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143
Abstract
Objective: To assess the prevalence of systemic inflammatory
syndromes on admission to a tertiary-care university pediatric
intensive care unit (ICU), and relate this to length of hospital stay,
risk of death and mortality rate.
Methods: Cross-sectional, prospective, observational study,
including all patients admitted to the Hospital de Clínicas de Porto
Alegre (HCPA) ICU between August 1st 1999 and July 31st 2000.
Patient demographic variables were considered together with the
risk of mortality on admission, co-morbidities, length of hospital stay
and ICU outcome, in addition to variables that characterize the
systemic inflammatory syndromes (systemic inflammatory response
syndrome, sepsis, severe sepsis and septic shock).
Results: We studied 447 admissions of 388 patients; 54% were
male, with a median age of 20 months. The prevalence of systemic
inflammatory response syndrome (SIRS) was 68%: 2/3 infectious
(sepsis, severe sepsis or septic shock) and 1/3 non-infectious. Risk
of mortality scores for patients with infectious SIRS were higher than
for those with non-infectious SIRS (6.75% [P25=2.25 - P75=21.3]
vs. 2.35% [P25=1.1 - P75=6.7]; p=0) and increased according to
SIRS severity (2.9; 10.85, 43.9%; p<0.05). The observed mortality
was 12% for patients with SIRS and 5.8% for those without SIRS
(p=0.057); the observed mortality for infectious SIRS was 14.9%
and for non-infectious 6.3% (p=0.041). The period spent in ICU for
infectious SIRS was longer than for non-infectious cases: 3 days
(P25=2 - P75=7) vs. 2 days (P25=1.5 - P75=4); p=0.006.
Conclusions: The prevalence rate of patients with systemic
inflammatory response syndrome upon admission to HCPA pediatric
intensive care unit was elevated, with a predominance of infectious
syndromes, responsible for longer stays, increased risk of mortality
and increased mortality of patients during the period evaluated.
J Pediatr (Rio J). 2005;81(2):143-8: Systemic inflammatory
response syndrome. sepsis. severe sepsis. septic shock. prevalence.
mortality. intensive care, children.
Resumo
Objetivo: Avaliar a prevalência das síndromes inflamatórias sistê-
micas na admissão em uma unidade de terapia intensiva (UTI) pediá-
trica universitária terciária e os respectivos tempo de permanência,
probabilidade de morte e taxa de mortalidade.
Métodos: Estudo transversal prospectivo observacional, com to-
dos os pacientes admitidos na UTI do Hospital de Clínicas de Porto
Alegre (HCPA) entre 1º de agosto de 1999 e 31 de julho de 2000. Foram
estudadas as variáveis demográficas dos pacientes, o risco de morte na
admissão, co-morbidades, tempo de permanência e desfecho na UTI,
além das variáveis que caracterizam as síndromes inflamatórias sistê-
micas (síndrome da resposta inflamatória sistêmica, sepse, sepse grave
e choque séptico).
Resultados: Foram estudadas 447 admissões de 388 pacientes;
54% deles eram do sexo masculino, com mediana de idade de 20
meses. A prevalência de síndrome da resposta inflamatória sistêmica
(SRIS) foi 68%: 2/3 infecciosas (sepse, sepse grave ou choque
séptico) e 1/3 não-infecciosas. O risco de morte dos pacientes com
SRIS infecciosa foi maior do que naqueles com SRIS não-infecciosa
(6,75% [P25 = 2,25 e P75 = 21,3] versus 2,35% [P25 = 1,1 e P75
= 6,7]; p = 0) e crescente de acordo com a sua gravidade (2,9; 10,85
e 43,9%; p < 0,05). A mortalidade observada foi 12% nos pacientes
com SRIS e 5,8% sem SRIS (p = 0,057); na SRIS infecciosa, a
mortalidade observada foi 14,9% e, na não-infecciosa, foi de 6,3%
(p = 0,041). A permanência na UTI na SRIS infecciosa foi significa-
tivamente superior à não-infecciosa: 3,0 dias (P25 = 2 e P75 = 7)
versus 2 dias (P25=1,5 e P75=4), com p=0,006.
Conclusões: A taxa de prevalência de pacientes com síndrome da
resposta inflamatória sistêmica na admissão da unidade de terapia
intensiva pediátrica do HCPA foi elevada, com predomínio das síndro-
mes infecciosas, associadas à maior permanência, risco de morte e
mortalidade dos pacientes no período avaliado.
J Pediatr (Rio J). 2005;81(2):143-8: Síndrome da resposta infla-
matória sistêmica, sepse, sepse grave, choque séptico, prevalência,
mortalidade, cuidado intensivo, crianças.
Prevalência das síndromes inflamatórias sistêmicas
em uma unidade de tratamento intensivo pediátrica terciária
Prevalence of systemic inflammatory syndromes at a tertiary pediatric intensive care unit
Paulo R. A. Carvalho1, Letícia Feldens2, Elizabeth E. Seitz3, Taís S. Rocha4,
Maria A. Soledade5, Eliana A. Trotta6
0021-7557/05/81-02/143
Jornal de Pediatria
Copyright © 2005 by Sociedade Brasileira de Pediatria
ARTIGO ORIGINAL
1. Doutor. Professor adjunto de Pediatria, Universidade Federal do Rio
Grande do Sul (UFRGS), Porto Alegre, RS. Intensivista assistente da UTI
pediátrica do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA).
2. Médica residente em cirurgia, HCPA.
3. Mestre em pediatria, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do
Sul (PUCRS), Porto Alegre, RS.
4. Mestre em pediatria, UFRGS.
5. Intensivista plantonista, UTI pediátrica, HCPA.
6. Chefe da UTI pediátrica, HCPA. Professora adjunta de pediatria, UFRGS.
Artigo submetido em 02.09.04, aceito em 22.12.04.
Como citar este artigo: Carvalho PR, Feldens L, Seitz EE, Rocha TS,
Soledade MA, Trotta EA. Prevalência das síndromes inflamatórias sistê-
micas em uma unidade de tratamento intensivo pediátrica terciária. J
Pediatr (Rio J). 2005;81:143-8.
Introdução
Os conceitos e critérios clínicos introduzidos na última
década em relação à sepse permitiram uma classificação
mais apropriada de eventos inflamatórios em pacientes
internados em unidades de tratamento intensivo (UTI).
Indiscutivelmente, trouxeram benefícios tanto para o en-
tendimento e manejo desses quadros clínicos quanto para
a comparação de resultados de estudos envolvendo novas
terapias para as síndromes inflamatórias1.
Os critérios diagnósticos da síndrome da resposta infla-
matória sistêmica (SRIS) publicados em 1991 ainda são
questionados e discutidos no que tange à sensibilidade e à
especificidade, mais notadamente nos pacientes pediátri-
144 Jornal de Pediatria - Vol. 81, Nº2, 2005
cos. Nesse grupo etário, o conceito da SRIS ainda não foi
suficientemente validado, especialmente no que se refere
aos padrões de variáveis fisiológicas dos diferentes seg-
mentos pediátricos (freqüências cardíaca e respiratória,
pressão arterial e débito urinário). Algumas publicações
mencionam critérios da SRIS adaptados para crianças2-4 e
utilizados nos raros estudos pediátricos relatados, com
reconhecida falta de especificidade2,3.
