2. Simpósio de Educação e Meio Ambiente
Sumário
Apresentaçao ............................................................................................ 3
Coletivo gera coletivo – o relato da organizaçao do Simposio
de Educaçao e Meio Ambiente ........................................................... 5
Avaliaçao do evento pela equipe organizadora e dos
participantes do Simposio ................................................................ 10
Carta de Contribuiçoes dos Grupos de Trabalho do Simposio
..................................................................................................................... 15
Educação Ambiental na Escola: praticas, desafios e propostas 15
Educaçao Ambiental no Município: praticas, desafios e
propostas ........................................................................................................ 20
Educaçao Ambiental na Universidade: praticas, desafios e
propostas ........................................................................................................ 23
Juventude: praticas, desafios e propostas ......................................... 25
Carta de apoio ao fortalecimento da Extensao Universitaria e
aos grupos de extensao da ESALQ ................................................. 29
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3. Simpósio de Educação e Meio Ambiente
Apresentação
Este documento é resultado da sinergia de ações em
Educação no município de Piracicaba, que culminaram em
2011 com o “Simpósio de Educação Ambiental: tendências e
experiências na Universidade e na Escola” realizado na Escola
Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (ESALQ-USP). O
Simpósio reflete a articulação de diversas ações e instituições,
tanto no município, como na escola, na Universidade, e,
especialmente, na interface entre essas três esferas.
Esperamos que este documento sirva como inspiração e
reflexão para as ações de Educação Ambiental que já
acontecem e para potenciais novos projetos. Aqui você não
encontrará um guia prático ou uma receita de bolo, mas sim
alguns relatos do Simpósio e de seus desdobramentos. Afinal,
os processos educadores são construídos pelas pessoas nos
seus ambientes cotidianos e estão sujeitos às suas variações
inerentes. O que você encontrará aqui, portanto, são potenciais
caminhos e parceiros.
A primeira parte do documento trata do relato de
organização do Simpósio, que ocorreu como conseqüência da
junção de parcerias novas e antigas em Educação Ambiental,
de pessoas com vontade de proporcionar e participar de um
espaço de diálogo, formação e reflexão acerca dos projetos
existentes, e também de criar um espaço de identificação de
potenciais parceiros. O sucesso das ações aqui apresentadas,
só é possível porque a atuação, seja ela na escola, na
universidade ou no município não é restrita apenas na sua
esfera, mas visualiza as interações entre diversos sujeitos
dispostos a criar pontes que ultrapassem as barreiras
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4. Simpósio de Educação e Meio Ambiente
cotidianas.
A segunda parte consiste na sistematização da avaliação
do evento pelos participantes e pelos organizadores. A terceira
parte traz um dos resultados do Simpósio, a qual consiste na
Carta de Considerações de Educação Ambiental (EA),
elaborada a partir dos diálogos vivenciados durante o evento.
Esta carta traz um pouco da reflexão de cada participante,
professor, estudante, trabalhador diante dos desafios e
propostas para a EA.
Como último texto, apresentamos mais um
desdobramento do Simpósio, ao qual devemos à articulação da
EA na Universidade: “Carta de apoio ao fortalecimento da
Extensão Universitária e aos grupos de extensão da
ESALQ”. Nela, realizamos uma breve contextualização das
necessidades, vontades e sonhos dos grupos de extensão.
Por fim, este documento apresenta os caminhos
percorridos por um coletivo que busca fortalecer iniciativas já
existentes e proporcionar que ações de educação ambiental
continuem a multiplicar-se. Este documento é parte dessa
multiplicação e esperamos que seja o início de um importante
processo de parceria e articulação de educação ambiental em
nosso município. Esperamos que sirva de inspiração.
Esperamos que não seja um fim.
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5. Simpósio de Educação e Meio Ambiente
Coletivo gera coletivo – o relato da organização
do Simpósio de Educação e Meio Ambiente
Sara Mortara e Davi Pacheco
A Lei nº. 9.795, de 27 de abril de 1999 tornou obrigatória
a inserção da Educação Ambiental no currículo de forma
transversal, em todos os níveis e modalidades de ensino. Em
seu artigo 1° é definida a Educação Ambiental:
“Entendem-se por educação ambiental
os processos por meio dos quais o
indivíduo e a coletividade constroem
valores sociais, conhecimentos,
habilidades, atitudes e competências
voltadas para a conservação do meio
ambiente, bem de uso comum do povo,
essencial à sadia qualidade de vida e
sua sustentabilidade.”
