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Everton Lazzaretti Picolotto
Joel Orlando Bevilaqua Marin
Juventude Rural
Estudo na Região Central do Rio Grande do Sul
Rio de Janeiro, 2018
EDITORA BONECKER
Editora Bonecker Ltda
Rio de Janeiro
1ª Edição
Novembro de 2018
ISBN: 978-85-7077-034-9
Todos os direitos reservados.
É proibida a reprodução deste livro com fins comerciais sem prévia
autorização dos autores e da Editora Bonecker.
Projeto Gráfico: Celeste M. N. Ribeiro
J97
Juventude rural: estudo na região central do Rio Grande do Sul /
Everton Lazzaretti Picolotto, Joel Orlando Bevilaqua Marin. – Rio de
Janeiro: Bonecker, 2018.
100 p. : 14 x 21 cm
ISBN 978-85-7077-034-9
1. Desenvolvimento rural. 2. Rio Grande do Sul. 3. Juventude
Rural. 4. Extensão rural. I. Título.
CDD-307.1
S U M Á R I O
INTRODUÇÃO  ....................................................................................................  14
RENDA,TRABALHO FAMILIAR E GESTÃO DA PROPRIEDADE  .....................  17
ESTUDOS ESCOLARES  ....................................................................................  33
INFRAESTRURA  ...............................................................................................  43
ORGANIZAÇÃO SOCIAL  ..................................................................................  55
ASSISTÊNCIA TÉCNICA E EXTENSÃO RURAL  ..............................................  62
POLÍTICAS PÚBLICAS  .....................................................................................  70
PROBLEMAS DA JUVENTUDE  ........................................................................  80
PERSPECTIVAS FUTURAS  ..............................................................................  91
CONSIDERAÇÕES FINAIS  ...............................................................................  97
APRESENTAÇÃO
Em 2013, um grupo de técnicos da Emater/RS, vinculados ao Escri-
tório Regional de Santa Maria, iniciou um processo reflexão sobre a necessi-
dade de instituir ações de assistência técnica e extensão rural, especialmente
orientadas à juventude rural. Os primeiros investimentos foram no sentido
da mobilização de diversos segmentos representativos da juventude rural
da região central do RS para organizar esforços na construção coletiva de
propostas de trabalho de inserção social e produtiva dos jovens rurais.
A partir de então, técnicos da Emater/RS da região central de Santa
Maria constituíram um Grupo Temático de Juventude Rural com o propósi-
to de desencadear processos de articulações interinstitucionais para desen-
volver e qualificar projetos de Assistência Técnica e Extensão Rural (ATER)
orientados aos interesses da juventude rural. Na sequência, em reunião téc-
nica de planejamento e avaliação das ações de ATER com jovens rurais, foi
discutida a necessidade de constituir um Grupo Interinstitucional de Estu-
dos e Ações com a Juventude Rural da região central do RS para estabelecer
estratégias de qualificação do trabalho com essa categoria social.
O Grupo Interinstitucional ficou sob a coordenação de Ângela Bea-
tris Araújo da Silva Pereira, assistente técnica de juventude rural da regional
de Santa Maria, e contou com a participação, por adesão, de extensionistas
representantes de 18 municípios: Agudo, Cacequi, Dilermando de Aguiar,
Dona Francisca, Faxinal do Soturno, Jaguari, Jari, Júlio de Castilhos, Mata,
Nova Esperança do Sul, Nova Palma, Quevedos, Restinga Seca, São João
do Polêsine, São Martinho da Serra, Silveira Martins, Toropi, Tupanciretã
e Unistalda.
No ano seguinte, agregaram-se instituições e lideranças juvenis, es-
tudantes da UFSM e jovens da Casa Familiar Rural, bem como professores
da UFSM, do Instituto Federal Farroupilha de São Vicente do Sul, Júlio de
Castilhos e Jaguari. O esforço coletivo se deu no sentido de participar das
reflexões do Grupo Temático da Emater e de construir um Programa de
Estudos e de Ações com a Juventude Rural.
O Programa teve os seguintes objetivos: 1) estabelecer diretrizes de
ações do Grupo Interinstitucional; 2) elaborar propostas de ações de assis-
tência técnica e extensão com a juventude rural da região; 3) realizar le-
vantamentos de dados documentais e da realidade social dos jovens rurais;
4) conhecer os problemas que interferem na reprodução social da juventu-
de rural e nos processos sucessórios; 5) proporcionar conhecimentos para
qualificar a ação das instituições envolvidas na assessoria aos jovens rurais.
Para atingir esses objetivos, o Grupo Interinstitucional percebeu a necessi-
dade de realizar um amplo diagnóstico sobre a realidade socioeconômica
dos jovens rurais, com vistas a compreender a situação da juventude na re-
gião central do RS.
Sob a perspectiva da UFSM, as participações dos professores e dos es-
tudantes bolsistas foram viabilizadas por meio de projetos de extensão uni-
versitária, que contou com apoio do Centro de Ciências Sociais e Humanas
por meio de editais do Fundo de Incentivo à Extensão Universitária (FIEX).
Os objetivos gerais desses projetos foram: 1) colaborar nas atividades de re-
flexão crítica com extensionistas da Emater e jovens rurais a fim de, conjun-
tamente, conhecer as instituições e as políticas públicas que orientam a ação
dos jovens rurais na região central do RS; 2) colaborar na construção de um
diagnóstico sobre a realidade socioeconômica da juventude rural; 3) partici-
par de seminários temáticos de reflexão sobre a realidade da juventude rural
na região com as organizações e os grupos de jovens envolvidos.
Inicialmente, o Grupo Interinstitucional de Estudos e Ações com Ju-
ventude Rural realizou um levantamento sobre os municípios da região on-
de existem grupos de jovens organizados e sobre interesse e disponibilidade
dos extensionistas da Emater/RS em participar do referido projeto. Em um
segundo momento, o Grupo Interinstitucional elaborou um questionário
socioeconômico para compreender a realidade da juventude rural nesses
munícipios a partir da construção de uma sólida base de dados quantita-
tivos. A participação dos profissionais da UFSM foi fundamental na ela-
boração do questionário, pois o conhecimento e a prática de realização de
pesquisas auxiliaram na construção do instrumento e no atendimento das
expectativas dos diversos agentes envolvidos.
Para esse momento, integrantes do Grupo Interinstitucional levan-
taram a demanda de espaços de formações em metodologias de investiga-
ção social para os integrantes do grupo. Em atendimento, os professores da
UFSM ofereceram cursos de capacitação em metodologia da pesquisa para
os membros envolvidos no levantamento de dados quantitativos e qualitati-
vos sobre a juventude rural.
Após os cursos de formação, foi realizada uma nova rodada de dis-
cussão no Grupo Interinstitucional sobre os municípios da região onde
seriam aplicados os questionários. Ficou acordado que os questionários se-
riam aplicados em 14 municípios: Dilermando de Aguiar, Nova Esperança
do Sul, Nova Palma, Silveira Martins, Restinga Seca, Dona Francisca, Mata,
Cacequi, Quevedos, Agudo, Toropi, Unistalda, Tupanciretã e Jari. Nesses
locais, técnicos da Emater/RS, que integravam o Grupo Interinstitucional,
realizaram um importante trabalho de mobilização e sensibilização para
apresentar os objetivos do projeto, ampliar as atividades de reflexão e estudo
sobre a realidade da juventude e sanar as dúvidas relacionadas à aplicação
do questionário de dados quantitativos.
Os questionários foram aplicados pelos técnicos da Emater/RS, em
seus respectivos municípios, ao longo do segundo semestre de 2014 e início
de 2015. Ao final do trabalho de campo, foram contabilizados um total de
191 questionários. Os questionários foram tabulados com auxílio dos pro-
fessores e alunos da UFSM. No primeiro semestre de 2015, foram realizadas
as primeiras análises desses dados pelos membros do Grupo Interinstitu-
cional. Entre outras informações, os dados apontavam as dificuldades que
os jovens enfrentavam para permanecer no rural, relacionadas à produção
e gestão do trabalho familiar, educação escolar, educação informal, infraes-
trutura, políticas públicas e organização social.
Em paralelo à aplicação dos questionários, integrantes do Grupo In-
terinstitucional começaram a construir um roteiro de entrevistas semies-
truturadas, visando complementar e aprofundar algumas informações
levantadas pelos questionários. A entrevista semiestruturada, por ser uma
técnica de pesquisa mais flexível, procurou captar, em profundidade, aspec-
tos objetivos e subjetivos da realidade vivida pelos jovens rurais da região
central do RS.
As entrevistas qualitativas foram aplicadas entre os meses de janeiro
e junho de 2015 pelos extensionistas da Emater e professores do Instituto
Federal Farroupilha. No primeiro semestre de 2016, com vistas à comple-
mentação de dados qualitativos, um bolsista do FIEX/UFSM, vinculado ao
projeto, também realizou entrevistas semiestruturadas com jovens rurais
do município de Agudo. Ao final, foram realizadas um total de 12 entre-
vistas aprofundadas com jovens da região. Os bolsistas FIEX também rea-
lizaram transcrição das entrevistas gravadas em áudio e colaboraram nos
trabalhos de sistematização dos dados qualitativos.
Por demanda do Grupo Interinstitucional, foi realizado um esforço
para a tabulação e descrição dos dados quantitativos pela equipe da UFSM.
Os bolsistas, sob a orientação de professores, realizaram o trabalho de ta-
bulação e sistematização preliminar dos dados quantitativos. Esses dados
foram apresentados e disponibilizados para o Grupo de forma detalhada
em uma reunião ampliada, realizada no dia 25 de junho de 2015. A par-
tir do segundo semestre de 2015, o Grupo Interinstitucional desencadeou
a realização de reuniões e seminários regionais da juventude rural nas três
microrregiões da Emater de Santa Maria para discutir temas de interesse da
juventude rural – levando em consideração os dados do diagnóstico socioe-
conômico – e as ações que poderiam ser realizadas com jovens rurais.
Em Agudo, a equipe de extensionistas da Microrregião 03 da Ema-
ter de Santa Maria organizou o II Seminário de Juventude Rural, com o
propósito de levantar as demandas coletivas dos jovens rurais e questões
de convivência social que interferem na qualidade de vida no meio rural.
As discussões versaram sobre qualificação profissional, atividades espor-
tivas e culturais, obras de infraestrutura e práticas de socialização. Como
encaminhamento desse Seminário, ficou acordado que o aprofundamento
dos debates e a construção de propostas para a juventude rural requer a
participação ativa dos agentes social vinculados à Emater, aos Conselhos de
Juventude e aos Grupos e Associações Juvenis Rurais de Agudo.
No ano de 2016, foram tomadas importantes medidas no sentido de
institucionalização de equipes de trabalho e desenvolvimento das primeiras
ações de desenvolvimento da juventude rural na região central do RS. A
equipe da Microrregião 03 da Emater deu continuidade aos trabalhos com a
realização do III Seminário de Juventude Rural em Agudo. Além de jovens
rurais, o evento contou com a participação de extensionistas, dirigentes da
Emater na região, líderes de sindicatos e cooperativas, representantes das
secretarias de governo municipal, professores e bolsistas da UFSM. Nesse
Seminário, o objetivo foi apresentar os resultados do Diagnóstico da Juven-
tude Rural da Região Central de Santa Maria e motivar os participantes para
a elaboração de um projeto de ação com a juventude rural local.
Desde abril de 2016, na Microrregião 01 da Emater Regional de Santa
Maria, composta pelos municípios Cacequi, Capão do Cipó, Jaguari, Jari,
Mata, Nova Esperança do Sul, Quevedos, Santiago, São Francisco de As-
sis, São Pedro do Sul, São Vicente do Sul, Toropi e Unistalda, a equipe de
extensionistas organizou o primeiro encontro com lideranças na cidade de
Santiago, com a finalidade de apresentar uma proposta de trabalho com a
juventude rural. Nesse evento, foi constituído o Comitê Gestor Microrregio-
nal da Juventude Rural com a incumbência de pensar e delinear processos
de construção coletiva de propostas de desenvolvimento para a juventude
rural e de ações afirmativas da sucessão rural no campo. Ainda como enca-
minhamento, ficou acordada a formação de um Comitê Gestor Municipal
em todos os municípios da Microrregião 01 da Emater de Santa Maria para
planejar devidamente os trabalhos com a juventude rural, considerando di-
ferenciados problemas e propostas de desenvolvimento de cada município,
cabendo ao Comitê Gestor Microrregional os papéis de avaliação e aprova-
ção dos planos municipais.
Assim, nos diversos municípios da Microrregião 01 da Emater Regio-
nal de Santa Maria, constituíram-se Comitês Gestores Municipais da Juven-
tude Rural, os quais, evidentemente, trabalham com dinâmicas e estratégias
diferenciadas de ação. Integrantes dos Comitês Microrregional e Munici-
pais da Juventude Rural também passaram a realizar reuniões com as famí-
lias e com gestores municipais para efetivar trabalhos em parcerias. Já em
agosto de 2016, na cidade de Jaguari, foi realizado o I Encontro Microrregio-
nal de Jovens Rurais, com o objetivo principal de fazer o lançamento oficial
do Comitê Gestor Microrregional da Juventude Rural, que contou com a
participação de dirigentes e técnicos da Emater, autoridades municipais,
representantes de organizações de agricultores familiares, representantes
de instituições de ensino técnico e universitários e, aproximadamente, 200
jovens rurais.
No conjunto dessas ações, os professores da UFSM participaram com
a apresentação dos resultados do Estudo da Juventude Rural da Região Cen-
tral do Rio Grande e com reflexões para a construção conjunta de propostas
de desenvolvimento da juventude rural e de ações afirmativas para os pro-
cessos de sucessão rural no campo.
Em síntese, entre 2013 e 2016, diversas pessoas e instituições agrega-
ram-se no esforço de construir projetos e ações para a inserção da juventu-
de rural em processos de desenvolvimento rural. Nessa caminhada, esses
agentes se sensibilizaram com a difícil situação dos jovens rurais, percebe-
ram a importância da inclusão social da juventude rural e já colocaram em
marcha algumas iniciativas, que podem representar os primeiros passos de
uma grande construção coletiva. Os jovens rurais nos revelaram, com nú-
meros e com palavras, que vivenciam situações dramáticas e que precisam
de apoios múltiplos para garantir inserções positivas na sociedade, seja nas
cidades ou nos campos. Números e palavras, contidos em estudo descritivo,
revelam não somente uma realidade que precisa ser superada, mas também
sonhos de uma vida futura no campo, com terra, com trabalho, com renda
e, sobretudo, com dignidade.
Por fim, vale registrar que, num primeiro momento, o presente texto
foi submetido à publicação em Revista de divulgação da Emater/RS, com
autoria interinstitucional. Com o indeferimento, os autores decidiram pela
publicação em formato de livro, com propósito de divulgar os resultados do
diagnóstico da juventude rural da região central do RS, entre agentes de de-
senvolvimento rural, jovens rurais, estudantes e pesquisadores interessados
nas problemáticas da juventude rural e do futuro da agricultura familiar
nessa Região. Portanto, visando contribuir com o debate sobre a situação
atual da juventude rural e as políticas públicas, agora publicamos os resulta-
dos dessa caminhada do Grupo Interinstitucional da Juventude Rural.
Vale ressaltar que os resultados apresentados neste livro só tornaram-
-se possíveis pelo trabalho coletivo de diversas pessoas vinculadas a distintas
instituições, que participaram nos debates e nos trabalhos de levantamentos
de dados empíricos. Por isso, nós, autores deste livro, queremos expressar
nossos sinceros e efusivos agradecimentos a todas as pessoas e instituições,
nominadas em sequência, que se dedicaram incansavelmente ao trabalho
em prol do reconhecimento e da afirmação da juventude rural da região
central do RS. Também somos muito gratos ao Centro de Ciências Sociais
e Humanas e ao Centro de Ciências Rurais da UFSM, que destinaram re-
cursos para os projetos de extensão universitária e a publicação desse livro.
EXTENSIONISTAS DA EMATER/RS
Coordenação Geral
Ângela Beatris Araújo da Silva Pereira
Cláudia Bernardini
Cláudio Fenando Lucca da Cunha
Francisco Antonio Palermo
Gilmar De Ponte
José Renato Lovato Cadó
Marilene Morais Ferreira
Regina Helena Santarem Hernandes
Equipe de pesquisa da Emater – Regional de Santa Maria
Aline Baldissera Marzari
Aline Berlese Suertegaray
Anderson Denardin Cardoso
Angela Maria Freiberger dos Santos
Bruna Mezzomo Neubauer
Carmem Michelsky
Clari Jani Fortes Machado Tessari
Claudia Bernardini
Claudio Fenando Lucca da Cunha
Eliane Guimaraes Lopes
Eronita Pereira da Rocha
Eva Berani Lopes Marafiga
Fabricia Tadia
Flávio Junior Rumpel Brum
Iolanda Ernei da Silva oliveira
Juliana Gomes da Silva
Lisandra Bolzan Snowareski
Marcia Reolon Morozo
Marizete Rockenbach
Rafael da Silva Vargas
Sabrina Schunke
Silvia Adriana Pinzon Gomes
Vanessa Moleta Pazza
EQUIPE DO INSTITUTO FEDERAL FARROUPILHA
Danívia Prestes – IFFAR São Vicente
Paulo Roberto Lecconi Deon – IFFAR São Vicente
Simone Bochi Dornelles – IFFAR São Vicente
EQUIPE DA ESCOLA FAMÍLIAR AGRÍCOLA
Carina Rejane Pivetta
Leandro Dalbianco
EQUIPE DA UFSM
Professores da UFSM
Everton Lazzaretti Picolotto
Joel Orlando Bevilaqua Marin
Andréa Cristina Döor
Bolsistas da UFSM
Cristina Bremm
Eduardo Jaehn
Rodson Casanova
Paôla Qoos Pfeifer
1
INTRODUÇÃO
O objetivo deste texto é apresentar aspectos da realidade da ju-
ventude rural da região central do RS, especificamente no que se refere
a estudos escolares, produção e gestão do trabalho familiar, obras de in-
fraestrutura, políticas públicas, organização social, problemas vivenciados
pela juventude rural e perspectivas futuras. O texto prima pela descrição
dos dados com o maior detalhamento possível, uma vez que o interesse
maior na realização desta pesquisa era ampliar os conhecimentos sobre a
realidade da juventude rural na perspectiva de contribuir para a reflexão e
proposição de ações de assistência técnica e extensão rural.
O estudo combina dados quantitativos e qualitativos. Os dados
quantitativos foram obtidos por meio da aplicação de um questionário
com questões fechadas. Os técnicos da Emater/RS aplicaram os questio-
nários a jovens rurais residentes em 14 municípios da região central, a sa-
ber: Dilermando de Aguiar, Nova Esperança do Sul, Nova Palma, Silveira
Martins, Restinga Seca, Dona Francisca, Mata, Cacequi, Quevedos, Agu-
do, Toropi, Unistalda, Tupanciretã e Jari. A aplicação dos questionários
ocorreu no segundo semestre de 2014 e os primeiros meses de 2015. Ao
final, a amostra foi constituída por um número total de 191 jovens rurais,
sendo 94 rapazes e 97 moças.
Os dados qualitativos foram produzidos a partir de entrevistas se-
miestruturadas orientadas a 12 jovens rurais de ambos os sexos, residentes
em seis municípios da região central do RS: Agudo, Júlio de Castilhos, To-
ropi, Tupanciretã, Jari e Mata. A idade dos jovens rurais entrevistados va-
riou entre 16 e 29 anos. Os jovens entrevistados foram selecionados a partir
da indicação de técnicos da Emater/RS, participantes desta pesquisa. No
momento da entrevista, somente três jovens continuavam os estudos esco-
lares, estando um deles no ensino médio e os outros dois no ensino supe-
15
Juventude Rural: Estudo na Região Central do Rio Grande do Sul
rior. Os demais afirmaram que já haviam concluído o ensino fundamental,
médio ou superior, conforme Quadro 1[1]
.
QUADRO 1 – CARACTERIZAÇÃO DOS/AS JOVENS RURAIS ENTREVISTADOS/
AS NA REGIÃO CENTRAL DO RS
Nome Idade
Estado
civil
Escolaridade Estuda Município
Tânia 18 Solteira
Médio
completo
Não Agudo
Viviane 24 Solteira Superior Não Tupanciretã
Luan 19 Solteiro
Superior
incompleto
Sim Agudo
Andréia 19 Solteira
Superior
incompleto
Sim Agudo
Daniel 29 Solteiro
Médio
completo
Não Agudo
Fabiane 26 Casada
Médio
completo
Não Toropi
Helena 21 Solteira
Médio
completo
Não Tupanciretã
Tatiane 16 Solteira
Médio
incompleto
Sim Jari
Aline 26 Casada
Fundamental
completo
Não Júlio de Castilhos
Marcos 26 Casado
Médio
completo
Não Mata
Isabel 27 Casada
Médio
completo
Não Júlio de Castilhos
Roberto 24 Solteiro
Médio
incompleto
Não Júlio de Castilhos
[1]	
Com a finalidade de preservar o anonimato dos jovens rurais entrevistados, os seus nomes
reais foram substituídos por nomes fictícios.
16
Vale ressaltar que, neste livro, nosso objetivo é descrever diversos as-
pectos da realidade da juventude rural, com propósitos de compor um diag-
nóstico orientador de reflexões e de ações para a estruturação de serviços de
assistência técnica e extensão rural, que serão levados a termo pela equipe
técnica da Emater/RS e outras instituições interessadas na inclusão socioe-
conômica da juventude rural. Nossa intenção é que este texto tenha utilida-
de, em especial, para todos que sonham e lutam por condições de vida digna
aos jovens rurais. Contudo, os dados deste estudo estão disponíveis para
todos os pesquisadores e extensionistas interessados no aprofundamento da
sua análise e interpretação teórica.
Este documento está organizado em torno de sete eixos temáticos.
Inicialmente, descrevemos aspectos relacionados a renda, gestão e traba-
lho familiar, estudos escolares, obras de infraestrutura, educação informal
e organização social. Na sequência, apresentamos alguns aspectos que se
configuram como problemas para a juventude rural. Por fim, sob o título
perspectivas futuras, procuramos captar projetos dos jovens rurais para o
ingresso na vida adulta.
17
2
RENDA,TRABALHO FAMILIAR
E GESTÃO DA PROPRIEDADE
A renda das famílias na agricultura familiar é um tema controverso
e que provoca bons debates sobre as suas origens (diferentes fontes) e sobre
a sua distribuição interna entre os membros das famílias. Os dados quanti-
tativos coletados na região (Gráfico 1) mostram um cenário de predomínio
de frequência das rendas agrícolas (cerca de 90%) e pecuárias (56%) no or-
çamento das famílias. Entretanto, também devem ser consideradas como
expressivas as rendas das políticas sociais, como as aposentadorias (32%),
os programas de transferências de renda e outros benefícios (12%). Também
aparecem como significativas as rendas provenientes do assalariamento
(14%) e dos trabalhos como diaristas (14%).
GRÁFICO 1 – FONTES DE RENDA DAS UNIDADES DE PRODUÇÃO FAMILIARES
89,5
56,5
31,9
14,1 14,1 12
5,8 2,1 1
Agricultura Pecuária Aposen-
tadoria
Assalaria-
mento
Trabalho
como
diarista
Progr.
transfe-
rência de
renda e
outros
benefícios
Agroin-
dústria
Micro
empre-
sariado
Silvicultura e
extrativismo
Os dados sobre as rendas dos jovens mostram que 55% afirmaram
possuir renda própria. A distribuição das origens dos vencimentos dos jo-
18
vens com renda própria (Gráfico 2) evidencia que 57% delas provêm das
atividades agropecuárias; 35%, de trabalhos assalariados e diaristas (comu-
nidade e cidade); apenas 5% são referentes às rendas coletivas das proprie-
dades; e 3%, de estágios.
Esses dados fazem supor que a maioria dos jovens tem certa auto-
nomia financeira para as suas despesas e para alguns investimentos. Esta
parece ser a realidade de uma parcela dos jovens, especialmente os de faixa
etária maior e os que já possuem suas próprias atividades econômicas (na
agricultura ou fora dela). Todavia, muitos jovens, com alguma renda pró-
pria ou sem renda própria, dependem fortemente das rendas da família. As
famílias agricultoras, muitas vezes, operam com rendas indivisíveis para os
seus membros (por exemplo, venda de uma safra). Todo o bolo de recursos
gerados é visto como único e aproveitável na forma de novos investimentos
ou na melhoria das condições de vida da família. Nessas situações, frequen-
temente, com os recursos administrados pelos pais, os jovens ficam sem
acesso à renda que contribuem para gerar, estabelecendo condições de forte
dependência e controle no meio familiar.