As síndromes inflamatórias sistêmicas de etiologia in-
fecciosa ou síndromes sépticas (sepse, sepse grave e
choque séptico) são situações de grande ocorrência nas
UTI, sendo causa de até 50% das mortes nessas unida-
des5-8. Tanto a morbidade quanto a mortalidade dessas
síndromes têm aumentado nas últimas décadas, porque
cada vez mais se tratam pacientes gravemente doentes e
em estágios de doença cada vez mais avançados2.
O objetivo deste estudo foi avaliar as taxas de preva-
lência das síndromes inflamatórias sistêmicas na admis-
são de pacientes em uma UTI pediátrica universitária,
bem como os respectivos tempo de permanência, proba-
bilidade de morte e taxa de mortalidade desses pacientes
no período de um ano.
Casuística e método
Durante o período compreendido entre 1º de agosto de
1999 e 31 de julho de 2000, foi realizado um estudo
transversal, prospectivo e observacional, que incluiu todos
os pacientes admitidos na UTIP do Hospital de Clínicas de
Porto Alegre.
O Hospital de Clínicas de Porto Alegre é o hospital geral
de ensino da Universidade Federal do Rio Grande do Sul
(UFRGS), com capacidade para 110 leitos pediátricos, e cuja
UTI pediátrica possui 13 leitos para a assistência terciária e
multidisciplinar a pacientes clínicos e cirúrgicos, exceto
para trauma, cirurgias cardíaca e neurológica, e doenças
próprias do período neonatal.
No estudo, foram consideradas as variáveis sexo, idade,
motivo de admissão na UTI, procedência, o risco de morte
baseado no escore PRISM (Pediatric Risk of Mortality) das
primeiras 24 horas pós-admissão9, co-morbidades, resulta-
dos dos espécimes de sangue e/ou líquor coletados por
ocasião da admissão na UTI, tempo de permanência na UTI
e desfecho, além das variáveis clínicas que caracterizam as
síndromes inflamatórias estudadas1-3,8,10,11, a saber: (a)
síndrome da resposta inflamatória sistêmica (SRIS), carac-
terizada por duas ou mais das seguintes condições: (a)
temperatura (axilar) > 37,5 ºC ou < 36 ºC; (b) freqüência
cardíaca > 160 bpm em lactentes e > 150 bpm em crianças,
ou > 2 DP acima da normal para a idade; (c) freqüência
respiratória > 60 mpm em lactentes e > 50 mpm em
crianças, ou > 2 DP acima da normal para a idade; (d)
leucócitos totais > 12.000 células/mm3, < 4.000
células/mm3, ou formas em bastão > 10%; (b) sepse,
caracterizada por infecção comprovada (cultura positiva)
ou fortemente suspeitada (evidência de foco infeccioso)
associada com duas ou mais das condições consideradas
para SRIS; (c) sepse grave, caracterizada como a sepse
associada à disfunção de órgãos, hipoperfusão ou hipoten-
são (pressão sistólica < percentil 10 para a idade); e (d)
choque séptico, caracterizado como sepse associada com
hipotensão (pressão sistólica < percentil 10 para a idade)
mesmo após ressuscitação volumétrica adequada, somada
à presença de distúrbios da perfusão sistêmica.
A estatística descritiva é apresentada como mediana
para a medida de tendência central e a amplitude entre
quartis como medida de dispersão (P25 e P75). Foram
realizadas análises comparativas com a utilização do teste
qui-quadrado para variáveis categóricas. Os paramétricos
de Mann-Whitney e Kruskall-Wallis foram usados para
variáveis contínuas sem distribuição normal, utilizando-se
o teste de Dunn para comparações múltiplas entre as
médias. Para significância estatística, foi considerado o
valor de p < 0,05. Para os cálculos, utilizou-se o programa
estatístico SPSS 10.0.
O estudo foi aprovado pela Comissão de Ética em
Pesquisa do Hospital de Clínicas de Porto Alegre, que o
isentou da necessidade de consentimento informado por se
tratar de estudo epidemiológico com base populacional
constituída de todos os pacientes da UTI pediátrica no
período avaliado, e de caráter apenas observacional.
Resultados
Foram estudadas 447 admissões na UTI pediátrica em
388 pacientes, sendo 54% dos pacientes do sexo masculino,
com idades variando de um mês a 17 anos, com mediana de
20 meses; o risco de morte calculado através do escore
PRISM na admissão teve mediana de 3,5% (P25 = 1,7 e
P75 = 12,9). A procedência dos pacientes ficou distribuída
entre unidades clínicas (31%) e unidades cirúrgicas (11%)
do próprio hospital, setor de emergência (30%) e transfe-
rência de outros hospitais (28%).
As principais causas de admissão na UTI no período
avaliado foram insuficiência respiratória (39%), pós-opera-
tório (18%) e instabilidade hemodinâmica (12%). Dos
pacientes admitidos, 36% não apresentavam co-morbida-
des; dos 278 pacientes com doença prévia, 15,5% eram
portadores de pneumopatia, 13% de hepatopatia, 12% de
neoplasia e 11,5% de doença genética.
A taxa de prevalência de SRIS na admissão foi de 68%
(n = 304) (Figura 1). A SRIS aparentemente não relaciona-
da à infecção ocorreu em 36% dos pacientes (n = 110) com
diagnóstico de SRIS, enquanto as síndromes sépticas ou
infecciosas (sepse, sepse grave e choque séptico) ocorre-
ram nos 64% restantes (n = 194), distribuídas conforme
mostra a Figura 2.
A caracterização do diagnóstico sindrômico baseou-se
predominantemente na presença de dois (n = 138) ou três
(n = 110) dos quatro critérios clínicos recomendados. Os
quatro critérios juntos estavam presentes em 15% dos
pacientes com SRIS (n = 46). O critério “freqüência cardíaca
aumentada” ocorreu em 85,5% dos pacientes com SRIS,
“contagem e/ou proporção de leucócitos alteradas” em
77%, “temperatura alterada” em 62% e “freqüência respi-
ratória aumentada” em 47,5% (Figura 3).
Resposta inflamatória sistêmica na UTI pediátrica – Carvalho PRA et alii
Jornal de Pediatria - Vol. 81, Nº2, 2005 145
A identificação de agente microbiano em espécime
(sangue ou líquor) obtido por ocasião da admissão ocorreu
em 63 pacientes (14% das admissões) – 84% em pacientes
com SRIS infecciosa e 16% em pacientes com ausência de
SRIS. Dos pacientes com SRIS infecciosa, apenas 26%
apresentaram identificação de agente microbiano. Dos 10
pacientes sem critérios para SRIS, mas com indício de
agente microbiano, apenas três não tinham nenhuma evi-
dência clínica de infecção.
O risco de morte calculado pelo escore PRISM da
admissão foi estatisticamente maior nos pacientes com
SRIS (mediana = 4,15% [P25 = 1,85 e P75 = 15,5]) em
relação àqueles sem SRIS (mediana = 2,65% [P25 = 1,1 e
P75 = 8,3]; p=0); da mesma forma, foi estatisticamente
maior nos pacientes com SRIS infecciosa (mediana = 6,75%
[P25 = 2,25 e P75 = 21,3]) em relação à SRIS não-
infecciosa (mediana = 2,35% [P25 = 1,1 e P75 = 6,7];
p = 0), (Tabela 1). Nas síndromes inflamatórias infeccio-
sas, o risco de morte se mostrou crescente de acordo com
a complexidade das mesmas (Tabela 2).
