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ABORDAGEM GERAL DE NOÇÕES
BÁSICAS DE PRIMEIROS SOCORROS
FORMADOR: ANA ISABEL PEREIRA
UFCD: Abordagem geral de noções básicas de primeiros socorros; Formador: Ana Isabel Pereira
1
Índice
Introdução......................................................................................................... 4
Âmbito do manual ........................................................................................... 4
Objetivos ........................................................................................................ 4
Carga horária.................................................................................................. 5
1.O Sistema Integrado de Emergência Médica – SIEM .......................................... 6
1.1.Componentes, intervenientes e forma de funcionamento ............................. 6
1.2.Número europeu de socorro 112 .............................................................. 10
2.Cadeia de Sobrevivência ................................................................................ 14
2.1.Conceito e importância ............................................................................ 14
2.2.Elos e princípios subjacentes .................................................................... 15
3.Riscos para o Reanimador.............................................................................. 18
3.1.Riscos para o reanimador e para a vítima.................................................. 18
3.2.Condições de segurança e medidas de proteção universais ........................ 19
4.Manobras de Suporte Básico de Vida .............................................................. 22
4.1.Conceito de acordo com o algoritmo vigente ............................................. 22
4.2.Procedimentos e sequência ...................................................................... 24
4.3.Insuflações e compressões torácicas......................................................... 29
4.4.Problemas associados .............................................................................. 33
5.Posição Lateral de Segurança......................................................................... 35
5.1.Como e quando a sua utilização ............................................................... 35
6.Obstrução da via aérea.................................................................................. 40
UFCD: Abordagem geral de noções básicas de primeiros socorros; Formador: Ana Isabel Pereira
2
6.1.Situações de obstrução parcial e total ....................................................... 40
6.2.Tipos e causas de obstrução..................................................................... 41
7.Exame à vítima.............................................................................................. 45
7.1.Estado de consciência e permeabilidade da via aérea................................. 45
7.2.Caraterísticas da respiração, pulso e pele.................................................. 47
8.As Emergências médicas mais frequentes ....................................................... 51
8.1.Principais sinais e sintomas ...................................................................... 51
8.2.Principais cuidados a prestar .................................................................... 54
8.2.1.Problemas cardíacos .......................................................................... 54
8.2.2.Problemas respiratórios...................................................................... 55
8.2.3.Acidente vascular cerebral.................................................................. 56
8.2.4.Diabetes............................................................................................ 57
8.2.5.Crises convulsivas.............................................................................. 59
8.2.6.Situações de intoxicação .................................................................... 60
8.3.Limites de intervenção na perspetiva de cidadão e de auxiliar de saúde...... 62
9.Principais tipos de traumatismos..................................................................... 64
9.1.Traumatismos de tecidos moles (feridas e hemorragias) ............................ 64
9.2.Queimaduras........................................................................................... 70
9.3.Traumatismos dos membros .................................................................... 71
9.4.Limites de intervenção na perspetiva de cidadão e de auxiliar de saúde...... 73
10.Tarefas que em relação a esta temática se encontram no âmbito de intervenção
do/a Técnico/a Auxiliar de Saúde ...................................................................... 75
10.1.Tarefas que, sob orientação de um profissional de saúde, tem de executar
sob sua supervisão direta .............................................................................. 75
UFCD: Abordagem geral de noções básicas de primeiros socorros; Formador: Ana Isabel Pereira
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10.2.Tarefas que, sob orientação e supervisão de um profissional de saúde, pode
executar sozinho/a ........................................................................................ 77
Bibliografia....................................................................................................... 79
Sites Consultados ............................................................................................. 79
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4
Introdução
Âmbito do manual
O presente manual foi concebido como instrumento de apoio à unidade de formação de curta
duração nº 6570 – Abordagem geral de noções básicas de primeiros socorros, de
acordo com o Catálogo Nacional de Qualificações.
Objetivos
 Descrever o que é o Sistema Integrado de Emergência Médica (SIEM) e quais os seus
intervenientes.
 Descrever como ativar o sistema de emergência médica utilizando o número europeu
de socorro "112".
 Identificar o conceito de cadeia de sobrevivência e identificar os seus elos.
 Explicar a importância da cadeia de sobrevivência e qual o princípio subjacente a cada
elo.
 Reconhecer os riscos potenciais para o reanimador.
 Identificar as medidas a adotar para garantir a segurança do reanimador e da vítima.
 Identificar as medidas universais de proteção e reconhecer a sua importância.
 Explicar o conceito de Suporte Básico de Vida (SBV) de acordo com o algoritmo
vigente.
 Explicar o conceito de avaliação inicial, via aérea, respiração e circulação.
 Aplicar a sequência de procedimentos que permitam executar o SBV de acordo com
o algoritmo vigente.
 Identificar os problemas associados à execução de manobras de SBV.
 Identificar quando e como colocar uma vítima em posição lateral de segurança.
UFCD: Abordagem geral de noções básicas de primeiros socorros; Formador: Ana Isabel Pereira
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 Identificar as contraindicações para a posição lateral de segurança.
 Identificar as situações de obstrução parcial e total da via aérea.
 Identificar as causas e os tipos de obstrução da via aérea.
 Aplicar a sequência de atuação perante uma vítima com obstrução da via aérea.
 Identificar situações de perigo através da execução do exame à vítima.
 Identificar as emergências médicas mais frequentes.
 Identificar os principais sinais e sintomas característicos das emergências médicas.
 Aplicar os primeiros socorros adequados a cada emergência médica.
 Identificar os vários tipos de hemorragias.
 Identificar os sinais e sintomas mais comuns das hemorragias.
 Listar e descrever os vários métodos de controlo de hemorragias.
 Controlar uma hemorragia através dos métodos de controlo.
 Identificar os tipos de feridas mais comuns.
 Tratar uma ferida utilizando pensos e ligaduras.
 Identificar os tipos de queimaduras mais comuns.
 Tratar provisoriamente uma queimadura.
 Identificar os traumatismos mais comuns dos membros.
 Reconhecer o que fazer e/ou não fazer nestes casos.
 Identificar as situações específicas que requerem a intervenção do profissional de
Saúde.
 Explicar que as tarefas que se integram no âmbito de intervenção do/a Técnico/a
Auxiliar de Saúde terão de ser sempre executadas com orientação e supervisão de
um profissional de saúde.
 Identificar as tarefas que têm de ser executadas sob supervisão direta do profissional
de saúde e aquelas que podem ser executadas sozinho.
Carga horária
 25 horas
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1.O Sistema Integrado de Emergência Médica – SIEM
1.1.Componentes, intervenientes e forma de funcionamento
O sistema integrado de emergência médica (SIEM) é um conjunto de meios e ações que visa
uma resposta atempada a qualquer ocorrência em que exista risco de vida.
Trata-se de um sistema composto por uma sequência de procedimentos que permitem que
os meios de socorro sejam ativados, mas também que estes sejam os mais adequados à
ocorrência em causa, permitindo assim o posterior encaminhamento do doente à unidade de
saúde mais adequada.
FASES DO SIEM
UFCD: Abordagem geral de noções básicas de primeiros socorros; Formador: Ana Isabel Pereira
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Deteção
Deteção da ocorrência de emergência médica que corresponde ao momento em que alguém
se apercebe da existência uma ou mais vítimas.
Alerta
Fase na qual se contacta através do número nacional de emergência médica (112), dando
conta da ocorrência anteriormente detetada.
Pré-Socorro
Conjunto de gestos simples executados e mantidos até a chegada de meios de socorro mais
especializados.
Socorro
Cuidados de emergência iniciais efetuados às vítimas de doença súbita ou de acidente, com
o objetivo de as estabilizar, diminuindo assim a morbilidade e a mortalidade.
Transporte
Transporte assistido da vítima numa ambulância com caraterísticas, pessoal e carga
definidos, desde o local da ocorrência até à unidade de saúde adequada, garantindo a
continuação dos cuidados de emergência necessários.
Tratamento / Hospital
Após a entrada no estabelecimento de saúde mais próximo a vítima é avaliada e são iniciadas
as medidas de diagnóstico e terapêutica com vista ao seu restabelecimento. Se necessário
pode considerar-se posteriormente um novo transporte, transferência para um hospital de
maior diferenciação, onde irá ocorrer o tratamento mais adequado à situação.
Um sistema de emergência médica depende de tudo e de todos, não podendo afirmar-se
que existe uma única entidade ou profissional com responsabilidades exclusivas na prestação
do socorro.
UFCD: Abordagem geral de noções básicas de primeiros socorros; Formador: Ana Isabel Pereira
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Existe sim um conjunto de intervenientes que vai desde o público em geral, aquele que
deteta a situação, até aos elementos que permitem que a assistência de urgência seja
possível.
Ou seja, entre outros, os intervenientes no sistema são:
• Público em geral;
• Operadores das centrais de emergência;
• Agentes da autoridade;
• Bombeiros;
• Socorristas de ambulância;
• Médicos;
• Enfermeiros;
• Pessoal técnico dos hospitais;
• Etc..
ORGANIZAÇÃO do SIEM:
Esta organização é da responsabilidade do INEM (Instituto Nacional de Emergência Médica),
cabendo a este organizar programas específicos de atuação para cada fase. O INEM tem
vindo a ampliar a sua rede de atuação, através de Subsistemas.
SUB-SISTEMAS:
Centro de Informação Antivenenos (CIAV)
Consiste num centro médico que funciona 24 horas, atendendo técnicos de saúde e público,
referente a intoxicações agudas e/ou crónicas. O centro também atua a nível da
toxicovigilância, prevenção e ensino.
Centro de Orientação de Doentes Urgentes (CODU)
Consiste em prestar em tempo útil, orientação e apoio médico, quando necessário em
situações de emergência, nomeadamente:
• Aconselhamento médico sobre a atitude a tomar perante a vítima.
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• Acionar meios de transporte à vítima para os serviços hospitalares.
• Enviar uma equipa médica ao local da ocorrência, caso seja necessário.
• Coordenar os meios de socorro de emergência da sua responsabilidade.
Centro de Orientação de Doentes Urgentes - MAR. (CODU Mar)
Compete no atendimento, orientação médica e encaminhamento dos pedidos de socorro que
provenham de embarcações ou navios, segundo as regras nacionais.
Transporte de Recém – Nascidos de Alto Risco
Consiste na realização de transporte de recém – nascidos, com equipas móveis
especializadas, constituídas por médico e enfermeiro especializados em Neonatologia para
hospitais centrais.
Serviço de Helicópteros de Emergência Médica
Este serviço é composto por vários elementos, entre os quais, um médico e enfermeiro,
funcionando ao nível dos cuidados intensivos, com o objetivo de executar manobras de
Suporte Avançado de Vida (SAV), permitindo:
• Levar a equipa a intervir rapidamente no local.
• Manter um nível de cuidados intensivos durante a transferência da vítima.
• Em caso de catástrofe, permite o transporte rápido de equipas especializadas.
De todos estes intervenientes, os que têm como função iniciar os cuidados de emergência
no local da ocorrência e manter esses cuidados durante o transporte até a unidade se saúde
são os tripulantes de ambulância e as equipas médicas de emergência.
No entanto, é necessário compreender que em algumas situações é fundamental que o
cidadão comum execute alguns «gestos» que permitam «dar tempo ao doente», ou seja,
que impeçam que a situação da vítima se agrave até a chegada do socorro.
Numa situação de emergência em que exista risco de vida para um doente, se não forem
aplicadas medidas básicas de suporte de vida durante o tempo que medeia o pedido e a
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chegada do meio de socorro, a recuperação do doente pode ficar definitivamente
inviabilizada ou dar origem a sequelas permanentes.
1.2.Número europeu de socorro 112
O 112 é o Número Europeu de Emergência, sendo comum, para além da saúde, a outras
situações, tais como incêndios, assaltos, etc. A chamada é gratuita e está acessível de
qualquer ponto do país a qualquer hora do dia. A chamada será atendida por um operador
da Central de Emergência, que enviará os meios de socorro apropriados.
O número 112 DEVE ser SÓ utilizado em situações de Emergência.
Em qualquer caso de emergência, de Norte a Sul do País, o número 112 pode ser ligado
através dos telefones das redes fixa e móvel. A chamada é gratuita e é atendida de imediato
pelos centros de emergência que acionam os sistemas médico, policial e de incêndio,
consoante a situação verificada.
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O Número de Emergência 112 deve ser utilizado, entre outras situações (desacatos,
assaltos), nas seguintes:
Acidente de viação:
Todos os casos relacionados com veículos, quer se refiram a peões atropelados, quer a
indivíduos transportados nas viaturas sinistradas.
Acidentes no trabalho:
Os variados casos de sinistro individual ou coletivo ocorridos nos locais de trabalho (fábricas,
oficinas, obras, escritórios, armazéns, etc.).
Acidentes no desporto:
Os sinistrados resultantes da prática das diversas atividades desportivas, tanto de competição
como de recreio.
Quedas:
Quando as suas consequências exijam transporte em ambulância.
Doença súbita:
Os casos dos indivíduos acometidos de doença que aparente exigir intervenção hospitalar
(dor no peito, falta de ar, perda de conhecimento e outras situações de perigo de vida).
Agressão:
Os casos de indivíduos feridos por agressão que exijam tratamento hospitalar.
Intoxicações:
Os casos de envenenamento, acidental ou não, fugas de gás, etc.
Afogamento:
Todos os casos em que o acidente resultou de submersão.
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Alcoolismo:
Todos os casos em que, por virtude de intoxicação alcoólica aguda, esteja em perigo a vida
do indivíduo.
Partos súbitos:
Os casos de parto iminente.
Incêndios urbanos
Incêndios florestais:
Se avistar o início de um incêndio florestal, ligue de imediato (em alternativa pode utilizar,
ainda, o 117).
As Centrais de Emergência ativam os meios de socorro adequados de acordo com a sua
informação.
Antes de ligar 112, informe-se sobre os pormenores que a Central tem necessidade de
conhecer:
 ONDE (local exato da ocorrência): rua, n.º da porta, estrada (sentido ascendente ou
descendente), pontos de referência.
 O QUÊ (tipo de ocorrência: acidente, incêndio florestal ou outro, parto, doença súbita,
intoxicação, etc.).
 QUEM (Vítima/doente, número de vítimas, queixas).
A eficácia do socorro depende da sua colaboração.
Em caso de acidente, tente saber e comunique:
 Tipo de acidente (atropelamento, acidente de viação – moto, ligeiro, pesado – queda,
etc.).
 Quem? (número de vítimas, estado das vítimas – consciente, inconsciente,
hemorragias, etc.).
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 Complicações (queda num rio, encarcerado num carro, etc.).
 Riscos associados (incêndio, derramamento de substâncias perigosas, etc.).
Em caso de parto, tente saber e comunique:
 Tempo de gravidez.
 Se está ou não com contrações (de quantos em quantos minutos).
 Se teve algum problema durante a gravidez.
 Quantos filhos teve?
Em caso de doença súbita, tente saber e comunique:
 Queixa principal.
 Há quanto tempo se iniciou.
 Quais são os sintomas associados?
 Doenças conhecidas.
A sua colaboração é fundamental sempre que se encontre em risco a vida humana. Preste
atenção às perguntas efetuadas, responda com calma e siga as instruções indicadas.
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2.Cadeia de Sobrevivência
2.1.Conceito e importância
A Cadeia de Sobrevivência representa, simbolicamente, o conjunto de procedimentos que
permitem salvar vítimas de paragem cardiorrespiratória.
À luz do conhecimento médico atual, considera-se que há três atitudes que modificam o
resultado no socorro à vítima de paragem cardiorrespiratória (PCR):
1. Pedir ajuda, acionando de imediato o Sistema Integrado de Emergência Médica
(SIEM);
2. Iniciar de imediato manobras de Suporte Básico de Vida (SBV);
3. Aceder à desfibrilhação tão precocemente quanto possível mas apenas quando
indicado.
Estes procedimentos sucedem-se de uma forma encadeada e constituem uma cadeia de
atitudes em que cada elo articula o procedimento anterior com o seguinte.
Surge assim o conceito de Cadeia de Sobrevivência, composta por quatro elos ou ações, em
que o funcionamento adequado de cada elo e a articulação eficaz entre os vários elos é vital
para que o resultado final seja uma vida salva.
É importante destacar que a resistência desta cadeia é a do elo mais fraco, como em qualquer
sequência. Ou seja, todos os elos que constituem a «cadeia de sobrevivência» são cruciais
no salvamento de vidas humanas.
UFCD: Abordagem geral de noções básicas de primeiros socorros; Formador: Ana Isabel Pereira
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2.2.Elos e princípios subjacentes
Os quatro elos da cadeia de sobrevivência são:
1. Acesso precoce ao Sistema Integrado de Emergência Médica - 112
2. Início precoce de SBV
3. Desfibrilhação precoce
4. Suporte Avançado de Vida (SAV) precoce
Estes elos devem ser seguidos pela sequência apresentada e não é demais repetir que todos
eles são fundamentais para que a reanimação cardiorrespiratória tenha sucesso.
Concluindo, cada elemento da «cadeia de sobrevivência», quando unido, forma uma corrente
que permite que a reanimação cardiorrespiratória tenha sucesso.
Contudo, a resistência desta corrente será aquela que se encontra na resistência de cada
elo, ou seja, o resultado final está dependente da eficácia de cada um deles.
ACESSO PRECOCE
O rápido acesso ao SIEM assegura o início da Cadeia de Sobrevivência. Cada minuto sem se
chamar o socorro reduz a possibilidade de sobrevivência da vítima.
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Para o funcionamento adequado deste elo é fundamental que quem presencia uma
determinada ocorrência seja capaz de reconhecer a gravidade da situação e saiba ativar o
sistema, ligando adequadamente 112 (para poder informar o quê, onde, como e quem).
A incapacidade de adotar estes procedimentos significa falta de formação. A consciência de
que estes procedimentos podem salvar vidas humanas deve ser incorporada o mais cedo
possível na vida de cada cidadão.
SBV PRECOCE
Para que uma vítima em perigo de vida tenha maior hipótese de sobrevivência é fundamental
que sejam iniciadas, de imediato e no local onde ocorreu a situação, manobras de SBV. Isto
só se consegue se quem presencia a situação tiver a capacidade de iniciar o SBV.
O SBV permite ganhar tempo, mantendo alguma circulação e alguma ventilação na vítima,
até à chegada de socorro mais diferenciado para instituir os procedimentos de SAV.
DESFIBRILHAÇÃO PRECOCE
A maioria das PCR no adulto ocorrem devido a uma perturbação do ritmo cardíaco a que se
chama Fibrilhação Ventricular (FV).
Esta perturbação do ritmo cardíaco caracteriza-se por uma atividade elétrica caótica de todo
o coração, em que não há contração do músculo cardíaco e, como tal, não é bombeado
sangue para o organismo.
O único tratamento eficaz para esta arritmia é a desfibrilhação que consiste na aplicação de
um choque elétrico, externamente a nível do tórax da vítima, para que a passagem da
corrente elétrica pelo coração pare a atividade caótica que este apresenta. A desfibrilhação
eficaz é determinante na sobrevivência de uma PCR.
Também este elo da cadeia deve ser o mais precoce possível. A probabilidade de conseguir
tratar a FV com sucesso depende do fator tempo. A desfibrilhação logo no 1º minuto em que
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se instala a FV pode ter uma taxa de sucesso próxima dos 100%, mas ao fim de 8-10 minutos
a probabilidade de sucesso é quase nula.
SAV PRECOCE
Este elo da cadeia de sobrevivência é uma “mais-valia”. Nem sempre a desfibrilhação é eficaz,
por si só, para recuperar a vítima. Outras vezes a desfibrilhação pode não ser sequer
indicada.
O SAV permite conseguir uma ventilação mais eficaz (através da entubação endotraqueal) e
uma circulação também mais eficaz (através da administração de fármacos).
Idealmente, o SAV deverá ser iniciado ainda na fase pré-hospitalar e continuado no hospital,
permitindo a estabilização das vítimas recuperadas de PCR.
Integram também este elo os cuidados pós-reanimação, que têm o objetivo de preservar as
funções do cérebro e coração.
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3.Riscos para o Reanimador
3.1.Riscos para o reanimador e para a vítima
Existe uma regra básica que nunca deve ser esquecida: o reanimador não deve expor-se a
si, nem a terceiros, a riscos que possam comprometer a sua integridade física.
Antes de se aproximar de alguém que possa eventualmente estar em perigo de vida, o
reanimador deve assegurar primeiro que não irá correr nenhum risco:
 Ambiental – choque elétrico, derrocadas, explosão, tráfego, etc.
 Toxicológico – exposição a gás, fumo, tóxicos, etc.;
 Infecioso – tuberculose, hepatite, HIV, etc.
Na maioria das vezes, uma avaliação adequada e um mínimo de cuidado são suficientes para
garantir as condições de segurança necessárias.
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3.2.Condições de segurança e medidas de proteção universais
Se pára numa estrada para socorrer alguém, vítima de um acidente de viação deve:
 Posicionar o seu carro para que este o proteja funcionando como escudo, isto é, antes
do acidente no sentido no qual este ocorreu;
 Sinalizar o local com triângulo de sinalização à distância adequada;
 Ligar as luzes de presença ou emergência;
 Usar roupa clara para que possa mais facilmente ser visível;
 Desligar o motor para diminuir a probabilidade de incêndio.
Estas medidas, simples, são em princípio suficientes para garantir as condições de segurança.
No caso de detetar a presença de produtos químicos ou matérias perigosas é fundamental
evitar o contacto com essas substâncias sem luvas e não inalar vapores libertados pelas
mesmas.
Nas situações em que a vítima sofre uma intoxicação podem existir riscos acrescidos para
quem socorre, nomeadamente no caso de intoxicação por fumos ou gases tóxicos (como os
cianetos ou o ácido sulfúrico).
