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CARACTERIZAÇÃO DA ADOLESCÊNCIA: IMPLICAÇÕES NO
DESENVOLVIMENTO E NA APRENDIZAGEM
ANO LECTIVO 2004/2005
PAULA FERREIRA DA SILVA Nº10883 ENSINO DE BIOLOGIA/GEOLOGIA
ÍNDICE
Introdução ----------------------------------------------------------------------------- 2
Caracterização da adolescência ----------------------------------------------------- 3
O que é a adolescência? ---------------------------------------------------------- 3
Desenvolvimento físico ---------------------------------------------------------- 4
Desenvolvimento cognitivo ----------------------------------------------------- 6
Desenvolvimento social --------------------------------------------------------- 8
Desenvolvimento sexual -------------------------------------------------------- 9
Desenvolvimento moral --------------------------------------------------------- 10
Os adolescentes a escola e a aprendizagem -------------------------------------- 10
A adolescência de Hoje ------------------------------------------------------------ 12
Discussão sobre ideias relevantes/conclusão ------------------------------------ 15
Bibliografia -------------------------------------------------------------------------- 17
Anexos ------------------------------------------------------------------------------- 19
2
Introdução
Através da opinião de vários autores tentou-se descortinar, tentou-se levantar a
ponta do véu, e perceber o que se passa na adolescência. A sociedade começa a estar
sensibilizada para um conjunto de problemas dos adolescentes de hoje (gravidez na
adolescência, o consumo de drogas, o stress, falta de tempo dos pais, a indisciplina na
escola, a depressão) e a prova disso, é que, escreve-se sobre a adolescência em todo o
lado, e fala-se também, por exemplo, vai ocorrer em Lisboa um congresso sobre a
adolescência agora em Maio (Ver anexo).
Ao longo do trabalho referiu-se a importância dos grupos de pares, onde os
adolescentes ensaiam o comportamento que vão ter na sociedade dos adultos, a
necessidade de integração nos grupos, e de se ser aprovado por estes, e onde se vivem as
primeiras experiências sexuais. Não se pode falar de adolescência sem falar de grupos
de pares, mas também, segundo Helena Fonseca, podem surgir fenómeno de isolamento
sem patologias associadas, o que levou alguns autores a denominar a adolescência como
a “fase do armário”.
Salientou-se também que a adolescência não tem de ser necessariamente dramática,
mas que quanto mais frágil for o adolescente, maiores vão ser os riscos que ele vai
correr.
Quanto aos pais, é fundamental que estes tenham disponibilidade para amar os
filhos, num amor que se quer total e firme.
Relativamente ao papel da escola viu-se que esta deve agir de acordo com os
interesses dos adolescentes, ou então irá continuar a “remar contra a maré”. No caso de
querer colaborar tem um papel importantíssimo a desempenhar, quer na detecção
precoce de problemas que possam surgir (p. ex.:detectar a depressão) como também
proporcionando um ambiente de convívio saudável, e fomentar a prática desportiva, que
como se pode ler em anexo tem inúmeras vantagens (Ver anexo). Por outro lado, viu-se
também, que não há escola que resista ao abandono dos filhos pelos próprios pais. A
falta de estabilidade familiar, de segurança (“os filhos precisam da nossa segurança
quando a deles teima em fugir”), de amor, complica muito a vivência da infância e da
adolescência.
3
Caracterização da adolescência
O que é a adolescência?
A adolescência é um estádio de transição entre infância e a idade adulta que
compreende a faixa etária dos 11/12 aos 19/20 anos. Durante esta fase vai ocorrer
alterações significativas a três níveis: orgânico psicológico e social. A adolescência
pode ser dividida em três fases; uma fase inicial situada entre os 11 e os 14 anos
(puberdade ou pré-adolescência), uma fase intermédia situada entre os 13 e os 16 anos
(adolescência propriamente dita), e uma fase final situada entre os 15 e os 21
(juventude), sendo que, em cada uma destas fases os aspectos fundamentais da estrutura
da personalidade são os físicos, cognitivos e sociais respectivamente (Tavares e
Alarcão, 1999).
Embora haja maior evolução de um ou de outro aspecto da estrutura da
personalidade em diferentes fases, esta também ocorre nas fases anteriores e nas fases
posteriores, assim: “Estas fases não são estanques nem independentes. As suas
principais características encontram-se nas outras fases e interferem na forma como
cada uma é ultrapassada” (Manual de PDA, 2004/2005, p.71).
O início adolescência altera com o tempo, e isto deve-se ao facto de os fenómenos
biológicos que assinalam este início, dependerem de múltiplos factores como por
exemplo: a nutrição, a hereditariedade, o clima, o exercício físico e o estado de saúde. À
tendência que existe para que a maturação física ocorra cada vez mais cedo chama-se
tendência secular (Sprinthall e Collins, 2003 ).
Para Claes (1985), o início da adolescência é mais fácil de definir por se tratar de
um “ponto de partida biológico”, ao passo que o encerramento, que consiste na entrada
do indivíduo na sociedade dos adultos, por ser de natureza cultural, vai ser variável
consoante o contexto histórico. De acordo com Helena Fonseca (2004), está a verificar-
se que a adolescência se prolonga mais no tempo, e uma das razões poderá ser o
prolongamento dos estudos e outra a maior dificuldade que há hoje em construir a
identidade.
“Alguém designou a adolescência como os «wonder years». A segunda década da
vida é, na realidade, uma época de charneira, cheia de surpresas, admiração e maravilha.
No entanto pode haver momentos de algum desconforto, conflito e angústia […]”(
Helena Fonseca, 2004, p.110 ).
4
Desenvolvimento físico
As alterações físicas que ocorrem na fase inicial adolescência e culminam com a
maturidade reprodutiva, durante o período designado por puberdade, são sem dúvida as
alterações mais visíveis, e por isso, são também capazes de provocar grande tensão e
ansiedade nos adolescentes, por duas razões: a primeira prende-se com factores
culturais, e a segunda tem a ver com o facto de os adolescentes não entenderem o que
lhes está acontecer, assim:
“ O adolescente interroga-se o tempo todo sobre a sua
normalidade. Vendo os outros diferentes de si, interroga-se
legitimamente «Quem será normal, eu ou os outros?».[…] As
alterações a nível físico que ocorrem na adolescência são universais,
mas o seu timing é completamente único, ocorrendo ao ritmo de cada
um.[…] À medida que o corpo muda e tudo que rodeia o adolescente
muda, vão surgir sentimentos novos, nomeadamente sentimentos
contraditórios face aos pais.[…] O adolescente precisa de ganhar
distância em relação à família, mas sentindo que continua a pertencer a
ela” ( Helena Fonseca, 2004, p.104 ).
A propósito do ritmo de cada um, Sprinthall & Collins (2003) através de um
estudo longitudinal, em que seguiram um grupo desde a pré-adolescência até à idade
adulta, concluíram que a maturação precoce ou tardia tem consequências psicológicas
muito importantes. Deste modo, os rapazes com maturação precoce são bem vistos
(mais atraentes e mais competentes) pelos colegas, usufruindo destas vantagens até à
vida adulta, por oposição aos outros com maturação tardia que se tornaram mais tensos
e ansiosos. No que concerne às raparigas, as que têm maturação precoce, podem tornar-
se menos populares, mais introspectivas, mais inseguras, menos equilibradas e menos
expressivas.
Na puberdade ocorre um pico de crescimento, ou seja, há um crescimento ósseo
(crescimento alternado, em que primeiro crescem os ossos longos e não todos ao mesmo
tempo, o que confere aos adolescentes um aspecto deselegante e desengonçado) muito
acelerado que conduz a um salto do crescimento em altura. Posteriormente ocorre um
desenvolvimento muscular que aumenta consideravelmente a força física. Nas raparigas
este “salto em altura" acontece dois anos mais cedo que nos rapazes. A maioria dos
5
tecidos acompanham este crescimento acelerado, mas o cérebro não, e
consequentemente o crânio também não, o ligeiro aumento que este sofre deve-se ao
espessamento dos ossos que o constituem ( Pais Ribeiro, 1990 ).
Para além das alterações em altura, ocorre também um conjunto de transformações ao
nível da forma do corpo (características sexuais secundária) que vai permitir distinguir
um corpo feminino (mamas, deposição do tecido adiposo, forma do esqueleto, etc.) de
um corpo masculino (distribuição dos pêlos pelo corpo, a voz, o desenvolvimento
muscular, etc.). Ocorre também nesta fase, desenvolvimento dos aparelhos sexuais
masculino (crescimento e alargamento do pénis e do escroto) e feminino (aumento do
volume da vagina), são as denominadas características sexuais primárias (Pais Ribeiro,
1990).
O quadro 1 mostra a sequência das principais características físicas na adolescência
(extraído do manual de PDA, 2004/2005)
Quadro 1: Sequência das principais características físicas na adolescência.
As hormonas são as responsáveis por todas estas transformações anteriormente
descritas, e na opinião de Helena Fonseca (2004), serão também elas as responsáveis
pelas mudanças súbitas de humor nos adolescentes.
Pode descrever-se o processo hormonal do seguinte modo: o hipotálamo (
glândula situada na base do cérebro) produz hormonas que vão estimular a
6
hipófise(glândula situada na base do cérebro) a produzir gonadotrofinas (hormonas que
vão estimular as gónadas, ovários e testículos). As glândulas sexuais ou gónadas, ao
serem estimuladas vão produzir hormonas sexuais masculinas (testosterona) ou
femininas (estrogénios) que vão ser responsáveis pelo desenvolvimento das
características sexuais primárias e secundárias assim como pelo pico de crescimento
(Pais Ribeiro, 1990).
Desenvolvimento cognitivo
Na fase intermédia da adolescência, o adolescente começa a apresentar
características de comportamento distintas da fase anterior, começa a emergir o
adolescente pensante. Ocorre a transição gradual do estádio da inteligência operatória
concreta para o estádio da inteligência operatória formal (Tavares e Alarcão, 1999).
“ O tipo de pensamento característico do pensamento operatório formal é
chamado pensamento abstracto. É o tipo de pensamento que permite ao indivíduo
pensar sobre o pensamento e pensar sobre o pensamento das outras pessoas”( Pais
Ribeiro, 1990, p.62 ).
Para Piaget, os indivíduos adolescentes encontram-se no estádio das operações
formais, no entanto sabe-se que isto pode não ser verdade, pois muitas pessoas não
alcançam o estádio operatório formal (Pais Ribeiro, 1990).
Sprinthall & Collins (2003), referem uma limitação à teoria de Piaget, que se
prende com o facto da transição do pensamento concreto para o pensamento formal ser
feito de forma gradual e não abrupta como defende Piaget, até porque um indivíduo
pode apresentar um pensamento muito desenvolvido numa situação e muito imaturo na
outra (Piaget reconheceu que o pensamento e o raciocínio em determinadas situações
podem parecer característicos de estádios anteriores, e noutras de estádios posteriores),
assim:
“ As imaturidades estruturais podem ser globais afectando as
principais áreas de desenvolvimento, como a afectiva, a cognitiva,
psicomotora ou linguagem ou especificas, dizendo apenas respeito a
atrasos numa área em particular.[…].É importante termos a ideia de
que apesar de todas as crianças nascerem com um potencial de base,
incluindo o cognitivo, só o desenvolvem se houver uma adequada
7
estimulação do meio envolvente, independentemente do meio sócio-
cultural” ( Pedro Strecht, 2001, p.102 ).
O pensamento formal adquirido gradualmente à medida que o adolescente vai
evoluindo no seu desenvolvimento (que é qualitativamente diferente em cada estádio) e
que se traduz pela capacidade do indivíduo em raciocinar sobre hipóteses (formulam
hipóteses sobre coisas que não existem), pela capacidade de operar com operações de
segunda ordem (exemplo: sabem que 3x4=12, mas também que 12 está para 3, assim
como, 4 está para1), pela capacidade de manipular variáveis, e capacidade de tomar a
perspectiva dos outros, contribui para o aparecimento de uma característica do
pensamento dos adolescentes que atingem este estádio (formal), chamada egocentrismo
adolescente (Pais Ribeiro, 1990).
