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Vassíli Vassílitch Svetiovídov, um velho ator cómico de 68 anos.
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A AÇÃO TRANSCORRE NO PALCO DE UM TEATRO DE PROVÍNCIA, À
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I
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GARGALHADAS) - Puxa vida! Essa é boa! Caí no sono lá
no camarim! O espetáculo já acabou faz tempo, todos saí-
ram do teatro, e eu ferrado no sono feito uma pedra. Ah,
seu velho caduco, seu velho caduco! Você não passa de
um cachorro velho! De modo que, então, você encheu a
cara a ponto de dormir sentado! Que gênio! Parabéns, meu
velho! (GRITA.) Egorka! Egorka, diacho! Petruchka! Estão
roncando, os capetas, que mil diabos e uma bruxa venham
puxar a perna de vocês! Egorka! (LEVANTA O BANCO,
SENTA-SE NELE E POUSA A VELA NO CHÃO.) Não se
ouve um pio... Só o eco responde... E que hoje eu dei ao
Egorka e ao Petruchka três rublos por conta da dedicação
de ambos - nem com sabujos será possível encontrá-los...
Saíram e devem ter fechado o teatro, os canalhas... (VIRA
A CABEÇA DE UM LADO PARA OUTRO.) Estou bêbado!
Ufa! O que eu entornei hoje de vinho e cerveja em prol do
espetáculo beneficente, Deus do céu! Meu corpo inteiro
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tresanda álcool, sinto a língua grossa, pastosa... Um enjô-
o... (PAUSA.) Que estupidez... o velho paspalhão tomou
um porre e nem sabe o motivo da comemoração... Ufa,
meu Deus!... Estou com os rins moídos, com a cachola es-
talando e com uma tremedeira da cabeça aos pés, além de
um frio e de uma escuridão na alma, como se estivesse
numa adega. Se não poupa a saúde, devia ao menos res-
peitar a própria velhice, seu João-Bobo... {Pausa.) A velhi-
ce... Você se faz de esperto, de valente e de imbecil rema-
tado, e a vida já passou... sessenta e oito anos já se foram,
adeus! Não há como voltar... A garrafa já foi entornada e
sobrou um restinho no fundo... Sobrou a borra... E isso
mesmo... Assim é que as coisas são, Vassiucha... Queira
ou não queira, já está na hora de ensaiar o papel de morto.
A boa morte não tarda a chegar... (OLHA À SUA FREN-
TE.) Trabalho num palco há 45 anos, mas, no entanto, pa-
rece que vejo um teatro de noite pela primeira vez... Sim,
pela primeira vez... Coisa curiosa, o lobo o comeu... {A-
PROXIMA-SE DA RIBALTA.) Não dá para enxergar na-
da... Bem, dá para enxergar um pouquinho a caixa do pon-
to... mais o camarote especial, o atril... mas todo o resto
permanece mergulhado nas trevas! Um fosso negro sem
fundo, como um túmulo, onde se esconde a própria morte...
Brr!... que frio! Da sala está vindo uma tiragem, como de
chaminé de lareira... Lugar mais apropriado para invocar
espíritos não poderia haver! É horrível, que diabo... Já es-
tou sentindo um arrepio na espinha... {Grita.) Egorka! Pe-
truchka! Cadê vocês, capetinhas? Senhor, por que fico
lembrando os nomes do maligno? Ah, meu Deus, dê um
basta nessas blasfêmias, dê um basta na bebida, pois você
já está velho, está na hora da morte... Aos 68 anos as pes-
soas vão às matinas, se preparam para morrer, enquanto
você... Oh, Senhor! Blasfêmias, cara de bêbado, este traje
de bufão... É de dar engulhes! Já, já irei trocar de roupa... E
horrível! Se passar a noite inteira aqui, posso morrer de
medo... (DIRIGE-SE PARA O SEU CAMARIM; NO MES-
MO INSTANTE, SAINDO DO CAMARIM MAIS AFASTA-
DO, NO FUNDO DO PALCO, APARECE NIKITA I-
VÁNYTCH NUM ROUPÃO BRANCO.)
II
SVETLOVÍDOV: (AO AVISTAR NIKITA IVÁNYTCH, DÁ UM GRITO DE
PAVOR E RECUA) Quem é você? Qual o motivo? Está
procurando quem? Quem é você?
IVÁNYTCH: Sou eu!
3
SVETLOVÍDOV: Eu quem?
IVÁNYTCH: (APROXIMANDO-SE DELE BEM DEVAGAR) - Sou eu... o
ponto, Nikita Iványtch... Vassil Vassílitch, sou eu!