Para o socorro da vítima de intoxicação é importante identificar o produto bem como a sua
forma de apresentação (em pó, líquida ou gasosa) e contactar o CIAV para uma informação
especializada, nomeadamente sobre possíveis antídotos.
Em caso de intoxicação por produtos gasosos é fundamental não se expor aos vapores
libertados, que nunca devem ser inalados. O local onde a vítima se encontra deverá ser
arejado ou, na impossibilidade de o conseguir, a vítima deverá ser retirada do local.
Nas situações em que o tóxico é corrosivo (ácidos ou bases fortes) ou em que pode ser
absorvido pela pele, como os organofosforados (exemplo: 605 Forte®), é mandatório, além
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de arejar o local, usar luvas e roupa de proteção para evitar qualquer contacto com o produto,
bem como máscaras para evitar a inalação.
Se houver necessidade de ventilar a vítima com ar expirado deverá ser sempre usada
máscara ou outro dispositivo com válvula unidirecional, para não expor o reanimador ao ar
expirado da vítima. Nunca efetuar ventilação boca-a-boca.
A possibilidade de transmissão de infeções entre a vítima e o reanimador tem sido alvo de
grande preocupação, sobretudo mais recentemente, com o receio da contaminação pelos
vírus da hepatite B ou C e pelo VIH.
Não existe, no entanto, qualquer registo de transmissão destes vírus durante a realização de
ventilação boca-a-boca. A transmissão de qualquer um dos vírus, mesmo no caso de contacto
com saliva, é altamente improvável, a não ser no caso de a saliva estar contaminada com
sangue.
O sangue é o principal veículo de contágio, em relação ao qual devem ser adotadas todas as
medidas universais de proteção.
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São igualmente importantes medidas de proteção em relação ao contacto com fluidos
orgânicos (como o sémen ou secreções vaginais, líquidos amniótico, pleural, peritoneal ou
cefalorraquidiano). Não se consideram necessárias as mesmas medidas de proteção em
relação a fluidos orgânicos como a saliva, secreções brônquicas, suor, vómito, fezes ou urina,
na ausência de contaminação com sangue.
Estão descritos alguns casos de transmissão de infeções durante a realização de ventilação
boca-a-boca (nomeadamente casos de tuberculose cutânea, meningite meningocócica,
herpes simplex e salmonelose). No entanto, a frequência de ocorrência destes casos é baixa.
Existe um risco pequeno de infeção por picada com agulha contaminada, pelo que é
necessário adotar medidas cuidadosas no manuseio de objetos cortantes ou picantes os quais
devem imediatamente ser colocados em contentores apropriados.
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4.Manobras de Suporte Básico de Vida
4.1.Conceito de acordo com o algoritmo vigente
A paragem cardíaca subida, no adulto, representa a principal causa de morte na europa.
Cerca de 2/3 das mesas ocorre em ambiente extra-hospitalar, pelo que tona fundamental
qualquer cidadão esteja apto a iniciar manobras de reanimação.
O Suporte Básico de Vida é o “conjunto de procedimentos bem definidos e com metodologias
padronizadas” que tem como objetivos:
1.Reconhecer as situações em que há risco de vida eminente;
2.Saber quando e como pedir ajuda;
3.Saber iniciar e sem recurso a qualquer equipamento (è exceção de equipamento de
proteção), manobras que contribuam para preservar a oxigenação e circulação até à
chegada das equipas diferenciadas e, eventualmente, o restabelecimento do normal
funcionamento cardíaco e respiratório.
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Algoritmo do SBV
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4.2.Procedimentos e sequência
1.Avaliar as condições de segurança
Aproximar-se da vítima com cuidado, garantindo que não existe perigo para si, para a vítima
ou para terceiros (atenção a perigos como por exemplo: tráfego, eletricidade, gás ou outros).
2.Avaliar o estado de consciência
Abanar os ombros com cuidado e perguntar em voz alta: “Sente-se bem?”.
Se a vítima não responder gritar por AJUDA.
3.Gritar por ajuda
Se houver alguém perto peça para ficar ao pé de si, pois pode precisar de ajuda.
Se estiver sozinho grite alto para chamar a atenção, mas sem abandonar a vítima.
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4-Permeabilizar a via
Numa vítima inconsciente a queda da língua pode bloquear a VA. Esta pode ser
permeabilizada pela extensão da cabeça e pela elevação do queixo, o que projeta a língua
para a frente.
Se tiver ocorrido trauma ou suspeita de trauma, devem ser tomadas medidas para proteção
da coluna da vítima e não deve ser realizada a extensão da cabeça.
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Como alternativa, deverá ser realizada a protusão (subluxação) da mandíbula (requer um
reanimador à cabeça para estabilização/controlo da coluna cervical e manutenção da VA
permeável).
Para efetuar a protusão da mandíbula:
 Identificar o ângulo da mandíbula com o dedo indicador;
 Com os outros dedos colocados atrás do ângulo da mandíbula, aplicar uma pressão
mantida para cima e para frente de modo a levantar o maxilar inferior;
 Usando os polegares, abrir ligeiramente a boca através da deslocação do mento para
baixo.
5.Respiração normal? Avaliar a ventilação/ respiração
Mantendo a VA permeável, verificar se a vítima respira NORMALMENTE, realizando o VOS
até 10 segundos:
 Ver os movimentos torácicos;
 Ouvir os sons respiratórios saídos da boca/nariz;
 Sentir o ar expirado na face do reanimador.
Algumas vítimas, nos primeiros minutos após uma PCR, podem apresentar uma respiração
ineficaz, irregular e ruidosa. Não deve ser confundido com respiração normal.
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Se a vítima ventila normalmente colocar em Posição lateral de segurança (PLS).
6.Ligar 112
Se a vítima não responde e não tem ventilação normal ative de imediato o sistema de
emergência médica, ligando 112.
 Reanimador único: Se necessário abandone a vítima/local;
 Se estiver alguém junto a si, deve pedir a essa pessoa que ligue 112;
 Se CRIANÇA ou vítima de afogamento (qualquer idade) só deve ligar 112 após 1
minuto de SBV.
Após ligar 112:
 Se DAE DISPONÍVEL, ligue-o e siga as indicações do DAE;
 Se não há DAE disponível inicie SBV.
7.Iniciar compressões torácicas
Fazer 30 compressões deprimindo o esterno 5-6 cm a uma frequência de pelo menos 100
por minuto e não mais que 120 por minuto.
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8.Iniciar ventilações
Após 30 compressões fazer 2 ventilações.
Se não se sentir capaz ou tiver relutância em fazer ventilações, faça apenas compressões
torácicas.
Se apenas se fizerem compressões, estas devem ser contínuas, cerca de 100 por minuto
(não existindo momentos de pausa entre cada 30 compressões).
9.Manter SBV
Manter 30 compressões alternando com 2 ventilações. PARAR apenas se:
• Chegar ajuda (profissionais diferenciados);
• Estiver fisicamente exausto;
• A vítima recomeçar a ventilar normalmente.
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4.3.Insuflações e compressões torácicas
Os dois elementos fundamentais do SBV são as compressões torácicas e as ventilações.
Compressões torácicas
São as compressões torácicas que mantêm o fluxo de sangue para o coração, o cérebro e
outros órgãos vitais.
Para aplicar corretamente compressões torácicas num adulto:
1.Posicionar-se ao lado da vítima;
2. Certificar-se que a vítima está deitada de costas, sobre uma superfície firme e
plana;
3. Afastar/remover as roupas que cobrem o tórax da vítima;
4. Colocar a base de uma mão no centro do tórax, entre os mamilos;
Colocar a outra mão sobre a primeira entrelaçando os dedos;
6. Braços e cotovelos esticados, com os ombros na direção das mãos;
7. Aplicar compressão sobre o esterno, deprimindo o esterno 5-6 cm a cada
compressão (as compressões torácicas superficiais podem não produzir um fluxo
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sanguíneo adequado);
8. No final de cada compressão, garantir a re-expansão total do tórax, aliviando toda
a pressão sem remover as mãos do tórax (o retorno completo da parece torácica
permite que mais sangue encha o coração entre as compressões torácicas)
9.Aplicar compressões de forma rítmica a uma frequência de pelo menos 100 por
minuto, mas não mais do que 120 por minuto (a evidência científica demonstra que
esta frequência produz um fluxo sanguíneo adequado e melhora a sobrevivência;
ajuda se contar as compressões em voz alta)
10. NUNCA INTERROMPER AS COMPRESSÕES MAIS DO QUE 5 SEGUNDOS (com o
coração parado, quando não se comprime o tórax, o sangue não circula).
Ventilações
Na impossibilidade de utilizar um adjuvante da VA (máscara de bolso ou insuflador manual),
a ventilação “boca-a-boca” é uma maneira rápida e eficaz de fornecer oxigénio à vítima.
O ar exalado pelo reanimador contém aproximadamente 17% de oxigénio e 4% de dióxido
de carbono, o que é suficiente para suprir as necessidades da vítima.
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Para ventilar adequadamente uma vítima adulta:
1. Posicionar-se ao lado da vítima;
2. Permeabilizar a VA (a posição incorreta da cabeça pode impedir a ventilação adequada
por OVA):
 Colocar uma mão na testa da vítima e empurrar com a palma da mão, inclinando a
cabeça para trás (extensão da cabeça);
 Colocar os dedos da outra mão por baixo da parte óssea da mandíbula, perto do
queixo (pressão excessiva nos tecidos moles por baixo do queixo podem obstruir a
VA);
 Elevar a mandíbula, levantando o queixo da vítima (Atenção: não feche a boca da
vítima!);
3. Aplicar 2 ventilações na vítima, mantendo a VA permeável:
 Com a mão na testa da vítima comprimir as narinas da vítima;
 Respirar normalmente e selar os lábios ao redor da boca da vítima;
 Aplicar 1 ventilação (soprar por 1 segundo; esta duração maximiza a quantidade de
O2 que chega aos pulmões, com menor probabilidade de distensão gástrica),
observando se existe a elevação do tórax da vítima. Cada insuflação deve ser
suficiente para provocar elevação do tórax como numa respiração normal (se o tórax
não se elevar, repetir as manobras de permeabilização da VA);
 Aplicar uma segunda ventilação, observando se existe elevação do tórax;
 Caso uma ou ambas as tentativas de insuflação se revelem ineficazes, deve avançar
de imediato para as compressões torácicas.
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Ventilação com adjuvante da via aérea
Uma máscara de bolso pode ser utilizada por leigos com treino mínimo na realização de
ventilações durante uma RCP. Este dispositivo adapta-se na face da vítima, sobre o nariz e
boca e possui uma válvula unidirecional que desvia do reanimador o ar expirado da vítima.
Um reanimador ÚNICO deve aproximar-se da vítima de lado. Isto irá permitir uma troca fácil
entre ventilações e compressões torácicas.
1. Colocar a máscara sobre o nariz e boca da vítima (a parte mais estreita da máscara
de bolso deverá ficar sobre o dorso do nariz; a parte mais larga da máscara deverá
ficar a boca);
2. Colocar o polegar e o indicador na parte mais estreita da máscara;
3. Colocar o polegar da outra mão a meio da parte mais larga da máscara e usar os
outros dedos para elevar o queixo da vítima, criando uma selagem hermética;
4. Soprar suavemente pela válvula unidirecional durante cerca de 1 segundo (por
cada ventilação), por forma a que o tórax da vítima se eleve;
5. Retirar a boca da válvula da máscara após insuflar.
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4.4.Problemas associados
O SBV, quando executado corretamente, permite manter a vítima viável até à chegada do
SAV. Podem no entanto ocorrer alguns problemas.
Problemas com a ventilação
O principal problema que pode ocorrer com a ventilação é a insuflação de ar para o estômago,
que pode provocar a saída do conteúdo do mesmo para a via aérea, provocar a elevação do
diafragma que restringe os movimentos respiratórios tornando a ventilação menos eficaz.
Fazer insuflações com grande quantidade de ar, com grande velocidade e durante um curto
período de tempo facilita a ocorrência de insuflação gástrica. Se detetada, não deve tentar
resolver-se comprimindo o estômago, dado que apenas estará a causar regurgitação do
conteúdo do mesmo.
No caso de vítimas desconhecidas e na ausência de algum mecanismo de barreira para
efetuar as insuflações, não deverá efetuar ventilação boca-a-boca. Neste caso é preferível
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efetuar apenas compressões torácicas, a um ritmo de 100/min, que não efetuar nenhum
SBV.
Problemas com as compressões
As compressões torácicas, mesmo quando corretamente executadas, conseguem gerar
apenas aproximadamente 25 % do débito cardíaco normal. Efetuá-las obliquamente em
relação ao tórax pode fazer rolar a vítima e diminui a sua eficácia.
É também importante que o tórax descomprima totalmente após cada compressão para
permitir o retorno de sangue ao coração antes da próxima compressão e otimizar o débito
cardíaco.
As compressões torácicas podem causar fratura de articulações condrocostais (articulação
das costelas com o esterno), lesão de órgãos internos, rotura do pulmão, do coração ou do
fígado. Este risco é minimizado, mas não totalmente abolido, pela correta execução das
compressões.
A preocupação com as potenciais complicações do SBV não deve impedir o reanimador de
iniciar prontamente as manobras de SBV dado que, no caso de uma vítima em paragem
cardiorrespiratória, a alternativa ao SBV é a morte.
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5.Posição Lateral de Segurança
5.1.Como e quando a sua utilização
A posição lateral de segurança (também designada por posição de recuperação) é a posição
indicada para as vítimas inconscientes ou prostradas em que exista ventilação espontânea.
No entanto, é necessário recordar que esta posição somente se aplica em vítimas em que
não exista suspeita de traumatismo, e em que não existam outros cuidados prioritários a
aplicar.
Esta não deve ser realizada quando a pessoa:
 Não estiver a respirar;
 Tiver uma lesão na cabeça, pescoço ou coluna;
 Tiver um ferimento grave.
Após colocar o doente em PLS deve manter-se a vigilância da via aérea, uma vez que poderá
existir o perigo de ocorrer um vómito e consequente aspiração deste para os pulmões.
Como colocar uma vítima em PLS:
 Com a vítima deitada, ajoelhe-se ao seu lado;
 Vire a cara da vítima para si. Incline a cabeça desta para trás, para abrir as vias
aéreas e impedir a queda da língua para trás e a sufocação por sangue. Se a vítima
estiver inconsciente, verifique a boca e remova possíveis materiais que possam estar
dentro desta;
 Posicionar o membro superior do lado em que o socorrista se encontra na posição de
flexão alinhado com a cabeça do doente;
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Posicionar membro superior do doente.
 Colocar o dorso da mão do lado oposto encostado à face do doente, devendo o
socorrista segurá-la nesta posição;
Segurar a mão do doente junto à sua face
 Colocar a outra mão na região do joelho, fletindo o membro inferior do lado oposto
à posição do socorrista.
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Fletir o membro inferior
 Mantendo o dorso da mão do doente encostada à face e segurando o membro
inferior, efetuar a rotação do doente;
Efetuar a rotação do doente
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Após ter rodado o doente, posicionar a cabeça de forma a que a via aérea fique livre de
obstrução.
Certificar-se da desobstrução da via aérea
Após ter corrigido a via aérea, posicionar a perna pela qual se rodou o doente de forma a
servir de apoio, garantindo que o doente fique na lateral (o doente não deve permanecer
mais de 30 minutos nesta posição);
Colocar o doente em equilíbrio; Doente em PLS.
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Por fim telefone para providenciar uma ambulância.
Casos especiais:
 Se a vítima for pesada: Agarre-a pela roupa à altura das ancas com ambas as mãos
e vire-lhe o corpo contra os seus joelhos. Se possível peça ajuda a uma segunda
pessoa para que ampare a cabeça da vítima enquanto faz rolar o corpo.
 Quando há fratura de um braço ou de uma perna: Quando há fratura de um braço
ou de uma perna ou por qualquer motivo esse membro não puder ser utilizado como
apoio da vítima na posição lateral de segurança, coloque um cobertor enrolado
debaixo do lado ileso da vítima, o que elevará o corpo desse lado e deixará as vias
respiratórias desimpedidas.
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6.Obstrução da via aérea
6.1.Situações de obstrução parcial e total
A obstrução da via aérea ocorre na maioria das situações em que o doente se encontra
inconsciente, em resultado do relaxamento da língua ou da ocorrência de um vómito. No
entanto, pode também surgir em vítimas conscientes, resultado do alojar de um corpo
estranho na via aérea, sendo frequente em crianças e idosos.
Obstrução da via aérea
A obstrução da via aérea mais frequente é a que ocorre por corpo estranho, em que, no caso
do doente se encontrar consciente, este vai adotar um comportamento que pode ir desde o
tossir vigorosamente, quando a obstrução é parcial, até ao levantar-se subitamente agarrado
ao pescoço sem emitir qualquer som, indicador de que a obstrução é total.
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6.2.Tipos e causas de obstrução
Caso a obstrução seja parcial (o doente tosse, chora e fala), o socorrista não deve interferir
e deve encorajar o doente a tossir.
Caso o doente não chore, não fale, nem emita qualquer som, o socorrista deve aplicar os
seguintes procedimentos:
 De imediato efetuar cinco pancadas com a base da mão entre as omoplatas do
doente.
5 pancadas entre as omoplatas do doente
Caso não resulte:
 Efetuar cinco compressões abdominais entre a extremidade do esterno e o umbigo.
Estas compressões devem ser vigorosas para que a extremidade inferior do esterno
não seja comprimida.
Executam-se colocando uma mão fechada em punho na linha média do abdómen, um pouco
acima da cicatriz umbilical, e a outra mão a cobrir a primeira, exercendo então pressão (com
força suficiente), dirigida de baixo para cima e da frente para trás.
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5 compressões abdominais
2. Nos doentes conscientes, esta manobra é executada com o doente de pé, ficando o
socorrista que a executa por trás. Nas grávidas, obesos e crianças com idade inferior a um
ano substituir as compressões abdominais por compressões torácicas.
Compressões torácicas
Manobra de Heimlich (compressões abdominais)
A Manobra de Heimlich é o melhor método pré-hospitalar de desobstrução das vias aéreas
superiores por corpo estranho.
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Procedimento:
 Colocar-se atrás da vítima;
 Colocar os braços à volta da vítima ao nível da cintura;
 Fechar uma das mãos, em punho, e colocar a mão com o polegar encostado ao
abdómen da vítima, na linha média um pouco acima do umbigo e bem afastada do
apêndice xifóide (extremidade inferior do esterno);
 Com a outra mão, agarrar o punho da colocada anteriormente e puxar, com um
movimento rápido e vigoroso, para dentro e para cima;
 Cada compressão deve ser um movimento claramente separado do anterior e
efetuado com a intenção de resolver a obstrução;
 Repetir as compressões abdominais até 5 vezes, vigiando sempre se ocorre ou não
resolução da obstrução e o estado de consciência da vítima.
Manobra de Heimlich
No caso do doente de obstrução da via aérea se encontrar inconsciente devem ser iniciadas
de imediato as manobras de reanimação cardiorrespiratória, tendo em atenção a vigilância
da via aérea.
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Reanimação cardiorrespiratória
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7.Exame à vítima
7.1.Estado de consciência e permeabilidade da via aérea
A avaliação de qualquer vítima compreende os seguintes objetivos:
 Garantir as condições de segurança do socorrista e da vítima;
 Identificar e corrigir situações que não colocando a vítima em perigo de vida, podem,
se não forem prestados os cuidados de emergência adequados, provocar
agravamento do estado geral;
 Não avançar no exame da vítima sem ter corrigido a lesão anterior;
 O local de uma ocorrência é normalmente muito confuso, podendo inclusivamente
existir alguns riscos.
 Por esse motivo é, preciso garantir a segurança, do socorrista, dos populares e da (s)
vítima (s).
O exame da vítima é realizado logo que o socorrista chega junto da vítima e divide-se em:
 Exame Primário, no qual se tenta identificar e corrigir as situações de perigo de vida;
 Exame Secundário, no qual se tenta identificar e corrigir as situações que não colocam
a vítima em perigo imediato de vida, mas se não forem corrigidas atempadamente
podem agravar-se.
EXAME PRIMÁRIO
1° - Garantir condições de segurança;
2° - Avaliação do estado de consciência;
Se inconsciente grite por ajuda.
Se consciente continuar exame.
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3° A - Via aérea (permeabilização da via aérea)
Doença súbita - extensão da cabeça
Vítimas de trauma - elevação do maxilar inferior
4° B - Ventilação
VOS - realiza-se durante 10 segundos contando em voz alta
V - ver se o tórax expande
O - ouvir a passagem do ar (ventilação)
S - sentir a expedição na face (ar)
Se respira
Continue o exame;
Coloque em Posição Lateral de Segurança;
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Peça ajuda;
Vigie regularmente.
Se não ventila
Ligue 112;
Mantenha a calma e informe a situação;
Inicie Suporte Básico de Vida.
5° C - Circulação
Observe a vítima e procure hemorragias externas graves e sinais precoces de choque.
Hemorragias
Imediatamente controladas
Choque
Pesquisa de sinais evidentes;
Aplicar cuidados de emergência;
Vigilância apertada.
7.2.Caraterísticas da respiração, pulso e pele
EXAME SECUNDÁRIO
O exame secundário divide-se em:
 Recolha de Informação;
 Sinais vitais;
 Exposição e observação sistematizada.
Recolha de informação
 O local;
 A vítima;
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 Outras pessoas;
 Procure saber o que aconteceu;
 Identifique a principal queixa da vítima;
 Identifique os antecedentes pessoais da vítima.
Sinais vitais
São os principais indicadores das funções vitais:
 Ventilação;
 Pulso;
 Pressão arterial;
 Pele.
Ventilação
Ao conjunto de uma inspiração e uma expiração dá-se o nome de ciclo ventilatório.