“O egocentrismo do adolescente faz com que aquilo que ele
(adolescente) pensa no momento, por ser tão importante para si, tenha
também de ser para os outros. […] Essa incapacidade de se descentrar
de si próprio, de ver o ponto de vista dos outros, por vezes surpreende-
nos [...]”( Helena Fonseca, 2004, p.82 ).
O adolescente considera que vive emoções que mais ninguém viveu, sente-se
diferente daquilo que era e diferente dos outros. Está “espantado” com o ele próprio,
pelo que algumas manifestações de isolamento podem surgir (sem patologias
associadas), constituindo uma característica desta fase do desenvolvimento, e por essa
“razão a adolescência tem sido descrita por alguns como a fase do armário” (Helena
Fonseca, 2003, p. 112).
Apesar de terem a capacidade de entender que outros têm pontos de vista diferentes
do seu, e de serem capazes de formular hipóteses sobre possibilidades, os adolescentes
não têm motivação para o fazer, estão voltados para si próprio, a tentar entender as
modificações físicas e comportamentais que têm sofrido ( Pais Ribeiro, 1990 ).
8
Desenvolvimento social
Na última fase da adolescência, portanto entre os 15 e os 21 anos, o fenómeno
mais significativo que ocorre é a integração do adolescente na sociedade adulta, isto é,
este adquire o estatuto de adulto, à custa do estabelecimento de novas relações,
nomeadamente com os grupos de pares, e também através da alteração das relações já
existentes como por exemplo com a família.
Nesta fase o adolescente vai desenvolver “a capacidade para diferenciar,
coordenar e integrar diferentes pontos de vista sobre uma dada situação interpessoal é,
pois, a tomada de perspectiva social (TPS)”( Luís Coimbra, 1990, p.19).
Perante tantas mudanças, o adolescente tem necessidade de descobrir a sua
identidade e construir a sua autonomia, num jogo de vinculação/autonomia, e é também
nesta dinâmica que “o adolescente reformula a imagem que tinha criado dos pais
durante a infância “( Isabel Menezes, 1990, p.55 ).
Esta fase de procura de identidade, denominada por Erikson como crise de
identidade, pode ser um processo mais ou menos doloroso, e gerador de ansiedade e
confusão. Na opinião de Pedro Strecht (2001) os adolescentes com vinculações seguras,
vão estar mais predispostos a aprender, a relacionar-se com amigos, estabelecendo
relações mais duradouras e estáveis ao longo da vida. Por outro lado: “A necessidade
imensa de oposição que muitos adolescentes têm face aos pais inscreve-se numa
dificuldade de autonomização” ( Helena Fonseca, 2003, p.104 ).
Relativamente aos grupos de pares, estes assumem um papel fundamental na
socialização dos jovens, “pois as interacções com os parceiros do mesmo sexo e do sexo
oposto oferecem um protótipo das relações que, adultos, eles realizarão no plano social,
profissional e sexual” ( Claes,1985, p. 144 ).
De acordo com Isabel Soares (1990), há três aspectos fundamentais na relação de
grupos de pares: Primeiro, é mais fácil construir um percurso entre iguais, há mais
apoio; segundo, as relações com os pais estão em fase de reestruturação; terceiro, sendo
esta fase, uma fase de transição para a vida adulta, os adolescentes necessitam de
ensaiar e experimentar novos papéis, novas emoções e novas formas de se relacionar
com os outros (a esta fase Erikson chamou moratória psicossocial), no entanto, as
experiências tanto são boas como dolorosas, e por isso torna-se importante o
envolvimento entre iguais.
9
Desenvolvimento sexual
Na fase inicial da adolescência desenvolve-se a parte biológica da sexualidade, e à
medida que se vai avançando no desenvolvimento, há definição da sexualidade do
indivíduo em termos culturais ( Sprinthall & Collins, 2003).
“ Em termos gerais a sexualidade engloba as emoções, os
comportamentos, e as atitudes que estão associadas não apenas ao ser
capaz de procriar, mas também aos padrões sociais e pessoais que
acompanham as relações físicas íntimas durante a vida do indivíduo”
(Sprinthall & Collins, 2003, p.405).
O desenvolvimento das componentes de socialização sexual dos adolescentes,
passar por definir uma preferência de um objecto sexual (interesse por indivíduos do
mesmo sexo ou do sexo oposto), definir a identidade do género (convicção de que se é
rapaz ou rapariga, sem se limitar à identificação do sexo em termos biológicos) e definir
os papéis sexuais (está sempre ligada à identidade do género, é especifica de cada
cultura e portanto evolui com a História). Os adolescentes revelam-se muito
interessados pelas questões da sexualidade, o que faz com que na adolescência a
aquisição conhecimentos e de valores assuma grande relevância, há um forte
desenvolvimento das componentes de socialização sexual. A sociedade tem tido nestas
questões um papel fundamental. A “prescrição social”refere-se precisamente “às
expectativas apreendidas e ao significado social associado a certos padrões de
actividade sexual, esperando-se que estes padrões sejam apreendidos pelo adolescente e
reforçados pelos indivíduos que o rodeiam”. Contudo a principal ( e nem sempre
correcta) fonte de informação dos adolescentes é o grupo de pares, e onde muitas vezes
se vivem as primeiras experiências que durante a adolescência vão ser muitas, “pode
considerar-se na adolescência a oportunidade de uma moratória sexual-afectiva, isto é,
um período de namoro, de flirts, dos investimentos amorosos, e das grandes paixões ”
(Manual de PDA, 2004/2005).
10
Desenvolvimento moral
Os três níveis de pensamento moral definidos por Kohlberg, caracterizam-se da
seguinte forma: No nível pré-convencional, onde se encontram as crianças e alguns
adolescentes, “ para categorizar as suas acções ou as dos outros […] o sujeito refere-se
às consequências físicas da sua acção (punições e castigos), ou ao poder dos que
enunciam essas regras de conduta”. No nível convencional “a definição do bem e do
mal ultrapassa a simples obediência às regras e às autoridades. […] O sujeito concebe
valores em si mesmo, independentemente das consequências”. No nível convencional
[…] o sujeito distancia-se das regras e define valores em termos de princípios
universais, livremente escolhidos ( Luís Coimbra, 1990 ).
Por volta dos 13, 14 anos (estádio 2, 3), as questões morais parecem ser encaradas
do ponto de vista materialista (ganhos próprios ou aprovação dos outros). Os
adolescentes nesta idade, pela vulnerabilidade pessoal ao nível do juízo moral e do
grupo de valores e pela instabilidade do grupo de referência, tendem a considerar
sobretudo as opiniões dos outros, principalmente a do grupo de pares. Por volta os 16,18
anos (estádio 3), os valores e juízos morais são ainda comandados pelo grupo de
pertença do adolescente, visto que este tem interesse em ser admirado e respeitado pelo
este, muito embora se reconheça um desenvolvimento de acordo com os estádios de
kohlberg. Especificamente durante o ensino secundário, as questões de valores dos
adolescentes começam a ter como referência um conjunto de regras e leis sociais
(estádio 4) ( Manual de PDA, 2004/2005 ).
Os adolescentes a escola e as aprendizagens
Ao nível dos programas são encontrados dois pontos a enfatizar: um é, os
programas não responderem aos interesses dos alunos; outro é, a existência de uma
desadequação dos programas às capacidades destes.
De acordo com Tavares e Alarcão (1999) a escola continua a cometer o erro de
realizar tarefas que na maior parte dos casos não servem o interesse dos alunos, isto é
não têm em conta as transformações que estes estão a sofrer e que lhes despertam o
máximo de interesse.
11
“Para Martorano, o pensamento formal emerge durante a adolescência, mas não
pode ser considerado como uma realidade tipicamente deste período.” (Claes, 1985, p.
101). De facto, através de estudos, foi possível constatar que apenas um reduzido
número de alunos de nível secundário atingiu este raciocínio e que havia uma
desadequação dos programas relativamente às capacidades destes (Claes, 1985).
Para Pedro Strecht (1999), não é por falta de capacidades intelectuais que as
crianças e adolescentes não aprendem, até porque em algumas áreas possuem muito
mais aptidões do que aquelas que são requeridas pela escola, mas sim pelo peso
adverso de factores emocionais. “As capacidades de aprendizagem é uma das primeiras
áreas a ficar afectada no funcionamento de uma crianças ou adolescente, sempre que
há uma perturbação emociona” (Pedro Strecht, 1999, p. 197). Na opinião deste
especialista, a inteligência tem um peso hereditário, contudo a estimulação afectiva e
emocional (familiar, social, e cultural) e as experiências relacionais que as crianças e
adolescentes vivem determinam a possibilidade de desenvolver esse potencial inato. A
propósito deste assunto, Gomes-Pedro deu uma entrevista interessante à revista Pais &
Filhos (Ver anexo).
Ainda segundo Pedro Strecht (1999), é comum os estados emocionais
perturbados das crianças e adolescentes afectarem mentalmente os adultos que as
conhecem, nomeadamente professores, desencadeando nestes sentimentos próximos dos
sentidos pelos primeiros. Neste caso é imprescindível distinguir o que se passa dentro
de si daquilo que se passa com os outros.
Para mim, neste processo os pais não podem ser esquecidos. Contudo, por vezes,
eles esquecem-se demais. E como escreve Pedro Strecht,
“a ausência de responsabilidade parental colide com os mais altos
interesses da criança. Quando se pede à escola que cubra falhas que
não podem ou devem dizer respeito, estão abertas brechas que marcam
a perversidade do próprio sistema educativo” (1999, p. 205).
Determinados factores sócio familiares (p.ex.:mau processo de vinculação aos
pais) são geradores de dificuldades de separação/individualização acabando por criar
confusão na definição de limites (no próprio interior e de interior com exterior) de
crianças e adolescentes, pelo que se torna muito difícil gerir a distância emocional. A
indisciplina na escola tem aqui as suas raízes ( Pedro Strecht, 1999 ).
12
Os professores têm também um papel muito importante “ na construção do sucesso
ou insucesso” do aluno, são as atitudes destes que permitem aos alunos criarem uma
imagem de si e agir mediante o que esperam dele. Perante experiências negativas,
criam-se expectativas negativas e por um efeito amplificador o aluno entra num
processo de autodesvalorização (Daniel Sampaio, 1994).
A adolescência de Hoje
A adolescência é, e sempre foi, influenciada pelas vivências de cada época ( por ex.: a
Grande Depressão afectou significativamente a forma de viver dos adolescentes de
então). As expectativas, as pressões, não passaram nem passam despercebidas aos
adolescentes. E hoje, num mundo em constante mudança, onde reina a agitação, onde os
adolescentes passam cada vez mais tempo afastados dos pais comendo “comida rápida”
para a seguir se sentar em frente do computador ou da televisão, onde os pais parecem
já não serem capazes de estabelecer limites e regras aos seus filhos (talvez na ânsia de
os compensar do tempo em que não estão juntos), onde a família parece ser cada vez
menos o “porto seguro” e cada vez mais o “muro das lamentações”, onde constituir uma
nova família é cada vez mais difícil, como é que tudo isto se reflecte na vivência da
adolescência?
Por tudo isto, somos constantemente bombardeados com notícias sobre o
aumento do consumo do álcool e outras drogas entre os jovens, aumento de casos de
obesidade infantil, aumento dos problemas de comportamento, de delinquência juvenil,
etc.