SVETLOVÍDOV: (PROSTRADO, DEIXA-SE CAIR SOBRE O BANCO,
RESPIRA COM DIFICULDADE E TREME DOS PÉS À
CABEÇA) Meu Deus! Quem é? E você... você, Nikítuchka?
O que... que você está fazendo por aqui?
IVÁNYTCH: Eu passo as noites aqui nos camarins. Só não vá, por gen-
tileza, contar a Aleksei Fomitch... Não tenho onde passar a
noite, juro por Deus...
SVETLOVÍDOV: - É você, Nikítuchka... Meu Deus, meu Deus! Fui chamado
dezesseis vezes à cena, recebi três ramos de flores e mui-
tas outras coisas... todo mundo ficou extasiado, mas nem
uma criatura teve a pachorra de acordar o velho bêbado e
levá-lo para casa... Eu sou um velho, Nikítuchka... Tenho
68 anos... Estou doente! Meu espírito debilitado se esvai...
(APOIA-SE NO BRAÇO DO PONTO E CHORA.) Não vá
embora, Nikítuchka... Velho, sem forças, só me resta mor-
rer... Tenho medo, muito medo!...
IVÁNYTCH: (COM CARINHO E RESPEITO) Já é hora de ir para casa,
Vassil Vassílitch!
SVETLOVÍDOV: Não vou! Não tenho casa - não, não e não!
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SVETLOVÍDOV: Não quero ir para lá, não quero! Lá eu fico sozinho... não
tenho ninguém, Nikítuchka, nem parentes, nem mulher,
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rer e ninguém há de se lembrar de mim... Tenho medo de
ficar sozinho... Ninguém para me aquecer, para me acari-
nhar, para pôr o bêbado na cama... Quem me tem? Quem
precisa de mim? Quem me ama? Ninguém me ama, Nikí-
tuchka!
IVÁNYTCH: (POR ENTRE LÁGRIMAS) O público ama o senhor, Vassil
Vassílitch!
SVETLOVÍDOV: O público foi-se embora, está dormindo e esqueceu o seu
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SVETLOVÍDOV: Mas é que eu sou um ser humano, um ser vivo, nas minhas
veias corre sangue e não água. Sou um fidalgo, Nikítuchka,
de boa cepa... Antes de cair neste fosso, era oficial de arti-
lharia... Como eu era valente, boa pinta, um rapaz honesto,
4
cheio de coragem, de ardor! Deus, onde foi parar tudo is-
so? Nikítuchka, e depois, que ator eu me tornei, hein? (LE-
VANTANDO-SE, APOIA-SE NO BRAÇO DO PONTO.)
Onde foi parar tudo isso, o que é feito desse tempo? Deus
do céu! Olhei hoje para este fosso e lembrei-me de tudo,
tudo! Este fosso devorou 45 anos da minha vida, e que vi-
da, Nikítuchka! Olho agora para este fosso e vejo tudo, até
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mos da juventude, a fé, o ardor, o amor das mulheres! As
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IVÁNYTCH: Já é hora de ir para a cama, Vassil Vassílitch.
SVETLOVÍDOV: - Na época que eu era um ator jovem, que começava a me
entusiasmar pela profissão, lembro-me de uma que me
amou apenas pela minha arte... Elegante, esbelta como um
álamo, jovem, ingênua, pura e fogosa como um amanhecer
de verão! Não havia noite que pudesse resistir ao olhar de
seus olhos azuis, ao seu sorriso maravilhoso. As ondas do
mar quebram-se de encontro às pedras, mas de encontro
às ondas de seus cabelos quebravam-se penhascos, gelei-
ras e montes de neve! Lembro-me de estar diante dela,
como estou agora diante de você... Estava naquele dia
mais linda do que nunca, olhava para mim de um jeito, que
nem mesmo no túmulo eu hei de esquecer esse olhar...
Carícia, veludo, voragem, brilho da juventude! Enlevado, di-
toso, caio a seus pés, peco-lhe que me faça feliz... (CON-
TINUA COM VOZ APAGADA.) Mas ela... ela diz: abando-
ne o palco! A-ban-do-ne o pal-co!... Está entendendo? Ela
podia amar um ator, mas casar-se com ele - isso nunca!
