O documento descreve a minhocultura no Brasil, incluindo sua história recente, espécies criadas comercialmente, métodos de criação em canteiros, e colheita de minhocas e húmus. A minhocultura é uma atividade que produz minhocas para isca de pesca e húmus orgânico para jardinagem, e tem potencial para gerar renda extra para agricultores.
Minhocultura: criação de minhocas para produção de húmus
1. MINHOCULTURA
A criação de minhocas (minhocultura) é, entre nós, uma atividade
recente e desconhecida do grande público. A
exemplo dos demais países da América do
Sul, ela teve início no final de 1983, com
matrizes trazidas da Itália pelo Comendador
Lino Morganti, para a sua propriedade em ltú
(SP).
Thomas Barret, considerado o "pai" da criação de minhocas em
cativeiro, foi o primeiro a demonstrar a viabilidade de criá-las em
larga escala, através de um sofisticado sistema de canteiros, na
década de 40, nos EUA, daí ser esse país considerado a pátria da
minhocultura.
O comércio de minhocas vivas, como isca para a pesca esportiva,
tem sido o grande responsável pelo desenvolvimento da minhocultura
em muitos países.
Nos EUA, estima-se que os 100 milhões de pescadores ali
existentes movimentam centenas de milhões de dólares anuais com o
comércio de minhocas para finalidades esportivas, dispondo, para
tanto, até de "containers" de tipo "caixa 24 horas".
No Brasil, os baixos investimentos exigidos na sua criação têm
levado muitas pessoas a se interessarem em explorar a minhocultura
como uma fonte de carne (proteína) barata, para a alimentação de
pequenos animais, como rãs, peixes, aves, camarão-de-água-doce, e,
principalmente, na produção de húmus, esterco de minhoca ou
vermicomposto (terra vegetal), para fins de jardinagem, florístico, de
paisagismo e da agricultura em geral, capaz de proporcionar-lhes um
rendimento extra.
As minhocas são animais que se caracterizam, em particular, por
apresentarem os seus corpos segmentados, interna e externamente.
Esses segmentos (somitos) que, conforme a espécie, variam
enormemente, desde sete nas espécies microscópicas, até mais de
quinhentos nos minhocuçus, e assemelham-se a pequenos anéis, daí
o porquê de elas serem chamadas de anelídeos, do Phylum Annelida.
De acordo com o número e o tamanho desses anéis, são
encontrados indivíduos desde cinco milímetros de comprimento até
3,30 metros, como a Megascolides australis, a gigante das minhocas.
Em todo o mundo, estima-se que existam cerca de 1.800
espécies de minhocas, ou mais de 3.000, incluindo-se as
desconhecidas.
2. REPRODUÇÃO
Os oligoquetas, como também são conhecidas as minhocas, são
animais hermafroditos, isto é, apresentam os órgãos reprodutores
masculinos e femininos num mesmo indivíduo. Entretanto, eles não
conseguem se autofecundar, havendo a necessidade do concurso de
um parceiro.
É interessante sabermos que a minhoca é hermafrodita e que
após o acasalamento, cada indivíduo, sem distinção, irá produzir um
casulo com até 7 ovos por dia (espécies comerciais).
ESPÉCIES COMERCIAIS
Apenas três espécies são criadas comercialmente:
1- Eisenia foetida, ou minhoca dos montes de esterco;
2- Lumbricus rubellus, ou minhoca de resíduos orgânicos, a
"verdadeira" Califórniana (California-red). Essas duas espécies,
embora sejam de origem européia, são conhecidas comercialmente
como "vermelha da Califórnia"; e
3- Eudrilus eugeniae, "african nightcrawler", a gigante africana, de
introdução mais recente, que vem se constituindo na "vedete" das
minhocas, entre criadores e pescadores.
A gigante africana pode atingir 22 centímetros de “bolo” de gigante africana pronto para comercialização
comprimento, sendo a mais preferida, apesar de apresentar como matriz, pesca ou alimentação animal.
o in conveniente da fuga dos canteiros.
No Brasil, estão sendo criadas (misturadas) as espécies 1 e 3, de
acordo com a classificação feita pelo professor Gilberto Righi, do
Departamento de Zoologia da Universidade de São Paulo, especialista
em oligoquetas. Devido ao nosso clima tropical, há uma
predominância da gigante africana nos canteiros dos criadores.