Esta responsabilidade para com a Educação ambiental é,
portanto, de todas as instituições de ensino, inclusive da
Universidade que é a responsável pela formação dos
professores na graduação. Sua aproximação para com as
escolas públicas de ensino básico tem sido uma necessidade
que foi iniciada pela extensão universitária da ESALQ através
de um projeto financiado pela FINEP e executado pela ESALQ
a partir de 2008 intitulado “Ensino Médio, Engenharia e Meio
Ambiente”, também chamado de Programa Ponte. O Programa
Ponte demonstrou ser uma ferramenta inestimável de
5
6. Simpósio de Educação e Meio Ambiente
aproximação da universidade pública para com o estudante da
escola pública. Voltado para o Ensino Médio e desenvolvido em
17 escolas estaduais pertencentes à Diretoria de Ensino-
Região de Piracicaba, atingiu um total de 141 professores e
2978 estudantes nos anos de 2008 a 2010. Em 2011 ele foi
integrado às ações da Diretoria do campus da ESALQ através
do projeto “Profissões na ESALQ”.
Já não é de hoje que a Universidade busca promover
espaços de diálogo sobre o ensino fundamental e médio. Em
2008 e 2009, o Programa USP Recicla fomentou a organização
de cursos de formação para professores de Ensino
Fundamental e Médio da rede pública, contando com a
colaboração do Programa Ponte, Solo na Escola, Serviço de
Cultura e Extensão Universitária, dentre outros parceiros
institucionais. Fora do âmbito da Universidade, a Diretoria de
Ensino e a Secretaria Municipal de Defesa do Meio Ambiente
de Piracicaba (SEDEMA) têm sido parceiras duradouras na
construção desses espaços. Graças a estes cursos, foi
possível que os professores fossem estimulados à reflexão e a
realização de ações, projetos de intervenção local e a adoção
de práticas adequadas sobre a temática ambiental;
instrumentalizados para o planejamento, execução e avaliação
de ações socioambientais nas escolas; fomentar reflexões e
ações para o enfrentamento de problemas socioambientais
locais e promover aplicação de projetos de educação ambiental
que se integrassem com a realidade local da escola.
Em uma reunião do Conselho Gestor do Programa Ponte,
espaço de diálogo entre os diferentes atores participantes,
realizada em novembro de 2010 levantou-se a necessidade e
pertinência de um evento sobre Educação e Meio Ambiente,
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7. Simpósio de Educação e Meio Ambiente
com atividade e oficinas práticas e teóricas sobre o tema. Esse
espaço deveria ter como prioridade a oportunidade de
visibilidade daqueles que de fato desenvolvem ações voltadas
para a Educação Ambiental em Piracicaba e região.
Com isso, mais uma vez os grupos de extensão da
ESALQ atuantes na área de educação se organizaram para
promover um espaço de diálogo e troca de experiências em
torno do tema Educação e Meio Ambiente. Dessa forma, o
Simpósio de Educação e Meio Ambiente organizado em 2011,
teve como objetivo agrupar o conhecimento e experiências
desenvolvidos ao longo desses anos entre a Universidade e as
Escolas Estaduais de Piracicaba e região, bem como fomentar
novas parcerias e projetos a partir do diálogo e troca de
experiências.
Em fevereiro de 2011, o Programa Ponte, juntamente
com o Solo na Escola, USP Recicla e Diretoria de Ensino,
promoveram a articulação entre os projetos e instituições
atuantes em Educação Ambiental em Piracicaba e região. Ao
longo dos encontros de organização do Simpósio, foram se
juntando diversos grupos, até a consolidação da Comissão
Organizadora envolvendo: SEDEMA, OCA - Laboratório de
Educação e Política Ambiental ESALQ-USP, Iandé Educação e
Sustentabilidade, Coletivo Educador Piracicauá e
Coordenadoria de Educação Ambiental – Secretaria de Estado
do Meio Ambiente. A partir disso e até agosto de 2011 foram
realizados encontros periódicos para a concepção e
preparação do Simpósio.
Os encontros para a organização do evento foram
momentos de criação e debate acerca da Educação que
sonhamos e de como promover um espaço em que as pessoas
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8. Simpósio de Educação e Meio Ambiente
possam criar e sonhar a partir se suas percepções individuais e
coletivas. Isso fez com que o coletivo organizador pudesse se
aproximar em torno de concepções convergentes,
consolidando então um grupo sintonizado e articulado com
grandes iniciativas de Educação na região. Como um dos
objetivos do Simpósio era o de fortalecer parcerias, o que
destacamos é a grande parceria firmada em sua própria
organização. A viabilidade do evento só foi possível com esse
coletivo organizado.