Avalia e regista-se:
 Frequência (n° / min)
 Amplitude (Superficial / Normal / Profunda)
 Ritmo (Regular / Irregular)
Pulso
É a onda de sangue que percorre as artérias cada vez que o coração se contrai.
Avalia e regista-se:
 Frequência (n° / min)
 Amplitude (Cheio / Fino)
 Ritmo (Regular / Irregular)
Caraterísticas do Pulso
 Pulso rápido e fraco, pode resultar de um estado de choque por perda sanguínea;
 Ausência de pulso pode significar um vaso sanguíneo bloqueado ou lesado, ou uma
paragem cardíaca.
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Pele
Caraterísticas da Pele:
 Temperatura;
 Coloração e Humidade.
Temperatura, considera-se:
• Temperatura elevada ou hipertermia quando o valor é superior a 37,5º;
• Temperatura normal ou apirético quando o valor está entre os 35,5º e os 37,5º;
• Temperatura abaixo do normal ou hipotermia quando o valor é inferior a 35º.
Coloração e Humidade
 Pele fria e húmida significa uma resposta do sistema nervoso a um traumatismo ou
perda sanguínea (estado de choque).
 Pele fria e seca pode ter origem na exposição ao frio.
 Pele quente e seca pode ser causada por febre, ou ser o resultado de uma insolação.
 Pele pálida, indica circulação insuficiente e é vista nas vítimas em choque ou com
enfarte do miocárdio.
 Pele azulada (cianose) é observada na insuficiência cardíaca, na obstrução de vias
aéreas, e também em alguns casos de envenenamento.
 Pele vermelha em envenenamento por monóxido de carbono e na insolação.
Observação Sistematizada
A finalidade é detetar lesões ou alterações que possam passar despercebidas mas que
carecem de socorro (pensos, imobilizações, limpeza).
Na observação sistematizada ter em atenção:
 Nas vítimas de trauma as roupas devem ser cortadas;
 Manter o respeito pela privacidade;
 Manter a temperatura corporal.
Resumo:
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 Verificar se existem condições de segurança no local;
 Sinalizar o local;
 Identificar-se e estabelecer o diálogo com o doente, se for possível, ou com os seus
familiares;
 Manter a calma e efetuar perguntas claras e objetivas;
 Identificar o doente;
 Tratar o doente pelo nome;
 Identificar a principal queixa;
 Manter-se próximo do doente;
 Executar o exame ao doente corretamente;
 Saber os antecedentes pessoais e associar ao sucedido;
 Acalmar o doente e explicar o que vai ser feito;
 Atuar, aplicando as técnicas para as quais se encontre habilitado
Avaliar os parâmetros vitais do doente mais do que uma vez;
Registar toda a informação recolhida.
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8.As Emergências médicas mais frequentes
8.1.Principais sinais e sintomas
Os principais sinais e sintomas passíveis de indicar uma emergência médica são variáveis
consoante a situação e a emergência concreta a que se referem.
Assim, podemos considerar os seguintes sintomas/ condições:
Sinais e sintomas que podem indicar uma dor de origem cardíaca
Dor torácica tipo:
• «Facada»;
• Opressão;
• Esmagamento;
• Aperto.
Dor que pode irradiar para o membro superior esquerdo, pescoço e mandíbula. Esta dor pode
ainda ser acompanhada de:
• Náuseas ou vómitos;
• Alterações do ritmo cardíaco;
• Sensação de desmaio;
Dificuldade em respirar.
Sinais e sintomas de enfarte no miocárdio
 Dor no meio do peito, tipo aperto, peso ou opressão
 Irradiação ao braço esquerdo, costas e/ou pescoço;
 Suores;
 Náuseas;
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 Vómitos;
 Falta de ar;
 Ansiedade.
Sinais e sintomas de asma
O principal sintoma é a dificuldade respiratória, resultante sobretudo da diminuição do
diâmetro dos brônquios e que altera o volume de ar que deveria entrar e sair dos pulmões.
Assim, a respiração torna-se ruidosa, em especial durante a fase expiratória, na qual o
asmático sente maior dificuldade e tem que exercer um maior esforço para expulsar o ar dos
pulmões.
Sinais e sintomas de AVC
 Cefaleias intensas e súbitas (dores de cabeça);
 Perda da força ou do movimento de um dos lados do corpo;
 Desvio da comissura labial (boca de lado);
 Dificuldade em falar ou em articular as palavras;
 Incontinência (principalmente urinária);
 Comportamento repetitivo.
Sinais e sintomas de hipoglicémia
 Deve suspeitar-se de hipoglicemia quando se estiver perante um doente diabético
que esteve sujeito a um jejum prolongado ou a esforço físico continuado e que se
apresente inconsciente, confuso ou agitado, pálido e suado.
Sinais e sintomas de hiperglicemia
 Inconsciência ou sonolência, pele vermelha e quente, hálito acetónico.
Sinais e sintomas de convulsão
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Os sinais e sintomas que podem ajudar a identificar uma convulsão podem ser organizados
em três fases:
1.º Antes da convulsão o doente pode ficar parado, como ausente, começando a
ranger os dentes. Muitos doentes referem sentir um cheiro ou ver luzes coloridas;
2.º Normalmente o doente grita e cai subitamente, começando a cerrar com força os
dentes e mexendo-se descontroladamente. Neste caso, o doente poderá ficar
cianosado (cor azulada/cinzenta da pele) devido ao facto de ocorrerem períodos
curtos em que ocorre a suspensão da respiração e poderá salivar abundantemente,
o que pode ser identificado pelo «espumar pela boca»;
3.º A crise termina e o doente apresenta-se inconsciente, recuperando lentamente a
consciência. Normalmente apresenta-se confuso e agitado e não se lembra do que
aconteceu. É normal ocorrer mordedura da língua, mas na generalidade sem
gravidade.
Sinais e sintomas de intoxicação:
 Hálito com odor estranho e alteração na cor da língua e lábios, no caso de ingestão
ou inalação da substância tóxica;
 Dor e ardor na garganta;
 Dificuldade em respirar e tosse;
 Sonolência;
 Delírio;
 Lesões na pele e queimaduras;
 Olhos vermelhos e inchados;
 Náuseas ou vómitos;
 Diarreia
 Dor de cabeça intensa;
 Rigidez nas articulações;
 Sensação de músculo preso;
 Febre.
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8.2.Principais cuidados a prestar
8.2.1.Problemas cardíacos
Dor torácica de origem cardíaca
A dor torácica de origem cardíaca surge em consequência de um deficiente fornecimento de
oxigénio ao músculo cardíaco. Este fator leva a que este entre em sofrimento (isquemia)
tendo como sintoma a dor.
A arteriosclerose é a principal responsável por este fornecimento deficitário de oxigénio, uma
vez que ao diminuir o diâmetro das artérias coronárias, reduzindo a elasticidade das mesmas,
provoca uma situação que facilita a sua obstrução e consequentemente a interrupção do
fluxo sanguíneo.
Perante sinais e sintomas de dor torácica:
• Não deixar o doente efetuar qualquer esforço;
• Colocar o doente numa posição confortável;
• Identificar se é o primeiro episódio, se existem doenças anteriores e se faz
medicação;
• Ligar 112 e responder com calma às perguntas que são feitas, fornecendo as
informações recolhidas anteriormente;
• Aguardar pelo socorro.
Enfarte Agudo do Miocárdio
O Enfarte Agudo do Miocárdio é uma verdadeira emergência médica em que todo o tempo
conta para salvar uma vida.
Ligar 112 é extremamente importante pois:
 O tempo de atuação é fundamental para a sobrevivência das vítimas;
 O tratamento mais eficaz e com maior sucesso é a angioplastia primária, que deve
ser efetuada o mais cedo possível;
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 O Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM) tem a possibilidade de identificar
os sintomas e enviar os meios adequados;
 Os meios do INEM têm equipamento que permite diagnosticar o enfarte ainda antes
da chegada ao hospital;
 O doente é encaminhado para o hospital mais indicado, que nem sempre é o hospital
mais perto.
8.2.2.Problemas respiratórios
Dificuldade respiratória
A dificuldade respiratória, normalmente definida como «falta de ar» pela população em geral
e por dispneia pelos médicos, pode ter várias causas.
Contudo, esta pode ser considerada normal, sem gravidade, quando resulta, por exemplo,
de um esforço físico extenuante e ser grave quando resulta do agravamento de uma doença
pulmonar ou cardíaca ou de uma intoxicação.
A queixa de «falta de ar» pode variar de pessoa para pessoa uma vez que este sintoma
depende da capacidade neurológica em identificar este sintoma.
A maioria das situações de falta de ar no adulto têm as seguintes causas:
• Asma (por «aperto» dos brônquios);
• Agravamento da bronquite crónica (por acumulação de secreções);
• Edema pulmonar (por problemas cardíacos);
• Angina de peito ou enfarte agudo do miocárdio;
• Intoxicações (as mais frequentes por inalação de fumos ou gases);
• Etc..
Verificando-se que podem existir diversas causas na origem de uma crise de falta de ar, os
procedimentos a adotar podem ser diversos, no entanto, deve ser adotado um conjunto de
medidas que tentem evitar o agravamento da situação, nomeadamente:
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 Manter um ambiente calmo em redor do doente;
 Acalmar o doente;
 Manter o doente sentado sem que este faça qualquer esforço;
 Ajudar o doente a respirar, pedindo a este que expire devagar e pela boca e inspire
pelo nariz (como se estivesse a cheirar uma flor e a apagar uma vela);
 Se possível, administrar oxigénio;
 Identificar doenças anteriores e a medicação do doente;
 Ligar 112 e transmitir a informação recolhida:
– Informar:
- Local;
- Número de telefone de contacto;
- Descrever a situação;
- Seguir as instruções dadas pelo operador de central.
 Aguardar pelo socorro.
Asma
A asma é uma doença respiratória que pode ser desencadeada por fatores como uma reação
alérgica ou uma infeção, surgindo de um modo súbito.
Perante alguém que esteja a sofrer um ataque asmático, deve manter uma atitude calma,
retirar a vítima do ambiente que poderá estar na origem da crise (uma sala com cheiro a
tinta, vernizes, ou outros), colocando a mesma numa posição cómoda (sentado ou semi-
sentado) que lhe facilite a respiração.
Verifique se a vítima tem um inalador apropriado e procure ajudá-la a utilizá-lo
adequadamente. Ligue de imediato 112.
8.2.3.Acidente vascular cerebral
O acidente vascular cerebral (AVC), vulgarmente designado por trombose, é uma das maiores
causas de morte em Portugal. O AVC deve-se essencialmente ao sedentarismo e a hábitos
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alimentares subjacentes a uma sociedade em que a produtividade de cada um se sobrepõe
aos cuidados que cada indivíduo tem de ter com a saúde.
Quando deteta um dos sinais de AVC deve suspeitar-se de um AVC em evolução, adotando
os seguintes procedimentos:
• Manter a calma e um ambiente calmo em redor do doente;
• Deitar o doente, colocando-o em PLS;
• Identificar corretamente as queixas do doente, se este tem algum antecedente e se
faz alguma medicação;
• Ligar 112 e transmitir a informação recolhida:
– Informar:
- Local;
- Número de telefone de contacto;
- Descrever a situação;
- Seguir as instruções dadas pelo operador de central.
• Aguardar pelo socorro;
• Se o doente ficar inconsciente, verificar se existe respiração espontânea eficaz.
Aplicar os procedimentos indicados no capítulo correspondente ao suporte básico de
vida.
8.2.4.Diabetes
A diabetes é uma doença marcada pelo mau funcionamento do pâncreas, o que provoca um
desequilíbrio entre a quantidade de açúcar e de insulina no sangue. Esta doença pode ser
hereditária e normalmente é identificada em indivíduos jovens ou provocada pelos maus
hábitos alimentares e pela obesidade.
O tratamento para a diabetes pode ser feito através da administração de insulina (fig. 61), o
que ocorre quando o pâncreas não produz esta substância, ou pela utilização de
medicamentos normalmente chamados de antidiabéticos orais.
UFCD: Abordagem geral de noções básicas de primeiros socorros; Formador: Ana Isabel Pereira
58
Sendo a diabetes uma doença que resulta da difícil absorção do açúcar (glicose) e da sua
utilização na produção de energia, é necessário ter atenção aos valores deste no sangue.
Assim, os valores considerados recomendáveis para um adulto são:
• Condições normais: 80-110 mg/dl
• Diabetes (mínimo 2 análises): > 126 mg/dl
• Tendência para diabetes 111-126 mg/dl
A diabetes por si só não é uma emergência, mas sim uma doença que pode ser evitada ou
pelo menos as suas consequências minimizadas. No entanto, se não existir cuidado por parte
do doente pode originar uma de duas situações que podem por em risco a vida:
Hiperglicemia
Quando existe uma subida exagerada de açúcar no sangue. Pode provocar estados de
inconsciência, no entanto, esta é uma situação que não provoca uma situação de risco de
vida a curto prazo.
O doente deve ser encaminhado para uma unidade de saúde ou contactar o seu médico
assistente.
Hipoglicemia
A quantidade de açúcar no sangue é baixa e pode levar rapidamente à morte. Este tipo de
situação pode surgir por erro na administração da medicação ou por jejum prolongado,
podendo surgir em doentes não diabéticos, principalmente em resultado de um esforço físico,
infeções ou por ingestão de alguns medicamentos.
Devido à gravidade da situação torna-se fundamental a identificação da situação.
Assim, devem ser adotados os seguintes procedimentos:
 Se o doente se encontrar consciente e for capaz de beber, deve ser administrada de
imediato uma bebida açucarada
UFCD: Abordagem geral de noções básicas de primeiros socorros; Formador: Ana Isabel Pereira
59
 Se o doente se encontrar inconsciente ou muito sonolento, deve ser deitado de lado
e ser administrada uma papa de açúcar, dentro da bochecha, de forma a que não
exista risco de obstrução da via aérea
 Se está na dúvida se é uma hipoglicemia ou hiperglicemia e se o doente for diabético,
deve administrar-se sempre açúcar.
8.2.5.Crises convulsivas
Convulsão (epilepsia)
A convulsão deve-se a uma alteração neurológica que pode ter várias causas. As mais
frequentes estão associadas a epilepsia ou a febre, no caso das crianças.
A epilepsia é uma doença neurológica crónica que provoca, ao nível do cérebro, descargas
elétricas desorganizadas. Estas provocam, em alguns casos, movimentos musculares
involuntários e exuberantes, normalmente descritos como um «estrebuchar», ou seja, uma
convulsão.
As crises convulsivas normalmente são de curta duração (1 ou 2 minutos) e, devido ao facto
de serem em alguns casos violentas, podem provocar ferimentos no doente já que este pode
embater descontroladamente em objetos existentes em seu redor.
A atuação para estas situações deve passar pelas seguintes fases:
1.º Fase de pré-crise:
• Deitar o doente;
• Afastar os objetos em redor do doente.
2.º Durante a crise convulsiva:
• Manter a calma;
• Não segurar o doente nem tentar prender os seus movimentos;
• Não colocar nada na boca do doente;
UFCD: Abordagem geral de noções básicas de primeiros socorros; Formador: Ana Isabel Pereira
60
• Proteger a cabeça do doente e afastar possíveis objetos a fim de evitar o contacto;
• Esperar que a crise passe.
3.º Após a crise convulsiva:
• Colocar o doente deitado de lado;
• Ligar 112 e transmitir a informação recolhida:
– Informar:
- Local;
- Número de telefone de contacto;
- Descrever a situação;
- Seguir as instruções dadas pelo operador de central.
• Aguardar pelo socorro.
8.2.6.Situações de intoxicação
As intoxicações podem essencialmente ter três origens: acidental, voluntária ou profissional,
sendo a mais frequente a intoxicação acidental e normalmente por uso ou acondicionamento
incorreto dos produtos.
O agente tóxico pode entrar no organismo humano por uma das seguintes vias:
 Via digestiva – É a mais frequente, normalmente associada a ingestão de alimentos
deteriorados ou a ingestão de medicamentos;
 Via respiratória – Resulta da inalação de gases, fumos ou vapores, ocorrendo na
maioria dos casos em situações de incêndio ou de uma deficiência nas instalações de
gás para uso doméstico;
 Via cutânea – Quando o produto entra em contacto com o organismo através da pele;
 Via ocular – Surge geralmente por acidente, quando um jato de um produto atinge
os olhos;
 Por injeção – via parentérica – Acontece com mais frequência nos toxicodependentes
ou num caso de erro terapêutico, quer ao nível da dose quer ao nível da própria
substância;
UFCD: Abordagem geral de noções básicas de primeiros socorros; Formador: Ana Isabel Pereira
61
 Picada de animal – Em Portugal as mais frequentes devem-se às picadas do escorpião,
alguns insetos, víboras e peixes;
 Via rectal ou vaginal – São situações raras, que podem surgir em alguns casos de
tentativas de aborto com recurso a substâncias químicas ou pela utilização de alguns
medicamentos.
Quando se estiver perante uma intoxicação importa lembrar que, em muitos casos, o melhor
socorro é não intervir, devendo ter sempre presente que, em caso de dúvida, deve ser
contactado o Centro de Informação Antivenenos (CIAV) ou ligar para o número europeu de
socorro 112.
No contacto com o CIAV ou com o 112 indicar:
a) Em relação ao tóxico:
• Identificar o tóxico:
– Nome do produto;
– Cor;
– Cheiro;
– Tipo de embalagem;
– Fim a que se destina.
b) Em relação à vítima:
• Idade;
• Sexo;
• Peso;
• Doenças anteriores.
As embalagens devem acompanhar o doente à unidade de saúde, para facilitar a identificação
do agente tóxico e assim permitir uma intervenção no tempo mais curto possível.
Atuação para intoxicação por via respiratória
UFCD: Abordagem geral de noções básicas de primeiros socorros; Formador: Ana Isabel Pereira
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Antes de se atuar, verificar se o local é seguro e arejado. Caso seja possível abordar o doente
em segurança, retirá-lo do local para uma zona arejada, se possível administrar oxigénio e
contactar os meios de socorro.
Atuação para intoxicações por via digestiva
Muitas das intoxicações por via digestiva são de fácil resolução pela remoção do conteúdo
gástrico através da indução do vómito, no entanto, a sua realização está dependente do
tempo decorrido e do produto em causa. Assim, somente deve ser efetuada quando lhe for
dada indicação pelo CIAV ou pelo operador da central 112.
Atuação para intoxicações por via cutânea
Nestes casos, remover as peças do vestuário que estiverem em contacto com o tóxico e lavar
a zona atingida durante pelo menos 15 minutos. Logo que possível contactar o CIAV.
Atuação para intoxicações por via ocular
Nestes casos, lavar o olho atingido, com recurso a água. A lavagem deve ser efetuada do
canto interno do olho para o canto externo e deve ser mantida durante 15 minutos. Assim
que possível contactar o CIAV – 112.
Os restantes casos, devido a sua especificidade, poderão apenas ser socorridos com
intervenção médica. Assim, devem ser acionados os meios de socorro o mais precocemente
possível.
Número de telefone do CIAV:
808 250 143
8.3.Limites de intervenção na perspetiva de cidadão e de auxiliar de
saúde
O Socorrista é toda e qualquer pessoa com habilitação para prestar socorro quando exerce
este ato. Um médico, um enfermeiro, um bombeiro, paramédico ou um trabalhador de uma
UFCD: Abordagem geral de noções básicas de primeiros socorros; Formador: Ana Isabel Pereira
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organização não deixam de ser socorristas pelo facto de possuírem outro título profissional,
no momento em que prestam socorro são socorristas.
Quem presta primeiros socorros não substitui a equipa de saúde mas tem um papel
fundamental em alertar os serviços e ajudar a vítima, evitando o agravamento da situação,
exigindo uma atuação responsável.
É necessário saber atuar com eficácia e prontidão, tendo sempre em mente a idade da vítima,
pois o socorro em algumas situações é diferente.
É importante que o/a Técnico auxiliar de saúde:
 Se sinta autoconfiante, mas tenha a noção das suas limitações.
 Tenha uma atitude de compreensão e paciência.
 Seja capaz de tomar decisões, organizar e controlar a situação.
Basicamente devem existir dois tipos de procedimento/atitude:
 O que se sabe, se pode e se deve fazer.
 O que não se sabe, não pode e não deve fazer.
Enquanto espera pelos socorros deve-se:
• Observar a evolução do estado da pessoa.
• Cobrir a vítima, pois o estado de choque e a imobilidade podem originar
arrefecimento.
• Deve-se desapertar o vestuário (este pode incomodar ou comprimir), mas não
despir a vítima.
• Não dar nada a beber e/ou a comer, pois a vítima pode ter náuseas, vómitos e
aspirar o vómito.
• Nunca abandonar uma pessoa em estado de choque ou ferida.
UFCD: Abordagem geral de noções básicas de primeiros socorros; Formador: Ana Isabel Pereira
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9.Principais tipos de traumatismos
9.1.Traumatismos de tecidos moles (feridas e hemorragias)
As lesões da pele podem-se dividir essencialmente em dois grupos: lesões fechadas e lesões
abertas.
Lesões fechadas
As lesões fechadas são lesões internas em que a pele se mantém intacta e normalmente
estão associadas a uma hemorragia interna. Este tipo de lesões é, na maior parte dos casos,
originado por impacto, mas pode surgir também em determinadas situações de doença.
Tipos de lesões fechadas
Classificam-se como lesões fechadas aquelas em que a pele se encontra intacta. Podem ser
hematomas ou equimoses.
a) Hematoma
O hematoma surge aquando do rompimento de vasos sanguíneos de um calibre considerável,
provocando o acumular de sangue nos tecidos.
Em muitos casos pode estar associado a outros traumatismos, como fraturas. Este acumular
de sangue vai dar origem a um inchaço doloroso de cor escura.
b) Equimose
A equimose, normalmente conhecida por nódoa negra, é o resultado do rompimento de vasos
capilares, levando a uma acumulação de sangue em pequena quantidade nos tecidos.