Com o prolongamento dos estudos, também “a adolescência cada vez se prolonga
mais no tempo”, tornando-se mais difícil a construção da identidade, o que é exacerbado
pelas sociedades ocidentais, que reforçam o individualismo e portanto não contribuem
para a consolidação de um sentimento de pertença. “A não construção da identidade
pode manifestar-se por uma dificuldade em encontrar um equilíbrio entre o individual e
o colectivo, entre as dimensões publica e privada da vida”. Por outro lado, os ritos de
passagem para a idade adulta que existiram em algumas culturas (e na nossa sociedade
não existem) ajudavam a construir a identidade, “o que nos confere a segurança de
existir em nome próprio, a segurança de uma permanência do ser, apesar das
13
circunstâncias de vida e de grandes mudanças que, eventualmente, possam ocorrer”
(Helena Fonseca, 2004, p. 110).
No que diz respeito à maturação física, esta acontece cada vez mais cedo,
segundo Sprinthall & Collins (2003), em cada década, a idade em que aparece a
menarca diminui cerca de 3 a 4 meses, o que poderá estar a levar a um início da
actividade sexual cada vez mais cedo entre os adolescente, sem a utilização de métodos
anticoncepcionais, e com todas as consequências que daí advêm como se pode ler no
estudo sobre o perfil social, reprodutivo e sexual de adolescentes atendidas em
ambulatório de ginecologia de São Paulo (Ver anexo).
Actualmente, desde muito cedo os pais sobrecarregam os filhos com actividades
de todos os géneros para que se desenvolvam mais, para serem os melhores, ou para
chegarem onde os pais não foram capazes. Contudo, expectativas demasiado altas e
pouco adequadas ao desenvolvimento psico-emocional dos adolescentes podem ser
contraproducentes. Pois em vez de lhes ser transmitida uma mensagem de confiança é-
lhes transmitido pelos pais o medo de que estes não correspondam as suas expectativas (
Helena Fonseca, 2003). Como dizia Mário Cordeiro, no programa do canal 2 Conselho
de Estado do dia 14/04/2004, “ cada vez mais encontro adolescentes em consulta que
não querem crescer, motivado pela imagem negativa que os pais lhes transmitem sobre
o que é ser adulto.[…] Se eles (pais) sabem que todos os dias vão encontrar fila no
IC19, porque é que em vez de sistematicamente ligarem o rádio para saberem o
tamanho da fila e começarem a martirizar-se (e aos filhos também), não aproveitam para
conversar com os filhos que vão no banco de trás”.
Como foi referido anteriormente, alguns autores descrevem a adolescência como a
“fase do armário”, pelo facto de nesta fase poderem ocorrer fenómenos de isolamento
sem patologias associadas, mas a dificuldade reside exactamente em distinguir onde
“acaba a sensação de estar chateado e começa a depressão”. O suicídio, dependendo das
casuísticas, oscila entre a segunda e terceira causa de morte na adolescência, cujas
causas se devem a : separação dos pais, perda ou separação de alguém, incapacidade de
corresponder às expectativas, baixa auto-estima, alcoolismo, consumo de drogas, etc.
Os sintomas são vários, (sensação prolongada de cansaço inexplicável, sensação de
insucesso, de que não se vale nada, dificuldade em adormecer, dores com as mais
diversas localizações e com carácter rotativo, etc.) e os professores estão numa posição
privilegiada para os detectar como refer Helena Fonseca em entrevista ao
EDUCARE(Ver anexo)(Helena Fonseca, 2003).
14
O uso da internet por parte dos adolescentes para “longas conversas” com os
amigos e com os menos amigos também, é cada vez mais frequente. Pelo que Pedro
Strecht (2003), alerta para a necessidade que há em combater a fragilidade daqueles que
arriscam no desconhecido, através de relações virtuais, aumentando a riqueza e a
qualidade das relações afectivas e emocionais das suas vidas. Por outro lado as relações
virtuais não são tão completas como as relações humanas, “não há leitura emocional que
é paralela mas também transcende a comunicação escrita”. Na opinião de Helena
Fonseca (2003), “muitos adolescentes vivem presos nas rédeas do universo virtual”
muitas vezes para substituir a ausência de um adulto. Estes substitutos são
empobrecedores porque tiram à criança a possibilidade de colmatar esta ausência de
uma forma criativa. No que diz respeito à utilização prolongada de Game-Boy, este
pode levar o adolescente a achar que praticar desporto na vida real é frustrante e difícil
perante tanta facilidade que encontra no écran. E por outro lado “para que o adolescente
desenvolva o pensamento abstracto é importante que imagine o que está ausente, o que
se torna difícil face à limitação da fixação na imagem”. Há ainda a considerar aqui a
questão da violência que entra constantemente pelo écran.
Os adolescentes vivem cada vez mais a noite até mais tarde, agora até se
prolonga até ao dia nas «afterhours» e os pais assistem sem capacidade de negociar
horas aceitáveis de os filhos chegar a casa, a não ser quando notícias de acidentes de
viação com jovens os atormentam. Ao que parece, Portugal nesta questão aparece
isolado, “não há país nenhum onde os adolescentes tão novos vivam uma noite tão
tardia”. Esta vivência nocturna está ligada aos grupos de pares, onde os adolescentes
pretendem ser aceites, onde a sua identidade se dilui, vestindo-se, falando e
comportando-se da mesma maneira ( Helena Fonseca, 2003).
O consumo de drogas tem aumentado entre os adolescentes, e para Pedro Strecht
(2001) o que estes adolescentes têm em comum é uma fragilidade narcísica “originada
por uma insuficiência afectiva ou por uma falha sentida entre aquilo que se recebeu e
tem e aquilo que se deseja ou quer”. Em todos há uma sensação de vazio e um desejo de
o preencher, muitas vezes consumindo drogas. E depois da primeira sensação de
plenitude, de bem-estar, querem mais outras, e surge a dependência. Depois, “depende
duma intervenção precoce, da força do que para trás e no momento existe de ligações
positivas à vida, como a qualidade de experiências emocionais, a consistência da
família, o círculo de amigos…”
15
A exposição quase telegráfica dos problemas da adolescência de hoje, deve-se ao
facto de estes serem bastantes e terem muitas consequências, e o seu desenvolvimento
ultrapassaria os limites deste trabalho.
Discussão sobre ideias relevantes/conclusão
A adolescência começa na infância e é a qualidade desta que vai determinar em
grande parte a maneira como o adolescente vai viver os seus «wonder years»” ( Helena
Fonseca, 2004, p. 110). A segunda década da vida nem sempre é problemática a ponto de
necessitar de intervenção clínica, contudo necessita de ser compreendida para que
possamos ajudar os adolescentes a viver “num equilíbrio dinâmico. Tal como quando se
aprendeu a andar de bicicleta e se percebeu que é em andamento que nos vamos
equilibrando. É na dinâmica do desequilíbrio que se encontra o equilíbrio.” (Helena
Fonseca, 2004, 82)
De resto já se sabe que “muitos adolescentes correm para o risco”, há por vezes
uma “associação no mesmo adolescente de diferentes tipos de risco”, e embora a
adolescência seja uma fase de experimentação, esta pode ser feita com limites. Contudo,
parece que os adolescentes que mais procuram o risco, são os que têm baixa auto-
estima, que ainda não aprenderam a gostar de si, que têm medo de ser eles próprios, e
portanto quanto mais frágil for o adolescente mais necessidade tem de se proteger e
paradoxalmente tem mais necessidade de se envolver em comportamentos de risco,
provavelmente para se pôr à prova e ser aprovado pelo seu grupo de pares, que
assumem uma importância fundamental, dado que “ao ser integrado pelo grupo a sua
auto-estima vai sair reforçada” (Helena Fonseca, 2003).
Relativamente à escola, penso que a solução para alguns problemas (pelo menos
os que são causados pelo próprio desenvolvimento) que existem com os alunos, passe
por fomentar actividades desportivas. Tal como refere Pedro Strecht as vantagem são
imensas. (Ver anexo)
Para concluir diria que o factor que me parece preponderante para a instabilidade
das crianças e adolescentes é a falta de apoio da família. Ou porque não há tempo, ou
porque o tempo é de fraca qualidade. Pedro Strecht, refere um poema em que Alexandre
O`Neill escreve: «O amor continua muito alto/ Muito acima, muito fora da vida, muito
16
raro/ E difícil (O amor) devia ser fiel/ Fiel em cada dia/ Paciente e natural em cada dia/
Profundo e ao mesmo tempo aéreo/ Verde e simples/ Como uma árvore.»
17
Bibliografia
- Campos, B.P. (Org.) (1990) Psicologia do desenvolvimento e educação de jovens.
Vol. I Lisboa: Universidade Aberta.
- Claes, M. ( 1985 ) Os problemas da adolescência. Lisboa: Verbo.
-Costa-Paiva, L., et al (2004). Perfil social, reprodutivo e sexual de adolescentes
atendidas em ambulatório de ginecologia. Revista de Ciências Médicas.4, 298–305.
- Fonseca, H., (2003) Cresce & aparece. Pais & Filhos, 146, 104.
- Fonseca, H., (2003) Cresce & aparece. Pais & Filhos, 147, 106.
- Fonseca, H., (2003) Cresce & aparece. Pais & Filhos, 148, 126.
- Fonseca, H., (2003) Cresce & aparece. Pais & Filhos, 149, 112.
- Fonseca, H., (2003) Cresce & aparece. Pais & Filhos, 150, 112.
- Fonseca, H., (2003) Cresce & aparece. Pais & Filhos, 154, 106.
- Fonseca, H., (2003) Cresce & aparece. Pais & Filhos, 155, 104.
- Fonseca, H., (2004) Cresce & aparece. Pais & Filhos, 157, 82.
- Fonseca, H., (2004) Cresce & aparece. Pais & Filhos, 158, 110.
- Manual de Psicologia do desenvolvimento e da aprendizagem (2004/2005).
Universidade de Aveiro.
- Menezes, I., (1990). Desenvolvimento no contexto familiar.In B.P. Campos (Coord.)
Psicologia do desenvolvimento e educação de jovens. Vol. II. Lisboa: Universidade
Aberta.
- Ribeiro, A., (1990). Desenvolvimento físico. In B. P. Campos (Coord.) Psicologia do
desenvolvimento e educação de jovens. Vol. II. Lisboa: Universidade Aberta.
- Sampaio, D. (1994). Inventem-se novos pais.( 2ª Ed. ). Lisboa: Caminho.
- Soares, I.,(1990). O grupo de pares e a amizade. In B.P. Campos (Coord.) Psicologia
do desenvolvimento e educação de jovens. Vol. II . Lisboa: Universidade Aberta.
- Sprinthall, N.A., & Collins, W. A., (2003). Psicologia do adolescente: uma
abordagem desenvolvimentalista . (3ª Ed.) Lisboa: Gulbenkian.
- Strecht, P. (1999). Preciso de ti. Perturbações psicossociais em crianças e
adolescentes. Lisboa: Assírio & Alvim.
- Strecht,P.(2001). Interior. Pais &Filhos, 121, 90.
-Strecht,P.(2001). Interior. Pais &Filhos, 123, 82.
-Strecht,P.(2001). Interior. Pais &Filhos, 128, 102
-Strecht,P.(2002). Interior. Pais &Filhos, 134, 96.
18
-Strecht,P.(2003). Interior. Pais &Filhos, 147, 76.
- Tavares, J. & Alarcão, I. (1999). Psicologia do desenvolvimento e da aprendizagem.
Coimbra: Almedina.
19
Anexos
20
8.º Congresso de Medicina do Adolescente
11.04.2005
De 11 a 14 de Maio, Lisboa acolhe especialistas de todo o Mundo num evento em que se vai discutir o
mundo do adolescente.
Lisboa acolhe nos próximos dias 11 a 14 de Maio o 8.º Congresso Internacional de Medicina
do Adolescente, organizado pela International Association for Adolescent Health. O evento
realiza-se de quatro em quatro anos e reúne os maiores especialistas mundiais em saúde
adolescente.
