Este artigo tem por objetivo analisar o pensamento de Albert Einstein, o pai da Teoria da Relatividade, e o de Sigmund Freud, o pai da Psicanálise, expostos nas cartas trocadas entre eles em 1932, no interregno entre a 1ª e 2ª Guerra Mundial sobre as causas das guerras e as soluções para evitá-las. Albert Einstein perguntou a Freud se existe alguma forma de livrar a humanidade da ameaça de guerra e se é possível controlar a evolução da mente do homem, de modo a torná-lo à prova das psicoses do ódio e da destrutividade? Para acabar com as guerras, Einstein e Freud defendem a existência de um governo mundial para mediar os conflitos internacionais. Ambos estão absolutamente certos porque, para que se concretize a paz perpétua em nosso planeta, seria preciso a reforma do sistema internacional atual que é incapaz de garantir a paz mundial. Einstein admite e Freud defende a tese de que existe um instinto animal no ser humano que contribui para sua agressividade. A visão de Freud é a de que a violência representa o predomínio do instinto animal que possuímos. Esta não é a opinião de eminentes pensadores como Raymond Aron (filósofo e sociólogo francês), Henry Bergson (filósofo e diplomata francês), Carl Rogers (norte-americano precursor da psicologia humanista), Jean-Jaques Rousseau (escritor e filósofo suíço) e Karl Marx (economista, filósofo, historiador e cientista político alemão) que consideram que o comportamento agressivo do ser humano resulta do ambiente social onde ele vive. Para fazer com que os seres humanos tenham comportamento construtivo, é preciso educar a todos com a cultura da paz e promover mudanças no ambiente social que contribuam para satisfazer as necessidades humanas, haja vista que os atos de agressividade do homem se originam sempre em um fenômeno externo e não internamente ao indivíduo.
COMO FUNCIONAM A INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL E SEUS SOFTWARES E ALGORITMOS INTELI...
ANÁLISE DO PENSAMENTO DE EINSTEIN E FREUD SOBRE AS CAUSAS DAS GUERRAS E AS SOLUÇÕES PARA EVITÁ-LAS.pdf
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ANÁLISE DO PENSAMENTO DE EINSTEIN E FREUD SOBRE AS CAUSAS
DAS GUERRAS E AS SOLUÇÕES PARA EVITÁ-LAS
Fernando Alcoforado*
Este artigo tem por objetivo analisar o pensamento de Albert Einstein, o pai da Teoria da
Relatividade, e o de Sigmund Freud, o pai da Psicanálise, expostos nas cartas trocadas
entre eles em 1932, no interregno entre a 1ª e 2ª Guerra Mundial sobre as causas das
guerras e as soluções para evitá-las. O conteúdo dessas cartas está contido no website
<https://moodle.ufsc.br/pluginfile.php/1033690/mod_resource/content/1/Aula%2B026
%2B-%2BFreud%2B%2BEinstein.pdf>. Albert Einstein perguntou a Freud se existe
alguma forma de livrar a humanidade da ameaça de guerra e se é possível controlar a
evolução da mente do homem, de modo a torná-lo à prova das psicoses do ódio e da
destrutividade? Em sua carta a Freud, Einstein afirmou que todas as tentativas de livrar a
humanidade da ameaça de guerra terminaram em lamentável fracasso razão pela qual
solicitou que o pai da Psicanálise elucidasse o problema mediante o auxílio do seu
profundo conhecimento sobre a vida instintiva do homem. Ao solicitar a Freud que
analisasse a vida instintiva do homem, Einstein parecia admitir que o comportamento
violento humano resulta em maior grau de seu instinto animal e não do ambiente social
onde ele vive.