No período do estudo, ocorreram 44 óbitos entre os
pacientes da amostra. Tal como a mortalidade esperada, a
mortalidade observada foi variável, de acordo com o diag-
nóstico sindrômico da admissão: 12% (n = 36) nos pacien-
tes com SRIS e 5,8% (n = 8) naqueles sem SRIS (p = 0,057).
Na SRIS de etiologia infecciosa, a mortalidade observada foi
de 14,9% (n = 29), enquanto, na de etiologia não-infecci-
osa, foi de 6,3% (n = 7) (p = 0,041).
A mediana de idade do grupo de pacientes com SRIS
foi 24 meses (P25 = 5,25 e P75 = 72,5), maior do que a
do grupo sem SRIS (mediana = 12 meses [P25 = 4 e
P75 = 60]; p = 0,012). Entre os pacientes com SRIS, a
mediana de idade do grupo com SRIS não-infecciosa foi
de 39 meses (P25 = 16,5 e P75 = 89,5), bem superior a
do grupo com SRIS infecciosa (mediana = 16 meses
[P25 = 4 e P75 = 61]; p = 0).
O tempo de permanência dos pacientes na UTI variou de
menos de um a 72 dias (mediana = 3 dias [P25 = 2 e
P75 = 6]), sendo a mesma mediana de três dias nos
pacientes com SRIS (P25 = 2 e P75 = 6) e sem SRIS
(P25 = e P75 = 6) (p = 0,184). No entanto, quando
comparados os grupos por etiologia da SRIS, o grupo de
pacientes de etiologia infecciosa teve mediana de perma-
nência na UTI de três dias (P25 = 2 e P75 = 7), estatistica-
mente superior à do grupo de etiologia não-infecciosa
(mediana = 2 dias [P25 = 1,5 e P75 = 4]; p = 0,006).
Quando avaliado o desfecho dos pacientes estudados, foi
observado que os não-sobreviventes à internação na UTI
(n = 44) tiveram uma mediana de permanência de 5,5 dias
Resposta inflamatória sistêmica na UTI pediátrica – Carvalho PRA et alii
Figura 1 - Distribuição dos diagnósticos de admissão (n = 447).
SRIS: síndrome da resposta inflamatória sistêmica
Figura 3 - Distribuição do número de critérios de acordo com
cada diagnóstico na admissão (n = 447)
SRIS
infecciosa
43,5% 32,0%
24,5%
Outros
SRIS
não-infecciosa
Choque séptico
9,8%
43,8%
46,4%
Sepse
Sepse grave
60
%
50
40
30
20
10
0
SRIS
não-infecciosa
Sepse Sepse
grave
Choque
séptico
2 3 4
Figura 2 - Distribuição das síndromes sépticas na admissão (n =
194)
146 Jornal de Pediatria - Vol. 81, Nº2, 2005
(P25 = 1 e P75 = 13,75), significativamente maior do que
daqueles que sobreviveram, com mediana de 3 dias (P25 = 2
e P75 = 5) (p = 0,031).
Discussão
A avaliação de prevalência na admissão traduz apenas
parcialmente a ocorrência das síndromes inflamatórias
sistêmicas nas UTI, uma vez que a taxa cumulativa das
síndromes sépticas, por exemplo, é mais elevada no período
pós-admissão, por conta das infecções adquiridas na pró-
pria UTI, resultando em maior morbimortalidade e maior
custo para os hospitais12-15. Por outro lado, o tipo de
referência para a qual está orientada a UTI interfere na taxa
de SRIS da admissão – naquelas unidades predominante-
mente cirúrgicas ou de trauma, a prevalência da SRIS de
etiologia não-infecciosa está mais elevada na admissão,
diferentemente das UTI clínicas, onde predomina as de
etiologia infecciosa11,16-18.
No presente estudo, realizado com delineamento trans-
versal e em que a amostra é caracterizada por baixa
admissão de pacientes do setor de emergência do hospital
(30%), o predomínio das síndromes infecciosas na admis-
são sobre a SRIS não-infecciosa pode ser atribuído tanto à
característica predominantemente clínica da unidade como
à sua condição de referência para inúmeras condições de
doença crônica, nas quais as circunstâncias de aquisição de
infecção estão menos relacionadas à origem comunitária19.
Raros são os estudos de incidência ou prevalência de
SRIS em grupos pediátricos para que possamos estabelecer
comparações com a casuística apresentada. Um dos estu-
dos epidemiológicos mais conhecidos, de Proulx et al.10,
realizado em uma UTI pediátrica canadense, mostrou uma
incidência cumulativa de SRIS de 82%, com uma mediana
de permanência na UTI de dois dias. Foi realizado em uma
UTI pediátrica clínico-cirúrgica, onde não eram admitidos
pacientes com transplante de medula óssea e onde havia
poucos pacientes queimados. No presente estudo, a preva-
lência de 68% de SRIS na admissão, cuja comparação com
aquele estudo também fica limitada pelo delineamento
utilizado, retrata o perfil de uma UTI pediátrica universitá-
ria, terciária, que não é referência para trauma, cirurgias
cardíaca e neurológica, e doenças do período neonatal, mas
onde dois terços dos pacientes apresenta co-morbidades.
De certa forma, esse perfil justifica a maior prevalência de
SRIS de etiologia infecciosa – 43,5 versus 24,5% (Figura 1),
uma vez que admite muitos pacientes com doenças crônicas
e debilitantes. Quando se considera a incidência cumulativa
da SRIS infecciosa, as diferenças de ocorrência entre esse
tipo e o de SRIS não-infecciosa pendem para o lado da
Resposta inflamatória sistêmica na UTI pediátrica – Carvalho PRA et alii
Tabela 1 - Risco de morte dos pacientes (PRISM) na admissão de acordo com o diagnóstico
sindrômico
Teste de Mann-Whitney: (*) estatística p = 0. (†) estatística p = 0. SRIS: síndrome de resposta inflamatória
sistêmica.
PRISM admissão
Diagnóstico sindrômico n Mediana (%) Amplitude entre quartis
Sem SRIS 143 2,65 P25 = 1,10 e P75 = 8,30
Com SRIS 304 4,15 P25 = 1,85 e P75 = 15,50*
SRIS não-infecciosa 110 2,35 P25 = 1,10 e P75 = 6,70
SRIS infecciosa 194 6,75 P25 = 2,25 e P75 = 21,30 †
Tabela 2 - Risco de morte dos pacientes (PRISM) na admissão de acordo com o diagnóstico da
síndrome séptica
* Diferença estatisticamente significativa dos demais diagnósticos (Teste de Kruskall-Wallis e de Dunn;
p < 0,05).
PRISM admissão
Diagnóstico sindrômico n Mediana (%) Amplitude entre quartis
Sepse 85 2,95 P25 = 1,75 e P75 = 7,25
Sepse grave 90 10,85 P25 = 5,10 e P75 = 30,15
Choque séptico 19 43,90 P25= 8,70 e P75= 86,90*
Jornal de Pediatria - Vol. 81, Nº2, 2005 147Resposta inflamatória sistêmica na UTI pediátrica – Carvalho PRA et alii
primeira, uma vez que as síndromes sépticas têm origem
nosocomial predominante11,16-18.
