O documento discute a criação e evolução do homem segundo diferentes perspectivas religiosas e científicas. Também aborda a situação da AIDS no Brasil e em Botucatu, onde o número de casos se manteve estável em relação ao ano passado apesar da tendência de aumento globalmente. Médicos destacam a importância da prevenção combinada e do combate ao preconceito contra portadores do HIV.

1. DIÁRIO • QUINTA-FEIRA 1º/12/2016PÁGINA A4
Saúde
PAPO CABEÇA
por José Sebastião Pires Mendes
CRIAÇÃO E EVOLUÇÃO
O Homem escarafun-
cha tudo, com seu poder de
percepção ajustado às ne-
cessidades filosóficas e me-
tafísicas. Mas não é nada
fácil ver com certa clareza
a realidade das coisas. Por
exemplo, para tentar res-
ponder à celebre tríplice
perguntinha “quem somos,
porque existimos e para
onde vamos?”, os cientis-
tas e pensadores nunca se
cansam de pesquisar. Des-
de muito tempo, a Huma-
nidade tem apelado para
os livros sacros, e o mais
importante deles para nós,
ocidentais, é a Bíblia. Se-
gundo o Gênesis, a existên-
cia do mundo é atribuida a
Deus. E isso perdurou até
que a ciência sobrepujou
a religião, respeitando-a
apenas como reveladora de
verdades transcendentais
fundamentadas na fé e não
mais como fonte de conhe-
cimento.
A tal ponto chegou
o conceito bíblico da Cria-
ção, que no século XVII o
arcebispo irlandês Ussher,
baseando-se em estudos
bíblicos e outras fontes da
tradição, afirmou que a
criação do mundo ocorreu
no dia 23 de outubro do ano
de 4004, antes de Cristo!
Já nesse insólito resultado
podemos perceber a inver-
dade supostamente cientí-
fica, se considerarmos que
o ano, parcela do tempo,
depende das voltas que
nosso planeta dá em torno
de si mesmo e ao redor do
sol. Como poderia ter exis-
tido o ano de 4004 a.C. se
ele ainda nem tinha saído
das mãos do Criador? Es-
barra ainda a doutrina do
Criacionismo na teoria da
Evolução, embora existam
correntes de pesquisa que
apontam para uma combi-
nação entre as duas posi-
ções. Como o evolucionismo
de Darwin não está ple-
namente provado, restam
brechas em sua teoria que
podem simplesmente colo-
car o Homem como sendo
um fenômeno à parte, que
surgiu de repente em meio
aos bilhões de anos que fo-
ram necessários para que
as espécies se revezassem
na linha evolutiva. E as-
sim como permanece inse-
gura a criação do Homem,
também o é a criação do
planeta. O certo porém, é
que, pela radiometria, a
idade mais antiga dos mi-
nerais, como os cristais de
zircão, extraídos na Aus-
trália, é de 4.404 milhões
de anos. Pela astrometria,
comparando a massa e
luminosidade do sol com
outras estrelas, chega-se à
conclusão de que o sistema
solar, e portanto incluída a
Terra, tem 4.567 milhões
de anos.
Então resta definir, de
uma forma simplista, se o
mundo foi criado por uma
vontade consciente, ou evo-
luiu a partir de transfor-
mações naturais aleatórias
e por puro acaso. Mas se a
própria ciência reconhece
que existem leis poderosas
que agem sobre toda a Na-
tureza, essa casualidade
cai por terra. O padre jesu-
íta e paleontólogo Teilhard
de Chardin, autor de polê-
micos livros que misturam
ciência e teologia, afirmou
que “a vida é ascensão de
consciência”, querendo di-
zer que a própria consciên-
cia humana é produto de
uma consciência universal,
que ele chama de divina. E
citando Julian Huxley, em
seu livro “O fenômeno hu-
mano”, pag. 237, diz que
“o Homem não é mais que
a Evolução, que se tornou
consciente de si mesma”.