Atuação
UFCD: Abordagem geral de noções básicas de primeiros socorros; Formador: Ana Isabel Pereira
65
Os cuidados de emergência são iguais para ambos os tipos de lesão, mas é preciso lembrar
que este tipo de lesão pode estar associado a outras mais graves.
Por isso, deve se sempre efetuado o exame do doente.
Quando da presença de uma destas lesões, proceder da seguinte forma:
• Acalmar o doente;
• Explicar o que vai ser feito;
• Suspeitar de outras lesões associadas;
• Fazer aplicação de frio sobre o local;
• Imobilizar a região afetada;
• Procurar antecedentes pessoais;
• Ligar 112 e informar:
- Local exato;
– Número de telefone de contacto;
– Descrever a situação;
– Descrever o que foi feito;
– Respeitar as instruções dadas.
• Aguardar pelo socorro, mantendo a vigilância do doente.
Lesões abertas
As lesões abertas surgem quando a integridade da pele foi atingida, sendo facilmente
identificada pela existência de feridas.
A existência de feridas na pele pode dar origem ao surgimento de infeções e a perda de
sangue pela hemorragia que normalmente lhe está associada.
Tipos de lesões abertas
Existem diversos tipos de lesões abertas, dependendo do tipo de mecanismo que as originou.
Estas podem ser:
• Escoriação;
• Laceração;
UFCD: Abordagem geral de noções básicas de primeiros socorros; Formador: Ana Isabel Pereira
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• Avulção;
• Amputação;
• Ferida penetrante ou perfurante.
a) Escoriação
A escoriação é uma lesão superficial da pele com uma pequena hemorragia (originada pelo
rompimento de vasos capilares) e dolorosa. Esta lesão, que não apresenta gravidade, é
normalmente causada por abrasão.
b) Laceração
É uma lesão da pele originada normalmente por objetos afiados, podendo apresentar uma
forma regular ou irregular. Pode, no entanto, ser profunda e atingir vasos sanguíneos de
grande calibre.
c) Avulção
Surge quando existe perda completa ou incompleta de tecidos. As avulsões envolvem
normalmente os tecidos moles, podendo, no entanto, ser profundas e atingir vasos
sanguíneos de grande calibre.
d) Amputação
A amputação é a separação total de um membro. Este tipo de lesão é grave estando
associada a hemorragias e fraturas. Por este motivo, a atuação deve ser rápida e eficaz.
e) Feridas penetrantes ou perfurantes
A este tipo de lesões estão associadas outras, como hemorragias internas e lesões de órgãos
internos.
Atuação
No geral deve-se:
 Acalmar o doente;
 Explicar o que vai fazer;
UFCD: Abordagem geral de noções básicas de primeiros socorros; Formador: Ana Isabel Pereira
67
 Suspeitar de outras lesões associadas;
 Não mover o doente mais do que o necessário;
 Controlar as hemorragias;
 Efetuar um penso esterilizado;
 Estar atento aos sinais de choque;
 Ligar 112 e informar:
– Local exato;
– Número de telefone de contacto;
– Descrever a situação;
– Descrever o que foi feito;
– Respeitar as instruções dadas.
 Aguardar pelo socorro, mantendo a vigilância do doente
Limpeza de uma ferida
a) Avaliação da ferida
A primeira atenção deverá ser dirigida para a avaliação da ferida de forma a determinar as
prioridades da atuação. Assim, independentemente das diferentes classificações das feridas,
nesta unidade elas poderão ser divididas em:
• Superficiais (envolvem a epiderme; não atingem totalmente a derme; persistem
folículos pilosos e glândulas sudoríparas);
• Profundas (estendem-se à derme e tecido subcutâneo e podem envolver tendões,
músculos e ossos).
b) Proteção da ferida
A atuação nas ações de socorro a doentes com ferimentos deverá ter sempre presente que
a proteção da ferida envolve vários aspetos, entre os quais o conforto do doente, com
consequente diminuição da dor, presente na maioria das situações que envolvem ferimentos.
A escolha dos materiais que se utilizam na realização de um penso não deve ter como
finalidade o tratamento.
UFCD: Abordagem geral de noções básicas de primeiros socorros; Formador: Ana Isabel Pereira
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A utilização de soluções desinfetantes nas feridas deve ser limitada. Deverá ter em conta que
as soluções desinfetantes podem resultar num novo traumatismo para a ferida, complicando
a situação da pessoa a quem prestamos socorro.
Não sendo o tratamento o objetivo da intervenção pré-hospitalar, o produto de eleição a
utilizar é o soro fisiológico.
c) Promover a ferida limpa
A promoção da limpeza da ferida é da inteira responsabilidade do socorrista, sendo
obrigatório que tudo o que entra em contacto com a ferida seja esterilizado.
Os movimentos de limpeza de uma ferida deverão ser dirigidos do centro para a periferia
impedindo o arrastamento de detritos dos tecidos circundantes para a ferida. Ou seja, a
limpeza da ferida deverá ser feita da zona mais limpa para a mais conspurcada. A utilização
do soro fisiológico nesta limpeza é indispensável.
d) Prevenir a infeção
Um dos fatores a considerar para cumprir este critério passa pela consciencialização e pela
adoção de procedimentos que garantam o contributo na prevenção da infeção.
Assim, na realização de um penso deve ter-se em conta:
• Utilizar material descartável, sempre que possível;
• O material que entra em contacto com as feridas deve estar esterilizado;
• As embalagens devem ter prazo de validade e este deve ser respeitado;
• Utilizar embalagens individuais, sempre que possível;
• Registar no frasco de soro fisiológico a data da sua abertura;
• Utilizar material esterilizado e aberto na altura sempre que a situação assim o
justifique.
UFCD: Abordagem geral de noções básicas de primeiros socorros; Formador: Ana Isabel Pereira
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Hemorragias
Quando existir uma perda sanguínea, o organismo vai reagir, originando sinais (o que se vê)
e sintomas (o que o doente refere) que permitem suspeitar de uma hemorragia.
Entre eles destacam-se os seguintes:
a) Alteração do estado de consciência: uma perda de sangue suficientemente
grande faz com que o oxigénio e nutrientes que deviam chegar ao cérebro sejam
insuficientes levando a que o doente possa ficar confuso, desorientado ou mesmo
inconsciente;
b) Alteração da ventilação: se existir uma perda de sangue, significa que chega
menos oxigénio aos órgãos, dando origem a que a percentagem de anidrido de
carbono aumente nos tecidos. Estes factos levam a que a frequência ventilatória
aumente dando origem a uma ventilação rápida e superficial;
c) Alteração do pulso: se existe menos quantidade de sangue, o coração vai
acelerar para fazer circular mais depressa o pouco sangue que existe, originando um
pulso rápido e fino;
d) Alteração da pressão arterial: a perda de sangue vai levar a que o volume
deste nos vasos sanguíneos seja menor e, consequentemente, a pressão exercida
sobre a parede das artérias também o seja, provocando uma pressão arterial baixa;
e) Alteração da pele: se existe menos sangue, existe também menos oxigénio e
nutrientes. Isto vai obrigar o organismo a retirar sangue da periferia para o interior
do corpo, originando uma pele pálida e húmida;
f ) Saída evidente de sangue por uma ferida ou pelos orifícios naturais do corpo;
g) Sede: se existe uma perda de sangue existe também uma perda de água.
Por este motivo, o doente tem sede.
Num quadro clínico de hemorragia grave, o doente apresenta sinais e sintomas de choque
hipovolémico. Assim sendo, devem ser aplicados os seguintes cuidados de emergência:
 Proceder ao controlo da hemorragia;
 Ter em atenção um possível episódio de vómito;
UFCD: Abordagem geral de noções básicas de primeiros socorros; Formador: Ana Isabel Pereira
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 Elevar os membros inferiores;
 Manter o doente confortável e aquecido;
 Identificar os antecedentes pessoais e a medicação;
 Avaliar os parâmetros vitais, se possível;
 Ligar 112 e informar:
– Local exato;
– Número de telefone de contacto;
– Descrever o que foi observado e avaliado;
– Descrever os cuidados de emergência aplicados;
– Respeitar as instruções dadas.
 Aguardar pelo socorro, mantendo a vigilância do doente;
 Se o doente estiver em paragem cardiorrespiratória, iniciar de imediato as manobras
de reanimação.
9.2.Queimaduras
As queimaduras são lesões da pele resultantes do contacto com o calor, agentes químicos
ou radiações. Podem, em alguns casos, ser profundas, atingindo músculos ou mesmo
estruturas ósseas.
Classificação das queimaduras
As queimaduras classificam-se em relação a:
• Extensão – dimensão da área atingida (quanto maior for a área atingida maior será
a gravidade);
• Profundidade – grau de destruição dos tecidos.
A classificação das queimaduras em relação à profundidade é efetuada em graus.
1.º Grau – Trata-se de uma queimadura sem gravidade em que apenas foi atingida a
primeira camada da pele. Trata-se de uma queimadura em que a pele apresenta-se
vermelha, sensível e dolorosa.
UFCD: Abordagem geral de noções básicas de primeiros socorros; Formador: Ana Isabel Pereira
71
2.º Grau – Trata-se de uma queimadura em que já é atingida a primeira (epiderme)
e segunda (derme) camadas da pele. Caracteriza-se por ser dolorosa e apresenta
flictenas (bolhas).
3.º Grau – Trata-se de uma queimadura em que existe a destruição da pele e de
outros tecidos subjacentes. Caracteriza-se por se apresentar com uma cor castanha
ou preta (tipo carvão). O doente, na maioria dos casos, não refere dor devido ao facto
de existir destruição dos terminais nervosos existentes na pele, responsáveis pela
transmissão de informação de dor ao cérebro.
Atuação
Os perigos de uma queimadura são a infeção e a dor. Por este motivo, a atuação é
condicionada a este dois fatores. Quando na presença de uma queimadura provocada pelo
calor, atuar da seguinte forma:
• Acalmar o doente;
• Ter em atenção a via aérea;
• Limpar a zona queimada, retirando a roupa existente. A roupa que se encontrar
agarrada deve ficar;
• Lavar a zona queimada com soro fisiológico ou água;
• Tapar a zona com um penso humedecido e esterilizado;
• Nas zonas articulares (mãos, pés, etc.) proteger as zonas de contacto.
Ter em atenção:
 Aquando do tratamento das queimaduras utilizar somente material esterilizado;
 Quando na presença de uma queimadura provocada por um agente químico, lavar
abundantemente a zona atingida e nunca tapar.
 Não utilizar qualquer tipo de gorduras. Estas contribuem para o aumento da
temperatura e da infeção.
9.3.Traumatismos dos membros
Fraturas
UFCD: Abordagem geral de noções básicas de primeiros socorros; Formador: Ana Isabel Pereira
72
As fraturas podem classificar-se da seguinte forma:
• Fraturas abertas (expostas): quando existe exposição dos topos ósseos, podendo
facilmente infetar.
• Fraturas fechadas: a pele encontra-se intacta, não se visualizando os topos ósseos.
Sinais e sintomas de fraturas
• Dor localizada na zona do foco de fratura, normalmente intensa e aliviando após a
imobilização;
• Perda da mobilidade. Pode, em alguns casos, existir alteração da sensibilidade;
• Existe normalmente deformação, podendo, em alguns tipos de fraturas, não estar
todavia presente;
• Edema (inchaço) normalmente presente, aumentando de volume conforme o tempo
vai passando.
• Exposição dos topos ósseos, no caso da fratura exposta, não deixa dúvidas em
relação à existência da mesma;
• Alteração da coloração do membro. Surge no caso de existir compromisso da
circulação sanguínea.
Cuidados a ter no manuseamento de fraturas
• Não efetuar qualquer pressão sobre o foco de fratura;
• Imobilizar a fratura, mantendo o alinhamento do membro, não forçando no caso da
fratura ser ao nível do ombro, cotovelo, mão, joelho e pés;
• No caso de fraturas abertas, lavar a zona com recurso a soro fisiológico antes de
imobilizar;
• Não efetuar movimentos desnecessários.
Imobilizações
Para imobilizar a fratura proceder da seguinte forma:
• Expor o membro. Retirar o calçado e roupa;
• Se existirem feridas, limpá-las e desinfetá-las antes de imobilizar;
• Se a fratura for num osso longo, alinhar o membro;
UFCD: Abordagem geral de noções básicas de primeiros socorros; Formador: Ana Isabel Pereira
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• Imobilizar a fratura, utilizando preferencialmente talas de madeira, devendo estas
estar obrigatoriamente almofadadas;
• No caso da fratura ocorrer numa zona articular, não forçar o alinhamento. Se
necessário, imobilizá-lo na posição em que este se encontra.
9.4.Limites de intervenção na perspetiva de cidadão e de auxiliar de
saúde
É de vital importância a prestação de primeiros-socorros. Conhecimentos simples muitas
vezes diminuem o sofrimento, evitam complicações futuras e podem inclusive em muitos
casos salvar vidas.
Porém deve-se saber que nessas situações em primeiro lugar deve-se procurar manter a
calma, verificar se a prestação do socorro não trará riscos. Saber prestar o socorro sem
agravar ainda mais a saúde da(s) vítima(s), e nunca esquecer-se que a prestação dos
primeiros socorros não exclui a importância de um médico.
Sempre que possível devemos pedir e aceitar a colaboração de outras pessoas, sempre
deixando que o indivíduo com maior conhecimento e experiência possa liderar, dando espaço
para que o mesmo demonstre à cada uma, com calma e firmeza o que deve ser feito, de
forma rápida, correta e precisa.
Atitudes corretas:
1) A calma, o bom senso e o discernimento são elementos primordiais
2) Agir rapidamente, porém respeitando os seus limites e o dos outros.
3) Transmitir á (s) vítima (s), tranquilidade, alívio, confiança e segurança,
4) Utilize-se de conhecimentos básicos de primeiros socorros, improvisando se
necessário.
5) Nunca tome atitudes das quais não tem conhecimento, no intuito de ajudar, apenas
auxilie dentro de sua capacidade.
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A ação de um funcionário que seja detentor dos conhecimentos básicos de primeiros
socorros, que socorra uma vítima tem a sua ação limitada com a chegada de pessoal
especializado ao local.
UFCD: Abordagem geral de noções básicas de primeiros socorros; Formador: Ana Isabel Pereira
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10.Tarefas que em relação a esta temática se encontram no
âmbito de intervenção do/a Técnico/a Auxiliar de Saúde
10.1.Tarefas que, sob orientação de um profissional de saúde, tem de
executar sob sua supervisão direta
O enfermeiro é um dos intervenientes do sistema de emergência e o seu papel é de vital
importância junto do doente, pois possui formação humana, técnica e científica adequada
para a prestação de cuidados em qualquer situação, particularmente em contextos de maior
complexidade e constrangimento, sendo detentor de competências específicas que lhe
permitem atuar de forma autónoma e interdependente, integrado na equipa de intervenção
de emergência.
Em qualquer circunstância, os enfermeiros deverão atuar em conformidade, mediante as
suas qualificações profissionais.
A Ordem dos Enfermeiros (2007) afirma que “só o enfermeiro pode assegurar os cuidados
de enfermagem ao indivíduo, família e comunidade, em situações de acidente e/ou doença
súbita, da qual poderá resultar a falência de uma ou mais funções vitais, pelo que deve
integrar a equipa de socorro pré-hospitalar”.
Assumindo que o enfermeiro afeto a esta área de intervenção é portador de formação
específica orientada e oficialmente certificada, emitiu as seguintes orientações para as
intervenções do enfermeiro no pré-hospitalar:
 Atuar sempre de acordo com o seu enquadramento legal, procurando assegurar, no
exercício das suas competências, a estabilização do indivíduo vítima de acidente e/ou
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doença súbita, no local da ocorrência, garantindo a manutenção das funções vitais
por todos os meios à sua disposição;
 Garantir o acompanhamento e a vigilância durante o transporte primário e/ou
secundário do indivíduo vítima de acidente e/ou doença súbita, desde o local da
ocorrência até à unidade hospitalar de referência, assegurando a prestação de
cuidados de enfermagem necessários à manutenção/recuperação das funções vitais
durante o transporte;
 Assegurar a continuidade dos cuidados de enfermagem e a transmissão da
informação pertinente, sustentada em registos adequados, no momento da receção
do indivíduo vítima de acidente e/ou doença súbita, na unidade hospitalar de
referência;
 Garantir adequada informação e acompanhamento à família do indivíduo vítima de
acidente e/ou doença súbita, de forma a minimizar o seu sofrimento
Neste âmbito, a nível pré-hospitalar, o enfermeiro é responsável pela supervisão direta dos
técnicos/as auxiliares de saúde, nas suas funções designados por técnicos/as auxiliares de
emergência médica, no desempenho das seguintes atividades:
 Prestação de socorro pré-hospitalar na vertente não medicalizada;
 Transporte de doentes urgentes/emergentes;
 Condução de ambulâncias de emergência;
 Colaboração ativa com o socorro pré-hospitalar na vertente medicalizada;
 Registo da atividade exercida conforme normas em vigor;
 Operação dos sistemas de informação e telecomunicações que equipam as
ambulâncias de emergência;
 Colaboração na formação em emergência médica sempre que for solicitado;
 Cumprimento das normas de procedimento em vigor para as tripulações de
ambulância de emergência e para a emergência médica pré-hospitalar em geral;
 Tripulação de outras viaturas de emergência médica pré -hospitalar.
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10.2.Tarefas que, sob orientação e supervisão de um profissional de
saúde, pode executar sozinho/a
As competências do técnico/a auxiliar de saúde, previstas no respetivo perfil profissional, não
lhe garantem a autonomia necessária para o desempenho das funções de primeiros socorros
em meio hospitalar, devendo as mesmas ser desempenhadas sob supervisão direta do
profissional de saúde (médico ou enfermeiro).
Estas consistem em:
ATIVIDADES
 Auxiliar na prestação de cuidados aos utentes, de acordo com orientações do
enfermeiro:
o Executar tarefas que exijam uma intervenção imediata e simultânea ao alerta
do profissional de saúde;
COMPETÊNCIAS
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SABERES
Conhecimentos de:
 Sistema integrado de emergência médica.
 Primeiros socorros.
SABERES-FAZER
 Aplicar normas e procedimentos a adotar perante uma situação de emergência no
trabalho.
Neste sentido, a sua ação inscreve-se no sentido de conhecimento das situações de
emergência e respetivos procedimentos de alerta dos profissionais que lhe são
hierarquicamente superiores, no sentido de coadjuvar a ação destes na aplicação de
procedimentos mais específicos, os quais requerem conhecimentos técnico-científicos mais
aprofundados.
Não obstante, é fundamental o seu conhecimento profundo do SIEM e respetiva articulação
com a dinâmica hospitalar, sobretudo no caso de desempenhar funções junto dos serviços
de urgência.
UFCD: Abordagem geral de noções básicas de primeiros socorros; Formador: Ana Isabel Pereira
79
Bibliografia
AA VV. Emergência e Primeiros Socorros em Saúde Ocupacional, Ed. Direcção-Geral da
Saúde: Programa Nacional de Saúde Ocupacional, 2010
AA VV., Manual TAS: Emergências médicas, Ed. INEM, 2012
AA VV., Manual TAS: Suporte básico de vida, Ed. INEM, 2012
Alves, Ana Paula et al. Noções de Saúde: Manual do Formando, Projeto Delfim, GICEA -
Gabinete de Gestão de Iniciativas Comunitárias do Emprego, 2000
Baptista, Nelson, Manual de Primeiros-Socorros, Ed. Escola Nacional de Bombeiros, 2005
Oliveira, Amélia, Ser enfermeiro em Suporte Imediato de Vida: experiências, Dissertação de
mestrado em Enfermagem médico-cirúrgica, Escola Superior de Enfermagem de Coimbra,
2011
Sites Consultados
Autoridade Nacional de Proteção Civil
http://www.prociv.pt/
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  • 1. ABORDAGEM GERAL DE NOÇÕES BÁSICAS DE PRIMEIROS SOCORROS FORMADOR: ANA ISABEL PEREIRA
  • 2. UFCD: Abordagem geral de noções básicas de primeiros socorros; Formador: Ana Isabel Pereira 1 Índice Introdução......................................................................................................... 4 Âmbito do manual ........................................................................................... 4 Objetivos ........................................................................................................ 4 Carga horária.................................................................................................. 5 1.O Sistema Integrado de Emergência Médica – SIEM .......................................... 6 1.1.Componentes, intervenientes e forma de funcionamento ............................. 6 1.2.Número europeu de socorro 112 .............................................................. 10 2.Cadeia de Sobrevivência ................................................................................ 14 2.1.Conceito e importância ............................................................................ 14 2.2.Elos e princípios subjacentes .................................................................... 15 3.Riscos para o Reanimador.............................................................................. 18 3.1.Riscos para o reanimador e para a vítima.................................................. 18 3.2.Condições de segurança e medidas de proteção universais ........................ 19 4.Manobras de Suporte Básico de Vida .............................................................. 22 4.1.Conceito de acordo com o algoritmo vigente ............................................. 22 4.2.Procedimentos e sequência ...................................................................... 24 4.3.Insuflações e compressões torácicas......................................................... 29 4.4.Problemas associados .............................................................................. 33 5.Posição Lateral de Segurança......................................................................... 35 5.1.Como e quando a sua utilização ............................................................... 35 6.Obstrução da via aérea.................................................................................. 40
  • 3. UFCD: Abordagem geral de noções básicas de primeiros socorros; Formador: Ana Isabel Pereira 2 6.1.Situações de obstrução parcial e total ....................................................... 40 6.2.Tipos e causas de obstrução..................................................................... 41 7.Exame à vítima.............................................................................................. 45 7.1.Estado de consciência e permeabilidade da via aérea................................. 45 7.2.Caraterísticas da respiração, pulso e pele.................................................. 47 8.As Emergências médicas mais frequentes ....................................................... 51 8.1.Principais sinais e sintomas ...................................................................... 51 8.2.Principais cuidados a prestar .................................................................... 54 8.2.1.Problemas cardíacos .......................................................................... 54 8.2.2.Problemas respiratórios...................................................................... 55 8.2.3.Acidente vascular cerebral.................................................................. 56 8.2.4.Diabetes............................................................................................ 57 8.2.5.Crises convulsivas.............................................................................. 59 8.2.6.Situações de intoxicação .................................................................... 60 8.3.Limites de intervenção na perspetiva de cidadão e de auxiliar de saúde...... 62 9.Principais tipos de traumatismos..................................................................... 64 9.1.Traumatismos de tecidos moles (feridas e hemorragias) ............................ 64 9.2.Queimaduras........................................................................................... 70 9.3.Traumatismos dos membros .................................................................... 71 9.4.Limites de intervenção na perspetiva de cidadão e de auxiliar de saúde...... 73 10.Tarefas que em relação a esta temática se encontram no âmbito de intervenção do/a Técnico/a Auxiliar de Saúde ...................................................................... 75 10.1.Tarefas que, sob orientação de um profissional de saúde, tem de executar sob sua supervisão direta .............................................................................. 75
  • 4. UFCD: Abordagem geral de noções básicas de primeiros socorros; Formador: Ana Isabel Pereira 3 10.2.Tarefas que, sob orientação e supervisão de um profissional de saúde, pode executar sozinho/a ........................................................................................ 77 Bibliografia....................................................................................................... 79 Sites Consultados ............................................................................................. 79
  • 5. UFCD: Abordagem geral de noções básicas de primeiros socorros; Formador: Ana Isabel Pereira 4 Introdução Âmbito do manual O presente manual foi concebido como instrumento de apoio à unidade de formação de curta duração nº 6570 – Abordagem geral de noções básicas de primeiros socorros, de acordo com o Catálogo Nacional de Qualificações. Objetivos  Descrever o que é o Sistema Integrado de Emergência Médica (SIEM) e quais os seus intervenientes.  Descrever como ativar o sistema de emergência médica utilizando o número europeu de socorro "112".  Identificar o conceito de cadeia de sobrevivência e identificar os seus elos.  Explicar a importância da cadeia de sobrevivência e qual o princípio subjacente a cada elo.  Reconhecer os riscos potenciais para o reanimador.  Identificar as medidas a adotar para garantir a segurança do reanimador e da vítima.  Identificar as medidas universais de proteção e reconhecer a sua importância.  Explicar o conceito de Suporte Básico de Vida (SBV) de acordo com o algoritmo vigente.  Explicar o conceito de avaliação inicial, via aérea, respiração e circulação.  Aplicar a sequência de procedimentos que permitam executar o SBV de acordo com o algoritmo vigente.  Identificar os problemas associados à execução de manobras de SBV.  Identificar quando e como colocar uma vítima em posição lateral de segurança.