No estudo canadense, às situações de etiologia infec-
ciosa coube uma parcela inferior a 30% dos casos de
SRIS. Quando considerada a distribuição das síndromes
inflamatórias infecciosas, aquele estudo mostrou 79,3%
dos casos de sepse, 13,8% de sepse grave e 6,9% de
choque séptico, para toda a permanência na UTI. Estudo
retrospectivo de Sáez-Llorens et al.11 identificou 18% de
SRIS infecciosa em uma população de 4529 pacientes de
uma UTI pediátrica panamenha, distribuídos em 21% de
sepse, 61% de sepse grave e 18% de choque séptico. No
presente estudo, em 43,5% de prevalência para a SRIS
infecciosa na admissão, a distribuição das síndromes
sépticas mostrou 43,8, 46,4 e 9,8% de sepse, sepse
grave e choque séptico, respectivamente. As diferentes
distribuições das síndromes sépticas nos estudos avalia-
dos podem sugerir dificuldades de acesso à UTI, de
diagnóstico ou de intervenção precoce, bem como relaci-
onadas à própria natureza da doença.
O diagnóstico das síndromes inflamatórias sistêmicas,
embora atendendo aos critérios recomendados por oca-
sião da Conferência de Consenso da Sepse1, de 1991, com
adaptações à população pediátrica2,3, ainda assim é
passível de questionamentos, em função da sua baixa
especificidade. No presente estudo, a presença de dois,
três ou quatro critérios para caracterização da SRIS não
se mostrou útil para melhorar a especificidade dos diag-
nósticos clínicos das síndromes inflamatórias. No caso
das síndromes sépticas, somente a identificação do agen-
te etiológico pode tornar o diagnóstico conclusivo, ainda
que, em mais de 30% das situações, as culturas resultem
negativas13,14. Devido a essas limitações diagnósticas, a
recente Conferência Internacional de Sepse, de 2001,
incluiu uma lista de critérios diagnósticos clínicos e
laboratoriais que podem ajudar a considerar pacientes
infectados como se “parecessem sépticos”20. No estudo
de Proulx et al.10, apenas 5% dos pacientes tinham pelo
menos uma hemocultura positiva durante sua permanên-
cia na UTI. Considerando que menos de 30% dos pacien-
tes estudados tinha síndrome séptica, isso significa que,
em apenas 15% dos casos, houve identificação de agente
etiológico. No estudo de Sáez-Llorens et al.11, que adici-
onou aos critérios recomendados a taxa de sedimentação
de eritrócitos e a dosagem sérica de proteína C-reativa,
as síndromes infecciosas foram bacteriologicamente com-
provadas em 26% dos casos. No presente estudo, apenas
15% dos pacientes reunia os quatro critérios clássicos da
SRIS e, de toda a amostra, apenas 14% tinha identifica-
ção do agente microbiano, a maioria em pacientes com
síndromes sépticas (apenas 26% de positividade no gru-
po da SRIS infecciosa). Surpreendentemente, em 10
pacientes que não reuniram os critérios para o diagnós-
tico da SRIS, foi identificado agente microbiano, o que
reforça mais a idéia de baixa sensibilidade e especificida-
de dos critérios inicialmente recomendados.
No presente estudo, observa-se que tanto o risco calcu-
lado como o risco observado de morte nos pacientes sem
SRIS foi muito semelhante ao dos pacientes com SRIS não-
infecciosa. Observa-se também uma maior prevalência de
SRIS infecciosa em pacientes de baixa idade, os quais
sabidamente são mais suscetíveis aos agentes infecciosos.
Dessa forma, a etiologia infecciosa parece ser fator deter-
minante para o aumento de prevalência e de mortalidade
pela SRIS em UTI pediátricas. Isso se confirma em outros
estudos da literatura que relacionam os quadros infecciosos
sistêmicos à maior mortalidade na UTI10,17.
O presente estudo mostrou mortalidade de 15% nos
pacientes com síndromes sépticas, sendo esta duas vezes
maior do que a dos pacientes com SRIS não-infecciosa
(6,3%) e ainda bem inferior à cifra observada no estudo de
Sáez-Llorens et al, de 39%11. No estudo de Proulx et al., que
relacionava a mortalidade das síndromes inflamatórias com
a presença de disfunção de múltiplos órgãos, a cifra de
mortalidade para as síndromes sépticas foi de 32%10.
A limitação do delineamento do estudo não permitiu
estabelecer uma relação de causa/efeito entre o diagnós-
tico sindrômico da admissão e o tempo de UTI, uma vez
que a evolução da situação inicial e as intercorrências
clínicas que pudessem dela decorrer no tempo de perma-
nência na UTI seriam múltiplas e de desfecho imprevisí-
vel. Poder-se-ia inferir que as situações infecciosas de-
mandariam maior tempo para o tratamento específico e
de eventuais complicações, como de fato ocorreu na
casuística apresentada, na qual a permanência dos paci-
entes com síndromes infecciosas foi quase duas vezes
maior do que aquela dos pacientes com SRIS não-infec-
ciosa. Da mesma forma, os pacientes com desfecho para
o óbito permaneceram um tempo significativamente maior
na UTI do que aqueles que sobreviveram.
Concluímos que a taxa de prevalência de pacientes com
síndromes inflamatórias sistêmicas na admissão da UTI
estudada foi elevada, com predomínio das síndromes infec-
ciosas (sepse, sepse grave e choque séptico) sobre as
demais. Elas são responsáveis pela maior permanência,
pelo maior risco de morte e pela maior mortalidade dos
pacientes da UTI estudada.
Referências
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organ failure and guidelines for the use of innovative therapies
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4. Jafari HS, McCracken GH. Sepsis and septic shock: a review for
clinicians. Pediatr Infect Dis J. 1992;11:739-48.
5. Jacobs RF, Sowell MK, Moss M, Fiser DH. Septic shock in
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6. Carcillo JA, Davis AL, Zaritsky A. Role of early fluid resuscitation
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7. Bone RC. The pathogenesis of sepsis. Ann Intern Med. 1991;115:
457-69.
148 Jornal de Pediatria - Vol. 81, Nº2, 2005 Resposta inflamatória sistêmica na UTI pediátrica – Carvalho PRA et alii
Correspondência:
Paulo Roberto Antonacci Carvalho
Avenida Encantado, 249
CEP 90470-420 – Porto Alegre, RS
Fax: (51) 3330.6334
E-mail: carvalho.conex@uol.com.br
8. Tran DD, Groeneveld AB, van der Meulen J, Nauta JJ, Strack van
Schijndel RJ, Thijs LG. Age, chronic disease, sepsis, organ
system failure, and mortality in a medical intensive care unit.
Crit Care Med. 1990;18:474-9.
9. Pollack MM, Ruttimann UE, Getson PR. Pediatric Risk of Mortality
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10. Proulx F, Fayon M, Farrell CA, Lacroix J, Gauthier M. Epidemiology
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12. Brun-Buisson C, Roudot-Thoraval F, Girou E, Grenier-Sennelier
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intensive care unit and influence of hospital-acquired sepsis.
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13. Alberti C, Brun-Brisson C, Burchardi H, Martin C, Goodman S,
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14. Padkin A, Goldfrad C, Brady AR, Young D, Black N, Rowan K.
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15. Angus DC, Linde-Zwirble WT, Lidicker J, Clermont G, Carcillo J,
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16. Brun-Bruisson C, Doyon F, Carlet J, Dellamonica P, Gouin F,
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18. Rangel-Fausto MS, Pittet D, Costigan M, Hwang T, Davis CS,
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19. Siegman-Igra Y, Fourer, Orni-Wasserlauf R, Golan Y, Noy A,
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20. Levy MM, Fink MP, Marshall JC, Abraham E, Angus D, Cook D.
et al. 2001 SCCM/ESICM/ACCP/ATS/SIS International Sepsis
Definitions Conference. Crit Care Med. 2003;31:1250-6.