Lembro que naquele dia eu estava representando... Era um
papel infame, um papel de palhaço... Enquanto eu repre-
sentava, sentia que meus olhos iam se abrindo... Compre-
endi então que não existe nenhuma arte sagrada, que tudo
é sonho e ilusão, que eu não passo de um escravo, um
brinquedo para o ócio dos outros, um palhaço, um saltim-
banco! Foi então que compreendi o público! Desde esse
dia, deixei de acreditar nos aplausos, nos ramos de flores,
nos arroubos... É, Nikítuchka! Ele me aplaude, compra mi-
nha fotografia por um rublo, mas continuo a ser um estra-
nho para ele, a ser um lixo, quase uma meretriz!... Por vai-
dade, ele procura me conhecer de perto, mas nunca se re-
baixará a me dar a mão de sua irmã, de sua filha... Não a-
credito nele! (DEIXA-SE CAIR SOBRE O BANCO.) Não
acredito!
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IVÁNYTCH: O senhor está parecendo um cadáver, Vassil Vassílitch!
Até mesmo em mim mete medo... Vamos para casa, seja
bonzinho!
SVETLOVÍDOV: Naquele dia eu vi com clareza... e isso custou-me caro, Ni-
kítuchka! Depois dessa história... depois dessa moça...
comecei a perder o rumo, a viver ao léu, sem olhar para o
futuro... Interpretava bufões, trocistas, fazia papel de bobo,
corrompia as mentes, e, no entanto, que artista eu era, que
talento! Enterrei meu talento, rebaixei e estropiei minha lin-
guagem, perdi a imagem e a semelhança... Fui devorado,
engolido por este fosso negro! Antes eu não sentia, mas
hoje... ao acordar, olhei para trás e vi meus 68 anos. Só
agora eu me dei conta da velhice! A festa acabou! {SOLU-
ÇA.) A festa acabou!
IVÁNYTCH: Vassil Vassílitch! Meu caro senhor, meu bom amigo... Va-
mos, sossegue... Meu Deus! {GRITA.) Petruchka! Egorka!
SVETLOVÍDOV: E, no entanto, que talento, que força! Você não pode ima-
ginar que dicção, quanto sentimento e graça, quantos a-
cordes... (BATE NO PEITO) neste peito! É de perder o fô-
lego!... Escute, velho... espere, tente recobrar o fôlego... Lá
vai um trecho do Godunov:
A sombra do Terrível como filho reconheceu
A mim, e Dimítri, lá de seu túmulo, me batizou,
As multidões ao meu redor sublevou
E Boris em sacrifício me ofereceu.
Eu sou o tsariévitch5
. Basta. É uma desonra
Curvar-me ao orgulho da polonesa!
Nada mal, hein? (COM VIVACIDADE.) Espere, agora um
do Rei Lear... Imagine o céu negro, a chuva, trovoadas -
trrr!... relâmpagos - dzzz!... rasgando o céu, e nisso:
Soprai, oh ventos! Até que vossas faces rebentem!
Soprai com violência! Trombas e cataratas, vomitai tor-
rentes,
Submergindo os nossos campanários até os corchéus!
Oh, chamas sulfurosas, rápidas como o pensamento
Precursoras do raio que fende os carvalhos,
Incendiai-me os cabelos brancos. E tu, ó trovão,
Que fazes tremer tudo, toma o mundo todo plano;
Quebra os moldes da natureza;
Extermina, um momento, os germes
Que produzem o homem ingrato.
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(COM IMPACIÊNCIA.) Depressa, a réplica do bobo! (BA-
TE OS PÉS.) Diga a réplica do bobo, depressa! Estou sem
tempo!
IVÁNYTCH: (REPRESENTANDO O BOBO.) - "Oh, titio, mais vale água
benta em quarto agasalhado, do que esta chuva aqui, as-
sim, ao ar livre. Bom, titio, entra e pede a bênção às tuas fi-
lhas! Isto não é noite que se compadeça de ajuizados ou
de tolos."
SVETLOVÍDOV: (CONTINUA)
Ribomba, ó tempestade!
Fogo cospe; chuva, vomita!
Nem a chuva, nem o vento, nem o trovão,
Nem o fogo são filhas minhas!
Vós, oh elementos ingratos, é que não sois!
Eu não vos dei nenhum reino!
Eu não vos chamei de meus filhos.
Que força! Que talento! Que artista! Mais alguma coisa...
mais alguma coisa parecida... para recordar os velhos tem-
pos... Vamos tentar (DÁ UMA GARGALHADA DE SATIS-
FAÇÃO) um trecho do Hamlet: "Oh, as flautas! Deixai-me
ver uma! (PARA NIKITA IVÁNYTCH.) Falando-vos em par-
ticular, por que tentais pôr-me do lado do vento, como se
quisésseis impelir-me a alguma rede?"
IVÁNYTCH: "Oh, meu senhor, se eu sou atrevido em minha conduta,
deveis levá-lo à conta da impetuosidade do meu afeio."