  • 6. UFCD: Abordagem geral de noções básicas de primeiros socorros; Formador: Ana Isabel Pereira 5  Identificar as contraindicações para a posição lateral de segurança.  Identificar as situações de obstrução parcial e total da via aérea.  Identificar as causas e os tipos de obstrução da via aérea.  Aplicar a sequência de atuação perante uma vítima com obstrução da via aérea.  Identificar situações de perigo através da execução do exame à vítima.  Identificar as emergências médicas mais frequentes.  Identificar os principais sinais e sintomas característicos das emergências médicas.  Aplicar os primeiros socorros adequados a cada emergência médica.  Identificar os vários tipos de hemorragias.  Identificar os sinais e sintomas mais comuns das hemorragias.  Listar e descrever os vários métodos de controlo de hemorragias.  Controlar uma hemorragia através dos métodos de controlo.  Identificar os tipos de feridas mais comuns.  Tratar uma ferida utilizando pensos e ligaduras.  Identificar os tipos de queimaduras mais comuns.  Tratar provisoriamente uma queimadura.  Identificar os traumatismos mais comuns dos membros.  Reconhecer o que fazer e/ou não fazer nestes casos.  Identificar as situações específicas que requerem a intervenção do profissional de Saúde.  Explicar que as tarefas que se integram no âmbito de intervenção do/a Técnico/a Auxiliar de Saúde terão de ser sempre executadas com orientação e supervisão de um profissional de saúde.  Identificar as tarefas que têm de ser executadas sob supervisão direta do profissional de saúde e aquelas que podem ser executadas sozinho. Carga horária  25 horas
  • 7. UFCD: Abordagem geral de noções básicas de primeiros socorros; Formador: Ana Isabel Pereira 6 1.O Sistema Integrado de Emergência Médica – SIEM 1.1.Componentes, intervenientes e forma de funcionamento O sistema integrado de emergência médica (SIEM) é um conjunto de meios e ações que visa uma resposta atempada a qualquer ocorrência em que exista risco de vida. Trata-se de um sistema composto por uma sequência de procedimentos que permitem que os meios de socorro sejam ativados, mas também que estes sejam os mais adequados à ocorrência em causa, permitindo assim o posterior encaminhamento do doente à unidade de saúde mais adequada. FASES DO SIEM
  • 8. UFCD: Abordagem geral de noções básicas de primeiros socorros; Formador: Ana Isabel Pereira 7 Deteção Deteção da ocorrência de emergência médica que corresponde ao momento em que alguém se apercebe da existência uma ou mais vítimas. Alerta Fase na qual se contacta através do número nacional de emergência médica (112), dando conta da ocorrência anteriormente detetada. Pré-Socorro Conjunto de gestos simples executados e mantidos até a chegada de meios de socorro mais especializados. Socorro Cuidados de emergência iniciais efetuados às vítimas de doença súbita ou de acidente, com o objetivo de as estabilizar, diminuindo assim a morbilidade e a mortalidade. Transporte Transporte assistido da vítima numa ambulância com caraterísticas, pessoal e carga definidos, desde o local da ocorrência até à unidade de saúde adequada, garantindo a continuação dos cuidados de emergência necessários. Tratamento / Hospital Após a entrada no estabelecimento de saúde mais próximo a vítima é avaliada e são iniciadas as medidas de diagnóstico e terapêutica com vista ao seu restabelecimento. Se necessário pode considerar-se posteriormente um novo transporte, transferência para um hospital de maior diferenciação, onde irá ocorrer o tratamento mais adequado à situação. Um sistema de emergência médica depende de tudo e de todos, não podendo afirmar-se que existe uma única entidade ou profissional com responsabilidades exclusivas na prestação do socorro.
  • 9. UFCD: Abordagem geral de noções básicas de primeiros socorros; Formador: Ana Isabel Pereira 8 Existe sim um conjunto de intervenientes que vai desde o público em geral, aquele que deteta a situação, até aos elementos que permitem que a assistência de urgência seja possível. Ou seja, entre outros, os intervenientes no sistema são: • Público em geral; • Operadores das centrais de emergência; • Agentes da autoridade; • Bombeiros; • Socorristas de ambulância; • Médicos; • Enfermeiros; • Pessoal técnico dos hospitais; • Etc.. ORGANIZAÇÃO do SIEM: Esta organização é da responsabilidade do INEM (Instituto Nacional de Emergência Médica), cabendo a este organizar programas específicos de atuação para cada fase. O INEM tem vindo a ampliar a sua rede de atuação, através de Subsistemas. SUB-SISTEMAS: Centro de Informação Antivenenos (CIAV) Consiste num centro médico que funciona 24 horas, atendendo técnicos de saúde e público, referente a intoxicações agudas e/ou crónicas. O centro também atua a nível da toxicovigilância, prevenção e ensino. Centro de Orientação de Doentes Urgentes (CODU) Consiste em prestar em tempo útil, orientação e apoio médico, quando necessário em situações de emergência, nomeadamente: • Aconselhamento médico sobre a atitude a tomar perante a vítima.
  • 10. UFCD: Abordagem geral de noções básicas de primeiros socorros; Formador: Ana Isabel Pereira 9 • Acionar meios de transporte à vítima para os serviços hospitalares. • Enviar uma equipa médica ao local da ocorrência, caso seja necessário. • Coordenar os meios de socorro de emergência da sua responsabilidade. Centro de Orientação de Doentes Urgentes - MAR. (CODU Mar) Compete no atendimento, orientação médica e encaminhamento dos pedidos de socorro que provenham de embarcações ou navios, segundo as regras nacionais. Transporte de Recém – Nascidos de Alto Risco Consiste na realização de transporte de recém – nascidos, com equipas móveis especializadas, constituídas por médico e enfermeiro especializados em Neonatologia para hospitais centrais. Serviço de Helicópteros de Emergência Médica Este serviço é composto por vários elementos, entre os quais, um médico e enfermeiro, funcionando ao nível dos cuidados intensivos, com o objetivo de executar manobras de Suporte Avançado de Vida (SAV), permitindo: • Levar a equipa a intervir rapidamente no local. • Manter um nível de cuidados intensivos durante a transferência da vítima. • Em caso de catástrofe, permite o transporte rápido de equipas especializadas. De todos estes intervenientes, os que têm como função iniciar os cuidados de emergência no local da ocorrência e manter esses cuidados durante o transporte até a unidade se saúde são os tripulantes de ambulância e as equipas médicas de emergência. No entanto, é necessário compreender que em algumas situações é fundamental que o cidadão comum execute alguns «gestos» que permitam «dar tempo ao doente», ou seja, que impeçam que a situação da vítima se agrave até a chegada do socorro. Numa situação de emergência em que exista risco de vida para um doente, se não forem aplicadas medidas básicas de suporte de vida durante o tempo que medeia o pedido e a
  • 11. UFCD: Abordagem geral de noções básicas de primeiros socorros; Formador: Ana Isabel Pereira 10 chegada do meio de socorro, a recuperação do doente pode ficar definitivamente inviabilizada ou dar origem a sequelas permanentes. 1.2.Número europeu de socorro 112 O 112 é o Número Europeu de Emergência, sendo comum, para além da saúde, a outras situações, tais como incêndios, assaltos, etc. A chamada é gratuita e está acessível de qualquer ponto do país a qualquer hora do dia. A chamada será atendida por um operador da Central de Emergência, que enviará os meios de socorro apropriados. O número 112 DEVE ser SÓ utilizado em situações de Emergência. Em qualquer caso de emergência, de Norte a Sul do País, o número 112 pode ser ligado através dos telefones das redes fixa e móvel. A chamada é gratuita e é atendida de imediato pelos centros de emergência que acionam os sistemas médico, policial e de incêndio, consoante a situação verificada.
  • 12. UFCD: Abordagem geral de noções básicas de primeiros socorros; Formador: Ana Isabel Pereira 11 O Número de Emergência 112 deve ser utilizado, entre outras situações (desacatos, assaltos), nas seguintes: Acidente de viação: Todos os casos relacionados com veículos, quer se refiram a peões atropelados, quer a indivíduos transportados nas viaturas sinistradas. Acidentes no trabalho: Os variados casos de sinistro individual ou coletivo ocorridos nos locais de trabalho (fábricas, oficinas, obras, escritórios, armazéns, etc.). Acidentes no desporto: Os sinistrados resultantes da prática das diversas atividades desportivas, tanto de competição como de recreio. Quedas: Quando as suas consequências exijam transporte em ambulância. Doença súbita: Os casos dos indivíduos acometidos de doença que aparente exigir intervenção hospitalar (dor no peito, falta de ar, perda de conhecimento e outras situações de perigo de vida). Agressão: Os casos de indivíduos feridos por agressão que exijam tratamento hospitalar. Intoxicações: Os casos de envenenamento, acidental ou não, fugas de gás, etc. Afogamento: Todos os casos em que o acidente resultou de submersão.
  • 13. UFCD: Abordagem geral de noções básicas de primeiros socorros; Formador: Ana Isabel Pereira 12 Alcoolismo: Todos os casos em que, por virtude de intoxicação alcoólica aguda, esteja em perigo a vida do indivíduo. Partos súbitos: Os casos de parto iminente. Incêndios urbanos Incêndios florestais: Se avistar o início de um incêndio florestal, ligue de imediato (em alternativa pode utilizar, ainda, o 117). As Centrais de Emergência ativam os meios de socorro adequados de acordo com a sua informação. Antes de ligar 112, informe-se sobre os pormenores que a Central tem necessidade de conhecer:  ONDE (local exato da ocorrência): rua, n.º da porta, estrada (sentido ascendente ou descendente), pontos de referência.  O QUÊ (tipo de ocorrência: acidente, incêndio florestal ou outro, parto, doença súbita, intoxicação, etc.).  QUEM (Vítima/doente, número de vítimas, queixas). A eficácia do socorro depende da sua colaboração. Em caso de acidente, tente saber e comunique:  Tipo de acidente (atropelamento, acidente de viação – moto, ligeiro, pesado – queda, etc.).  Quem? (número de vítimas, estado das vítimas – consciente, inconsciente, hemorragias, etc.).
  • 14. UFCD: Abordagem geral de noções básicas de primeiros socorros; Formador: Ana Isabel Pereira 13  Complicações (queda num rio, encarcerado num carro, etc.).  Riscos associados (incêndio, derramamento de substâncias perigosas, etc.). Em caso de parto, tente saber e comunique:  Tempo de gravidez.  Se está ou não com contrações (de quantos em quantos minutos).  Se teve algum problema durante a gravidez.  Quantos filhos teve? Em caso de doença súbita, tente saber e comunique:  Queixa principal.  Há quanto tempo se iniciou.  Quais são os sintomas associados?  Doenças conhecidas. A sua colaboração é fundamental sempre que se encontre em risco a vida humana. Preste atenção às perguntas efetuadas, responda com calma e siga as instruções indicadas.
  • 15. UFCD: Abordagem geral de noções básicas de primeiros socorros; Formador: Ana Isabel Pereira 14 2.Cadeia de Sobrevivência 2.1.Conceito e importância A Cadeia de Sobrevivência representa, simbolicamente, o conjunto de procedimentos que permitem salvar vítimas de paragem cardiorrespiratória. À luz do conhecimento médico atual, considera-se que há três atitudes que modificam o resultado no socorro à vítima de paragem cardiorrespiratória (PCR): 1. Pedir ajuda, acionando de imediato o Sistema Integrado de Emergência Médica (SIEM); 2. Iniciar de imediato manobras de Suporte Básico de Vida (SBV); 3. Aceder à desfibrilhação tão precocemente quanto possível mas apenas quando indicado. Estes procedimentos sucedem-se de uma forma encadeada e constituem uma cadeia de atitudes em que cada elo articula o procedimento anterior com o seguinte. Surge assim o conceito de Cadeia de Sobrevivência, composta por quatro elos ou ações, em que o funcionamento adequado de cada elo e a articulação eficaz entre os vários elos é vital para que o resultado final seja uma vida salva. É importante destacar que a resistência desta cadeia é a do elo mais fraco, como em qualquer sequência. Ou seja, todos os elos que constituem a «cadeia de sobrevivência» são cruciais no salvamento de vidas humanas.
  • 16. UFCD: Abordagem geral de noções básicas de primeiros socorros; Formador: Ana Isabel Pereira 15 2.2.Elos e princípios subjacentes Os quatro elos da cadeia de sobrevivência são: 1. Acesso precoce ao Sistema Integrado de Emergência Médica - 112 2. Início precoce de SBV 3. Desfibrilhação precoce 4. Suporte Avançado de Vida (SAV) precoce Estes elos devem ser seguidos pela sequência apresentada e não é demais repetir que todos eles são fundamentais para que a reanimação cardiorrespiratória tenha sucesso. Concluindo, cada elemento da «cadeia de sobrevivência», quando unido, forma uma corrente que permite que a reanimação cardiorrespiratória tenha sucesso. Contudo, a resistência desta corrente será aquela que se encontra na resistência de cada elo, ou seja, o resultado final está dependente da eficácia de cada um deles. ACESSO PRECOCE O rápido acesso ao SIEM assegura o início da Cadeia de Sobrevivência. Cada minuto sem se chamar o socorro reduz a possibilidade de sobrevivência da vítima.
  • 17. UFCD: Abordagem geral de noções básicas de primeiros socorros; Formador: Ana Isabel Pereira 16 Para o funcionamento adequado deste elo é fundamental que quem presencia uma determinada ocorrência seja capaz de reconhecer a gravidade da situação e saiba ativar o sistema, ligando adequadamente 112 (para poder informar o quê, onde, como e quem). A incapacidade de adotar estes procedimentos significa falta de formação. A consciência de que estes procedimentos podem salvar vidas humanas deve ser incorporada o mais cedo possível na vida de cada cidadão. SBV PRECOCE Para que uma vítima em perigo de vida tenha maior hipótese de sobrevivência é fundamental que sejam iniciadas, de imediato e no local onde ocorreu a situação, manobras de SBV. Isto só se consegue se quem presencia a situação tiver a capacidade de iniciar o SBV. O SBV permite ganhar tempo, mantendo alguma circulação e alguma ventilação na vítima, até à chegada de socorro mais diferenciado para instituir os procedimentos de SAV. DESFIBRILHAÇÃO PRECOCE A maioria das PCR no adulto ocorrem devido a uma perturbação do ritmo cardíaco a que se chama Fibrilhação Ventricular (FV). Esta perturbação do ritmo cardíaco caracteriza-se por uma atividade elétrica caótica de todo o coração, em que não há contração do músculo cardíaco e, como tal, não é bombeado sangue para o organismo. O único tratamento eficaz para esta arritmia é a desfibrilhação que consiste na aplicação de um choque elétrico, externamente a nível do tórax da vítima, para que a passagem da corrente elétrica pelo coração pare a atividade caótica que este apresenta. A desfibrilhação eficaz é determinante na sobrevivência de uma PCR. Também este elo da cadeia deve ser o mais precoce possível. A probabilidade de conseguir tratar a FV com sucesso depende do fator tempo. A desfibrilhação logo no 1º minuto em que
  • 18. UFCD: Abordagem geral de noções básicas de primeiros socorros; Formador: Ana Isabel Pereira 17 se instala a FV pode ter uma taxa de sucesso próxima dos 100%, mas ao fim de 8-10 minutos a probabilidade de sucesso é quase nula. SAV PRECOCE Este elo da cadeia de sobrevivência é uma “mais-valia”. Nem sempre a desfibrilhação é eficaz, por si só, para recuperar a vítima. Outras vezes a desfibrilhação pode não ser sequer indicada. O SAV permite conseguir uma ventilação mais eficaz (através da entubação endotraqueal) e uma circulação também mais eficaz (através da administração de fármacos). Idealmente, o SAV deverá ser iniciado ainda na fase pré-hospitalar e continuado no hospital, permitindo a estabilização das vítimas recuperadas de PCR. Integram também este elo os cuidados pós-reanimação, que têm o objetivo de preservar as funções do cérebro e coração.
  • 19. UFCD: Abordagem geral de noções básicas de primeiros socorros; Formador: Ana Isabel Pereira 18 3.Riscos para o Reanimador 3.1.Riscos para o reanimador e para a vítima Existe uma regra básica que nunca deve ser esquecida: o reanimador não deve expor-se a si, nem a terceiros, a riscos que possam comprometer a sua integridade física. Antes de se aproximar de alguém que possa eventualmente estar em perigo de vida, o reanimador deve assegurar primeiro que não irá correr nenhum risco:  Ambiental – choque elétrico, derrocadas, explosão, tráfego, etc.  Toxicológico – exposição a gás, fumo, tóxicos, etc.;  Infecioso – tuberculose, hepatite, HIV, etc. Na maioria das vezes, uma avaliação adequada e um mínimo de cuidado são suficientes para garantir as condições de segurança necessárias.
  • 20. UFCD: Abordagem geral de noções básicas de primeiros socorros; Formador: Ana Isabel Pereira 19 3.2.Condições de segurança e medidas de proteção universais Se pára numa estrada para socorrer alguém, vítima de um acidente de viação deve:  Posicionar o seu carro para que este o proteja funcionando como escudo, isto é, antes do acidente no sentido no qual este ocorreu;  Sinalizar o local com triângulo de sinalização à distância adequada;  Ligar as luzes de presença ou emergência;  Usar roupa clara para que possa mais facilmente ser visível;  Desligar o motor para diminuir a probabilidade de incêndio. Estas medidas, simples, são em princípio suficientes para garantir as condições de segurança. No caso de detetar a presença de produtos químicos ou matérias perigosas é fundamental evitar o contacto com essas substâncias sem luvas e não inalar vapores libertados pelas mesmas. Nas situações em que a vítima sofre uma intoxicação podem existir riscos acrescidos para quem socorre, nomeadamente no caso de intoxicação por fumos ou gases tóxicos (como os cianetos ou o ácido sulfúrico). Para o socorro da vítima de intoxicação é importante identificar o produto bem como a sua forma de apresentação (em pó, líquida ou gasosa) e contactar o CIAV para uma informação especializada, nomeadamente sobre possíveis antídotos. Em caso de intoxicação por produtos gasosos é fundamental não se expor aos vapores libertados, que nunca devem ser inalados. O local onde a vítima se encontra deverá ser arejado ou, na impossibilidade de o conseguir, a vítima deverá ser retirada do local. Nas situações em que o tóxico é corrosivo (ácidos ou bases fortes) ou em que pode ser absorvido pela pele, como os organofosforados (exemplo: 605 Forte®), é mandatório, além
  • 21. UFCD: Abordagem geral de noções básicas de primeiros socorros; Formador: Ana Isabel Pereira 20 de arejar o local, usar luvas e roupa de proteção para evitar qualquer contacto com o produto, bem como máscaras para evitar a inalação. Se houver necessidade de ventilar a vítima com ar expirado deverá ser sempre usada máscara ou outro dispositivo com válvula unidirecional, para não expor o reanimador ao ar expirado da vítima. Nunca efetuar ventilação boca-a-boca. A possibilidade de transmissão de infeções entre a vítima e o reanimador tem sido alvo de grande preocupação, sobretudo mais recentemente, com o receio da contaminação pelos vírus da hepatite B ou C e pelo VIH. Não existe, no entanto, qualquer registo de transmissão destes vírus durante a realização de ventilação boca-a-boca. A transmissão de qualquer um dos vírus, mesmo no caso de contacto com saliva, é altamente improvável, a não ser no caso de a saliva estar contaminada com sangue. O sangue é o principal veículo de contágio, em relação ao qual devem ser adotadas todas as medidas universais de proteção.