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Prevalência das síndromes inflamatórias em unidade de tratamento intensivo pediátrico

  • 1. 143 Abstract Objective: To assess the prevalence of systemic inflammatory syndromes on admission to a tertiary-care university pediatric intensive care unit (ICU), and relate this to length of hospital stay, risk of death and mortality rate. Methods: Cross-sectional, prospective, observational study, including all patients admitted to the Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA) ICU between August 1st 1999 and July 31st 2000. Patient demographic variables were considered together with the risk of mortality on admission, co-morbidities, length of hospital stay and ICU outcome, in addition to variables that characterize the systemic inflammatory syndromes (systemic inflammatory response syndrome, sepsis, severe sepsis and septic shock). Results: We studied 447 admissions of 388 patients; 54% were male, with a median age of 20 months. The prevalence of systemic inflammatory response syndrome (SIRS) was 68%: 2/3 infectious (sepsis, severe sepsis or septic shock) and 1/3 non-infectious. Risk of mortality scores for patients with infectious SIRS were higher than for those with non-infectious SIRS (6.75% [P25=2.25 - P75=21.3] vs. 2.35% [P25=1.1 - P75=6.7]; p=0) and increased according to SIRS severity (2.9; 10.85, 43.9%; p<0.05). The observed mortality was 12% for patients with SIRS and 5.8% for those without SIRS (p=0.057); the observed mortality for infectious SIRS was 14.9% and for non-infectious 6.3% (p=0.041). The period spent in ICU for infectious SIRS was longer than for non-infectious cases: 3 days (P25=2 - P75=7) vs. 2 days (P25=1.5 - P75=4); p=0.006. Conclusions: The prevalence rate of patients with systemic inflammatory response syndrome upon admission to HCPA pediatric intensive care unit was elevated, with a predominance of infectious syndromes, responsible for longer stays, increased risk of mortality and increased mortality of patients during the period evaluated. J Pediatr (Rio J). 2005;81(2):143-8: Systemic inflammatory response syndrome. sepsis. severe sepsis. septic shock. prevalence. mortality. intensive care, children. Resumo Objetivo: Avaliar a prevalência das síndromes inflamatórias sistê- micas na admissão em uma unidade de terapia intensiva (UTI) pediá- trica universitária terciária e os respectivos tempo de permanência, probabilidade de morte e taxa de mortalidade. Métodos: Estudo transversal prospectivo observacional, com to- dos os pacientes admitidos na UTI do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA) entre 1º de agosto de 1999 e 31 de julho de 2000. Foram estudadas as variáveis demográficas dos pacientes, o risco de morte na admissão, co-morbidades, tempo de permanência e desfecho na UTI, além das variáveis que caracterizam as síndromes inflamatórias sistê- micas (síndrome da resposta inflamatória sistêmica, sepse, sepse grave e choque séptico). Resultados: Foram estudadas 447 admissões de 388 pacientes; 54% deles eram do sexo masculino, com mediana de idade de 20 meses. A prevalência de síndrome da resposta inflamatória sistêmica (SRIS) foi 68%: 2/3 infecciosas (sepse, sepse grave ou choque séptico) e 1/3 não-infecciosas. O risco de morte dos pacientes com SRIS infecciosa foi maior do que naqueles com SRIS não-infecciosa (6,75% [P25 = 2,25 e P75 = 21,3] versus 2,35% [P25 = 1,1 e P75 = 6,7]; p = 0) e crescente de acordo com a sua gravidade (2,9; 10,85 e 43,9%; p < 0,05). A mortalidade observada foi 12% nos pacientes com SRIS e 5,8% sem SRIS (p = 0,057); na SRIS infecciosa, a mortalidade observada foi 14,9% e, na não-infecciosa, foi de 6,3% (p = 0,041). A permanência na UTI na SRIS infecciosa foi significa- tivamente superior à não-infecciosa: 3,0 dias (P25 = 2 e P75 = 7) versus 2 dias (P25=1,5 e P75=4), com p=0,006. Conclusões: A taxa de prevalência de pacientes com síndrome da resposta inflamatória sistêmica na admissão da unidade de terapia intensiva pediátrica do HCPA foi elevada, com predomínio das síndro- mes infecciosas, associadas à maior permanência, risco de morte e mortalidade dos pacientes no período avaliado. J Pediatr (Rio J). 2005;81(2):143-8: Síndrome da resposta infla- matória sistêmica, sepse, sepse grave, choque séptico, prevalência, mortalidade, cuidado intensivo, crianças. Prevalência das síndromes inflamatórias sistêmicas em uma unidade de tratamento intensivo pediátrica terciária Prevalence of systemic inflammatory syndromes at a tertiary pediatric intensive care unit Paulo R. A. Carvalho1, Letícia Feldens2, Elizabeth E. Seitz3, Taís S. Rocha4, Maria A. Soledade5, Eliana A. Trotta6 0021-7557/05/81-02/143 Jornal de Pediatria Copyright © 2005 by Sociedade Brasileira de Pediatria ARTIGO ORIGINAL 1. Doutor. Professor adjunto de Pediatria, Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Porto Alegre, RS. Intensivista assistente da UTI pediátrica do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA). 2. Médica residente em cirurgia, HCPA. 3. Mestre em pediatria, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), Porto Alegre, RS. 4. Mestre em pediatria, UFRGS. 5. Intensivista plantonista, UTI pediátrica, HCPA. 6. Chefe da UTI pediátrica, HCPA. Professora adjunta de pediatria, UFRGS. Artigo submetido em 02.09.04, aceito em 22.12.04. Como citar este artigo: Carvalho PR, Feldens L, Seitz EE, Rocha TS, Soledade MA, Trotta EA. Prevalência das síndromes inflamatórias sistê- micas em uma unidade de tratamento intensivo pediátrica terciária. J Pediatr (Rio J). 2005;81:143-8. Introdução Os conceitos e critérios clínicos introduzidos na última década em relação à sepse permitiram uma classificação mais apropriada de eventos inflamatórios em pacientes internados em unidades de tratamento intensivo (UTI). Indiscutivelmente, trouxeram benefícios tanto para o en- tendimento e manejo desses quadros clínicos quanto para a comparação de resultados de estudos envolvendo novas terapias para as síndromes inflamatórias1. Os critérios diagnósticos da síndrome da resposta infla- matória sistêmica (SRIS) publicados em 1991 ainda são questionados e discutidos no que tange à sensibilidade e à especificidade, mais notadamente nos pacientes pediátri-