Helena Fonseca, médica e presidente do comité de organização, destacou ao EDUCARE.PT as
mais-valias para Portugal por acolher este encontro. "O congresso vai reunir os maiores
especialistas mundiais em adolescência, pessoas que estudam há muitos anos esta
problemática. Penso que é importante investir na formação dos professores nesta área e este
congresso será uma oportunidade única para os professores interligarem com os
profissionais de saúde e actualizarem os seus conhecimentos", sublinhou a coordenadora da
consulta de adolescentes do serviço de Pediatria do Hospital de Santa Maria.
O encontro - que se realiza no Centro Cultural de Belém - é subordinado ao tema "Positive
Youth Development - Empowering Youth in a World in Transition" e será composto por seis
sessões plenárias dadas por especialistas de renome. Nestas palestras serão debatidas,
nomeadamente, as questões da resiliência e os factores protectores no desenvolvimento do
adolescente a vários níveis.
Os temas mais prementes ligados à adolescência serão abordados ao longo de 55 workshops
e 75 apresentações feitas por médicos, professores e investigadores oriundos de mais de 25
países. De Portugal participam, entre outros, Mário Cordeiro, Gomes-Pedro, Pedro Strecht e
Daniel Sampaio.
O evento destina-se a professores mas também a médicos, enfermeiros, psicólogos, técnicos
de saúde, investigadores e estudantes.
As inscrições podem ser feitas através da Mundiconvenius ( 21 364 94 98), que também
disponibiliza o programa do congresso, que tem como patrocinadores institucionais, entre
outros, a Sociedade Portuguesa de Pediatria, a Câmara Municipal de Lisboa e a Fundação
Calouste Gulbenkian.
21
PEDRO STRECHT E A IMPORTÂNCIA DO DESPORTO
22
ENTREVISTA A GOMES-PEDRO POR LAURINDA ALVES
23
24
25
Consultas para adolescentes
30.03.2005
A "idade do armário" é complexa e muitos adolescentes
necessitam de apoio clínico para vivê-la. Helena Fonseca,
responsável pelo serviço de consultas de adolescentes do
Hospital de Santa Maria, defende mais estruturas para o seu
atendimento.
Em entrevista ao EDUCARE.PT, Helena Fonseca, coordenadora da consulta de adolescentes do
serviço de Pediatria do Hospital de Santa Maria, defende que os pais devem demonstrar afecto e
disponibilidade, mas impondo regras e limites.
EDUCARE.PT: O que leva um jovem a uma consulta de adolescentes?
Helena Fonseca: Nas nossas consultas atendemos adolescentes dos 10 até ao final dos 18 anos.
São adolescentes que, em princípio, já foram a um centro de saúde e que por apresentarem uma
situação que o médico de família considerou que necessita de cuidados mais especializados foram
referenciados para o nosso serviço. Neste momento, o serviço de urgência do Hospital de Santa
Maria é a nossa principal fonte de referenciação. Se um determinado adolescente que está a ser
seguido noutra especialidade apresenta uma problemática que se insere no tipo de atendimento
que fazemos, essa situação é-nos referenciada. É o caso, por exemplo, de um adolescente que é
seguido na endocrionologia por um hipertireoidismo e que chega à adolescência com problemas
de adesão à terapêutica: esquece-se de tomar a medicação ou recusa-se a fazê-lo porque se
acha diferente dos outros.
E: Essas patologias são próprias da fase de desenvolvimento que estão a viver?
HF: Existem patologias que são, de facto, particularmente prevalentes na segunda década da
vida. A patologia dermatológica (acne) tem um peso muito importante, assim como todas as
dúvidas relacionadas com o desenvolvimento pubertário e o crescimento: "Será que o meu
desenvolvimento se está a processar a um ritmo acelerado ou lento demais, será que sou igual
aos pares da minha idade e do mesmo sexo, será que o período ainda vai tardar muito a
chegar?".
Também são recorrentes as questões do foro ginecológico (dismenorreias, dores menstruais,
alterações do fluxo menstrual), as obesidades e as grandes magrezas - inscritas ou não na
anorexia nervosa -, assim como casos de alterações de comportamento, que são habitualmente
transitórias e que se prendem com a fase de desenvolvimento em que o adolescente se encontra.
Existem outros casos de dificuldades de comunicação com a família, nos quais tentamos ser
agentes facilitadores dessa comunicação.
E: A própria adolescência não pode ser vista como algo de linear…
HF: A adolescência contempla três períodos: dos 10 aos 13, dos 13 aos 16 e dos 16 aos 19 anos.
Estas são fases relativamente distintas em termos de características e no que diz respeito à
autonomia, à construção da identidade e ao desenvolvimento cognitivo. No 1.º e 2.º períodos, o
conhecimento formal do adolescente não está completamente alicerçado e portanto ele ainda não
é capaz de estabelecer raciocínios lógicos e abstractos em pleno. Fruto também dessa limitação,
não é capaz de verbalizar um sofrimento psicológico e, como tal, acaba por se expressar através
do corpo. Queixas como "dói-me a barriga" ou "dói-me a cabeça" são muito frequentes ao nível
do serviço de urgência e invariavelmente canalizadas para as consultas de adolescentes.
E: Que tipo de preocupações e de dúvidas apresentam os jovens na última fase da
adolescência?
26
HF: Nessa fase estão a caminhar para uma identidade já construída, são miúdos mais
autónomos, responsáveis, aos quais se colocam as questões da escolha da carreira. Do ponto de
vista da afectividade, o comportamento já é muito mais próximo do comportamento de um
adulto, pelo que as relações perduram mais no tempo. Em termos da família, é uma fase em que
já não existe tanta fricção. A fase média da adolescência, entre os 13 e os 16 anos, é descrita
como a mais crítica na relação com os pais. São anos em que há um afastamento dos
progenitores, que tende a inverter-se no final da adolescência ou no início da juventude.
E: O tempo de espera de uma consulta de adolescentes é demorado?
HF: Não penso que seja muito demorado, por vezes desconhece-se é a sua existência. Quando
há necessidade de iniciar uma psicoterapia, como se trata de um seguimento longo, aí sim, é
mais difícil em termos de escoamento fazer a ponte para os serviços de saúde mental.
E: A maioria dos adolescentes vai à consulta com os pais ou sozinho?
HF: A maioria vem com os pais, embora tenhamos sempre um atendimento individualizado do
adolescente. Esta é uma das características essenciais do atendimento: que haja um espaço e
um tempo reservados para o adolescente a sós com o técnico de saúde.
No caso dos adolescentes que nos são referenciados por escolas, muitos vêm acompanhados por
pessoal da escola ou pelo treinador do grupo desportivo, ou seja, pela pessoa que estava
preocupada com eles e que resolveu fazer a ponte com o serviço. Os mais velhos e aqueles que
já estão a ser seguidos há algum tempo são mais autónomos e costumam vir sozinhos.
E: Em média, qual é a duração do acompanhamento clínico de um adolescente?
HF: A duração é extraordinariamente variável. Situações pontuais, em que o sintoma não está
excessivamente cristalizado, resolvem-se muitas vezes com duas, três sessões, findas as quais o
adolescente retorna ao médico de família. Depois há situações mais longas, nomeadamente as
que exigem psicoterapia.
E: Segundo o professor Daniel Sampaio há uma ideia generalizada, ainda que errada,
de que a adolescência é obrigatoriamente uma fase problemática, quando apenas 15%
dos jovens desenvolvem uma patologia digna de intervenção clínica. Concorda?
HF: Concordo plenamente com essa visão mas eu não diria "apenas 15%" - 15% de adolescentes
que necessitam de intervenção clínica é muito! E é muito sobretudo tendo em conta que não
temos muitos serviços vocacionados para o atendimento a este grupo etário.
Os serviços que existem não são suficientes para atender com qualidade a população adolescente
que necessita de apoio, embora a panorâmica tenha evoluído positivamente nos últimos anos.
E: Que serviços são esses?
HF: Há muitos centros de saúde com consultas de adolescentes e há centros de atendimento a
adolescentes ligados aos cuidados de saúde primários. Muitos hospitais também já têm consultas
de adolescentes a funcionar, ao nível dos serviços de pediatria. Na zona de Lisboa existem na
Estefânia, São Francisco Xavier, Amadora e Garcia de Orta. O mesmo sucede, por exemplo, nos
hospitais de Viseu, Évora e Porto.
E: Esse tipo de intervenção também poderia ser feita nas escolas?
HF: Há especialistas que defendem que deveria haver na própria escola um gabinete de
atendimento e há outros que entendem que devia existir uma melhor ligação entre as escolas e
os vários grupos que atendem. Há quem não goste muito de ver os gabinetes de atendimento
inseridos na própria escola porque de algum modo isso estigmatiza o aluno que lá vai e os
adolescentes gostam de preservar o seu anonimato.
Penso que as duas concepções são válidas, há é que perceber que modelo funcionará melhor no
27
nosso País.
E: Os docentes portugueses têm formação adequada para identificar os adolescentes
que requerem acompanhamento clínico?
HF: Muitos professores já estão bastante alertados para o tipo de problemas mais prevalentes na
adolescência. Penso contudo que deveria existir um maior intercâmbio de formação entre
professores e profissionais de saúde, de modo a que a referenciação por parte dos professores
fosse ainda mais eficaz e generalizada. Porque efectivamente os professores estão numa posição
privilegiada para detectar precocemente determinadas situações, nomeadamente as alterações
de comportamento alimentar. A par da família, a escola é, de facto, a arena importante nesta
ligação que os serviços de saúde têm de fazer com outros parceiros.
E: De que forma é que os progenitores podem ajudar os filhos a viver tranquilamente a
adolescência?
HF: É extraordinariamente importante que a família ajude a promover a autonomia do
adolescente, que não o controle demasiado, mas que simultaneamente saiba estabelecer regras e
limites. Os pais devem mostrar afecto, muita disponibilidade, mostrar que estão lá, permitir que
o seu filho se desenvolva autonomamente - porque sem autonomia não há adolescência - mas
fornecendo em simultâneo alguma estrutura, para que o desenvolvimento se possa efectuar da
forma mais harmoniosa possível.
Tudo isto tem razões do ponto de vista científico: o córtex pré-frontal é a zona do nosso cérebro
que permite tomar decisões, planear a médio e longo prazo, saber escolher. O que acontece é
que o seu desenvolvimento só está terminado por volta dos 25 anos, o que significa que não é só
a mania do adolescente de dar connosco em doidos. Por vezes não cumprem horários ou não
sabem planificar o seu trabalho a nível da escola porque, de facto, ainda não têm essa
capacidade. E nós temos de os ajudar.
E: As consultas de adolescentes podem ajudar também os pais nessa tarefa?
HF: Damos sempre um pouco de apoio aos pais na educação dos filhos, mas obviamente que
esta é uma matéria que ultrapassa o âmbito dessas consultas. Daí que eu veria com muito bons
olhos a existência de grupos de suporte nas juntas de freguesia, nos vários serviços de cuidados
de saúde primários, nas associações de pais nas escolas, onde os pais de adolescentes pudessem
discutir, entre eles, estas questões.
E: Muitas das complicações que surgem na adolescência têm as raízes na infância?
HF: Determinados comportamentos não começaram, de facto, de um dia para o outro. Já vêm de
trás, e aí vale muito a pena que os pais que têm filhos pequenos façam desde cedo um trabalho
de prevenção de alguns comportamentos. Nomeadamente na questão das regras e dos limites: é
muito importante que uma criança saiba aceitar um "não" sem ficar revoltado, percebendo que
os pais ou os professores estão ali para ajudar. Esta é uma área em que desde pequeninos se
pode fazer bastante, no sentido da criança não chegar à adolescência com uma incapacidade
completa de aceitar regras.