FIGURA 1 – FONTES DA RENDA PRÓPRIA
57%
57%
14%
14%
12%
12%
7%
7%
5%
3% 2%
Agricultura e pecuária
Trabalhos como diarista e
empregos na comunidade
Trabalho assalariado
Trabalhos como diarista na cidade
Renda coletiva da propriedade
Estágios remunerados
19
Juventude Rural: Estudo na Região Central do Rio Grande do Sul
Essas situações são complementadas com questões ligadas à baixa va-
lorização do trabalho dos jovens ou a sua consideração como “ajuda”. Tais
percepções não são generalizadas, alterando-se muito de famílias para fa-
mília e podendo oscilar segundo certos critérios de idade, sexo, estado civil,
vinculações escolares e inserções no mercado de trabalho assalariado. Esses
aspectos são tratados nas seções a seguir.
2. 1 – OS JOVENS RURAIS TRABALHADORES NA UNIDADE FAMILIAR
Os jovens entrevistados relataram situações em que os jovens rurais
não são incorporados nos trabalhos familiares ou que apenas contribuem
na realização de alguns trabalhos agrícolas e domésticos, tendo em vista a
destinação do tempo e da atenção, prioritariamente, aos estudos escolares.
No que se refere ao trabalho dos jovens nas atividades produtivas e
domésticas, observamos que participam em grandes proporções dos cui-
dados dos animais (64,9%), da organização da casa (62,8%) e, em médias
proporções, do preparo dos alimentos (51,8%) e do cultivo de horta e pomar
(50,8%). Apenas 6,3% afirmaram não participar dessas atividades. Tais da-
dos podem ser observados no Gráfico 2:
GRÁFICO 2 – PARTICIPAÇÃO NAS ATIVIDADES DOMÉSTICAS DA UPF
64,9 62,8
51,8 50,8
6,3
Cuidados
dos animais
Organizaçao
da casa
Preparo dos
alimentos
Cultivos da
horta e pomar
Não participam
20
Alguns jovens entrevistados se identificaram como trabalhadores
em virtude de suas significativas participações na composição da força de
trabalho e na gestão na unidade produtiva familiar. São jovens que toma-
ram decisão de abandonar os estudos escolares e de permanecer na casa
dos pais ou ainda de constituir a própria família pelo casamento. Assim,
deixar de estudar, residir com os pais e/ou casar-se são condições que im-
plicam, para os jovens rurais entrevistados, a assunção de maior peso e
responsabilidades do trabalho na unidade produtiva familiar. Nessas con-
dições, os jovens rurais tornam-se trabalhadores que potencializam a ca-
pacidade produtiva e orientam os rumos da produção familiar, conforme
depoimentos orais:
Eu faço de tudo. É fumo, grãos, leite... Até funciona
sem mim, mas acho que mais devagar, porque eles já
têm mais idade. Normal, você ir mais devagar nessas
condições. (Daniel, 29 anos, Agudo).
Um pouco, ajudo em casa. Mas, específico, é mais o
tambo que nós temos. É trabalho. Botamos a tirar lei-
te da vaca prum lado, pro pasto, pra água. É isso aí,
passo o dia nisso daí. Em casa, faço mínima coisa,
varrer alguma coisa, que nem a área que é sempre eu
que limpo. Na minha avaliação, esse trabalho é im-
portante, porque é só eles, né. Se fosse mais irmãos,
talvez, não seria tão importante da minha parte. Teria
outras pessoas para ajudar. Mas como é só eles já se
torna assim meio cansativo eles ficar sozinho, né.
(Roberto, 24 anos, Júlio de Castilhos).
Os depoimentos desses jovens, do sexo masculino, associam as ativi-
dades na pecuária e agricultura como um trabalho, mas as tarefas domés-
21
Juventude Rural: Estudo na Região Central do Rio Grande do Sul
ticas que eventualmente executam, como uma ajuda à suas mães. Por sua
vez, as jovens rurais casadas percebem-se como trabalhadoras responsáveis
pelos cuidados dos espaços domésticos e, ao mesmo tempo, ajudantes de
seus maridos. O depoimento elucida:
Fora o serviço da casa, do lar, que tenho casa, tenho
família, tenho esposo, tem o meu jardim, tenho mi-
nha horta. Mas, eu ajudo o esposo. Nós plantamos
milho, arroz, soja. Claro que é a principal renda, né. E,
daí, também plantamos feijão, mandioca, batata-doce
para o consumo. Eu sempre ajudei o meu esposo nos
afazeres em geral, o que eu posso ajudar. Claro que
tem muitos afazeres que eu não posso ajudar. Mas,
sempre que eu posso, eu ajudo ele e ele me ajuda, tro-
camos os serviços. Eu acho muito importante e ati-
vidade rural, para nós, pois é uma única renda atual
da família. Então, temos que caprichar nas plantações
para ter uma boa renda. (Fabiane, 26 anos, Toropi).
Em suma, as responsabilidades e o peso do trabalho familiar au-
mentam à medida que os jovens constroem seus processos de emancipação
pessoal. Progressivamente, os jovens rurais assumem a condição social de
trabalhadores, sem deixar de ser ajudantes nos serviços domésticos, no caso
dos rapazes, ou ajudantes nos serviços das lavouras e das criações mercan-
tis, no caso das moças.
22
2.2 – PARTICIPAÇÃO NO TRABALHO E GESTÃO DA PROPRIEDADE SEGUNDO O SEXO
Quando é observada a participação de moças e rapazes nas atividades
domésticas da propriedade, observamos que, enquanto as primeiras partici-
pam mais da organização da casa, do preparo dos alimentos e dos cultivos
de hortas e pomares, os segundos participam com menor frequência dessas
atividades, estando mais interessados pelos cuidados com animais, como
observado no Gráfico 3.
GRÁFICO 3 – PARTICIPAÇÃO DE MOÇAS E RAPAZES NAS ATIVIDADES
DOMÉSTICAS DA UPF
15,18 13,09
34,03
20,94
5,76
47,64
38,74
30,89 29,84
0,52
Participa na
organização
da casa
Participa no
preparo dos
alimentos
Participa dos
cuidados dos
animais
Participa dos
cultivos na horta
e no pomar
Não Participa
Rapazes Moças
Essa diferença é reforçada pelo Gráfico 4, no qual percebemos mais
participação das moças nas atividades domésticas e, ao mesmo tempo, no
trabalho na agricultura e nos estudos. Os rapazes dedicam-se mais ao tra-
balho na agricultura e aos estudos.
23
Juventude Rural: Estudo na Região Central do Rio Grande do Sul
GRÁFICO 4 – PARTICIPAÇÃO DE RAPAZES E MOÇAS NAS ATIVIDADES
DA PROPRIEDADE
19,79
0,53
6,42
12,3
0,53
7,49
1,07
2
6
34
3
17
28
7
Trabalho na
agricultura
Trabalho
doméstico
Trabalho na
agricultura e
doméstico
Trabalho na
agricultura
e estuda
Trabalho
doméstico
e estuda
Trabalho na
agricultura,
doméstico
e estuda
Somente estuda
Rapazes Moças
Quando observamos a participação por sexo dos jovens na gestão, to-
mada de decisão e no trabalho, percebemos que os rapazes participam mais
da organização da produção, da tomada de decisões sobre investimentos e
da comercialização, enquanto as moças participam, em menores propor-
ções, dessas atividades, e, em maior proporção, no trabalho direto na pro-
priedade. Portanto, percebemos maior direcionamento para incluir os filhos
homens na tomada de decisões e organização da propriedade, ainda que as
moças também participem em boa medida, conforme mostra o Gráfico 5:
24
GRÁFICO 5 – PARTICIPAÇÃO DE MOÇAS E RAPAZES NA TOMADA DE DECISÃO,
TRABALHO E COMERCIALIZAÇÃO NA UPF
30,53
18,42
25,26
27,89
1,58 1,58
22,11 21,05
17,37
22,63
Participa da
organização
da produção
Apenas trabalha Participa da
comercialização
da produção
Participa nas
decisões dos
investimentos
Não participa
Rapazes Moças
2.3 EXPERIÊNCIAS DE TRABALHO ASSALARIADO
Entre os jovens entrevistados, poucos afirmaram que nunca estabe-
leceram relações de trabalho assalariadas nas cidades. Em específico, Isabel
(Júlio de Castilhos) justifica tal escolha pelo seu “gosto” pelo estilo de vida
no meio rural. Contudo, entre os jovens entrevistados, foram comuns expe-
riências laborais em relações assalariadas, que podem assumir um caráter
temporário ou permanente. É o que mostra o depoimento:
Eu trabalhei numa Cerealista, fazia a classificação de
grãos. Não era uma parte técnica, mas era serviço.
Não vou dizer que foi serviço ruim, tinha um certo
esforço físico, mas era bom. Tava sempre no dia-a-
-dia com pessoas diferentes, produtor. Era bom sabe,
gostava. Ah, eu não vou dizer que foi ruim porque
aprendi bastante coisa. Pra fora, sabe, a gente vai
viver um outro dia-a-dia, sempre esse movimen-
to. Eu gostei até. Não vou dizer que foi ruim, foi
25
Juventude Rural: Estudo na Região Central do Rio Grande do Sul
bom, né? Pra mim foi bom. (Roberto, 24 anos, Júlio
de Castilhos).
Os jovens entrevistados demonstraram certa satisfação em relatar
suas principais experiências laborais fora da unidade produtiva familiar.
Isso indica que os jovens valorizam o trabalho assalariado, seja em rela-
ções formais ou informais, pelas possibilidades de ganhos monetários, de
construção da autonomia pessoal e acúmulo de experiências. As motivações
para o ingresso no mercado de trabalho assalariado, legal ou informal, são
bastante diversas. Uma razão evidenciada nos dados quantitativos é a es-
cassez de terra para absorver o trabalho dos jovens e garantir-lhe condições
de vida satisfatórias. Em face da limitação do fator terra, os jovens saem do
meio rural em busca de outras formas de vinculação no mundo do traba-
lho. Nas famílias rurais sem terra ou de pouca terra, torna-se crucial que os
jovens migrem em busca de trabalhos assalariados. Agrega-se a isso a ne-
cessidade de aumentar renda familiar em decorrência da impossibilidade de
rendimentos satisfatórios das atividades produtivas agrícolas desenvolvidas
pelas famílias dos jovens rurais. Em contextos de crise, derivada do endivi-
damento ou de sinistros ambientais, os jovens rurais visualizam o trabalho
assalariado como estratégia de complementação da renda da família.
Para algumas jovens rurais, as inserções no mercado de trabalho assa-
lariado são tecidas como caminhos para não reproduzir a profissão das mães.
Trabalhar fora de casa torna-se, então, uma decisão importante para obter
renda própria, que possibilita a conquista da autonomia pessoal e facilita a
continuidade dos estudos escolares, tendo, no horizonte, ocupações laborais
mais qualificadas e mais bem remuneradas fora da agricultura familiar.
Alguns jovens rurais também se agregam ao mercado de trabalho
assalariado como estratégia de aumentar os ganhos monetários para fazer
investimentos na propriedade familiar. Dessa forma, conforme depoimento
de Viviane, o trabalho assalariado possibilita a formação de uma poupança
que se reverte em melhorias da propriedade:
26
Do que já estudei, posso unir o útil ao agradável.
Atualmente, trabalho no sindicato dos trabalhadores
rurais, como técnica. Mas, já concilio muito bem isso,
nos dias de semana aqui, finais de semana lá, vai arru-
mando, a gente vai ajeitando. Na verdade, esse traba-
lho seria uma ajuda extra para mim investir lá, tenho
um dinheirinho a mais todo mês que posso investir
na propriedade. (Viviane, 24 anos, Tupanciretã).
Os relatos das experiências de jovens rurais revelam que são múl-
tiplas as razões das inserções em trabalhos assalariados fora das unidades
produtivas de seus pais. Porém, isso não significa que eles encontrem faci-
lidades para agregarem-se nos mercados de trabalho assalariado existentes
nos municípios da região central do RS.
Por fim, de maneira geral, os jovens rurais colaboram para o trabalho
familiar, mas com diferenciadas formas de inserção. Os jovens que estudam
e trabalham fora da unidade produtiva percebem o trabalho como ajuda à
família, enquanto aqueles que residem com os pais ou são casados perce-
bem-se mais como trabalhadores com grande importância na composição
da força de trabalho familiar. Há também, em menores proporções, jovens
que não contribuem para o trabalho familiar, pelo entendimento tanto do
jovem rural e quanto de sua família de que os estudos escolares são mais
importantes que o trabalho. Em relação às formas de agregação ao trabalho
assalariado, temporário ou permanente, em relações formais ou informais,
pode-se dizer que constituem formas de alocação da força de trabalho fami-
liar excedente, complementação da renda família e construção de processos
de autonomia pessoal dos jovens.
27
Juventude Rural: Estudo na Região Central do Rio Grande do Sul
2.4 GESTÃO DO TRABALHO NA PROPRIEDADE
As diversas formas de participação dos jovens na composição da for-
ça de trabalho refletem-se nos diferentes níveis de participação nos proces-
sos de gestão das unidades produtivas e de decisões sobre os investimentos
familiares. Os dados do levantamento quantitativo mostram que cerca de
52% dos jovens da região participam da organização da produção; 50%, das
decisões sobre investimentos; e 42%, da comercialização. De outra parte,
cerca de 40% afirmaram que participam apenas no trabalho. Os dados po-
dem ser observados no Gráfico 6:
GRÁFICO 6 – PARTICIPAÇÃO DOS JOVENS NAS ATIVIDADES DA UPF
52,4 50,3
42,4 39,3
3,1
Organização
da produção
Decisões dos
investimentos
Comercialização
da produção
Apenas com
o trabalho
Não participam
Ao serem questionados sobre a participação em geral dos jovens da
sua região no âmbito familiar, alguns jovens rurais garantem que, em mui-
tas situações, os chefes de famílias ainda costumam reproduzir as práticas e
concepções centralizadoras dos processos decisórios das unidades familia-
res, como revela o depoimento:
Eu acho que é cultural. Eles têm medo de o filho
expor a ideias e ser melhor que a deles, que o filho
queira tomar a frente e isso é uma questão cultural
que eles não querem de jeito nenhum. Quem manda
em casa é o pai, o chefe da família. Então, se o filho
querer colocar uma ideia, se for melhor que a do pai,
28
mesmo que ele goste ele nunca vai aceitar. (Andréia,
19 anos, Agudo).
Todavia, alguns jovens rurais relatam que suas famílias estão mu-
dando as formas de organizar as relações intrafamiliares no sentido de pro-
porcionar maior abertura para a participação das mulheres e dos jovens.
Nos contextos contemporâneos, as relações seriam menos hierarquizadas e
o comando não estaria centralizado nas mãos do homem, chefe de família.
Os dados quantitativos mostram que, em 54% dos casos, os jovens afirmam
participar das tomadas decisão sobre produção e investimento, enquanto
que, em 31% dos casos, as decisões são tomadas pelos pais de forma con-
junta; em 10% dos casos, o pai toma a decisão e, em 5%, a mãe. O Gráfico 7
mostra essa distribuição:
GRÁFICO 7 – TOMADA DE DECISÕES SOBRE PRODUÇÃO E INVESTIMENTOS
54%
54%
31%
31%
10%
5% Jovens participam
das decisões
Pai e mãe
Pai
Mãe
Assim, de maneira geral, as famílias tendem a construir relações
mais horizontais e democráticas, criando situações mais favoráveis à parti-
cipação dos jovens rurais, conforme depoimento:
Todos participam. Claro, coisas pequenas não, mas
um grande negócio, uma venda de fumo, sempre era
29
Juventude Rural: Estudo na Região Central do Rio Grande do Sul
a família toda. Os meus pais são pessoas muito aber-
tas, mas as pessoas mais antigas do interior não dão
oportunidade pro jovem se expressar. (Andréia, 19
anos, Agudo).
Os relatos orais indicam que os jovens rurais estão conquistando
mais espaços para participar na gestão do trabalho e negócios familiares,
seja ajudando a pensar os rumos da propriedade ou auxiliando os pais em
suas decisões. As diferentes formas e níveis de participação na gestão das
decisões e negócios da unidade familiar guarda certas relações com a maior
inserção no trabalho familiar e na escola. Os depoimentos orais de três jo-
vens rurais do sexo masculino, que contam com mais de 24 anos de idade,
que deixaram de estudar e que contribuem significativamente no somatório
da força de trabalho, revelam a conquista de posições com maior participa-
ção nas questões relacionadas à produção, às transações comerciais e aos
investimentos familiares:
A gente conversa das possibilidades e entra num
acordo, todos participam. Acho que poucos têm essa
oportunidade de participar, poder opinar. (Daniel, 29
anos, Agudo).
Aqui é tudo nós, desde alguma coisa que tu vai com-
prar a gente decide junto. Comprar, um investimen-
to, tudo nós sentemo pra ver se vale a pena ou não.
(Roberto, 24 anos, Júlio de Castilhos).
Sempre decidimos juntos. Acredito que, numa gran-
de maioria, cada um dá sua opinião para decidir.
(Marcos, 26 anos, Mata).
30
As jovens rurais casadas também revelam, em seus depoimentos, que
desejam e reivindicam o direito de participar de todas as decisões do casal.
Não se conformam, portanto, com a condição de meras expectadoras e de-
monstram vontade de, ao lado do marido, assumir posições de protagonis-
mo na gestão e nas decisões familiares:
A gente sempre costuma conversar sobre tudo, por-
que não tem como uma pessoa sozinha administrar
tudo. Assim, como aqui em casa, o meu marido aju-
da, na lavoura também ele sempre pede uma opinião.
(Aline, 26 anos, Júlio de Castilhos).
Sim, participo com certeza, porque eu sou bem críti-
ca, reclamo do que eu acho que está errado, porque eu
acho sempre que a gente pode melhorar. Tô sempre di-
retamente ligada. (Isabel, 27 anos, Júlio de Castilhos).
Da mesma forma, uma jovem entrevistada em Tupanciretã, cujos
pais faleceram, informou que tem autonomia para planejar e conduzir ati-
vidades produtivas. Junto com suas irmãs, que também são herdeiras, dis-
cutem e decidem:
A gente planta soja, temos produtos para consumo,
tem mandioca, batata, uma horta e uma parte de fu-
mo também que a gente planta lá. Sou eu quem faço
os serviços, os trabalho na propriedade. Eu tenho
mais outras irmãs que me ajudam também, é em
conjunto. Olha, a princípio a gente tem que sentar
e conversar. Cada um dá sua ideia e vê qual melhor
maneira. Há um consenso, é tudo junto, as decisões
31
Juventude Rural: Estudo na Região Central do Rio Grande do Sul
são tomadas junto. Na minha família, é eu e as mi-
nhas irmãs, mas quem tem pai e a mãe vivos é bem
complicado o filho tomar alguma decisão. (Viviane,
24 nos, Tupanciretã).
Conforme depoimento, a ausência dos pais implicou a necessidade de
construção da autonomia dessas jovens rurais, portanto, são responsáveis
por planejar e executar as atividades familiares. No entanto, as jovens que
estudam ou trabalham fora da propriedade familiar já não dispõem de am-
plos espaços para manifestar seus pontos de vista acerca do planejamento
familiar. As jovens Tatiane e Tania relataram que, em suas famílias, as dis-
cussões são, inicialmente, realizadas pelos chefes da família. Somente após
os entendimentos dos pais, elas e seus irmãos são informados, com possibi-
lidade de manifestarem suas opiniões sobre as possíveis decisões:
Quanto a decisão é mais eles tomam, eles dois tomam
a decisão né. Quando dá pra ter mais tempo até, às ve-
zes, a gente conversa todo mundo junto né. (Tatiane,
16 anos, Jari).
Na minha família, primeiro, pai e mãe conversam,
depois eles passam pros filhos dizer o que os filhos
acham. Digamos que é um conjunto de opiniões, todo
mundo ajuda na decisão. (Tânia, 18 anos, Agudo).
De maneira semelhante, os jovens rurais do sexo masculino, que con-
tinuam vinculados às instituições escolares e, por vezes, mudam-se para as
cidades para realizar os estudos técnicos ou universitários, não conseguem
ter amplos espaços para participar da gestão da unidade familiar. Nesses
casos, o tempo e a energia vital são reservados para a continuidade dos es-
tudos; por tal razão, tanto os jovens quanto seus pais internalizam certo
32
distanciamento dos filhos quanto às preocupações relacionadas com os tra-
balhos e a gestão da propriedade familiar.
Nessa perspectiva, os dados sobre o tempo em que os jovens passam
na unidade de produção familiar (Gráfico 8) mostram que mais da metade
(53%) dedicam-se em tempo integral, enquanto que 21% permanecem dois
turnos, 17% passam somente um turno e 9% dedicam-se à propriedade ape-
nas nos finais de semana.
GRÁFICO 8 – TEMPO QUE PASSA NA UPF
53%
53%
17%
17%
21%
21%
9%
9%
tempo integral
um turno
dois turnos
somente nos finais
de semana
Contudo, a participação dos jovens na gestão da propriedade parece
ter uma dimensão importante para os jovens rurais. Os jovens entrevista-
dos afirmaram valorizar muito as oportunidades de participação nas deci-
sões familiares. Acreditam, inclusive, que a participação no seio familiar
interfere nas opções dos jovens de permanecer ou sair da propriedade dos
pais. Assim, nas famílias que não abrem espaços para a participação dos
filhos, torna-se mais difícil que os jovens desejem permanecer nas proprie-
dades dos pais. Em contrapartida, as famílias com relações mais participa-
tivas e democráticas podem favorecer as decisões dos filhos de permanecer
no meio rural.
33
3
ESTUDOS ESCOLARES
Os dados do levantamento quantitativo, com jovens entre 14 e 29 anos
de idade, mostram que 52,40% deles estão estudando, enquanto 46,60% não
estudam. Dentre os que estudam, observa-se que 11% estão no Ensino Fun-
damental, 57% no Ensino Médio, 12% no Ensino Técnico, 17% cursam o
Ensino Superior e 1% faz Pós-Graduação. A distribuição nos níveis de for-
mação pode ser observada no Gráfico 9:
GRÁFICO 9 – GRAU DE ESCOLARIZAÇÃO DOS JOVENS RURAIS DA REGIÃO
CENTRAL DO RS
11%
11%
57%
57%
12%
12%
17%
17%
1% 2
Ensino Fundamental
Ensino Médio
Ensino Médio Técnico
Superior
Pós-Graduação
N/S
Na leitura dos relatos dos jovens entrevistados, tornaram-se claros
os esforços individuais e familiares para garantir a frequência escolar e pro-
longar os estudos nos maiores níveis possíveis. Tal fato é uma decorrência
das imposições legais, que tornaram obrigatórios os estudos escolares, pelo
menos, até os 14 anos de idade, mas também da percepção coletiva sobre a
importância dos estudos na sociedade moderna, marcada pelas permanen-
34
tes transformações econômicas, tecnológicas, políticas e socioculturais, as
quais os jovens rurais, desde suas infâncias, precisam acompanhar. Assim,
os jovens relatam que a instituição escolar foi marcante em suas infâncias e,
para acompanhá-la, vivenciaram sucessivas transferências e deslocamentos
espaciais para adequarem-se às determinações políticas que confluíram no
fechamento das escolas rurais e na nucleação em centros mais populosos ou
na sede do município.
Estudar implica, necessariamente, esforços individuais e familiares
para garantir a continuidade dos estudos escolares. Nos depoimentos orais,
os jovens rurais atribuem importâncias significativas aos estudos escola-
res no contexto contemporâneo. Os estudos escolares são percebidos como
meios fundamentais para a formação da identidade pessoal, qualificação
profissional, reconhecimento social e preparação para a vida futura:
É essencial, sem estudo a gente não é nada, até porque
a gente tá vivendo num país que, se a gente não estu-
da, a gente fica pra trás. (Luan, 19 anos, Agudo).
Tu tem que ter estudos, porque tu não consegue tra-
balhar. Até pra faxineira hoje tão te pedindo o tercei-
ro grau. Então, tu tem que estudar. Tudo o que tu vai
fazer vão te pedir estudo. Pra ti manusear a máquina
tu tem que saber. Tu tem que estudar pra ti saber co-
mo é que ela funciona. (Tatiane, 16 anos, Jari).
Pelos relatos, os jovens compartilham de uma percepção coletiva
de que vivemos em um mundo em constantes transformações, que pre-
cisam ser constantemente assimiladas para não ficarmos desatualizados e
excluídos do mundo moderno. Não obstante, a importância dos estudos
está relacionada a múltiplas necessidades e expectativas, sejam pessoais,
familiares ou sociais. Nesse sentido, os estudos são pontuados como meio
35
Juventude Rural: Estudo na Região Central do Rio Grande do Sul
privilegiado de preparação para inserções laborais, especialmente vincula-
dos aos empregos urbanos:
Com certeza, os estudos são e estão sendo importan-
tes para mim. Se eu não tivesse um grau de estudo já
não estaria aqui no trabalho hoje. No meio rural tem
serviço pra sempre se quiser, porque quem não planta
trabalha de peão em outras propriedades. Agora pra
arrumar um trabalho na cidade tu já tem que ter o
estudo. Para a gurizada que termina o ensino médio
e quer vim pegar um trabalho na cidade está compli-
cado. Ainda mais hoje em dia, com a crise que e o de-
semprego está complicado. (Andréia, 19 anos, Agudo).
