Do ponto de vista etimológico, a palavra latina placebo é o futuro do indicativo do verbo Placere, agradar. A tradução literal seria agradarei. O nome era dado a certas prescrições que o “médico” fazia para agradar ou comprazer o doente, substância ou preparado de pouca ou nenhuma ação terapêutica¹. o que é nocebo?
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Toxicologia de Medicamentos: O que é placebo?
Segundo o dicionário eletrônico Caldas Aulete (http://www.aulete.com.br/placebo) placebo:
sm.
1. Med. Substância farmocologicamente neutra, cirurgia ou terapia simulada us. para controlar reações, ou administrada
a um paciente pelo seu possível efeito psicológico benéfico.
a.
2. Dizse do efeito observável ou mensurável sobre uma pessoa ou grupo tratado com placebo.
Do ponto de vista etimológico, a palavra latina placebo é o futuro do indicativo do verbo Placere, agradar. A tradução
literal seria agradarei. O nome era dado a certas prescrições que o “médico” fazia para agradar ou comprazer o doente,
substância ou preparado de pouca ou nenhuma ação terapêutica¹.
O efeito placebo ganha destacada importância nos mecanismos cerebrais que trazem consciência aos estímulos
nervosos atrelados à dor; sendo a sensação experimentada em grande parte dependente da forma como se pensa a
mesma. O efeito placebo pode ser capaz de aliviar ou suprimir por completo a sensação de dor, mesmo que o estímulo
doloroso continue a sensibilizar, com igual intensidade, as vias neuronais correspondentes.
Existem comprimidos “milagrosos” que na verdade não deveriam produzir efeito algum – estes são os placebos, que
vêm em diferentes formas e tamanhos, mas sem ingredientes ativos. Todavia, surpreendentemente, muitas vezes
provocam algum tipo de efeito.
Desde algum tempo temse pesquisado bastante a respeito do como e do porquê essas pílulas sem princípios ativos
atuarem. Sabemos, por exemplo, que, em determinadas situações, elas podem ser muito eficazes no alívio da dor ou da
depressão. Mas há indicativos de que mesmo em patologias neurológicas talvez mais complexas, como a doença de
Parkinson, em que não há a produção adequada do neurotransmissor dopamina pelo cérebro, pode haver uma melhora
pelo uso de placebo²,³.
A Jon Stoessl , diretor do Centro de Pesquisa de Parkinson do Pacífico, da Universidade de British Columbia, em
Vancouver, Canadá, que estuda muito o assunto , acredita que o placebo pode, por vezes, minimizar os sintomas de
Parkinson, liberando o máximo de dopamina como em alguém com um sistema de dopamina saudável. Não se conhece
como, farmacodinamicamente, o placebo estimula o cérebro a produzir mais dopamina, uma vez que o Parkinson é
causado pela aparente incapacidade do cérebro de produzir o suficiente daquele neurotransmissor.
No entanto, de qualquer sorte, tal resposta favorável parece durar apenas por breve tempo, sinalizando que, enfim, o
placebo não induz uma cura milagrosa. Além do mais, ainda que induzisse, haveria um sério problema ético a ser
enfrentado, posto que os profissionais de saúde não poderiam mentir para os pacientes, trocando os fármacos
verdadeiros, com princípios ativos estabelecidos farmacologicamente, por placebos.
Mas são cada vez maiores as evidências de que o placebo pode disparar a habilidade natural do cérebro de produzir os
mediadores químicos de que necessita. Assim, Tor D. Wager , da Universidade do Colorado , estuda o que ocorre no
cérebro quando as pessoas recebem um placebo e imaginam tratarse de um analgésico: dáse uma liberação de
opióides endógenos, uma espécie de “morfina” do cérebro, significando que o efeito placebo está se utilizando do
mesmo circuito de controle da dor que um medicamento opiáceo como a morfina .
Pelas observações parece ser plausível especular que o placebo gera resultados diferentes, dependendo daquilo que o
paciente espera(/deseja) que ele faça: estimular a liberação da dopamina, quando o paciente acredita que ele é um
medicamento para produzir exatamente tal efeito, ou aliviar a dor, se ele pensa se tratar o placebo de um analgésico.
Nosso cérebro parece se comportar como uma farmácia natural, liberando continuamente doses de agentes químicos,
que agem como fármacos internos, seja para analgesiar uma dor, seja para, ao contrário, fazer com que melhor a
percebamos, seja para nos fornecer energia, ou para nos acalmar. Os fármacos efetivos atuam porque, molecularmente
falando, as células cerebrais têm receptores específicos com os quais as moléculas destes fármacos interagem. Então,
existem também substâncias endogenamente biossintetizadas pelo cérebro, que receberam por missão agir sobre tais
receptores acarretando os efeitos como analgesia, euforia. Os receptores cerebrais evoluíram para poder responder a
esses mediadores químicos naturais ou originais. Os fármacos descobertos ou racionalmente planejados pelo homem
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fazem imitar aquelas substâncias agonistas fisiológicas produzidas pelo próprio cérebro. Portanto, visto sob esse
aspecto, o cérebro poderia ser considerado como uma pequena farmácia natural, salientese, provendo, de um modo ou
outro, a dose contínua de “remédios” para sustar a dor ou para nos dar energia ou calma. E parece que esta farmácia
interna pode estimular ou ser estimulada pelo placebo.