  • 22. UFCD: Abordagem geral de noções básicas de primeiros socorros; Formador: Ana Isabel Pereira 21 São igualmente importantes medidas de proteção em relação ao contacto com fluidos orgânicos (como o sémen ou secreções vaginais, líquidos amniótico, pleural, peritoneal ou cefalorraquidiano). Não se consideram necessárias as mesmas medidas de proteção em relação a fluidos orgânicos como a saliva, secreções brônquicas, suor, vómito, fezes ou urina, na ausência de contaminação com sangue. Estão descritos alguns casos de transmissão de infeções durante a realização de ventilação boca-a-boca (nomeadamente casos de tuberculose cutânea, meningite meningocócica, herpes simplex e salmonelose). No entanto, a frequência de ocorrência destes casos é baixa. Existe um risco pequeno de infeção por picada com agulha contaminada, pelo que é necessário adotar medidas cuidadosas no manuseio de objetos cortantes ou picantes os quais devem imediatamente ser colocados em contentores apropriados.
  • 23. UFCD: Abordagem geral de noções básicas de primeiros socorros; Formador: Ana Isabel Pereira 22 4.Manobras de Suporte Básico de Vida 4.1.Conceito de acordo com o algoritmo vigente A paragem cardíaca subida, no adulto, representa a principal causa de morte na europa. Cerca de 2/3 das mesas ocorre em ambiente extra-hospitalar, pelo que tona fundamental qualquer cidadão esteja apto a iniciar manobras de reanimação. O Suporte Básico de Vida é o “conjunto de procedimentos bem definidos e com metodologias padronizadas” que tem como objetivos: 1.Reconhecer as situações em que há risco de vida eminente; 2.Saber quando e como pedir ajuda; 3.Saber iniciar e sem recurso a qualquer equipamento (è exceção de equipamento de proteção), manobras que contribuam para preservar a oxigenação e circulação até à chegada das equipas diferenciadas e, eventualmente, o restabelecimento do normal funcionamento cardíaco e respiratório.
  • 24. UFCD: Abordagem geral de noções básicas de primeiros socorros; Formador: Ana Isabel Pereira 23 Algoritmo do SBV
  • 25. UFCD: Abordagem geral de noções básicas de primeiros socorros; Formador: Ana Isabel Pereira 24 4.2.Procedimentos e sequência 1.Avaliar as condições de segurança Aproximar-se da vítima com cuidado, garantindo que não existe perigo para si, para a vítima ou para terceiros (atenção a perigos como por exemplo: tráfego, eletricidade, gás ou outros). 2.Avaliar o estado de consciência Abanar os ombros com cuidado e perguntar em voz alta: “Sente-se bem?”. Se a vítima não responder gritar por AJUDA. 3.Gritar por ajuda Se houver alguém perto peça para ficar ao pé de si, pois pode precisar de ajuda. Se estiver sozinho grite alto para chamar a atenção, mas sem abandonar a vítima.
  • 26. UFCD: Abordagem geral de noções básicas de primeiros socorros; Formador: Ana Isabel Pereira 25 4-Permeabilizar a via Numa vítima inconsciente a queda da língua pode bloquear a VA. Esta pode ser permeabilizada pela extensão da cabeça e pela elevação do queixo, o que projeta a língua para a frente. Se tiver ocorrido trauma ou suspeita de trauma, devem ser tomadas medidas para proteção da coluna da vítima e não deve ser realizada a extensão da cabeça.
  • 27. UFCD: Abordagem geral de noções básicas de primeiros socorros; Formador: Ana Isabel Pereira 26 Como alternativa, deverá ser realizada a protusão (subluxação) da mandíbula (requer um reanimador à cabeça para estabilização/controlo da coluna cervical e manutenção da VA permeável). Para efetuar a protusão da mandíbula:  Identificar o ângulo da mandíbula com o dedo indicador;  Com os outros dedos colocados atrás do ângulo da mandíbula, aplicar uma pressão mantida para cima e para frente de modo a levantar o maxilar inferior;  Usando os polegares, abrir ligeiramente a boca através da deslocação do mento para baixo. 5.Respiração normal? Avaliar a ventilação/ respiração Mantendo a VA permeável, verificar se a vítima respira NORMALMENTE, realizando o VOS até 10 segundos:  Ver os movimentos torácicos;  Ouvir os sons respiratórios saídos da boca/nariz;  Sentir o ar expirado na face do reanimador. Algumas vítimas, nos primeiros minutos após uma PCR, podem apresentar uma respiração ineficaz, irregular e ruidosa. Não deve ser confundido com respiração normal.
  • 28. UFCD: Abordagem geral de noções básicas de primeiros socorros; Formador: Ana Isabel Pereira 27 Se a vítima ventila normalmente colocar em Posição lateral de segurança (PLS). 6.Ligar 112 Se a vítima não responde e não tem ventilação normal ative de imediato o sistema de emergência médica, ligando 112.  Reanimador único: Se necessário abandone a vítima/local;  Se estiver alguém junto a si, deve pedir a essa pessoa que ligue 112;  Se CRIANÇA ou vítima de afogamento (qualquer idade) só deve ligar 112 após 1 minuto de SBV. Após ligar 112:  Se DAE DISPONÍVEL, ligue-o e siga as indicações do DAE;  Se não há DAE disponível inicie SBV. 7.Iniciar compressões torácicas Fazer 30 compressões deprimindo o esterno 5-6 cm a uma frequência de pelo menos 100 por minuto e não mais que 120 por minuto.
  • 29. UFCD: Abordagem geral de noções básicas de primeiros socorros; Formador: Ana Isabel Pereira 28 8.Iniciar ventilações Após 30 compressões fazer 2 ventilações. Se não se sentir capaz ou tiver relutância em fazer ventilações, faça apenas compressões torácicas. Se apenas se fizerem compressões, estas devem ser contínuas, cerca de 100 por minuto (não existindo momentos de pausa entre cada 30 compressões). 9.Manter SBV Manter 30 compressões alternando com 2 ventilações. PARAR apenas se: • Chegar ajuda (profissionais diferenciados); • Estiver fisicamente exausto; • A vítima recomeçar a ventilar normalmente.
  • 30. UFCD: Abordagem geral de noções básicas de primeiros socorros; Formador: Ana Isabel Pereira 29 4.3.Insuflações e compressões torácicas Os dois elementos fundamentais do SBV são as compressões torácicas e as ventilações. Compressões torácicas São as compressões torácicas que mantêm o fluxo de sangue para o coração, o cérebro e outros órgãos vitais. Para aplicar corretamente compressões torácicas num adulto: 1.Posicionar-se ao lado da vítima; 2. Certificar-se que a vítima está deitada de costas, sobre uma superfície firme e plana; 3. Afastar/remover as roupas que cobrem o tórax da vítima; 4. Colocar a base de uma mão no centro do tórax, entre os mamilos; Colocar a outra mão sobre a primeira entrelaçando os dedos; 6. Braços e cotovelos esticados, com os ombros na direção das mãos; 7. Aplicar compressão sobre o esterno, deprimindo o esterno 5-6 cm a cada compressão (as compressões torácicas superficiais podem não produzir um fluxo
  • 31. UFCD: Abordagem geral de noções básicas de primeiros socorros; Formador: Ana Isabel Pereira 30 sanguíneo adequado); 8. No final de cada compressão, garantir a re-expansão total do tórax, aliviando toda a pressão sem remover as mãos do tórax (o retorno completo da parece torácica permite que mais sangue encha o coração entre as compressões torácicas) 9.Aplicar compressões de forma rítmica a uma frequência de pelo menos 100 por minuto, mas não mais do que 120 por minuto (a evidência científica demonstra que esta frequência produz um fluxo sanguíneo adequado e melhora a sobrevivência; ajuda se contar as compressões em voz alta) 10. NUNCA INTERROMPER AS COMPRESSÕES MAIS DO QUE 5 SEGUNDOS (com o coração parado, quando não se comprime o tórax, o sangue não circula). Ventilações Na impossibilidade de utilizar um adjuvante da VA (máscara de bolso ou insuflador manual), a ventilação “boca-a-boca” é uma maneira rápida e eficaz de fornecer oxigénio à vítima. O ar exalado pelo reanimador contém aproximadamente 17% de oxigénio e 4% de dióxido de carbono, o que é suficiente para suprir as necessidades da vítima.
  • 32. UFCD: Abordagem geral de noções básicas de primeiros socorros; Formador: Ana Isabel Pereira 31 Para ventilar adequadamente uma vítima adulta: 1. Posicionar-se ao lado da vítima; 2. Permeabilizar a VA (a posição incorreta da cabeça pode impedir a ventilação adequada por OVA):  Colocar uma mão na testa da vítima e empurrar com a palma da mão, inclinando a cabeça para trás (extensão da cabeça);  Colocar os dedos da outra mão por baixo da parte óssea da mandíbula, perto do queixo (pressão excessiva nos tecidos moles por baixo do queixo podem obstruir a VA);  Elevar a mandíbula, levantando o queixo da vítima (Atenção: não feche a boca da vítima!); 3. Aplicar 2 ventilações na vítima, mantendo a VA permeável:  Com a mão na testa da vítima comprimir as narinas da vítima;  Respirar normalmente e selar os lábios ao redor da boca da vítima;  Aplicar 1 ventilação (soprar por 1 segundo; esta duração maximiza a quantidade de O2 que chega aos pulmões, com menor probabilidade de distensão gástrica), observando se existe a elevação do tórax da vítima. Cada insuflação deve ser suficiente para provocar elevação do tórax como numa respiração normal (se o tórax não se elevar, repetir as manobras de permeabilização da VA);  Aplicar uma segunda ventilação, observando se existe elevação do tórax;  Caso uma ou ambas as tentativas de insuflação se revelem ineficazes, deve avançar de imediato para as compressões torácicas.
  • 33. UFCD: Abordagem geral de noções básicas de primeiros socorros; Formador: Ana Isabel Pereira 32 Ventilação com adjuvante da via aérea Uma máscara de bolso pode ser utilizada por leigos com treino mínimo na realização de ventilações durante uma RCP. Este dispositivo adapta-se na face da vítima, sobre o nariz e boca e possui uma válvula unidirecional que desvia do reanimador o ar expirado da vítima. Um reanimador ÚNICO deve aproximar-se da vítima de lado. Isto irá permitir uma troca fácil entre ventilações e compressões torácicas. 1. Colocar a máscara sobre o nariz e boca da vítima (a parte mais estreita da máscara de bolso deverá ficar sobre o dorso do nariz; a parte mais larga da máscara deverá ficar a boca); 2. Colocar o polegar e o indicador na parte mais estreita da máscara; 3. Colocar o polegar da outra mão a meio da parte mais larga da máscara e usar os outros dedos para elevar o queixo da vítima, criando uma selagem hermética; 4. Soprar suavemente pela válvula unidirecional durante cerca de 1 segundo (por cada ventilação), por forma a que o tórax da vítima se eleve; 5. Retirar a boca da válvula da máscara após insuflar.
  • 34. UFCD: Abordagem geral de noções básicas de primeiros socorros; Formador: Ana Isabel Pereira 33 4.4.Problemas associados O SBV, quando executado corretamente, permite manter a vítima viável até à chegada do SAV. Podem no entanto ocorrer alguns problemas. Problemas com a ventilação O principal problema que pode ocorrer com a ventilação é a insuflação de ar para o estômago, que pode provocar a saída do conteúdo do mesmo para a via aérea, provocar a elevação do diafragma que restringe os movimentos respiratórios tornando a ventilação menos eficaz. Fazer insuflações com grande quantidade de ar, com grande velocidade e durante um curto período de tempo facilita a ocorrência de insuflação gástrica. Se detetada, não deve tentar resolver-se comprimindo o estômago, dado que apenas estará a causar regurgitação do conteúdo do mesmo. No caso de vítimas desconhecidas e na ausência de algum mecanismo de barreira para efetuar as insuflações, não deverá efetuar ventilação boca-a-boca. Neste caso é preferível
  • 35. UFCD: Abordagem geral de noções básicas de primeiros socorros; Formador: Ana Isabel Pereira 34 efetuar apenas compressões torácicas, a um ritmo de 100/min, que não efetuar nenhum SBV. Problemas com as compressões As compressões torácicas, mesmo quando corretamente executadas, conseguem gerar apenas aproximadamente 25 % do débito cardíaco normal. Efetuá-las obliquamente em relação ao tórax pode fazer rolar a vítima e diminui a sua eficácia. É também importante que o tórax descomprima totalmente após cada compressão para permitir o retorno de sangue ao coração antes da próxima compressão e otimizar o débito cardíaco. As compressões torácicas podem causar fratura de articulações condrocostais (articulação das costelas com o esterno), lesão de órgãos internos, rotura do pulmão, do coração ou do fígado. Este risco é minimizado, mas não totalmente abolido, pela correta execução das compressões. A preocupação com as potenciais complicações do SBV não deve impedir o reanimador de iniciar prontamente as manobras de SBV dado que, no caso de uma vítima em paragem cardiorrespiratória, a alternativa ao SBV é a morte.
  • 36. UFCD: Abordagem geral de noções básicas de primeiros socorros; Formador: Ana Isabel Pereira 35 5.Posição Lateral de Segurança 5.1.Como e quando a sua utilização A posição lateral de segurança (também designada por posição de recuperação) é a posição indicada para as vítimas inconscientes ou prostradas em que exista ventilação espontânea. No entanto, é necessário recordar que esta posição somente se aplica em vítimas em que não exista suspeita de traumatismo, e em que não existam outros cuidados prioritários a aplicar. Esta não deve ser realizada quando a pessoa:  Não estiver a respirar;  Tiver uma lesão na cabeça, pescoço ou coluna;  Tiver um ferimento grave. Após colocar o doente em PLS deve manter-se a vigilância da via aérea, uma vez que poderá existir o perigo de ocorrer um vómito e consequente aspiração deste para os pulmões. Como colocar uma vítima em PLS:  Com a vítima deitada, ajoelhe-se ao seu lado;  Vire a cara da vítima para si. Incline a cabeça desta para trás, para abrir as vias aéreas e impedir a queda da língua para trás e a sufocação por sangue. Se a vítima estiver inconsciente, verifique a boca e remova possíveis materiais que possam estar dentro desta;  Posicionar o membro superior do lado em que o socorrista se encontra na posição de flexão alinhado com a cabeça do doente;
  • 37. UFCD: Abordagem geral de noções básicas de primeiros socorros; Formador: Ana Isabel Pereira 36 Posicionar membro superior do doente.  Colocar o dorso da mão do lado oposto encostado à face do doente, devendo o socorrista segurá-la nesta posição; Segurar a mão do doente junto à sua face  Colocar a outra mão na região do joelho, fletindo o membro inferior do lado oposto à posição do socorrista.
  • 38. UFCD: Abordagem geral de noções básicas de primeiros socorros; Formador: Ana Isabel Pereira 37 Fletir o membro inferior  Mantendo o dorso da mão do doente encostada à face e segurando o membro inferior, efetuar a rotação do doente; Efetuar a rotação do doente
  • 39. UFCD: Abordagem geral de noções básicas de primeiros socorros; Formador: Ana Isabel Pereira 38 Após ter rodado o doente, posicionar a cabeça de forma a que a via aérea fique livre de obstrução. Certificar-se da desobstrução da via aérea Após ter corrigido a via aérea, posicionar a perna pela qual se rodou o doente de forma a servir de apoio, garantindo que o doente fique na lateral (o doente não deve permanecer mais de 30 minutos nesta posição); Colocar o doente em equilíbrio; Doente em PLS.
  • 40. UFCD: Abordagem geral de noções básicas de primeiros socorros; Formador: Ana Isabel Pereira 39 Por fim telefone para providenciar uma ambulância. Casos especiais:  Se a vítima for pesada: Agarre-a pela roupa à altura das ancas com ambas as mãos e vire-lhe o corpo contra os seus joelhos. Se possível peça ajuda a uma segunda pessoa para que ampare a cabeça da vítima enquanto faz rolar o corpo.  Quando há fratura de um braço ou de uma perna: Quando há fratura de um braço ou de uma perna ou por qualquer motivo esse membro não puder ser utilizado como apoio da vítima na posição lateral de segurança, coloque um cobertor enrolado debaixo do lado ileso da vítima, o que elevará o corpo desse lado e deixará as vias respiratórias desimpedidas.
  • 41. UFCD: Abordagem geral de noções básicas de primeiros socorros; Formador: Ana Isabel Pereira 40 6.Obstrução da via aérea 6.1.Situações de obstrução parcial e total A obstrução da via aérea ocorre na maioria das situações em que o doente se encontra inconsciente, em resultado do relaxamento da língua ou da ocorrência de um vómito. No entanto, pode também surgir em vítimas conscientes, resultado do alojar de um corpo estranho na via aérea, sendo frequente em crianças e idosos. Obstrução da via aérea A obstrução da via aérea mais frequente é a que ocorre por corpo estranho, em que, no caso do doente se encontrar consciente, este vai adotar um comportamento que pode ir desde o tossir vigorosamente, quando a obstrução é parcial, até ao levantar-se subitamente agarrado ao pescoço sem emitir qualquer som, indicador de que a obstrução é total.
  • 42. UFCD: Abordagem geral de noções básicas de primeiros socorros; Formador: Ana Isabel Pereira 41 6.2.Tipos e causas de obstrução Caso a obstrução seja parcial (o doente tosse, chora e fala), o socorrista não deve interferir e deve encorajar o doente a tossir. Caso o doente não chore, não fale, nem emita qualquer som, o socorrista deve aplicar os seguintes procedimentos:  De imediato efetuar cinco pancadas com a base da mão entre as omoplatas do doente. 5 pancadas entre as omoplatas do doente Caso não resulte:  Efetuar cinco compressões abdominais entre a extremidade do esterno e o umbigo. Estas compressões devem ser vigorosas para que a extremidade inferior do esterno não seja comprimida. Executam-se colocando uma mão fechada em punho na linha média do abdómen, um pouco acima da cicatriz umbilical, e a outra mão a cobrir a primeira, exercendo então pressão (com força suficiente), dirigida de baixo para cima e da frente para trás.
  • 43. UFCD: Abordagem geral de noções básicas de primeiros socorros; Formador: Ana Isabel Pereira 42 5 compressões abdominais 2. Nos doentes conscientes, esta manobra é executada com o doente de pé, ficando o socorrista que a executa por trás. Nas grávidas, obesos e crianças com idade inferior a um ano substituir as compressões abdominais por compressões torácicas. Compressões torácicas Manobra de Heimlich (compressões abdominais) A Manobra de Heimlich é o melhor método pré-hospitalar de desobstrução das vias aéreas superiores por corpo estranho.
  • 44. UFCD: Abordagem geral de noções básicas de primeiros socorros; Formador: Ana Isabel Pereira 43 Procedimento:  Colocar-se atrás da vítima;  Colocar os braços à volta da vítima ao nível da cintura;  Fechar uma das mãos, em punho, e colocar a mão com o polegar encostado ao abdómen da vítima, na linha média um pouco acima do umbigo e bem afastada do apêndice xifóide (extremidade inferior do esterno);  Com a outra mão, agarrar o punho da colocada anteriormente e puxar, com um movimento rápido e vigoroso, para dentro e para cima;  Cada compressão deve ser um movimento claramente separado do anterior e efetuado com a intenção de resolver a obstrução;  Repetir as compressões abdominais até 5 vezes, vigiando sempre se ocorre ou não resolução da obstrução e o estado de consciência da vítima. Manobra de Heimlich No caso do doente de obstrução da via aérea se encontrar inconsciente devem ser iniciadas de imediato as manobras de reanimação cardiorrespiratória, tendo em atenção a vigilância da via aérea.
  • 45. UFCD: Abordagem geral de noções básicas de primeiros socorros; Formador: Ana Isabel Pereira 44 Reanimação cardiorrespiratória
  • 46. UFCD: Abordagem geral de noções básicas de primeiros socorros; Formador: Ana Isabel Pereira 45 7.Exame à vítima 7.1.Estado de consciência e permeabilidade da via aérea A avaliação de qualquer vítima compreende os seguintes objetivos:  Garantir as condições de segurança do socorrista e da vítima;  Identificar e corrigir situações que não colocando a vítima em perigo de vida, podem, se não forem prestados os cuidados de emergência adequados, provocar agravamento do estado geral;  Não avançar no exame da vítima sem ter corrigido a lesão anterior;  O local de uma ocorrência é normalmente muito confuso, podendo inclusivamente existir alguns riscos.  Por esse motivo é, preciso garantir a segurança, do socorrista, dos populares e da (s) vítima (s). O exame da vítima é realizado logo que o socorrista chega junto da vítima e divide-se em:  Exame Primário, no qual se tenta identificar e corrigir as situações de perigo de vida;  Exame Secundário, no qual se tenta identificar e corrigir as situações que não colocam a vítima em perigo imediato de vida, mas se não forem corrigidas atempadamente podem agravar-se. EXAME PRIMÁRIO 1° - Garantir condições de segurança; 2° - Avaliação do estado de consciência; Se inconsciente grite por ajuda. Se consciente continuar exame.