As questões colocadas por Einstein em carta endereçada a Freud foram as seguintes:
1. Ao tratar da problemática das guerras, Einstein considerou a necessidade de, por meio
de acordo internacional, ser estruturado um organismo legislativo e judiciário que
possa arbitrar todo conflito. Segundo Einstein, “cada nação submeter-se-ia à
obediência às ordens emanadas desse organismo legislativo, a recorrer às suas
decisões em todos os litígios, a aceitar irrestritamente suas decisões e a pôr em prática
todas as medidas que o tribunal considerasse necessárias para a execução de seus
decretos”. Einstein afirmou que, “atualmente, porém, estamos longe de possuir
qualquer organização supranacional competente para emitir julgamentos de
autoridade incontestável e garantir absoluto acatamento à execução de seus
veredictos. Einstein considera que a busca da segurança internacional envolve a
renúncia incondicional, por todas as nações, em determinada medida, à sua liberdade
de ação, ou seja, à sua soberania. É oportuno observar que em 1932 havia um
organismo supranacional, a Liga das Nações, que deveria mediar os conflitos
internacionais e fracassou ao não impedir a eclosão da 2ª Guerra Mundial.
A tese de Einstein de que a busca da segurança internacional envolve a renúncia à
soberania nacional é, entretanto, equivocada porque poder-se-ia implantar um governo
mundial representativo de todos os povos do mundo que trataria apenas da mediação de
conflitos internacionais sem a ingerência nos assuntos internos de cada país cuja
soberania seria respeitada. A preservação da paz deveria ser a primeira missão de toda
nova forma de governo mundial. Para que isto aconteça, é preciso que exista uma
governabilidade democrática do mundo com um governo mundial eleito por todos os
países do mundo. Seu papel seria o de construir a governabilidade da economia e do meio
ambiente global e a manutenção da paz mundial. Por seu intermédio, seria perseguida a
defesa dos interesses gerais de todos os paises do planeta no plano das relações
internacionais. Um governo democrático mundial zelaria no sentido de que seja
respeitada a soberania de cada país porque atuaria no sentido de evitar que qualquer país
intervenha nos assuntos internos de outros, sobretudo com intervenções militares. Ao
contrário do que muitos pensam, a existência de um governo mundial não seria uma
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ameaça à soberania nacional sendo, pelo contrário, a garantia de que nenhum país
interviria nos assuntos internos de outros países.
Para afastar definitivamente novos riscos de uma nova guerra mundial e que se concretize
a paz perpétua em nosso planeta, seria preciso a reforma do sistema internacional atual
que é incapaz de garantir a paz mundial. A ONU, que foi constituída após a 2ª Guerra
Mundial, tem se mostrado tão inoperante quanto a Liga das Nações na mediação de
conflitos internacionais que a precedeu entre as duas Grandes Guerras. O novo sistema
internacional deveria funcionar com base em um Contrato Social Planetário que seria a
Constituição do planeta Terra na qual seriam estabelecidas as regras da convivência
internacional. Para a elaboração do Contrato Social Planetário deveria haver a
convocação de uma Assembleia Mundial Constituinte com a participação de
representantes de todos os países do mundo eleitos para este fim. O Contrato Social
Planetário deveria estabelecer a existência de um Governo Mundial cujo presidente
deveria ser eleito com mais de 50% de votos do Parlamento Mundial a ser, também,
constituído com representantes eleitos nos diversos países do mundo.
Além do Governo Mundial e do Parlamento Mundial, deveria ser constituida, também, a
Corte Suprema Mundial que deveria ser composta por juristas de alto nivel do mundo
escolhido pelo Parlamento mundial os quais atuariam por tempo determinado. A Corte
Suprema Mundial deveria julgar os casos que envolvam litigios entre os paises, os crimes
contra a humanidade e contra a natureza praticados por Estados nacionais e por
governantes à luz do Contrato Social Planetário, julgar conflitos que existam entre o
Governo Mundial e o Parlamento Mundial e atuar como guardiã do Contrato Social
Planetário. O novo estado de direito internacional seria executado pelos três poderes
constituidos: Governo Mundial, Parlamento Mundial e Corte Suprema Mundial. O poder
mundial repousaria no Governo Mundial, no Parlamento Mundial e na Corte Suprema
Mundial. O Governo Mundial não terá Forças Armadas próprias devendo contar com o
respaldo de Forças Armadas dos países que seriam convocadas quando necessário. Com
esta configuração proposta para a governança democrática do sistema internacional,
nenhum país seria vassalo, portanto, do governo mundial.
