Este documento discute como as cidades podem se tornar mais acolhedoras, educadoras e amorosas para as crianças. Argumenta-se que as cidades atualmente não são projetadas para as necessidades e desenvolvimento das crianças. O documento propõe práticas pedagógicas que podem contribuir para que as cidades se tornem ambientes que ensinam e apoiam as crianças.
1. Cidade Educadora: Uma cidade que acolhe, ensina e ama as crianças1
Francismara Pilatti2
RESUMO
O presente artigo discorre sobre como a criança e as infâncias estão sendo discutidas
no presente momento, as implicações que a cidade e sua organização têm no desenvolvimento
das mesmas e os aspectos e práticas pedagógicas que podem contribuir para que a cidade se
torne uma cidade que acolhe, ensina e ama as crianças, permitindo que se sintam sujeitos
ativos e pertencentes à sociedade em que estão inseridas.
PALAVRAS-CHAVE: Criança. Infâncias. Práticas Pedagógicas. Cidade Educadora.
INTRODUÇÃO
Na perspectiva de se ter um olhar que privilegie a criança não apenas enquanto
criança, mais enquanto um ser social em pleno desenvolvimento, capaz de contribuir na
melhoria da sociedade, surge na contemporaneidade discussões profundas em torno da
“Infância” e dos cuidados que se deve ter com a criança pertencente a este momento histórico
marcado por profundas e complexas transformações sociais. Nesse cenário o desenvolvimento
e a formação da criança/cidadã, perpassam o ambiente familiar (pais/tatinhas) e escolar
(professores/gestores) e chegam às cidades (ruas, políticas, estrutura física e ideológica)
provocando e instigando um novo olhar à organização das cidades e como ela acolhe ou não
estes pequenos cidadãos, sujeitos de deveres, mas também de direitos, os quais nem todos
estão sendo proporcionados e cumpridos devido à estrutura que a cidade e a sociedades têm.
Crianças, Infâncias e Singularidades
A definição do conceito de criança e infância apresenta uma complexa rede de análises
diante da realidade da qual faz parte e das subjetividades que a sociedade apresenta. Dessa
1
Artigo apresentado para o componente curricular - Cidades, instituições de educação e infância: um olhar para
os espaços que educam, do Curso de Pós - graduação em Anos Iniciais do Ensino Fundamental e Educação
Infantil, ministrado pela MSc. Giovana Maria Di Domenico Silva.
2
Graduada em Pedagogia e pós-graduanda em Anos Iniciais do Ensino Fundamental e Educação Infantil, na
Universidade do Oeste de Santa Catarina – UNOESC, Campus de São Miguel do Oeste.
2. maneira, conceitua-se infância(s) a partir do olhar da autora Sonia Kramer, que entende a
infância como uma categoria social e também como um período da história que passa cada ser
humano. Já criança é um sujeito/cidadão, que tem direitos, faz sua história e pela estrutura
social a qual está inserida, vem a assumir vários papéis, como de aluno, educando... que
podem ser desempenhados de maneira diferente dependendo da classe social. As Diretrizes
Curriculares Nacionais para a Educação Infantil também nos apresenta a criança como:
Sujeito histórico de direitos que, nas interações, relações e práticas cotidianas que
vivencia, constrói sua identidade pessoal e coletiva, brinca, imagina, fantasia, deseja,
aprende, observa, experimenta, narra, questiona e constrói sentidos sobre a natureza
e a sociedade, produzindo cultura. (BRASIL, 2010,p.14)
Sabemos que a ideia de infância(s), o cuidado com a criança e as discussões em torno
dela, vão surgindo timidamente e se manifestam com mais força, a partir da modernidade,
com o capitalismo, onde as crianças também assumem seu papel social (bons consumidores).
Segundo Kramer (2006, p.14): “A inserção concreta das crianças e seus papéis variam com as
formas de organização da sociedade”. Assim a ideia de Infância(s) não existiu sempre da
mesma maneira.
O conceito de criança e de infância foi modificando-se ao longo do processo histórico
e social, sendo representativo ao tempo e a organização da sociedade. O sentimento de
infância, de cuidado com a criança começou nas famílias burguesas, a partir das pesquisas
científicas realizadas para diminuir o alto índice de mortalidade infantil. Compreender que a
infância surge inicialmente no contexto burguês contribui para refletirmos por que o conceito
de infância, é de uma criança universal e homogenia, não considerando-se suas
singularidades.