E o que é nocebo?
O nocebo é a imagem negativa do placebo. A palavra, também de origem latina, deriva de nocere, que pode ser
entendida como produzir dano. Nocebo seria então produzirei dano. Tanto o efeito placebo quanto o nocebo nos
atingem num ponto de muito difícil acesso e controle por nossa parte: em nosso inconsciente. O efeito placebo tem sido
profundamente pesquisado. Na biblioteca online da pasta da Saúde dos Estados Unidos registramse quase 160 mil
entradas para essa palavra. Contrariamente, a palavra “nocebo” registra na mesma fonte apenas 180 entradas
(http://www.sertox.com.ar/modules.php?name=News&file=article&sid=5603).
Algumas referências bibliográficas recentes importantes são (por ordem cronológica decrescente):
Požgain, I., Požgain, Z., Degmečić, D. Placebo and nocebo effect: a minireview. Psychiatr Danub. 2014; 26(2): 1007.
Agid O., Siu C.O., Potkin S.G., Kapur S., Watsky E., Vanderburg D. et al. Metaregression analysis of placebo
response in antipsychotic trials, 19702010. Am J Psychiatry 2013; 170:133544.
Benedetti, F. Placebo and the new physiology of the doctorpatient relationship. Physiol Rev 2013; 93: 12071246.
DataFranco, J., Berk, M: The nocebo effect: a clinicians guide. Aust N Z J. Psychiatry 2013; 47: 61723.
Jakšić, N., AukstMargetić, B., Jakovljević, M. Does personality play a relevant role in the placebo effect?Psychiatr
Danub. 2013; 25: 1723.
Murray, D., Stoessl, A.J. Mechanisms and therapeutic implications of the placebo effect in neurological and psychiatric
conditions. Pharmacology & Therapeutics. 2013; 140: 306318.
Brody, H., Miller, F.G. Lessons from recent research about the placebo effect: from art to science. JAMA. 2011;
306(23): 26122613.
Colloca, L., Miller, F.G. The nocebo effect and its relevance for clinical practice. Psychosom Med. 2011; 73: 598603.
Finniss, D.G., Kaptchuk, T.J., Miller, F., Benedetti, F. Biological, clinical, and ethical advances of placebo
effects. Lancet. 2010; 375(9715): 686695.
RodriguezRaecke, R., Doganci, B., Breimhorst, M. et al. Insular cortex activity is associated with effects of negative
expectation on nociceptive longterm habituation. J Neurosci. 2010; 30(34): 1136311368.
Varelmann, D., Pancaro, C., Cappiello, E.C., Camann, W.R. Noceboinduced hyperalgesia during local anesthetic
injection. Anesth Analg. 2010; 110(3): 868870.
Colloca, L., Sigaudo, M., Benedetti, F. The role of learning in nocebo and placebo effects. Pain. 2008; 136(12): 211
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Mondaini, N., Gontero, P., Giubilei, G. et al. Finasteride 5 mg and sexual side effects: how many of these are related to
a nocebo phenomenon? J Sex Med. 2007; 4(6): 17081712.
Kaptchuk, T.J., Stason, W.B., Davis, R.B. et al. Sham device v inert pill: randomised controlled trial of two placebo
treatments. BMJ. 2006; 332(7538): 391397.
Colloca, L., Lopiano, L., Lanotte, M., Benedetti, F. Overt versus covert treatment for pain, anxiety, and Parkinson’s
disease. Lancet Neurol. 2004; 3(11): 679684.
Nocebo diz respeito ao que de indesejável se pode verificar no paciente quando este é submetido a um excesso de
informações a respeito do fármaco (remédio) ou do tratamento. Poderseia dizer que saber informações em demasia,
sobretudo a respeito dos possíveis efeitos colaterais, dispara processos quiçá insconscientes capazes de gerar
enfermidade justamente pela expectativa da sobrevinda exatamente da colateralidade.
Um paciente oncológico que se convenceu que tem apenas poucos meses de vida, talvez venha a óbito mais
rapidamente (independentemente do crescimento de seu tumor) do que um outro paciente em condições equivalentes
mas que não acredita que esteja prestes a morrer. Eis aí, novamente, o efeito Nocebo, conforme advoga o neurologista
alemão Magnus Heier em seu livro Nocebo: Wer's glaubt wird krank, com o subtítulo. Wie man trotz Gentests,
Beipackzetteln und Röntgenbildern gesund bleibt (2012, editora Hirzel:http://www.hirzel.de/titel/59047.html). Heier assim
diz: “Os pacientes de câncer começam a sentir fortes náuseas quando entram nas salas de quimioterapia porque intuem
a nível inconciente que sentirão essas náuseas depois”.