O governo mundial atuaria apenas para fazer com que o sistema internacional evolua em
um ambiente de paz entre as nações. Cada país deve ser soberano para atuar nos limites
de seu território e não para intervir nos assuntos internos de outros países. O que não
seria admitido é qualquer país intervir com o uso da força nos assuntos internos de outros
países como tem acontecido ao longo da história. O governo mundial seria a garantia do
respeito à soberania dos países do mundo, especialmente dos mais fracos. A ausência de
um governo mundial é que representaria uma ameaça à soberania nacional da maioria dos
países porque ficariam à mercê dos mais fortes como tem ocorrido ao longo da história.
Se qualquer país comprometer o ambiente de paz entre as nações, intervindo nos assuntos
internos de outro país, o governo mundial atuaria para impedir que o agressor consuma
seus propósitos através de ação diplomática ou, em caso de insucesso, inclusive com o
uso da força. Para tanto, o governo mundial convocaria as forças armadas de
determinados países para cumprirem o papel de impedir que qualquer país intervenha em
outro fazendo uso da força.
2. Einstein afirmou que não há lugar à dúvida de que estão em jogo fatores psicológicos
de peso que paralisam os esforços visando o fim das guerras. Alguns desses fatores,
segundo Einstein, são mais fáceis de detectar porque o intenso desejo de poder, que
caracteriza a classe governante em cada nação, é hostil a qualquer limitação de sua
soberania nacional.
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Einstein está absolutamente correto, porque as grandes potências se opõem a qualquer
limitação de sua soberania nacional para poderem agir sem limitações em suas ações
imperialistas sobre os países mais fracos. Einstein está correto ao afirmar que grupo
reduzido, porém decidido, existente em cada nação, composto de indivíduos são
indiferentes às condições e aos controles sociais, porque consideram a guerra, a
fabricação e venda de armas simplesmente como uma oportunidade de expandir seus
interesses pessoais e ampliar sua autoridade pessoal. Este é o caso dos Estados Unidos
que mais se beneficiam economicamente de confrontos armados, já que as maiores
exportadoras de armas do mundo são norte-americanas. Para além da venda de munição
e armas, os Estados Unidos monetiza, também, com contratos de segurança e treinamento
militar, o que faz com que muitos membros do Congresso estadunidense entendam as
guerras como uma máquina de emprego e dinheiro para o país. A paz, para os Estados
Unidos, poderia lhe custar muito caro.
3. Einstein pergunta: como é possível a essa pequena súcia que governa um país
conseguir dobrar a vontade da maioria, que se resigna a perder e a sofrer com uma
situação de guerra, a serviço da ambição de poucos? Ao falar em maioria, Einstein
não exclui os soldados, de todas as graduações, que escolheram a guerra como
profissão, na crença de que estejam servindo à defesa dos mais altos interesses de sua
raça e de que o ataque seja, muitas vezes, o melhor meio de defesa. Segundo Einstein,
parece que uma resposta óbvia a essa pergunta seria que a minoria, a classe dominante
atual, possui as escolas, a imprensa e, geralmente, também a Igreja, sob seu poderio
que possibilita organizar e dominar as emoções das massas e torná-las instrumento da
mesma minoria. Einstein pergunta ainda: como esses mecanismos conseguem tão
bem despertar nos homens um entusiasmo extremado, a ponto de estes sacrificarem
suas vidas? Einstein acha que pode haver apenas uma resposta porque o homem
encerra dentro de si um desejo de ódio e destruição. Em tempos normais, essa paixão
existe em estado latente, emerge apenas em circunstâncias anormais; é, contudo,
relativamente fácil despertá-la e elevá-la à potência de psicose coletiva. Einstein
afirma que, talvez aí esteja o ponto crucial de todo o complexo de fatores que estamos
considerando, um enigma que só um especialista na ciência dos instintos humanos
pode resolver, como Freud.