As vivências escolares dos jovens rurais também possibilita a apreen-
são de conhecimentos que podem ser úteis na melhoria de processos técni-
cos e produtivos da propriedade dos pais e na decodificação, por exemplo,
dos conteúdos expressos nos contratos agrários, nas bulas, nas notas fiscais
e outras formas de manifestação da cultura letrada. Esse entendimento é
revelado também pelo levantamento quantitativo na região. Na opinião da
maioria dos jovens, os estudos contribuem para melhorar a vida (48%) e as
práticas na agricultura (34%), como mostra o Gráfico 10:
36
GRÁFICO 10 – CONTRIBUIÇÕES DA EDUCAÇÃO NA PERCEPÇÃO DOS JOVENS
48%
48%
34%
34%
11%
11%
7%
7%
Melhorar vida
Melhorar práticas
agricultura
Emprego urbano
Sair do rural
Para os jovens que deixaram de frequentar as escolas e estão cons-
truindo seus projetos pessoais e familiares em torno da agricultura, os es-
tudos também são considerados úteis e necessários para se organizarem
diante um mundo em constantes mudanças, atualizarem-se em novos co-
nhecimentos e tecnologias e administrar as atividades produtivas:
Qualquer estudo é importante pra gente poder se ad-
ministrar. Tudo o que a gente tem de estudo sempre é
bom, tudo o que tu consegue aprender sempre é bom.
(Aline, 26 anos, Júlio de Castilhos).
Alguns jovens rurais por nós entrevistados também almejam ingres-
sar em escolas técnicas (por exemplo, nos institutos técnicos federais), nas
universidades e até mesmo em cursos de pós-graduação. Isso significa que
os estudos continuados são projetados para objetivar inserções no mundo
do trabalho em posições sociais consideradas superiores em relação aos seus
pais. Especificamente, os estudos escolares são objetivados como estraté-
gia de ascensão social. Portanto, enfrentam as viagens diárias até as uni-
versidades ou transferem-se para as cidades que sediam cursos técnicos e
37
Juventude Rural: Estudo na Região Central do Rio Grande do Sul
universitários ou ainda aproveitam as oportunidades abertas pelo ensino
universitário à distância, conforme depoimento oral:
Eu faço a faculdade à distância. No caso, quando eu
tinha provas, o pai me levava. Agora eu posso ir de
ônibus, já que vai ônibus todo dia pra lá, quando tem
prova vou de ônibus. Eu pretendo, eu quero fazer
mestrado e doutorado. Sempre quis, desde criança eu
sempre disse que ia fazer matemática. Via meus cole-
gas no terceiro ano falando “não sei o que vou fazer”.
E eu já sabia desde sempre o que eu queria. (Andréia,
19 anos, Agudo).
Embora sejam consensuais as percepções sobre as potencialidades
dos estudos na melhoria das condições de vida e trabalho no meio rural,
bem como na conquista de inserções positivas na sociedade, seja para as
futuras ocupações urbanas, seja para continuidade dos trabalhos agrícolas,
existem algumas contradições entre os discursos idealizados de jovens ru-
rais sobre a escola e as condições objetivas de acesso ao ensino escolar. São
elevadas as taxas de jovens rurais que não mais frequentam a escola.
Nos municípios da região central de Santa Maria, nas últimas duas
décadas, cresceram consideravelmente os cursos de nível técnico, tecnoló-
gico e superior, ofertados por instituições públicas e privadas. Ademais, o
ensino à distância ampliou o leque de alternativas de acesso ao ensino de
nível superior. A expansão de instituições educativas, em tese, tornou mais
factível o sonho de ingressar em cursos de qualificação profissional:
Eu acho que se tu estuda e se tu quiser de verdade,
tu consegue. Tem muitos lá que eu sei que não con-
seguiram faculdade, daí tão fazendo curso técnico
em São Vicente, que é o caso de uma vizinha minha.
38
Quando ela terminou o nono ano, ela fez a prova e
passou lá, daí tá fazendo ensino médio e técnico já
junto. A maioria é distância, tem alguns que não que-
rem ir morar na cidade que vão estudar, mas o mu-
nicípio oferece transporte pra ir, que daí é particular.
Todo dia sai ônibus daqui do município pras faculda-
des, tanto Santa Maria, como outros lugares também.
(Andréia, 19 anos, Agudo).
Embora as atuais oportunidades de acesso à qualificação profissional
sejam ampliadas e facilitadas em relação às décadas anteriores, não se pode
negar que estudos implicam sacrifícios pessoais dos jovens e suas famílias,
além de maiores investimentos de tempo e de recursos financeiros para
viabilizar os estudos. Os custos e as dificuldades do transporte são proble-
mas reiterados nas falas dos jovens entrevistados nesta pesquisa. Estudar
implica, necessariamente, deslocamentos espaciais da residência dos pais
para as cidades sedes de cursos de nível técnico ou universitário. Para isso,
alguns jovens rurais preferem transferir-se para as cidades, mas tal decisão
ocasiona o aumento das despesas com aluguel, alimentação, dentre outras.
Aqueles que optam pela permanência na casa dos pais precisam utilizar o
transporte público para a frequência escolar diária, pelo menos, durante o
ano letivo. Para esse grupo de jovens, o transporte torna-se um fator limi-
tante para a continuidade dos estudos, conforme o depoimento:
Eu acho que em todas as regiões têm transporte, têm
escolas no interior. Muitas, eu acredito que é bem tran-
quilo. Mas, para quem quer fazer uma faculdade ou
um curso técnico é mais difícil. Que nem quem estuda
fora, a maioria estuda e trabalha, estuda de noite e tra-
balha de dia. Aí, precisa de transporte, porque os cur-
sos universitários e técnicos são à noite. Aí, tem alguns
39
Juventude Rural: Estudo na Região Central do Rio Grande do Sul
que levam os cursos adiante, mas nem todos têm con-
dições, a maioria são do interior. No interior não tem
transporte, só na zona urbana, daí fica mais compli-
cado pro pessoal do interior. (Tânia, 18 anos, Agudo).
Embora o crescimento considerável de instituições de ensino médio e
superior, público ou privado, tenha ampliado as possibilidades de escolari-
zação, alguns jovens idealizam a instalação de cursos em seus municípios, a
fim de facilitar ainda mais o acesso a essas modalidades de ensino, sem pre-
cisar sair de casa e se estabelecer em outras cidades: “Eu acho que tá faltando
mais escolas técnicas na nossa cidade.” (Isabel, 27 anos, Júlio de Castilhos).
“Ter pelo menos um técnico no município pra aquelas que não conseguem
ir pra Santa Maria.” (Andréia, 19 anos, Agudo).
Vale destacar que, normalmente, os estudos escolares de nível técnico
e universitário são projetados para ocupações fora da agricultura familiar.
Assim, a escola, ao mesmo tempo em que qualifica para outras vinculações
laborais, facilita os processos de migração e abandono do trabalho familiar.
Outro fator que contribui para esse processo é a baixa oferta de empregos
nos mercados de trabalho nos municípios da região em estudo. De um la-
do, as restrições de um retorno à propriedade familiar e, de outro lado, as
limitações impostas pelo mercado de trabalho nos municípios de origem
induzem os jovens rurais ao abandono do meio rural. A migração para ou-
tras cidades ou regiões torna-se a única alternativa para a reinserção social:
“Os jovens terminam o ensino médio e vão embora. Vão estudar num outro
lugar, vão embora prá cidade.” (Tatiane, 16 anos, Jari).
Os dados quantitativos mostram que apenas 25,10% dos jovens en-
trevistados têm formação técnica, destacando-se, especialmente, as forma-
ções na área da agropecuária, com 9,30% dos casos; em informática, com
6,80%; e em administração, contabilidade e secretariado, com 4,70%. A dis-
tribuição das diferentes áreas de formação técnica é apresentada na Tabela 1:
40
TABELA 1 – ÁREA DE FORMAÇÃO TÉCNICA DOS JOVENS
Área de formação técnica Frequência %
Técnico agropecuário/ agrícola/
zootecnia/ veterinária/ agroindústria
18 9,30
Informática 13 6,80
Técnico administração/
contábil/ secretariado
9 4,70
Mecânica 2 1,00
Manicure 1 0,50
Tecnólogo alimentos/ nutrição 1 0,50
Não possuem formação técnica 143 74,90
Total 191 100
Fonte: pesquisa de campo da equipe do projeto.
Os limites para a continuidade dos estudos tornam-se ainda maio-
res para os jovens casados e com filhos. As responsabilidades do trabalho
agrícola e doméstico são ampliadas, exigindo maior dispêndio de tempo,
além do que os investimentos nos estudos se tornam demasiado pesados na
economia doméstica de um jovem casal. O depoimento é elucidativo:
Não estudo, mas precisaria ter mais estudo. Mas, ago-
ra, como eu estou casada, tenho filho pequeno, a gen-
te tira leite, aí não sobra muito tempo pra pensar em
estudar. (Aline, 26 anos, Júlio de Castilhos).
Pelo depoimento oral, o peso do trabalho e as responsabilidades fami-
liares aumentam à medida que os jovens rurais constroem seus processos de
41
Juventude Rural: Estudo na Região Central do Rio Grande do Sul
emancipação pessoal e constituem suas próprias famílias, implicando maio-
res dificuldades para garantir frequência escolar regular. Contudo, isso não
significa que os jovens abandonem o sonho do retorno aos estudos escolares,
com a perspectiva de qualificação de suas atividades produtivas. Alguns jo-
vens rurais entrevistados manifestaram o desejo de realizar cursos profis-
sionalizantes com vistas a aprimorar os processos produtivos e aumentar a
eficiência do trabalho, bem como acompanhar as mudanças tecnológicas:
Parei de estudar. Completei o ensino médio e parei.
Agora, só pretendo fazer algum curso de qualifica-
ção. Eu acredito que sem estudo é difícil viver no
mundo atual. Sem estudo não tem como evidenciar
ou procurar novas tecnologias. Então, talvez, deveria
ter cursos de qualificação na área que cada um vai
exercer. (Marcos, 26 anos, Mata).
Algumas demandas, conforme entrevistas com os jovens rurais, en-
caminham-se no sentido de palestras, cursos e outras formas de qualificação
que possam auxiliar na administração da propriedade, na ampliação de co-
nhecimentos sobre as políticas públicas, no aperfeiçoamento dos processos
produtivos e na qualificação da mão de obra. Os jovens demandam propos-
tas de desenvolvimento que possam garantir a sua permanência no meio ru-
ral, evitar a continuidade do êxodo rural e o envelhecimento populacional:
Em infraestrutura seria a princípio a produção, um
projeto que fosse. Ter uma renda própria deles, uma
coisa simples, um meio pra tentar fazer com que eles
continuassem. Se não for assim, acho que a grande
maioria vai embora. Vai ficar só vovozinho daqui uns
anos. (Roberto, 24 anos, Júlio de Castilhos).
42
Em suma, os jovens rurais que permanecem no meio rural mos-
tram-se interessados em realizar cursos rápidos, que possam contribuir
na melhoria dos processos produtivos agrícolas e das formas de inserção
no mercado.
43
4
INFRAESTRURA
Em relação às obras de infraestrutura, procuramos levantar per-
cepções dos jovens sobre as condições das estradas municipais, transpor-
tes público e escolar, internet e telefonia móvel, além de espaços de lazer
e recreação.
A propósito das estradas dos municípios, os jovens entrevistados
revelaram situações bastante distintas: enquanto algumas foram avaliadas
como ruins ou regulares, outras foram consideradas boas. Os dados quan-
titativos a destacar são que 57,1% afirmaram que as estradas são ruins, en-
quanto apenas 15,2% as consideraram boas. Os dados sobre as condições
das vias rurais na região podem ser observados no Gráfico 11:
GRÁFICO 11 – CONDIÇÕES DAS ESTRADAS NA REGIÃO
15,2%
15,2%
27,2%
27,2%
57,1%
57,1%
0,5%
Boa
Regular
Ruim
Não respondeu
Alguns jovens entrevistados denunciaram o descaso do poder pú-
blico municipal na manutenção das estradas de terra. Algumas situações
são definidas como péssimas ou caóticas, chegando a dificultar o acesso aos
serviços de transporte público e escolar de qualidade:
44
Atualmente, as estradas, o transporte, enfim, a situ-
ação é péssima. É péssima mesmo. Tanto é que por
aí o povo tá bem ciente, tá bem revoltado com isso.
Isso prejudica não só a gente, mas as crianças que tão
vindo lá de fora, faltando aula, muitos nem podem se
deslocar pela falta de estrutura de estradas, de trans-
porte público também. E, geralmente, na cidade não
vai afetar muito, mais são as crianças lá de fora, os jo-
vens de fora. Isso também se torna uma barreira para
vir estudar. (Viviane, 24 nos, Tupanciretã).
A má conservação das rodovias pode tornar-se um obstáculo para
a continuidade dos estudos escolares. Contudo, em Júlio de Castilho, um
jovem relembrou que, em relação há alguns anos, o poder público municipal
melhorou as condições das rodovias de estradas de chão, o que possibilitou
transporte escolar de melhor qualidade:
Estradas têm as que são boas e as que são ruins. Até
que tá boa as estradas. Não dá pra reclamar, mas já te-
ve piore. Eu me lembro que a gente já pegou época que
era bem ruim as estradas, não entrava ônibus, nós ti-
nha que ir lá em cima todos os dias pegar o ônibus lá.
Quando nós saia daqui, chegava lá em cima, o ônibus
já tinha ido embora e tinha que voltar pra casa de no-
vo no inverno, com chuva. Agora não, agora o ônibus
passa aí sequinho, não tem como o pessoal não que-
rer estudar. (Roberto, 24 anos, Júlio de Castilhos).
Em Toropi e Júlio de Castilhos, conforme depoimentos de jovens ru-
rais, as estradas apresentam boas condições de manutenção e trafegabilida-
de, embora tenham ressaltado os danos causados pelas chuvas torrenciais:
45
Juventude Rural: Estudo na Região Central do Rio Grande do Sul
As estradas estão praticamente boas. Claro, tem mui-
tos pontos que não tão muito boas. Não tem como
manter muito boas, pois tem dado muitas enxurra-
das, chuvaradas e prejudicam bastante as estradas
em gerais. Aí, a prefeitura não consegue manter.
(Fabiane, 26 anos, Toropi).
Olha, acho que nas estradas poderia melhorar. A gen-
te não fala tanto do trabalho da prefeitura, dos órgãos
responsáveis por que quando tá tendo a temporada de
chuva não ajuda em muita coisa, né? (Isabel, 27 anos,
Júlio de Castilhos).
Os jovens rurais entrevistados fazem críticas às condições das es-
tradas de seus municípios, mas entendem que a atuação do poder público
municipal e as interferências das condições climáticas, especialmente a in-
cidência de fortes chuvas, afetam diretamente as condições de manutenção
e de tráfego das rodovias de estradas de terra nos munícipios pesquisados.
4.1 TRANSPORTE ESCOLAR
Na visão de jovens entrevistados, o poder público municipal tem
cumprido com suas obrigações no sentido de oferecer transporte escolar
para os estudantes do meio rural:
A gente tem transporte na porta de casa pra ir, pra
poder estudar, pra voltar, tudo. Mas, a estrada é ruim.
Mas falta o acesso a uma faixa, né? Até ficaria mais
fácil pra gente permanecer no meio rural e ir da nossa
propriedade para um lugar estudar, voltar a estudar
à noite, voltar e estudar num turno de dia e voltar.
(Tatiane, 16 anos, Jari).
46
Porém, os depoimentos orais fazem referências às facilidades de
transporte de estudantes do ensino fundamental e médio. Os estudantes
universitários não contam com apoio do poder público para facilitar o des-
locamento dos jovens rurais até as universidades, seja no sentido de subsi-
diar as passagens ou de viabilizar meios de transporte escolar. Em Agudo,
os jovens universitários organizaram-se em associação para encontrar al-
ternativas no sentido de reduzir os custos dos transportes universitários.
Esses jovens rurais viabilizaram a contratação de uma empresa prestadora
de serviços de transporte escolar a preços mais baixos que os praticados
pelas empresas de transporte público.
4.2 TRANSPORTE PÚBLICO E OUTROS MEIOS DE DESLOCAMENTO
A maioria dos jovens entrevistados (51,8%) informou que dispõe de
transporte público regular, que passa nas proximidades de suas residências.
Porém, 31,4% afirmaram que não contam com transporte público e 12%
contam apenas de vez em quando. O Gráfico 12 mostra as respostas dos
jovens na região:
GRÁFICO 12 – DISPONIBILIDADE DE TRANSPORTE PÚBLICO
51,8
31,4
12
4,7
Sim Não De vez em
quando
Não
responderam
Ao observarmos os demais meios de deslocamento utilizados pelos
jovens e suas famílias, vemos que a grande maioria utiliza veículos parti-
47
Juventude Rural: Estudo na Região Central do Rio Grande do Sul
culares: carros (75,4%), motocicletas (37,7%) e bicicletas (6,3%), conforme o
Gráfico 13:
GRÁFICO 13 – MEIOS DE TRANSPORTE UTILIZADOS PELOS JOVENS
75,4
49,7
37,7
6,3
2,1 2,1 1
Carro Ônibus Motocicleta Bicicleta Trator Andar a pé Cavalo
A utilização de automóveis próprios (ou da família), das motocicletas
e das bicicletas reduzem a dependência dos jovens rurais ao transporte pú-
blico. Entretanto, conforme relato de uma jovem rural, em Toropi, os ônibus
regulares são semanais, o que restringe consideravelmente os deslocamen-
tos espaciais da população que necessita de transporte público:
Claro que no transporte público, aqui na minha re-
sidência, passa uma vez por semana. Em outras re-
sidências também passa uma vez por semana que
dificulta, muitas vezes, o pessoal ir à cidade para fa-
zer suas compras, depende de carona ou se tem car-
ro próprio pra poder ir, né? Mas eu acho que é meio
complicado. (Fabiane, 26 anos, Toropi).
Em referência ao transporte público de Agudo, um jovem rural relata
a regularidade diária das linhas de ônibus nos espaços rurais, mas agrega
48
outro problema: os preços elevados das passagens de ônibus, que, por fim,
também limitam o livre de deslocamento:
Praticamente passa o ônibus diariamente, só que o
preço da passagem é alto, até porque eu não sei como
funciona essa política. Eu ainda acho que a política
está exercendo agora é uma política de que empresa
do ônibus coloca esse valor de passagem, não sei se
tem licitação alguma coisa assim. Mas é um preço al-
to. (Luan, 19 anos, Agudo).
Com o uso de carros e motocicletas particulares, os jovens rurais re-
duzem a dependência dos meios de transporte público. Todavia, os jovens ru-
rais, que dependem de ônibus para os deslocamentos espaciais para as cidades
ou para escolas, enfrentam os problemas da má conservação das estradas de
chão, da falta de regularidade diária ou dos elevados preços das passagens.
4.3 INTERNET E TELEFONIA MÓVEL
Os jovens rurais entrevistados informaram que acessam serviços de
telefonia móvel e internet. Ao que parece, os serviços de telefonia celular
têm se expandido com mais facilidade entre os municípios pesquisados.
Contudo, em alguns locais, os serviços não são de boa qualidade, confor-
me depoimento:
Aqui no município de Agudo eu acho que a questão
de telefonia móvel está bom, a internet poderia me-
lhorar. É depende de que meio tu vai pegar internet,
porque tem antena no interior, só que se tu não con-
segue visualizar a antena tu não tem o sinal. Mas aí já
tem internet 3G da Vivo, Claro, Tim essas operadoras
49
Juventude Rural: Estudo na Região Central do Rio Grande do Sul
multinacionais, que daí tem que pegar o telefone, e se
o telefone não tem entrada de antena aí tu vai ter que
subir o Cerro. (Luan, 19 anos, Agudo).
Os dados quantitativos mostram que 97% dos jovens entrevistados
têm acesso aos aparelhos de celular. No entanto, a qualidade do sinal ainda
é um problema para muitos deles, de modo que cerca de 26% consideram
o sinal ruim e cerca de 30% o consideram regular. O Gráfico 14 mostra a
percepção deles sobre a qualidade do sinal:
GRÁFICO 14: QUALIDADE DE SINAL DE CELULAR
35,1
26,2
30,9
7,9
Bom Ruim Regular Não
responderam
No que se refere à internet, cerca de 80% dos jovens entrevistados
afirmaram ter acesso. No entanto, somente 51,8% têm acesso em casa, os
demais têm acesso apenas na escola, no telecentro, na cidade ou no trabalho,
como pode ser observado no Gráfico 15. Todavia, é importante registrar que
cerca de 20% afirmaram não ter acesso à internet.
50
GRÁFICO 15 – LOCAL DE ACESSO À INTERNET
51,8
17,8
3,1 3,1 2,6
Na residência Na escola No telecentro Na cidade No trabalho
Os jovens rurais fazem usos diversificados das tecnologias de infor-
mação e comunicação, tais como:
1.	Participar das redes sociais:
Com certeza, até porque eu tenho colegas que fize-
ram Ensino Fundamental comigo, que não tiveram
a mesma oportunidade que eu tive de estudar. Hoje,
a gente consegue conversar todo dia, a gente tem até
grupo no WhatsApp e isso faz com que eles se sintam
no meio de outros meios. Eles conseguem conviver
com outras pessoas mesmo que estando no interior.
(Luan, 19 anos, Agudo).
2.	Realizar pesquisas escolares, inclusive cursos universitários
à distância:
No interior, a maioria dos lugares tem sinal de celular
e internet. Quando eu morava em casa eu estudava
de casa. Eu conseguia fazer uma faculdade estando
51
Juventude Rural: Estudo na Região Central do Rio Grande do Sul
em casa, não precisando ir pra Santa Maria ou ou-
tra cidade. Então, o jovem que tiver a internet pode
ter a oportunidade também de fazer uma faculdade
à distância e ficar trabalhando em casa. Abre opor-
tunidades, até porque tem pessoas que não tem como
se manter em Santa Maria ou em outras cidades pra
estudar. (Andréia, 19 anos, Agudo).
3.	Auxiliar na transmissão de novas ideias e melhoria da unidade
produtiva familiar:
Quando é usada de maneira legal, a Internet ajuda a
melhorar, a dar ideias boas para o jovem integrar na
propriedade. (Viviane, 24 nos, Tupanciretã).
4.	Criar oportunidades de recreação e lazer entre os jovens rurais:
Hoje, na minha concepção, o jovem acha que lazer é
rede social. Teria que principalmente melhorar a in-
ternet, porque o jovem acha que a rede social é o lazer
dele. (Luan, 19 anos, Agudo)
5.	Estimular a migração para as cidades:
Mas tem casos que telefone e internet para os jovens
têm deixado bastante a desejar na questão de aju-
dar que permaneçam na propriedade. Geralmente,
é um incentivo para vir para cidade. (Viviane, 24
anos, Tupanciretã).
52
6.	Mudar valores das populações rurais tanto no sentido da edificação
social quanto da difusão de “coisas ruins”:
Olha, é um dilema, porque eu penso assim: que se o
filho for bem criado, bem educado, que sabe diferen-
ciar o certo do errado, ela traz benefícios. Eu penso
assim. Mas também eu penso que tem o lado negro
da tecnologia, que traz coisas ruins que se tu não tem
um jovem bem consciente, com a cabeça bem feita,
ela pode não usar pro lado bom e pode usar pro la-
do ruim. Eu digo que é um dilema, porque eu tenho
internet em casa, eu uso pra informação, pra saber
notícias, essas coisas. Eu tenho um filho, amanhã ou
depois ele vai ocupar. Mas também tem aquele lado
negro, que a gente sabe que tem, que eles utilizam pra
outras coisas, né. (Isabel, 27 anos, Júlio de Castilhos).
Notamos, pelos depoimentos orais, que os jovens rurais fazem múl-
tiplos usos das tecnologias de informação e comunicação e desejam a am-
pliação das redes de transmissão para melhorar a qualidade dos serviços e
as áreas de abrangência. Essas tecnologias também podem servir para cons-
truir espaços para a divulgação de informações e transmissão de conheci-
mentos no escopo dos serviços de extensão rural da região central do RS.
4.4 ESPAÇOS DE LAZER E RECREAÇÃO
A falta ou a precariedade de espaços de lazer e recreação no meio
rural é uma reclamação comum de jovens entrevistados:
53
Juventude Rural: Estudo na Região Central do Rio Grande do Sul
Tem muitas comunidades que poderiam ter aquele
investimento, sabe? Poderiam dar um suporte maior
pra quem fica ali ter aquele momento de lazer. As
próprias localidades poderiam melhorar os clube das
famílias da linha. (Tânia, 18 anos, Agudo).