PERFIL
Helena Fonseca é médica e coordenadora da Consulta de Adolescentes do Serviço de Pediatria do
Hospital de Santa Maria. É presidente da Secção de Medicina do Adolescente da Sociedade
Portuguesa de Pediatria e vice-presidente da International Association for Adolescent Health.
Depois de "Compreender os Adolescentes - um desafio para Pais e Educadores", prepara-se para
lançar, em Maio, "Viver com Adolescentes". A obra pretende ajudar os pais a perceber que
comportamentos são, afinal, normais nos filhos e outros que lhes passam despercebidos mas que
vale a pena agarrar, de modo a prevenir comportamentos de risco.
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Caracterização da Adolescência

  • 1. CARACTERIZAÇÃO DA ADOLESCÊNCIA: IMPLICAÇÕES NO DESENVOLVIMENTO E NA APRENDIZAGEM ANO LECTIVO 2004/2005 PAULA FERREIRA DA SILVA Nº10883 ENSINO DE BIOLOGIA/GEOLOGIA
  • 2. ÍNDICE Introdução ----------------------------------------------------------------------------- 2 Caracterização da adolescência ----------------------------------------------------- 3 O que é a adolescência? ---------------------------------------------------------- 3 Desenvolvimento físico ---------------------------------------------------------- 4 Desenvolvimento cognitivo ----------------------------------------------------- 6 Desenvolvimento social --------------------------------------------------------- 8 Desenvolvimento sexual -------------------------------------------------------- 9 Desenvolvimento moral --------------------------------------------------------- 10 Os adolescentes a escola e a aprendizagem -------------------------------------- 10 A adolescência de Hoje ------------------------------------------------------------ 12 Discussão sobre ideias relevantes/conclusão ------------------------------------ 15 Bibliografia -------------------------------------------------------------------------- 17 Anexos ------------------------------------------------------------------------------- 19 2
  • 3. Introdução Através da opinião de vários autores tentou-se descortinar, tentou-se levantar a ponta do véu, e perceber o que se passa na adolescência. A sociedade começa a estar sensibilizada para um conjunto de problemas dos adolescentes de hoje (gravidez na adolescência, o consumo de drogas, o stress, falta de tempo dos pais, a indisciplina na escola, a depressão) e a prova disso, é que, escreve-se sobre a adolescência em todo o lado, e fala-se também, por exemplo, vai ocorrer em Lisboa um congresso sobre a adolescência agora em Maio (Ver anexo). Ao longo do trabalho referiu-se a importância dos grupos de pares, onde os adolescentes ensaiam o comportamento que vão ter na sociedade dos adultos, a necessidade de integração nos grupos, e de se ser aprovado por estes, e onde se vivem as primeiras experiências sexuais. Não se pode falar de adolescência sem falar de grupos de pares, mas também, segundo Helena Fonseca, podem surgir fenómeno de isolamento sem patologias associadas, o que levou alguns autores a denominar a adolescência como a “fase do armário”. Salientou-se também que a adolescência não tem de ser necessariamente dramática, mas que quanto mais frágil for o adolescente, maiores vão ser os riscos que ele vai correr. Quanto aos pais, é fundamental que estes tenham disponibilidade para amar os filhos, num amor que se quer total e firme. Relativamente ao papel da escola viu-se que esta deve agir de acordo com os interesses dos adolescentes, ou então irá continuar a “remar contra a maré”. No caso de querer colaborar tem um papel importantíssimo a desempenhar, quer na detecção precoce de problemas que possam surgir (p. ex.:detectar a depressão) como também proporcionando um ambiente de convívio saudável, e fomentar a prática desportiva, que como se pode ler em anexo tem inúmeras vantagens (Ver anexo). Por outro lado, viu-se também, que não há escola que resista ao abandono dos filhos pelos próprios pais. A falta de estabilidade familiar, de segurança (“os filhos precisam da nossa segurança quando a deles teima em fugir”), de amor, complica muito a vivência da infância e da adolescência. 3
  • 4. Caracterização da adolescência O que é a adolescência? A adolescência é um estádio de transição entre infância e a idade adulta que compreende a faixa etária dos 11/12 aos 19/20 anos. Durante esta fase vai ocorrer alterações significativas a três níveis: orgânico psicológico e social. A adolescência pode ser dividida em três fases; uma fase inicial situada entre os 11 e os 14 anos (puberdade ou pré-adolescência), uma fase intermédia situada entre os 13 e os 16 anos (adolescência propriamente dita), e uma fase final situada entre os 15 e os 21 (juventude), sendo que, em cada uma destas fases os aspectos fundamentais da estrutura da personalidade são os físicos, cognitivos e sociais respectivamente (Tavares e Alarcão, 1999). Embora haja maior evolução de um ou de outro aspecto da estrutura da personalidade em diferentes fases, esta também ocorre nas fases anteriores e nas fases posteriores, assim: “Estas fases não são estanques nem independentes. As suas principais características encontram-se nas outras fases e interferem na forma como cada uma é ultrapassada” (Manual de PDA, 2004/2005, p.71). O início adolescência altera com o tempo, e isto deve-se ao facto de os fenómenos biológicos que assinalam este início, dependerem de múltiplos factores como por exemplo: a nutrição, a hereditariedade, o clima, o exercício físico e o estado de saúde. À tendência que existe para que a maturação física ocorra cada vez mais cedo chama-se tendência secular (Sprinthall e Collins, 2003 ). Para Claes (1985), o início da adolescência é mais fácil de definir por se tratar de um “ponto de partida biológico”, ao passo que o encerramento, que consiste na entrada do indivíduo na sociedade dos adultos, por ser de natureza cultural, vai ser variável consoante o contexto histórico. De acordo com Helena Fonseca (2004), está a verificar- se que a adolescência se prolonga mais no tempo, e uma das razões poderá ser o prolongamento dos estudos e outra a maior dificuldade que há hoje em construir a identidade. “Alguém designou a adolescência como os «wonder years». A segunda década da vida é, na realidade, uma época de charneira, cheia de surpresas, admiração e maravilha. No entanto pode haver momentos de algum desconforto, conflito e angústia […]”( Helena Fonseca, 2004, p.110 ). 4
  • 5. Desenvolvimento físico As alterações físicas que ocorrem na fase inicial adolescência e culminam com a maturidade reprodutiva, durante o período designado por puberdade, são sem dúvida as alterações mais visíveis, e por isso, são também capazes de provocar grande tensão e ansiedade nos adolescentes, por duas razões: a primeira prende-se com factores culturais, e a segunda tem a ver com o facto de os adolescentes não entenderem o que lhes está acontecer, assim: “ O adolescente interroga-se o tempo todo sobre a sua normalidade. Vendo os outros diferentes de si, interroga-se legitimamente «Quem será normal, eu ou os outros?».[…] As alterações a nível físico que ocorrem na adolescência são universais, mas o seu timing é completamente único, ocorrendo ao ritmo de cada um.[…] À medida que o corpo muda e tudo que rodeia o adolescente muda, vão surgir sentimentos novos, nomeadamente sentimentos contraditórios face aos pais.[…] O adolescente precisa de ganhar distância em relação à família, mas sentindo que continua a pertencer a ela” ( Helena Fonseca, 2004, p.104 ). A propósito do ritmo de cada um, Sprinthall & Collins (2003) através de um estudo longitudinal, em que seguiram um grupo desde a pré-adolescência até à idade adulta, concluíram que a maturação precoce ou tardia tem consequências psicológicas muito importantes. Deste modo, os rapazes com maturação precoce são bem vistos (mais atraentes e mais competentes) pelos colegas, usufruindo destas vantagens até à vida adulta, por oposição aos outros com maturação tardia que se tornaram mais tensos e ansiosos. No que concerne às raparigas, as que têm maturação precoce, podem tornar- se menos populares, mais introspectivas, mais inseguras, menos equilibradas e menos expressivas. Na puberdade ocorre um pico de crescimento, ou seja, há um crescimento ósseo (crescimento alternado, em que primeiro crescem os ossos longos e não todos ao mesmo tempo, o que confere aos adolescentes um aspecto deselegante e desengonçado) muito acelerado que conduz a um salto do crescimento em altura. Posteriormente ocorre um desenvolvimento muscular que aumenta consideravelmente a força física. Nas raparigas este “salto em altura" acontece dois anos mais cedo que nos rapazes. A maioria dos 5
  • 6. tecidos acompanham este crescimento acelerado, mas o cérebro não, e consequentemente o crânio também não, o ligeiro aumento que este sofre deve-se ao espessamento dos ossos que o constituem ( Pais Ribeiro, 1990 ). Para além das alterações em altura, ocorre também um conjunto de transformações ao nível da forma do corpo (características sexuais secundária) que vai permitir distinguir um corpo feminino (mamas, deposição do tecido adiposo, forma do esqueleto, etc.) de um corpo masculino (distribuição dos pêlos pelo corpo, a voz, o desenvolvimento muscular, etc.). Ocorre também nesta fase, desenvolvimento dos aparelhos sexuais masculino (crescimento e alargamento do pénis e do escroto) e feminino (aumento do volume da vagina), são as denominadas características sexuais primárias (Pais Ribeiro, 1990). O quadro 1 mostra a sequência das principais características físicas na adolescência (extraído do manual de PDA, 2004/2005) Quadro 1: Sequência das principais características físicas na adolescência. As hormonas são as responsáveis por todas estas transformações anteriormente descritas, e na opinião de Helena Fonseca (2004), serão também elas as responsáveis pelas mudanças súbitas de humor nos adolescentes. Pode descrever-se o processo hormonal do seguinte modo: o hipotálamo ( glândula situada na base do cérebro) produz hormonas que vão estimular a 6
  • 7. hipófise(glândula situada na base do cérebro) a produzir gonadotrofinas (hormonas que vão estimular as gónadas, ovários e testículos). As glândulas sexuais ou gónadas, ao serem estimuladas vão produzir hormonas sexuais masculinas (testosterona) ou femininas (estrogénios) que vão ser responsáveis pelo desenvolvimento das características sexuais primárias e secundárias assim como pelo pico de crescimento (Pais Ribeiro, 1990). Desenvolvimento cognitivo Na fase intermédia da adolescência, o adolescente começa a apresentar características de comportamento distintas da fase anterior, começa a emergir o adolescente pensante. Ocorre a transição gradual do estádio da inteligência operatória concreta para o estádio da inteligência operatória formal (Tavares e Alarcão, 1999). “ O tipo de pensamento característico do pensamento operatório formal é chamado pensamento abstracto. É o tipo de pensamento que permite ao indivíduo pensar sobre o pensamento e pensar sobre o pensamento das outras pessoas”( Pais Ribeiro, 1990, p.62 ). Para Piaget, os indivíduos adolescentes encontram-se no estádio das operações formais, no entanto sabe-se que isto pode não ser verdade, pois muitas pessoas não alcançam o estádio operatório formal (Pais Ribeiro, 1990). Sprinthall & Collins (2003), referem uma limitação à teoria de Piaget, que se prende com o facto da transição do pensamento concreto para o pensamento formal ser feito de forma gradual e não abrupta como defende Piaget, até porque um indivíduo pode apresentar um pensamento muito desenvolvido numa situação e muito imaturo na outra (Piaget reconheceu que o pensamento e o raciocínio em determinadas situações podem parecer característicos de estádios anteriores, e noutras de estádios posteriores), assim: “ As imaturidades estruturais podem ser globais afectando as principais áreas de desenvolvimento, como a afectiva, a cognitiva, psicomotora ou linguagem ou especificas, dizendo apenas respeito a atrasos numa área em particular.[…].É importante termos a ideia de que apesar de todas as crianças nascerem com um potencial de base, incluindo o cognitivo, só o desenvolvem se houver uma adequada 7
