O documentário explora as duas faces do Maracatu de Baque Virado na cidade de Recife, tanto sua origem na cultura afro-brasileira quanto sua prática atual por jovens de classe média. Através de entrevistas e cenas do cotidiano, o filme mostra como esses dois lados se misturam na atualidade através da paixão compartilhada pela música e dança do maracatu.
1. I. Título do projeto e autor;
MARAKTUS
um filme de curta-metragem documental
de Gilberto Lyra Filho
II. Resumo do documentário
O documentário tem como objetivo mostrar os dois lados em que transita o Maracatu do
Baque Virado nos centros urbanos. Nascido no Brasil, o Maracatu tem origem na cultura
afro-brasileira e mistura-se ao candomblé da cultura negra. Hoje praticado por jovens
de classe média do Recife, que se encantaram com o maracatu, esses grupos se
reúnem semanalmente. A trama do documentário é mostrar essas duas linhas que
atualmente se misturam em um batuque só. Por meio da fusão entre documentário e
ficção, o filme conta a história de um Jack, juntamente com uma criança que se tornará
um Rei do Maracatu. As raízes negras abrangem de forma tão mais profunda e
culturalmente se predominam sobre o Maracatu; por este motivo, cunham a tradição e
a riqueza cultural.
III. Justificativa para o recorte temático do documentário e para a estratégia de
abordagem
A produção de um filme que tenha como tema o Maracatu de Baque Virado ou
Maracatu Nação é uma forma de resgatar a história e a memória da cultura do povo
afro-brasileiro.
O Maracatu Nação também tem origem nas coroações de rainhas e reis negros
denominados Reis do Congo, a raiz dessa história africana é mantida, em especial, pelo
Maracatu, essa manifestação artística de modelo europeu e espírito africano, num
movimento de luta, resistência e preservação das práticas culturais afro-brasileiras.
A batida do Maracatu é algo único, os instrumentos tarol, caixa de guerra,
mineiro, agbê, gonguê e alfaias juntos dão o ritmo a essa manifestação que reúne
música e dança. A música do Maracatu neste documentário é experienciada pelo seu
lado místico.
2. O Maracatu Nação reúne brincantes de distintas classes sociais e orientações
religiosas, e por mesclar experiências tão diferentes, este documentário também
transitará entre os estilos documental e ficcional.
A narrativa documental como forma de dar visibilidade ao real, que relações esta
manifestação tradicional do estado de Pernambuco propicia, enquanto a narrativa
ficcional é uma possibilidade de dar espaço ao imaginário desse universo lúdico ao qual
o maracatu nos convida adentrar. O elo entre o documentário e a ficção será legitimado
por reflexões filosóficas construídas com alicerces reais e a própria experiência de vida
daqueles que mantem viva a tradição do Maracatu Nação.
IV. Proposta narrativa e estética do documentário
O tema do maracatu será abordado nesta produção cinematográfica a partir de
uma narrativa reflexiva, ou seja, o diálogo dos personagens e do narrador envolve-se
com uma narrativa ora documental ora ficcional. O documental como um momento onde
dar-se voz aos atores do maracatu, enquanto a trama ficcional nos conduz, num texto
narrativo, a olhares que envolvem a relação do maracatu com seus membros no dia a
dia. A ideia é levar ao espectador olhares sobre o mundo em que vivemos, um universo,
em particular em Pernambuco, que traz fortes traços da cultura afro-brasileira.
A cultura do maracatu na cidade do Recife, em especial, permitiu a criação do
que chamo de “maracatu universitário”, grupos nos quais seus integrantes dividem-se
em dois segmentos: aqueles que pertencem a classe média e aqueles de raízes do
candomblé. Por esta característica particular, este documentário pretende mostrar os
dois grupos de brincantes do maracatu, porém acentuando que os membros com
ligação a religiosidade afro-brasileira constituem-se como um grupo mais sólido.
Concordamos com o cineasta e teórico Sílvio Da-Rin (2004) que concebe o
documentário como uma construção, uma ficção, desta maneira, é como qualquer outra
produção. Esta concepção reflete um ponto importante para se pensar o documentário.
O documentário como uma obra construída no interior da sua própria criação,
mergulhando numa dada realidade, mediado por um sistema significante.
Os recursos estéticos, portanto, que fazem parte deste projeto vão além das
entrevistas com atores sociais do maracatu e da filmagem de situações cotidianas a um
grupo desta manifestação popular. Ao propor uma narrativa que mescla o documentário
e a ficção pretende-se transitar entre a tênue linha que separa estes estilos
cinematográficos. Para o teórico Bill Nichols (2005) aponta que todo filme é um
documentário, por mais complexa que seja a ficção, ela é criada a partir de uma cada
3. cultura, tentando criar um ambiente que a reproduza. E neste pensamento, este
documentário aqui proposto utiliza-se dos recursos da ficção como suporte para mostrar
o cotidiano dos integrantes do maracatu, suas atividades fora no grupo.