  • 2. 144 Jornal de Pediatria - Vol. 81, Nº2, 2005 cos. Nesse grupo etário, o conceito da SRIS ainda não foi suficientemente validado, especialmente no que se refere aos padrões de variáveis fisiológicas dos diferentes seg- mentos pediátricos (freqüências cardíaca e respiratória, pressão arterial e débito urinário). Algumas publicações mencionam critérios da SRIS adaptados para crianças2-4 e utilizados nos raros estudos pediátricos relatados, com reconhecida falta de especificidade2,3. As síndromes inflamatórias sistêmicas de etiologia in- fecciosa ou síndromes sépticas (sepse, sepse grave e choque séptico) são situações de grande ocorrência nas UTI, sendo causa de até 50% das mortes nessas unida- des5-8. Tanto a morbidade quanto a mortalidade dessas síndromes têm aumentado nas últimas décadas, porque cada vez mais se tratam pacientes gravemente doentes e em estágios de doença cada vez mais avançados2. O objetivo deste estudo foi avaliar as taxas de preva- lência das síndromes inflamatórias sistêmicas na admis- são de pacientes em uma UTI pediátrica universitária, bem como os respectivos tempo de permanência, proba- bilidade de morte e taxa de mortalidade desses pacientes no período de um ano. Casuística e método Durante o período compreendido entre 1º de agosto de 1999 e 31 de julho de 2000, foi realizado um estudo transversal, prospectivo e observacional, que incluiu todos os pacientes admitidos na UTIP do Hospital de Clínicas de Porto Alegre. O Hospital de Clínicas de Porto Alegre é o hospital geral de ensino da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), com capacidade para 110 leitos pediátricos, e cuja UTI pediátrica possui 13 leitos para a assistência terciária e multidisciplinar a pacientes clínicos e cirúrgicos, exceto para trauma, cirurgias cardíaca e neurológica, e doenças próprias do período neonatal. No estudo, foram consideradas as variáveis sexo, idade, motivo de admissão na UTI, procedência, o risco de morte baseado no escore PRISM (Pediatric Risk of Mortality) das primeiras 24 horas pós-admissão9, co-morbidades, resulta- dos dos espécimes de sangue e/ou líquor coletados por ocasião da admissão na UTI, tempo de permanência na UTI e desfecho, além das variáveis clínicas que caracterizam as síndromes inflamatórias estudadas1-3,8,10,11, a saber: (a) síndrome da resposta inflamatória sistêmica (SRIS), carac- terizada por duas ou mais das seguintes condições: (a) temperatura (axilar) > 37,5 ºC ou < 36 ºC; (b) freqüência cardíaca > 160 bpm em lactentes e > 150 bpm em crianças, ou > 2 DP acima da normal para a idade; (c) freqüência respiratória > 60 mpm em lactentes e > 50 mpm em crianças, ou > 2 DP acima da normal para a idade; (d) leucócitos totais > 12.000 células/mm3, < 4.000 células/mm3, ou formas em bastão > 10%; (b) sepse, caracterizada por infecção comprovada (cultura positiva) ou fortemente suspeitada (evidência de foco infeccioso) associada com duas ou mais das condições consideradas para SRIS; (c) sepse grave, caracterizada como a sepse associada à disfunção de órgãos, hipoperfusão ou hipoten- são (pressão sistólica < percentil 10 para a idade); e (d) choque séptico, caracterizado como sepse associada com hipotensão (pressão sistólica < percentil 10 para a idade) mesmo após ressuscitação volumétrica adequada, somada à presença de distúrbios da perfusão sistêmica. A estatística descritiva é apresentada como mediana para a medida de tendência central e a amplitude entre quartis como medida de dispersão (P25 e P75). Foram realizadas análises comparativas com a utilização do teste qui-quadrado para variáveis categóricas. Os paramétricos de Mann-Whitney e Kruskall-Wallis foram usados para variáveis contínuas sem distribuição normal, utilizando-se o teste de Dunn para comparações múltiplas entre as médias. Para significância estatística, foi considerado o valor de p < 0,05. Para os cálculos, utilizou-se o programa estatístico SPSS 10.0. O estudo foi aprovado pela Comissão de Ética em Pesquisa do Hospital de Clínicas de Porto Alegre, que o isentou da necessidade de consentimento informado por se tratar de estudo epidemiológico com base populacional constituída de todos os pacientes da UTI pediátrica no período avaliado, e de caráter apenas observacional. Resultados Foram estudadas 447 admissões na UTI pediátrica em 388 pacientes, sendo 54% dos pacientes do sexo masculino, com idades variando de um mês a 17 anos, com mediana de 20 meses; o risco de morte calculado através do escore PRISM na admissão teve mediana de 3,5% (P25 = 1,7 e P75 = 12,9). A procedência dos pacientes ficou distribuída entre unidades clínicas (31%) e unidades cirúrgicas (11%) do próprio hospital, setor de emergência (30%) e transfe- rência de outros hospitais (28%). As principais causas de admissão na UTI no período avaliado foram insuficiência respiratória (39%), pós-opera- tório (18%) e instabilidade hemodinâmica (12%). Dos pacientes admitidos, 36% não apresentavam co-morbida- des; dos 278 pacientes com doença prévia, 15,5% eram portadores de pneumopatia, 13% de hepatopatia, 12% de neoplasia e 11,5% de doença genética. A taxa de prevalência de SRIS na admissão foi de 68% (n = 304) (Figura 1). A SRIS aparentemente não relaciona- da à infecção ocorreu em 36% dos pacientes (n = 110) com diagnóstico de SRIS, enquanto as síndromes sépticas ou infecciosas (sepse, sepse grave e choque séptico) ocorre- ram nos 64% restantes (n = 194), distribuídas conforme mostra a Figura 2. A caracterização do diagnóstico sindrômico baseou-se predominantemente na presença de dois (n = 138) ou três (n = 110) dos quatro critérios clínicos recomendados. Os quatro critérios juntos estavam presentes em 15% dos pacientes com SRIS (n = 46). O critério “freqüência cardíaca aumentada” ocorreu em 85,5% dos pacientes com SRIS, “contagem e/ou proporção de leucócitos alteradas” em 77%, “temperatura alterada” em 62% e “freqüência respi- ratória aumentada” em 47,5% (Figura 3). Resposta inflamatória sistêmica na UTI pediátrica – Carvalho PRA et alii
  • 3. Jornal de Pediatria - Vol. 81, Nº2, 2005 145 A identificação de agente microbiano em espécime (sangue ou líquor) obtido por ocasião da admissão ocorreu em 63 pacientes (14% das admissões) – 84% em pacientes com SRIS infecciosa e 16% em pacientes com ausência de SRIS. Dos pacientes com SRIS infecciosa, apenas 26% apresentaram identificação de agente microbiano. Dos 10 pacientes sem critérios para SRIS, mas com indício de agente microbiano, apenas três não tinham nenhuma evi- dência clínica de infecção. O risco de morte calculado pelo escore PRISM da admissão foi estatisticamente maior nos pacientes com SRIS (mediana = 4,15% [P25 = 1,85 e P75 = 15,5]) em relação àqueles sem SRIS (mediana = 2,65% [P25 = 1,1 e P75 = 8,3]; p=0); da mesma forma, foi estatisticamente maior nos pacientes com SRIS infecciosa (mediana = 6,75% [P25 = 2,25 e P75 = 21,3]) em relação à SRIS não- infecciosa (mediana = 2,35% [P25 = 1,1 e P75 = 6,7]; p = 0), (Tabela 1). Nas síndromes inflamatórias infeccio- sas, o risco de morte se mostrou crescente de acordo com a complexidade das mesmas (Tabela 2). No período do estudo, ocorreram 44 óbitos entre os pacientes da amostra. Tal como a mortalidade esperada, a mortalidade observada foi variável, de acordo com o diag- nóstico sindrômico da admissão: 12% (n = 36) nos pacien- tes com SRIS e 5,8% (n = 8) naqueles sem SRIS (p = 0,057). Na