Para nós da organização a satisfação com o evento, o
envolvimento dos participantes, o diálogo estabelecido é tão
grande quanto a felicitação do coletivo firmado. Vale lembrar
que já existe uma entidade articuladora das ações de
Educação Ambiental na região que é o Coletivo Educador
Piracicauá. Com o Simpósio e o coletivo organizado a partir
dele, percebemos a necessidade de aglutinar as ações em
torno de esferas maiores e mais executivas que possam
organizar espaços desse tipo e também outros maiores, como
por exemplo, um Fórum de Educação Ambiental, ou um Núcleo
de Articulação de Extensão na Universidade. Um dos braços
para o sucesso dessa empreitada é o Coletivo Educador
Piracicauá e é o nosso coletivo no Coletivo. São parcerias que
geram ações, ações que geram coletivos e coletivos que
movimentam os coletivos já existentes. Enfim, sonhos que
continuam a movimentar as pessoas, pessoas que organizam-
se em coletivos e coletivos que continuem a gerar os coletivos.
Por fim, é com muito prazer que colocamos a identidade
das pessoas que participaram de mais uma construção em
torno da Educação Ambiental na região, rompendo os limites
Universidade, Escola e Município.
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9. Simpósio de Educação e Meio Ambiente
Programa Ponte: Sara Mortara, Beatriz Fraga, Crislaine
Almeida, Felipe Morais, Lorena Gebara, Ivan Zaros.
Programa Solo na Escola: Antonio Carlos de Azevedo.
Programa USP Recicla: Ana Maria Meira.
Diretoria de Ensino Piracicaba e Região: Davi Andrade
Pacheco.
OCA - Laboratório de Educação e Política Ambiental:
Marcos Sorrentino e Aline Menezes.
Museu e Centro de Ciências, Educação e Artes Luiz de
Queiroz: Célia Regina Vello e Edno Aparecido Dário.
Iandé Educação e Sustentabilidade: Andrea Abdala e Karine
Faleiros.
Secretaria Municipal de Defesa do Meio Ambiente de
Piracicaba / Núcleo de Educação Ambiental: Elizabeth da
Silveira Nunes Salles e Mayara Pereira do Carmo.
Coordenadoria de Educação Ambiental – Secretaria de
Estado do Meio Ambiente: Maria Luísa Bonazzi Palmieri.
Programa de Licenciatura em Ciências Biológicas e
Agrárias: Vânia Galindo Massabni, Fernanda Augusto.
Colaboradores: João Menezes e Simone Portugal.
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10. Simpósio de Educação e Meio Ambiente
Avaliação do evento pela equipe organizadora e
dos participantes do Simpósio
Após a realização do evento, foi preparada uma
avaliação geral do Simpósio pela equipe organizadora para
analisarmos se seus objetivos foram alcançados, bem como,
discutir questões relacionadas à organização do mesmo.
Consideramos que a organização geral e o processo de
mobilização para o evento foram satisfatórios, especialmente
em relação à articulação e participação de diversos grupos de
Educação Ambiental, fundamentais para sua realização. A
parceria estabelecida entre esses grupos possibilitou a
contribuição das experiências de cada um ao processo
organizativo e também proporcionou uma maior aproximação
entre os mesmos.
Nosso maior objetivo, de promover diálogo e instigar a
reflexão, foi possível por meio dos espaços proporcionados no
evento.
As propostas das Palestras abrangeram as discussões
tanto conceituais como práticas em educação, atendendo os
principais anseios do público, enquanto que os Grupos de
Trabalho e Oficinas foram espaços dinâmicos, se aprofundando
nas questões levantadas nas palestras e nas proposições a
partir do evento. Esses espaços propiciaram maior interação e
diálogo entre o público diversificado e favoreceram a
aproximação e articulação dos projetos e grupos que atuam em
educação ambiental, cumprindo com os principais objetivos do
evento.
Para a Comissão Organizadora a participação dos
estudantes de Ensino Básico foi o ponto alto do evento. Esses
10
11. Simpósio de Educação e Meio Ambiente
se sentiram valorizados e perceberam a necessidade de se
fortalecerem enquanto um grupo de estudantes secundaristas,
preocupados com as questões socioambientais.
Um ponto que vale a pena refletir é em relação ao
pagamento para participação no evento. Optamos por
proporcionar um evento gratuito pensando em não restringir a
participação de estudantes e professores por questões
financeiras. Entretanto, com a inscrição gratuita, as vagas
esgotaram-se rapidamente e em torno de 75% que realizaram
a inscrição antecipada não compareceram. Mesmo com esse
esvaziamento, o evento contou com a presença de mais de
150 participantes, muitos dos quais puderam inscrever-se no
dia e local do simpósio.