A perspectiva em relação ao espectador é permitida pela criação de um filme
que desperta o olhar atento e a curiosidade, fazendo de cada sequência uma porta de
acesso a um universo desconhecido do espectador. Um ingresso a um mundo místico,
que questiona frequentemente o espectador acerca da realidade que é revelada, a
própria estrutura temática do filme é colocada em dúvida. Será que o filme consegue
dar todas as respostas que o espectador espera? Estas escolhas estilísticas dão ritmo
ao filme, que atrai o espectador pelo uso de cores fortes e acentuadas, dando a
impressão de vida e fertilidade.
Ao propor trabalhar com a temática do maracatu num documentário de estilo
contemporâneo busca-se dar voz a esses atores culturais de grande expressão em
Pernambuco e na cultura brasileira. A câmera se coloca no lugar do observador e desta
forma conduzirá seu olhar. Durante as cenas documentais, há a preferencia pela
utilização da câmera estática.
O recurso técnico para produção deste documentário conta com captação em
suporte digital de alta definição (HD), com resolução em 1920x1080 pixels, ao utilizar
câmeras com resolução 4k ou HDCAM SR. O áudio e a trilha sonora utilizado no
documentário será mixado em 2.1 estéreo.
V. Estrutura preliminar do roteiro;
MARAKTUS
FILME DE CURTA-METRAGEM DE GILBERTO LYRA FILHO
STORY LINE
Esta é a estória de uma comunidade que está participando do
exercício da música, através do maracatu e que termina em
samba.
PERSONAGENS:
1º BOB, UM JOVEM INTEGRANTE DE UM MARACATU NAÇÃO, ENTRE 5 A 9
ANOS.
2° JACK, UM MESTRE DE UM MARACATU NAÇÃO, ENTRE 45 E 50 ANOS.
3º CARLOS, UM HOMEM COM CERCA DE 30 ANOS.
4º MARILDA, UMA SENHORA COM MAIS DE 65 ANOS, MÃE DE CARLOS.
5º JOSÉ, UM HOMEM COM CERCA DE 25 ANOS.
6º CARMINHA, UMA SENHORA COM CERCA DE 50 ANOS, MÃE DE JOSÉ.
7º BRUNO, UM HOMEM COM CERCA DE 25 ANOS.
8º VALQUÍRIA, UMA MULHER COM CERCA DE 25 ANOS.
4. 9º O GRUPO: RUI, AMANDA, PEDRO E CLARA, TODOS EM TORNO DOS 30
ANOS.
10º JÚLIO, UM HOMEM COM CERCA DE 35 ANOS, DESCENDENTE DE
ESCRAVOS.
11º MURILO, UM SENHOR COM CERCA DE 60 ANOS, UM SÁBIO DO
CANAVIAL.
12º BENJAMIM, UM JOVEM COM CERCA DE 15 ANOS.
13º RAQUEL, UMA GAROTA COM CERCA DE 15 ANOS.
14º JULIANA, UMA MULHER COM CERCA DE 30 ANOS.
15º FLÁVIA, UMA MULHER COM CERCA DE 35 ANOS.
16° O PERSONAGEM, O HOMEM DO ELEVADOR, UM HOMEM COM CERCA DE 40
ANOS.
CAPITULO 1º
CENA 1º
INT. NA RODA DO MARACATU. NOITE
Começa o filme sendo rodado, tomada por cima, filmado no
meio da roda de maracatu.
CENA 2º
EXT. EM UM CANTO A PARTE. NOITE.
BOB
Estava passando por aqui e vi este
som e me encantei com esse batuque.
Tem como o senhor me levar para o
ensaio de vocês, eu queria dar uma
olhada melhor e talvez, quem sabe,
aprender um pouco como é que se
toca isso. Pois há este desejo
muito forte em mim, alguns falam
que eu não devia me envolver com o
batuque do maracatu, eles me
disseram que existe uma força muito
grande nessa estória toda...
JACK
Realmente há esta força, mas a
intensidade quem dá é você, ninguém
poderá mexer em seus limites, só
você. Pois então não há problema
algum, vou te levar sim, mas
primeiro preciso falar com a sua
mãe sobre isso tá?
BOB
Tudo bem, podemos nos encontrar na
terça?
JACK
Oquei, vá com Deus!
