1) A rotação de pastejo entre equinos e ovinos pode reduzir a área não consumida no piquete e diminuir a pressão parasitária para ambas as espécies.
2) Cerca de um terço da área do piquete é deixada de ser consumida pelos equinos, que evitam comer no local onde defecaram.
3) A rotação com ovinos permite que essa área não consumida pelos equinos seja aproveitada, melhorando a eficiência do uso da terra e reduzindo custos.
Rotação de pastejo entre equinos e ovinos aumenta produção e reduz custos
1. Rotação de pastejo entre equinos e ovinos:
um olhar econômico
A importância da pastagem para os equinos é o convencionado para climas temperados é manter
bastante conhecida e reconhecida. Mesmo animais a relação de três ovinos para cada equino que havia
criados estabulados – fato cada dia mais comum – no piquete.
necessitam ingestão de fibras para o equilíbrio do Adicionalmente, evidencias mostram que o pas-
sistema digestório. Consequência direta deste fato toreio alternado entre equinos e ovinos pode redu-
Roberto Arruda de é o cuidado crescente com a formação de um bom zir a pressão parasitária para ambas as espécies.
Souza Lima pasto, com atenção para fertilidade do solo, esco- Os parasitas presentes nas fezes dos equinos em
Engenheiro agrônomo, lha da espécie, manejo e outros aspectos que signi- sua grande maioria são diferentes daqueles presen-
Doutor em
ficam relevantes investimentos para os criadores. tes nas fezes dos ovinos (Tabela 1), fazendo com
Economia Aplicada,
Prof. da ESALQ/USP , No entanto, ao se colocar equinos em um pi- que não haja uma transmissão de parasitas de uma
Pesquisador do CEPEA quete, tem-se conhecimento de que cerca de um espécie para outra, com os principais parasitas de
raslima@esalq.usp.br terço da área deixará de ser consumida devido a cada espécie além de com o tempo diminuir a po-
Ana Letícia Araujo seletividade desses animais em não comer no mes- pulação de nematódeos presentes na área que po-
Graduanda da mo lugar em que defecam e urinam, isto é, na área deriam infestar outro exemplar de uma das espéci-
ESALQ/USP
conhecida como “bosteiro”. Essa rejeição dura cerca es. É importante citar o fato de que os equinos se
de vinte e oito dias após seu uso. Essa área não alimentam tranquilamente na área onde os ovinos
consumida pode chegar inclusive a tomar metade defecaram uma vez que não tem problemas quanto
da área dependendo do tipo de manejo realizado. ao cheiro e a palatabilidade dessas áreas, só quan-
Devido a esse hábito, algumas áreas ficam super- do são utilizadas como bosteiro por eles (equinos)
pastejadas e outras sem pastejo nenhum, formando é que as áreas são rejeitadas.
murunduns. Além do problema dos murunduns, as Quanto à relação de pastos cultiváveis para as
áreas superpastejadas são degradadas rapidamente duas espécies em locais temperados, uma boa al-
devido ao hábito alimentar do cavalo, que consiste ternativa é a utilização de coast-cross em uma par-
em “cortar” a planta em uma altura muito próxima te da área, pois é consumida tanto por equinos quan-
do solo (razão pela qual se deve dar preferência a to por ovinos. Pode-se, inclusive, incluir em outra
plantas estoloníferas para reduzir essa degradação). parte da área com leguminosas de clima tempera-
Em termos econômicos, o assunto ganha impor- do. Já para climas tropicais, pode-se fazer uso de
tância ainda maior, pois significa que pelo menos alguma outra espécie do gênero Cynodon spp. e
um terço do volume financeiro aplicado na forma- incluir, em consórcio, alguma leguminosa de clima
ção e manutenção de pastos é perdido. tropical. Ambos os tipos de leguminosas (clima tem-
Uma forma de reduzir essa diferença entre as perado e tropical) além de servir como alimenta-
duas partes do piquete (a superpastejada e a não ção, representam um complemento nutricional, uma
pastejada) é a rotação com ovinos no mesmo pi- vez que são ricas em proteína. Adicionalmente, fi-
quete, para que esses pastejem na área não utilizada xam o nitrogênio, diminuindo a necessidade de adu-
(como alimento) pelos equinos. Esse método é uti- bação nitrogenada.