Um ponto fraco da organização foi o planejamento do
deslocamento entre os espaços onde foram realizadas oficinas
e grupos de trabalho. Alguns locais eram distantes do anfiteatro
principal, resultando em atrasos e menos tempo para algumas
atividades. A maior dificuldade do evento foi adaptar seu
formato para todos os públicos, pois em alguns momentos este
se apresentava desinteressante aos estudantes. As palestras
tratavam de conteúdos de grande importância, entretanto, por
diversas vezes a dinâmica e linguagem não eram direcionadas
ao público jovem. Além disso, o tempo destinado ao debate
após as mesas e palestras foi curto, considerando que as falas
instigaram muitos participantes ao questionamento.
A partir da avaliação e reflexão coletiva por parte da
organização, apontamos que a realização de um evento como
o Simpósio de Educação e Meio Ambiente é de extrema
relevância, sendo extremamente interessante sua continuidade
em edições futuras. Entretanto, podemos avançar para ações
11
12. Simpósio de Educação e Meio Ambiente
mais permanentes, como um fórum de educação e meio
ambiente e cursos continuados com professores e estudantes.
Acreditamos que o formato dos eventos deve ter um
direcionamento ao público diversificado, propiciando a
interação e apresentando dinâmica e linguagem acessíveis.
Ainda, as próximas ações devem ser planejadas por
representantes de todos os grupos, para que seja possível
corresponder aos diferentes perfis. Finalmente, ressaltamos a
necessidade de aprimoramento dos mecanismos efetivos de
confirmação e valorização de presença.
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15. Simpósio de Educação e Meio Ambiente
Carta de Contribuições dos Grupos de Trabalho
do Simpósio
Durante o Simpósio de Educação e Meio Ambiente foram
realizados quatro Grupos de Trabalho (GTs). Esses espaços
foram organizados como um momento de participação e
contribuição de todos os participantes do Simpósio e
conduzidos dentro dos seguintes eixos de reflexão “Práticas,
Desafios e Propostas para a Educação Ambiental” na Escola,
no Município, na Universidade e para a Juventude.
Cada GT contou com uma diversidade grande de
participantes, tais como, professores e estudantes do Ensino
Básico, estudantes de graduação de diversos cursos,
funcionários públicos da área da educação e do meio
ambiente. Essa diversidade trouxe uma riqueza de reflexões e
contribuições que, no entanto, evidenciou a dificuldade do
diálogo entre tais atores distintos.
O resultado desse processo de diálogo encontra-se a
seguir. Esperamos que, mais do que um relato do que foi
discutido em cada GT, esse material possa ser utilizado para
inspirar e orientar novas ações de Educação Ambiental nos
diversos espaços onde essas podem ser desenvolvidas.
Educação Ambiental na Escola: práticas, desafios e
propostas
Diversas ações e iniciativas de educação ambiental (EA)
têm sido desenvolvidas no meio escolar, reafirmando o caráter
amplo e complexo que envolve essa temática e reconhecendo
o papel central da educação para a melhoria do ambiente e da
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16. Simpósio de Educação e Meio Ambiente
qualidade de vida de todos.
Nos diálogos que aconteceram nos grupos de trabalho -
Educação Ambiental na Escola - algumas dessas iniciativas
mapeadas, de pessoas e instituições, podem ser agrupadas
em: projetos de coleta seletiva, elaboração de jornal na escola,
formação de estudantes multiplicadores, viveiro educador na
escola, discussão sobre o novo código florestal, reciclagem
com resíduos da construção civil, organização de grêmios
estudantis e projetos de extensão universitária relacionados à
Agroecologia e Educação Ambiental.
Embora se reconheça sua importância e necessidade, a
educação ambiental ainda representa um grande desafio,
vivenciado cotidianamente no ambiente escolar. Segundo os
participantes do GT Escola algumas questões podem estar na
raiz desse fato e podem ser sintetizadas em três blocos, sendo
eles: políticas públicas educacionais; princípios e fundamentos
da educação e da educação ambiental; escola e a comunidade
escolar. Tais blocos estão descritos a seguir.
a) Políticas públicas educacionais
Neste bloco, foram agrupados os desafios cujas soluções
não dependem apenas da atuação individual da escola, mas
sim de mudanças estruturais nas políticas educacionais que
definem a sua organização e funcionamento. Tais políticas que
hoje determinam a precarização do ensino têm como uma das
suas consequências a desmotivação dos professores e
gestores das escolas, e por fim a descrença com a utopia da
educação. Seguem abaixo os desafios deste bloco:
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17. Simpósio de Educação e Meio Ambiente
dificuldade de continuidade dos projetos devido às
constantes mudanças de professores e gestores da
escola;
burocracia para o desenvolvimento de práticas
educadoras fora da sala de aula;
falta de autonomia da escola na construção e
desenvolvimento de suas próprias práticas de educação
ambiental;
falta de investimentos públicos na educação;
falta de tempo para desenvolver a educação ambiental,
tendo em vista o conteúdo que deve ser seguido nas
aulas;
dificuldade de obtenção de recursos para as práticas de
educação ambiental;
deficiências na formação de professores;
falta de motivação e dificuldades de aprendizagem dos
estudantes.
