O documento discute os problemas causados pelo abandono de animais de estimação, especialmente durante as férias. A falta de planeamento é a principal causa do aumento dos casos de abandono nesse período. O texto incentiva os donos a considerarem cuidadosamente suas responsabilidades antes de adotar um animal e oferece soluções para não abandoná-los durante as férias.
12. MUNDO DOS ANIMAIS
O
s animais não são
mobília. Não são
brinquedos, objetos
descartáveis ou de-
coração velha. Os animais não
se podem deitar fora quando já
não precisamos deles, quan-
do nos estão a incomodar ou
quando se tornam um peso que
não previmos.
Todo o ambiente que rodeia um
animal o afeta emocionalmen-
te (e fisicamente), pelo que é
preciso ter um grande cuida-
do, respeito e consideração por
eles. Pela vida deles.
No entanto acabam abandona-
dos, todos os dias aparecem
novos casos. Em Portugal, fo-
ram abandonados 30 mil ani-
mais só em 2013, um número
que duplicou em cinco anos
(fonte). O Brasil tem mais de 30
milhões de animais abandona-
dos (fonte), com um aumento
de abandonos que chega aos
70% durante as férias (fonte).
Os números são explícitos e
falam por si próprios, mas a
pergunta que fica é… como é
possível abandonar assim os
animais?
No Mundo dos Animais procu-
ramos sempre abordar de uma
forma moderada o conceito de
amigo dos animais. Não faze-
mos comparações, por exem-
plo, o valor de uma vida humana
ao valor da vida de um animal
(e muito menos entramos pela
misantropia).
Mas a ciência tem comprovado
o que o bom senso há muitos
nos dizia através das palavras
de Jeremy Bentham – “Não im-
porta se os animais são inca-
pazes ou não de pensar. O que
importa é que são capazes de
sofrer”.
Neste artigo vamos abordar vá-
rias questões relacionadas com
o abandono, em especial du-
rante as férias que é o período
em que os números disparam
por completo, bem como as for-
mas de o prevenir.
Já ouviu certamente dizer que a
prevenção é o melhor remédio
e neste caso, não é diferente.
O abandono combate-se não
abandonando. Demasiado ób-
vio e mais fácil escrever do que
concretizar, seguramente.
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Contudo, o planeamento (an-
tes) e a mentalidade correta na
relação com os animais (du-
rante) podem ser a chave que
tanto desejamos encontrar para
resolver este flagelo da nossa
sociedade (depois). Um flagelo
que nos deveria deixar enver-
gonhados enquanto animais
racionais e espécie civilizada.
Temos as armas para o fazer.
NÃO DESCUIDE O
PLANEAMENTO
O
s animais sentem e
sofrem em medidas
muito iguais a nós
próprios: o que lhe
dói a si, também dói a eles e
isso aplica-se tanto a um ponta-
pé (físico), como ao sentimento
da solidão (emocional), como à
agonia da não ter o que comer
(sobrevivência).
Os animais são todos os anos
vistos como um problema quan-
do as famílias planeiam as suas
férias. Os canis ficam sobrelo-
tados e a grande maioria dos
animais que neles são recolhi-
dos acabam eutanasiados em
poucos dias. Morrem.
Embora nem só as férias sirvam
de pretexto para abandonar um
animal, uma larga percentagem
dos abandonos poderia ser evi-
tada com um pouco de cons-
ciencialização e planeamento.
Antes de adotar ou comprar
um animal, pense duas ve-
zes. Ou três.
Antes de decidir adotar ou com-
prar um animal, deve colocar
em cima da mesa, com a sua
família (ou quem mais viva na
mesma casa), todos os cená-
rios possíveis.
Para começar, as questões fi-
nanceiras. Sobretudo nos dias
que correm, com a crises eco-
nómica a preencher as primei-
ras páginas dos jornais, esta
tem de ser uma questão da má-
xima prioridade na hora de de-
cidir avançar para a adoção de
um animal.
Cães e gatos necessitam de ali-
mentação diária e cuidados ve-
terinários imprescindíveis como
a vacinação e desparasitação,
já para não falar de proble-
mas de saúde e acidentes, que
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surjem sem avisar e cujos trata-
mentos são dispendiosos.
É importante avaliar a estabili-
dade financeira e o impacto no
orçamento que um animal pode
causar. Aquele pensamento co-
mum de onde comem três tam-
bém comem quatro pode reve-
lar-se perigoso.