CENA 3º (DOCUMENTAL)
5. JACK explica como se compõe os personagens do Maracatu do Baque
Virado.
CENA 4º
INT. EM CASA. NOITE
CARLOS
Não sei o que foi que deu hoje lá
no maracatu, a zebra foi geral.
Comecei a passar mal, vomitei,
desmaiei; foi o maior sacrifício
que fizeram para eu me levantar.
Puta que o pariu.
MARILDA
Deixe de ser tão exigente com as
coisas que isso tudo passa; a
chatice é a arma do negócio. Mas
não se aborreça mais, tem uma sopa
quente pra você, tome, depois vá
dormir e sem escutar músicas em
alto volume tá? Obrigado!
CENA 5º
INT. EM CASA. NOITE.
JOSÉ
Estava muito bom hoje lá no
maracatu, foi a maior zona
aconteceu de tudo, sei não viu...
CARMINHA
Deixa dessas conversas malucas Zé,
vás arruma o que fazer, se não vou
te dar umas pisa. Dinheiro que é
bom nada. Só vive nessas de
maracatu. VAI TRABALHAR VAGABUNDO!
CENA 6º
EXT. NA CONSTRUÇÃO CIVIL. PÔR DO SOL.
SEGUE UMA NARRAÇÃO: No trabalho, na construção civil, BRUNO
se desentende com o seu patrão e pedi as contas. A CENA É
MOSTRADA DE LONGE.
EM OUTRO INSTANTE.
CENA 7º(DOCUMENTAL)
Um personagem do maracatu, fala sobre a força do Maracatu e
o que ela significa pra ele.
CENA 8°
EXT. CENAS. DIA.
SEGUEM AS CENAS E A NARRATIVA: VALQUÍRIA está viajando para
uma cidade de praia ali próxima no meio da semana. VALQUÍRIA
6. que também faz parte da banda, se prostitui nos dias de
semana. Mas toca muito bem o maracatu, é uma das melhores do
grupo, ela toca tanto que às vezes nem sabe o que faz.
CAPITULO 2º
CENA 1º
EXT. NA RUA. NOITE.
SEGUE A AÇÃO E NARRATIVA: Voltando pra casa em uma noite de
festa, RUI com AMANDA se encontram com PEDRO e CLARA e tem uma
discussão horrível por causa de CLARA a esposa de PEDRO,que no
dia anterior foi pega aos beijos com RUI. Segue a
sequência.
AMANDA
Sua puta fila de uma égua, vai se
agarrar com o corno do teu marido,
fica me fazendo de corna também.
Você é uma vadia sua puta, sua
rapariga Tapas.
CLARA
Não eu jamais diria isso. Nem pra
você nem pra ninguém.
CENA 2º
EXT. NA RODA DO MARACATU. NOITE.
Cenas do batuque do Maracatu.
SEGUE, PAUSA/ CORTA
CENA 3º
EXT. NA MATA DA CANA DE AÇÚCAR. TARDE.
JÚLIO
Preto, esta cana está cada vez mais
dura de cortar, ou será meus ombros
que estão mais duros para
cortá-las.
MURILO
Talvez seja o corte do teu próprio
pudor que estava mais duro e que só
saberás do sucesso quando escutares
os aplausos
CENA 4º
EXT. NA RODA DO MARACATU. TARDE.
Seguem cenas do batuque do maracatu, por um bom tempo.
CENA 5º (DOCUMENTAL)
Um entrevistado fala das origens do maracatu.
CENA 6º
7. EXT. PRAÇA DA JAQUEIRA. NOITE.
No Parque da Jaqueira um casal de namorados se beijam
sentados nos bancos da praça, depois dos beijos longos sendo
filmados, segue o diálogo na sequência.
BENJAMIM
Olha só aqueles pássaros, amor...
Estão se beijando também, quando eu
era criança, eu tinha muitos
pássaros em casa, cheguei a ter uns
vinte, quase todos de espécies
diferentes, umas das outras...
RAQUEL
Eu criei um cachorro, ou, aliás;
uma cadela. Que de vez em quando me
dava umas carreiras, mas o seu
despojar e a liberdade desses
animais, tipo, como os cachorros me
excita muito sexualmente, as vezes
eu fico imaginado aquela minha
cadela me lambendo toda e eu
gozando, ai ai, sei não...
BENJAMIM
Você diz estas coisas e também me
excita muito, só de imaginar isso
acontecendo com você, me dá vontade
de comer você todinha.
(Gemidos e beijos dos dois)
CENA 7º
INT. NO ESCRITÓRIO. NOITE
No alto de um prédio comercial começa uma discussão de duas
funcionárias de um banco por causa de um paquera comum entre
as duas, segue o monólogo.