SVETLOVÍDOV: "Não entendo bem isso. Quereis tocar esta flauta?"
IVÁNYTCH: "Não conseguiria, senhor."
SVETLOVÍDOV: "Eu vos peço."
IVÁNYTCH: "Acreditai, não conseguiria".
SVETLOVÍDOV: "Eu vos suplico".
IVÁNYTCH: "Não sei lidar com ela, meu senhor".
SVETLOVÍDOV: "É tão fácil como mentir. Regulai estes orifícios com os
quatro dedos e o polegar, dai-lhe alento com a boca, e ela
fraseará a mais eloqüente música. Olhai, estas são as cha-
ves".
IVÁNYTCH: "Mas não sei fazê-las externar harmonia alguma; falta-me
arte para isso".
SVETLOVÍDOV: "Pois vede agora em que mísera coisa me transformais!
Quereis tocar-me; presumis conhecer-me as chaves; aspi-
7
rais a arrancar o coração de meu mistério; pretendeis tirar-
me sons, da nota mais baixa a mais alta... e, apesar de ha-
ver música, excelente melodia, neste pequeno instrumento
de sopro, não podeis fazê-lo falar. Pelo sangue de Cristo,
julgais que sou mais fácil de ser tocado do que uma flauta;
dai-me o nome do instrumento que quiserdes; malgrado a
importunação, não sabeis tocar-me." (RI ÀS GARGALHA-
DAS E APLAUDE.) Bravo! Bis! Bravo! Com os diabos,
quem falou em velhice? Não há velhice alguma, é tudo dis-
parate, tolice. O vigor jorra de todas as minhas veias como
de um chafariz, - isto é juventude, viço, vitalidade! Onde há
talento, Nikítuchka, não há velhice! Ficou aturdido, Nikítu-
chka? Ficou zonzo? Espere, deixe que eu também me re-
cupere... Oh, Senhor, meu Deus! Escute esta, que ternura,
que delicadeza, que música! Psiu... Silêncio!:
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O céu diáfano, as estrelas cintilam.
Vencer a própria sonolência
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As prateadas folhas do álamo...
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que foi isso?
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to, Vassil Vassílitch! Que talento!
SVETLOVÍDOV: {GRITA, VIRANDO-SE PARA O LADO DO RUÍDO) Por
aqui, meus heróis! (PARA NIKITA ÏVÁNYTCH.) Vamos
trocar de roupa... Não há velhice alguma, é tudo disparate,
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ro é esse? Minha boa tolinha, põe-se então a choramingar?
Eh, não está bem! Não, isto não está nada bem! Vamos,
vamos, meu velho, que jeito de olhar! Por que olhar assim?
Vamos, vamos... (ABRAÇA-O, ENTRE LÁGRIMAS.) Não
precisa chorar... Onde há arte, onde há talento, não há ve-
lhice, nem solidão, nem doença, e a própria morte só existe
pela metade... (CHORA.) Não, Nikítuchka, nossa festa já
acabou. Que é do meu talento? Não passo de um limão
espremido, um picolé, um prego enferrujado, quanto a você
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{VÃO ANDANDO.) Que é do meu talento? Nas peças sé-
rias só presto para a comitiva de Fortimbras... e até para
isso já estou velho... Pois é... Lembra-se dessa passagem
do Otelo, Nikítuchka?
8
Adeus sossego d'alma! Adeus alegria!
Adeus tropas emplumadas!
Guerras soberbas, que transmudais a
Ambição numa virtude, adeus, adeus!...
Adeus corcel relinchante,
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gloriosa!