SRIS de etiologia infecciosa, a mortalidade observada foi de 14,9% (n = 29), enquanto, na de etiologia não-infecci- osa, foi de 6,3% (n = 7) (p = 0,041). A mediana de idade do grupo de pacientes com SRIS foi 24 meses (P25 = 5,25 e P75 = 72,5), maior do que a do grupo sem SRIS (mediana = 12 meses [P25 = 4 e P75 = 60]; p = 0,012). Entre os pacientes com SRIS, a mediana de idade do grupo com SRIS não-infecciosa foi de 39 meses (P25 = 16,5 e P75 = 89,5), bem superior a do grupo com SRIS infecciosa (mediana = 16 meses [P25 = 4 e P75 = 61]; p = 0). O tempo de permanência dos pacientes na UTI variou de menos de um a 72 dias (mediana = 3 dias [P25 = 2 e P75 = 6]), sendo a mesma mediana de três dias nos pacientes com SRIS (P25 = 2 e P75 = 6) e sem SRIS (P25 = e P75 = 6) (p = 0,184). No entanto, quando comparados os grupos por etiologia da SRIS, o grupo de pacientes de etiologia infecciosa teve mediana de perma- nência na UTI de três dias (P25 = 2 e P75 = 7), estatistica- mente superior à do grupo de etiologia não-infecciosa (mediana = 2 dias [P25 = 1,5 e P75 = 4]; p = 0,006). Quando avaliado o desfecho dos pacientes estudados, foi observado que os não-sobreviventes à internação na UTI (n = 44) tiveram uma mediana de permanência de 5,5 dias Resposta inflamatória sistêmica na UTI pediátrica – Carvalho PRA et alii Figura 1 - Distribuição dos diagnósticos de admissão (n = 447). SRIS: síndrome da resposta inflamatória sistêmica Figura 3 - Distribuição do número de critérios de acordo com cada diagnóstico na admissão (n = 447) SRIS infecciosa 43,5% 32,0% 24,5% Outros SRIS não-infecciosa Choque séptico 9,8% 43,8% 46,4% Sepse Sepse grave 60 % 50 40 30 20 10 0 SRIS não-infecciosa Sepse Sepse grave Choque séptico 2 3 4 Figura 2 - Distribuição das síndromes sépticas na admissão (n = 194)
  • 4. 146 Jornal de Pediatria - Vol. 81, Nº2, 2005 (P25 = 1 e P75 = 13,75), significativamente maior do que daqueles que sobreviveram, com mediana de 3 dias (P25 = 2 e P75 = 5) (p = 0,031). Discussão A avaliação de prevalência na admissão traduz apenas parcialmente a ocorrência das síndromes inflamatórias sistêmicas nas UTI, uma vez que a taxa cumulativa das síndromes sépticas, por exemplo, é mais elevada no período pós-admissão, por conta das infecções adquiridas na pró- pria UTI, resultando em maior morbimortalidade e maior custo para os hospitais12-15. Por outro lado, o tipo de referência para a qual está orientada a UTI interfere na taxa de SRIS da admissão – naquelas unidades predominante- mente cirúrgicas ou de trauma, a prevalência da SRIS de etiologia não-infecciosa está mais elevada na admissão, diferentemente das UTI clínicas, onde predomina as de etiologia infecciosa11,16-18. No presente estudo, realizado com delineamento trans- versal e em que a amostra é caracterizada por baixa admissão de pacientes do setor de emergência do hospital (30%), o predomínio das síndromes infecciosas na admis- são sobre a SRIS não-infecciosa pode ser atribuído tanto à característica predominantemente clínica da unidade como à sua condição de referência para inúmeras condições de doença crônica, nas quais as circunstâncias de aquisição de infecção estão menos relacionadas à origem comunitária19. Raros são os estudos de incidência ou prevalência de SRIS em grupos pediátricos para que possamos estabelecer comparações com a casuística apresentada. Um dos estu- dos epidemiológicos mais conhecidos, de Proulx et al.10, realizado em uma UTI pediátrica canadense, mostrou uma incidência cumulativa de SRIS de 82%, com uma mediana de permanência na UTI de dois dias. Foi realizado em uma UTI pediátrica clínico-cirúrgica, onde não eram admitidos pacientes com transplante de medula óssea e onde havia poucos pacientes queimados. No presente estudo, a preva- lência de 68% de SRIS na admissão, cuja comparação com aquele estudo também fica limitada pelo delineamento utilizado, retrata o perfil de uma UTI pediátrica universitá- ria, terciária, que não é referência para trauma, cirurgias cardíaca e neurológica, e doenças do período neonatal, mas onde dois terços dos pacientes apresenta co-morbidades. De certa forma, esse perfil justifica a maior prevalência de SRIS de etiologia infecciosa – 43,5 versus 24,5% (Figura 1), uma vez que admite muitos pacientes com doenças crônicas e debilitantes. Quando se considera a incidência cumulativa da SRIS infecciosa, as diferenças de ocorrência entre esse tipo e o de SRIS não-infecciosa pendem para o lado da Resposta inflamatória sistêmica na UTI pediátrica – Carvalho PRA et alii Tabela 1 - Risco de morte dos pacientes (PRISM) na admissão de acordo com o diagnóstico sindrômico Teste de Mann-Whitney: (*) estatística p = 0. (†) estatística p = 0. SRIS: síndrome de resposta inflamatória sistêmica. PRISM admissão Diagnóstico sindrômico n Mediana (%) Amplitude entre quartis Sem SRIS 143 2,65 P25 = 1,10 e P75 = 8,30 Com SRIS 304 4,15 P25 = 1,85 e P75 = 15,50* SRIS não-infecciosa 110 2,35 P25 = 1,10 e P75 = 6,70 SRIS infecciosa 194 6,75 P25 = 2,25 e P75 = 21,30 † Tabela 2 - Risco de morte dos pacientes (PRISM) na admissão de acordo com o diagnóstico da síndrome séptica * Diferença estatisticamente significativa dos demais diagnósticos (Teste de Kruskall-Wallis e de Dunn; p < 0,05). PRISM admissão Diagnóstico sindrômico n Mediana (%) Amplitude entre quartis Sepse 85 2,95 P25 = 1,75 e P75 = 7,25 Sepse grave 90 10,85 P25 = 5,10 e P75 = 30,15 Choque séptico 19 43,90 P25= 8,70 e P75= 86,90*
  • 5. Jornal de Pediatria - Vol. 81, Nº2, 2005 147Resposta inflamatória sistêmica na UTI pediátrica – Carvalho PRA et alii primeira, uma vez que as síndromes sépticas têm origem nosocomial predominante11,16-18. No estudo canadense, às situações de etiologia infec- ciosa coube uma parcela inferior a 30% dos casos de SRIS. Quando considerada a distribuição das síndromes inflamatórias infecciosas, aquele estudo mostrou 79,3% dos casos de sepse, 13,8% de sepse grave e 6,9% de choque séptico, para toda a permanência na UTI. Estudo retrospectivo de Sáez-Llorens et al.11 identificou 18% de SRIS infecciosa em uma população de 4529 pacientes de uma UTI pediátrica panamenha, distribuídos em 21% de sepse, 61% de sepse grave e 18% de choque séptico. No presente estudo, em 43,5% de prevalência para a SRIS infecciosa na admissão, a distribuição das síndromes sépticas mostrou 43,8, 46,4 e 9,8% de sepse, sepse grave e choque séptico, respectivamente. As diferentes distribuições das síndromes sépticas nos estudos avalia- dos podem sugerir dificuldades de acesso à UTI, de diagnóstico ou de intervenção precoce, bem como relaci- onadas à própria natureza da doença. O diagnóstico das síndromes inflamatórias sistêmicas, embora atendendo aos critérios recomendados por oca- sião da Conferência de Consenso da Sepse1, de 1991, com adaptações à população pediátrica2,3, ainda assim