JULIANA
Vá bater na puta que o pariu, sua
vagabunda, sua nojenta...
(Socos, mãozadas e confusão em cena)
CENA 8°
EXT. NA RUA. NOITE.
Vêem uma bicicleta chegando a distante, na rua de uma praça
grande em direção ao personagem de BRUNO à CARLOS. Segue o
diálogo.
BRUNO
O que é que tu estás fazendo aqui o
rapa?
CARLOS
Tô de bobeira.
8. BRUNO
Estás sabendo o que está se
passando lá na comunidade
CARLOS
Não
BRUNO
Tocaram fogo no clube, tá a maior
confusão, vamos lá comigo!
Os dois vão em direção no caminho para o clube na bicicleta
de BRUNO, chegando lá, está tudo em chamas e mais alguns
colegas lá presentes a observar a chama. Segue a cena...
CAPITULO 3º
CENA 1º
EXT. O INCÊNDIO. NOITE.
JULIANA
Que loucura é essa minha gente,
tocaram fogo em tudo...
JÚLIO
Acho que não vai restar nada...
CLARA
A vida e assim mesmo...
CHEGAM OS BOMBEIROS...
Segue a cena sendo filmada lentamente com o tom de
melancolia...
CENA 2º
EXT. O INCÊNDIO. PELA MANHÃ.
De manhã na quadra.
Alguns vão lá ver os destroços.
CENA 3º(DOCUMENTAL)
Um entrevistado fala da disputa que há entre os diversos
Maracatus.
CENA 4º
EXT. NA MATA DA CANA DE AÇUCAR. DIA.
No canavial, inicia-se, um diálogo entre JÚLIO e MURILO.
JÚLIO
Será que tocaram fogo lá no clube
por vingança de; sei lá; por
inveja, Preto Murilo, realmente
seria este o motivo do incêndio?
MURILO
9. Eu não sei do que você está
falando...
JÚLIO
O incêndio lá na quadra do nosso
maracatu.
MURILO
Ah, é verdade, eu ouvi falando no
jornal sobre isso, mas é por que
faz já algum tempo que eu não vou
lá. Façamos o seguinte, no próximo
domingo; eu estarei lá, vai ser
muito bom, por que também será um
dia, creio, que quase todos os
maraktus estarão lá, maraktus; você
sabe né, são aquelas pessoas que
fazem parte do maracatu, do nosso
maracatu!
JÚLIO
Combinado então, domingo todos lá!
CENA 5º
EXT. NA RODA DO MARACATU. TARDE/NOITE.
Neste domingo, chegaram todos e será mais um grande encontro
de festa e folia.
Seguem as filmagens, todos chegando para tocar nesta noite o
maracatu, JACK, já está lá, e então começa a
festa!
BOB, de longe, fica observando tudo!
Não há diálogos, todos envoltos se divertindo e tocando o
maracatu!
ALGUM TEMPO DEPOIS...
CAPITULO 4º FINAL
CENA 1º
INT/EXT. NO ESCRITÓRIO. NOITE.
Papeis esvoaçados no banco em que JULIANA trabalha, depois
De toda essa confusão com ela.
JULIANA
Ai me Deus que bagunça ficou tudo
isso, gente, desculpa, mas foi
aquela ordinária da Flávia que fez
tudo isso, gente, desculpa...
SEGUE A CENA JULIANA ARRUMANDO SEUS PAPEIS NA SUA MESA.
CENA 2º
Depois ela pega o elevador, é final de expediente, no
elevador encontra um homem, os dois seguem
conversando, descem até o térreo e saem pela calçada
10. conversando, estão indo em direção ao carro. DE REPENTE,
PINTA O CLIMA, os dois se beijam em plena calçada.
CENA 3º(DOCUMENTAL)
Um entrevistado do Maracatu, fala e mostra as riquezas do
Maracatu.
CENA 4º
EXT. NA RODA DO MARACATU. PÔR DO SOL.
No grupo de Maracatu, entra um novo integrante, que chama a
atenção!
BOB, vem para o seu primeiro dia à participar do grupo de
maracatu, JACK dá as dicas e ele inicia.
JACK
Vamos lá!
CENA 5º
EXT/INT. CASA DO BOB. TARDE.
A câmera pega ele vindo em direção a sua casa, ele vem a
distante, se aproxima, entra na porta dos fundos e senta num
trono. De repente vem uma câmera de fotografia e bate uma
foto dele, neste instante encerram-se as filmagens.
NARRATIVA: BOB TORNA-SE NESTE MOMENTO, O MAIS
NOVO REI DO MARACATU, NO CANDOMBLÉ.
FIM.