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SVETLOVÍDOV: Ou disso, então:
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O Canto do Cisne

  • 1. 1 O CANTO DO CISNE Estudo dramático em um ato personagens Vassíli Vassílitch Svetiovídov, um velho ator cómico de 68 anos. Nikita Iványtch, um velho ponto. A AÇÃO TRANSCORRE NO PALCO DE UM TEATRO DE PROVÍNCIA, À NOITE, DEPOIS DO ESPETÁCULO. UM PALCO DESPOJADO DE TEATRO PROVINCIANO DE SEGUNDA CATEGORIA. A DIREITA, UMA FILEIRA DE PORTAS SEM PINTURA E MAL PREGADAS, QUE LEVAM AOS CAMA- RINS; O PLANO ESQUERDO E O FUNDO DO PALCO ESTÃO ATULHADOS DE CACARECOS. NO CENTRO DO PALCO, UM BANCO CAÍDO. - NOITE. ESCURIDÃO. I SVETLOVÍDOV: (EM TRAJES DE CALCHAS, PERSONAGEM DA PEÇA “TROILA E CRESSEILDA”, DE SHAKESPEARE, COM UMA VELA NA MÃO, SAI DE UM CAMARIM, RINDO ÀS GARGALHADAS) - Puxa vida! Essa é boa! Caí no sono lá no camarim! O espetáculo já acabou faz tempo, todos saí- ram do teatro, e eu ferrado no sono feito uma pedra. Ah, seu velho caduco, seu velho caduco! Você não passa de um cachorro velho! De modo que, então, você encheu a cara a ponto de dormir sentado! Que gênio! Parabéns, meu velho! (GRITA.) Egorka! Egorka, diacho! Petruchka! Estão roncando, os capetas, que mil diabos e uma bruxa venham puxar a perna de vocês! Egorka! (LEVANTA O BANCO, SENTA-SE NELE E POUSA A VELA NO CHÃO.) Não se ouve um pio... Só o eco responde... E que hoje eu dei ao Egorka e ao Petruchka três rublos por conta da dedicação de ambos - nem com sabujos será possível encontrá-los... Saíram e devem ter fechado o teatro, os canalhas... (VIRA A CABEÇA DE UM LADO PARA OUTRO.) Estou bêbado! Ufa! O que eu entornei hoje de vinho e cerveja em prol do espetáculo beneficente, Deus do céu! Meu corpo inteiro
  • 2. 2 tresanda álcool, sinto a língua grossa, pastosa... Um enjô- o... (PAUSA.) Que estupidez... o velho paspalhão tomou um porre e nem sabe o motivo da comemoração... Ufa, meu Deus!... Estou com os rins moídos, com a cachola es- talando e com uma tremedeira da cabeça aos pés, além de um frio e de uma escuridão na alma, como se estivesse numa adega. Se não poupa a saúde, devia ao menos res- peitar a própria velhice, seu João-Bobo... {Pausa.) A velhi- ce... Você se faz de esperto, de valente e de imbecil rema- tado, e a vida já passou... sessenta e oito anos já se foram, adeus! Não há como voltar... A garrafa já foi entornada e sobrou um restinho no fundo... Sobrou a borra... E isso mesmo... Assim é que as coisas são, Vassiucha... Queira ou não queira, já está na hora de ensaiar o papel de morto. A boa morte não tarda a chegar... (OLHA À SUA FREN- TE.) Trabalho num palco há 45 anos, mas, no entanto, pa- rece que vejo um teatro de noite pela primeira vez... Sim, pela primeira vez... Coisa curiosa, o lobo o comeu... {A- PROXIMA-SE DA RIBALTA.) Não dá para enxergar na- da... Bem, dá para enxergar um pouquinho a caixa do pon- to... mais o camarote especial, o atril... mas todo o resto permanece mergulhado nas trevas! Um fosso negro sem fundo, como um túmulo, onde se esconde a própria morte... Brr!... que frio! Da sala está vindo uma tiragem, como de chaminé de lareira... Lugar mais apropriado para invocar espíritos não poderia haver! É horrível, que diabo... Já es- tou sentindo um arrepio na espinha... {Grita.) Egorka! Pe- truchka! Cadê vocês, capetinhas? Senhor, por que fico lembrando os nomes do maligno? Ah, meu Deus, dê um basta nessas blasfêmias, dê um basta na bebida, pois você já está velho, está na hora da morte... Aos 68 anos as pes- soas vão às matinas, se preparam para morrer, enquanto você... Oh, Senhor! Blasfêmias, cara de bêbado, este traje de bufão... É de dar engulhes! Já, já irei trocar de roupa... E horrível! Se passar a noite inteira aqui, posso morrer de medo... (DIRIGE-SE PARA O SEU CAMARIM; NO MES- MO INSTANTE, SAINDO DO CAMARIM MAIS AFASTA- DO, NO FUNDO DO PALCO, APARECE NIKITA I- VÁNYTCH NUM ROUPÃO BRANCO.) II SVETLOVÍDOV: (AO AVISTAR NIKITA IVÁNYTCH, DÁ UM GRITO DE PAVOR E RECUA) Quem é você? Qual o motivo? Está procurando quem? Quem é você? IVÁNYTCH: Sou eu!