A partir da realidade de Júlio de Castilhos, Roberto afirma que, além
da insatisfação com a infraestrutura de recreação, os jovens rurais não or-
ganizam atividades coletivas de lazer no meio rural e preferem divertir-se
na cidade:
A parte de lazer deixa muito a desejar. Primeiro, mui-
tos jovens já não participam muito. Ás vezes, pra jogar
bola, preferem pagar lá na cidade do que jogar aqui
que tá todo mundo em casa. Mas, não tem alguma
coisa diferente pra se distrair, pra ficar diferente no
fim de semana. (Roberto, 24 anos, Júlio de Castilhos).
Todavia, uma jovem rural de Agudo garante que não é na cidade,
mas nas comunidades rurais, na companhia de familiares e amigos que
encontra maiores possibilidades e melhores situações para as vivências de
lazer e recreação:
Não é que falta, porque em qualquer lugar junta uma
turminha e vão jogar bola. Quando vou pro interior,
eu não paro em casa, porque eu tenho jogo, tem isso,
tem aquilo, tem bocha. Sempre tem uma coisa que eu
saio pra fazer. Quando eu fico na cidade não tem o
que fazer: ou vem na praça tomar mate ou fica em ca-
sa. (Andréia, 19 anos, Agudo).
54
Daniel, que também reside em Agudo, relata a importância dos gru-
pos de jovens na criação de oportunidades para encontrar os amigos, pra-
ticar esportes e aproveitar os recursos naturais do meio rural, de maneira
especial, para fazer trilhas com motocicletas:
Aqui tem muitas opções de lazer. Têm grupos de jo-
vens organizados, têm encontros direto, futebol final
de semana, ginásio por tudo aí que consegue jogar
bola. Mas, a febre agora é pegar a moto e fazer trilhas.
Chega sábado de meio dia e não acha mais ninguém
em casa: todo mundo em cima das motos. (Daniel, 29
anos, Agudo).
Os jovens costumam manifestar descontentamento quanto às opor-
tunidades de lazer e recreação que estão ao alcance no meio rural e, não ra-
ramente, idealizam os espaços e as situações de lazer existentes nos espaços
urbanos. No entanto, alguns jovens estão criando oportunidades de lazer e
recreação no meio rural, fazendo dos encontros com os amigos e familiares
e com as paisagens locais oportunidades de bem viver e divertir-se.
55
5
ORGANIZAÇÃO SOCIAL
A visualização da participação dos jovens em organizações sociais
mostra quais são os principais atores que atuam junto a esse público na re-
gião. No Gráfico 16, podemos perceber que a Igreja, o sindicato, as associa-
ções e cooperativas são as organizações com maior participação, enquanto
os grupos de jovens aparecem em proporção média (12,6%) e os grupos de
mulheres e movimentos sociais em menores proporções.
GRÁFICO 16 – GRUPOS E ORGANIZAÇÕES DE QUE OS JOVENS PARTICIPAM
34,6
27,7
25,7
18,3
12,6
2,1 1
Igreja Sindicato Associações Cooperativas Grupos de
jovens
Grupos de
mulheres
Movimentos
sociais
Os jovens rurais entrevistados em Jari, Júlio de Castilhos, Tupanci-
retã, Toropi e Mata afirmaram que não participam de associações juvenis.
Não é tão fácil precisar as múltiplas causas que interferem no pouco interes-
se dos jovens rurais na participação de instituições associativas. Porém, um
fator que não pode ser desconsiderado é a redução da população rural si-
tuada na faixa etária da juventude em decorrência das sucessivas migrações
para os centros urbanos. Com poucos jovens vivendo nos espaços rurais,
56
torna-se difícil a constituição de associações juvenis, conforme depoimento
de Viviane (24 anos, Tupanciretã), residente em assentamento rural: “Onde
eu moro não tem grupo de jovens. A maioria são pessoas mais de idade.
Jovens mesmo são muito pouco. É mais difícil de ficar lá.”
Não obstante, alguns jovens entrevistados demonstraram interesse
em participar de grupos sociais. Em decorrência da inexistência de associa-
ções juvenis rurais, Fabiane e outras jovens rurais de Toropi ingressaram em
uma associação de mulheres adultas: “Participo de um grupo de mulheres
onde participam várias jovens também. Lá trabalhamos com artesanatos,
com culinária. Tem aproximadamente vinte participantes, onde tem cinco
jovens que participam conjuntamente.” (Fabiane, 26 anos, Toropi).
Em alguns espaços sociais, como é o caso do Assentamento Santa Jú-
lia, situado no município de Júlio de Castilhos, não existem associações ju-
venis rurais. Contudo, estão em curso discussões para a constituição formal
de grupos de jovens com propósitos de ampliar os espaços de aprendizados,
sociabilidades e recreações, conforme depoimento:
Não, aqui não tem grupo de jovens. Estamos organi-
zando para esse ano começar a fazer. Eu acho que é
bastante importante, porque é preciso que os jovens
convivam entre si também. É isso que está faltando
muito e também é uma forma de lazer, uma coisa di-
ferente pra gente fazer, se conhecer, conhecer pessoas
diferentes, ter conhecimento de mais coisas, não viver
só aqui. Vou levantar de manhã já sei tudo o que eu tu
tenho que fazer. Então, isso seria uma coisa diferente
pra gente ter, pra gente se focar, pensar, pra gente que-
rer fazer. (Aline, 26 anos, Júlio de Castilhos).
Pelo depoimento, a jovem acredita que a constituição de um grupo
juvenil poderia ampliar os horizontes de convivências e de conhecimentos
57
Juventude Rural: Estudo na Região Central do Rio Grande do Sul
para além do universo proporcionado pela unidade familiar. Roberto tam-
bém lamenta a inexistência de grupos de jovens no assentamento rural em
que reside, porque percebe a importância das associações na criação de no-
vas oportunidades de lazer e conhecimentos:
Não, eu nem tô participando de nada. Aqui não tem
o que participar, porque aqui não tem grupo de jo-
vens. Olha, eu acho que seria bom pra conseguir uma
excursão, um ônibus barato, pra fazer uma viagem,
conhecer os lugares, visitar outras propriedades,
sair, fazer coisas diferentes prá distrair os jovens.
(Roberto, 24 anos, Júlio de Castilhos).
A partir das entrevistas, constatamos que, em Agudo, encontram-se
diversos grupos de jovens rurais, constituídos nas distintas localidades do
município, designadas Linhas. Os Grupos de Jovens, por sua vez, vinculam-
-se à Associação de Juventude Rural de Agudo (AJURA) – uma instituição
fundada em 1990 que dispõe de registro formal. A cada dois anos, a AJURA
convoca Assembleia Geral Ordinária para a eleição de uma nova diretoria,
que se constitui por presidente, vice-presidente, secretário e vice-secretário,
tesoureiro e vice-tesoureiro e o conselho fiscal composto por três jovens ti-
tulares e três suplentes.
As principais linhas de atuação da AJURA são orientadas para as ati-
vidades esportivas e de lazer, como a organização de Olimpíadas Rurais[2]
,
torneios de futebol, bailes, peças de teatro e festas comemorativas do ani-
versário de fundação da associação, bem como a participação em desfiles
festivos. Os depoimentos de jovens de Agudo são elucidativos dos objetivos
da associação juvenil:
[2]	
Em 2016, foi realizada a 23ª edição da Olimpíada Rural organizada pela AJURA.
58
A AJURA se organiza através de grupos nas localida-
des, tem grupos de jovens rurais de cada localidade.
Hoje, acho que a gente está com cinco ou seis gru-
pos de jovens. A AJURA também serve um pouco de
lazer pra esses jovens, a gente faz a gincana, a gente
pega e faz campanha de arrecadação de alimentos,
campanha de arrecadação de roupas, toda essa de-
manda mais social. Também a gente faz um dia que
seja uma olimpíada, onde junta praticamente mais
de 100 a 150 jovens que praticam todas modalidades
olímpicas, desde bodoque até o futebol, vôlei, todos
os esportes. (Luan, 19 anos, Agudo).
Eu participo. Esse ano, eu entrei no grupo de jovens
“Em busca de um novo amanhã”. E a AJURA é a as-
sociação de todos, e eu faço parte da AJURA tam-
bém, não da comissão, mas eu faço parte da comissão
que organiza desfile do Colono e Motorista aqui no
município. Quase todo mundo participa, porque es-
sa é uma das únicas coisas que tem organizada, por
exemplo, a Gincana Rural da AJURA. São dois dias,
o fim de semana todo, que os jovens ficam em fun-
ção de jogos, sabe? Aí, é muitas pessoas que partici-
pam. Eu acho que a única oportunidade que os jovens
têm a única associação que promove algum evento,
é a AJURA. No interior, também tem os torneios de
futebol 7, que acontecem durante o verão. Cada time
faz um torneio de um dia, vem times de outros muni-
cípios também pra jogar. (Andréia, 19 anos, Agudo).
59
Juventude Rural: Estudo na Região Central do Rio Grande do Sul
Os depoimentos deixam claro que os jovens rurais de Agudo as-
sociam-se aos Grupos Juvenis e à AJURA com objetivos prioritários de
ampliarem os espaços e situações de convivência social, cultura, lazer e re-
creação. Contudo, algumas ações desses agrupamentos juvenis constituí-
dos em Agudo objetivam a promoção da benemerência social, por meio da
organização de gincanas de solidariedade para recolhimento de alimentos
e agasalhos ou da adesão às campanhas de doação de sangue. Essas ações
coletivas são valorizadas pelas possibilidades de ampliação de conhecimen-
tos, das relações amizade, das oportunidades de diversões e de participação
social, bem como da melhoria das condições de trabalho na propriedade. Na
avaliação de um jovem rural, estudante do Curso de História,
A associação trás, principalmente, benefício intelec-
tual. Um jovem trabalhando a cabeça sempre vai ser
um jovem mais aberto. Vai estar em contato com ou-
tras pessoas e vai ter uma mentalidade melhor que
ajuda ele muito mais numa relação familiar, para que
ele consiga trabalhar dentro da propriedade. (Luan,
19 anos, Agudo).
Ainda de acordo com depoimentos orais de jovens de Agudo, essas
associações também servem para ampliar os conhecimentos e a qualificação
profissional. Para tanto, os jovens referenciam a Emater como a principal
instituição de apoio às associações juvenis. A Emater favorece diversas ini-
ciativas de mobilização dos grupos Juvenis e da AJURA, cedendo espaços
para as reuniões e organização de eventos juvenis, além de proporcionar
palestras e cursos sobre questões de interesse da produção e da vida rural.
Os grupos trabalham bastante com a Emater. É bom
sempre, eles trazem muito auxílio, novos cursos vol-
tados à temática de agricultura, que os jovens podem
60
participar. Além de auxílio, sempre tem tudo o que é
necessário. A Emater sempre cede a sala de reuniões
para as reuniões da AJURA. (Tânia, 18 anos, Agudo).
Eventualmente, os jovens rurais de Agudo contam com alguns apoios
financeiro e logístico da prefeitura municipal e dispõem de alguns espaços
para apresentação nas festividades locais. Os grupos juvenis rurais, situados
nas distintas Linhas do município de Agudo, também procuram manter
boas relações com os Círculos de Pais e Mestres e com os diretores escola-
res a fim de conseguir espaços, nas escolas, para a realização de reuniões e
encontros de jovens.
5.1 ASSOCIAÇÃO DE JOVENS UNIVERSITÁRIOS
Em relação aos processos associativos, vale apena mencionar a parti-
cipação de jovens rurais na constituição de uma Associação de Jovens Uni-
versitários. Essa iniciativa associativa surgiu no município de Agudo com o
propósito de reduzir os custos dos transportes de estudantes universitários
e facilitar os deslocamentos diários até Universidade de Santa Cruz do Sul
(UNISC), na cidade de Santa Cruz do Sul, conforme relato de um jovem
rural:
A gente formou a Associação dos Estudantes
Universitários que eu também participo. a Associação
dos Estudantes se formou faz um ano. Um ano e pou-
quinho que ela existe, mas ela foi formada por que
nós precisava de um CNPJ, porque a gente não que-
ria mais participar do ônibus que era até a UNISC. A
gente queria abrir uma licitação, daí a gente precisava
de um CNPJ. Então, a gente criou a associação e con-
tratamos uma empresa terceirizada pra levar nós até
61
Juventude Rural: Estudo na Região Central do Rio Grande do Sul
Santa Cruz, o que diminui os custos em torno de R$
200,00 por mês pra cada estudante.
Vale notar que a Associação de Jovens Universitários está constituída
por cerca de 20 jovens rurais e urbanos, interessados em facilitar os trans-
portes e reduzir seus custos. Além disso, essa associação constitui-se em
importante investimento dos jovens para garantir a frequência escolar e a
conclusão de um curso de nível superior.
5.2 PARTICIPAÇÃO SOCIAL EM SINDICATOS RURAIS E
COOPERATIVAS
Os jovens entrevistados não apontaram quaisquer ações desenvolvi-
das pelos Sindicatos Rurais que fossem orientadas para a juventude rural.
Os jovens rurais, por sua vez, não demonstraram muito interesses na afilia-
ção aos Sindicatos Rurais. Aliás, a afiação às instituições sindicais parece
ser uma questão da alçada dos adultos e não dos jovens. Luan (19 anos), que
mora em Agudo, revela: “Tem o Sindicato dos Trabalhadores Rurais, que é
organizado pela FETAG. Mas, não tenho um envolvimento com eles, nunca
cheguei a conversar.” Ainda a propósito dos Sindicatos Rurais, a afirmação
de Andréia é mais categórica: “O jovem não tem interesse.”
Alguns jovens entrevistados mencionaram que mantêm vínculos
associativos com cooperativas agrícolas, com o objetivo de barganhar nas
transações mercantis. Assim, foram os jovens de Agudo que mencionaram
afiliações à Cooperagudo, a Dália Alimentos Cosuel e a Campal. O jovem
(Luan, 19 anos, Agudo) relata: “Aqui, tem a Cooperativa de Agudo, mas têm
muitos jovens de Agudo que são mais chegados na cooperativa de Nova Pal-
ma, a Campal, porque quando eles vão vender, principalmente, soja e arroz.
Eles vão mais pra lá por que vale mais a pena por causa do preço.”
62
6
ASSISTÊNCIA TÉCNICA
E EXTENSÃO RURAL
Os jovens rurais entrevistados informam que suas famílias recebem
serviços de assistência técnica e de extensão rural de diversas organizações.
Os principais órgãos de quem mais recebem serviços de assistência são:
Emater (77%), cooperativas (29,3%), empresas privadas (25,7%), Secretarias
de Agricultura dos municípios (24,1%), sindicatos (14,1%), entre outros. A
distribuição das organizações que prestam assistência pode ser visualizada
no Gráfico 17:
GRÁFICO 17 – DE QUEM A FAMÍLIA RECEBE ASSISTÊNCIA TÉCNICA E SOCIAL
77
29,3
25,7
24,1
14,1
7,9
5,8
5,8
0,5
Emater
Cooperativas
Empresas de insumos/sementes
Secretaria da Agricultura
Sindicato
Vendedores autônomos
Igreja
ONG's e associações
Sebrae
Os depoimentos orais de jovens de Toropi e Agudo também indicam
que as principais instituições de assistência técnica e extensão rural são a
Emater e as cooperativas agrícolas:
63
Juventude Rural: Estudo na Região Central do Rio Grande do Sul
A Emater dá assistência nos grupos. As cooperati-
vas também dão assistência. E é muito importante a
assistência deles. Nós temos bastante, tem nos gru-
pos de mulheres, tem assistência da Emater, bem
como nas propriedades a Emater dá assistência. As
Cooperativas aqui em Toropi têm a Coomate também
dão assistência aos produtores. Tudo o que precisam,
bem como nas lavouras, têm os agrônomos que dão
as dicas. O Sindicato também ajuda bastante os pe-
quenos agricultores. Eu acho que é muito bom a assis-
tência que eles dão. (Fabiane, 26 anos, Toropi).
Da Emater, principalmente. Da COSUEL, Dália tem
uns técnicos que vem. E tem os técnicos da cooperati-
va, mas tu tem que ir procurar eles para tirar dúvida.
Aqui na Emater, muitas vezes, tu liga pra te informar
e eles passam na propriedade. Da Dália passa o técni-
co uma vez a cada 30 dias mais ou menos. (Daniel, 29
anos, Agudo).
Em relação à qualidade e frequência dos serviços prestados, alguns
jovens rurais entrevistados avaliaram positivamente a atuação das insti-
tuições públicas e privadas, enquanto outros apresentaram críticas e falhas
dos serviços que suas famílias recebem. Os dados quantitativos, no que se
referem à frequência dos serviços de assistência técnica e social, mostram
essa disparidade das avaliações. Enquanto 43% afirmam receber assistência
regularmente, 46% só recebem esporadicamente e 8% afirmam nunca ter
recebido. Os dados podem ser visualizados no Gráfico 18:
64
GRÁFICO 18 – FREQUÊNCIA DA ASSISTÊNCIA TÉCNICA E SOCIAL
46%
46%
43%
43%
8%
8%
3%
De vez em quando
Regularmente
Nunca
Não responderam
Evidentemente, não podemos ignorar que são diferenciados os obje-
tivos e as formas de atuação dos técnicos encarregados pelos serviços de as-
sistência técnica e extensão rural, ofertados pelas instituições mencionadas
pelos jovens rurais. A partir da perspectiva dos jovens rurais entrevistados,
podemos sintetizar alguns aspectos relacionados aos serviços de assistência
técnica e extensão rural. Alguns mostram-se satisfeitos com os serviços de
assistência técnica e extensão rural prestados nas unidades produtivas fami-
liares ou nas comunidades em que vivem:
Sim, nós recebemos orientação da Emater. Eles vêm
até nossa casa, nos auxiliam. Daí, eles também pro-
porcionam reuniões. Todos os mês tem reuniões em
certos locais. (Tatiane, 16 anos, Jari).
Os técnicos da Emater fazem visita, né? Eles vêm visi-
tar,vêoquetuprecisa,acompanhaalgumacoisaquetu
pedir. Se solicitar eles vêm, seria assim né. No dia-a-dia
tu vai lá falar com eles, liga eles vêm se precisar, desse
jeito assim. (Roberto, 24 anos, Júlio de Castilhos).
65
Juventude Rural: Estudo na Região Central do Rio Grande do Sul
No entanto, outros jovens rurais apontam falhas nos serviços presta-
dos pelos técnicos da Emater, seja pelo não atendimento de suas necessidades
e demandas, seja pelas formas inadequadas de transmissão de informações.
Uma jovem rural revela que os técnicos não prestam os serviços de assis-
tência técnica e extensão rural na propriedade ou na comunidade, somente
atendendo no escritório da Emater na cidade nas oportunidades em que
solicita informações, conforme depoimento:
A princípio aqui não recebe assistência técnica. Olha,
a assistência técnica avaliando hoje é bem precária. É
bem difícil ter assistência, tem que vir na cidade e pe-
dir. A gente tem que correr atrás. A gente vai lá e pede
informação, pede na Emater, no sindicato. Enfim, a
gente, quem tem anseio vai atrás. (Viviane, 24 nos,
Tupanciretã).
Em Júlio de Castilhos, uma jovem entrevistada revelou a grande ex-
pectativa gerada com a possibilidade de constituição de um grupo juvenil
rural, com a assessoria da equipe de técnicos da Emater do município:
A gente recebe mais da Emater, com visitas na casa,
com encontros na comunidade. Agora estamos nos
organizando para fazer o grupo dos jovens também.
Estamos bem ansiosos, bem esperançosos que acon-
teça. (Aline, 26 anos, Júlio de Castilhos).
As principais atividades de formação profissional demandadas pelos
jovens rurais estão relacionadas, principalmente para a melhoria das ativida-
des agrícolas e pecuárias, seja no sentido de favorecer o desenvolvimento de
novas produções ou de melhorar as técnicas e qualificar os conhecimentos
para melhor desempenho das produções já desenvolvidas pelos jovens suas
66
famílias. As principais demandas de formação técnica dos jovens na região
são apresentadas no Gráfico 19. As áreas de interesse na capacitação técnica
são relacionadas, genericamente, com a agricultura e a pecuária ou a ocupa-
ções específicas dentro delas (perfazendo 47,6% do total dos que têm interes-
se em formação técnica), tais como: agroindústria, inseminação, veterinária,
ovinocultura, tambo de leite e fruticultura. Todavia, outras áreas não agríco-
las também aparecem em proporções menores (17,2%), tais como: artesana-
to, farmácia, informática, administração/contábil, eletricista e panificação.
GRÁFICO 19 – ÁREA DE INTERESSE NA FORMAÇÃO TÉCNICA (PERCENTUAL)
15,7
8,4
6,8
5,8
4,7
4,2
4,2
4,2
2,1
2,1
1,6
1
1
1
1
0,5
0,5
Agrícola
Técnico agrícola
Informática
Agropecuária
Veterinária
Pecuária
Tambo de leite
Administração/contábil
Agroindústria
Artesanato
Eletricista
Inseminação
Panificação
Fruticultura
Mecânica
Farmácia
Ovinocultura
A intenção de muitos jovens é aperfeiçoar os processos produtivos
agropecuários para melhorar a renda familiar e garantir condições para a
permanência no meio rural, conforme elucida o depoimento oral:
Eu acho que pra mim, talvez pro meu marido, pra
muitos daqui, algo que fosse relacionado daqui do
campo. Pra gente que não tem aquele pensamento
de saída pra fora, porque não adianta vir um técnico
67
Juventude Rural: Estudo na Região Central do Rio Grande do Sul
administrativo, numa posição desta área, um direi-
to, uma economia, uma coisa assim, pra gente a gen-
te não vai usar muito. Aqui fora a gente quer coisas
mais ligada aqui no campo. Se é pra deixar o jovem
no campo automaticamente tem que ser algo do cam-
po, que vise aqui no meio rural. Como eu disse, né,
técnicas para melhorar a terra. Mas, às vezes, a gente
tem dificuldades. Às vezes, tem que calcariar e a gente
depende de agrônomo de fora. Talvez muitas coisas
a gente podia solucionar nós mesmos, e depender de
vim sempre profissionais de fora pra fazer uma coisa
dessas. Lavoura de fumo também, tudo o que a gente
ocupar aqui fora, talvez 90% seria o caminho andado
se tivesse um pouco de especialização de tudo isso.
(Isabel, 27 anos, Júlio de Castilhos).
Isso não significa que as demandas pelas oportunidades de qualifi-
cação se restringem à produção agropecuária. Os jovens rurais, conforme
elucida o depoimento, desejam também realizar cursos de computação para
dominar novas tecnologias de informação e comunicação, imprescindíveis
para a inserção social no mundo contemporâneo, seja no meio rural ou no
meio urbano:
Eu gostaria de fazer curso de computação mesmo. Eu
já comecei a fazer uma vez e parei. É um curso que eu
gostaria de fazer. Acho que os jovens daqui gostariam
de receber curso de computação. Acho que é interesse
bem grande dos jovens. Aqui dentro eu não conheço
ninguém que tenha feito um curso assim. (Aline, 26
anos, Júlio de Castilhos).
68
Enfim, os jovens rurais pesquisados manifestaram desejo de partici-
par de atividades que possibilitem o desenvolvimento de novas atividades
produtivas ou a melhoria dos conhecimentos e as tecnologias das atividades
já desenvolvidas. Alguns jovens também sonham com atividades de educa-
ção informal que proporcionem melhores qualificações para a disputa de
ocupações laborais urbanas. Seja para o trabalho na agricultura ou em ocu-
pações fora dela, os jovens rurais gostariam de acessar novos espaços que
promovam ações de qualificação técnica e intelectual e possibilitem melho-
res inserções sociais e laborais.
Na região central do RS, as cooperativas agropecuárias também con-
tam com equipes de técnicos encarregadas pela prestação de alguns serviços
de assistência técnica e extensão rural para atender algumas necessidades
das famílias de agricultores. Entretanto, a partir dos depoimentos orais, fi-
ca claro que as relações entre as diretorias das cooperativas e as famílias
de agricultores são marcadas mais pelo atendimento de um cliente do que
propriamente de um associado. Assim, a cooperativa funciona como uma
instituição que os agricultores procuram para adquirir um produto ou um
serviço mais barato e realizar uma transação da produção agrícola com pre-
ços mais compensadores. Dessa forma, conforme depoimento de uma jo-
vem rural, as demandas de assistência técnica devem ser remuneradas pelos
agricultores afiliados à cooperativa:
Tem funcionário na cooperativa que presta assis-
tência, mas tem que pagar. O pai e a mãe são sócios
da Cooperagudo. Cooperativa é de vendas: tem fer-
ragem, mercado, material de construção, adubos e
agrotóxicos. Daí, o associado simplesmente ganha
desconto quando faz compras, mas, por ser sócio,
só ganha desconto não ganha outros benefícios.
(Andréia, 19 anos, Agudo).