lizado a muitos anos na Europa e funciona muito Deve-se destacar que, tanto para equinos quan-
bem para aquela região. Ao se utilizar esse método, to para ovinos, é necessária uma boa preparação
do solo, com adubação corretiva. Além da aduba-
ção antes da instalação do pasto, a adubação de
Tabela 1: Parasitoses mais comuns em ovinos e em equinos cobertura e a roçada de igualação são essenciais
Parasitoses para as duas espécies, pois só assim as plantas
podem crescer com um conteúdo nutricional e al-
Ovinos Equinos tura adequados. A melhor época em média para
Cooperia punctata Anoplocephala perfoliata colocação dos equinos é de vinte e oito dias após a
adubação e roçada de igualação, quando as fezes
Haemonchus contortus Cyathostomum spp. restantes já foram mineralizadas e o odor já está
Oesophagostomum columbianum Gyalocephalus spp. quase inexistente. Já a colocação dos ovinos deve
ser feita após a retirada dos equinos, para que a
Ostertagia ostertagi Oxyuris equi
área rejeitada pelos equinos, onde o pasto continua
Strongyloides papillosus Parascaris equorum com altura elevada, seja utilizado pelos ovinos, evi-
tando a perda de pasto.
Trichostrongylus colubriformes Strongylus spp.
Com relação ao valor nutricional da forrageira,
2. Tabela 2: Custo do plantio e estabelecimento de 1,0 ha de Coast-Cross conforme o passar do tempo, esse
SERVIÇOS E INSUMOS UNID. QTDE. PREÇO R$ / ha %
valor diminui. Já a produção de maté-
1 - Preparo e correção do solo 534,52 31,46 ria seca por hectare aumenta inicial-
1.1 - Calagem mente, mas, e depois de um tempo, o
* Transporte interno do calcário htr 0,5 26,92 13,46 0,79 acúmulo de matéria seca também de-
* Distribuição do calcário htr 1,2 30,06 36,07 2,12 cai. Assim, é necessário estimar qual a
* Auxiliar de tratorista dh 0,3 18,64 5,59 0,33 época ideal para colocação dos animais
* Calcário dolomítico Kg 2500 0,10 250,00 14,72
no piquete uma vez que com a forra-
305,13 17,96
geira muito tenra, a lotação será me-
1.2 - Preparo do Solo
* Aração com arado de 3 discos htr 2,58 36,82 95,01 5,59
nor e poderá causar um aceleramento
* Gradagem c/niveladora (2 vezes ) htr 1,68 33,93 57,00 3,36 na degradação do pasto, enquanto que
152,01 8,95 se colocar os animais depois de muito
1.3 - Controle Inicial de Invasoras tempo, o capim estará “passado” e com
* Aplicação de herbicida htr 0,6 39,21 23,52 1,38 baixo valor nutritivo, sendo necessá-
* Auxiliar tratorista dh 0,1 18,64 1,86 0,11 rio um consumo maior de matéria seca
* Herbicida glyfosato l 4 13,00 52,00 3,06
para uma mesma absorção de nutrien-
77,39 4,56
tes além do aumento do consumo de
2 - Mudas
* Corte com alfange ou enxada dh 0,6 18,64 11,18 0,66
água. Deve-se ressaltar que alguns es-
* Transporte (+- 2 km) htr 1,75 26,92 47,12 2,77 tudos, inclusive, mostram que quando
* Carga e descarga dh 1,7 18,64 31,69 1,87 existe rotação de pastagem entre dife-
* Mudas (preço computado em serviços) t 2,5 0,00 0,00 0,00 rentes espécies, pode ocorrer aumen-
89,99 5,30 to no ganho de peso em uma das es-
3 - Plantio pécies quando não nas duas.
