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     Senti-me libertar dos meus rebocadores.           de O barco
     Cruéis peles-vermelhas com uivos terríveis        bêbado,
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     Os Rios para mim se abriram de uma vez.
     Imerso no furor do marulho oceânico,
     No inverno, eu, surdo como um cérebro infantil,
     Deslizava, enquanto as Penínsulas em pânico
     viam turbilhonar marés de verde e anil.
     O vento abençoou minhas manhãs marítimas.
     Mais leve que uma rolha eu dancei nos lençóis
     das ondas a rolar atrás de suas vítimas,
     dez noites, sem pensar nos olhos dos faróis!




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