69
Juventude Rural: Estudo na Região Central do Rio Grande do Sul
As empresas privadas, especialmente as que atuam mediante os siste-
mas de integração agroindustrial, também concorrem para a assistência téc-
nica das famílias de jovens rurais por nós entrevistados. Nessas situações,
toda a assistência técnica objetiva a resolução de algum problema técnico
ou administrativo dos dirigentes das agroindústrias, especialmente aquelas
orientadas para a produção de tabaco. De acordo com depoimentos orais de
jovens rurais de Agudo, em algumas situações, a equipe de técnicos vincula-
dos à agroindústria de tabaco se limita à tomada das assinaturas necessárias
aos contratos agrários de fornecimento do tabaco. Em outras situações, a
equipe técnica das agroindústrias de tabaco também orienta para sanar as
dúvidas dos agricultores integrados:
A gente recebe orientação da firma [agroindústria de
tabaco]. O cara para ser plantador de fumo precisa
ter uma firma pra vender o produto e essa firma dis-
ponibiliza o técnico, para prestar auxílio no que for
necessário. Esse instrutor da firma qualquer dúvida
que o produtor tem pergunta pra ele. (Andréia, 19
anos, Agudo).
Embora sejam diferenciadas as formas de atuação e os níveis de sa-
tisfação dos serviços prestados, notamos que essas instituições têm como
foco a família rural e, mais precisamente, os chefes das famílias. Apenas os
jovens rurais casados ou com maior nível de autonomização pessoal e finan-
ceira recebem alguma forma de assistência técnica agropecuária e oportu-
nidades de qualificação profissional.
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Livro juventude rural

  • 1.
  • 2. Everton Lazzaretti Picolotto Joel Orlando Bevilaqua Marin Juventude Rural Estudo na Região Central do Rio Grande do Sul Rio de Janeiro, 2018
  • 3. EDITORA BONECKER Editora Bonecker Ltda Rio de Janeiro 1ª Edição Novembro de 2018 ISBN: 978-85-7077-034-9 Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução deste livro com fins comerciais sem prévia autorização dos autores e da Editora Bonecker. Projeto Gráfico: Celeste M. N. Ribeiro J97 Juventude rural: estudo na região central do Rio Grande do Sul / Everton Lazzaretti Picolotto, Joel Orlando Bevilaqua Marin. – Rio de Janeiro: Bonecker, 2018. 100 p. : 14 x 21 cm ISBN 978-85-7077-034-9 1. Desenvolvimento rural. 2. Rio Grande do Sul. 3. Juventude Rural. 4. Extensão rural. I. Título. CDD-307.1
  • 4. S U M Á R I O INTRODUÇÃO  ....................................................................................................  14 RENDA,TRABALHO FAMILIAR E GESTÃO DA PROPRIEDADE  .....................  17 ESTUDOS ESCOLARES  ....................................................................................  33 INFRAESTRURA  ...............................................................................................  43 ORGANIZAÇÃO SOCIAL  ..................................................................................  55 ASSISTÊNCIA TÉCNICA E EXTENSÃO RURAL  ..............................................  62 POLÍTICAS PÚBLICAS  .....................................................................................  70 PROBLEMAS DA JUVENTUDE  ........................................................................  80 PERSPECTIVAS FUTURAS  ..............................................................................  91 CONSIDERAÇÕES FINAIS  ...............................................................................  97
  • 5. APRESENTAÇÃO Em 2013, um grupo de técnicos da Emater/RS, vinculados ao Escri- tório Regional de Santa Maria, iniciou um processo reflexão sobre a necessi- dade de instituir ações de assistência técnica e extensão rural, especialmente orientadas à juventude rural. Os primeiros investimentos foram no sentido da mobilização de diversos segmentos representativos da juventude rural da região central do RS para organizar esforços na construção coletiva de propostas de trabalho de inserção social e produtiva dos jovens rurais. A partir de então, técnicos da Emater/RS da região central de Santa Maria constituíram um Grupo Temático de Juventude Rural com o propósi- to de desencadear processos de articulações interinstitucionais para desen- volver e qualificar projetos de Assistência Técnica e Extensão Rural (ATER) orientados aos interesses da juventude rural. Na sequência, em reunião téc- nica de planejamento e avaliação das ações de ATER com jovens rurais, foi discutida a necessidade de constituir um Grupo Interinstitucional de Estu- dos e Ações com a Juventude Rural da região central do RS para estabelecer estratégias de qualificação do trabalho com essa categoria social. O Grupo Interinstitucional ficou sob a coordenação de Ângela Bea- tris Araújo da Silva Pereira, assistente técnica de juventude rural da regional de Santa Maria, e contou com a participação, por adesão, de extensionistas representantes de 18 municípios: Agudo, Cacequi, Dilermando de Aguiar, Dona Francisca, Faxinal do Soturno, Jaguari, Jari, Júlio de Castilhos, Mata, Nova Esperança do Sul, Nova Palma, Quevedos, Restinga Seca, São João do Polêsine, São Martinho da Serra, Silveira Martins, Toropi, Tupanciretã e Unistalda. No ano seguinte, agregaram-se instituições e lideranças juvenis, es- tudantes da UFSM e jovens da Casa Familiar Rural, bem como professores da UFSM, do Instituto Federal Farroupilha de São Vicente do Sul, Júlio de Castilhos e Jaguari. O esforço coletivo se deu no sentido de participar das
  • 6. reflexões do Grupo Temático da Emater e de construir um Programa de Estudos e de Ações com a Juventude Rural. O Programa teve os seguintes objetivos: 1) estabelecer diretrizes de ações do Grupo Interinstitucional; 2) elaborar propostas de ações de assis- tência técnica e extensão com a juventude rural da região; 3) realizar le- vantamentos de dados documentais e da realidade social dos jovens rurais; 4) conhecer os problemas que interferem na reprodução social da juventu- de rural e nos processos sucessórios; 5) proporcionar conhecimentos para qualificar a ação das instituições envolvidas na assessoria aos jovens rurais. Para atingir esses objetivos, o Grupo Interinstitucional percebeu a necessi- dade de realizar um amplo diagnóstico sobre a realidade socioeconômica dos jovens rurais, com vistas a compreender a situação da juventude na re- gião central do RS. Sob a perspectiva da UFSM, as participações dos professores e dos es- tudantes bolsistas foram viabilizadas por meio de projetos de extensão uni- versitária, que contou com apoio do Centro de Ciências Sociais e Humanas por meio de editais do Fundo de Incentivo à Extensão Universitária (FIEX). Os objetivos gerais desses projetos foram: 1) colaborar nas atividades de re- flexão crítica com extensionistas da Emater e jovens rurais a fim de, conjun- tamente, conhecer as instituições e as políticas públicas que orientam a ação dos jovens rurais na região central do RS; 2) colaborar na construção de um diagnóstico sobre a realidade socioeconômica da juventude rural; 3) partici- par de seminários temáticos de reflexão sobre a realidade da juventude rural na região com as organizações e os grupos de jovens envolvidos. Inicialmente, o Grupo Interinstitucional de Estudos e Ações com Ju- ventude Rural realizou um levantamento sobre os municípios da região on- de existem grupos de jovens organizados e sobre interesse e disponibilidade dos extensionistas da Emater/RS em participar do referido projeto. Em um segundo momento, o Grupo Interinstitucional elaborou um questionário socioeconômico para compreender a realidade da juventude rural nesses munícipios a partir da construção de uma sólida base de dados quantita-
  • 7. tivos. A participação dos profissionais da UFSM foi fundamental na ela- boração do questionário, pois o conhecimento e a prática de realização de pesquisas auxiliaram na construção do instrumento e no atendimento das expectativas dos diversos agentes envolvidos. Para esse momento, integrantes do Grupo Interinstitucional levan- taram a demanda de espaços de formações em metodologias de investiga- ção social para os integrantes do grupo. Em atendimento, os professores da UFSM ofereceram cursos de capacitação em metodologia da pesquisa para os membros envolvidos no levantamento de dados quantitativos e qualitati- vos sobre a juventude rural. Após os cursos de formação, foi realizada uma nova rodada de dis- cussão no Grupo Interinstitucional sobre os municípios da região onde seriam aplicados os questionários. Ficou acordado que os questionários se- riam aplicados em 14 municípios: Dilermando de Aguiar, Nova Esperança do Sul, Nova Palma, Silveira Martins, Restinga Seca, Dona Francisca, Mata, Cacequi, Quevedos, Agudo, Toropi, Unistalda, Tupanciretã e Jari. Nesses locais, técnicos da Emater/RS, que integravam o Grupo Interinstitucional, realizaram um importante trabalho de mobilização e sensibilização para apresentar os objetivos do projeto, ampliar as atividades de reflexão e estudo sobre a realidade da juventude e sanar as dúvidas relacionadas à aplicação do questionário de dados quantitativos. Os questionários foram aplicados pelos técnicos da Emater/RS, em seus respectivos municípios, ao longo do segundo semestre de 2014 e início de 2015. Ao final do trabalho de campo, foram contabilizados um total de 191 questionários. Os questionários foram tabulados com auxílio dos pro- fessores e alunos da UFSM. No primeiro semestre de 2015, foram realizadas as primeiras análises desses dados pelos membros do Grupo Interinstitu- cional. Entre outras informações, os dados apontavam as dificuldades que os jovens enfrentavam para permanecer no rural, relacionadas à produção e gestão do trabalho familiar, educação escolar, educação informal, infraes- trutura, políticas públicas e organização social.
  • 8. Em paralelo à aplicação dos questionários, integrantes do Grupo In- terinstitucional começaram a construir um roteiro de entrevistas semies- truturadas, visando complementar e aprofundar algumas informações levantadas pelos questionários. A entrevista semiestruturada, por ser uma técnica de pesquisa mais flexível, procurou captar, em profundidade, aspec- tos objetivos e subjetivos da realidade vivida pelos jovens rurais da região central do RS. As entrevistas qualitativas foram aplicadas entre os meses de janeiro e junho de 2015 pelos extensionistas da Emater e professores do Instituto Federal Farroupilha. No primeiro semestre de 2016, com vistas à comple- mentação de dados qualitativos, um bolsista do FIEX/UFSM, vinculado ao projeto, também realizou entrevistas semiestruturadas com jovens rurais do município de Agudo. Ao final, foram realizadas um total de 12 entre- vistas aprofundadas com jovens da região. Os bolsistas FIEX também rea- lizaram transcrição das entrevistas gravadas em áudio e colaboraram nos trabalhos de sistematização dos dados qualitativos. Por demanda do Grupo Interinstitucional, foi realizado um esforço para a tabulação e descrição dos dados quantitativos pela equipe da UFSM. Os bolsistas, sob a orientação de professores, realizaram o trabalho de ta- bulação e sistematização preliminar dos dados quantitativos. Esses dados foram apresentados e disponibilizados para o Grupo de forma detalhada em uma reunião ampliada, realizada no dia 25 de junho de 2015. A par- tir do segundo semestre de 2015, o Grupo Interinstitucional desencadeou a realização de reuniões e seminários regionais da juventude rural nas três microrregiões da Emater de Santa Maria para discutir temas de interesse da juventude rural – levando em consideração os dados do diagnóstico socioe- conômico – e as ações que poderiam ser realizadas com jovens rurais. Em Agudo, a equipe de extensionistas da Microrregião 03 da Ema- ter de Santa Maria organizou o II Seminário de Juventude Rural, com o propósito de levantar as demandas coletivas dos jovens rurais e questões de convivência social que interferem na qualidade de vida no meio rural.
  • 9. As discussões versaram sobre qualificação profissional, atividades espor- tivas e culturais, obras de infraestrutura e práticas de socialização. Como encaminhamento desse Seminário, ficou acordado que o aprofundamento dos debates e a construção de propostas para a juventude rural requer a participação ativa dos agentes social vinculados à Emater, aos Conselhos de Juventude e aos Grupos e Associações Juvenis Rurais de Agudo. No ano de 2016, foram tomadas importantes medidas no sentido de institucionalização de equipes de trabalho e desenvolvimento das primeiras ações de desenvolvimento da juventude rural na região central do RS. A equipe da Microrregião 03 da Emater deu continuidade aos trabalhos com a realização do III Seminário de Juventude Rural em Agudo. Além de jovens rurais, o evento contou com a participação de extensionistas, dirigentes da Emater na região, líderes de sindicatos e cooperativas, representantes das secretarias de governo municipal, professores e bolsistas da UFSM. Nesse Seminário, o objetivo foi apresentar os resultados do Diagnóstico da Juven- tude Rural da Região Central de Santa Maria e motivar os participantes para a elaboração de um projeto de ação com a juventude rural local. Desde abril de 2016, na Microrregião 01 da Emater Regional de Santa Maria, composta pelos municípios Cacequi, Capão do Cipó, Jaguari, Jari, Mata, Nova Esperança do Sul, Quevedos, Santiago, São Francisco de As- sis, São Pedro do Sul, São Vicente do Sul, Toropi e Unistalda, a equipe de extensionistas organizou o primeiro encontro com lideranças na cidade de Santiago, com a finalidade de apresentar uma proposta de trabalho com a juventude rural. Nesse evento, foi constituído o Comitê Gestor Microrregio- nal da Juventude Rural com a incumbência de pensar e delinear processos de construção coletiva de propostas de desenvolvimento para a juventude rural e de ações afirmativas da sucessão rural no campo. Ainda como enca- minhamento, ficou acordada a formação de um Comitê Gestor Municipal em todos os municípios da Microrregião 01 da Emater de Santa Maria para planejar devidamente os trabalhos com a juventude rural, considerando di- ferenciados problemas e propostas de desenvolvimento de cada município,
  • 10. cabendo ao Comitê Gestor Microrregional os papéis de avaliação e aprova- ção dos planos municipais. Assim, nos diversos municípios da Microrregião 01 da Emater Regio- nal de Santa Maria, constituíram-se Comitês Gestores Municipais da Juven- tude Rural, os quais, evidentemente, trabalham com dinâmicas e estratégias diferenciadas de ação. Integrantes dos Comitês Microrregional e Munici- pais da Juventude Rural também passaram a realizar reuniões com as famí- lias e com gestores municipais para efetivar trabalhos em parcerias. Já em agosto de 2016, na cidade de Jaguari, foi realizado o I Encontro Microrregio- nal de Jovens Rurais, com o objetivo principal de fazer o lançamento oficial do Comitê Gestor Microrregional da Juventude Rural, que contou com a participação de dirigentes e técnicos da Emater, autoridades municipais, representantes de organizações de agricultores familiares, representantes de instituições de ensino técnico e universitários e, aproximadamente, 200 jovens rurais. No conjunto dessas ações, os professores da UFSM participaram com a apresentação dos resultados do Estudo da Juventude Rural da Região Cen- tral do Rio Grande e com reflexões para a construção conjunta de propostas de desenvolvimento da juventude rural e de ações afirmativas para os pro- cessos de sucessão rural no campo. Em síntese, entre 2013 e 2016, diversas pessoas e instituições agrega- ram-se no esforço de construir projetos e ações para a inserção da juventu- de rural em processos de desenvolvimento rural. Nessa caminhada, esses agentes se sensibilizaram com a difícil situação dos jovens rurais, percebe- ram a importância da inclusão social da juventude rural e já colocaram em marcha algumas iniciativas, que podem representar os primeiros passos de uma grande construção coletiva. Os jovens rurais nos revelaram, com nú- meros e com palavras, que vivenciam situações dramáticas e que precisam de apoios múltiplos para garantir inserções positivas na sociedade, seja nas cidades ou nos campos. Números e palavras, contidos em estudo descritivo, revelam não somente uma realidade que precisa ser superada, mas também
  • 11. sonhos de uma vida futura no campo, com terra, com trabalho, com renda e, sobretudo, com dignidade. Por fim, vale registrar que, num primeiro momento, o presente texto foi submetido à publicação em Revista de divulgação da Emater/RS, com autoria interinstitucional. Com o indeferimento, os autores decidiram pela publicação em formato de livro, com propósito de divulgar os resultados do diagnóstico da juventude rural da região central do RS, entre agentes de de- senvolvimento rural, jovens rurais, estudantes e pesquisadores interessados nas problemáticas da juventude rural e do futuro da agricultura familiar nessa Região. Portanto, visando contribuir com o debate sobre a situação atual da juventude rural e as políticas públicas, agora publicamos os resulta- dos dessa caminhada do Grupo Interinstitucional da Juventude Rural. Vale ressaltar que os resultados apresentados neste livro só tornaram- -se possíveis pelo trabalho coletivo de diversas pessoas vinculadas a distintas instituições, que participaram nos debates e nos trabalhos de levantamentos de dados empíricos. Por isso, nós, autores deste livro, queremos expressar nossos sinceros e efusivos agradecimentos a todas as pessoas e instituições, nominadas em sequência, que se dedicaram incansavelmente ao trabalho em prol do reconhecimento e da afirmação da juventude rural da região central do RS. Também somos muito gratos ao Centro de Ciências Sociais e Humanas e ao Centro de Ciências Rurais da UFSM, que destinaram re- cursos para os projetos de extensão universitária e a publicação desse livro.
  • 12. EXTENSIONISTAS DA EMATER/RS Coordenação Geral Ângela Beatris Araújo da Silva Pereira Cláudia Bernardini Cláudio Fenando Lucca da Cunha Francisco Antonio Palermo Gilmar De Ponte José Renato Lovato Cadó Marilene Morais Ferreira Regina Helena Santarem Hernandes Equipe de pesquisa da Emater – Regional de Santa Maria Aline Baldissera Marzari Aline Berlese Suertegaray Anderson Denardin Cardoso Angela Maria Freiberger dos Santos Bruna Mezzomo Neubauer Carmem Michelsky Clari Jani Fortes Machado Tessari Claudia Bernardini Claudio Fenando Lucca da Cunha Eliane Guimaraes Lopes Eronita Pereira da Rocha Eva Berani Lopes Marafiga Fabricia Tadia Flávio Junior Rumpel Brum Iolanda Ernei da Silva oliveira Juliana Gomes da Silva Lisandra Bolzan Snowareski Marcia Reolon Morozo Marizete Rockenbach
  • 13. Rafael da Silva Vargas Sabrina Schunke Silvia Adriana Pinzon Gomes Vanessa Moleta Pazza EQUIPE DO INSTITUTO FEDERAL FARROUPILHA Danívia Prestes – IFFAR São Vicente Paulo Roberto Lecconi Deon – IFFAR São Vicente Simone Bochi Dornelles – IFFAR São Vicente EQUIPE DA ESCOLA FAMÍLIAR AGRÍCOLA Carina Rejane Pivetta Leandro Dalbianco EQUIPE DA UFSM Professores da UFSM Everton Lazzaretti Picolotto Joel Orlando Bevilaqua Marin Andréa Cristina Döor Bolsistas da UFSM Cristina Bremm Eduardo Jaehn Rodson Casanova Paôla Qoos Pfeifer
  • 14. 1 INTRODUÇÃO O objetivo deste texto é apresentar aspectos da realidade da ju- ventude rural da região central do RS, especificamente no que se refere a estudos escolares, produção e gestão do trabalho familiar, obras de in- fraestrutura, políticas públicas, organização social, problemas vivenciados pela juventude rural e perspectivas futuras. O texto prima pela descrição dos dados com o maior detalhamento possível, uma vez que o interesse maior na realização desta pesquisa era ampliar os conhecimentos sobre a realidade da juventude rural na perspectiva de contribuir para a reflexão e proposição de ações de assistência técnica e extensão rural. O estudo combina dados quantitativos e qualitativos. Os dados quantitativos foram obtidos por meio da aplicação de um questionário com questões fechadas. Os técnicos da Emater/RS aplicaram os questio- nários a jovens rurais residentes em 14 municípios da região central, a sa- ber: Dilermando de Aguiar, Nova Esperança do Sul, Nova Palma, Silveira Martins, Restinga Seca, Dona Francisca, Mata, Cacequi, Quevedos, Agu- do, Toropi, Unistalda, Tupanciretã e Jari. A aplicação dos questionários ocorreu no segundo semestre de 2014 e os primeiros meses de 2015. Ao final, a amostra foi constituída por um número total de 191 jovens rurais, sendo 94 rapazes e 97 moças. Os dados qualitativos foram produzidos a partir de entrevistas se- miestruturadas orientadas a 12 jovens rurais de ambos os sexos, residentes em seis municípios da região central do RS: Agudo, Júlio de Castilhos, To- ropi, Tupanciretã, Jari e Mata. A idade dos jovens rurais entrevistados va- riou entre 16 e 29 anos. Os jovens entrevistados foram selecionados a partir da indicação de técnicos da Emater/RS, participantes desta pesquisa. No momento da entrevista, somente três jovens continuavam os estudos esco- lares, estando um deles no ensino médio e os outros dois no ensino supe-
  • 15. 15 Juventude Rural: Estudo na Região Central do Rio Grande do Sul rior. Os demais afirmaram que já haviam concluído o ensino fundamental, médio ou superior, conforme Quadro 1[1] . QUADRO 1 – CARACTERIZAÇÃO DOS/AS JOVENS RURAIS ENTREVISTADOS/ AS NA REGIÃO CENTRAL DO RS Nome Idade Estado civil Escolaridade Estuda Município Tânia 18 Solteira Médio completo Não Agudo Viviane 24 Solteira Superior Não Tupanciretã Luan 19 Solteiro Superior incompleto Sim Agudo Andréia 19 Solteira Superior incompleto Sim Agudo Daniel 29 Solteiro Médio completo Não Agudo Fabiane 26 Casada Médio completo Não Toropi Helena 21 Solteira Médio completo Não Tupanciretã Tatiane 16 Solteira Médio incompleto Sim Jari Aline 26 Casada Fundamental completo Não Júlio de Castilhos Marcos 26 Casado Médio completo Não Mata Isabel 27 Casada Médio completo Não Júlio de Castilhos Roberto 24 Solteiro Médio incompleto Não Júlio de Castilhos [1] Com a finalidade de preservar o anonimato dos jovens rurais entrevistados, os seus nomes reais foram substituídos por nomes fictícios.
  • 16. 16 Vale ressaltar que, neste livro, nosso objetivo é descrever diversos as- pectos da realidade da juventude rural, com propósitos de compor um diag- nóstico orientador de reflexões e de ações para a estruturação de serviços de assistência técnica e extensão rural, que serão levados a termo pela equipe técnica da Emater/RS e outras instituições interessadas na inclusão socioe- conômica da juventude rural. Nossa intenção é que este texto tenha utilida- de, em especial, para todos que sonham e lutam por condições de vida digna aos jovens rurais. Contudo, os dados deste estudo estão disponíveis para todos os pesquisadores e extensionistas interessados no aprofundamento da sua análise e interpretação teórica. Este documento está organizado em torno de sete eixos temáticos. Inicialmente, descrevemos aspectos relacionados a renda, gestão e traba- lho familiar, estudos escolares, obras de infraestrutura, educação informal e organização social. Na sequência, apresentamos alguns aspectos que se configuram como problemas para a juventude rural. Por fim, sob o título perspectivas futuras, procuramos captar projetos dos jovens rurais para o ingresso na vida adulta.