3. CRIAÇÃO
A criação é feita em canteiros de 1m de largura por 0,40m de
altura e comprimento variável de 10 a 15 metros.
Para a construção do canteiro, ao nível do solo, com fundo de
terra batida, podem ser usados tijolos, blocos, tábuas e o bambu
aberto no meio, com uma declividade interna de 2%, para facilitar o
sistema de drenagem.
Canteiros construídos com bambu aberto no meio, com fundo de terra
e protegidos com lona plástica nas laterais. Criado pelo autor.
MATÉRIA-PRIMA
Para o carregamento do canteiro, podemos usar o esterco animal
curtido, lixo domiciliar ou outra fonte de matéria orgânica em
decomposição, que, além de servirem como um ambiente natural
para as minhocas, são usados na sua alimentação. Para tanto, o
esterco de gado, o mais utilizado, deve ser fermentado-compostado.
Inicialmente, faz-se uma camada de restos de culturas, como
colmos e talos de plantas, folhas, capins e cascas, ricos em fibras
(carbono), com mais ou menos 30cm de altura, sobre a qual coloca-
se uma camada de mais ou menos 10-15cm de esterco fresco, rico
em nitrogênio e, assim, sucessivamente, até completar a pilha. Não
se deve esquecer que ao se fazer uma nova camada de material
fibroso mais esterco, a camada anterior deve ser umedecida. Essa
pilha deve ter 1,50 de altura, 2m de largura e 5 a 6m de
comprimento, com formato de um telhado com 4 águas.
Após a compostagem (cerca de 30 dias), quando a temperatura
da pilha esfriar, podemos, então, colocar o composto no canteiro para
que as minhocas promovam a sua humificação.
4. MATRIZES
As matrizes podem ser adquiridas com os criadores que as
comercializam, tendo, geralmente, como base de venda o litro de
minhocas (mais ou menos 1.500), cujo preço varia de acordo com a
região.
POVOAMENTO DO CANTEIRO
Para iniciantes: 1 litro de minhocas/metro quadrado de canteiro,
com comprimento de 5 a 6 metros (fase de adaptação e multiplicação
das matrizes) .
Canteiro comercial: 5-6 ou mais litros de minhocas/metro quadrado
de canteiro, já que elas foram produzidas pelo próprio criador.
As matrizes devem ser colocadas livremente na superfície do
canteiro logo na parte da manhã, e, a seguir, cobertas com o capim
que protege o canteiro, para evitar que elas fujam com a chegada da
noite.
CONDUÇÃO DO CANTEIRO
Além da alimentação (esterco), da temperatura, da acidez, da
aeração e da drenagem do canteiro, o teor de umidade é da máxima
importância para o desenvolvimento das minhocas; sempre que o
teor cair abaixo de 80%, o canteiro deve ser irrigado.
Cuidados especiais devem ser dados, quase que diariamente, aos
inimigos naturais das minhocas: galinha; porco; sanguessuga;
pássaros; formiga lava-pé; etc.
Bateria de canteiros de tijolos construídos acima do solo. Projeto
caro.
COLHEITA DAS MINHOCAS
5. A colheita pode ser manual, diretamente sobre o canteiro ou sobre
uma mesa, junto com o húmus (matrizes), ou ainda através de
máquinas (peneiras).
Segundo Bonanni, na Itália, alguns criadores com certa técnica
conseguem produzir até 4kg de minhocas por metro quadrado de
canteiro por mês.
Colheita manual de minhocas sobre uma mesa em local Colheita mecânica das minhocas e/ou húmus com peneira
sombreado, como matrizes. elétrica cilíndrica, rotativa. fazenda Fittipaldi Citrus, do senhor
Emerson Fittipaldi, em Araraquara, SP.
COLHEITA DO HÚMUS
Armazenamento do húmus em galpão, na sombra, pronto para
comercialização.
Dependendo da população inicial de minhocas e da condução do
canteiro, dentro de 30 dias, este poderá ser descarregado e o seu
húmus peneirado.
Produção esperada: Mais ou menos 150kg/m2/canteiro (40 a 50%
de umidade). O preço varia de acordo com a região.
6. A matéria orgânica humificada, no caso o vermicomposto, é de
grande importância para a fertilidade de nossos solos e,
conseqüentemente, para a produtividade agrícola, porque ela atua
nas propriedades físicas, químicas e biológicas do solo.