b) Princípios e fundamentos da educação e da educação
ambiental
A concepção de educação e de educação ambiental que
fundamenta as idéias aqui apresentadas compreende que a
educação deve promover a reflexão crítica da realidade para
sua transformação. Assim, entende-se que a educação
ambiental deve ir além da mudança de comportamentos
individuais (ex: encaminhar o lixo para a coleta seletiva, fechar
a torneira, etc.), que apesar de importantes, são insuficientes
para a transformação necessária, tendo em vista que os
problemas socioambientais são complexos e dependem de
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18. Simpósio de Educação e Meio Ambiente
questões políticas, econômicas, culturais e sociais. Deve ainda,
trabalhar sempre com a realidade dos estudantes, seus
sonhos, dificuldades e experiências, de maneira a se
caracterizar enquanto um exercício participativo de construção
do conhecimento. Os desafios aqui apontados são:
distância entre as reflexões teóricas, as práticas e
projetos de educação ambiental e as ações individuais
cotidianas daqueles que fazem educação ambiental;
construção de uma escola de convívio, na qual existam
espaços de diálogo entre a comunidade escolar
pautados pelo estímulo à participação e pela
valorização e integração das diferenças;
falta de participação da comunidade escolar na
elaboração e desenvolvimento de projetos de educação
ambiental propostos por instituições externas à escola
(empresas, órgãos públicos, universidades, ONGs,
entre outras).
c) Escola, universidade e comunidade
Os desafios presentes neste bloco referem-se à relação
entre a escola, a universidade e a comunidade, em que se
pode destacar a distância existente entre esse três setores da
sociedade; a falta de interesse dos estudantes, docentes, país,
servidores e comunidade do entorno (comunidade escolar
como um todo) em relação à questão ambiental e também a
ausência de retorno da universidade após a pesquisa
acadêmica na escola.
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19. Simpósio de Educação e Meio Ambiente
As propostas de ação elaboradas pelos grupos de trabalho
no sentido de contribuir para o enraizamento da educação
ambiental na escola, de forma permanente, articulada,
continuada e com a totalidade da comunidade escolar,
reafirmam a necessidade de espaços que promovam o diálogo,
bem como a participação na tomada de decisão e nos rumos
da escola. Ainda, afirmam a necessidade do resgate da
identidade da escola enquanto espaço público de envolvimento
da comunidade. Outras ações que podem contribuir nesse
sentido são:
Estímulo e valorização da auto-organização estudantil,
por meio de grêmios, coletivos jovens e comissões de
meio ambiente e qualidade de vida nas escolas e de
outras formas de organização;
Elaboração de estratégias de continuidade das ações
de educação ambiental;
Reflexão contínua sobre as ações de educação
ambiental desenvolvidas, considerando as experiências
anteriores.
Promoção de iniciativas que aproximem a família da
escola;
Realização de simpósios nas escolas, construídos pelos
estudantes com o apoio de professores e direção, com
o objetivo de trazer a comunidade e compartilhar
experiências entre escolas;
Estímulo à inserção da educação ambiental nas
disciplinas, como tema transversal;
Fomento à reflexão crítica sobre a geração de resíduos
e outras questões ambientais referentes ao espaço da
escola, buscando tornar o ambiente escolar coerente
19
20. Simpósio de Educação e Meio Ambiente
com as reflexões promovidas pelas práticas de
educação ambiental;
Formação de estudantes multiplicadores (protagonismo
estudantil), os quais sejam estimulados a refletir
criticamente sobre as questões socioambientais e
compartilhar com a comunidade escolar os frutos dessa
reflexão;
Valorização e divulgação das ações de educação
ambiental das escolas na mídia;
Promoção da construção coletiva das ações de
educação ambiental nas escolas, de forma a ter como
princípio a participação, tanto nas relações entre
instituições externas e a escola, quanto nas entre
estudantes, professores e demais participantes da
comunidade escolar.
Educação Ambiental no Município: práticas,
desafios e propostas
As práticas, desafios e propostas discutidos no Grupo de
Trabalho – Municípios favoreceram a troca de experiências e a
articulação de potenciais parceiros.