Einstein está certo ao afirmar que a classe dominante atual possui as escolas, a imprensa
e, geralmente, também a Igreja, sob seu poderio que possibilita organizar e dominar as
emoções das massas e torná-las instrumento da mesma minoria. Segundo Althusser, na
escola, além de ler e escrever, são aprendidas também as regras do "bom
comportamento", ou seja, aprende-se a ser submisso à ordem vigente, fazendo com que
as pessoas sejam submissas em relação à ideologia dominante (ALTHUSSER, Louis.
Aparelhos ideológicos de estado. 6ª Ed. Rio de Janeiro: Graal, 1985). Os aparelhos
ideológicos de estado (escola, imprensa, igreja e a mídia em geral), trabalham sobre a
mente das pessoas. O sistema de diferentes igrejas, o sistema escolar (tanto público quanto
privado), o sistema familiar, o sistema jurídico, o sistema político, o sistema sindical, o
sistema de informação e o sistema cultural são integrantes dos aparelhos ideológicos de
estado. Não apenas as escolas, a imprensa e a Igreja colaboram com as classes dominantes
para colocar a maioria da população a serviço da guerra. Na primeira metade do século
XX, o radio exerceu um papel fundamental na mistificação das massas pela propaganda
política. Hoje, são as redes sociais e a mídia em geral que cumprem o papel de
mistificação das massas pela propaganda política.
Einstein pergunta a Freud se é possível controlar a evolução da mente do homem, de
modo a torná-lo à prova das psicoses do ódio e da destrutividade? Aqui, Einstein não está
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se referindo tão-somente às chamadas massas incultas. Einstein afirma que a experiência
prova que é, antes, a chamada ‘Intelligentzia’ a mais inclinada a ceder a essas desastrosas
sugestões coletivas. Einstein solicitou a Freud que apresentasse o problema da paz
mundial sob o enfoque das suas mais recentes descobertas, pois uma tal apresentação bem
poderia demarcar o caminho para novos e frutíferos métodos de ação.
As respostas de Freud em carta endereçada para Einstein foram as seguintes:
1. Freud afirma que as guerras somente serão evitadas com certeza, se a humanidade se
unir para estabelecer uma autoridade central a quem será conferido o direito de
arbitrar todos os conflitos de interesses. Nisto estão envolvidos claramente dois
requisitos distintos: criar uma instância suprema e dotá-la do necessário poder. Uma
sem a outra seria inútil. A Liga das Nações é destinada a ser uma instância dessa
espécie, mas a segunda condição não foi preenchida: a Liga das Nações não possui
poder próprio, e só pode adquiri-lo se os membros da nova união, os diferentes
estados, se dispuserem a cedê-lo. E atualmente não existe ideia alguma que, espera-
se, venha a exercer uma autoridade unificadora dessa espécie. Na realidade, é por
demais evidente que os ideais nacionais, pelos quais as nações se regem nos dias de
hoje, atuam em sentido oposto.
Freud defende a existência de uma instância suprema dotada do necessário poder, isto é,
um governo mundial a quem seria conferido o direito de arbitrar todos os conflitos
internacionais. A crítica que ele fez à Liga das Nações que existiu entre a 1ª e a 2ª Guerra
Mundial se aplica, também, à ONU criada depois da 2ª Guerra Mundial e que se mostra
impotente para lidar com os conflitos internacionais.
2. Freud afirma que inflamar nos homens o entusiasmo pela guerra insere a suspeita de
que neles existe um instinto de ódio e de destruição que coopera com os esforços dos
mercadores da guerra. Freud acredita na existência de um instinto dessa natureza que,
durante os últimos anos, tem se ocupado realmente em estudar suas manifestações.