  • 47. UFCD: Abordagem geral de noções básicas de primeiros socorros; Formador: Ana Isabel Pereira 46 3° A - Via aérea (permeabilização da via aérea) Doença súbita - extensão da cabeça Vítimas de trauma - elevação do maxilar inferior 4° B - Ventilação VOS - realiza-se durante 10 segundos contando em voz alta V - ver se o tórax expande O - ouvir a passagem do ar (ventilação) S - sentir a expedição na face (ar) Se respira Continue o exame; Coloque em Posição Lateral de Segurança;
  • 48. UFCD: Abordagem geral de noções básicas de primeiros socorros; Formador: Ana Isabel Pereira 47 Peça ajuda; Vigie regularmente. Se não ventila Ligue 112; Mantenha a calma e informe a situação; Inicie Suporte Básico de Vida. 5° C - Circulação Observe a vítima e procure hemorragias externas graves e sinais precoces de choque. Hemorragias Imediatamente controladas Choque Pesquisa de sinais evidentes; Aplicar cuidados de emergência; Vigilância apertada. 7.2.Caraterísticas da respiração, pulso e pele EXAME SECUNDÁRIO O exame secundário divide-se em:  Recolha de Informação;  Sinais vitais;  Exposição e observação sistematizada. Recolha de informação  O local;  A vítima;
  • 49. UFCD: Abordagem geral de noções básicas de primeiros socorros; Formador: Ana Isabel Pereira 48  Outras pessoas;  Procure saber o que aconteceu;  Identifique a principal queixa da vítima;  Identifique os antecedentes pessoais da vítima. Sinais vitais São os principais indicadores das funções vitais:  Ventilação;  Pulso;  Pressão arterial;  Pele. Ventilação Ao conjunto de uma inspiração e uma expiração dá-se o nome de ciclo ventilatório. Avalia e regista-se:  Frequência (n° / min)  Amplitude (Superficial / Normal / Profunda)  Ritmo (Regular / Irregular) Pulso É a onda de sangue que percorre as artérias cada vez que o coração se contrai. Avalia e regista-se:  Frequência (n° / min)  Amplitude (Cheio / Fino)  Ritmo (Regular / Irregular) Caraterísticas do Pulso  Pulso rápido e fraco, pode resultar de um estado de choque por perda sanguínea;  Ausência de pulso pode significar um vaso sanguíneo bloqueado ou lesado, ou uma paragem cardíaca.
  • 50. UFCD: Abordagem geral de noções básicas de primeiros socorros; Formador: Ana Isabel Pereira 49 Pele Caraterísticas da Pele:  Temperatura;  Coloração e Humidade. Temperatura, considera-se: • Temperatura elevada ou hipertermia quando o valor é superior a 37,5º; • Temperatura normal ou apirético quando o valor está entre os 35,5º e os 37,5º; • Temperatura abaixo do normal ou hipotermia quando o valor é inferior a 35º. Coloração e Humidade  Pele fria e húmida significa uma resposta do sistema nervoso a um traumatismo ou perda sanguínea (estado de choque).  Pele fria e seca pode ter origem na exposição ao frio.  Pele quente e seca pode ser causada por febre, ou ser o resultado de uma insolação.  Pele pálida, indica circulação insuficiente e é vista nas vítimas em choque ou com enfarte do miocárdio.  Pele azulada (cianose) é observada na insuficiência cardíaca, na obstrução de vias aéreas, e também em alguns casos de envenenamento.  Pele vermelha em envenenamento por monóxido de carbono e na insolação. Observação Sistematizada A finalidade é detetar lesões ou alterações que possam passar despercebidas mas que carecem de socorro (pensos, imobilizações, limpeza). Na observação sistematizada ter em atenção:  Nas vítimas de trauma as roupas devem ser cortadas;  Manter o respeito pela privacidade;  Manter a temperatura corporal. Resumo:
  • 51. UFCD: Abordagem geral de noções básicas de primeiros socorros; Formador: Ana Isabel Pereira 50  Verificar se existem condições de segurança no local;  Sinalizar o local;  Identificar-se e estabelecer o diálogo com o doente, se for possível, ou com os seus familiares;  Manter a calma e efetuar perguntas claras e objetivas;  Identificar o doente;  Tratar o doente pelo nome;  Identificar a principal queixa;  Manter-se próximo do doente;  Executar o exame ao doente corretamente;  Saber os antecedentes pessoais e associar ao sucedido;  Acalmar o doente e explicar o que vai ser feito;  Atuar, aplicando as técnicas para as quais se encontre habilitado Avaliar os parâmetros vitais do doente mais do que uma vez; Registar toda a informação recolhida.
  • 52. UFCD: Abordagem geral de noções básicas de primeiros socorros; Formador: Ana Isabel Pereira 51 8.As Emergências médicas mais frequentes 8.1.Principais sinais e sintomas Os principais sinais e sintomas passíveis de indicar uma emergência médica são variáveis consoante a situação e a emergência concreta a que se referem. Assim, podemos considerar os seguintes sintomas/ condições: Sinais e sintomas que podem indicar uma dor de origem cardíaca Dor torácica tipo: • «Facada»; • Opressão; • Esmagamento; • Aperto. Dor que pode irradiar para o membro superior esquerdo, pescoço e mandíbula. Esta dor pode ainda ser acompanhada de: • Náuseas ou vómitos; • Alterações do ritmo cardíaco; • Sensação de desmaio; Dificuldade em respirar. Sinais e sintomas de enfarte no miocárdio  Dor no meio do peito, tipo aperto, peso ou opressão  Irradiação ao braço esquerdo, costas e/ou pescoço;  Suores;  Náuseas;
  • 53. UFCD: Abordagem geral de noções básicas de primeiros socorros; Formador: Ana Isabel Pereira 52  Vómitos;  Falta de ar;  Ansiedade. Sinais e sintomas de asma O principal sintoma é a dificuldade respiratória, resultante sobretudo da diminuição do diâmetro dos brônquios e que altera o volume de ar que deveria entrar e sair dos pulmões. Assim, a respiração torna-se ruidosa, em especial durante a fase expiratória, na qual o asmático sente maior dificuldade e tem que exercer um maior esforço para expulsar o ar dos pulmões. Sinais e sintomas de AVC  Cefaleias intensas e súbitas (dores de cabeça);  Perda da força ou do movimento de um dos lados do corpo;  Desvio da comissura labial (boca de lado);  Dificuldade em falar ou em articular as palavras;  Incontinência (principalmente urinária);  Comportamento repetitivo. Sinais e sintomas de hipoglicémia  Deve suspeitar-se de hipoglicemia quando se estiver perante um doente diabético que esteve sujeito a um jejum prolongado ou a esforço físico continuado e que se apresente inconsciente, confuso ou agitado, pálido e suado. Sinais e sintomas de hiperglicemia  Inconsciência ou sonolência, pele vermelha e quente, hálito acetónico. Sinais e sintomas de convulsão
  • 54. UFCD: Abordagem geral de noções básicas de primeiros socorros; Formador: Ana Isabel Pereira 53 Os sinais e sintomas que podem ajudar a identificar uma convulsão podem ser organizados em três fases: 1.º Antes da convulsão o doente pode ficar parado, como ausente, começando a ranger os dentes. Muitos doentes referem sentir um cheiro ou ver luzes coloridas; 2.º Normalmente o doente grita e cai subitamente, começando a cerrar com força os dentes e mexendo-se descontroladamente. Neste caso, o doente poderá ficar cianosado (cor azulada/cinzenta da pele) devido ao facto de ocorrerem períodos curtos em que ocorre a suspensão da respiração e poderá salivar abundantemente, o que pode ser identificado pelo «espumar pela boca»; 3.º A crise termina e o doente apresenta-se inconsciente, recuperando lentamente a consciência. Normalmente apresenta-se confuso e agitado e não se lembra do que aconteceu. É normal ocorrer mordedura da língua, mas na generalidade sem gravidade. Sinais e sintomas de intoxicação:  Hálito com odor estranho e alteração na cor da língua e lábios, no caso de ingestão ou inalação da substância tóxica;  Dor e ardor na garganta;  Dificuldade em respirar e tosse;  Sonolência;  Delírio;  Lesões na pele e queimaduras;  Olhos vermelhos e inchados;  Náuseas ou vómitos;  Diarreia  Dor de cabeça intensa;  Rigidez nas articulações;  Sensação de músculo preso;  Febre.
  • 55. UFCD: Abordagem geral de noções básicas de primeiros socorros; Formador: Ana Isabel Pereira 54 8.2.Principais cuidados a prestar 8.2.1.Problemas cardíacos Dor torácica de origem cardíaca A dor torácica de origem cardíaca surge em consequência de um deficiente fornecimento de oxigénio ao músculo cardíaco. Este fator leva a que este entre em sofrimento (isquemia) tendo como sintoma a dor. A arteriosclerose é a principal responsável por este fornecimento deficitário de oxigénio, uma vez que ao diminuir o diâmetro das artérias coronárias, reduzindo a elasticidade das mesmas, provoca uma situação que facilita a sua obstrução e consequentemente a interrupção do fluxo sanguíneo. Perante sinais e sintomas de dor torácica: • Não deixar o doente efetuar qualquer esforço; • Colocar o doente numa posição confortável; • Identificar se é o primeiro episódio, se existem doenças anteriores e se faz medicação; • Ligar 112 e responder com calma às perguntas que são feitas, fornecendo as informações recolhidas anteriormente; • Aguardar pelo socorro. Enfarte Agudo do Miocárdio O Enfarte Agudo do Miocárdio é uma verdadeira emergência médica em que todo o tempo conta para salvar uma vida. Ligar 112 é extremamente importante pois:  O tempo de atuação é fundamental para a sobrevivência das vítimas;  O tratamento mais eficaz e com maior sucesso é a angioplastia primária, que deve ser efetuada o mais cedo possível;
  • 56. UFCD: Abordagem geral de noções básicas de primeiros socorros; Formador: Ana Isabel Pereira 55  O Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM) tem a possibilidade de identificar os sintomas e enviar os meios adequados;  Os meios do INEM têm equipamento que permite diagnosticar o enfarte ainda antes da chegada ao hospital;  O doente é encaminhado para o hospital mais indicado, que nem sempre é o hospital mais perto. 8.2.2.Problemas respiratórios Dificuldade respiratória A dificuldade respiratória, normalmente definida como «falta de ar» pela população em geral e por dispneia pelos médicos, pode ter várias causas. Contudo, esta pode ser considerada normal, sem gravidade, quando resulta, por exemplo, de um esforço físico extenuante e ser grave quando resulta do agravamento de uma doença pulmonar ou cardíaca ou de uma intoxicação. A queixa de «falta de ar» pode variar de pessoa para pessoa uma vez que este sintoma depende da capacidade neurológica em identificar este sintoma. A maioria das situações de falta de ar no adulto têm as seguintes causas: • Asma (por «aperto» dos brônquios); • Agravamento da bronquite crónica (por acumulação de secreções); • Edema pulmonar (por problemas cardíacos); • Angina de peito ou enfarte agudo do miocárdio; • Intoxicações (as mais frequentes por inalação de fumos ou gases); • Etc.. Verificando-se que podem existir diversas causas na origem de uma crise de falta de ar, os procedimentos a adotar podem ser diversos, no entanto, deve ser adotado um conjunto de medidas que tentem evitar o agravamento da situação, nomeadamente:
  • 57. UFCD: Abordagem geral de noções básicas de primeiros socorros; Formador: Ana Isabel Pereira 56  Manter um ambiente calmo em redor do doente;  Acalmar o doente;  Manter o doente sentado sem que este faça qualquer esforço;  Ajudar o doente a respirar, pedindo a este que expire devagar e pela boca e inspire pelo nariz (como se estivesse a cheirar uma flor e a apagar uma vela);  Se possível, administrar oxigénio;  Identificar doenças anteriores e a medicação do doente;  Ligar 112 e transmitir a informação recolhida: – Informar: - Local; - Número de telefone de contacto; - Descrever a situação; - Seguir as instruções dadas pelo operador de central.  Aguardar pelo socorro. Asma A asma é uma doença respiratória que pode ser desencadeada por fatores como uma reação alérgica ou uma infeção, surgindo de um modo súbito. Perante alguém que esteja a sofrer um ataque asmático, deve manter uma atitude calma, retirar a vítima do ambiente que poderá estar na origem da crise (uma sala com cheiro a tinta, vernizes, ou outros), colocando a mesma numa posição cómoda (sentado ou semi- sentado) que lhe facilite a respiração. Verifique se a vítima tem um inalador apropriado e procure ajudá-la a utilizá-lo adequadamente. Ligue de imediato 112. 8.2.3.Acidente vascular cerebral O acidente vascular cerebral (AVC), vulgarmente designado por trombose, é uma das maiores causas de morte em Portugal. O AVC deve-se essencialmente ao sedentarismo e a hábitos
  • 58. UFCD: Abordagem geral de noções básicas de primeiros socorros; Formador: Ana Isabel Pereira 57 alimentares subjacentes a uma sociedade em que a produtividade de cada um se sobrepõe aos cuidados que cada indivíduo tem de ter com a saúde. Quando deteta um dos sinais de AVC deve suspeitar-se de um AVC em evolução, adotando os seguintes procedimentos: • Manter a calma e um ambiente calmo em redor do doente; • Deitar o doente, colocando-o em PLS; • Identificar corretamente as queixas do doente, se este tem algum antecedente e se faz alguma medicação; • Ligar 112 e transmitir a informação recolhida: – Informar: - Local; - Número de telefone de contacto; - Descrever a situação; - Seguir as instruções dadas pelo operador de central. • Aguardar pelo socorro; • Se o doente ficar inconsciente, verificar se existe respiração espontânea eficaz. Aplicar os procedimentos indicados no capítulo correspondente ao suporte básico de vida. 8.2.4.Diabetes A diabetes é uma doença marcada pelo mau funcionamento do pâncreas, o que provoca um desequilíbrio entre a quantidade de açúcar e de insulina no sangue. Esta doença pode ser hereditária e normalmente é identificada em indivíduos jovens ou provocada pelos maus hábitos alimentares e pela obesidade. O tratamento para a diabetes pode ser feito através da administração de insulina (fig. 61), o que ocorre quando o pâncreas não produz esta substância, ou pela utilização de medicamentos normalmente chamados de antidiabéticos orais.
  • 59. UFCD: Abordagem geral de noções básicas de primeiros socorros; Formador: Ana Isabel Pereira 58 Sendo a diabetes uma doença que resulta da difícil absorção do açúcar (glicose) e da sua utilização na produção de energia, é necessário ter atenção aos valores deste no sangue. Assim, os valores considerados recomendáveis para um adulto são: • Condições normais: 80-110 mg/dl • Diabetes (mínimo 2 análises): > 126 mg/dl • Tendência para diabetes 111-126 mg/dl A diabetes por si só não é uma emergência, mas sim uma doença que pode ser evitada ou pelo menos as suas consequências minimizadas. No entanto, se não existir cuidado por parte do doente pode originar uma de duas situações que podem por em risco a vida: Hiperglicemia Quando existe uma subida exagerada de açúcar no sangue. Pode provocar estados de inconsciência, no entanto, esta é uma situação que não provoca uma situação de risco de vida a curto prazo. O doente deve ser encaminhado para uma unidade de saúde ou contactar o seu médico assistente. Hipoglicemia A quantidade de açúcar no sangue é baixa e pode levar rapidamente à morte. Este tipo de situação pode surgir por erro na administração da medicação ou por jejum prolongado, podendo surgir em doentes não diabéticos, principalmente em resultado de um esforço físico, infeções ou por ingestão de alguns medicamentos. Devido à gravidade da situação torna-se fundamental a identificação da situação. Assim, devem ser adotados os seguintes procedimentos:  Se o doente se encontrar consciente e for capaz de beber, deve ser administrada de imediato uma bebida açucarada
  • 60. UFCD: Abordagem geral de noções básicas de primeiros socorros; Formador: Ana Isabel Pereira 59  Se o doente se encontrar inconsciente ou muito sonolento, deve ser deitado de lado e ser administrada uma papa de açúcar, dentro da bochecha, de forma a que não exista risco de obstrução da via aérea  Se está na dúvida se é uma hipoglicemia ou hiperglicemia e se o doente for diabético, deve administrar-se sempre açúcar. 8.2.5.Crises convulsivas Convulsão (epilepsia) A convulsão deve-se a uma alteração neurológica que pode ter várias causas. As mais frequentes estão associadas a epilepsia ou a febre, no caso das crianças. A epilepsia é uma doença neurológica crónica que provoca, ao nível do cérebro, descargas elétricas desorganizadas. Estas provocam, em alguns casos, movimentos musculares involuntários e exuberantes, normalmente descritos como um «estrebuchar», ou seja, uma convulsão. As crises convulsivas normalmente são de curta duração (1 ou 2 minutos) e, devido ao facto de serem em alguns casos violentas, podem provocar ferimentos no doente já que este pode embater descontroladamente em objetos existentes em seu redor. A atuação para estas situações deve passar pelas seguintes fases: 1.º Fase de pré-crise: • Deitar o doente; • Afastar os objetos em redor do doente. 2.º Durante a crise convulsiva: • Manter a calma; • Não segurar o doente nem tentar prender os seus movimentos; • Não colocar nada na boca do doente;
  • 61. UFCD: Abordagem geral de noções básicas de primeiros socorros; Formador: Ana Isabel Pereira 60 • Proteger a cabeça do doente e afastar possíveis objetos a fim de evitar o contacto; • Esperar que a crise passe. 3.º Após a crise convulsiva: • Colocar o doente deitado de lado; • Ligar 112 e transmitir a informação recolhida: – Informar: - Local; - Número de telefone de contacto; - Descrever a situação; - Seguir as instruções dadas pelo operador de central. • Aguardar pelo socorro. 8.2.6.Situações de intoxicação As intoxicações podem essencialmente ter três origens: acidental, voluntária ou profissional, sendo a mais frequente a intoxicação acidental e normalmente por uso ou acondicionamento incorreto dos produtos. O agente tóxico pode entrar no organismo humano por uma das seguintes vias:  Via digestiva – É a mais frequente, normalmente associada a ingestão de alimentos deteriorados ou a ingestão de medicamentos;  Via respiratória – Resulta da inalação de gases, fumos ou vapores, ocorrendo na maioria dos casos em situações de incêndio ou de uma deficiência nas instalações de gás para uso doméstico;  Via cutânea – Quando o produto entra em contacto com o organismo através da pele;  Via ocular – Surge geralmente por acidente, quando um jato de um produto atinge os olhos;  Por injeção – via parentérica – Acontece com mais frequência nos toxicodependentes ou num caso de erro terapêutico, quer ao nível da dose quer ao nível da própria substância;
  • 62. UFCD: Abordagem geral de noções básicas de primeiros socorros; Formador: Ana Isabel Pereira 61  Picada de animal – Em Portugal as mais frequentes devem-se às picadas do escorpião, alguns insetos, víboras e peixes;  Via rectal ou vaginal – São situações raras, que podem surgir em alguns casos de tentativas de aborto com recurso a substâncias químicas ou pela utilização de alguns medicamentos. Quando se estiver perante uma intoxicação importa lembrar que, em muitos casos, o melhor socorro é não intervir, devendo ter sempre presente que, em caso de dúvida, deve ser contactado o Centro de Informação Antivenenos (CIAV) ou ligar para o número europeu de socorro 112. No contacto com o CIAV ou com o 112 indicar: a) Em relação ao tóxico: • Identificar o tóxico: – Nome do produto; – Cor; – Cheiro; – Tipo de embalagem; – Fim a que se destina. b) Em relação à vítima: • Idade; • Sexo; • Peso; • Doenças anteriores. As embalagens devem acompanhar o doente à unidade de saúde, para facilitar a identificação do agente tóxico e assim permitir uma intervenção no tempo mais curto possível. Atuação para intoxicação por via respiratória
  • 63. UFCD: Abordagem geral de noções básicas de primeiros socorros; Formador: Ana Isabel Pereira 62 Antes de se atuar, verificar se o local é seguro e arejado. Caso seja possível abordar o doente em segurança, retirá-lo do local para uma zona arejada, se possível administrar oxigénio e contactar os meios de socorro. Atuação para intoxicações por via digestiva Muitas das intoxicações por via digestiva são de fácil resolução pela remoção do conteúdo gástrico através da indução do vómito, no entanto, a sua realização está dependente do tempo decorrido e do produto em causa. Assim, somente deve ser efetuada quando lhe for dada indicação pelo CIAV ou pelo operador da central 112. Atuação para intoxicações por via cutânea Nestes casos, remover as peças do vestuário que estiverem em contacto com o tóxico e lavar a zona atingida durante pelo menos 15 minutos. Logo que possível contactar o CIAV. Atuação para intoxicações por via ocular Nestes casos, lavar o olho atingido, com recurso a água. A lavagem deve ser efetuada do canto interno do olho para o canto externo e deve ser mantida durante 15 minutos. Assim que possível contactar o CIAV – 112. Os restantes casos, devido a sua especificidade, poderão apenas ser socorridos com intervenção médica. Assim, devem ser acionados os meios de socorro o mais precocemente possível. Número de telefone do CIAV: 808 250 143 8.3.Limites de intervenção na perspetiva de cidadão e de auxiliar de saúde O Socorrista é toda e qualquer pessoa com habilitação para prestar socorro quando exerce este ato. Um médico, um enfermeiro, um bombeiro, paramédico ou um trabalhador de uma
  • 64. UFCD: Abordagem geral de noções básicas de primeiros socorros; Formador: Ana Isabel Pereira 63 organização não deixam de ser socorristas pelo facto de possuírem outro título profissional, no momento em que prestam socorro são socorristas. Quem presta primeiros socorros não substitui a equipa de saúde mas tem um papel fundamental em alertar os serviços e ajudar a vítima, evitando o agravamento da situação, exigindo uma atuação responsável. É necessário saber atuar com eficácia e prontidão, tendo sempre em mente a idade da vítima, pois o socorro em algumas situações é diferente. É importante que o/a Técnico auxiliar de saúde:  Se sinta autoconfiante, mas tenha a noção das suas limitações.  Tenha uma atitude de compreensão e paciência.  Seja capaz de tomar decisões, organizar e controlar a situação. Basicamente devem existir dois tipos de procedimento/atitude:  O que se sabe, se pode e se deve fazer.  O que não se sabe, não pode e não deve fazer. Enquanto espera pelos socorros deve-se: • Observar a evolução do estado da pessoa. • Cobrir a vítima, pois o estado de choque e a imobilidade podem originar arrefecimento. • Deve-se desapertar o vestuário (este pode incomodar ou comprimir), mas não despir a vítima. • Não dar nada a beber e/ou a comer, pois a vítima pode ter náuseas, vómitos e aspirar o vómito. • Nunca abandonar uma pessoa em estado de choque ou ferida.