  • 8. estimulação do meio envolvente, independentemente do meio sócio- cultural” ( Pedro Strecht, 2001, p.102 ). O pensamento formal adquirido gradualmente à medida que o adolescente vai evoluindo no seu desenvolvimento (que é qualitativamente diferente em cada estádio) e que se traduz pela capacidade do indivíduo em raciocinar sobre hipóteses (formulam hipóteses sobre coisas que não existem), pela capacidade de operar com operações de segunda ordem (exemplo: sabem que 3x4=12, mas também que 12 está para 3, assim como, 4 está para1), pela capacidade de manipular variáveis, e capacidade de tomar a perspectiva dos outros, contribui para o aparecimento de uma característica do pensamento dos adolescentes que atingem este estádio (formal), chamada egocentrismo adolescente (Pais Ribeiro, 1990). “O egocentrismo do adolescente faz com que aquilo que ele (adolescente) pensa no momento, por ser tão importante para si, tenha também de ser para os outros. […] Essa incapacidade de se descentrar de si próprio, de ver o ponto de vista dos outros, por vezes surpreende- nos [...]”( Helena Fonseca, 2004, p.82 ). O adolescente considera que vive emoções que mais ninguém viveu, sente-se diferente daquilo que era e diferente dos outros. Está “espantado” com o ele próprio, pelo que algumas manifestações de isolamento podem surgir (sem patologias associadas), constituindo uma característica desta fase do desenvolvimento, e por essa “razão a adolescência tem sido descrita por alguns como a fase do armário” (Helena Fonseca, 2003, p. 112). Apesar de terem a capacidade de entender que outros têm pontos de vista diferentes do seu, e de serem capazes de formular hipóteses sobre possibilidades, os adolescentes não têm motivação para o fazer, estão voltados para si próprio, a tentar entender as modificações físicas e comportamentais que têm sofrido ( Pais Ribeiro, 1990 ). 8
  • 9. Desenvolvimento social Na última fase da adolescência, portanto entre os 15 e os 21 anos, o fenómeno mais significativo que ocorre é a integração do adolescente na sociedade adulta, isto é, este adquire o estatuto de adulto, à custa do estabelecimento de novas relações, nomeadamente com os grupos de pares, e também através da alteração das relações já existentes como por exemplo com a família. Nesta fase o adolescente vai desenvolver “a capacidade para diferenciar, coordenar e integrar diferentes pontos de vista sobre uma dada situação interpessoal é, pois, a tomada de perspectiva social (TPS)”( Luís Coimbra, 1990, p.19). Perante tantas mudanças, o adolescente tem necessidade de descobrir a sua identidade e construir a sua autonomia, num jogo de vinculação/autonomia, e é também nesta dinâmica que “o adolescente reformula a imagem que tinha criado dos pais durante a infância “( Isabel Menezes, 1990, p.55 ). Esta fase de procura de identidade, denominada por Erikson como crise de identidade, pode ser um processo mais ou menos doloroso, e gerador de ansiedade e confusão. Na opinião de Pedro Strecht (2001) os adolescentes com vinculações seguras, vão estar mais predispostos a aprender, a relacionar-se com amigos, estabelecendo relações mais duradouras e estáveis ao longo da vida. Por outro lado: “A necessidade imensa de oposição que muitos adolescentes têm face aos pais inscreve-se numa dificuldade de autonomização” ( Helena Fonseca, 2003, p.104 ). Relativamente aos grupos de pares, estes assumem um papel fundamental na socialização dos jovens, “pois as interacções com os parceiros do mesmo sexo e do sexo oposto oferecem um protótipo das relações que, adultos, eles realizarão no plano social, profissional e sexual” ( Claes,1985, p. 144 ). De acordo com Isabel Soares (1990), há três aspectos fundamentais na relação de grupos de pares: Primeiro, é mais fácil construir um percurso entre iguais, há mais apoio; segundo, as relações com os pais estão em fase de reestruturação; terceiro, sendo esta fase, uma fase de transição para a vida adulta, os adolescentes necessitam de ensaiar e experimentar novos papéis, novas emoções e novas formas de se relacionar com os outros (a esta fase Erikson chamou moratória psicossocial), no entanto, as experiências tanto são boas como dolorosas, e por isso torna-se importante o envolvimento entre iguais. 9
  • 10. Desenvolvimento sexual Na fase inicial da adolescência desenvolve-se a parte biológica da sexualidade, e à medida que se vai avançando no desenvolvimento, há definição da sexualidade do indivíduo em termos culturais ( Sprinthall & Collins, 2003). “ Em termos gerais a sexualidade engloba as emoções, os comportamentos, e as atitudes que estão associadas não apenas ao ser capaz de procriar, mas também aos padrões sociais e pessoais que acompanham as relações físicas íntimas durante a vida do indivíduo” (Sprinthall & Collins, 2003, p.405). O desenvolvimento das componentes de socialização sexual dos adolescentes, passar por definir uma preferência de um objecto sexual (interesse por indivíduos do mesmo sexo ou do sexo oposto), definir a identidade do género (convicção de que se é rapaz ou rapariga, sem se limitar à identificação do sexo em termos biológicos) e definir os papéis sexuais (está sempre ligada à identidade do género, é especifica de cada cultura e portanto evolui com a História). Os adolescentes revelam-se muito interessados pelas questões da sexualidade, o que faz com que na adolescência a aquisição conhecimentos e de valores assuma grande relevância, há um forte desenvolvimento das componentes de socialização sexual. A sociedade tem tido nestas questões um papel fundamental. A “prescrição social”refere-se precisamente “às expectativas apreendidas e ao significado social associado a certos padrões de actividade sexual, esperando-se que estes padrões sejam apreendidos pelo adolescente e reforçados pelos indivíduos que o rodeiam”. Contudo a principal ( e nem sempre correcta) fonte de informação dos adolescentes é o grupo de pares, e onde muitas vezes se vivem as primeiras experiências que durante a adolescência vão ser muitas, “pode considerar-se na adolescência a oportunidade de uma moratória sexual-afectiva, isto é, um período de namoro, de flirts, dos investimentos amorosos, e das grandes paixões ” (Manual de PDA, 2004/2005). 10
  • 11. Desenvolvimento moral Os três níveis de pensamento moral definidos por Kohlberg, caracterizam-se da seguinte forma: No nível pré-convencional, onde se encontram as crianças e alguns adolescentes, “ para categorizar as suas acções ou as dos outros […] o sujeito refere-se às consequências físicas da sua acção (punições e castigos), ou ao poder dos que enunciam essas regras de conduta”. No nível convencional “a definição do bem e do mal ultrapassa a simples obediência às regras e às autoridades. […] O sujeito concebe valores em si mesmo, independentemente das consequências”. No nível convencional […] o sujeito distancia-se das regras e define valores em termos de princípios universais, livremente escolhidos ( Luís Coimbra, 1990 ). Por volta dos 13, 14 anos (estádio 2, 3), as questões morais parecem ser encaradas do ponto de vista materialista (ganhos próprios ou aprovação dos outros). Os adolescentes nesta idade, pela vulnerabilidade pessoal ao nível do juízo moral e do grupo de valores e pela instabilidade do grupo de referência, tendem a considerar sobretudo as opiniões dos outros, principalmente a do grupo de pares. Por volta os 16,18 anos (estádio 3), os valores e juízos morais são ainda comandados pelo grupo de pertença do adolescente, visto que este tem interesse em ser admirado e respeitado pelo este, muito embora se reconheça um desenvolvimento de acordo com os estádios de kohlberg. Especificamente durante o ensino secundário, as questões de valores dos adolescentes começam a ter como referência um conjunto de regras e leis sociais (estádio 4) ( Manual de PDA, 2004/2005 ). Os adolescentes a escola e as aprendizagens Ao nível dos programas são encontrados dois pontos a enfatizar: um é, os programas não responderem aos interesses dos alunos; outro é, a existência de uma desadequação dos programas às capacidades destes. De acordo com Tavares e Alarcão (1999) a escola continua a cometer o erro de realizar tarefas que na maior parte dos casos não servem o interesse dos alunos, isto é não têm em conta as transformações que estes estão a sofrer e que lhes despertam o máximo de interesse. 11
  • 12. “Para Martorano, o pensamento formal emerge durante a adolescência, mas não pode ser considerado como uma realidade tipicamente deste período.” (Claes, 1985, p. 101). De facto, através de estudos, foi possível constatar que apenas um reduzido número de alunos de nível secundário atingiu este raciocínio e que havia uma desadequação dos programas relativamente às capacidades destes (Claes, 1985). Para Pedro Strecht (1999), não é por falta de capacidades intelectuais que as crianças e adolescentes não aprendem, até porque em algumas áreas possuem muito mais aptidões do que aquelas que são requeridas pela escola, mas sim pelo peso adverso de factores emocionais. “As capacidades de aprendizagem é uma das primeiras áreas a ficar afectada no funcionamento de uma crianças ou adolescente, sempre que há uma perturbação emociona” (Pedro Strecht, 1999, p. 197). Na opinião deste especialista, a inteligência tem um peso hereditário, contudo a estimulação afectiva e emocional (familiar, social, e cultural) e as experiências relacionais que as crianças e adolescentes vivem determinam a possibilidade de desenvolver esse potencial inato. A propósito deste assunto, Gomes-Pedro deu uma entrevista interessante à revista Pais & Filhos (Ver anexo). Ainda segundo Pedro Strecht (1999), é comum os estados emocionais perturbados das crianças e adolescentes afectarem mentalmente os adultos que as conhecem, nomeadamente professores, desencadeando nestes sentimentos próximos dos sentidos pelos primeiros. Neste caso é imprescindível distinguir o que se passa dentro de si daquilo que se passa com os outros. Para mim, neste processo os pais não podem ser esquecidos. Contudo, por vezes, eles esquecem-se demais. E como escreve Pedro Strecht, “a ausência de responsabilidade parental colide com os mais altos interesses da criança. Quando se pede à escola que cubra falhas que não podem ou devem dizer respeito, estão abertas brechas que marcam a perversidade do próprio sistema educativo” (1999, p. 205). Determinados factores sócio familiares (p.ex.:mau processo de vinculação aos pais) são geradores de dificuldades de separação/individualização acabando por criar confusão na definição de limites (no próprio interior e de interior com exterior) de crianças e adolescentes, pelo que se torna muito difícil gerir a distância emocional. A indisciplina na escola tem aqui as suas raízes ( Pedro Strecht, 1999 ). 12