  • 17. 17 2 RENDA,TRABALHO FAMILIAR E GESTÃO DA PROPRIEDADE A renda das famílias na agricultura familiar é um tema controverso e que provoca bons debates sobre as suas origens (diferentes fontes) e sobre a sua distribuição interna entre os membros das famílias. Os dados quanti- tativos coletados na região (Gráfico 1) mostram um cenário de predomínio de frequência das rendas agrícolas (cerca de 90%) e pecuárias (56%) no or- çamento das famílias. Entretanto, também devem ser consideradas como expressivas as rendas das políticas sociais, como as aposentadorias (32%), os programas de transferências de renda e outros benefícios (12%). Também aparecem como significativas as rendas provenientes do assalariamento (14%) e dos trabalhos como diaristas (14%). GRÁFICO 1 – FONTES DE RENDA DAS UNIDADES DE PRODUÇÃO FAMILIARES 89,5 56,5 31,9 14,1 14,1 12 5,8 2,1 1 Agricultura Pecuária Aposen- tadoria Assalaria- mento Trabalho como diarista Progr. transfe- rência de renda e outros benefícios Agroin- dústria Micro empre- sariado Silvicultura e extrativismo Os dados sobre as rendas dos jovens mostram que 55% afirmaram possuir renda própria. A distribuição das origens dos vencimentos dos jo-
  • 18. 18 vens com renda própria (Gráfico 2) evidencia que 57% delas provêm das atividades agropecuárias; 35%, de trabalhos assalariados e diaristas (comu- nidade e cidade); apenas 5% são referentes às rendas coletivas das proprie- dades; e 3%, de estágios. Esses dados fazem supor que a maioria dos jovens tem certa auto- nomia financeira para as suas despesas e para alguns investimentos. Esta parece ser a realidade de uma parcela dos jovens, especialmente os de faixa etária maior e os que já possuem suas próprias atividades econômicas (na agricultura ou fora dela). Todavia, muitos jovens, com alguma renda pró- pria ou sem renda própria, dependem fortemente das rendas da família. As famílias agricultoras, muitas vezes, operam com rendas indivisíveis para os seus membros (por exemplo, venda de uma safra). Todo o bolo de recursos gerados é visto como único e aproveitável na forma de novos investimentos ou na melhoria das condições de vida da família. Nessas situações, frequen- temente, com os recursos administrados pelos pais, os jovens ficam sem acesso à renda que contribuem para gerar, estabelecendo condições de forte dependência e controle no meio familiar. FIGURA 1 – FONTES DA RENDA PRÓPRIA 57% 57% 14% 14% 12% 12% 7% 7% 5% 3% 2% Agricultura e pecuária Trabalhos como diarista e empregos na comunidade Trabalho assalariado Trabalhos como diarista na cidade Renda coletiva da propriedade Estágios remunerados
  • 19. 19 Juventude Rural: Estudo na Região Central do Rio Grande do Sul Essas situações são complementadas com questões ligadas à baixa va- lorização do trabalho dos jovens ou a sua consideração como “ajuda”. Tais percepções não são generalizadas, alterando-se muito de famílias para fa- mília e podendo oscilar segundo certos critérios de idade, sexo, estado civil, vinculações escolares e inserções no mercado de trabalho assalariado. Esses aspectos são tratados nas seções a seguir. 2. 1 – OS JOVENS RURAIS TRABALHADORES NA UNIDADE FAMILIAR Os jovens entrevistados relataram situações em que os jovens rurais não são incorporados nos trabalhos familiares ou que apenas contribuem na realização de alguns trabalhos agrícolas e domésticos, tendo em vista a destinação do tempo e da atenção, prioritariamente, aos estudos escolares. No que se refere ao trabalho dos jovens nas atividades produtivas e domésticas, observamos que participam em grandes proporções dos cui- dados dos animais (64,9%), da organização da casa (62,8%) e, em médias proporções, do preparo dos alimentos (51,8%) e do cultivo de horta e pomar (50,8%). Apenas 6,3% afirmaram não participar dessas atividades. Tais da- dos podem ser observados no Gráfico 2: GRÁFICO 2 – PARTICIPAÇÃO NAS ATIVIDADES DOMÉSTICAS DA UPF 64,9 62,8 51,8 50,8 6,3 Cuidados dos animais Organizaçao da casa Preparo dos alimentos Cultivos da horta e pomar Não participam
  • 20. 20 Alguns jovens entrevistados se identificaram como trabalhadores em virtude de suas significativas participações na composição da força de trabalho e na gestão na unidade produtiva familiar. São jovens que toma- ram decisão de abandonar os estudos escolares e de permanecer na casa dos pais ou ainda de constituir a própria família pelo casamento. Assim, deixar de estudar, residir com os pais e/ou casar-se são condições que im- plicam, para os jovens rurais entrevistados, a assunção de maior peso e responsabilidades do trabalho na unidade produtiva familiar. Nessas con- dições, os jovens rurais tornam-se trabalhadores que potencializam a ca- pacidade produtiva e orientam os rumos da produção familiar, conforme depoimentos orais: Eu faço de tudo. É fumo, grãos, leite... Até funciona sem mim, mas acho que mais devagar, porque eles já têm mais idade. Normal, você ir mais devagar nessas condições. (Daniel, 29 anos, Agudo). Um pouco, ajudo em casa. Mas, específico, é mais o tambo que nós temos. É trabalho. Botamos a tirar lei- te da vaca prum lado, pro pasto, pra água. É isso aí, passo o dia nisso daí. Em casa, faço mínima coisa, varrer alguma coisa, que nem a área que é sempre eu que limpo. Na minha avaliação, esse trabalho é im- portante, porque é só eles, né. Se fosse mais irmãos, talvez, não seria tão importante da minha parte. Teria outras pessoas para ajudar. Mas como é só eles já se torna assim meio cansativo eles ficar sozinho, né. (Roberto, 24 anos, Júlio de Castilhos). Os depoimentos desses jovens, do sexo masculino, associam as ativi- dades na pecuária e agricultura como um trabalho, mas as tarefas domés-
  • 21. 21 Juventude Rural: Estudo na Região Central do Rio Grande do Sul ticas que eventualmente executam, como uma ajuda à suas mães. Por sua vez, as jovens rurais casadas percebem-se como trabalhadoras responsáveis pelos cuidados dos espaços domésticos e, ao mesmo tempo, ajudantes de seus maridos. O depoimento elucida: Fora o serviço da casa, do lar, que tenho casa, tenho família, tenho esposo, tem o meu jardim, tenho mi- nha horta. Mas, eu ajudo o esposo. Nós plantamos milho, arroz, soja. Claro que é a principal renda, né. E, daí, também plantamos feijão, mandioca, batata-doce para o consumo. Eu sempre ajudei o meu esposo nos afazeres em geral, o que eu posso ajudar. Claro que tem muitos afazeres que eu não posso ajudar. Mas, sempre que eu posso, eu ajudo ele e ele me ajuda, tro- camos os serviços. Eu acho muito importante e ati- vidade rural, para nós, pois é uma única renda atual da família. Então, temos que caprichar nas plantações para ter uma boa renda. (Fabiane, 26 anos, Toropi). Em suma, as responsabilidades e o peso do trabalho familiar au- mentam à medida que os jovens constroem seus processos de emancipação pessoal. Progressivamente, os jovens rurais assumem a condição social de trabalhadores, sem deixar de ser ajudantes nos serviços domésticos, no caso dos rapazes, ou ajudantes nos serviços das lavouras e das criações mercan- tis, no caso das moças.
  • 22. 22 2.2 – PARTICIPAÇÃO NO TRABALHO E GESTÃO DA PROPRIEDADE SEGUNDO O SEXO Quando é observada a participação de moças e rapazes nas atividades domésticas da propriedade, observamos que, enquanto as primeiras partici- pam mais da organização da casa, do preparo dos alimentos e dos cultivos de hortas e pomares, os segundos participam com menor frequência dessas atividades, estando mais interessados pelos cuidados com animais, como observado no Gráfico 3. GRÁFICO 3 – PARTICIPAÇÃO DE MOÇAS E RAPAZES NAS ATIVIDADES DOMÉSTICAS DA UPF 15,18 13,09 34,03 20,94 5,76 47,64 38,74 30,89 29,84 0,52 Participa na organização da casa Participa no preparo dos alimentos Participa dos cuidados dos animais Participa dos cultivos na horta e no pomar Não Participa Rapazes Moças Essa diferença é reforçada pelo Gráfico 4, no qual percebemos mais participação das moças nas atividades domésticas e, ao mesmo tempo, no trabalho na agricultura e nos estudos. Os rapazes dedicam-se mais ao tra- balho na agricultura e aos estudos.
  • 23. 23 Juventude Rural: Estudo na Região Central do Rio Grande do Sul GRÁFICO 4 – PARTICIPAÇÃO DE RAPAZES E MOÇAS NAS ATIVIDADES DA PROPRIEDADE 19,79 0,53 6,42 12,3 0,53 7,49 1,07 2 6 34 3 17 28 7 Trabalho na agricultura Trabalho doméstico Trabalho na agricultura e doméstico Trabalho na agricultura e estuda Trabalho doméstico e estuda Trabalho na agricultura, doméstico e estuda Somente estuda Rapazes Moças Quando observamos a participação por sexo dos jovens na gestão, to- mada de decisão e no trabalho, percebemos que os rapazes participam mais da organização da produção, da tomada de decisões sobre investimentos e da comercialização, enquanto as moças participam, em menores propor- ções, dessas atividades, e, em maior proporção, no trabalho direto na pro- priedade. Portanto, percebemos maior direcionamento para incluir os filhos homens na tomada de decisões e organização da propriedade, ainda que as moças também participem em boa medida, conforme mostra o Gráfico 5:
  • 24. 24 GRÁFICO 5 – PARTICIPAÇÃO DE MOÇAS E RAPAZES NA TOMADA DE DECISÃO, TRABALHO E COMERCIALIZAÇÃO NA UPF 30,53 18,42 25,26 27,89 1,58 1,58 22,11 21,05 17,37 22,63 Participa da organização da produção Apenas trabalha Participa da comercialização da produção Participa nas decisões dos investimentos Não participa Rapazes Moças 2.3 EXPERIÊNCIAS DE TRABALHO ASSALARIADO Entre os jovens entrevistados, poucos afirmaram que nunca estabe- leceram relações de trabalho assalariadas nas cidades. Em específico, Isabel (Júlio de Castilhos) justifica tal escolha pelo seu “gosto” pelo estilo de vida no meio rural. Contudo, entre os jovens entrevistados, foram comuns expe- riências laborais em relações assalariadas, que podem assumir um caráter temporário ou permanente. É o que mostra o depoimento: Eu trabalhei numa Cerealista, fazia a classificação de grãos. Não era uma parte técnica, mas era serviço. Não vou dizer que foi serviço ruim, tinha um certo esforço físico, mas era bom. Tava sempre no dia-a- -dia com pessoas diferentes, produtor. Era bom sabe, gostava. Ah, eu não vou dizer que foi ruim porque aprendi bastante coisa. Pra fora, sabe, a gente vai viver um outro dia-a-dia, sempre esse movimen- to. Eu gostei até. Não vou dizer que foi ruim, foi
  • 25. 25 Juventude Rural: Estudo na Região Central do Rio Grande do Sul bom, né? Pra mim foi bom. (Roberto, 24 anos, Júlio de Castilhos). Os jovens entrevistados demonstraram certa satisfação em relatar suas principais experiências laborais fora da unidade produtiva familiar. Isso indica que os jovens valorizam o trabalho assalariado, seja em rela- ções formais ou informais, pelas possibilidades de ganhos monetários, de construção da autonomia pessoal e acúmulo de experiências. As motivações para o ingresso no mercado de trabalho assalariado, legal ou informal, são bastante diversas. Uma razão evidenciada nos dados quantitativos é a es- cassez de terra para absorver o trabalho dos jovens e garantir-lhe condições de vida satisfatórias. Em face da limitação do fator terra, os jovens saem do meio rural em busca de outras formas de vinculação no mundo do traba- lho. Nas famílias rurais sem terra ou de pouca terra, torna-se crucial que os jovens migrem em busca de trabalhos assalariados. Agrega-se a isso a ne- cessidade de aumentar renda familiar em decorrência da impossibilidade de rendimentos satisfatórios das atividades produtivas agrícolas desenvolvidas pelas famílias dos jovens rurais. Em contextos de crise, derivada do endivi- damento ou de sinistros ambientais, os jovens rurais visualizam o trabalho assalariado como estratégia de complementação da renda da família. Para algumas jovens rurais, as inserções no mercado de trabalho assa- lariado são tecidas como caminhos para não reproduzir a profissão das mães. Trabalhar fora de casa torna-se, então, uma decisão importante para obter renda própria, que possibilita a conquista da autonomia pessoal e facilita a continuidade dos estudos escolares, tendo, no horizonte, ocupações laborais mais qualificadas e mais bem remuneradas fora da agricultura familiar. Alguns jovens rurais também se agregam ao mercado de trabalho assalariado como estratégia de aumentar os ganhos monetários para fazer investimentos na propriedade familiar. Dessa forma, conforme depoimento de Viviane, o trabalho assalariado possibilita a formação de uma poupança que se reverte em melhorias da propriedade:
  • 26. 26 Do que já estudei, posso unir o útil ao agradável. Atualmente, trabalho no sindicato dos trabalhadores rurais, como técnica. Mas, já concilio muito bem isso, nos dias de semana aqui, finais de semana lá, vai arru- mando, a gente vai ajeitando. Na verdade, esse traba- lho seria uma ajuda extra para mim investir lá, tenho um dinheirinho a mais todo mês que posso investir na propriedade. (Viviane, 24 anos, Tupanciretã). Os relatos das experiências de jovens rurais revelam que são múl- tiplas as razões das inserções em trabalhos assalariados fora das unidades produtivas de seus pais. Porém, isso não significa que eles encontrem faci- lidades para agregarem-se nos mercados de trabalho assalariado existentes nos municípios da região central do RS. Por fim, de maneira geral, os jovens rurais colaboram para o trabalho familiar, mas com diferenciadas formas de inserção. Os jovens que estudam e trabalham fora da unidade produtiva percebem o trabalho como ajuda à família, enquanto aqueles que residem com os pais ou são casados perce- bem-se mais como trabalhadores com grande importância na composição da força de trabalho familiar. Há também, em menores proporções, jovens que não contribuem para o trabalho familiar, pelo entendimento tanto do jovem rural e quanto de sua família de que os estudos escolares são mais importantes que o trabalho. Em relação às formas de agregação ao trabalho assalariado, temporário ou permanente, em relações formais ou informais, pode-se dizer que constituem formas de alocação da força de trabalho fami- liar excedente, complementação da renda família e construção de processos de autonomia pessoal dos jovens.
  • 27. 27 Juventude Rural: Estudo na Região Central do Rio Grande do Sul 2.4 GESTÃO DO TRABALHO NA PROPRIEDADE As diversas formas de participação dos jovens na composição da for- ça de trabalho refletem-se nos diferentes níveis de participação nos proces- sos de gestão das unidades produtivas e de decisões sobre os investimentos familiares. Os dados do levantamento quantitativo mostram que cerca de 52% dos jovens da região participam da organização da produção; 50%, das decisões sobre investimentos; e 42%, da comercialização. De outra parte, cerca de 40% afirmaram que participam apenas no trabalho. Os dados po- dem ser observados no Gráfico 6: GRÁFICO 6 – PARTICIPAÇÃO DOS JOVENS NAS ATIVIDADES DA UPF 52,4 50,3 42,4 39,3 3,1 Organização da produção Decisões dos investimentos Comercialização da produção Apenas com o trabalho Não participam Ao serem questionados sobre a participação em geral dos jovens da sua região no âmbito familiar, alguns jovens rurais garantem que, em mui- tas situações, os chefes de famílias ainda costumam reproduzir as práticas e concepções centralizadoras dos processos decisórios das unidades familia- res, como revela o depoimento: Eu acho que é cultural. Eles têm medo de o filho expor a ideias e ser melhor que a deles, que o filho queira tomar a frente e isso é uma questão cultural que eles não querem de jeito nenhum. Quem manda em casa é o pai, o chefe da família. Então, se o filho querer colocar uma ideia, se for melhor que a do pai,
  • 28. 28 mesmo que ele goste ele nunca vai aceitar. (Andréia, 19 anos, Agudo). Todavia, alguns jovens rurais relatam que suas famílias estão mu- dando as formas de organizar as relações intrafamiliares no sentido de pro- porcionar maior abertura para a participação das mulheres e dos jovens. Nos contextos contemporâneos, as relações seriam menos hierarquizadas e o comando não estaria centralizado nas mãos do homem, chefe de família. Os dados quantitativos mostram que, em 54% dos casos, os jovens afirmam participar das tomadas decisão sobre produção e investimento, enquanto que, em 31% dos casos, as decisões são tomadas pelos pais de forma con- junta; em 10% dos casos, o pai toma a decisão e, em 5%, a mãe. O Gráfico 7 mostra essa distribuição: GRÁFICO 7 – TOMADA DE DECISÕES SOBRE PRODUÇÃO E INVESTIMENTOS 54% 54% 31% 31% 10% 5% Jovens participam das decisões Pai e mãe Pai Mãe Assim, de maneira geral, as famílias tendem a construir relações mais horizontais e democráticas, criando situações mais favoráveis à parti- cipação dos jovens rurais, conforme depoimento: Todos participam. Claro, coisas pequenas não, mas um grande negócio, uma venda de fumo, sempre era
  • 29. 29 Juventude Rural: Estudo na Região Central do Rio Grande do Sul a família toda. Os meus pais são pessoas muito aber- tas, mas as pessoas mais antigas do interior não dão oportunidade pro jovem se expressar. (Andréia, 19 anos, Agudo). Os relatos orais indicam que os jovens rurais estão conquistando mais espaços para participar na gestão do trabalho e negócios familiares, seja ajudando a pensar os rumos da propriedade ou auxiliando os pais em suas decisões. As diferentes formas e níveis de participação na gestão das decisões e negócios da unidade familiar guarda certas relações com a maior inserção no trabalho familiar e na escola. Os depoimentos orais de três jo- vens rurais do sexo masculino, que contam com mais de 24 anos de idade, que deixaram de estudar e que contribuem significativamente no somatório da força de trabalho, revelam a conquista de posições com maior participa- ção nas questões relacionadas à produção, às transações comerciais e aos investimentos familiares: A gente conversa das possibilidades e entra num acordo, todos participam. Acho que poucos têm essa oportunidade de participar, poder opinar. (Daniel, 29 anos, Agudo). Aqui é tudo nós, desde alguma coisa que tu vai com- prar a gente decide junto. Comprar, um investimen- to, tudo nós sentemo pra ver se vale a pena ou não. (Roberto, 24 anos, Júlio de Castilhos). Sempre decidimos juntos. Acredito que, numa gran- de maioria, cada um dá sua opinião para decidir. (Marcos, 26 anos, Mata).
  • 30. 30 As jovens rurais casadas também revelam, em seus depoimentos, que desejam e reivindicam o direito de participar de todas as decisões do casal. Não se conformam, portanto, com a condição de meras expectadoras e de- monstram vontade de, ao lado do marido, assumir posições de protagonis- mo na gestão e nas decisões familiares: A gente sempre costuma conversar sobre tudo, por- que não tem como uma pessoa sozinha administrar tudo. Assim, como aqui em casa, o meu marido aju- da, na lavoura também ele sempre pede uma opinião. (Aline, 26 anos, Júlio de Castilhos). Sim, participo com certeza, porque eu sou bem críti- ca, reclamo do que eu acho que está errado, porque eu acho sempre que a gente pode melhorar. Tô sempre di- retamente ligada. (Isabel, 27 anos, Júlio de Castilhos). Da mesma forma, uma jovem entrevistada em Tupanciretã, cujos pais faleceram, informou que tem autonomia para planejar e conduzir ati- vidades produtivas. Junto com suas irmãs, que também são herdeiras, dis- cutem e decidem: A gente planta soja, temos produtos para consumo, tem mandioca, batata, uma horta e uma parte de fu- mo também que a gente planta lá. Sou eu quem faço os serviços, os trabalho na propriedade. Eu tenho mais outras irmãs que me ajudam também, é em conjunto. Olha, a princípio a gente tem que sentar e conversar. Cada um dá sua ideia e vê qual melhor maneira. Há um consenso, é tudo junto, as decisões
  • 31. 31 Juventude Rural: Estudo na Região Central do Rio Grande do Sul são tomadas junto. Na minha família, é eu e as mi- nhas irmãs, mas quem tem pai e a mãe vivos é bem complicado o filho tomar alguma decisão. (Viviane, 24 nos, Tupanciretã). Conforme depoimento, a ausência dos pais implicou a necessidade de construção da autonomia dessas jovens rurais, portanto, são responsáveis por planejar e executar as atividades familiares. No entanto, as jovens que estudam ou trabalham fora da propriedade familiar já não dispõem de am- plos espaços para manifestar seus pontos de vista acerca do planejamento familiar. As jovens Tatiane e Tania relataram que, em suas famílias, as dis- cussões são, inicialmente, realizadas pelos chefes da família. Somente após os entendimentos dos pais, elas e seus irmãos são informados, com possibi- lidade de manifestarem suas opiniões sobre as possíveis decisões: Quanto a decisão é mais eles tomam, eles dois tomam a decisão né. Quando dá pra ter mais tempo até, às ve- zes, a gente conversa todo mundo junto né. (Tatiane, 16 anos, Jari). Na minha família, primeiro, pai e mãe conversam, depois eles passam pros filhos dizer o que os filhos acham. Digamos que é um conjunto de opiniões, todo mundo ajuda na decisão. (Tânia, 18 anos, Agudo). De maneira semelhante, os jovens rurais do sexo masculino, que con- tinuam vinculados às instituições escolares e, por vezes, mudam-se para as cidades para realizar os estudos técnicos ou universitários, não conseguem ter amplos espaços para participar da gestão da unidade familiar. Nesses casos, o tempo e a energia vital são reservados para a continuidade dos es- tudos; por tal razão, tanto os jovens quanto seus pais internalizam certo
  • 32. 32 distanciamento dos filhos quanto às preocupações relacionadas com os tra- balhos e a gestão da propriedade familiar. Nessa perspectiva, os dados sobre o tempo em que os jovens passam na unidade de produção familiar (Gráfico 8) mostram que mais da metade (53%) dedicam-se em tempo integral, enquanto que 21% permanecem dois turnos, 17% passam somente um turno e 9% dedicam-se à propriedade ape- nas nos finais de semana. GRÁFICO 8 – TEMPO QUE PASSA NA UPF 53% 53% 17% 17% 21% 21% 9% 9% tempo integral um turno dois turnos somente nos finais de semana Contudo, a participação dos jovens na gestão da propriedade parece ter uma dimensão importante para os jovens rurais. Os jovens entrevista- dos afirmaram valorizar muito as oportunidades de participação nas deci- sões familiares. Acreditam, inclusive, que a participação no seio familiar interfere nas opções dos jovens de permanecer ou sair da propriedade dos pais. Assim, nas famílias que não abrem espaços para a participação dos filhos, torna-se mais difícil que os jovens desejem permanecer nas proprie- dades dos pais. Em contrapartida, as famílias com relações mais participa- tivas e democráticas podem favorecer as decisões dos filhos de permanecer no meio rural.