Freud afirma que os instintos humanos são de apenas dois tipos: aqueles que tendem
a preservar e a unir — que denominamos ‘eróticos’, exatamente no mesmo sentido
em que Platão usa a palavra ‘Eros’ em seu Symposium, ou ‘sexuais’, com uma
deliberada ampliação da concepção popular de ‘sexualidade’ —; e aqueles que
tendem a destruir e matar, os quais ele agrupou como instinto agressivo ou destrutivo
quando os seres humanos são incitados à guerra, podem ter toda uma gama de motivos
para se deixarem levar — uns nobres, outros vis, alguns francamente declarados,
outros jamais mencionados. Esse instinto está em atividade em toda criatura viva e
procura levá-la ao aniquilamento, reduzir a vida à condição original de matéria
inanimada. Portanto, para Freud, merece, com toda seriedade, ser denominado
instinto de morte, ao passo que os instintos eróticos representam o esforço de viver.
O instinto de morte torna-se instinto destrutivo quando, com o auxílio de órgãos
especiais, é dirigido para fora, para objetos. O organismo preserva sua própria vida,
por assim dizer, destruindo uma vida alheia. Segundo Freud, uma parte do instinto de
morte, contudo, continua atuante dentro do organismo, que ele tem procurado atribuir
numerosos fenômenos normais e patológicos a essa internalização do instinto de
destruição. Isto serviria de justificação biológica para todos os impulsos condenáveis
e perigosos contra os quais lutamos.
A visão de Freud é a de que a violência representa o predomínio do instinto animal que
possuímos. Esta não é a opinião de eminentes pensadores como Raymond Aron (filósofo
e sociólogo francês), Henry Bergson (filósofo e diplomata francês), Carl Rogers (norte-
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americano precursor da psicologia humanista), Jean-Jaques Rousseau (escritor e filósofo
suíço) e Karl Marx (economista, filósofo, historiador e cientista político alemão) que
consideram que o comportamento agressivo do ser humano resulta do contexto social.
Isto explicaria a escalada da criminalidade e das guerras em todas as épocas em todo o
mundo. Há milênios cientistas e filósofos levantam a seguinte questão: a natureza humana
é inata ou é produto do ambiente ou de ambos? É determinada geneticamente como
admite Freud ou pela sociedade onde vive o ser humano ou por ambos? Por que o mundo
se torna mais violento a cada ano? Não apenas se verifica um aumento do número de
conflitos armados no globo, como as próprias pessoas estão mais violentas. Qual a
explicação para isso? Não é incomum a afirmativa de que desde que o mundo é mundo,
sempre existiu a violência entre os seres humanos. Será difícil encontrar alguém hoje que
não acredite nesta afirmativa. E, no entanto, ela é falsa. Nos primórdios da humanidade
não havia a violência que se manifesta hoje nas relações entre os indivíduos e entre as
comunidades humanas.
Segundo Raymond Aron, nenhum ser humano, nenhum povo daquele tempo longínquo
teria tido a ideia de agredir um seu semelhante (ARON, Raymond. Paz e Guerra entre as
Nações. Editora Universidade de Brasília, 1962). Nem sequer, eles seriam capazes de,
por exemplo, anexar terras do seu vizinho contra a sua vontade, por meio da força bruta.
É difícil tentar estabelecer um paralelo entre o modo de vida dos seres humanos daquela
época com a humanidade de hoje. Naquela época, o viver em paz e harmonia com os seus
semelhantes era para os seres humanos algo tão natural como respirar, comer e dormir.
Seres humanos já viveram na Terra, sem se ofenderem ou se maltratarem uns aos outros,
muito menos guerrearem entre si. Isso, contudo, foi há muito, muito tempo. Nenhum
registro dessa época chegou até o presente e, por isso, é suposto que esta situação não
tenha existido.
Segundo Raymond Aron, à medida que a vida do homem se organiza em famílias e em
bandos, menos prováveis nos poderiam parecer as condutas propriamente belicosas. A
maior parte dos animais luta, mas são raras as espécies que praticam a guerra, entendida
como ação coletiva e organizada. Aron afirma que a o homo sapiens surgiu há cerca de
600.000 anos. A revolução neolítica, a agricultura regular e a criação de animais datam
de uns 10.000 anos. As civilizações ou sociedades complexas surgiram há cerca de 6.000
anos. Isto significa dizer que o período denominado histórico representa um centésimo da
duração total da existência da humanidade no planeta Terra. Segundo Aron, nenhum
antropólogo encontrou jamais qualquer prova de que os homens tivessem elaborado uma
organização ou uma tática de combate antes da idade Idade do Bronze (3300 a.C. a 1300-
700 a.C.). Não surpreende, pois, que os primeiros indícios incontestáveis dos exércitos e
da guerra datem da Idade do Bronze que é um período da civilização no qual ocorreu o
desenvolvimento desta liga metálica resultante da mistura de cobre com estanho.