  • 13. Os professores têm também um papel muito importante “ na construção do sucesso ou insucesso” do aluno, são as atitudes destes que permitem aos alunos criarem uma imagem de si e agir mediante o que esperam dele. Perante experiências negativas, criam-se expectativas negativas e por um efeito amplificador o aluno entra num processo de autodesvalorização (Daniel Sampaio, 1994). A adolescência de Hoje A adolescência é, e sempre foi, influenciada pelas vivências de cada época ( por ex.: a Grande Depressão afectou significativamente a forma de viver dos adolescentes de então). As expectativas, as pressões, não passaram nem passam despercebidas aos adolescentes. E hoje, num mundo em constante mudança, onde reina a agitação, onde os adolescentes passam cada vez mais tempo afastados dos pais comendo “comida rápida” para a seguir se sentar em frente do computador ou da televisão, onde os pais parecem já não serem capazes de estabelecer limites e regras aos seus filhos (talvez na ânsia de os compensar do tempo em que não estão juntos), onde a família parece ser cada vez menos o “porto seguro” e cada vez mais o “muro das lamentações”, onde constituir uma nova família é cada vez mais difícil, como é que tudo isto se reflecte na vivência da adolescência? Por tudo isto, somos constantemente bombardeados com notícias sobre o aumento do consumo do álcool e outras drogas entre os jovens, aumento de casos de obesidade infantil, aumento dos problemas de comportamento, de delinquência juvenil, etc. Com o prolongamento dos estudos, também “a adolescência cada vez se prolonga mais no tempo”, tornando-se mais difícil a construção da identidade, o que é exacerbado pelas sociedades ocidentais, que reforçam o individualismo e portanto não contribuem para a consolidação de um sentimento de pertença. “A não construção da identidade pode manifestar-se por uma dificuldade em encontrar um equilíbrio entre o individual e o colectivo, entre as dimensões publica e privada da vida”. Por outro lado, os ritos de passagem para a idade adulta que existiram em algumas culturas (e na nossa sociedade não existem) ajudavam a construir a identidade, “o que nos confere a segurança de existir em nome próprio, a segurança de uma permanência do ser, apesar das 13
  • 14. circunstâncias de vida e de grandes mudanças que, eventualmente, possam ocorrer” (Helena Fonseca, 2004, p. 110). No que diz respeito à maturação física, esta acontece cada vez mais cedo, segundo Sprinthall & Collins (2003), em cada década, a idade em que aparece a menarca diminui cerca de 3 a 4 meses, o que poderá estar a levar a um início da actividade sexual cada vez mais cedo entre os adolescente, sem a utilização de métodos anticoncepcionais, e com todas as consequências que daí advêm como se pode ler no estudo sobre o perfil social, reprodutivo e sexual de adolescentes atendidas em ambulatório de ginecologia de São Paulo (Ver anexo). Actualmente, desde muito cedo os pais sobrecarregam os filhos com actividades de todos os géneros para que se desenvolvam mais, para serem os melhores, ou para chegarem onde os pais não foram capazes. Contudo, expectativas demasiado altas e pouco adequadas ao desenvolvimento psico-emocional dos adolescentes podem ser contraproducentes. Pois em vez de lhes ser transmitida uma mensagem de confiança é- lhes transmitido pelos pais o medo de que estes não correspondam as suas expectativas ( Helena Fonseca, 2003). Como dizia Mário Cordeiro, no programa do canal 2 Conselho de Estado do dia 14/04/2004, “ cada vez mais encontro adolescentes em consulta que não querem crescer, motivado pela imagem negativa que os pais lhes transmitem sobre o que é ser adulto.[…] Se eles (pais) sabem que todos os dias vão encontrar fila no IC19, porque é que em vez de sistematicamente ligarem o rádio para saberem o tamanho da fila e começarem a martirizar-se (e aos filhos também), não aproveitam para conversar com os filhos que vão no banco de trás”. Como foi referido anteriormente, alguns autores descrevem a adolescência como a “fase do armário”, pelo facto de nesta fase poderem ocorrer fenómenos de isolamento sem patologias associadas, mas a dificuldade reside exactamente em distinguir onde “acaba a sensação de estar chateado e começa a depressão”. O suicídio, dependendo das casuísticas, oscila entre a segunda e terceira causa de morte na adolescência, cujas causas se devem a : separação dos pais, perda ou separação de alguém, incapacidade de corresponder às expectativas, baixa auto-estima, alcoolismo, consumo de drogas, etc. Os sintomas são vários, (sensação prolongada de cansaço inexplicável, sensação de insucesso, de que não se vale nada, dificuldade em adormecer, dores com as mais diversas localizações e com carácter rotativo, etc.) e os professores estão numa posição privilegiada para os detectar como refer Helena Fonseca em entrevista ao EDUCARE(Ver anexo)(Helena Fonseca, 2003). 14
  • 15. O uso da internet por parte dos adolescentes para “longas conversas” com os amigos e com os menos amigos também, é cada vez mais frequente. Pelo que Pedro Strecht (2003), alerta para a necessidade que há em combater a fragilidade daqueles que arriscam no desconhecido, através de relações virtuais, aumentando a riqueza e a qualidade das relações afectivas e emocionais das suas vidas. Por outro lado as relações virtuais não são tão completas como as relações humanas, “não há leitura emocional que é paralela mas também transcende a comunicação escrita”. Na opinião de Helena Fonseca (2003), “muitos adolescentes vivem presos nas rédeas do universo virtual” muitas vezes para substituir a ausência de um adulto. Estes substitutos são empobrecedores porque tiram à criança a possibilidade de colmatar esta ausência de uma forma criativa. No que diz respeito à utilização prolongada de Game-Boy, este pode levar o adolescente a achar que praticar desporto na vida real é frustrante e difícil perante tanta facilidade que encontra no écran. E por outro lado “para que o adolescente desenvolva o pensamento abstracto é importante que imagine o que está ausente, o que se torna difícil face à limitação da fixação na imagem”. Há ainda a considerar aqui a questão da violência que entra constantemente pelo écran. Os adolescentes vivem cada vez mais a noite até mais tarde, agora até se prolonga até ao dia nas «afterhours» e os pais assistem sem capacidade de negociar horas aceitáveis de os filhos chegar a casa, a não ser quando notícias de acidentes de viação com jovens os atormentam. Ao que parece, Portugal nesta questão aparece isolado, “não há país nenhum onde os adolescentes tão novos vivam uma noite tão tardia”. Esta vivência nocturna está ligada aos grupos de pares, onde os adolescentes pretendem ser aceites, onde a sua identidade se dilui, vestindo-se, falando e comportando-se da mesma maneira ( Helena Fonseca, 2003). O consumo de drogas tem aumentado entre os adolescentes, e para Pedro Strecht (2001) o que estes adolescentes têm em comum é uma fragilidade narcísica “originada por uma insuficiência afectiva ou por uma falha sentida entre aquilo que se recebeu e tem e aquilo que se deseja ou quer”. Em todos há uma sensação de vazio e um desejo de o preencher, muitas vezes consumindo drogas. E depois da primeira sensação de plenitude, de bem-estar, querem mais outras, e surge a dependência. Depois, “depende duma intervenção precoce, da força do que para trás e no momento existe de ligações positivas à vida, como a qualidade de experiências emocionais, a consistência da família, o círculo de amigos…” 15
  • 16. A exposição quase telegráfica dos problemas da adolescência de hoje, deve-se ao facto de estes serem bastantes e terem muitas consequências, e o seu desenvolvimento ultrapassaria os limites deste trabalho. Discussão sobre ideias relevantes/conclusão A adolescência começa na infância e é a qualidade desta que vai determinar em grande parte a maneira como o adolescente vai viver os seus «wonder years»” ( Helena Fonseca, 2004, p. 110). A segunda década da vida nem sempre é problemática a ponto de necessitar de intervenção clínica, contudo necessita de ser compreendida para que possamos ajudar os adolescentes a viver “num equilíbrio dinâmico. Tal como quando se aprendeu a andar de bicicleta e se percebeu que é em andamento que nos vamos equilibrando. É na dinâmica do desequilíbrio que se encontra o equilíbrio.” (Helena Fonseca, 2004, 82) De resto já se sabe que “muitos adolescentes correm para o risco”, há por vezes uma “associação no mesmo adolescente de diferentes tipos de risco”, e embora a adolescência seja uma fase de experimentação, esta pode ser feita com limites. Contudo, parece que os adolescentes que mais procuram o risco, são os que têm baixa auto- estima, que ainda não aprenderam a gostar de si, que têm medo de ser eles próprios, e portanto quanto mais frágil for o adolescente mais necessidade tem de se proteger e paradoxalmente tem mais necessidade de se envolver em comportamentos de risco, provavelmente para se pôr à prova e ser aprovado pelo seu grupo de pares, que assumem uma importância fundamental, dado que “ao ser integrado pelo grupo a sua auto-estima vai sair reforçada” (Helena Fonseca, 2003). Relativamente à escola, penso que a solução para alguns problemas (pelo menos os que são causados pelo próprio desenvolvimento) que existem com os alunos, passe por fomentar actividades desportivas. Tal como refere Pedro Strecht as vantagem são imensas. (Ver anexo) Para concluir diria que o factor que me parece preponderante para a instabilidade das crianças e adolescentes é a falta de apoio da família. Ou porque não há tempo, ou porque o tempo é de fraca qualidade. Pedro Strecht, refere um poema em que Alexandre O`Neill escreve: «O amor continua muito alto/ Muito acima, muito fora da vida, muito 16
  • 17. raro/ E difícil (O amor) devia ser fiel/ Fiel em cada dia/ Paciente e natural em cada dia/ Profundo e ao mesmo tempo aéreo/ Verde e simples/ Como uma árvore.» 17
  • 18. Bibliografia - Campos, B.P. (Org.) (1990) Psicologia do desenvolvimento e educação de jovens. Vol. I Lisboa: Universidade Aberta. - Claes, M. ( 1985 ) Os problemas da adolescência. Lisboa: Verbo. -Costa-Paiva, L., et al (2004). Perfil social, reprodutivo e sexual de adolescentes atendidas em ambulatório de ginecologia. Revista de Ciências Médicas.4, 298–305. - Fonseca, H., (2003) Cresce & aparece. Pais & Filhos, 146, 104. - Fonseca, H., (2003) Cresce & aparece. Pais & Filhos, 147, 106. - Fonseca, H., (2003) Cresce & aparece. Pais & Filhos, 148, 126. - Fonseca, H., (2003) Cresce & aparece. Pais & Filhos, 149, 112. - Fonseca, H., (2003) Cresce & aparece. Pais & Filhos, 150, 112. - Fonseca, H., (2003) Cresce & aparece. Pais & Filhos, 154, 106. - Fonseca, H., (2003) Cresce & aparece. Pais & Filhos, 155, 104. - Fonseca, H., (2004) Cresce & aparece. Pais & Filhos, 157, 82. - Fonseca, H., (2004) Cresce & aparece. Pais & Filhos, 158, 110. - Manual de Psicologia do desenvolvimento e da aprendizagem (2004/2005). Universidade de Aveiro. - Menezes, I., (1990). Desenvolvimento no contexto familiar.In B.P. Campos (Coord.) Psicologia do desenvolvimento e educação de jovens. Vol. II. Lisboa: Universidade Aberta. - Ribeiro, A., (1990). Desenvolvimento físico. In B. P. Campos (Coord.) Psicologia do desenvolvimento e educação de jovens. Vol. II. Lisboa: Universidade Aberta. - Sampaio, D. (1994). Inventem-se novos pais.( 2ª Ed. ). Lisboa: Caminho. - Soares, I.,(1990). O grupo de pares e a amizade. In B.P. Campos (Coord.) Psicologia do desenvolvimento e educação de jovens. Vol. II . Lisboa: Universidade Aberta. - Sprinthall, N.A., & Collins, W. A., (2003). Psicologia do adolescente: uma abordagem desenvolvimentalista . (3ª Ed.) Lisboa: Gulbenkian. - Strecht, P. (1999). Preciso de ti. Perturbações psicossociais em crianças e adolescentes. Lisboa: Assírio & Alvim. - Strecht,P.(2001). Interior. Pais &Filhos, 121, 90. -Strecht,P.(2001). Interior. Pais &Filhos, 123, 82. -Strecht,P.(2001). Interior. Pais &Filhos, 128, 102 -Strecht,P.(2002). Interior. Pais &Filhos, 134, 96. 18
  • 19. -Strecht,P.(2003). Interior. Pais &Filhos, 147, 76. - Tavares, J. & Alarcão, I. (1999). Psicologia do desenvolvimento e da aprendizagem. Coimbra: Almedina. 19