Atualmente, o conceito de criança e de infância, que teoricamente dá a ideia de que
todas as crianças passam pelo mesmo processo em condições iguais, já está sendo visto com
outro olhar, por que elas não pertencem todas as mesmas realidades e por consequência, o
papel desempenhado na sociedade difere de acordo com sua estrutura familiar, classe social,
hábitos e brincadeiras, as formas de infância podem ser bem variadas. Kramer (2006, p.18):
“Numa sociedade desigual, as crianças desempenham nos diversos contextos, papéis
diferentes”. Isso contribui para manter a desigualdade e reproduzir o sistema econômico
capitalista, onde segundo Kramer (2006, p.18):
3. [...] a sociabilidade se transforma e as relações entre adultos e as crianças tomam
rumos desconcertantes. O discurso da criança como sujeito de direito e da
infância(s) como construção social é deturpado: nas classes médias, esse discurso
reforça a ideia de que a vontade da criança deve ser atendida a qualquer custo,
especialmente para consumir; nas classes populares, as crianças assumem
responsabilidades muito além do que podem. Em ambas, as crianças são expostas à
mídia, à violência e exploração.
A partir dessa reflexão, podemos sentir como é importante, o educador ter um olhar
reflexivo, atento, crítico quanto a maneira que a criança percebe o mundo, como o sente,
como participa das interações, familiares, sociais e educativas, para que seja possível,
contribuir de forma significativa no seu desenvolvimento psíquico, afetivo e social, a ponto de
minimizar as disparidades que as influencias econômicas causam ou podem causar no sujeito.
Outro aspecto, fruto de nossa sociedade atual a ser mencionado, são as relações que
(não) estabelecesse com as crianças, o diálogo, a interação entre o adulto e a criança, que pode
gerar ou não, a sensação de abandono, descaso e insegurança para a criança enfrentar
determinadas situações. Muitos adultos não conseguem orientar as crianças, por não terem a
narrativa da experiência, foram crianças que cresceram com as mesmas dúvidas, assim,
deixam a criança sem resposta e reforçam a situação de descaso e indiferença, dando
continuidade ao processo de desigualdades e injustiças. Ou seja, como contribui Kramer
(2006, p.21):
Sem conhecer as interações, não há como educar crianças e jovens numa perspectiva
de humanização necessária para subsidiar políticas públicas e práticas educativas
solidárias entre crianças, jovens e adultos, com ações coletivas e elos capazes de
gerar o sentido de pertencer a.
Sem orientações a criança fica a mercê das mais variadas influencias, meios de
comunicações, redes sociais, jogos... perdendo sua identidade enquanto sujeito/cidadão, não
sente-se pertencente a nenhum espaço, grupo que possa dar-lhe segurança de como agir.
Nesse sentido, podemos refletir o porquê temos tantas dificuldades em pensarmos e
desenvolvermos políticas públicas que atendam a criança enquanto sujeito participativo e
ouvido no seu processo de desenvolvimento. Pois, para isso, é necessário que o adulto deixe
de conceituar a infância e a criança a partir do seu olhar e tente interpretar o mundo a partir
dos olhos da criança.
4. Está se perdendo os valores, a cultura... por falta da narrativa , o adulto não sabe seu
lugar, trata por vezes a criança como adulta, hora não a responde por estar inseguro, expondo
a criança a situações que não tem maturidade nem condições de entender. A partir disso,
Kramer (2006, p.19) nos diz que:
Com a perda da capacidade do diálogo na modernidade, as pessoas só conversam
sobre o valor das coisas; sem o diálogo, sem a narrativa, ficam impossibilitadas de
dar ou ouvir um conselho que é , segundo Benjamin(1987ª), sempre a sugestão de
como poderia uma história continuar. Desocupando seu lugar, os adultos ora tratam
a criança como companheira em situações nas quais elas não tem a menor condição
de sê-lo, ora não assumem o papel de adultos nas situações nas quais as crianças
precisam aprender condutas, práticas e valores que só irão adquirir se fossem
iniciadas pelo adulto.
A contemporaneidade apresenta uma complexa realidade, ao mesmo tempo em que se
fala tanto em cuidados com a criança e com a infância, temos vários casos de violência contra
ela, resultados dessa crise de identidade. Para haver a mudança temos que promover a
sensibilização dos adultos, desenvolver uma nova visão da educação, como nos fala Redin e
Müller (2007, p.8):
A educação é um processo contínuo de vida, e muitas vezes, a condição de não saber
pode ser uma base de estímulo para a ação criativa. Aceitar o fato de que as crianças
podem criar coisas que os adultos desejariam ter criado ou esperar ver algo que não
se tinha visto antes pode ajudar a fortalecer a crença no protagonismo infantil.