Atualmente, em 2014, o
Papa Francisco assim se
pronunciou: “A evolução
da Natureza não contrasta
com a noção de Criação, as-
sim como a Evolução pres-
supõe a criação de seres
que evoluem.” E podemos
pensar que tudo evolui, a
partir de uma conscienti-
zação geral, que trabalha e
luta para atingir sempre o
melhor. A coisa seria mais
ou menos assim: existiu
uma CRIAÇÃO EVOLU-
TIVA, da mesma forma
que existe uma EVOLU-
ÇÃO CRIATIVA..
Transportando toda
essa divagação para o
nosso dia-a-dia, gostaria
de comentar a recente
matéria divulgada por
este jornal sobre a alega-
ção da UPPH (Unidade
de Preservação do Patri-
mônio Histórico) de que a
rua que está sendo aberta
na área que envolve o Ins-
tituto de Educação Car-
doso de Almeida, estaria
contrariando as normas
do CONDEPHAAT, de
que ela é o braço técnico
e evolutivo. Concordo ple-
namente que o entorno de
monumentos tradicionais
e importantes de nossa
cidade deva ser preserva-
do, desde que seja cuidado
e mantido. Ora, é difícil
considerar que um blo-
co de paralelepípedo, por
exemplo, mal lapidado e
pior colocado, possa cons-
tituir uma espécie de relí-
quia dos tempos passados,
se não é, juntamente com
seus iguais, devidamente
adaptado às necessidades
do trânsito, que clama
pela evolução técnica, no
que diz respeito à urgên-
cia de praticidade, quando
impede um asfalto neces-
sário. A rua em questão,
advinda de liberação de
área doada à Igreja Cató-
lica nos tempos do corone-
lismo botucudo, revela-se
de suma importância no
necessário e urgente fluxo
do trânsito nessa região
estratégica. Respeito os de
opinião contrária, inega-
velmente respeitáveis em
sua preocupação com o va-
lor dos monumentos e áre-
as tombadas, mas vamos
refletir: quando alguma
coisa é realmente artísti-
ca e equivale a um tesouro
que resguarda a memória
cultural, é necessaria-
mente intocável. Porém
se sua criação, já de seu
início, supunha uma evo-
lução através dos tempos,
porque não aprimorá-la
e adaptá-la para melhor
proveito de sua inicial fi-
nalidade?
*Ex-bancário, professor, escritor e artista plástico. Formação:
ciências sociais e humanidades. Membro da ABL e CCB, é
colaborador do Diário nas quintas-feiras.
Saúde
O Ministério da Saúde informou que 260 mil pessoas sabem que estão infectadas pelo HIV no Brasil e não estão se
tratando. Outras 112 mil têm o vírus e não sabem por não apresentarem os sintomas, de acordo com a estimativa do
governo. De acordo com a diretora do Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais, Adele Benzaken, essas pessoas
que sabem que estão infectadas e não recebem o tratamento estão, em maior parte, em negação com relação ao vírus.
QUASE 30 CASOS DE AIDS
FORAM REGISTRADOS
NESTE ANO EM BOTUCATU
Ao contrário
da tendência
global, o número
permaneceu estável
em relação a 2015
MARCELLE CONTE
comunidade@diariodaserra.jor.br
O Dia Mundial de Luta
contra a AIDS é comemo-
rado hoje (1) e tem como
principais objetivos en-
fatizar a importância da
prevenção ao vírus HIV e
reforçar a solidariedade
com as pessoas que con-
vivem com esse vírus, já
que em escala global o
aumento de indivíduos
que adquirem a doença
é de cerca de 2 milhões
por ano. Em âmbito na-
cional, as estimativas in-
dicam que de 700 a 1 mi-
lhão de pessoas estejam
vivendo com AIDS. Em
contrapartida, Botucatu
tem registrado certa es-
tabilidade no número de
casos com relação ao ano
passado.
“O número de casos
novos de AIDS manteve-
-se parecido com o núme-
ro de 2015. No ano pas-
sado nós registramos 34
casos no município, neste
ano, até o momento, fo-
ram registrados outros
29 casos”, informou a co-
ordenadora do programa
de DST e AIDS de Botuca-
tu, Juliane Andrade.
Para que os números
possam se tornar ainda
menos expressivos, o
médico infectologista da
Faculdade de Medicina
de Botucatu, Alexandre
Naime Barbosa, explica
alternativas eficazes que
podem contribuir para a
população se proteger.