  • 33. 33 3 ESTUDOS ESCOLARES Os dados do levantamento quantitativo, com jovens entre 14 e 29 anos de idade, mostram que 52,40% deles estão estudando, enquanto 46,60% não estudam. Dentre os que estudam, observa-se que 11% estão no Ensino Fun- damental, 57% no Ensino Médio, 12% no Ensino Técnico, 17% cursam o Ensino Superior e 1% faz Pós-Graduação. A distribuição nos níveis de for- mação pode ser observada no Gráfico 9: GRÁFICO 9 – GRAU DE ESCOLARIZAÇÃO DOS JOVENS RURAIS DA REGIÃO CENTRAL DO RS 11% 11% 57% 57% 12% 12% 17% 17% 1% 2 Ensino Fundamental Ensino Médio Ensino Médio Técnico Superior Pós-Graduação N/S Na leitura dos relatos dos jovens entrevistados, tornaram-se claros os esforços individuais e familiares para garantir a frequência escolar e pro- longar os estudos nos maiores níveis possíveis. Tal fato é uma decorrência das imposições legais, que tornaram obrigatórios os estudos escolares, pelo menos, até os 14 anos de idade, mas também da percepção coletiva sobre a importância dos estudos na sociedade moderna, marcada pelas permanen-
  • 34. 34 tes transformações econômicas, tecnológicas, políticas e socioculturais, as quais os jovens rurais, desde suas infâncias, precisam acompanhar. Assim, os jovens relatam que a instituição escolar foi marcante em suas infâncias e, para acompanhá-la, vivenciaram sucessivas transferências e deslocamentos espaciais para adequarem-se às determinações políticas que confluíram no fechamento das escolas rurais e na nucleação em centros mais populosos ou na sede do município. Estudar implica, necessariamente, esforços individuais e familiares para garantir a continuidade dos estudos escolares. Nos depoimentos orais, os jovens rurais atribuem importâncias significativas aos estudos escola- res no contexto contemporâneo. Os estudos escolares são percebidos como meios fundamentais para a formação da identidade pessoal, qualificação profissional, reconhecimento social e preparação para a vida futura: É essencial, sem estudo a gente não é nada, até porque a gente tá vivendo num país que, se a gente não estu- da, a gente fica pra trás. (Luan, 19 anos, Agudo). Tu tem que ter estudos, porque tu não consegue tra- balhar. Até pra faxineira hoje tão te pedindo o tercei- ro grau. Então, tu tem que estudar. Tudo o que tu vai fazer vão te pedir estudo. Pra ti manusear a máquina tu tem que saber. Tu tem que estudar pra ti saber co- mo é que ela funciona. (Tatiane, 16 anos, Jari). Pelos relatos, os jovens compartilham de uma percepção coletiva de que vivemos em um mundo em constantes transformações, que pre- cisam ser constantemente assimiladas para não ficarmos desatualizados e excluídos do mundo moderno. Não obstante, a importância dos estudos está relacionada a múltiplas necessidades e expectativas, sejam pessoais, familiares ou sociais. Nesse sentido, os estudos são pontuados como meio
  • 35. 35 Juventude Rural: Estudo na Região Central do Rio Grande do Sul privilegiado de preparação para inserções laborais, especialmente vincula- dos aos empregos urbanos: Com certeza, os estudos são e estão sendo importan- tes para mim. Se eu não tivesse um grau de estudo já não estaria aqui no trabalho hoje. No meio rural tem serviço pra sempre se quiser, porque quem não planta trabalha de peão em outras propriedades. Agora pra arrumar um trabalho na cidade tu já tem que ter o estudo. Para a gurizada que termina o ensino médio e quer vim pegar um trabalho na cidade está compli- cado. Ainda mais hoje em dia, com a crise que e o de- semprego está complicado. (Andréia, 19 anos, Agudo). As vivências escolares dos jovens rurais também possibilita a apreen- são de conhecimentos que podem ser úteis na melhoria de processos técni- cos e produtivos da propriedade dos pais e na decodificação, por exemplo, dos conteúdos expressos nos contratos agrários, nas bulas, nas notas fiscais e outras formas de manifestação da cultura letrada. Esse entendimento é revelado também pelo levantamento quantitativo na região. Na opinião da maioria dos jovens, os estudos contribuem para melhorar a vida (48%) e as práticas na agricultura (34%), como mostra o Gráfico 10:
  • 36. 36 GRÁFICO 10 – CONTRIBUIÇÕES DA EDUCAÇÃO NA PERCEPÇÃO DOS JOVENS 48% 48% 34% 34% 11% 11% 7% 7% Melhorar vida Melhorar práticas agricultura Emprego urbano Sair do rural Para os jovens que deixaram de frequentar as escolas e estão cons- truindo seus projetos pessoais e familiares em torno da agricultura, os es- tudos também são considerados úteis e necessários para se organizarem diante um mundo em constantes mudanças, atualizarem-se em novos co- nhecimentos e tecnologias e administrar as atividades produtivas: Qualquer estudo é importante pra gente poder se ad- ministrar. Tudo o que a gente tem de estudo sempre é bom, tudo o que tu consegue aprender sempre é bom. (Aline, 26 anos, Júlio de Castilhos). Alguns jovens rurais por nós entrevistados também almejam ingres- sar em escolas técnicas (por exemplo, nos institutos técnicos federais), nas universidades e até mesmo em cursos de pós-graduação. Isso significa que os estudos continuados são projetados para objetivar inserções no mundo do trabalho em posições sociais consideradas superiores em relação aos seus pais. Especificamente, os estudos escolares são objetivados como estraté- gia de ascensão social. Portanto, enfrentam as viagens diárias até as uni- versidades ou transferem-se para as cidades que sediam cursos técnicos e
  • 37. 37 Juventude Rural: Estudo na Região Central do Rio Grande do Sul universitários ou ainda aproveitam as oportunidades abertas pelo ensino universitário à distância, conforme depoimento oral: Eu faço a faculdade à distância. No caso, quando eu tinha provas, o pai me levava. Agora eu posso ir de ônibus, já que vai ônibus todo dia pra lá, quando tem prova vou de ônibus. Eu pretendo, eu quero fazer mestrado e doutorado. Sempre quis, desde criança eu sempre disse que ia fazer matemática. Via meus cole- gas no terceiro ano falando “não sei o que vou fazer”. E eu já sabia desde sempre o que eu queria. (Andréia, 19 anos, Agudo). Embora sejam consensuais as percepções sobre as potencialidades dos estudos na melhoria das condições de vida e trabalho no meio rural, bem como na conquista de inserções positivas na sociedade, seja para as futuras ocupações urbanas, seja para continuidade dos trabalhos agrícolas, existem algumas contradições entre os discursos idealizados de jovens ru- rais sobre a escola e as condições objetivas de acesso ao ensino escolar. São elevadas as taxas de jovens rurais que não mais frequentam a escola. Nos municípios da região central de Santa Maria, nas últimas duas décadas, cresceram consideravelmente os cursos de nível técnico, tecnoló- gico e superior, ofertados por instituições públicas e privadas. Ademais, o ensino à distância ampliou o leque de alternativas de acesso ao ensino de nível superior. A expansão de instituições educativas, em tese, tornou mais factível o sonho de ingressar em cursos de qualificação profissional: Eu acho que se tu estuda e se tu quiser de verdade, tu consegue. Tem muitos lá que eu sei que não con- seguiram faculdade, daí tão fazendo curso técnico em São Vicente, que é o caso de uma vizinha minha.
  • 38. 38 Quando ela terminou o nono ano, ela fez a prova e passou lá, daí tá fazendo ensino médio e técnico já junto. A maioria é distância, tem alguns que não que- rem ir morar na cidade que vão estudar, mas o mu- nicípio oferece transporte pra ir, que daí é particular. Todo dia sai ônibus daqui do município pras faculda- des, tanto Santa Maria, como outros lugares também. (Andréia, 19 anos, Agudo). Embora as atuais oportunidades de acesso à qualificação profissional sejam ampliadas e facilitadas em relação às décadas anteriores, não se pode negar que estudos implicam sacrifícios pessoais dos jovens e suas famílias, além de maiores investimentos de tempo e de recursos financeiros para viabilizar os estudos. Os custos e as dificuldades do transporte são proble- mas reiterados nas falas dos jovens entrevistados nesta pesquisa. Estudar implica, necessariamente, deslocamentos espaciais da residência dos pais para as cidades sedes de cursos de nível técnico ou universitário. Para isso, alguns jovens rurais preferem transferir-se para as cidades, mas tal decisão ocasiona o aumento das despesas com aluguel, alimentação, dentre outras. Aqueles que optam pela permanência na casa dos pais precisam utilizar o transporte público para a frequência escolar diária, pelo menos, durante o ano letivo. Para esse grupo de jovens, o transporte torna-se um fator limi- tante para a continuidade dos estudos, conforme o depoimento: Eu acho que em todas as regiões têm transporte, têm escolas no interior. Muitas, eu acredito que é bem tran- quilo. Mas, para quem quer fazer uma faculdade ou um curso técnico é mais difícil. Que nem quem estuda fora, a maioria estuda e trabalha, estuda de noite e tra- balha de dia. Aí, precisa de transporte, porque os cur- sos universitários e técnicos são à noite. Aí, tem alguns
  • 39. 39 Juventude Rural: Estudo na Região Central do Rio Grande do Sul que levam os cursos adiante, mas nem todos têm con- dições, a maioria são do interior. No interior não tem transporte, só na zona urbana, daí fica mais compli- cado pro pessoal do interior. (Tânia, 18 anos, Agudo). Embora o crescimento considerável de instituições de ensino médio e superior, público ou privado, tenha ampliado as possibilidades de escolari- zação, alguns jovens idealizam a instalação de cursos em seus municípios, a fim de facilitar ainda mais o acesso a essas modalidades de ensino, sem pre- cisar sair de casa e se estabelecer em outras cidades: “Eu acho que tá faltando mais escolas técnicas na nossa cidade.” (Isabel, 27 anos, Júlio de Castilhos). “Ter pelo menos um técnico no município pra aquelas que não conseguem ir pra Santa Maria.” (Andréia, 19 anos, Agudo). Vale destacar que, normalmente, os estudos escolares de nível técnico e universitário são projetados para ocupações fora da agricultura familiar. Assim, a escola, ao mesmo tempo em que qualifica para outras vinculações laborais, facilita os processos de migração e abandono do trabalho familiar. Outro fator que contribui para esse processo é a baixa oferta de empregos nos mercados de trabalho nos municípios da região em estudo. De um la- do, as restrições de um retorno à propriedade familiar e, de outro lado, as limitações impostas pelo mercado de trabalho nos municípios de origem induzem os jovens rurais ao abandono do meio rural. A migração para ou- tras cidades ou regiões torna-se a única alternativa para a reinserção social: “Os jovens terminam o ensino médio e vão embora. Vão estudar num outro lugar, vão embora prá cidade.” (Tatiane, 16 anos, Jari). Os dados quantitativos mostram que apenas 25,10% dos jovens en- trevistados têm formação técnica, destacando-se, especialmente, as forma- ções na área da agropecuária, com 9,30% dos casos; em informática, com 6,80%; e em administração, contabilidade e secretariado, com 4,70%. A dis- tribuição das diferentes áreas de formação técnica é apresentada na Tabela 1:
  • 40. 40 TABELA 1 – ÁREA DE FORMAÇÃO TÉCNICA DOS JOVENS Área de formação técnica Frequência % Técnico agropecuário/ agrícola/ zootecnia/ veterinária/ agroindústria 18 9,30 Informática 13 6,80 Técnico administração/ contábil/ secretariado 9 4,70 Mecânica 2 1,00 Manicure 1 0,50 Tecnólogo alimentos/ nutrição 1 0,50 Não possuem formação técnica 143 74,90 Total 191 100 Fonte: pesquisa de campo da equipe do projeto. Os limites para a continuidade dos estudos tornam-se ainda maio- res para os jovens casados e com filhos. As responsabilidades do trabalho agrícola e doméstico são ampliadas, exigindo maior dispêndio de tempo, além do que os investimentos nos estudos se tornam demasiado pesados na economia doméstica de um jovem casal. O depoimento é elucidativo: Não estudo, mas precisaria ter mais estudo. Mas, ago- ra, como eu estou casada, tenho filho pequeno, a gen- te tira leite, aí não sobra muito tempo pra pensar em estudar. (Aline, 26 anos, Júlio de Castilhos). Pelo depoimento oral, o peso do trabalho e as responsabilidades fami- liares aumentam à medida que os jovens rurais constroem seus processos de
  • 41. 41 Juventude Rural: Estudo na Região Central do Rio Grande do Sul emancipação pessoal e constituem suas próprias famílias, implicando maio- res dificuldades para garantir frequência escolar regular. Contudo, isso não significa que os jovens abandonem o sonho do retorno aos estudos escolares, com a perspectiva de qualificação de suas atividades produtivas. Alguns jo- vens rurais entrevistados manifestaram o desejo de realizar cursos profis- sionalizantes com vistas a aprimorar os processos produtivos e aumentar a eficiência do trabalho, bem como acompanhar as mudanças tecnológicas: Parei de estudar. Completei o ensino médio e parei. Agora, só pretendo fazer algum curso de qualifica- ção. Eu acredito que sem estudo é difícil viver no mundo atual. Sem estudo não tem como evidenciar ou procurar novas tecnologias. Então, talvez, deveria ter cursos de qualificação na área que cada um vai exercer. (Marcos, 26 anos, Mata). Algumas demandas, conforme entrevistas com os jovens rurais, en- caminham-se no sentido de palestras, cursos e outras formas de qualificação que possam auxiliar na administração da propriedade, na ampliação de co- nhecimentos sobre as políticas públicas, no aperfeiçoamento dos processos produtivos e na qualificação da mão de obra. Os jovens demandam propos- tas de desenvolvimento que possam garantir a sua permanência no meio ru- ral, evitar a continuidade do êxodo rural e o envelhecimento populacional: Em infraestrutura seria a princípio a produção, um projeto que fosse. Ter uma renda própria deles, uma coisa simples, um meio pra tentar fazer com que eles continuassem. Se não for assim, acho que a grande maioria vai embora. Vai ficar só vovozinho daqui uns anos. (Roberto, 24 anos, Júlio de Castilhos).
  • 42. 42 Em suma, os jovens rurais que permanecem no meio rural mos- tram-se interessados em realizar cursos rápidos, que possam contribuir na melhoria dos processos produtivos agrícolas e das formas de inserção no mercado.
  • 43. 43 4 INFRAESTRURA Em relação às obras de infraestrutura, procuramos levantar per- cepções dos jovens sobre as condições das estradas municipais, transpor- tes público e escolar, internet e telefonia móvel, além de espaços de lazer e recreação. A propósito das estradas dos municípios, os jovens entrevistados revelaram situações bastante distintas: enquanto algumas foram avaliadas como ruins ou regulares, outras foram consideradas boas. Os dados quan- titativos a destacar são que 57,1% afirmaram que as estradas são ruins, en- quanto apenas 15,2% as consideraram boas. Os dados sobre as condições das vias rurais na região podem ser observados no Gráfico 11: GRÁFICO 11 – CONDIÇÕES DAS ESTRADAS NA REGIÃO 15,2% 15,2% 27,2% 27,2% 57,1% 57,1% 0,5% Boa Regular Ruim Não respondeu Alguns jovens entrevistados denunciaram o descaso do poder pú- blico municipal na manutenção das estradas de terra. Algumas situações são definidas como péssimas ou caóticas, chegando a dificultar o acesso aos serviços de transporte público e escolar de qualidade:
  • 44. 44 Atualmente, as estradas, o transporte, enfim, a situ- ação é péssima. É péssima mesmo. Tanto é que por aí o povo tá bem ciente, tá bem revoltado com isso. Isso prejudica não só a gente, mas as crianças que tão vindo lá de fora, faltando aula, muitos nem podem se deslocar pela falta de estrutura de estradas, de trans- porte público também. E, geralmente, na cidade não vai afetar muito, mais são as crianças lá de fora, os jo- vens de fora. Isso também se torna uma barreira para vir estudar. (Viviane, 24 nos, Tupanciretã). A má conservação das rodovias pode tornar-se um obstáculo para a continuidade dos estudos escolares. Contudo, em Júlio de Castilho, um jovem relembrou que, em relação há alguns anos, o poder público municipal melhorou as condições das rodovias de estradas de chão, o que possibilitou transporte escolar de melhor qualidade: Estradas têm as que são boas e as que são ruins. Até que tá boa as estradas. Não dá pra reclamar, mas já te- ve piore. Eu me lembro que a gente já pegou época que era bem ruim as estradas, não entrava ônibus, nós ti- nha que ir lá em cima todos os dias pegar o ônibus lá. Quando nós saia daqui, chegava lá em cima, o ônibus já tinha ido embora e tinha que voltar pra casa de no- vo no inverno, com chuva. Agora não, agora o ônibus passa aí sequinho, não tem como o pessoal não que- rer estudar. (Roberto, 24 anos, Júlio de Castilhos). Em Toropi e Júlio de Castilhos, conforme depoimentos de jovens ru- rais, as estradas apresentam boas condições de manutenção e trafegabilida- de, embora tenham ressaltado os danos causados pelas chuvas torrenciais:
  • 45. 45 Juventude Rural: Estudo na Região Central do Rio Grande do Sul As estradas estão praticamente boas. Claro, tem mui- tos pontos que não tão muito boas. Não tem como manter muito boas, pois tem dado muitas enxurra- das, chuvaradas e prejudicam bastante as estradas em gerais. Aí, a prefeitura não consegue manter. (Fabiane, 26 anos, Toropi). Olha, acho que nas estradas poderia melhorar. A gen- te não fala tanto do trabalho da prefeitura, dos órgãos responsáveis por que quando tá tendo a temporada de chuva não ajuda em muita coisa, né? (Isabel, 27 anos, Júlio de Castilhos). Os jovens rurais entrevistados fazem críticas às condições das es- tradas de seus municípios, mas entendem que a atuação do poder público municipal e as interferências das condições climáticas, especialmente a in- cidência de fortes chuvas, afetam diretamente as condições de manutenção e de tráfego das rodovias de estradas de terra nos munícipios pesquisados. 4.1 TRANSPORTE ESCOLAR Na visão de jovens entrevistados, o poder público municipal tem cumprido com suas obrigações no sentido de oferecer transporte escolar para os estudantes do meio rural: A gente tem transporte na porta de casa pra ir, pra poder estudar, pra voltar, tudo. Mas, a estrada é ruim. Mas falta o acesso a uma faixa, né? Até ficaria mais fácil pra gente permanecer no meio rural e ir da nossa propriedade para um lugar estudar, voltar a estudar à noite, voltar e estudar num turno de dia e voltar. (Tatiane, 16 anos, Jari).
  • 46. 46 Porém, os depoimentos orais fazem referências às facilidades de transporte de estudantes do ensino fundamental e médio. Os estudantes universitários não contam com apoio do poder público para facilitar o des- locamento dos jovens rurais até as universidades, seja no sentido de subsi- diar as passagens ou de viabilizar meios de transporte escolar. Em Agudo, os jovens universitários organizaram-se em associação para encontrar al- ternativas no sentido de reduzir os custos dos transportes universitários. Esses jovens rurais viabilizaram a contratação de uma empresa prestadora de serviços de transporte escolar a preços mais baixos que os praticados pelas empresas de transporte público. 4.2 TRANSPORTE PÚBLICO E OUTROS MEIOS DE DESLOCAMENTO A maioria dos jovens entrevistados (51,8%) informou que dispõe de transporte público regular, que passa nas proximidades de suas residências. Porém, 31,4% afirmaram que não contam com transporte público e 12% contam apenas de vez em quando. O Gráfico 12 mostra as respostas dos jovens na região: GRÁFICO 12 – DISPONIBILIDADE DE TRANSPORTE PÚBLICO 51,8 31,4 12 4,7 Sim Não De vez em quando Não responderam Ao observarmos os demais meios de deslocamento utilizados pelos jovens e suas famílias, vemos que a grande maioria utiliza veículos parti-
  • 47. 47 Juventude Rural: Estudo na Região Central do Rio Grande do Sul culares: carros (75,4%), motocicletas (37,7%) e bicicletas (6,3%), conforme o Gráfico 13: GRÁFICO 13 – MEIOS DE TRANSPORTE UTILIZADOS PELOS JOVENS 75,4 49,7 37,7 6,3 2,1 2,1 1 Carro Ônibus Motocicleta Bicicleta Trator Andar a pé Cavalo A utilização de automóveis próprios (ou da família), das motocicletas e das bicicletas reduzem a dependência dos jovens rurais ao transporte pú- blico. Entretanto, conforme relato de uma jovem rural, em Toropi, os ônibus regulares são semanais, o que restringe consideravelmente os deslocamen- tos espaciais da população que necessita de transporte público: Claro que no transporte público, aqui na minha re- sidência, passa uma vez por semana. Em outras re- sidências também passa uma vez por semana que dificulta, muitas vezes, o pessoal ir à cidade para fa- zer suas compras, depende de carona ou se tem car- ro próprio pra poder ir, né? Mas eu acho que é meio complicado. (Fabiane, 26 anos, Toropi). Em referência ao transporte público de Agudo, um jovem rural relata a regularidade diária das linhas de ônibus nos espaços rurais, mas agrega
  • 48. 48 outro problema: os preços elevados das passagens de ônibus, que, por fim, também limitam o livre de deslocamento: Praticamente passa o ônibus diariamente, só que o preço da passagem é alto, até porque eu não sei como funciona essa política. Eu ainda acho que a política está exercendo agora é uma política de que empresa do ônibus coloca esse valor de passagem, não sei se tem licitação alguma coisa assim. Mas é um preço al- to. (Luan, 19 anos, Agudo). Com o uso de carros e motocicletas particulares, os jovens rurais re- duzem a dependência dos meios de transporte público. Todavia, os jovens ru- rais, que dependem de ônibus para os deslocamentos espaciais para as cidades ou para escolas, enfrentam os problemas da má conservação das estradas de chão, da falta de regularidade diária ou dos elevados preços das passagens. 4.3 INTERNET E TELEFONIA MÓVEL Os jovens rurais entrevistados informaram que acessam serviços de telefonia móvel e internet. Ao que parece, os serviços de telefonia celular têm se expandido com mais facilidade entre os municípios pesquisados. Contudo, em alguns locais, os serviços não são de boa qualidade, confor- me depoimento: Aqui no município de Agudo eu acho que a questão de telefonia móvel está bom, a internet poderia me- lhorar. É depende de que meio tu vai pegar internet, porque tem antena no interior, só que se tu não con- segue visualizar a antena tu não tem o sinal. Mas aí já tem internet 3G da Vivo, Claro, Tim essas operadoras
  • 49. 49 Juventude Rural: Estudo na Região Central do Rio Grande do Sul multinacionais, que daí tem que pegar o telefone, e se o telefone não tem entrada de antena aí tu vai ter que subir o Cerro. (Luan, 19 anos, Agudo). Os dados quantitativos mostram que 97% dos jovens entrevistados têm acesso aos aparelhos de celular. No entanto, a qualidade do sinal ainda é um problema para muitos deles, de modo que cerca de 26% consideram o sinal ruim e cerca de 30% o consideram regular. O Gráfico 14 mostra a percepção deles sobre a qualidade do sinal: GRÁFICO 14: QUALIDADE DE SINAL DE CELULAR 35,1 26,2 30,9 7,9 Bom Ruim Regular Não responderam No que se refere à internet, cerca de 80% dos jovens entrevistados afirmaram ter acesso. No entanto, somente 51,8% têm acesso em casa, os demais têm acesso apenas na escola, no telecentro, na cidade ou no trabalho, como pode ser observado no Gráfico 15. Todavia, é importante registrar que cerca de 20% afirmaram não ter acesso à internet.
  • 50. 50 GRÁFICO 15 – LOCAL DE ACESSO À INTERNET 51,8 17,8 3,1 3,1 2,6 Na residência Na escola No telecentro Na cidade No trabalho Os jovens rurais fazem usos diversificados das tecnologias de infor- mação e comunicação, tais como: 1. Participar das redes sociais: Com certeza, até porque eu tenho colegas que fize- ram Ensino Fundamental comigo, que não tiveram a mesma oportunidade que eu tive de estudar. Hoje, a gente consegue conversar todo dia, a gente tem até grupo no WhatsApp e isso faz com que eles se sintam no meio de outros meios. Eles conseguem conviver com outras pessoas mesmo que estando no interior. (Luan, 19 anos, Agudo). 2. Realizar pesquisas escolares, inclusive cursos universitários à distância: No interior, a maioria dos lugares tem sinal de celular e internet. Quando eu morava em casa eu estudava de casa. Eu conseguia fazer uma faculdade estando
  • 51. 51 Juventude Rural: Estudo na Região Central do Rio Grande do Sul em casa, não precisando ir pra Santa Maria ou ou- tra cidade. Então, o jovem que tiver a internet pode ter a oportunidade também de fazer uma faculdade à distância e ficar trabalhando em casa. Abre opor- tunidades, até porque tem pessoas que não tem como se manter em Santa Maria ou em outras cidades pra estudar. (Andréia, 19 anos, Agudo). 3. Auxiliar na transmissão de novas ideias e melhoria da unidade produtiva familiar: Quando é usada de maneira legal, a Internet ajuda a melhorar, a dar ideias boas para o jovem integrar na propriedade. (Viviane, 24 nos, Tupanciretã). 4. Criar oportunidades de recreação e lazer entre os jovens rurais: Hoje, na minha concepção, o jovem acha que lazer é rede social. Teria que principalmente melhorar a in- ternet, porque o jovem acha que a rede social é o lazer dele. (Luan, 19 anos, Agudo) 5. Estimular a migração para as cidades: Mas tem casos que telefone e internet para os jovens têm deixado bastante a desejar na questão de aju- dar que permaneçam na propriedade. Geralmente, é um incentivo para vir para cidade. (Viviane, 24 anos, Tupanciretã).
  • 52. 52 6. Mudar valores das populações rurais tanto no sentido da edificação social quanto da difusão de “coisas ruins”: Olha, é um dilema, porque eu penso assim: que se o filho for bem criado, bem educado, que sabe diferen- ciar o certo do errado, ela traz benefícios. Eu penso assim. Mas também eu penso que tem o lado negro da tecnologia, que traz coisas ruins que se tu não tem um jovem bem consciente, com a cabeça bem feita, ela pode não usar pro lado bom e pode usar pro la- do ruim. Eu digo que é um dilema, porque eu tenho internet em casa, eu uso pra informação, pra saber notícias, essas coisas. Eu tenho um filho, amanhã ou depois ele vai ocupar. Mas também tem aquele lado negro, que a gente sabe que tem, que eles utilizam pra outras coisas, né. (Isabel, 27 anos, Júlio de Castilhos). Notamos, pelos depoimentos orais, que os jovens rurais fazem múl- tiplos usos das tecnologias de informação e comunicação e desejam a am- pliação das redes de transmissão para melhorar a qualidade dos serviços e as áreas de abrangência. Essas tecnologias também podem servir para cons- truir espaços para a divulgação de informações e transmissão de conheci- mentos no escopo dos serviços de extensão rural da região central do RS. 4.4 ESPAÇOS DE LAZER E RECREAÇÃO A falta ou a precariedade de espaços de lazer e recreação no meio rural é uma reclamação comum de jovens entrevistados:
  • 53. 53 Juventude Rural: Estudo na Região Central do Rio Grande do Sul Tem muitas comunidades que poderiam ter aquele investimento, sabe? Poderiam dar um suporte maior pra quem fica ali ter aquele momento de lazer. As próprias localidades poderiam melhorar os clube das famílias da linha. (Tânia, 18 anos, Agudo). A partir da realidade de Júlio de Castilhos, Roberto afirma que, além da insatisfação com a infraestrutura de recreação, os jovens rurais não or- ganizam atividades coletivas de lazer no meio rural e preferem divertir-se na cidade: A parte de lazer deixa muito a desejar. Primeiro, mui- tos jovens já não participam muito. Ás vezes, pra jogar bola, preferem pagar lá na cidade do que jogar aqui que tá todo mundo em casa. Mas, não tem alguma coisa diferente pra se distrair, pra ficar diferente no fim de semana. (Roberto, 24 anos, Júlio de Castilhos). Todavia, uma jovem rural de Agudo garante que não é na cidade, mas nas comunidades rurais, na companhia de familiares e amigos que encontra maiores possibilidades e melhores situações para as vivências de lazer e recreação: Não é que falta, porque em qualquer lugar junta uma turminha e vão jogar bola. Quando vou pro interior, eu não paro em casa, porque eu tenho jogo, tem isso, tem aquilo, tem bocha. Sempre tem uma coisa que eu saio pra fazer. Quando eu fico na cidade não tem o que fazer: ou vem na praça tomar mate ou fica em ca- sa. (Andréia, 19 anos, Agudo).