O nocebo é deflagrado principalmente pelo excesso de informações que não se pode ordenar de maneira adequada,
especialmente quando se procuram enfermidades ou síntomas na internet, ou mesmo pela bula do medicamento, que
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discrimina a gama possível dos efeitos secundários, uma obrigação legal, mesmo que alguns tenham estatística muito
baixa de ocorrência, como 1:10.000 pacientes.
Luana Colloca e Damien Finniss, no artigo Nocebo Effects, PatientClinician Communication, and Therapeutic
Outcomes [JAMA. 2012; 307(6): 567568 http://jama.jamanetwork.com/article.aspx?articleid=1104968], dizem que
atualmente se admite a existência dos efeitos nocebo que surgem durante tratamentos de rotina, afetando
negativamente os resultados clínicos, apesar de não se haver administrado placebo. E vão além: “Os efeitos nocebo e
os efeitos placebo são o resultado direto do contexto psicossocial ou do meio ambiente terapêutico na mente do
paciente, o cérebro e o corpo. Ambos os fenômenos podem ser produzidos por múltiplos fatores, como as sugestões
verbais e a experiência passada”. Em outra parte destacam: “Tal como acontece com o seu homólogo, o placebo, as
respostas nocebo mostram a forte interação entre o contexto terapêutico e a interação entre mente e cérebro do
paciente. Esse fenômeno tem sido demonstrado em estudos bem elaborados que mostram como a informação verbal
negativa pode converter um estímulo nãonociceptivo em uma experiência estimulante de dor, notadamente do mesmo
nível que a causada por um estímulo doloroso”. Mencionam os autores que informar aos pacientes a interrupção do uso
da morfina num momento determinado do tratamento pode se associar a um aumento significativo da percepção de dor
comparado à suspensão deste fármaco sem informação prévia.
Požgain et al. publicaram uma revisão [Placebo and nocebo effect: a minireview. Psychiatr Danub. 2014 Jun;26(2):100
7] sobre os efeitos placebo e nocebo, discutindo diversas teorias de fenômenos neurobiológicos e do campo da
psiquiatria, já que estes efeitos parecem exercer substancial papel em diversas condições psiquiátricas, tais quais,
depressão, ansiedade e esquizofrenia.
Portanto, do ponto de vista do mecanismo, os efeitos placebo e nocebo parecem envolver componentes psicológicos
(autossugestão, traços de otimismo ou pessimismo, efeitos de expectativas pessoais, dinâmica interpessoal na relação
profissional de saúdepaciente, traços de personalidade farmacofílica ou farmacofóbica); neurobiológicos (mecanismos
de ativação corpomente relacionadas com patogênese/salutogênese ou sistema punição/recompensa, sensibilização
ou mecanismos de habituação através de mediadores químicos e neurotransmissores (ex: atividade serotoninérgica,
noradrenérgica, dopaminérgica etc), bem como respostas hormonais e imunológicas.
Colloca e Finniss realçam que a investigação dos efeitos nocebo importantes alerta sobre a maneira pela qual se
revelam os possíveis efeitos adversos aos pacientes na atenção clínica de rotina. Tal maneira pode afetar não apenas o
risco de percepção por parte do paciente, mas também, e mais importante, os próprios resultados clínicos. Ademais, a
informação deve ajustarse a cada paciente e levar em conta aquilo que o paciente deseja saber e o que já aprendeu
sobre o tratamento e sua condição, devido o acesso generalizado à informação dos tratamentos e de seus efeitos
adversos.
Por fim, estas discussões nos remetem a tantas outras reflexões no contexto dos serviços de saúde, que, muitas vezes,
pela forma em que se encontram estruturados, podem exercer efeitos negativos e deletérios à saúde, que, ainda que
muito distante do que se vê na prática, é definida como o estado de bem estar biopsicossocial.
Referências
Notas e referências:
1.Ver http://www.dicionarioetimologico.com.br/placebo/; http://michaelis.uol.com.br/moderno/portugues/index.php?
lingua=portuguesportugues&palavra=placebo
2.Ver http://www.neuroscience.ubc.ca/stoessl.htm
3.Lidstone,S.C.,Schulzer,M.,Dinelle,K.,Mak,E.,Sossi,V.,Ruth,T.J.,FuenteFernández,R.,Phillips,A.G.,A Jon
Stoessl.Effectsofexpectationonplaceboinduced dopaminereleaseinParkinsondisease.Arch Gen Psychiatry67:8.857
865,Aug 2010.
4.http://ca.linkedin.com/pub/ajonstoessl/2a/46a/530
5. http://publicationslist.org/jstoessl
6. http://www.colorado.edu/neuroscienceprogram/wager.html
7.http://wagerlab.colorado.edu/