“Atualmente, a cam-
panha mais eficaz é di-
vulgar o que chamamos
de ‘Prevenção Combina-
da’. Ainda que o preser-
vativo continue sendo
a barreira mais efetiva
contra o HIV, há outras
formas adicionais, uma
delas é a PEP (Profilaxia
Pós-Exposição Sexual) ao
HIV. Em uma relação se-
xual em que o preserva-
tivo não foi usado, ou se
rompeu, se algumas me-
dicações anti-HIV forem
tomadas em até 72 ho-
ras, o risco de transmis-
são é 0%. Em Botucatu, a
PEP está disponível des-
de 2011 no SAEI-DAM,
o Hospital Dia, e no HC
UNESP, de forma gratui-
ta pelo SUS. Funciona
como uma ‘pílula do dia
seguinte’, para ser usada
em emergências”, infor-
ma o médico.
“Outra alternativa é
a PrEP (Profilaxia Pré-
-Exposição Sexual) ao
HIV. Em algumas popu-
lações de alto risco de
aquisição do HIV, por
exposições repetidas por
sexo desprotegido, o uso
de um comprimido anti-
-HIV todos os dias tem
mais de 96% de taxa de
proteção. Essa estratégia
está sendo implemen-
tada pelo Ministério da
Saúde, e em breve estará
disponível para algumas
indicações específicas”.
ENTENDA A
AIDS E O HIV
De acordo com
o Ministério da
Saúde, a sigla
HIV corresponde
ao termo em
inglês do Vírus da
Imunodeficiência
Humana, que é o
causador da AIDS.
A doença promove
o comprometimento
do sistema
imunológico
do paciente e é
transmitida através
de relações sexuais
desprotegidas, pelo
compartilhamento
de seringas
contaminadas ou
de mãe para filho
durante a gravidez.
“O VÍRUS É DEMOCRÁTICO”, AFIRMA MÉDICO
COMEMORAÇÃO DO DIA DE LUTA CONTRA A
AIDS É REALIZADA NO HOSPITAL DIA
O infectologista Ale-
xandre Naime Barbosa
destaca a questão do pre-
conceito sofrido pelas
pessoas portadoras do
vírus HIV como um fardo,
muitas vezes mais pesado
do que a própria doença.
“Vivemos em uma épo-
ca em que o tratamento
é altamente efetivo, e as
pessoas que vivem com
o HIV/Aids tem expecta-
tiva e qualidade de vida
semelhantes à população
em geral. Por isso costu-
mo dizer que o principal
fardo dessa doença atu-
almente é o preconceito
e estigma que esses indi-
víduos sofrem de pessoas
mal informadas. Não se
deve carregar culpa ou
vergonha por ser portador
do HIV: o vírus é demo-
crático, infectando homo
e heterossexuais, ho-
mens e mulheres, jovens
e idosos, ricos e pobres,
brancos, pretos, amarelos
ou vermelhos, católicos,
evangélicos, protestantes,
budistas e ateus”.
No dia em que as aten-
ções voltam-se para a im-
portância da prevenção
contra a AIDS, pacientes
do Hospital Dia, que é
especializado em infec-
tologia, puderam tomar
um café diferenciado, no
qual foram servidos mais
de 50 panetones que a
instituição recebeu por
meio de uma doação.
Por intermédio da as-
sessoria de imprensa, a
diretora técnica do hos-
pital, Lenice do Rosário
de Souza, informou que
este tipo de atitude co-
labora para o tratamen-
to dos pacientes. “Essas
doações são importantes
para os pacientes e para
nós. As confraterniza-
ções deixam os pacientes
mais felizes e são muito
propícias neste mês de
dezembro. Um paciente
mais feliz com certeza é
um paciente mais saudá-
vel”, declara a diretora.
A coordenadora do
programa DST e
AIDS de Botucatu,
Juliane Andrade.
“No ano passado nós
registramos 34 casos
no município, neste
ano, até o momento,
foram registrados
outros 29 casos”
O infectologista
Alexandre Naime
Barbosa fala
sobre medidas de
prevenção além
da camisinha:
“Em Botucatu, a
Profilaxia Pós-
Exposição Sexual
está disponível
SIDNEY TROVÃO / ARQUIVO PESSOAL