Aron afirma que, na espécie humana, as manifestações de agressividade são inseparáveis
da vida coletiva. Mesmo quando se trata da reação de um indivíduo contra outro, a
agressividade é influenciada, de muitos modos, pelo contexto social. O surgimento de
uma existência propriamente social não foi a única causa das novas dimensões que
assumiu o fenômeno da agressividade: a frustação e a inadaptação que levam o indivíduo
à reação agressiva constituem o fato mais importante nas relações humanas. Aron é
defensor da tese de que a frustação é uma experiência psíquica, revelada pela consciência.
Todos os indivíduos sentem frustações desde a infância. A frustação é antes de mais nada
a experiência de uma privação, isto é, um bem desejado e não alcançado, uma opressão
sentida penosamente. A cadeia de causalidade que leva às emoções ou aos atos de
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agressividade se origina sempre em um fenômeno externo e não internamente ao
indivíduo. Não há prova fisiológica que haja uma incitação espontânea à luta, originada
no próprio organismo do indivíduo como afirma Freud. A agressão física e a vontade de
destruir não constituem a única reação possível à frustração. A dificuldade em manter a
paz está mais relacionada à humanidade do homem do que à sua animalidade.
Assim como para os primeiros seres humanos seria inconcebível a ideia de causar
qualquer dano ao seu semelhante, hoje, soa como ilusão, fantasia, a ideia de um mundo
sem conflitos, por considerarmos a violência como uma característica inerente ao ser
humano. Pode-se especular se não teria havido uma fase intermediária entre os muitos
milênios durante os quais o homem viveu sob a ameaça das feras e o período, bem mais
curto, em que a ameaça a sua segurança passou a se originar em outros homens. Seria
uma época em que os homens possuíam meios técnicos suficientes para a defesa contra
as feras e sem engajamento na busca das riquezas e nas lutas de classes, nas conquistas e
nos domínios. Está demonstrado que sociedades pequenas, sem instrumentos metálicos,
isoladas, ainda não mostram traços característicos das sociedades belicosas. Raymond
Aron afirma em sua obra Paz e Guerra entre as Nações que os biólogos chamam de
agressividade a propensão de um animal a atacar outro da mesma espécie ou espécie
diferente. Na maior parte das espécies (mas não em todas) os indivíduos lutam entre sí.
Alguns não são agressivos (isto é, não tomam a iniciativa do ataque), mas se defendem
quando são atacados. Entre os primatas, o homem se situa na parte inferior da escala de
agressividade.
Henry Bergson, por sua vez, afirma que a origem da violência e da guerra é a existência
da propriedade, individual ou coletiva, e como a humanidade está predestinada à
propriedade, pela sua estrutura, a violência e a guerra seria natural (BERGSON, Henry.
Les Deux Sources de la Morale et de la Religion. French & European Pubns, 1976). O
artigo de Sonia Maria Lima de Gusmão sob o título A natureza humana segundo Freud e
Rogers postado no website <https://encontroacp.com.br/textos/a-natureza-humana-
segundo-freud-e-rogers/> mostra que Carl Rogers tem uma visão oposta à de Freud, pois
ele acredita que é justamente em um contexto coercitivo, onde o indivíduo não pode
expandir-se, ou melhor, atualizar o seu potencial, que o torna hostil ou antissocial, caso
contrário, nada temos a temer, pois, seu comportamento tenderá a ser construtivo. Rogers
observa que, quando o homem é, verdadeiramente, livre para tornar-se o que ele é no mais
fundo de seu ser, quando é livre para agir conforme sua natureza, como um ser capaz de
perceber as coisas que o cercam, então ele, nitidamente, se encaminha para a globalidade
e a integração.
