A lei de Okun é uma relação empírica entre as variações no produto agregado (em relação à sua tendência potencial) e variações na taxa de desemprego (em relação à taxa natural). Esta lei permite avaliar a perda do Produto Interno Bruto (PIB) quando a taxa de desemprego está acima da taxa natural. Assim, ela pode ser entendida como um guia para a política monetária, ao sugerir uma forma de se aumentar o produto reduzindo o desemprego. Apesar da sua popularidade, a estabilidade e utilidade desta lei é disputada
1. Economic Letter
2014 número 1
Lei de Okun
Luiz Nelson Porto Araujo
A lei de Okun é uma relação empírica entre as variações no produto agregado (em relação à
sua tendência potencial) e variações na taxa de desemprego (em relação à taxa natural). Esta
lei permite avaliar a perda do Produto Interno Bruto (PIB) quando a taxa de desemprego
está acima da taxa natural. Assim, ela pode ser entendida como um guia para a política
monetária, ao sugerir uma forma de se aumentar o produto reduzindo o desemprego. Apesar
da sua popularidade, a estabilidade e utilidade desta lei é disputada.
A lei de Okun – homenagem ao economista Arthur Melvin Okun – relaciona a variações no produto a
variações na taxa de desemprego.1
Esta relação foi originalmente proposta em 1962 por Okun, que
sugeriu que variações do produto causariam alterações na taxa de desemprego, contrariando o sentido
da causalidade, caracterizando-se como uma alternativa para a estimativa do produto potencial. Nos
dias atuais ela é frequentemente associada a avaliações sobre a recuperação do emprego após um
período recessivo.2
Esta lei expressa o fato do produto depender da mão de obra utilizada no processo de produção e,
portanto, existir uma relação positiva entre o produto e o emprego. Na medida em que o emprego é
dado pela População Economicamente Ativa - PEA menos a população desempregada, existe uma
relação negativa entre o produto e o desemprego (dada a PEA). Assim, a lei de Okun também pode ser
expressa através da relação positiva entre as variações no produto e as variações no emprego, ou seja:
Ut - Ut-1 = α + β (gyt - gy), onde Ut = taxa de desemprego no período t; gyt = taxa de variação do PIB
real; gy = taxa normal de crescimento, obtida através da soma da taxa de crescimento da força de
trabalho com a taxa de crescimento da produtividade do fator trabalho; α = parcela da variação do
desemprego não influenciada pelo desvio do PIB (se o PIB variar a uma taxa igual à taxa natural de
crescimento, o desemprego será igual à α) e β = relação das variações do PIB a variações no
desemprego (indica o impacto dos desvios do PIB de sua taxa normal de crescimento sobre a taxa de
desemprego).
1. Okun (1962) sugeriu esta relação sem apresentar a sua fundamentação teórica. Para maiores detalhes sobre a natureza
da relação ver, por exemplo, Prachowny (1993), Wen e Chen (2012), Ball et al. (2013). Na ocasião, ele era o economista
sênior do Council of Economic Advisers - CEA do presidente John. F. Kennedy. Para o caso brasileiro ver Almeida (2005).
2. Diversos estudos questionam a sua estabilidade após a grande recessão e ao longo do ciclo econômico.
2. E C O N O M I C L E T T E R
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A estabilidade e relevância desta relação dependem da maneira como as tendências de longo
prazo para o PIB e a taxa de desemprego são definidas. Em geral, a evidência empírica indica que
quando a tendência HP (obtida pela aplicação do filtro de Hodrick-Prescott (HP)) é utilizada como a
tendência de longo prazo, a lei de Okun sugere estabilidade e significância ao longo do tempo (mesmo
onde a estimativa é feita apenas para o período mais recente).
A figura abaixo apresenta a relação entre estas variáveis, para o período 2003-2013. A variação
do PIB real e a taxa de desemprego são calculadas pelo IBGE. A taxa de desemprego considera apenas
as Regiões Metropolitanas (RMs) de: Recife, Salvador, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo e
Porto Alegre. O período de referência é de 30 dias.3
Bibliografia
Almeida, Isac (2005): Observação da Lei de Okun na Economia Brasileira, mimeo, Sober.
Ball, Laurence M., Daniel Leigh e Prakash Loungani (2013): Okun’s Law: Fit and Fifty? NBER Working Paper
n° 18668, January.
Knotek, Edward S. II. (2007): How Useful Is Okun’s Law? Federal Reserve Bank of Kansas City Economic
Review, vol 92, n° 4, Fourth Quarter, pg 73-103.
Okun, Arthur M. (1962): Potential GNP: Its Measurement and Significance, em Proceedings of the Business and
Economics Statistics Section, pg 98-103, Alexandria, VA: American Statistical Association.
Owyang, Michael T. e Tatevik Sekhposyan (2012): Okun’s Law over the Business Cycle: Was the Great
Recession All that Different? Federal Reserve Bank of St. Louis Review, vol 94, n° 5, September/October,
pg 399-418.
Owyang, Michael T. e E. Katarina Vermann (2013): Okun’s Law in Recession and Recovery, Federal Reserve
Bank of St. Louis Economic Synopses, n° 23, August 16.
Prachowny, Martin (1993): Okun’s Law: Theoretical Foundations and Revised Estimates, Review of Economics
and Statistics, vol 75, n° 2, May, pg 331-336.
Wen, Yi e Mingyu Chen (2012): Okun’s Law: A Meaningful Guide for Monetary Policy? Federal Reserve Bank of St. Louis
Economic Synopses, n° 15, June 8.
Luiz Nelson Porto Araujo, economista, é sócio-diretor da Delta Economics & Finance. Foi Professor do Departamento de
Planejamento e Análise Econômica da EAESP-FGV e da FCECA da Universidade Mackenzie.
As opiniões expressas nesse estudo são de responsabilidade exclusiva do(s) autor(es) e não expressam, necessariamente, a
visão da Delta Economics & Finance.
3. Fonte – taxa de desemprego: Pesquisa Mensal de Emprego (IBGE/PME). Fonte – PIB real: Sistema de Contas
Nacionais Referência 2000 (IBGE/SCN 2000 Anual).
y = -0,1097x - 0,2072
R² = 0,1634
-2,0
-1,5
-1,0
-0,5
0,0
0,5
-2,0 0,0 2,0 4,0 6,0 8,0
Variaçãonataxadedesemprego
(%)
Crescimento do PIB real (% ao ano)
Lei de Okun (2003-2013)