Diante disso, a escola é de fundamental importância para iniciarmos o processo de
mudança, de resgate do sentimento de pertencimento do cidadão, da valorização, do amor e da
compreensão de nossas crianças nos mais variados espaços. O educador deve ficar atento às
singularidades e às relações que cada criança estabelece ao seu redor e proporcionar-lhes
práticas pedagógicas que as ensinem a viver, amar e respeitar o próximo, que hes permita
brincar e ser feliz, para que façam parte do conhecimento historicamente produzido de
maneira consciente e participativa. Segundo Müller e Redin (2007, p.17):
A criança é um ser que dá sentido ao mundo em que vive fazendo diferentes leituras
das tramas sociais. Tem, portanto, no decorrer da vida, não só a possibilidade de
aprender como também de contribuir para a constituição de um novo momento
histórico social, feito da diversidade cultural e da singularidade dos sujeitos. Quanto,
mais diversificado o meio sociocultural, maiores serão as possibilidades de
conhecimento e criação.
5. As crianças veem o mundo de uma forma mágica, onde todos os lugares podem ser
explorados, sua imaginação é fantástica, elas podem fazer da coisa mais simples um
brinquedo por horas, não lhes importa o tempo, mas a liberdade de brincar sem ter alguém o
tempo todo lhes impondo regras, que se colocadas em prática na convivência, não precisariam
ser lembradas a toda hora.
Uma cidade que acolhe, ensina e ama as crianças: Práticas Pedagógicas Possíveis.
A Escola, mais especificamente a Educação Infantil deve ser um mundo mágico, mas
não pode limitar-se só a escola, é preciso ir a outros espaços como as ruas, arredores, pois
deve ser um lugar de descobertas, de alegrias, de desafios, onde não se é escravo do tempo e
tão pouco do disciplinamento de suas condutas padronizadas, as coisas consideradas as mais
simples devem ser transformadas nas mais inusitadas, a fantasia e a imaginação não tem
limites. Segundo Redin (2007, p.17):
A escola pode e deve ser considerada um espaço privilegiado para a aprendizagem
de uma prática social, um espaço de cultura, de criação como resposta aos desafios
da vida, um espaço fértil de produção do novo e do inusitado. A escola para a
infância precisará constituir-se nesse tempo e espaço transformando em lugar, ou
seja, lócus de sentido de construção de identidades. “O lugar ao ser construído pelo
grupo que ali vive, passa ao mesmo tempo sua base e sua expressão, Lopes (2000,
p.146)”.
Nessa perspectiva, as relações sociais também são estabelecidas de maneira
transcendente e as trocas de experiências se tornam significativas, pois, a criança participa,
interage, aprende a viver e a amar seus colegas, seus amigos de forma espontânea, como deve
ser e não pelas regras combinadas. Assim vão desenvolvendo sua identidade de pertencimento
ao grupo, a escola e a comunidade onde vivem, sendo possível sentir-se cidadão. Dessa
maneira, é necessário que o educador esteja aberto, feliz, disposto a brincar, a sair dos muros
da escola, a ensinar e também a aprender com as crianças. Saber planejar de forma aberta,
contemplar as singularidades de cada um e permitir que as crianças falem, se expressem,
estando o educador interessado em ouvir, em entendê-las, ensinar coisas práticas do seu dia-a-
dia, coisas que vão lhes ser útil no momento e não só no futuro. Precisamos pensar a criança
hoje e não no que ela se tornará no futuro, é o que nos fala Tonucci (2005, p.207): “A criança
a ser considerada, a ser ouvida, a ser defendida e amada é a criança de hoje com aquilo que
ela sabe e que e que sabe fazer com seus sentimentos. A nova cultura da infância é a cultura
6. do presente, da criança de hoje. Pois, a infância é o período onde se tem melhores condições
biológicas de aprendizagem e é onde se estabelecem as bases da personalidade do adulto.