O artigo de Dalva de Fatima Fulgeri sob o título Conceito de natureza em Rousseau
postado no website <http://www.paradigmas.com.br/parad12/p12.6.htm> mostra que J.J.
Rousseau pensava que as guerras surgem, ou pelo menos se ampliam, com a expansão
das coletividades e que a desigualdade de classe e a propriedade individual estão ligadas
às guerras de conquista e ao domínio pelos guerreiros. Não poderia ser diferente, uma vez
que as unidades políticas foram forjadas para o combate e o preço da vitória foi sempre a
terra, escravos e metais preciosos. Para Marx, o que caracteriza o homem não é apenas a
racionalidade, mas o fato de ser o artífice do seu próprio desenvolvimento. Os seres
humanos são capazes de mudar o mundo ao seu redor e, fazendo isso, mudam a si
mesmos. O artigo A Natureza do Homem Segundo Karl Marx, postado no website
<http://nomosofia.blogspot.com.br/2011/10/natureza-do-homem-segundo-karl-
marx.html>) informa que Marx apresentou uma definição da essência da natureza humana
nos Manuscritos Filosóficos, caracterizando os seres humanos como atividade livre e
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consciente, em contraste com a natureza do animal. Marx afirma que os conflitos sociais
resultam da divisão da sociedade em classes com o surgimento da propriedade privada
em substituição à propriedade coletiva dos meios de produção imperante nas sociedades
primitivas. Constata-se, pelo exposto, que os grandes pensadores analisados se opõem à
tese de Freud de que o instinto animal destrutivo, instinto da morte, é a causa do
comportamento violento do ser humano.
3. Freud afirma que, de nada vale tentar eliminar as inclinações agressivas dos homens.
Se o desejo de aderir à guerra é um efeito do instinto destrutivo, a recomendação mais
evidente será contrapor-lhe o seu antagonista, Eros. Um exemplo da desigualdade
inata e irremovível dos homens é sua tendência a se classificarem em dois tipos, o dos
líderes e o dos seguidores. Esses últimos constituem a vasta maioria; têm necessidade
de uma autoridade que tome decisões por eles e à qual, na sua maioria devotam uma
submissão ilimitada. Isto sugere que se deva dar mais atenção, do que até hoje se tem
dado, à educação da camada superior dos homens dotados de mentalidade
independente, não passível de intimidação e desejosa de manter-se fiel à verdade, cuja
preocupação seja a de dirigir as massas dependentes.
Freud considera que as inclinações agressivas dos homens não podem ser eliminadas. Ele
sugere apenas a educação dos líderes excluindo a de seus seguidores. Para fazer com que
os seres humanos tenham comportamento construtivo e sejam capazes de mudar o mundo
ao seu redor, é preciso educar a todos com a cultura da paz e promover mudanças no
contexto social que contribuam para satisfazer as necessidades humanas, haja vista que
os atos de agressividade do homem se originam sempre em um fenômeno externo e não
internamente ao indivíduo. Kant, o filósofo, assim compreende a educação: desenvolver
no indivíduo toda a perfeição de que ele é suscetível, tal é a finalidade da educação.
Pestalozzi, o pedagogo, diz: educar é desenvolver progressivamente as faculdades
espirituais do homem. John Locke, grande preceptor, se expressa desta maneira sobre o
assunto: educar é fazer Espíritos retos, dispostos, a todo o momento, a não praticarem
coisa alguma que não seja conforme à dignidade e à excelência de uma criatura sensata.
Lessing, autoridade não menos ilustre, compara a obra da educação à obra da revelação,
e diz: a educação determina e acelera o progresso e o aperfeiçoamento do homem.