é passível de questionamentos, em função da sua baixa especificidade. No presente estudo, a presença de dois, três ou quatro critérios para caracterização da SRIS não se mostrou útil para melhorar a especificidade dos diag- nósticos clínicos das síndromes inflamatórias. No caso das síndromes sépticas, somente a identificação do agen- te etiológico pode tornar o diagnóstico conclusivo, ainda que, em mais de 30% das situações, as culturas resultem negativas13,14. Devido a essas limitações diagnósticas, a recente Conferência Internacional de Sepse, de 2001, incluiu uma lista de critérios diagnósticos clínicos e laboratoriais que podem ajudar a considerar pacientes infectados como se “parecessem sépticos”20. No estudo de Proulx et al.10, apenas 5% dos pacientes tinham pelo menos uma hemocultura positiva durante sua permanên- cia na UTI. Considerando que menos de 30% dos pacien- tes estudados tinha síndrome séptica, isso significa que, em apenas 15% dos casos, houve identificação de agente etiológico. No estudo de Sáez-Llorens et al.11, que adici- onou aos critérios recomendados a taxa de sedimentação de eritrócitos e a dosagem sérica de proteína C-reativa, as síndromes infecciosas foram bacteriologicamente com- provadas em 26% dos casos. No presente estudo, apenas 15% dos pacientes reunia os quatro critérios clássicos da SRIS e, de toda a amostra, apenas 14% tinha identifica- ção do agente microbiano, a maioria em pacientes com síndromes sépticas (apenas 26% de positividade no gru- po da SRIS infecciosa). Surpreendentemente, em 10 pacientes que não reuniram os critérios para o diagnós- tico da SRIS, foi identificado agente microbiano, o que reforça mais a idéia de baixa sensibilidade e especificida- de dos critérios inicialmente recomendados. No presente estudo, observa-se que tanto o risco calcu- lado como o risco observado de morte nos pacientes sem SRIS foi muito semelhante ao dos pacientes com SRIS não- infecciosa. Observa-se também uma maior prevalência de SRIS infecciosa em pacientes de baixa idade, os quais sabidamente são mais suscetíveis aos agentes infecciosos. Dessa forma, a etiologia infecciosa parece ser fator deter- minante para o aumento de prevalência e de mortalidade pela SRIS em UTI pediátricas. Isso se confirma em outros estudos da literatura que relacionam os quadros infecciosos sistêmicos à maior mortalidade na UTI10,17. O presente estudo mostrou mortalidade de 15% nos pacientes com síndromes sépticas, sendo esta duas vezes maior do que a dos pacientes com SRIS não-infecciosa (6,3%) e ainda bem inferior à cifra observada no estudo de Sáez-Llorens et al, de 39%11. No estudo de Proulx et al., que relacionava a mortalidade das síndromes inflamatórias com a presença de disfunção de múltiplos órgãos, a cifra de mortalidade para as síndromes sépticas foi de 32%10. A limitação do delineamento do estudo não permitiu estabelecer uma relação de causa/efeito entre o diagnós- tico sindrômico da admissão e o tempo de UTI, uma vez que a evolução da situação inicial e as intercorrências clínicas que pudessem dela decorrer no tempo de perma- nência na UTI seriam múltiplas e de desfecho imprevisí- vel. Poder-se-ia inferir que as situações infecciosas de- mandariam maior tempo para o tratamento específico e de eventuais complicações, como de fato ocorreu na casuística apresentada, na qual a permanência dos paci- entes com síndromes infecciosas foi quase duas vezes maior do que aquela dos pacientes com SRIS não-infec- ciosa. Da mesma forma, os pacientes com desfecho para o óbito permaneceram um tempo significativamente maior na UTI do que aqueles que sobreviveram. Concluímos que a taxa de prevalência de pacientes com síndromes inflamatórias sistêmicas na admissão da UTI estudada foi elevada, com predomínio das síndromes infec- ciosas (sepse, sepse grave e choque séptico) sobre as demais. Elas são responsáveis pela maior permanência, pelo maior risco de morte e pela maior mortalidade dos pacientes da UTI estudada. Referências 1. 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  • 6. 148 Jornal de Pediatria - Vol. 81, Nº2, 2005 Resposta inflamatória sistêmica na UTI pediátrica – Carvalho PRA et alii Correspondência: Paulo Roberto Antonacci Carvalho Avenida Encantado, 249 CEP 90470-420 – Porto Alegre, RS Fax: (51) 3330.6334 E-mail: carvalho.conex@uol.com.br 8. Tran DD, Groeneveld AB, van der Meulen J, Nauta JJ, Strack van Schijndel RJ, Thijs LG. Age, chronic disease, sepsis, organ system failure, and mortality in a medical intensive care unit. Crit Care Med. 1990;18:474-9. 9. Pollack MM, Ruttimann UE, Getson PR. Pediatric Risk of Mortality (PRISM) score. Crit Care Med. 1988;16:1110-6. 10. Proulx F, Fayon M, Farrell CA, Lacroix J, Gauthier M. Epidemiology of sepsis and multiple organ dysfunction syndrome in children. Chest. 1996;109:1033-7. 11. Sáez-Llorens X, Vargas S, Guerra F, Coronado L. Application of new sepsis definitions to evaluate outcome of pediatric patients with severe systemic infections. Pediatr Infect Dis J. 1995; 14:557-61. 12. Brun-Buisson C, Roudot-Thoraval F, Girou E, Grenier-Sennelier C, Durand-Zaleski I. The costs of septic syndromes in the intensive care unit and influence of hospital-acquired sepsis. Intensive Care Med. 2003;29:1464-71. 13. Alberti C, Brun-Brisson C, Burchardi H, Martin C, Goodman S, Artigas A et al. Epidemiology of sepsis and infection in ICU patients from an international multicentre cohort study. Intensive Care Med. 2002;28:108-21. 14. Padkin A, Goldfrad C, Brady AR, Young D, Black N, Rowan K. Epidemiology of severe sepsis occurring in the first 24 hrs in intensive care units in England, Wales, and Northern Ireland. Crit Care Med. 2003;31:2332-8. 15. Angus DC, Linde-Zwirble WT, Lidicker J, Clermont G, Carcillo J, Pinsky MR. Epidemiology of severe sepsis in the United States: analysis of incidence, outcome, and associated costs of care. Crit Care Med. 2001;29:1303-10. 16. Brun-Bruisson C, Doyon F, Carlet J, Dellamonica P, Gouin F, Lepoutre A. et al. Incidence, risk factors, and outcome of severe sepsis and septic shock in adults. JAMA. 1995;274:968-74. 17. Bone RC. Toward an epidemiology and natural history of SIRS (systemic inflammatory response syndrome). JAMA. 1992; 268:3452-5. 18. Rangel-Fausto MS, Pittet D, Costigan M, Hwang T, Davis CS, Wenzel RP. The natural history of the systemic inflammatory response syndrome (SIRS). JAMA. 1995;273:117-23. 19. Siegman-Igra Y, Fourer, Orni-Wasserlauf R, Golan Y, Noy A, Schwartz D et al. Reappraisal of community-acquired bacteremia: a proposal of a new classification for the spectrum of acquisition of bacteremia. Clin Infect Dis. 2002;34:1431-9. 20. Levy MM, Fink MP, Marshall JC, Abraham E, Angus D, Cook D. et al. 2001 SCCM/ESICM/ACCP/ATS/SIS International Sepsis Definitions Conference. Crit Care Med. 2003;31:1250-6.