Para que a participação dos integrantes fosse “completa”
foi estimulado o compartilhamento das práticas de Educação
Ambiental realizadas em cada instituição. Foram relatadas
como práticas de EA em espaços verdes públicos (parques,
praças e áreas de lazer), que muitas vezes são realizadas
como educação não formal, ou seja, trabalhadas com qualquer
público fora do espaço escolar. Nesses espaços são
desenvolvidas atividades como estudo e percepção do meio,
20
21. Simpósio de Educação e Meio Ambiente
sendo que no seu planejamento deve ser contemplada uma
preparação prévia do grupo.
Essas atividades podem ser feitas em eventos de datas
comemorativas relacionadas ao meio ambiente (Ex.: Dia
Mundial da Água, Dia Mundial do Meio Ambiente, Dia da
Árvore, Dias dos Animais, etc.) com objetivo de despertar em
diferentes públicos a vontade de agir individual ou
coletivamente. Para ser caracterizada como prática de EA
deve-se ter o cuidado de não ser pontual ou apenas para fins
de promoção de interesses pessoais, partidários e
corporativos.
Outra prática bastante significativa é a manutenção de
um Fórum Permanente de EA na administração pública, que
consiste em um grupo formado por funcionários públicos,
efetivos e comissionados, para o planejamento da educação
ambiental nos órgãos públicos municipais. Na cidade de
Piracicaba, as Secretarias Municipais de Meio Ambiente, de
Educação, de Saúde, de Agricultura e o Serviço Municipal de
Água e Esgoto realizaram um encontro para elaborar um
documento que servisse de base para a construção da minuta
da Política Municipal de Educação Ambiental o que, ao final
resultou na ideia de organizar o Grupo Multidisciplinar de
Educação Ambiental – GMEA.
Ainda, no âmbito do poder público existe a prática da A3P
– Agenda Ambiental na Administração Pública, idealizada pelo
Ministério do Meio Ambiente e realizada voluntariamente pelas
administrações públicas. O objetivo da A3P é a adoção de
critérios ambientais nas atividades administrativas e
operacionais constituindo-se num processo de melhoramento
contínuo de adequação dos efeitos ambientais das condutas do
21
22. Simpósio de Educação e Meio Ambiente
poder público à política de prevenção de impactos negativos ao
meio ambiente. Como por exemplo, nas atividades
administrativas, ou seja, na elaboração de editais de compras
de materiais de consumo (como papéis) ou permanentes
(como móveis), exigir que o produto tenha certificação de
procedência, e também nas atividades operacionais, ou seja,
serviços de recapeamento de vias públicas que utilizem britas
provenientes de processos de reciclagem de entulho de
construção civil.
As ações do A3P também têm como foco a postura dos
servidores públicos no ambiente de trabalho com relação à
redução do consumo e reciclagem de papel, diminuição de
consumo de descartáveis, manutenção da frota de veículos
oficiais, economia de energia e uso racional da água nos
prédios da administração pública.
As vivências de Educação Ambiental na formação de
professores da rede municipal e estadual são outras práticas
relatadas pelos participantes do GT, e têm como objetivo
despertar o interesse dos mesmos no planejamento de projetos
de educação ambiental na comunidade escolar e estimular a
formação de outras pessoas para se tornarem agentes
participativos na questão ambiental.
Diante das práticas, foram levantados alguns problemas
e desafios enfrentados, dentre eles: integrar os diversos órgãos
públicos no planejamento, execução e manutenção de ações
de EA; sensibilizar as Secretarias Municipais de Educação da
importância da EA desenvolvida de forma interdisciplinar e
democratizá-la na escola, nos diversos níveis de ensino. Em
relação à aplicação da Agenda Ambiental na Administração
22
23. Simpósio de Educação e Meio Ambiente
Pública – A3P o desafio encontrado é a sensibilização de
gestores públicos para atingir diretrizes propostas.
A fim de superar os desafios e expandir as práticas,
foram sugeridas ações como o mapeamento e monitoramento
das atividades, propostas e projetos de EA, incluindo ações de
educadores populares, desenvolvidas nas bacias hidrográficas
do município.
Com o mapeamento, será possível criar Núcleos Locais
de Educação Ambiental, envolvendo os diversos atores sociais
no planejamento, construção, funcionamento e sustentabilidade
de seus projetos/programas. Para fortalecer a criação desses
núcleos torna-se importante a construção participativa de
políticas públicas relacionadas a Meio Ambiente e Educação,
incentivando, apoiando e promovendo iniciativas de forma
contínua. Essa construção estimula a participação mais efetiva
da sociedade em fóruns e espaços públicos de discussões,
como Conselho Municipal de Meio Ambiente, Conselho
Municipal de Educação, Câmaras Técnicas dos Comitês de
Bacias Hidrográficas, dentre outros.