Pelo exposto, Einstein e Freud defendem a existência de um governo mundial para mediar
os conflitos internacionais. Einstein admite e Freud defende a tese de que existe um
instinto animal no ser humano que contribui para sua agressividade. Ao contrário de
Einstein e Freud, Raymond Aron (filósofo e sociólogo francês), Henry Bergson (filósofo
e diplomata francês), Carl Rogers (norte-americano precursor da psicologia humanista),
Jean-Jaques Rousseau (escritor e filósofo suíço) e Karl Marx (economista, filósofo e
cientista político alemão) defendem a tese de que a agressividade humana resulta do
ambiente em que vive o ser humano. Para fazer com que os seres humanos tenham
comportamento construtivo e sejam capazes de mudar o mundo ao seu redor, é preciso
educar a todos com a cultura da paz e promover mudanças no ambiente social que
contribuam para satisfazer as necessidades humanas, haja vista que os atos de
agressividade do homem se originam sempre em um fenômeno externo e não
internamente ao indivíduo.
* Fernando Alcoforado, 83, condecorado com a Medalha do Mérito da Engenharia do Sistema
CONFEA/CREA, membro da Academia Baiana de Educação, da SBPC- Sociedade Brasileira para o
Progresso da Ciência e do IPB- Instituto Politécnico da Bahia, engenheiro e doutor em Planejamento
Territorial e Desenvolvimento Regional pela Universidade de Barcelona, professor universitário
(Engenharia, Economia e Administração) e consultor nas áreas de planejamento estratégico, planejamento
empresarial, planejamento regional e planejamento de sistemas energéticos, foi Assessor do Vice-
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Presidente de Engenharia e Tecnologia da LIGHT S.A. Electric power distribution company do Rio de
Janeiro, Coordenador de Planejamento Estratégico do CEPED- Centro de Pesquisa e Desenvolvimento da
Bahia, Subsecretário de Energia do Estado da Bahia, Secretário do Planejamento de Salvador, é autor dos
livros Globalização (Editora Nobel, São Paulo, 1997), De Collor a FHC- O Brasil e a Nova (Des)ordem
Mundial (Editora Nobel, São Paulo, 1998), Um Projeto para o Brasil (Editora Nobel, São Paulo, 2000), Os
condicionantes do desenvolvimento do Estado da Bahia (Tese de doutorado. Universidade de
Barcelona,http://www.tesisenred.net/handle/10803/1944, 2003), Globalização e Desenvolvimento (Editora
Nobel, São Paulo, 2006), Bahia- Desenvolvimento do Século XVI ao Século XX e Objetivos Estratégicos
na Era Contemporânea (EGBA, Salvador, 2008), The Necessary Conditions of the Economic and Social
Development- The Case of the State of Bahia (VDM Verlag Dr. Müller Aktiengesellschaft & Co. KG,
Saarbrücken, Germany, 2010), Aquecimento Global e Catástrofe Planetária (Viena- Editora e Gráfica,
Santa Cruz do Rio Pardo, São Paulo, 2010), Amazônia Sustentável- Para o progresso do Brasil e combate
ao aquecimento global (Viena- Editora e Gráfica, Santa Cruz do Rio Pardo, São Paulo, 2011), Os Fatores
Condicionantes do Desenvolvimento Econômico e Social (Editora CRV, Curitiba, 2012), Energia no
Mundo e no Brasil- Energia e Mudança Climática Catastrófica no Século XXI (Editora CRV, Curitiba,
2015), As Grandes Revoluções Científicas, Econômicas e Sociais que Mudaram o Mundo (Editora CRV,
Curitiba, 2016), A Invenção de um novo Brasil (Editora CRV, Curitiba, 2017), Esquerda x Direita e a sua
convergência (Associação Baiana de Imprensa, Salvador, 2018, em co-autoria), Como inventar o futuro
para mudar o mundo (Editora CRV, Curitiba, 2019), A humanidade ameaçada e as estratégias para sua
sobrevivência (Editora Dialética, São Paulo, 2021), A escalada da ciência e da tecnologia ao longo da
história e sua contribuição ao progresso e à sobrevivência da humanidade (Editora CRV, Curitiba, 2022),
de capítulo do livro Flood Handbook (CRC Press, Boca Raton, Florida, United States, 2022) e How to
protect human beings from threats to their existence and avoid the extinction of humanity (Generis
Publishing, Europe, Republic of Moldova, Chișinău, 2023).