclatura universal para este fim (Universal Medical
Device Nomenclature System - UMDNS). Por isso, o gestor deve homogeneizar os
nomes para facilitar a leitura da relação, evitando denominações diferentes para os
mesmos recursos tecnológicos, como é o caso de bisturi elétrico, bisturi eletrônico,
eletrocautério, eletrocauterizador, unidade eletrocirúrgica e cauterizador cirúrgico.
Número de série: Importante porque individualiza cada equipamento,
permitindo não somente o controle do hospital e do fabricante, como também
a comunicação mais direta entre estes dois, como é o caso das atividades de
manutenção preventiva e corretiva, formação do histórico dos equipamentos, etc.
Número de lote: Nem sempre os fabricantes conferem a um acessório um
número de série, mas, por razões próprias, adotam um número para cada lote
produzido. Assim, para rastreabilidade do item, é importante manter este
registro e criar evidências objetivas do controle que o hospital realiza sobre o
seu parque tecnológico. Outro aspecto a considerar é que alguns acessórios,
como os sensores de capnografia ou transdutores de ultrassom, têm um valor de
aquisição importante e, por isso, devem ser melhor controlados.
Potência: Conhecer e registrar a potência dos equipamentos permite ao gestor da
EC contribuir com a administração nas atividades de rateio de despesas de energia
elétrica pelos centros de custo dos hospitais, que também deverão ser registrados.
Centrodecustos:Associarasdespesasdecadaequipamentocomumcentrodecustos
ajudaaadministraçãoafazerorateiodosgastoscommanutençãodeformamaisexata.
Grau de risco: Conhecer e relacionar o grau de risco que cada equipamento
oferece em caso de falhas é determinante não somente para estabelecer critérios
de inclusão de equipamentos em programas de manutenção preventiva, como
também para dimensionar a equipe de profissionais necessária para manter o
parque tecnológico operando com disponibilidade e de maneira segura.
Outros dados que devem constar no inventário são: data de compra e de
instalação, validade de garantia, valor da aquisição, índice de depreciação do
bem, fabricante, representante ou revendedor, código do produto e modelo
determinado pelo fabricante, estado de conservação, etc.
Ao inventário, podem-se vincular as despesas anuais de cada equipamento com os
eventos de manutenção corretiva (mão de obra, partes e peças) e comparar com
o valor de compra de um item novo. Em média, fica entre 3% e 8% do custo de
aquisição.
Contudo, um dos pontos relevantes
que coloca o inventário como um
recurso estratégico para a EC é a
possibilidade de conhecer mais sobre
o nível de segurança oferecido aos
pacientes. Isto pode ser conseguido
pela busca de recalls, alertas,
notificações de campo (FSN - Field
Safety Notice) e as ações necessárias
(Action Needed) em cada caso,
tanto as do engenheiro clínico como
as do fabricante. Existem várias
agências que fornecem este tipo de
informação. Faça um teste. No Brasil
você pode verificar no site da Anvisa*
e, nos EUA, pode consultar o FDA**.
Os sistemas de busca da Inglaterra e
Canadá também são úteis, rápidos e
fáceis de utilizar para uma avaliação
como esta, principalmente no caso de
equipamentos de marca mundial.
Fazendoumparalelocomotrabalho
dosprofissionaisdaáreaassistencial,o
inventáriocorrespondeaoprontuário
dopaciente.Porissoéprecioso!Assim,
pergunto:épossívelsesentirseguro
sendoatendidoemumhospitalquenão
possuioprontuáriodosequipamentos
médico-assistenciaisqueutiliza?
* www.anvisa.gov.br/sistec/alerta/
consultaralerta.asp
** www.accessdata.fda.gov/scripts/cdrh/
cfdocs/cfres/res.cfm
Lúcio Flávio de Magalhães Brito
Engenheiro Clínico Certificado l Lb@engenhariaclinica.com
Fazendo um paralelo com o
trabalho dos profissionais da
área assistencial, o inventário
corresponde ao prontuário do
paciente. Por isso é precioso!
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