* Adubação manual a lanço dh 0,6 18,64 11,18 0,66 Na busca de quantificar o impacto
* Sulcagem e cobertura das mudas htr 5 36,82 184,12 10,84
econômico da rotação de pastejo entre
* Distribuição das mudas nos sulcos dh 5,4 18,64 100,66 5,93
equinos e ovinos, é necessário realizar
* Gradagem para nivelar o solo htr 0,84 33,93 28,50 1,68
* Transporte de adubo htr 0,5 26,92 13,46 0,79
a estimativa dos custos de plantio, es-
* Adubo para plantio (superf. simples) kg 550 0,46 253,00 14,89 tabelecimento e manutenção da pasta-
590,93 34,78 gem. O ideal é que isso seja feito indi-
4 - Tratos culturais vidualmente, caso a caso. Um modelo
4.1 - Controle de invasoras interessante para tanto é o elaborado
* Roçada ou corte c/ segadeira htr 1,5 39,00 58,51 3,44 pela EMBRAPA (Empresa Brasileira de
* Aplicação localizada de herbicida dhm 1 22,25 22,25 1,31
Pesquisa Agropecuária). A seguir é
* Herbicida glyfosato l 1 13,00 13,00 0,77
apresentado (Tabelas 2 e 3) as esti-
93,76 5,52
4.2 - Adubação de cobertura
mativas de custos realizadas por H.
* Distribuição manual do adubo dh 0,52 18,64 9,69 0,57 Resende, em setembro de 2005, para
* Transporte do adubo htr 0,5 26,92 13,46 0,79 a EMPRAPA. O leitor interessado po-
* Adubo para cobertura (20-00-20) kg 250 0,86 215,00 12,66 derá utilizar a estrutura da planilha,
238,16 14,02 adaptando-a para a sua propriedade,
4.3 - Irrigação especialmente com atualização da co-
FONTE: EMBRAPA (2010)
* Irrigação com conjunto convencional hci 7,5 12,20 91,52 5,39 luna referente ao preço.
5 - Outros custos
Apenas como exemplo hipotético,
* Assistência técnica sm 0,2 300,00 60,00 3,53
o custo anual da pastagem correspon-
6 - Custo total R$/ha 1.698,88 100,00
deria a R$ 1.797,68 / ha (R$ 1.698,88
de do plantio e estabelecimento e R$
Tabela 3: Custo anual de manutenção/ha da cultura de Coast-Cross
1.545,55 / ha de manutenção). O va-
SERVIÇOS E INSUMOS UNID. QTDE. PREÇO R$ / ha % lor estimado para o bosteiro seria, en-
1.1 - Adubação de cobertura - 4 vezes/ano tão, R$ 600,00 de cerca. Com a im-
* Distribuição manual do adubo dh 2,08 18,64 38,77 2,51 plantação da rotação entre equinos e
* Transporte do adubo (até 10 ha) htr 1,6 26,92 43,08 2,79 ovinos, essa perda é reduzida, repre-
* Adubo 20-05-20 (250 kg x 4 vezes) kg 1.000 0,95 950,00 61,47
sentando, assim, aumento na eficiên-
1.031,85 66,76
cia da utilização do piquete e uma di-
1.2 - Controle de invasoras - 4 vezes/ano 35,25 2,28
* Aplicação localizada de herbicida dhm 1 22,25 22,25 1,44
minuição no custo de cada hectare de
* Herbicida glyfosato l 1 13,00 13,00 0,84
pastagem utilizado para a criação de
1.3 - Irrigação 268,45 17,37 equinos existente na propriedade. Es-
* Irrigação com conjunto convencional (6 irrig. / ano) hci 22 12,20 268,45 17,37 sas características fazem com que a
FONTE: EMBRAPA (2010)
2 - Outros custos 210,00 13,59 rotação de pastagem entre equinos e
* Assistência técnica sm 0,1 300,00 30,00 1,94 ovinos seja interessante tanto do pon-
* Remuneração do uso da terra mês 12 15,00 180,00 11,65 to de vista econômico quanto do pon-
3 - Custo total de manutenção R$/ha 1.545,55 100 to de vista zootécnico.