  • 21. 8.º Congresso de Medicina do Adolescente 11.04.2005 De 11 a 14 de Maio, Lisboa acolhe especialistas de todo o Mundo num evento em que se vai discutir o mundo do adolescente. Lisboa acolhe nos próximos dias 11 a 14 de Maio o 8.º Congresso Internacional de Medicina do Adolescente, organizado pela International Association for Adolescent Health. O evento realiza-se de quatro em quatro anos e reúne os maiores especialistas mundiais em saúde adolescente. Helena Fonseca, médica e presidente do comité de organização, destacou ao EDUCARE.PT as mais-valias para Portugal por acolher este encontro. "O congresso vai reunir os maiores especialistas mundiais em adolescência, pessoas que estudam há muitos anos esta problemática. Penso que é importante investir na formação dos professores nesta área e este congresso será uma oportunidade única para os professores interligarem com os profissionais de saúde e actualizarem os seus conhecimentos", sublinhou a coordenadora da consulta de adolescentes do serviço de Pediatria do Hospital de Santa Maria. O encontro - que se realiza no Centro Cultural de Belém - é subordinado ao tema "Positive Youth Development - Empowering Youth in a World in Transition" e será composto por seis sessões plenárias dadas por especialistas de renome. Nestas palestras serão debatidas, nomeadamente, as questões da resiliência e os factores protectores no desenvolvimento do adolescente a vários níveis. Os temas mais prementes ligados à adolescência serão abordados ao longo de 55 workshops e 75 apresentações feitas por médicos, professores e investigadores oriundos de mais de 25 países. De Portugal participam, entre outros, Mário Cordeiro, Gomes-Pedro, Pedro Strecht e Daniel Sampaio. O evento destina-se a professores mas também a médicos, enfermeiros, psicólogos, técnicos de saúde, investigadores e estudantes. As inscrições podem ser feitas através da Mundiconvenius ( 21 364 94 98), que também disponibiliza o programa do congresso, que tem como patrocinadores institucionais, entre outros, a Sociedade Portuguesa de Pediatria, a Câmara Municipal de Lisboa e a Fundação Calouste Gulbenkian. 21
  • 22. PEDRO STRECHT E A IMPORTÂNCIA DO DESPORTO 22
  • 23. ENTREVISTA A GOMES-PEDRO POR LAURINDA ALVES 23
  • 24. 24
  • 25. 25
  • 26. Consultas para adolescentes 30.03.2005 A "idade do armário" é complexa e muitos adolescentes necessitam de apoio clínico para vivê-la. Helena Fonseca, responsável pelo serviço de consultas de adolescentes do Hospital de Santa Maria, defende mais estruturas para o seu atendimento. Em entrevista ao EDUCARE.PT, Helena Fonseca, coordenadora da consulta de adolescentes do serviço de Pediatria do Hospital de Santa Maria, defende que os pais devem demonstrar afecto e disponibilidade, mas impondo regras e limites. EDUCARE.PT: O que leva um jovem a uma consulta de adolescentes? Helena Fonseca: Nas nossas consultas atendemos adolescentes dos 10 até ao final dos 18 anos. São adolescentes que, em princípio, já foram a um centro de saúde e que por apresentarem uma situação que o médico de família considerou que necessita de cuidados mais especializados foram referenciados para o nosso serviço. Neste momento, o serviço de urgência do Hospital de Santa Maria é a nossa principal fonte de referenciação. Se um determinado adolescente que está a ser seguido noutra especialidade apresenta uma problemática que se insere no tipo de atendimento que fazemos, essa situação é-nos referenciada. É o caso, por exemplo, de um adolescente que é seguido na endocrionologia por um hipertireoidismo e que chega à adolescência com problemas de adesão à terapêutica: esquece-se de tomar a medicação ou recusa-se a fazê-lo porque se acha diferente dos outros. E: Essas patologias são próprias da fase de desenvolvimento que estão a viver? HF: Existem patologias que são, de facto, particularmente prevalentes na segunda década da vida. A patologia dermatológica (acne) tem um peso muito importante, assim como todas as dúvidas relacionadas com o desenvolvimento pubertário e o crescimento: "Será que o meu desenvolvimento se está a processar a um ritmo acelerado ou lento demais, será que sou igual aos pares da minha idade e do mesmo sexo, será que o período ainda vai tardar muito a chegar?". Também são recorrentes as questões do foro ginecológico (dismenorreias, dores menstruais, alterações do fluxo menstrual), as obesidades e as grandes magrezas - inscritas ou não na anorexia nervosa -, assim como casos de alterações de comportamento, que são habitualmente transitórias e que se prendem com a fase de desenvolvimento em que o adolescente se encontra. Existem outros casos de dificuldades de comunicação com a família, nos quais tentamos ser agentes facilitadores dessa comunicação. E: A própria adolescência não pode ser vista como algo de linear… HF: A adolescência contempla três períodos: dos 10 aos 13, dos 13 aos 16 e dos 16 aos 19 anos. Estas são fases relativamente distintas em termos de características e no que diz respeito à autonomia, à construção da identidade e ao desenvolvimento cognitivo. No 1.º e 2.º períodos, o conhecimento formal do adolescente não está completamente alicerçado e portanto ele ainda não é capaz de estabelecer raciocínios lógicos e abstractos em pleno. Fruto também dessa limitação, não é capaz de verbalizar um sofrimento psicológico e, como tal, acaba por se expressar através do corpo. Queixas como "dói-me a barriga" ou "dói-me a cabeça" são muito frequentes ao nível do serviço de urgência e invariavelmente canalizadas para as consultas de adolescentes. E: Que tipo de preocupações e de dúvidas apresentam os jovens na última fase da adolescência? 26
  • 27. HF: Nessa fase estão a caminhar para uma identidade já construída, são miúdos mais autónomos, responsáveis, aos quais se colocam as questões da escolha da carreira. Do ponto de vista da afectividade, o comportamento já é muito mais próximo do comportamento de um adulto, pelo que as relações perduram mais no tempo. Em termos da família, é uma fase em que já não existe tanta fricção. A fase média da adolescência, entre os 13 e os 16 anos, é descrita como a mais crítica na relação com os pais. São anos em que há um afastamento dos progenitores, que tende a inverter-se no final da adolescência ou no início da juventude. E: O tempo de espera de uma consulta de adolescentes é demorado? HF: Não penso que seja muito demorado, por vezes desconhece-se é a sua existência. Quando há necessidade de iniciar uma psicoterapia, como se trata de um seguimento longo, aí sim, é mais difícil em termos de escoamento fazer a ponte para os serviços de saúde mental. E: A maioria dos adolescentes vai à consulta com os pais ou sozinho? HF: A maioria vem com os pais, embora tenhamos sempre um atendimento individualizado do adolescente. Esta é uma das características essenciais do atendimento: que haja um espaço e um tempo reservados para o adolescente a sós com o técnico de saúde. No caso dos adolescentes que nos são referenciados por escolas, muitos vêm acompanhados por pessoal da escola ou pelo treinador do grupo desportivo, ou seja, pela pessoa que estava preocupada com eles e que resolveu fazer a ponte com o serviço. Os mais velhos e aqueles que já estão a ser seguidos há algum tempo são mais autónomos e costumam vir sozinhos. E: Em média, qual é a duração do acompanhamento clínico de um adolescente? HF: A duração é extraordinariamente variável. Situações pontuais, em que o sintoma não está excessivamente cristalizado, resolvem-se muitas vezes com duas, três sessões, findas as quais o adolescente retorna ao médico de família. Depois há situações mais longas, nomeadamente as que exigem psicoterapia. E: Segundo o professor Daniel Sampaio há uma ideia generalizada, ainda que errada, de que a adolescência é obrigatoriamente uma fase problemática, quando apenas 15% dos jovens desenvolvem uma patologia digna de intervenção clínica. Concorda? HF: Concordo plenamente com essa visão mas eu não diria "apenas 15%" - 15% de adolescentes que necessitam de intervenção clínica é muito! E é muito sobretudo tendo em conta que não temos muitos serviços vocacionados para o atendimento a este grupo etário. Os serviços que existem não são suficientes para atender com qualidade a população adolescente que necessita de apoio, embora a panorâmica tenha evoluído positivamente nos últimos anos. E: Que serviços são esses? HF: Há muitos centros de saúde com consultas de adolescentes e há centros de atendimento a adolescentes ligados aos cuidados de saúde primários. Muitos hospitais também já têm consultas de adolescentes a funcionar, ao nível dos serviços de pediatria. Na zona de Lisboa existem na Estefânia, São Francisco Xavier, Amadora e Garcia de Orta. O mesmo sucede, por exemplo, nos hospitais de Viseu, Évora e Porto. E: Esse tipo de intervenção também poderia ser feita nas escolas? HF: Há especialistas que defendem que deveria haver na própria escola um gabinete de atendimento e há outros que entendem que devia existir uma melhor ligação entre as escolas e os vários grupos que atendem. Há quem não goste muito de ver os gabinetes de atendimento inseridos na própria escola porque de algum modo isso estigmatiza o aluno que lá vai e os adolescentes gostam de preservar o seu anonimato. Penso que as duas concepções são válidas, há é que perceber que modelo funcionará melhor no 27
  • 28. nosso País. E: Os docentes portugueses têm formação adequada para identificar os adolescentes que requerem acompanhamento clínico? HF: Muitos professores já estão bastante alertados para o tipo de problemas mais prevalentes na adolescência. Penso contudo que deveria existir um maior intercâmbio de formação entre professores e profissionais de saúde, de modo a que a referenciação por parte dos professores fosse ainda mais eficaz e generalizada. Porque efectivamente os professores estão numa posição privilegiada para detectar precocemente determinadas situações, nomeadamente as alterações de comportamento alimentar. A par da família, a escola é, de facto, a arena importante nesta ligação que os serviços de saúde têm de fazer com outros parceiros. E: De que forma é que os progenitores podem ajudar os filhos a viver tranquilamente a adolescência? HF: É extraordinariamente importante que a família ajude a promover a autonomia do adolescente, que não o controle demasiado, mas que simultaneamente saiba estabelecer regras e limites. Os pais devem mostrar afecto, muita disponibilidade, mostrar que estão lá, permitir que o seu filho se desenvolva autonomamente - porque sem autonomia não há adolescência - mas fornecendo em simultâneo alguma estrutura, para que o desenvolvimento se possa efectuar da forma mais harmoniosa possível. Tudo isto tem razões do ponto de vista científico: o córtex pré-frontal é a zona do nosso cérebro que permite tomar decisões, planear a médio e longo prazo, saber escolher. O que acontece é que o seu desenvolvimento só está terminado por volta dos 25 anos, o que significa que não é só a mania do adolescente de dar connosco em doidos. Por vezes não cumprem horários ou não sabem planificar o seu trabalho a nível da escola porque, de facto, ainda não têm essa capacidade. E nós temos de os ajudar. E: As consultas de adolescentes podem ajudar também os pais nessa tarefa? HF: Damos sempre um pouco de apoio aos pais na educação dos filhos, mas obviamente que esta é uma matéria que ultrapassa o âmbito dessas consultas. Daí que eu veria com muito bons olhos a existência de grupos de suporte nas juntas de freguesia, nos vários serviços de cuidados de saúde primários, nas associações de pais nas escolas, onde os pais de adolescentes pudessem discutir, entre eles, estas questões. E: Muitas das complicações que surgem na adolescência têm as raízes na infância? HF: Determinados comportamentos não começaram, de facto, de um dia para o outro. Já vêm de trás, e aí vale muito a pena que os pais que têm filhos pequenos façam desde cedo um trabalho de prevenção de alguns comportamentos. Nomeadamente na questão das regras e dos limites: é muito importante que uma criança saiba aceitar um "não" sem ficar revoltado, percebendo que os pais ou os professores estão ali para ajudar. Esta é uma área em que desde pequeninos se pode fazer bastante, no sentido da criança não chegar à adolescência com uma incapacidade completa de aceitar regras. PERFIL Helena Fonseca é médica e coordenadora da Consulta de Adolescentes do Serviço de Pediatria do Hospital de Santa Maria. É presidente da Secção de Medicina do Adolescente da Sociedade Portuguesa de Pediatria e vice-presidente da International Association for Adolescent Health. Depois de "Compreender os Adolescentes - um desafio para Pais e Educadores", prepara-se para lançar, em Maio, "Viver com Adolescentes". A obra pretende ajudar os pais a perceber que comportamentos são, afinal, normais nos filhos e outros que lhes passam despercebidos mas que vale a pena agarrar, de modo a prevenir comportamentos de risco. 28