Para considerarmos a criança enquanto sujeito de direitos e um cidadão, precisamos
também repensar nossas políticas públicas no âmbito do ambiente ao qual a criança não faz
parte, mas deveria fazer as cidades. Hoje o sistema capitalista, elegeu a cidade para os adultos
produtivos, marginalizando nossas crianças, elas não têm espaço e nem segurança para andar
nas ruas, seus espaços se confinam em suas casas de muros fechados e a escola, a qual chega
geralmente de carro. Por essas condições, as crianças não tem a oportunidade de exercer seu
papel social e sua autonomia. A estrutura da cidade e a sua organização, gera o sentimento de
individualismo e de descaso dos cidadãos para com a própria cidade e de cidadão com
cidadão. Cada um se fecha num pequeno espaço, não sendo permitida a entrada de outras
pessoas, as crianças não têm acesso às ruas e nem ao seu bairro, a descoberta dos espaços que
se tem nas proximidades de suas casas não são explorados, os pais não permitem que seu filho
saia de casa, preferem que ela passe o dia todo entretido em milhares de parafernálias que lhes
são dadas para passar o tempo dentro de casa, assim não estabelecem relações com seus
vizinhos e nem faz amizades, muito menos o sentimento de pertencimento a cidade. Aí
podemos pensar o porquê estamos nessa crise de identidade, de cuidado com o público e com
o próximo, pois, se não proporcionamos as crianças oportunidades de estabelecerem relações
de afeto, cuidado com o outro, de autonomia, como podemos querer adultos que se importem
com os outros? Com o que é público e com sua cidade? E uma sociedade amorosa? Segundo
Pacheco (1996 apud Redin e Didonet 2007, p. 23):
A cidade é feita de lugares e pensamentos. De lugares e emoções. É feita de gente.
Porque vendo bem, a cidade é produto das atitudes da gente que a usufrui. Gente
concreta, nas situações cotidianas que constroem o mistério de viver (Helder
Pacheco, “A cidade é um sentimento”).
Para que a criança se sinta um cidadão, é necessário que ela tenha amor, carinho pela
cidade, que ela faça parte de suas lembranças, que tenha boas recordações, que ao caminhar
pela cidade sinta-se feliz e tenha boas sensações, mas para que isso aconteça, é necessário que
a criança tenha espaço para desfrutar dos mais variados espaços que a cidade dispõe. Pois,
segundo Cabezudo (2004,p.11) Hoje mais do que nunca, a cidade grande ou pequena dispõe
de incontáveis possibilidades educadoras [...].
7. Para que se consiga desenvolver práticas pedagógicas que envolvam o contexto da
cidade, primeiramente é necessário sensibilizar os adultos quanto a importância da cidade ser
planejada para as crianças, pois atendendo as crianças, todos terão acesso e serão inclusos na
sociedade, como nos fala Tonucci ( 2005, p.209) [...] assumir a criança como parâmetro para a
garantia de todos os cidadãos, a partir dos mais fracos, na certeza de que, se uma cidade for
adequada às crianças, será uma boa cidade para todos.
A cidade educadora tem como objetivo principal despertar o sentimento de
pertencimento a ela, fazer parte das recordações, da história do sujeito, fazê-lo sentir-se bem
em morar na cidade, desenvolver o sentimento de cuidado e zelo pelas ruas, pelos jardins,
pelas crianças, enfim tudo que faz parte da cidade. Segundo Cabezudo (2004, p.12): “Uma
cidade é educadora se oferece generosamente a seus habitantes, se se deixa utilizar para seu
crescimento e se os ensina a fazer-se sujeitos e cidadãos”. Nesse contexto, a cidade educadora
quer o desenvolvimento de práticas que contribuam para o desenvolvimento integral de seus
cidadãos, que saibam de exercer seus direitos e contribuam para transformá-la e melhorá-la.
Sendo seu objetivo principal como contribui Cabezudo (2004, p.13):
O objetivo prioritário é, na realidade, formar cidadãos conhecedores de seus direitos
e obrigações com respeito à sociedade e que, a partir do conhecimento e da
identificação com a própria cidade, empreendam uma ação participativa e
transformadora desta.
As cidades possuem inúmeras alternativas educativas, sendo que estão ao alcance de
todos, desde que se saiba explorar e utilizar a cidade. Nessa perspectiva, Cabezudo (2004,
p.14) nos diz que:
Convertendo a cidade onde vivemos em cidade educadora, poderíamos nos apropriar
dela, identificar-nos com seu passado, melhorar seu presente, projetar seu futuro em
uma tarefa de construção cotidiana na qual todos, incluídas as autoridades locais, são
responsáveis.