  • 65. UFCD: Abordagem geral de noções básicas de primeiros socorros; Formador: Ana Isabel Pereira 64 9.Principais tipos de traumatismos 9.1.Traumatismos de tecidos moles (feridas e hemorragias) As lesões da pele podem-se dividir essencialmente em dois grupos: lesões fechadas e lesões abertas. Lesões fechadas As lesões fechadas são lesões internas em que a pele se mantém intacta e normalmente estão associadas a uma hemorragia interna. Este tipo de lesões é, na maior parte dos casos, originado por impacto, mas pode surgir também em determinadas situações de doença. Tipos de lesões fechadas Classificam-se como lesões fechadas aquelas em que a pele se encontra intacta. Podem ser hematomas ou equimoses. a) Hematoma O hematoma surge aquando do rompimento de vasos sanguíneos de um calibre considerável, provocando o acumular de sangue nos tecidos. Em muitos casos pode estar associado a outros traumatismos, como fraturas. Este acumular de sangue vai dar origem a um inchaço doloroso de cor escura. b) Equimose A equimose, normalmente conhecida por nódoa negra, é o resultado do rompimento de vasos capilares, levando a uma acumulação de sangue em pequena quantidade nos tecidos. Atuação
  • 66. UFCD: Abordagem geral de noções básicas de primeiros socorros; Formador: Ana Isabel Pereira 65 Os cuidados de emergência são iguais para ambos os tipos de lesão, mas é preciso lembrar que este tipo de lesão pode estar associado a outras mais graves. Por isso, deve se sempre efetuado o exame do doente. Quando da presença de uma destas lesões, proceder da seguinte forma: • Acalmar o doente; • Explicar o que vai ser feito; • Suspeitar de outras lesões associadas; • Fazer aplicação de frio sobre o local; • Imobilizar a região afetada; • Procurar antecedentes pessoais; • Ligar 112 e informar: - Local exato; – Número de telefone de contacto; – Descrever a situação; – Descrever o que foi feito; – Respeitar as instruções dadas. • Aguardar pelo socorro, mantendo a vigilância do doente. Lesões abertas As lesões abertas surgem quando a integridade da pele foi atingida, sendo facilmente identificada pela existência de feridas. A existência de feridas na pele pode dar origem ao surgimento de infeções e a perda de sangue pela hemorragia que normalmente lhe está associada. Tipos de lesões abertas Existem diversos tipos de lesões abertas, dependendo do tipo de mecanismo que as originou. Estas podem ser: • Escoriação; • Laceração;
  • 67. UFCD: Abordagem geral de noções básicas de primeiros socorros; Formador: Ana Isabel Pereira 66 • Avulção; • Amputação; • Ferida penetrante ou perfurante. a) Escoriação A escoriação é uma lesão superficial da pele com uma pequena hemorragia (originada pelo rompimento de vasos capilares) e dolorosa. Esta lesão, que não apresenta gravidade, é normalmente causada por abrasão. b) Laceração É uma lesão da pele originada normalmente por objetos afiados, podendo apresentar uma forma regular ou irregular. Pode, no entanto, ser profunda e atingir vasos sanguíneos de grande calibre. c) Avulção Surge quando existe perda completa ou incompleta de tecidos. As avulsões envolvem normalmente os tecidos moles, podendo, no entanto, ser profundas e atingir vasos sanguíneos de grande calibre. d) Amputação A amputação é a separação total de um membro. Este tipo de lesão é grave estando associada a hemorragias e fraturas. Por este motivo, a atuação deve ser rápida e eficaz. e) Feridas penetrantes ou perfurantes A este tipo de lesões estão associadas outras, como hemorragias internas e lesões de órgãos internos. Atuação No geral deve-se:  Acalmar o doente;  Explicar o que vai fazer;
  • 68. UFCD: Abordagem geral de noções básicas de primeiros socorros; Formador: Ana Isabel Pereira 67  Suspeitar de outras lesões associadas;  Não mover o doente mais do que o necessário;  Controlar as hemorragias;  Efetuar um penso esterilizado;  Estar atento aos sinais de choque;  Ligar 112 e informar: – Local exato; – Número de telefone de contacto; – Descrever a situação; – Descrever o que foi feito; – Respeitar as instruções dadas.  Aguardar pelo socorro, mantendo a vigilância do doente Limpeza de uma ferida a) Avaliação da ferida A primeira atenção deverá ser dirigida para a avaliação da ferida de forma a determinar as prioridades da atuação. Assim, independentemente das diferentes classificações das feridas, nesta unidade elas poderão ser divididas em: • Superficiais (envolvem a epiderme; não atingem totalmente a derme; persistem folículos pilosos e glândulas sudoríparas); • Profundas (estendem-se à derme e tecido subcutâneo e podem envolver tendões, músculos e ossos). b) Proteção da ferida A atuação nas ações de socorro a doentes com ferimentos deverá ter sempre presente que a proteção da ferida envolve vários aspetos, entre os quais o conforto do doente, com consequente diminuição da dor, presente na maioria das situações que envolvem ferimentos. A escolha dos materiais que se utilizam na realização de um penso não deve ter como finalidade o tratamento.
  • 69. UFCD: Abordagem geral de noções básicas de primeiros socorros; Formador: Ana Isabel Pereira 68 A utilização de soluções desinfetantes nas feridas deve ser limitada. Deverá ter em conta que as soluções desinfetantes podem resultar num novo traumatismo para a ferida, complicando a situação da pessoa a quem prestamos socorro. Não sendo o tratamento o objetivo da intervenção pré-hospitalar, o produto de eleição a utilizar é o soro fisiológico. c) Promover a ferida limpa A promoção da limpeza da ferida é da inteira responsabilidade do socorrista, sendo obrigatório que tudo o que entra em contacto com a ferida seja esterilizado. Os movimentos de limpeza de uma ferida deverão ser dirigidos do centro para a periferia impedindo o arrastamento de detritos dos tecidos circundantes para a ferida. Ou seja, a limpeza da ferida deverá ser feita da zona mais limpa para a mais conspurcada. A utilização do soro fisiológico nesta limpeza é indispensável. d) Prevenir a infeção Um dos fatores a considerar para cumprir este critério passa pela consciencialização e pela adoção de procedimentos que garantam o contributo na prevenção da infeção. Assim, na realização de um penso deve ter-se em conta: • Utilizar material descartável, sempre que possível; • O material que entra em contacto com as feridas deve estar esterilizado; • As embalagens devem ter prazo de validade e este deve ser respeitado; • Utilizar embalagens individuais, sempre que possível; • Registar no frasco de soro fisiológico a data da sua abertura; • Utilizar material esterilizado e aberto na altura sempre que a situação assim o justifique.
  • 70. UFCD: Abordagem geral de noções básicas de primeiros socorros; Formador: Ana Isabel Pereira 69 Hemorragias Quando existir uma perda sanguínea, o organismo vai reagir, originando sinais (o que se vê) e sintomas (o que o doente refere) que permitem suspeitar de uma hemorragia. Entre eles destacam-se os seguintes: a) Alteração do estado de consciência: uma perda de sangue suficientemente grande faz com que o oxigénio e nutrientes que deviam chegar ao cérebro sejam insuficientes levando a que o doente possa ficar confuso, desorientado ou mesmo inconsciente; b) Alteração da ventilação: se existir uma perda de sangue, significa que chega menos oxigénio aos órgãos, dando origem a que a percentagem de anidrido de carbono aumente nos tecidos. Estes factos levam a que a frequência ventilatória aumente dando origem a uma ventilação rápida e superficial; c) Alteração do pulso: se existe menos quantidade de sangue, o coração vai acelerar para fazer circular mais depressa o pouco sangue que existe, originando um pulso rápido e fino; d) Alteração da pressão arterial: a perda de sangue vai levar a que o volume deste nos vasos sanguíneos seja menor e, consequentemente, a pressão exercida sobre a parede das artérias também o seja, provocando uma pressão arterial baixa; e) Alteração da pele: se existe menos sangue, existe também menos oxigénio e nutrientes. Isto vai obrigar o organismo a retirar sangue da periferia para o interior do corpo, originando uma pele pálida e húmida; f ) Saída evidente de sangue por uma ferida ou pelos orifícios naturais do corpo; g) Sede: se existe uma perda de sangue existe também uma perda de água. Por este motivo, o doente tem sede. Num quadro clínico de hemorragia grave, o doente apresenta sinais e sintomas de choque hipovolémico. Assim sendo, devem ser aplicados os seguintes cuidados de emergência:  Proceder ao controlo da hemorragia;  Ter em atenção um possível episódio de vómito;
  • 71. UFCD: Abordagem geral de noções básicas de primeiros socorros; Formador: Ana Isabel Pereira 70  Elevar os membros inferiores;  Manter o doente confortável e aquecido;  Identificar os antecedentes pessoais e a medicação;  Avaliar os parâmetros vitais, se possível;  Ligar 112 e informar: – Local exato; – Número de telefone de contacto; – Descrever o que foi observado e avaliado; – Descrever os cuidados de emergência aplicados; – Respeitar as instruções dadas.  Aguardar pelo socorro, mantendo a vigilância do doente;  Se o doente estiver em paragem cardiorrespiratória, iniciar de imediato as manobras de reanimação. 9.2.Queimaduras As queimaduras são lesões da pele resultantes do contacto com o calor, agentes químicos ou radiações. Podem, em alguns casos, ser profundas, atingindo músculos ou mesmo estruturas ósseas. Classificação das queimaduras As queimaduras classificam-se em relação a: • Extensão – dimensão da área atingida (quanto maior for a área atingida maior será a gravidade); • Profundidade – grau de destruição dos tecidos. A classificação das queimaduras em relação à profundidade é efetuada em graus. 1.º Grau – Trata-se de uma queimadura sem gravidade em que apenas foi atingida a primeira camada da pele. Trata-se de uma queimadura em que a pele apresenta-se vermelha, sensível e dolorosa.
  • 72. UFCD: Abordagem geral de noções básicas de primeiros socorros; Formador: Ana Isabel Pereira 71 2.º Grau – Trata-se de uma queimadura em que já é atingida a primeira (epiderme) e segunda (derme) camadas da pele. Caracteriza-se por ser dolorosa e apresenta flictenas (bolhas). 3.º Grau – Trata-se de uma queimadura em que existe a destruição da pele e de outros tecidos subjacentes. Caracteriza-se por se apresentar com uma cor castanha ou preta (tipo carvão). O doente, na maioria dos casos, não refere dor devido ao facto de existir destruição dos terminais nervosos existentes na pele, responsáveis pela transmissão de informação de dor ao cérebro. Atuação Os perigos de uma queimadura são a infeção e a dor. Por este motivo, a atuação é condicionada a este dois fatores. Quando na presença de uma queimadura provocada pelo calor, atuar da seguinte forma: • Acalmar o doente; • Ter em atenção a via aérea; • Limpar a zona queimada, retirando a roupa existente. A roupa que se encontrar agarrada deve ficar; • Lavar a zona queimada com soro fisiológico ou água; • Tapar a zona com um penso humedecido e esterilizado; • Nas zonas articulares (mãos, pés, etc.) proteger as zonas de contacto. Ter em atenção:  Aquando do tratamento das queimaduras utilizar somente material esterilizado;  Quando na presença de uma queimadura provocada por um agente químico, lavar abundantemente a zona atingida e nunca tapar.  Não utilizar qualquer tipo de gorduras. Estas contribuem para o aumento da temperatura e da infeção. 9.3.Traumatismos dos membros Fraturas
  • 73. UFCD: Abordagem geral de noções básicas de primeiros socorros; Formador: Ana Isabel Pereira 72 As fraturas podem classificar-se da seguinte forma: • Fraturas abertas (expostas): quando existe exposição dos topos ósseos, podendo facilmente infetar. • Fraturas fechadas: a pele encontra-se intacta, não se visualizando os topos ósseos. Sinais e sintomas de fraturas • Dor localizada na zona do foco de fratura, normalmente intensa e aliviando após a imobilização; • Perda da mobilidade. Pode, em alguns casos, existir alteração da sensibilidade; • Existe normalmente deformação, podendo, em alguns tipos de fraturas, não estar todavia presente; • Edema (inchaço) normalmente presente, aumentando de volume conforme o tempo vai passando. • Exposição dos topos ósseos, no caso da fratura exposta, não deixa dúvidas em relação à existência da mesma; • Alteração da coloração do membro. Surge no caso de existir compromisso da circulação sanguínea. Cuidados a ter no manuseamento de fraturas • Não efetuar qualquer pressão sobre o foco de fratura; • Imobilizar a fratura, mantendo o alinhamento do membro, não forçando no caso da fratura ser ao nível do ombro, cotovelo, mão, joelho e pés; • No caso de fraturas abertas, lavar a zona com recurso a soro fisiológico antes de imobilizar; • Não efetuar movimentos desnecessários. Imobilizações Para imobilizar a fratura proceder da seguinte forma: • Expor o membro. Retirar o calçado e roupa; • Se existirem feridas, limpá-las e desinfetá-las antes de imobilizar; • Se a fratura for num osso longo, alinhar o membro;
  • 74. UFCD: Abordagem geral de noções básicas de primeiros socorros; Formador: Ana Isabel Pereira 73 • Imobilizar a fratura, utilizando preferencialmente talas de madeira, devendo estas estar obrigatoriamente almofadadas; • No caso da fratura ocorrer numa zona articular, não forçar o alinhamento. Se necessário, imobilizá-lo na posição em que este se encontra. 9.4.Limites de intervenção na perspetiva de cidadão e de auxiliar de saúde É de vital importância a prestação de primeiros-socorros. Conhecimentos simples muitas vezes diminuem o sofrimento, evitam complicações futuras e podem inclusive em muitos casos salvar vidas. Porém deve-se saber que nessas situações em primeiro lugar deve-se procurar manter a calma, verificar se a prestação do socorro não trará riscos. Saber prestar o socorro sem agravar ainda mais a saúde da(s) vítima(s), e nunca esquecer-se que a prestação dos primeiros socorros não exclui a importância de um médico. Sempre que possível devemos pedir e aceitar a colaboração de outras pessoas, sempre deixando que o indivíduo com maior conhecimento e experiência possa liderar, dando espaço para que o mesmo demonstre à cada uma, com calma e firmeza o que deve ser feito, de forma rápida, correta e precisa. Atitudes corretas: 1) A calma, o bom senso e o discernimento são elementos primordiais 2) Agir rapidamente, porém respeitando os seus limites e o dos outros. 3) Transmitir á (s) vítima (s), tranquilidade, alívio, confiança e segurança, 4) Utilize-se de conhecimentos básicos de primeiros socorros, improvisando se necessário. 5) Nunca tome atitudes das quais não tem conhecimento, no intuito de ajudar, apenas auxilie dentro de sua capacidade.
  • 75. UFCD: Abordagem geral de noções básicas de primeiros socorros; Formador: Ana Isabel Pereira 74 A ação de um funcionário que seja detentor dos conhecimentos básicos de primeiros socorros, que socorra uma vítima tem a sua ação limitada com a chegada de pessoal especializado ao local.
  • 76. UFCD: Abordagem geral de noções básicas de primeiros socorros; Formador: Ana Isabel Pereira 75 10.Tarefas que em relação a esta temática se encontram no âmbito de intervenção do/a Técnico/a Auxiliar de Saúde 10.1.Tarefas que, sob orientação de um profissional de saúde, tem de executar sob sua supervisão direta O enfermeiro é um dos intervenientes do sistema de emergência e o seu papel é de vital importância junto do doente, pois possui formação humana, técnica e científica adequada para a prestação de cuidados em qualquer situação, particularmente em contextos de maior complexidade e constrangimento, sendo detentor de competências específicas que lhe permitem atuar de forma autónoma e interdependente, integrado na equipa de intervenção de emergência. Em qualquer circunstância, os enfermeiros deverão atuar em conformidade, mediante as suas qualificações profissionais. A Ordem dos Enfermeiros (2007) afirma que “só o enfermeiro pode assegurar os cuidados de enfermagem ao indivíduo, família e comunidade, em situações de acidente e/ou doença súbita, da qual poderá resultar a falência de uma ou mais funções vitais, pelo que deve integrar a equipa de socorro pré-hospitalar”. Assumindo que o enfermeiro afeto a esta área de intervenção é portador de formação específica orientada e oficialmente certificada, emitiu as seguintes orientações para as intervenções do enfermeiro no pré-hospitalar:  Atuar sempre de acordo com o seu enquadramento legal, procurando assegurar, no exercício das suas competências, a estabilização do indivíduo vítima de acidente e/ou
  • 77. UFCD: Abordagem geral de noções básicas de primeiros socorros; Formador: Ana Isabel Pereira 76 doença súbita, no local da ocorrência, garantindo a manutenção das funções vitais por todos os meios à sua disposição;  Garantir o acompanhamento e a vigilância durante o transporte primário e/ou secundário do indivíduo vítima de acidente e/ou doença súbita, desde o local da ocorrência até à unidade hospitalar de referência, assegurando a prestação de cuidados de enfermagem necessários à manutenção/recuperação das funções vitais durante o transporte;  Assegurar a continuidade dos cuidados de enfermagem e a transmissão da informação pertinente, sustentada em registos adequados, no momento da receção do indivíduo vítima de acidente e/ou doença súbita, na unidade hospitalar de referência;  Garantir adequada informação e acompanhamento à família do indivíduo vítima de acidente e/ou doença súbita, de forma a minimizar o seu sofrimento Neste âmbito, a nível pré-hospitalar, o enfermeiro é responsável pela supervisão direta dos técnicos/as auxiliares de saúde, nas suas funções designados por técnicos/as auxiliares de emergência médica, no desempenho das seguintes atividades:  Prestação de socorro pré-hospitalar na vertente não medicalizada;  Transporte de doentes urgentes/emergentes;  Condução de ambulâncias de emergência;  Colaboração ativa com o socorro pré-hospitalar na vertente medicalizada;  Registo da atividade exercida conforme normas em vigor;  Operação dos sistemas de informação e telecomunicações que equipam as ambulâncias de emergência;  Colaboração na formação em emergência médica sempre que for solicitado;  Cumprimento das normas de procedimento em vigor para as tripulações de ambulância de emergência e para a emergência médica pré-hospitalar em geral;  Tripulação de outras viaturas de emergência médica pré -hospitalar.
  • 78. UFCD: Abordagem geral de noções básicas de primeiros socorros; Formador: Ana Isabel Pereira 77 10.2.Tarefas que, sob orientação e supervisão de um profissional de saúde, pode executar sozinho/a As competências do técnico/a auxiliar de saúde, previstas no respetivo perfil profissional, não lhe garantem a autonomia necessária para o desempenho das funções de primeiros socorros em meio hospitalar, devendo as mesmas ser desempenhadas sob supervisão direta do profissional de saúde (médico ou enfermeiro). Estas consistem em: ATIVIDADES  Auxiliar na prestação de cuidados aos utentes, de acordo com orientações do enfermeiro: o Executar tarefas que exijam uma intervenção imediata e simultânea ao alerta do profissional de saúde; COMPETÊNCIAS
  • 79. UFCD: Abordagem geral de noções básicas de primeiros socorros; Formador: Ana Isabel Pereira 78 SABERES Conhecimentos de:  Sistema integrado de emergência médica.  Primeiros socorros. SABERES-FAZER  Aplicar normas e procedimentos a adotar perante uma situação de emergência no trabalho. Neste sentido, a sua ação inscreve-se no sentido de conhecimento das situações de emergência e respetivos procedimentos de alerta dos profissionais que lhe são hierarquicamente superiores, no sentido de coadjuvar a ação destes na aplicação de procedimentos mais específicos, os quais requerem conhecimentos técnico-científicos mais aprofundados. Não obstante, é fundamental o seu conhecimento profundo do SIEM e respetiva articulação com a dinâmica hospitalar, sobretudo no caso de desempenhar funções junto dos serviços de urgência.
  • 80. UFCD: Abordagem geral de noções básicas de primeiros socorros; Formador: Ana Isabel Pereira 79 Bibliografia AA VV. Emergência e Primeiros Socorros em Saúde Ocupacional, Ed. Direcção-Geral da Saúde: Programa Nacional de Saúde Ocupacional, 2010 AA VV., Manual TAS: Emergências médicas, Ed. INEM, 2012 AA VV., Manual TAS: Suporte básico de vida, Ed. INEM, 2012 Alves, Ana Paula et al. Noções de Saúde: Manual do Formando, Projeto Delfim, GICEA - Gabinete de Gestão de Iniciativas Comunitárias do Emprego, 2000 Baptista, Nelson, Manual de Primeiros-Socorros, Ed. Escola Nacional de Bombeiros, 2005 Oliveira, Amélia, Ser enfermeiro em Suporte Imediato de Vida: experiências, Dissertação de mestrado em Enfermagem médico-cirúrgica, Escola Superior de Enfermagem de Coimbra, 2011 Sites Consultados Autoridade Nacional de Proteção Civil http://www.prociv.pt/ INEM – Instituto Nacional de Emergência Média http://www.inem.pt