  • 3. 3 SVETLOVÍDOV: Eu quem? IVÁNYTCH: (APROXIMANDO-SE DELE BEM DEVAGAR) - Sou eu... o ponto, Nikita Iványtch... Vassil Vassílitch, sou eu! SVETLOVÍDOV: (PROSTRADO, DEIXA-SE CAIR SOBRE O BANCO, RESPIRA COM DIFICULDADE E TREME DOS PÉS À CABEÇA) Meu Deus! Quem é? E você... você, Nikítuchka? O que... que você está fazendo por aqui? IVÁNYTCH: Eu passo as noites aqui nos camarins. Só não vá, por gen- tileza, contar a Aleksei Fomitch... Não tenho onde passar a noite, juro por Deus... SVETLOVÍDOV: - É você, Nikítuchka... Meu Deus, meu Deus! Fui chamado dezesseis vezes à cena, recebi três ramos de flores e mui- tas outras coisas... todo mundo ficou extasiado, mas nem uma criatura teve a pachorra de acordar o velho bêbado e levá-lo para casa... Eu sou um velho, Nikítuchka... Tenho 68 anos... Estou doente! Meu espírito debilitado se esvai... (APOIA-SE NO BRAÇO DO PONTO E CHORA.) Não vá embora, Nikítuchka... Velho, sem forças, só me resta mor- rer... Tenho medo, muito medo!... IVÁNYTCH: (COM CARINHO E RESPEITO) Já é hora de ir para casa, Vassil Vassílitch! SVETLOVÍDOV: Não vou! Não tenho casa - não, não e não! IVÁNYTCH Deus do céu! Nem onde mora o senhor se lembra! SVETLOVÍDOV: Não quero ir para lá, não quero! Lá eu fico sozinho... não tenho ninguém, Nikítuchka, nem parentes, nem mulher, nem filhos... Sozinho, como o vento no campo... Vou mor- rer e ninguém há de se lembrar de mim... Tenho medo de ficar sozinho... Ninguém para me aquecer, para me acari- nhar, para pôr o bêbado na cama... Quem me tem? Quem precisa de mim? Quem me ama? Ninguém me ama, Nikí- tuchka! IVÁNYTCH: (POR ENTRE LÁGRIMAS) O público ama o senhor, Vassil Vassílitch! SVETLOVÍDOV: O público foi-se embora, está dormindo e esqueceu o seu bufão! Não, ninguém precisa de mim, ninguém me ama... Nem mulher nem filhos eu tenho... IVÁNYTCH Ora, não há porque se afligir... SVETLOVÍDOV: Mas é que eu sou um ser humano, um ser vivo, nas minhas veias corre sangue e não água. Sou um fidalgo, Nikítuchka, de boa cepa... Antes de cair neste fosso, era oficial de arti- lharia... Como eu era valente, boa pinta, um rapaz honesto,
  • 4. 4 cheio de coragem, de ardor! Deus, onde foi parar tudo is- so? Nikítuchka, e depois, que ator eu me tornei, hein? (LE- VANTANDO-SE, APOIA-SE NO BRAÇO DO PONTO.) Onde foi parar tudo isso, o que é feito desse tempo? Deus do céu! Olhei hoje para este fosso e lembrei-me de tudo, tudo! Este fosso devorou 45 anos da minha vida, e que vi- da, Nikítuchka! Olho agora para este fosso e vejo tudo, até os menores detalhes, como vejo o seu rosto. Os entusias- mos da juventude, a fé, o ardor, o amor das mulheres! As mulheres, Nikítuchka! IVÁNYTCH: Já é hora de ir para a cama, Vassil Vassílitch. SVETLOVÍDOV: - Na época que eu era um ator jovem, que começava a me entusiasmar pela profissão, lembro-me de uma que me amou apenas pela minha arte... Elegante, esbelta como um álamo, jovem, ingênua, pura e fogosa como um amanhecer de verão! Não havia noite que pudesse resistir ao olhar de seus olhos azuis, ao seu sorriso maravilhoso. As ondas do mar quebram-se de encontro às pedras, mas de encontro às ondas de seus cabelos quebravam-se penhascos, gelei- ras e montes de neve! Lembro-me de estar diante dela, como estou agora diante de você... Estava naquele dia mais linda do que nunca, olhava para mim de um jeito, que nem mesmo no túmulo eu hei de esquecer esse olhar... Carícia, veludo, voragem, brilho da juventude! Enlevado, di- toso, caio a seus pés, peco-lhe que me faça feliz... (CON- TINUA COM VOZ APAGADA.) Mas ela... ela diz: abando- ne o palco! A-ban-do-ne o pal-co!... Está entendendo? Ela podia amar um ator, mas casar-se com ele - isso nunca! Lembro que naquele dia eu estava representando... Era um papel infame, um papel de palhaço... Enquanto eu repre- sentava, sentia que meus olhos iam se abrindo... Compre- endi então que não existe nenhuma arte sagrada, que tudo é sonho e ilusão, que eu não passo de um escravo, um brinquedo para o ócio dos outros, um palhaço, um saltim- banco! Foi então que compreendi o público! Desde esse dia, deixei de acreditar nos aplausos, nos ramos de flores, nos arroubos... É, Nikítuchka! Ele me aplaude, compra mi- nha fotografia por um rublo, mas continuo a ser um estra- nho para ele, a ser um lixo, quase uma meretriz!... Por vai- dade, ele procura me conhecer de perto, mas nunca se re- baixará a me dar a mão de sua irmã, de sua filha... Não a- credito nele! (DEIXA-SE CAIR SOBRE O BANCO.) Não acredito!
