Resumo de apresentação no GT de ecoteologia no 32 Congresso internacional da SOTER. Material para discussão. Versa sobre os elementos de um paradigma para compreender ao mesmo tempo a evolução do cosmos e o ser humano.
1. Novo paradigma eco-cósmico
e a teologia. Um diálogo com Leonardo Boff
SOTER 2019 – Prof. Afonso Murad- GT 10
ecologiaefe.blogspot.com
Material provisório, para discussão em grupo
2. A visão de Leonardo Boff
• Síntese: BOFF, L. Características do novo paradigma
eco-cosmológico in: Lesbaupin,I; Cruz,M. Novos paradigmas para outro
mundo possível. São Paulo: Usina, 2019
• Presente em várias obras de Boff, especialmente: O
Tao da Libertação.
• Pretende apresentar uma leitura unificada do
universo, da história humana e da vida a partir
sobretudo da física quântica. Cosmogênese ->
biogênese -> antropogênese.
• Visa ajudar a travessia para o realmente humano,
amigo da vida, reverente diante da natureza e da
Terra e aberto ao Mistério de todas as coisas.
3. 10 Princípios
(a) totalidade/diversidade;
(b) interdependência, religação e autonomia relativa;
(c) relação/campos de força ou de energia;
(d) complexidade/interioridade;
(e) complementariedade/reciprocidade/caos;
(f) seta do tempo/entropia;
(g) destino comum/pessoal;
(h) bem comum cósmico e particular;
(i) criatividade e destrutividade;
(j) atitude holística e antropocentrismo.
4. Totalidade/diversidade
• O universo, o sistema Terra, o fenômeno humano
estão em constante evolução.
• Emergem como totalidades orgânicas e
dinâmicas construídas pelas redes das múltiplas
diversidades de energia e de matéria -> Holismo
5. Interdependência e autonomia relativa
• Todos os seres estão interligados uns com os outros, pois
um precisa do outro para existir e coevoluir ->
solidariedade cósmica de base.
• Todos os seres se encontram envolvidos numa teia de
relações. Fora da relação nada existe -> Campos de força
ou de energia.
• Cada ser goza de autonomia relativa porque possui
sentido e valor em si mesmo, independente do uso que os
humanos fizerem dele.
6. Complexidade/interioridade
• Tudo vem carregado de energias em diversos graus de
densidade e de interação. Matéria não existe. Ela é
energia altamente condensada e estabilizada e um campo
de grandes interações. Quando menos estabilizada e mais
difusa, mas envolvendo todas as energias, chamamos de
campo energético.
• As informações se originam das relações estabelecidas
entre os seres, desde as partículas mais originárias até a
emergência da vida consciente. Quanto maior for o
acúmulo de informações criando mais e mais ordens
complexas, maior é a interioridade, culminando com a
auto-consciência humana.
7. Complexidade/interioridade
• O princípio de consciência é igual em todos os seres mas o
modo de realização é diferente. Os seres relacionados entre si
geram a base originária da consciência. Há uma
intencionalidade do universo apontando para uma
interioridade, consciência supremamente complexa -> uma
totalidade consciente, inteligente e auto-organizativa
(A.Goswami, O universo autoconsciente,1998).
• Haveria um fio condutor que atravessa a totalidade do
processo cosmogênico que tudo unifica, que faz o caos
destrutivo ser generativo e a ordem sempre aberta a novas
interações gerando fenômenos cada vez mais complexos.
• A categoria Tao, Javé, Alá, Olorum e Deus heuristicamente
poderiam preencher este significado
8. Caos, ordem e incompletude
Toda a realidade se dá sob a forma de energia, de
informação e de matéria, de partícula e onda, ordem e
desordem, caos e cosmos e, no nível humano, na forma de
sapiens e de demens.
O processo global está sob a regência da implenitude e
abertura ao futuro.
9. Entropia e seta para a plenitude
• A seta do tempo confere às relações um caráter de
irreversibilidade. Ele está aberto para frente e para cima.
• Mas a seta termodinâmica do tempo dissipa a energia. Nos
sistemas fechados a entropia coexiste com a evolução
temporal.
• O universo é um sistema aberto que se autocria, se auto-
organiza e continuamente se autotranscende para
patamares mais altos de vida e de ordem. Estes escapam
da entropia e o abrem para o Mistério de uma vida sem
entropia e absolutamente dinâmica.
10. Destino comum e pessoal
• Origem comum + estamos todos interligados -> formamos
uma comunidade de destino, para um futuro aberto.
• Dentro dele se situa o destino pessoal e de cada ser, já que
em cada ser culmina o processo evolucionário.
• Como será este futuro e qual o nosso destino terminal?
Está no âmbito do Mistério e do Imprevisível.
11. Bem Comum Cósmico e humano
• O bem comum compreende toda a comunidade de vida,
planetária e cósmica.
• Tudo o que existe e vive merece existir, viver e conviver.
• O bem comum particular emerge da dinâmica do bem
comum universal.
12. A singularidade humana:
criatividade e destrutividade
• O ser humano é extremamente complexo e co-criativo.
Intervém na natureza para seu uso sustentável ou para a sua
exploração irracional.
• Como observador inter-age com tudo o que está à sua volta e
isso faz colapsar a função de onda que se solidifica em
partícula material (princípio de indeterminabilidade de
Heisenberg). Ele entra na constituição do mundo assim como
se apresenta, como realização de probabilidades quânticas
(partícula/onda).
• É ético: pode pesar os prós e os contras, agir para além da
lógica do próprio interesse e em favor do interesse dos seres
mais débeis, ou agredir a natureza e dizimar espécies.
13. Atitude holístico-ecológica
• Essa cosmovisão da ecologia integral supera o antropocentrismo
egóico da modernidade.
• Favorece sermos cada vez mais singulares e, ao mesmo tempo,
solidários, complementares e criadores.
• Estamos em sinergia com o inteiro universo, cujo termo final se
oculta no Mistério, no campo da impossibilidade humana.
• O impossível acontece: a Fonte originária de todo Ser, numa
palavra, Deus.
14. Reflexão crítica: os avanços
• A aproximação das categorias evolutivas e
cosmológicas com a antropologia e a teologia
estão presentes em:
-Gregory Bateson (Passos para uma ecologia da
mente)
-Fritjof Capra (A teia da Vida)
-Teillard de Chardin (O fenômeno Humano)
-Juan Luis Segundo (Pecado, Graça e entropia)
• Ela ajuda a explicar a realidade humana e sua
relação com o cosmos.
• Abre novas chaves para a antropologia teológica, a
ética, a espiritualidade e a escatologia.
15. Reflexão crítica: os limites
• Até que ponto o princípio da energia em
movimento ascendente dá conta de compreender
os complexos fenômenos históricos e os
movimentos culturais, religiosos e políticos
conservadores e destruidores?
• Como compreender o mistério do mal e da
iniquidade? É somente entropia e força
dissipadora?
• Como articular a física quântica com os
movimentos históricos?
• Outras questões para aprofundar na reflexão...