É importante fortalecer a criação e manutenção de
Grupos de Trabalho ou Comissões para planejamento,
acompanhamento e discussões sobre projetos / programas de
Educação Ambiental no município.
Educação Ambiental na Universidade: práticas,
desafios e propostas
No grupo de trabalho responsável por discutir sobre as
práticas, desafios e propostas da educação ambiental na
universidade, o público participante era em sua maioria
23
24. Simpósio de Educação e Meio Ambiente
composto por estudantes e professores das escolas públicas
de Piracicaba, e alguns poucos estudantes universitários.
A conversa deste GT propiciou um compartilhamento
das angústias, desafios, análises e dificuldades do ambiente
escolar em lidar com o desafio da incorporação do viés
educador ambientalista, pois poucos tinham subsídio para
analisar a educação ambiental na perspectiva da universidade.
O caso deste grupo de trabalho mostra que, se a escola é
pouco apropriada por sua comunidade, a universidade é ainda
menos.
Mesmo assim, muitos aspectos foram consensuais nesta
conversa e os principais desafios foram identificados:
1. A dificuldade em lidar com a indisciplina na sala de
aula, bem como com a realidade social vivenciada por eles fora
do ambiente escolar.
2. A percepção de que as barreiras da ambientalização
da educação desmotivam os profissionais, mas que para
desencadear a mudança é necessário sair da chamada “zona
de conforto”.
3. Respeito à diversidade em suas mais variadas
formas, englobando a questão racial, cultural e de posição
(professores/gestores/estudantes).
4. Dificuldades em provocar a sensibilização acerca da
questão ambiental sejam nos professores, gestores ou
estudantes.
Com relação às principais propostas que surgiram na
conversa, foi explícita a necessidade de dar ênfase às aulas
práticas e saídas de campo. Comentou-se que para qualquer
tipo de sensibilização, é necessário colocar o sujeito em
contato com a realidade para qual se quer sensibilizar,
24
25. Simpósio de Educação e Meio Ambiente
rompendo com as barreiras existentes entre escola e
comunidade. Nesse mesmo sentido, também foi proposto
maior atenção com relação à transparência da escola e
universidade para com a comunidade.
Outra proposta debatida foi a necessidade de propiciar a
formação socioambiental dos atores que participam da gestão
das instituições, buscando quebrar barreiras no diálogo com
relação a esta temática. Para este sentido também aponta a
criação de espaços de discussão específicos sobre a educação
ambiental, bem como sua articulação, como é o caso do
simpósio em questão.
Por fim, reforçou-se a ideia de que a educação ambiental
deve ser capilarizada para todas as áreas do conhecimento,
buscando que sua compreensão seja transversal e
interdisciplinar.
Juventude: práticas, desafios e propostas
No Grupo de Trabalho da Juventude estavam presentes
estudantes de Ensino Médio de duas escolas públicas de
Piracicaba, algumas universitárias da área de educação
ambiental e uma professora de português da rede pública de
ensino.
Durante o encontro dos Grupos de Trabalho muitos
pontos foram levantados sobre os desafios que permeiam
projetos de Educação Ambiental. A maioria são questões da
sociedade contemporânea, principalmente acerca do modelo
hegemônico, voltado ao desenvolvimento econômico, pautado
no consumo, na individualidade e superficialidade das relações
e dos conhecimentos.
25
26. Simpósio de Educação e Meio Ambiente
Neste contexto, foram pontuadas, principalmente, a
ciência atual e a mídia de massa como mantenedoras desse
modelo, com pesquisas que dão apoio tecnológico para
grandes empresas, além de propagandas e conteúdos
midiáticos focados no consumo e no capital.
Como consequência, torna-se muito difícil chegar “na raiz
do problema”, as iniciativas ficam sem continuidade e não há
noção de coletividade. A problemática socioambiental fica,
portanto, na superfície, não é enraizada em processos
educadores contínuos e permanentes.
Foram sinalizadas poucas práticas de EA, sendo todas
no ambiente escolar ou Universidade. A juventude, enquanto
grupo específico, com visões e propostas independentes, não
foi enunciada.
Os projetos citados, em sua maioria, tratam de questões
do “ambientalismo superficial” e não entram no cerne da
Educação Ambiental enquanto potencializadora da
transformação. Além disso, são iniciativas de grupos externos
ou de professores, isto é, não são projetos empoderados pelos
estudantes.
O único projeto de iniciativa dos estudantes, trazido como
experiência, foi o Projeto “A procura de sombras", da Escola
Estadual Pedro de Mello. Além disso, foram relatadas muitas
dificuldades que projetos de EA encontram no contexto escolar.