  • 5. 5 IVÁNYTCH: O senhor está parecendo um cadáver, Vassil Vassílitch! Até mesmo em mim mete medo... Vamos para casa, seja bonzinho! SVETLOVÍDOV: Naquele dia eu vi com clareza... e isso custou-me caro, Ni- kítuchka! Depois dessa história... depois dessa moça... comecei a perder o rumo, a viver ao léu, sem olhar para o futuro... Interpretava bufões, trocistas, fazia papel de bobo, corrompia as mentes, e, no entanto, que artista eu era, que talento! Enterrei meu talento, rebaixei e estropiei minha lin- guagem, perdi a imagem e a semelhança... Fui devorado, engolido por este fosso negro! Antes eu não sentia, mas hoje... ao acordar, olhei para trás e vi meus 68 anos. Só agora eu me dei conta da velhice! A festa acabou! {SOLU- ÇA.) A festa acabou! IVÁNYTCH: Vassil Vassílitch! Meu caro senhor, meu bom amigo... Va- mos, sossegue... Meu Deus! {GRITA.) Petruchka! Egorka! SVETLOVÍDOV: E, no entanto, que talento, que força! Você não pode ima- ginar que dicção, quanto sentimento e graça, quantos a- cordes... (BATE NO PEITO) neste peito! É de perder o fô- lego!... Escute, velho... espere, tente recobrar o fôlego... Lá vai um trecho do Godunov: A sombra do Terrível como filho reconheceu A mim, e Dimítri, lá de seu túmulo, me batizou, As multidões ao meu redor sublevou E Boris em sacrifício me ofereceu. Eu sou o tsariévitch5 . Basta. É uma desonra Curvar-me ao orgulho da polonesa! Nada mal, hein? (COM VIVACIDADE.) Espere, agora um do Rei Lear... Imagine o céu negro, a chuva, trovoadas - trrr!... relâmpagos - dzzz!... rasgando o céu, e nisso: Soprai, oh ventos! Até que vossas faces rebentem! Soprai com violência! Trombas e cataratas, vomitai tor- rentes, Submergindo os nossos campanários até os corchéus! Oh, chamas sulfurosas, rápidas como o pensamento Precursoras do raio que fende os carvalhos, Incendiai-me os cabelos brancos. E tu, ó trovão, Que fazes tremer tudo, toma o mundo todo plano; Quebra os moldes da natureza; Extermina, um momento, os germes Que produzem o homem ingrato.
  • 6. 6 (COM IMPACIÊNCIA.) Depressa, a réplica do bobo! (BA- TE OS PÉS.) Diga a réplica do bobo, depressa! Estou sem tempo! IVÁNYTCH: (REPRESENTANDO O BOBO.) - "Oh, titio, mais vale água benta em quarto agasalhado, do que esta chuva aqui, as- sim, ao ar livre. Bom, titio, entra e pede a bênção às tuas fi- lhas! Isto não é noite que se compadeça de ajuizados ou de tolos." SVETLOVÍDOV: (CONTINUA) Ribomba, ó tempestade! Fogo cospe; chuva, vomita! Nem a chuva, nem o vento, nem o trovão, Nem o fogo são filhas minhas! Vós, oh elementos ingratos, é que não sois! Eu não vos dei nenhum reino! Eu não vos chamei de meus filhos. Que força! Que talento! Que artista! Mais alguma coisa... mais alguma coisa parecida... para recordar os velhos tem- pos... Vamos tentar (DÁ UMA GARGALHADA DE SATIS- FAÇÃO) um trecho do Hamlet: "Oh, as flautas! Deixai-me ver uma! (PARA NIKITA IVÁNYTCH.) Falando-vos em par- ticular, por que tentais pôr-me do lado do vento, como se quisésseis impelir-me a alguma rede?" IVÁNYTCH: "Oh, meu senhor, se eu sou atrevido em minha conduta, deveis levá-lo à conta da impetuosidade do meu afeio." SVETLOVÍDOV: "Não entendo bem isso. Quereis tocar esta flauta?" IVÁNYTCH: "Não conseguiria, senhor." SVETLOVÍDOV: "Eu vos peço." IVÁNYTCH: "Acreditai, não conseguiria". SVETLOVÍDOV: "Eu vos suplico". IVÁNYTCH: "Não sei lidar com ela, meu senhor". SVETLOVÍDOV: "É tão fácil como mentir. Regulai estes orifícios com os quatro dedos e o polegar, dai-lhe alento com a boca, e ela fraseará a mais eloqüente música. Olhai, estas são as cha- ves". IVÁNYTCH: "Mas não sei fazê-las externar harmonia alguma; falta-me arte para isso". SVETLOVÍDOV: "Pois vede agora em que mísera coisa me transformais! Quereis tocar-me; presumis conhecer-me as chaves; aspi-