Para a transformação da cidade em cidade educadora são necessárias transformações
que o município juntamente com seus cidadãos devem fazê-las, por serem sabedores das
necessidades do município. Assim, Cabezudo (2004, p.29) nos diz que:
8. O conceito de cidade educadora implica a necessidade de realizar uma tarefa
sensibilizadora, pois, por um lado, lembra aos cidadãos que é uma responsabilidade
compartilhada fazer com que uma cidade seja mais civilizada, pacífica, democrática,
justa e acolhedora e, por outro lado, lembra aos que exercem o poder político e a
gestão de governo que nem todos possuem as mesmas responsabilidades, já que
muitas das ações que estes empreendem tem caráter educativo.
Nós enquanto educadores, precisamos contribuir para despertamos e sensibilizarmos o
olhar de nós adultos e gestores de nossos municípios quanto a importância de aproximarmos
as crianças e a cidade. Ressaltando assim, os primeiros passos para que ocorra a
transformação. Segundo Cabezudo (2004, p. 30) “[...] toda a cidade é educativa, mas não
educadora. Isso implica uma passagem que se leva adiante a partir da vontade política, da
participação cidadã e da construção de uma estratégia coletiva”. Assim, pontua-se cinco
questões essenciais para caminharmos rumo a cidade educativa. A primeira é considerar a
cidade como um espaço educativo e de aprendizagem para a vida cotidiana. A segunda é
aprender a ler a cidade, perceber como é sua dinâmica e como se estrutura. A terceira é
aprender a conviver e estabelecer relações harmoniosas. A quarta é desenvolver habilidades
para circular e utilizar a cidade plenamente. A quinta e última questão é reconhecer-se
enquanto cidadão, saber seus direitos e deveres.
Para possibilitar este novo olhar e as novas práticas pedagógicas, é necessário também
repensar o currículo, desmistificar o currículo oculto das cidades e desenvolvermos uma nova
prática. Segundo Gadotti (2004, p.122):
A maior ambição da Escola Cidadã é contribuir na criação das condições para o
surgimento de uma nova cidadania, como espaço de organização da sociedade para a
defesa de direitos e a conquista de novos. Trata-se de formar para a gestação de um
novo espaço público não-estatal, uma “ esfera pública cidadã” ( Jürgen Habermas),
que leve a sociedade a ter voz ativa na formulação das políticas públicas, visando
uma mudança do Estado que temos para um Estado radicalmente democrático.
A cidade educadora é a busca de uma convivência harmoniosa entre todos, do
equilíbrio entre nós e o ambiente que nos cerca, de uma cidade que acolhe, ensina e ama as
crianças, que a partir do amor e do cuidado busca respeitá-las e ensiná-las o amor ao próximo.
Considerações Finais
Promover a educação numa perspectiva de desenvolvimento integral da criança, faz
com que o educador não se detenha mais nos conhecimentos científicos apenas, mas no
9. desenvolvimento do ser humano, enquanto um ser sensível, de sentimentos, de olhar crítico,
que respeita o ambiente que o rodeia e aprende nele, com as pessoas com que estabelece
relações diretas e indiretas. Uma educação que promova o bem estar social de todos os
indivíduos.
Planejar e desenvolver novas práticas que permitam esta educação, nos fez procurar
refletir novas formas de ensinar e ver o mundo. Refletir como cuidamos de nossas crianças? O
que proporcionamos à elas? Qual o papel que representam na sociedade? A quem estou
defendendo com minha prática? Qual currículo? Como fazê-las mais felizes? Como
sensibilizar os adultos para cuidarem das crianças? Para ouvi-las? A realidade de cada escola,
cada comunidade, as necessidades que cada uma apresenta pode ser o início da reflexão.
Utilizar bom exemplo, as situações cotidianas, perceber a cidade como processo educativo
para as crianças e inseri-las neste espaço pode contribuir para o desenvolvimento de uma
sociedade mais feliz e amiga das crianças.
10. Referências
BRASIL, As Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil, 2010.
GADOTTI, Moacir; Padilha, Paulo Roberto; Cabezudo, Alicia (Org). Cidade Educadora:
princípios e experiências. São Paulo: Cortez, 2004.
REDIN, Marita Matins; Fernanda MÜLLER; REDIN, Euclides (org). Infancias: Cidades e
escolas amigas das crianças. Porto Alegre: Mediação, 2007.
TONNUCI, Francesco. Quando as crianças dizem: agora chega!Porto Alegre: Artmed,
2005.