  • 54. 54 Daniel, que também reside em Agudo, relata a importância dos gru- pos de jovens na criação de oportunidades para encontrar os amigos, pra- ticar esportes e aproveitar os recursos naturais do meio rural, de maneira especial, para fazer trilhas com motocicletas: Aqui tem muitas opções de lazer. Têm grupos de jo- vens organizados, têm encontros direto, futebol final de semana, ginásio por tudo aí que consegue jogar bola. Mas, a febre agora é pegar a moto e fazer trilhas. Chega sábado de meio dia e não acha mais ninguém em casa: todo mundo em cima das motos. (Daniel, 29 anos, Agudo). Os jovens costumam manifestar descontentamento quanto às opor- tunidades de lazer e recreação que estão ao alcance no meio rural e, não ra- ramente, idealizam os espaços e as situações de lazer existentes nos espaços urbanos. No entanto, alguns jovens estão criando oportunidades de lazer e recreação no meio rural, fazendo dos encontros com os amigos e familiares e com as paisagens locais oportunidades de bem viver e divertir-se.
  • 55. 55 5 ORGANIZAÇÃO SOCIAL A visualização da participação dos jovens em organizações sociais mostra quais são os principais atores que atuam junto a esse público na re- gião. No Gráfico 16, podemos perceber que a Igreja, o sindicato, as associa- ções e cooperativas são as organizações com maior participação, enquanto os grupos de jovens aparecem em proporção média (12,6%) e os grupos de mulheres e movimentos sociais em menores proporções. GRÁFICO 16 – GRUPOS E ORGANIZAÇÕES DE QUE OS JOVENS PARTICIPAM 34,6 27,7 25,7 18,3 12,6 2,1 1 Igreja Sindicato Associações Cooperativas Grupos de jovens Grupos de mulheres Movimentos sociais Os jovens rurais entrevistados em Jari, Júlio de Castilhos, Tupanci- retã, Toropi e Mata afirmaram que não participam de associações juvenis. Não é tão fácil precisar as múltiplas causas que interferem no pouco interes- se dos jovens rurais na participação de instituições associativas. Porém, um fator que não pode ser desconsiderado é a redução da população rural si- tuada na faixa etária da juventude em decorrência das sucessivas migrações para os centros urbanos. Com poucos jovens vivendo nos espaços rurais,
  • 56. 56 torna-se difícil a constituição de associações juvenis, conforme depoimento de Viviane (24 anos, Tupanciretã), residente em assentamento rural: “Onde eu moro não tem grupo de jovens. A maioria são pessoas mais de idade. Jovens mesmo são muito pouco. É mais difícil de ficar lá.” Não obstante, alguns jovens entrevistados demonstraram interesse em participar de grupos sociais. Em decorrência da inexistência de associa- ções juvenis rurais, Fabiane e outras jovens rurais de Toropi ingressaram em uma associação de mulheres adultas: “Participo de um grupo de mulheres onde participam várias jovens também. Lá trabalhamos com artesanatos, com culinária. Tem aproximadamente vinte participantes, onde tem cinco jovens que participam conjuntamente.” (Fabiane, 26 anos, Toropi). Em alguns espaços sociais, como é o caso do Assentamento Santa Jú- lia, situado no município de Júlio de Castilhos, não existem associações ju- venis rurais. Contudo, estão em curso discussões para a constituição formal de grupos de jovens com propósitos de ampliar os espaços de aprendizados, sociabilidades e recreações, conforme depoimento: Não, aqui não tem grupo de jovens. Estamos organi- zando para esse ano começar a fazer. Eu acho que é bastante importante, porque é preciso que os jovens convivam entre si também. É isso que está faltando muito e também é uma forma de lazer, uma coisa di- ferente pra gente fazer, se conhecer, conhecer pessoas diferentes, ter conhecimento de mais coisas, não viver só aqui. Vou levantar de manhã já sei tudo o que eu tu tenho que fazer. Então, isso seria uma coisa diferente pra gente ter, pra gente se focar, pensar, pra gente que- rer fazer. (Aline, 26 anos, Júlio de Castilhos). Pelo depoimento, a jovem acredita que a constituição de um grupo juvenil poderia ampliar os horizontes de convivências e de conhecimentos
  • 57. 57 Juventude Rural: Estudo na Região Central do Rio Grande do Sul para além do universo proporcionado pela unidade familiar. Roberto tam- bém lamenta a inexistência de grupos de jovens no assentamento rural em que reside, porque percebe a importância das associações na criação de no- vas oportunidades de lazer e conhecimentos: Não, eu nem tô participando de nada. Aqui não tem o que participar, porque aqui não tem grupo de jo- vens. Olha, eu acho que seria bom pra conseguir uma excursão, um ônibus barato, pra fazer uma viagem, conhecer os lugares, visitar outras propriedades, sair, fazer coisas diferentes prá distrair os jovens. (Roberto, 24 anos, Júlio de Castilhos). A partir das entrevistas, constatamos que, em Agudo, encontram-se diversos grupos de jovens rurais, constituídos nas distintas localidades do município, designadas Linhas. Os Grupos de Jovens, por sua vez, vinculam- -se à Associação de Juventude Rural de Agudo (AJURA) – uma instituição fundada em 1990 que dispõe de registro formal. A cada dois anos, a AJURA convoca Assembleia Geral Ordinária para a eleição de uma nova diretoria, que se constitui por presidente, vice-presidente, secretário e vice-secretário, tesoureiro e vice-tesoureiro e o conselho fiscal composto por três jovens ti- tulares e três suplentes. As principais linhas de atuação da AJURA são orientadas para as ati- vidades esportivas e de lazer, como a organização de Olimpíadas Rurais[2] , torneios de futebol, bailes, peças de teatro e festas comemorativas do ani- versário de fundação da associação, bem como a participação em desfiles festivos. Os depoimentos de jovens de Agudo são elucidativos dos objetivos da associação juvenil: [2] Em 2016, foi realizada a 23ª edição da Olimpíada Rural organizada pela AJURA.
  • 58. 58 A AJURA se organiza através de grupos nas localida- des, tem grupos de jovens rurais de cada localidade. Hoje, acho que a gente está com cinco ou seis gru- pos de jovens. A AJURA também serve um pouco de lazer pra esses jovens, a gente faz a gincana, a gente pega e faz campanha de arrecadação de alimentos, campanha de arrecadação de roupas, toda essa de- manda mais social. Também a gente faz um dia que seja uma olimpíada, onde junta praticamente mais de 100 a 150 jovens que praticam todas modalidades olímpicas, desde bodoque até o futebol, vôlei, todos os esportes. (Luan, 19 anos, Agudo). Eu participo. Esse ano, eu entrei no grupo de jovens “Em busca de um novo amanhã”. E a AJURA é a as- sociação de todos, e eu faço parte da AJURA tam- bém, não da comissão, mas eu faço parte da comissão que organiza desfile do Colono e Motorista aqui no município. Quase todo mundo participa, porque es- sa é uma das únicas coisas que tem organizada, por exemplo, a Gincana Rural da AJURA. São dois dias, o fim de semana todo, que os jovens ficam em fun- ção de jogos, sabe? Aí, é muitas pessoas que partici- pam. Eu acho que a única oportunidade que os jovens têm a única associação que promove algum evento, é a AJURA. No interior, também tem os torneios de futebol 7, que acontecem durante o verão. Cada time faz um torneio de um dia, vem times de outros muni- cípios também pra jogar. (Andréia, 19 anos, Agudo).
  • 59. 59 Juventude Rural: Estudo na Região Central do Rio Grande do Sul Os depoimentos deixam claro que os jovens rurais de Agudo as- sociam-se aos Grupos Juvenis e à AJURA com objetivos prioritários de ampliarem os espaços e situações de convivência social, cultura, lazer e re- creação. Contudo, algumas ações desses agrupamentos juvenis constituí- dos em Agudo objetivam a promoção da benemerência social, por meio da organização de gincanas de solidariedade para recolhimento de alimentos e agasalhos ou da adesão às campanhas de doação de sangue. Essas ações coletivas são valorizadas pelas possibilidades de ampliação de conhecimen- tos, das relações amizade, das oportunidades de diversões e de participação social, bem como da melhoria das condições de trabalho na propriedade. Na avaliação de um jovem rural, estudante do Curso de História, A associação trás, principalmente, benefício intelec- tual. Um jovem trabalhando a cabeça sempre vai ser um jovem mais aberto. Vai estar em contato com ou- tras pessoas e vai ter uma mentalidade melhor que ajuda ele muito mais numa relação familiar, para que ele consiga trabalhar dentro da propriedade. (Luan, 19 anos, Agudo). Ainda de acordo com depoimentos orais de jovens de Agudo, essas associações também servem para ampliar os conhecimentos e a qualificação profissional. Para tanto, os jovens referenciam a Emater como a principal instituição de apoio às associações juvenis. A Emater favorece diversas ini- ciativas de mobilização dos grupos Juvenis e da AJURA, cedendo espaços para as reuniões e organização de eventos juvenis, além de proporcionar palestras e cursos sobre questões de interesse da produção e da vida rural. Os grupos trabalham bastante com a Emater. É bom sempre, eles trazem muito auxílio, novos cursos vol- tados à temática de agricultura, que os jovens podem
  • 60. 60 participar. Além de auxílio, sempre tem tudo o que é necessário. A Emater sempre cede a sala de reuniões para as reuniões da AJURA. (Tânia, 18 anos, Agudo). Eventualmente, os jovens rurais de Agudo contam com alguns apoios financeiro e logístico da prefeitura municipal e dispõem de alguns espaços para apresentação nas festividades locais. Os grupos juvenis rurais, situados nas distintas Linhas do município de Agudo, também procuram manter boas relações com os Círculos de Pais e Mestres e com os diretores escola- res a fim de conseguir espaços, nas escolas, para a realização de reuniões e encontros de jovens. 5.1 ASSOCIAÇÃO DE JOVENS UNIVERSITÁRIOS Em relação aos processos associativos, vale apena mencionar a parti- cipação de jovens rurais na constituição de uma Associação de Jovens Uni- versitários. Essa iniciativa associativa surgiu no município de Agudo com o propósito de reduzir os custos dos transportes de estudantes universitários e facilitar os deslocamentos diários até Universidade de Santa Cruz do Sul (UNISC), na cidade de Santa Cruz do Sul, conforme relato de um jovem rural: A gente formou a Associação dos Estudantes Universitários que eu também participo. a Associação dos Estudantes se formou faz um ano. Um ano e pou- quinho que ela existe, mas ela foi formada por que nós precisava de um CNPJ, porque a gente não que- ria mais participar do ônibus que era até a UNISC. A gente queria abrir uma licitação, daí a gente precisava de um CNPJ. Então, a gente criou a associação e con- tratamos uma empresa terceirizada pra levar nós até
  • 61. 61 Juventude Rural: Estudo na Região Central do Rio Grande do Sul Santa Cruz, o que diminui os custos em torno de R$ 200,00 por mês pra cada estudante. Vale notar que a Associação de Jovens Universitários está constituída por cerca de 20 jovens rurais e urbanos, interessados em facilitar os trans- portes e reduzir seus custos. Além disso, essa associação constitui-se em importante investimento dos jovens para garantir a frequência escolar e a conclusão de um curso de nível superior. 5.2 PARTICIPAÇÃO SOCIAL EM SINDICATOS RURAIS E COOPERATIVAS Os jovens entrevistados não apontaram quaisquer ações desenvolvi- das pelos Sindicatos Rurais que fossem orientadas para a juventude rural. Os jovens rurais, por sua vez, não demonstraram muito interesses na afilia- ção aos Sindicatos Rurais. Aliás, a afiação às instituições sindicais parece ser uma questão da alçada dos adultos e não dos jovens. Luan (19 anos), que mora em Agudo, revela: “Tem o Sindicato dos Trabalhadores Rurais, que é organizado pela FETAG. Mas, não tenho um envolvimento com eles, nunca cheguei a conversar.” Ainda a propósito dos Sindicatos Rurais, a afirmação de Andréia é mais categórica: “O jovem não tem interesse.” Alguns jovens entrevistados mencionaram que mantêm vínculos associativos com cooperativas agrícolas, com o objetivo de barganhar nas transações mercantis. Assim, foram os jovens de Agudo que mencionaram afiliações à Cooperagudo, a Dália Alimentos Cosuel e a Campal. O jovem (Luan, 19 anos, Agudo) relata: “Aqui, tem a Cooperativa de Agudo, mas têm muitos jovens de Agudo que são mais chegados na cooperativa de Nova Pal- ma, a Campal, porque quando eles vão vender, principalmente, soja e arroz. Eles vão mais pra lá por que vale mais a pena por causa do preço.”
  • 62. 62 6 ASSISTÊNCIA TÉCNICA E EXTENSÃO RURAL Os jovens rurais entrevistados informam que suas famílias recebem serviços de assistência técnica e de extensão rural de diversas organizações. Os principais órgãos de quem mais recebem serviços de assistência são: Emater (77%), cooperativas (29,3%), empresas privadas (25,7%), Secretarias de Agricultura dos municípios (24,1%), sindicatos (14,1%), entre outros. A distribuição das organizações que prestam assistência pode ser visualizada no Gráfico 17: GRÁFICO 17 – DE QUEM A FAMÍLIA RECEBE ASSISTÊNCIA TÉCNICA E SOCIAL 77 29,3 25,7 24,1 14,1 7,9 5,8 5,8 0,5 Emater Cooperativas Empresas de insumos/sementes Secretaria da Agricultura Sindicato Vendedores autônomos Igreja ONG's e associações Sebrae Os depoimentos orais de jovens de Toropi e Agudo também indicam que as principais instituições de assistência técnica e extensão rural são a Emater e as cooperativas agrícolas:
  • 63. 63 Juventude Rural: Estudo na Região Central do Rio Grande do Sul A Emater dá assistência nos grupos. As cooperati- vas também dão assistência. E é muito importante a assistência deles. Nós temos bastante, tem nos gru- pos de mulheres, tem assistência da Emater, bem como nas propriedades a Emater dá assistência. As Cooperativas aqui em Toropi têm a Coomate também dão assistência aos produtores. Tudo o que precisam, bem como nas lavouras, têm os agrônomos que dão as dicas. O Sindicato também ajuda bastante os pe- quenos agricultores. Eu acho que é muito bom a assis- tência que eles dão. (Fabiane, 26 anos, Toropi). Da Emater, principalmente. Da COSUEL, Dália tem uns técnicos que vem. E tem os técnicos da cooperati- va, mas tu tem que ir procurar eles para tirar dúvida. Aqui na Emater, muitas vezes, tu liga pra te informar e eles passam na propriedade. Da Dália passa o técni- co uma vez a cada 30 dias mais ou menos. (Daniel, 29 anos, Agudo). Em relação à qualidade e frequência dos serviços prestados, alguns jovens rurais entrevistados avaliaram positivamente a atuação das insti- tuições públicas e privadas, enquanto outros apresentaram críticas e falhas dos serviços que suas famílias recebem. Os dados quantitativos, no que se referem à frequência dos serviços de assistência técnica e social, mostram essa disparidade das avaliações. Enquanto 43% afirmam receber assistência regularmente, 46% só recebem esporadicamente e 8% afirmam nunca ter recebido. Os dados podem ser visualizados no Gráfico 18:
  • 64. 64 GRÁFICO 18 – FREQUÊNCIA DA ASSISTÊNCIA TÉCNICA E SOCIAL 46% 46% 43% 43% 8% 8% 3% De vez em quando Regularmente Nunca Não responderam Evidentemente, não podemos ignorar que são diferenciados os obje- tivos e as formas de atuação dos técnicos encarregados pelos serviços de as- sistência técnica e extensão rural, ofertados pelas instituições mencionadas pelos jovens rurais. A partir da perspectiva dos jovens rurais entrevistados, podemos sintetizar alguns aspectos relacionados aos serviços de assistência técnica e extensão rural. Alguns mostram-se satisfeitos com os serviços de assistência técnica e extensão rural prestados nas unidades produtivas fami- liares ou nas comunidades em que vivem: Sim, nós recebemos orientação da Emater. Eles vêm até nossa casa, nos auxiliam. Daí, eles também pro- porcionam reuniões. Todos os mês tem reuniões em certos locais. (Tatiane, 16 anos, Jari). Os técnicos da Emater fazem visita, né? Eles vêm visi- tar,vêoquetuprecisa,acompanhaalgumacoisaquetu pedir. Se solicitar eles vêm, seria assim né. No dia-a-dia tu vai lá falar com eles, liga eles vêm se precisar, desse jeito assim. (Roberto, 24 anos, Júlio de Castilhos).
  • 65. 65 Juventude Rural: Estudo na Região Central do Rio Grande do Sul No entanto, outros jovens rurais apontam falhas nos serviços presta- dos pelos técnicos da Emater, seja pelo não atendimento de suas necessidades e demandas, seja pelas formas inadequadas de transmissão de informações. Uma jovem rural revela que os técnicos não prestam os serviços de assis- tência técnica e extensão rural na propriedade ou na comunidade, somente atendendo no escritório da Emater na cidade nas oportunidades em que solicita informações, conforme depoimento: A princípio aqui não recebe assistência técnica. Olha, a assistência técnica avaliando hoje é bem precária. É bem difícil ter assistência, tem que vir na cidade e pe- dir. A gente tem que correr atrás. A gente vai lá e pede informação, pede na Emater, no sindicato. Enfim, a gente, quem tem anseio vai atrás. (Viviane, 24 nos, Tupanciretã). Em Júlio de Castilhos, uma jovem entrevistada revelou a grande ex- pectativa gerada com a possibilidade de constituição de um grupo juvenil rural, com a assessoria da equipe de técnicos da Emater do município: A gente recebe mais da Emater, com visitas na casa, com encontros na comunidade. Agora estamos nos organizando para fazer o grupo dos jovens também. Estamos bem ansiosos, bem esperançosos que acon- teça. (Aline, 26 anos, Júlio de Castilhos). As principais atividades de formação profissional demandadas pelos jovens rurais estão relacionadas, principalmente para a melhoria das ativida- des agrícolas e pecuárias, seja no sentido de favorecer o desenvolvimento de novas produções ou de melhorar as técnicas e qualificar os conhecimentos para melhor desempenho das produções já desenvolvidas pelos jovens suas
  • 66. 66 famílias. As principais demandas de formação técnica dos jovens na região são apresentadas no Gráfico 19. As áreas de interesse na capacitação técnica são relacionadas, genericamente, com a agricultura e a pecuária ou a ocupa- ções específicas dentro delas (perfazendo 47,6% do total dos que têm interes- se em formação técnica), tais como: agroindústria, inseminação, veterinária, ovinocultura, tambo de leite e fruticultura. Todavia, outras áreas não agríco- las também aparecem em proporções menores (17,2%), tais como: artesana- to, farmácia, informática, administração/contábil, eletricista e panificação. GRÁFICO 19 – ÁREA DE INTERESSE NA FORMAÇÃO TÉCNICA (PERCENTUAL) 15,7 8,4 6,8 5,8 4,7 4,2 4,2 4,2 2,1 2,1 1,6 1 1 1 1 0,5 0,5 Agrícola Técnico agrícola Informática Agropecuária Veterinária Pecuária Tambo de leite Administração/contábil Agroindústria Artesanato Eletricista Inseminação Panificação Fruticultura Mecânica Farmácia Ovinocultura A intenção de muitos jovens é aperfeiçoar os processos produtivos agropecuários para melhorar a renda familiar e garantir condições para a permanência no meio rural, conforme elucida o depoimento oral: Eu acho que pra mim, talvez pro meu marido, pra muitos daqui, algo que fosse relacionado daqui do campo. Pra gente que não tem aquele pensamento de saída pra fora, porque não adianta vir um técnico
  • 67. 67 Juventude Rural: Estudo na Região Central do Rio Grande do Sul administrativo, numa posição desta área, um direi- to, uma economia, uma coisa assim, pra gente a gen- te não vai usar muito. Aqui fora a gente quer coisas mais ligada aqui no campo. Se é pra deixar o jovem no campo automaticamente tem que ser algo do cam- po, que vise aqui no meio rural. Como eu disse, né, técnicas para melhorar a terra. Mas, às vezes, a gente tem dificuldades. Às vezes, tem que calcariar e a gente depende de agrônomo de fora. Talvez muitas coisas a gente podia solucionar nós mesmos, e depender de vim sempre profissionais de fora pra fazer uma coisa dessas. Lavoura de fumo também, tudo o que a gente ocupar aqui fora, talvez 90% seria o caminho andado se tivesse um pouco de especialização de tudo isso. (Isabel, 27 anos, Júlio de Castilhos). Isso não significa que as demandas pelas oportunidades de qualifi- cação se restringem à produção agropecuária. Os jovens rurais, conforme elucida o depoimento, desejam também realizar cursos de computação para dominar novas tecnologias de informação e comunicação, imprescindíveis para a inserção social no mundo contemporâneo, seja no meio rural ou no meio urbano: Eu gostaria de fazer curso de computação mesmo. Eu já comecei a fazer uma vez e parei. É um curso que eu gostaria de fazer. Acho que os jovens daqui gostariam de receber curso de computação. Acho que é interesse bem grande dos jovens. Aqui dentro eu não conheço ninguém que tenha feito um curso assim. (Aline, 26 anos, Júlio de Castilhos).
  • 68. 68 Enfim, os jovens rurais pesquisados manifestaram desejo de partici- par de atividades que possibilitem o desenvolvimento de novas atividades produtivas ou a melhoria dos conhecimentos e as tecnologias das atividades já desenvolvidas. Alguns jovens também sonham com atividades de educa- ção informal que proporcionem melhores qualificações para a disputa de ocupações laborais urbanas. Seja para o trabalho na agricultura ou em ocu- pações fora dela, os jovens rurais gostariam de acessar novos espaços que promovam ações de qualificação técnica e intelectual e possibilitem melho- res inserções sociais e laborais. Na região central do RS, as cooperativas agropecuárias também con- tam com equipes de técnicos encarregadas pela prestação de alguns serviços de assistência técnica e extensão rural para atender algumas necessidades das famílias de agricultores. Entretanto, a partir dos depoimentos orais, fi- ca claro que as relações entre as diretorias das cooperativas e as famílias de agricultores são marcadas mais pelo atendimento de um cliente do que propriamente de um associado. Assim, a cooperativa funciona como uma instituição que os agricultores procuram para adquirir um produto ou um serviço mais barato e realizar uma transação da produção agrícola com pre- ços mais compensadores. Dessa forma, conforme depoimento de uma jo- vem rural, as demandas de assistência técnica devem ser remuneradas pelos agricultores afiliados à cooperativa: Tem funcionário na cooperativa que presta assis- tência, mas tem que pagar. O pai e a mãe são sócios da Cooperagudo. Cooperativa é de vendas: tem fer- ragem, mercado, material de construção, adubos e agrotóxicos. Daí, o associado simplesmente ganha desconto quando faz compras, mas, por ser sócio, só ganha desconto não ganha outros benefícios. (Andréia, 19 anos, Agudo).
  • 69. 69 Juventude Rural: Estudo na Região Central do Rio Grande do Sul As empresas privadas, especialmente as que atuam mediante os siste- mas de integração agroindustrial, também concorrem para a assistência téc- nica das famílias de jovens rurais por nós entrevistados. Nessas situações, toda a assistência técnica objetiva a resolução de algum problema técnico ou administrativo dos dirigentes das agroindústrias, especialmente aquelas orientadas para a produção de tabaco. De acordo com depoimentos orais de jovens rurais de Agudo, em algumas situações, a equipe de técnicos vincula- dos à agroindústria de tabaco se limita à tomada das assinaturas necessárias aos contratos agrários de fornecimento do tabaco. Em outras situações, a equipe técnica das agroindústrias de tabaco também orienta para sanar as dúvidas dos agricultores integrados: A gente recebe orientação da firma [agroindústria de tabaco]. O cara para ser plantador de fumo precisa ter uma firma pra vender o produto e essa firma dis- ponibiliza o técnico, para prestar auxílio no que for necessário. Esse instrutor da firma qualquer dúvida que o produtor tem pergunta pra ele. (Andréia, 19 anos, Agudo). Embora sejam diferenciadas as formas de atuação e os níveis de sa- tisfação dos serviços prestados, notamos que essas instituições têm como foco a família rural e, mais precisamente, os chefes das famílias. Apenas os jovens rurais casados ou com maior nível de autonomização pessoal e finan- ceira recebem alguma forma de assistência técnica agropecuária e oportu- nidades de qualificação profissional.