  • 7. 7 rais a arrancar o coração de meu mistério; pretendeis tirar- me sons, da nota mais baixa a mais alta... e, apesar de ha- ver música, excelente melodia, neste pequeno instrumento de sopro, não podeis fazê-lo falar. Pelo sangue de Cristo, julgais que sou mais fácil de ser tocado do que uma flauta; dai-me o nome do instrumento que quiserdes; malgrado a importunação, não sabeis tocar-me." (RI ÀS GARGALHA- DAS E APLAUDE.) Bravo! Bis! Bravo! Com os diabos, quem falou em velhice? Não há velhice alguma, é tudo dis- parate, tolice. O vigor jorra de todas as minhas veias como de um chafariz, - isto é juventude, viço, vitalidade! Onde há talento, Nikítuchka, não há velhice! Ficou aturdido, Nikítu- chka? Ficou zonzo? Espere, deixe que eu também me re- cupere... Oh, Senhor, meu Deus! Escute esta, que ternura, que delicadeza, que música! Psiu... Silêncio!: É calma a noite ucraniana, O céu diáfano, as estrelas cintilam. Vencer a própria sonolência Não pretende o ar. Apenas tremem As prateadas folhas do álamo... (OUVE-SE O RUÍDO DE PORTAS SENDO ABERTAS.) O que foi isso? IVÁNYTCH: Devem ser Petruchka e Egorka que chegaram... Que talen- to, Vassil Vassílitch! Que talento! SVETLOVÍDOV: {GRITA, VIRANDO-SE PARA O LADO DO RUÍDO) Por aqui, meus heróis! (PARA NIKITA ÏVÁNYTCH.) Vamos trocar de roupa... Não há velhice alguma, é tudo disparate, absurdo... (DÁ GARGALHADAS DE ALEGRIA.) Que cho- ro é esse? Minha boa tolinha, põe-se então a choramingar? Eh, não está bem! Não, isto não está nada bem! Vamos, vamos, meu velho, que jeito de olhar! Por que olhar assim? Vamos, vamos... (ABRAÇA-O, ENTRE LÁGRIMAS.) Não precisa chorar... Onde há arte, onde há talento, não há ve- lhice, nem solidão, nem doença, e a própria morte só existe pela metade... (CHORA.) Não, Nikítuchka, nossa festa já acabou. Que é do meu talento? Não passo de um limão espremido, um picolé, um prego enferrujado, quanto a você - não passa de um velho rato de teatro, um ponto... Vamos! {VÃO ANDANDO.) Que é do meu talento? Nas peças sé- rias só presto para a comitiva de Fortimbras... e até para isso já estou velho... Pois é... Lembra-se dessa passagem do Otelo, Nikítuchka?
  • 8. 8 Adeus sossego d'alma! Adeus alegria! Adeus tropas emplumadas! Guerras soberbas, que transmudais a Ambição numa virtude, adeus, adeus!... Adeus corcel relinchante, Trombeta aguda e sonora, tambor que acendes o espírito, Pífano sibilante, estandarte real, Orgulho, pompa, brilho e todos os apetrechos da lide gloriosa! IVÁNYTCH: Que talento! Que talento!! SVETLOVÍDOV: Ou disso, então: Vou-me embora de Moscou! Aqui eu não volto mais. Corro, sem olhar para trás, buscar no mundo Um refúgio para o meu coração ultrajado! Minha carruagem, minha carruagem!11 SAI COM NIKITA IVÁNYTCH. A CORTINA DESCE LENTAMENTE. (Trad. de Homero Freitas de Andrade e Eliana Pereira Miura)