As férias, como já se viu, devem
merecer uma atenção muito es-
pecial. Não deve deixar esse
assunto para um depois vê-se,
pois é meio caminho andado
para não se ver nada de bom.
Se o seu animal vai ser um fardo
quando quiser fazer as férias,
a atitude mais sensata é não o
comprar nem o adotar. Se quer
mesmo ter um animal, então
pense antecipadamente num
plano para deixar o animal em
boas mãos, ou então escolher
destinos de férias que aceitem
animais e assim levá-lo junto.
Não menos importante, o espa-
ço. Se está a adotar ou comprar
um cachorrinho bebé, tenha a
noção de que ele vai crescer.
Em alguns casos, vai crescer
muito e tornar-se num animal
grande e imponente, incompatí-
vel com a vida um apartamento
por exemplo.
Se adquirir um cão de raça
pura, pode precaver-se esco-
lhendo um cão de raça peque-
na. Se estiver a adotar um cão
sem raça definida e que ainda
não seja adulto, pode crescer
mais do que está à espera. A
verdade é que muitas vezes os
animais são abandonados por
terem ficado grandes demais.
Contacte um responsável ou
voluntário em qualquer asso-
ciação e protetora de animais e
certamente terão casos destes
para lhe contar.
Ter um animal não é um direito,
mas sim um luxo, que exige dis-
ponibilidade financeira, tempo
livre, trabalho, preocupações e
muita, muita responsabilidade.
É um ser vivo que tem direitos
constituídos, que tem sentimen-
tos, que se afeiçoa aos seus
donos. Mas é também um ser
irracional, que não compreende
o porquê de ser feliz durante al-
guns meses e depois ser des-
pejado na rua, sem condições,
sozinhos e praticamente con-
denado.
Ninguém deve comprar ou ado-
tar um animal sem condições
para ficar com ele e dar-lhe os
cuidados básicos, até ao fim da
sua longevidade natural.
16. MUNDO DOS ANIMAIS
E se gosta mesmo de animais
ou pretende ajudar os animais
abandonados, mas não tem
condições para ficar com eles
definitivamente, torne-se volun-
tário numa associação ou ofe-
reça-se como FAT (Família de
Acolhimento Temporário).
A responsabilidade e a noção
do que se pode ter ou não ter,
é muito importante em toda a
nossa vida.
NÃO ABANDONE
OS SEUS ANIMAIS
NAS FÉRIAS
E
não abandone nunca,
evidentemente. O seu
animal não merece fi-
car sozinho à mercê da
(pouca) sorte.
Tendo em conta as diversas
opções disponíveis, a nível de
serviços ou mesmo alguma
criatividade pessoal, não exis-
te qualquer justificação para
abandonar os animais durante
as férias, seja qual for a situa-
ção.
Se prefere deixar o seu animal
ao cuidado de outrem enquanto
vai de férias, existem hotéis e
serviços de pet-sitting que to-
mam conta do seu animal e lhe
proporcionam todos os cuida-
dos necessários. Vamos abor-
dar agora sucintamente estas
soluções.
Pet-sitting: Os pet-sitters são
profissionais que se deslocam
a sua casa para prestar todos
os cuidados que o seu animal
necessitar.
Alimentam os animais, tratam
da higiene, acompanham-nos
17. www.mundodosanimais.pt
ao veterinário em caso de ne-
cessidade e, em particular os
cães, podem levá-los aos seus
passeios diários, não quebran-
do assim a rotina que já têm.
Hotéis para animais: Uma so-
lução alternativa aos pet-sitters.
A diferença aqui é que o animal,
em vez de ficar em casa, fica no
hotel, recebendo igualmente to-
dos os cuidados necessários.
Visite os hotéis dedicados a
animais próximos da sua área
de residência e informe-se so-
bre os serviços e condições dos
mesmos: se incluem equipa ve-
terinária, se o espaço tem boas
condições para o animal, entre
outros pormenores que certa-
mente quererá ver assegura-
dos ao seu amigo peludinho.
Familiares, vizinhos e ami-
gos: Esta pode ser a solução
mais económica e não menos
eficaz (dependendo, claro, das
pessoas em causa).
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Imagine uma situação em que
tanto você como o seu vizinho
têm animais de estimação, e
fazem férias em diferentes da-
tas. O seu vizinho poderia to-
mar conta dos seus animais en-
quanto você e a sua família vão
de férias, retribuindo depois ao
cuidar dos animais dos seu vi-
zinho quando for ele de férias.