O ambiente escolar em si é uma dificuldade, não possui
espaço para divulgar ações (espaços de expressão e
criatividade), não possui espaços para discussão e
organização (sendo um entrave à articulação do movimento
estudantil). A capacitação dos professores e falta de interesse
dos estudantes é também uma dificuldade na idealização e
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27. Simpósio de Educação e Meio Ambiente
execução de projetos de EA, além da falta de clareza sobre o
tema.
A dificuldade mais complexa é a superação dos modelos
conservadores de ensino e práticas da educação. Isto é, o
modelo educacional das escolas e universidades não estimula
o desenvolvimento humano, a descoberta das potencialidades
individuais e coletivas, não promove o diálogo, sendo então um
grande obstáculo para projetos de EA que visem à
transformação deste mesmo modelo que integra o modelo de
sociedade a qual também se almeja transformar.
Para elaboração e implantação de um projeto de EA é
necessário partir do contexto local, sendo que um diagnóstico
socioambiental local é uma ferramenta interessante para tal.
Neste processo, devem ser envolvidos estudantes e a
comunidade, usando redes sociais para articulação e
mobilização (como blog estudantil, grupo de e-mails). Essas
ferramentas são promotoras do diálogo, que se torna possível
a partir da valorização dos espaços coletivos, da troca e
interação entre diferentes escolas, unindo aquelas que
acreditam ser possível desconstruir o atual modelo de
sociedade.
Os jovens trouxeram a importância do pensar no agora,
no aprender a ouvir e questionar, bem como no papel da
participação de todos para fazer o que está no alcance
(famílias, comunidade escolar), de modo que com o
envolvimento os projetos possam ter continuidade. Essas
reflexões podem ser estimuladas com atividades inovadoras
(gincanas, pic-nic, arte, música) que tratem da questão
ambiental, além de palestras e debates que aprofundem
teoricamente a temática da EA, visando à construção de um
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29. Simpósio de Educação e Meio Ambiente
Carta de apoio ao fortalecimento da Extensão
Universitária e aos grupos de extensão da ESALQ
O regimento de Cultura e Extensão Universitária da USP
diz que: “a Extensão Universitária é o processo educativo,
cultural e científico que articula o Ensino e a Pesquisa de forma
indissociável e viabiliza a relação transformadora entre
Universidade e Sociedade”. A extensão universitária é,
portanto, uma das formas fundamentais de atuação da
Universidade, sendo essencial para a construção e o diálogo
do conhecimento junto à sociedade.
No entanto, pode-se admitir que em muitas
Universidades e Instituições de Ensino Superior não há uma
prioridade à extensão. Esse fato faz com que se crie uma
distância entre tais Universidades e as comunidades em que
estão inseridas, e ainda que a construção do conhecimento
esteja deslocada da realidade.
Na ESALQ existem vários grupos de extensão que
procuram desenvolver novas formas de trabalho junto à
sociedade, buscando gerar, a partir desse contato, possíveis
soluções aos desafios atuais da educação, meio ambiente e
agricultura. Contudo, tais grupos muitas vezes carecem de
melhores condições para realizarem seus trabalhos com maior
efetividade e alcance, o que evidencia a necessidade de um
apoio mais contundente da instituição.
Desta forma, diante da visível importância da extensão
universitária, bem como da carência de apoio aos Grupos de
Extensão, é evidente a necessidade do seu fortalecimento na
ESALQ. Tal fortalecimento passa pelo reconhecimento da
equidade entre o tripé “Ensino, Pesquisa e Extensão”, no qual
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30. Simpósio de Educação e Meio Ambiente
a Universidade se fundamenta, bem como pelo apoio e
valorização dos grupos de extensão existentes na Escola.
Para que tal fortalecimento seja concretizado e enraizado
na instituição, torna-se necessário um processo de diálogo
entre os diferentes setores interessados, tais como estudantes,
professores, funcionários e diretoria da ESALQ, de maneira a
constituir um verdadeiro movimento participativo de discussão
do papel da extensão universitária, bem como da própria
universidade.
Desta forma, propõem-se as seguintes ações prioritárias:
Realização de um fórum de discussão sobre Extensão
Universitária, envolvendo todos os Grupos de Extensão
e professores atuantes;
Criação de um Núcleo Permanente de Apoio à
Extensão Universitária, que seja institucionalizado
perante a ESALQ e tenha a presença de funcionários,
estudantes e professores;
Fortalecimento dos Grupos de Extensão existentes por
meio da resolução de suas deficiências estruturais
(espaços físicos, transporte, recursos financeiros);
Inserção da Extensão Universitária nos currículos dos
cursos de graduação existentes na Escola.
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Organização:
Programa
de
Licenciatura
em Ciências
Agrárias e
Biológicas
Apoio:
Fundo de Cultura e
Extensão Universitária
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