Caso o seu vizinho não tenha
animais, pode sempre combi-
nar outro tipo de retribuição.
As vantagens neste caso, para
além de poupança económica,
passam por já conhecer a pes-
soa a quem vai confiar a vida
dos seus animais.
NÃO SE ESQUEÇA QUE ELES
PODEM IR CONSIGO
J
á existem diversos par-
ques de campismo e ho-
téis que permitem aos
donos levar consigo os
seus animais de estimação du-
rante as férias.
Isto abre mais um leque de op-
ções e, as suas férias, não têm
de significar uma separação do
seu melhor amigo, nem sequer
temporária.
No entanto e como sempre,
recomenda-se que a situação
seja bem analisada, de prefe-
rência junto do veterinário dos
seus animais, que saberá me-
lhor que ninguém que ambien-
tes e que condições são as mais
adequadas para cada caso.
A viagem: Se for de viagem
sem sair do país, o médico ve-
terinário irá informá-lo acerca
do melhor acondicionamento e
recomendações para que o ani-
mal não sofra na deslocação.
É importante que se informe
pois diferentes animais têm di-
ferentes necessidades e dife-
rentes meios de transporte exi-
gem diferentes cuidados.
20. MUNDO DOS ANIMAIS
Caso viaje para outro país,
deve ter sempre em atenção as
leis desse mesmo país, que em
alguns casos podem ser drasti-
camente diferentes no que diz
respeito à documentação exigi-
da, vacinação obrigatória e ou-
tros documentos.
Ambiente estranho: É perfei-
tamente natural que o seu ani-
mal, de início, estranhe o novo
ambiente, pois não conhece o
local.
Faça alguns passeios com ele
(no caso de ser um cão), isso
vai ajudar o animal a ambien-
tar-se e ganhar confiança, pois
está junto do dono, a pessoa
neste mundo em quem mais
confia.
Evite deixar o seu animal sozi-
nho num quarto ou numa tenda,
em especial se ele ainda não se
sentir seguro nesse novo am-
biente.
Cristopher Soto López / Flickr
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Ulf Bodin / Flickr
NÃO
FECHE OS
OLHOS AO
PROBLEMA
É
falsa a ideia de que um animal,
se for abandonado, conse-
gue desenrascar-se. Também
é falsa a ideia de que alguém
vai pegar no animal e levá-lo para sua
casa. Não conte com isso.
Não se pode socorrer da ideia do ins-
tinto selvagem pois se temos cães e
gatos em casa, é precisamente porque
estes foram domesticados. Serem fi-
sicamente parecidos com os seus pa-
rentes selvagens não faz deles animais
selvagens.
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A escassez de alimento, de
água, de abrigo e de seguran-
ça, deixa os animais com pou-
cas hipóteses de sucesso. Já
para não falar das doenças que
podem contrair nas ruas e da
reprodução, que leva ao nas-
cimento de inúmeros animais
sem teto.
No caso do alimento, é neces-
sário compreender que os ins-
tintos de caça praticamente não
existem nos animais de estima-
ção, sobretudo nos cães, pois
foram habituados a receber a
sua ração pronta e a horas sem
necessidade de a procurar e lu-
tar por ela.
Os inúmeros animais recolhi-
dos nas ruas em estado gra-
ve de subnutrição comprovam
esta ideia. Alguns chegam a
impressionar pelo seu aspeto
físico debilitado, agonizados de
fome, ficando difícil até salvar a
vida do animal. A vida do ani-
mal.
O cruzamento entre os animais
abandonadosnasruaslevatam-
bém ao nascimento de muitos
bebés sem condições mínimas,
que são mais animais sem dono
e sem qualquer tipo de cuida-
dos básicos. Contribuem para o
aumento descontrolado do nú-
mero de animais errantes e o
problema só se agrava.
A própria saúde pública fica em
risco, uma vez que os animais
abandonados não estão (nor-
malmente) vacinados nem des-
parasitados, além de se cru-
zarem e transmitirem doenças
entre si.
E necessário deixar de criar
soluções pontuais para este
ou aquele caso, uma vez que
o problema deve ser resolvido
de raiz: na casa de cada um de
nós.
A partir do momento em que as
pessoas deixam de abandonar,
tudo o que se segue é diferen-
te. É melhor.
Não compre, não adote e não
tenha animais em casa, se
não tiver as condições para
cuidar deles até ao fim da sua
longevidade natural.
Você é a vida dos seus animais.
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