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Índice de Vulnerabilidade
de Água Subterrânea à
Contaminação – VIX
Introdução
Água é essencial para a manutenção da vida e os
recursos hídricos são fundamentais para várias
atividades humanas. Historicamente a presença ou
ausência de água determina a ocupação de territórios
e o futuro de gerações.
A água cobre grande parte da superfície da Terra,
no entanto, apenas cerca de 2,5% são de água
doce. Os maiores volumes de recursos hídricos em
todo o planeta estão concentrados em seis países,
entre eles, o Brasil, com cerca de 12% da água doce
disponível.
Além do volume de água, a sua qualidade merece, ou
deveria merecer, grande atenção. Diversas atividades
humanas afetam a qualidade e a potabilidade das
águas. Essas atividades, especialmente quando
desenvolvidas em áreas onde as águas subterrâneas
estão em condições de maior vulnerabilidade à
contaminação, representam uma grande ameaça
à qualidade da água, podendo, por consequência,
colocar em risco a conservação da biodiversidade,
o equilíbrio dos ecossistemas e a sobrevivência da
espécie humana.
Dos 8,5 milhões de quilômetros cúbicos de água doce,
na forma líquida, 98,5% são de água subterrânea.
Esses milhões de quilômetros cúbicos representam
uma reserva estratégica, especialmente em momentos
de falta de chuvas e de escassez de água superficial.
Nesse contexto, identificar as áreas com maior
vulnerabilidade da água subterrânea à contaminação
torna-se imprescindível para o ordenamento e o
planejamento de atividades humanas no espaço
geográfico, assim como para a adoção de medidas
mitigadoras dos seus possíveis impactos negativos.
Nesse Comunicado Técnico é apresentado o Índice de
Vulnerabilidade de Água Subterrânea à Contaminação
(VIX), desenvolvido em base científica, com algumas
simplificações para condição não saturada do solo.
Descrição do índice VIX
É tido que em um meio poroso unidimensional e
homogêneo, a equação de conservação de massa
para um contaminante químico (CQ) não-reativo, sem
degradação, pode ser escrita como:
Claudio A. Spadotto1
2ISSN 2317-8787
Campinas, SP
Dezembro, 2014
Técnico
1
Engenheiro Agrônomo, Ph.D. em Ciência de Solo e Água, pesquisador da Embrapa Gestão Territorial, Campinas, SP. E-mail: claudio.spadotto@embrapa.br
Comunicado
mqC mqs
mt mz
= _ [1]
2 Índice de Vulnerabilidade de Água Subterrânea ...
onde C e qs são, respectivamente, concentração e
fluxo do CQ, q representa o teor volumétrico de água
do solo, t é o tempo e z a profundidade do solo.
Desprezando o transporte na fase adsorvida, a
dispersão hidrodinâmica e a difusão, o fluxo de massa
do CQ pode ser escrito como:
onde v é velocidade efetiva de convecção para um CQ
não-reativo e é dada por:
mqC mq.C
mt mz
= _
[3]
mC mvC
mt mz
_
[4]
[2]qs = q.C
onde q é o fluxo de água no solo.
De onde,
ou
[5]= q
qv
[6]= L
v
tc
[7]= L.q
q
tc
Além do fluxo de massa na fase solo-água, dois
outros processos de transporte de CQ no solo são
difusão na fase líquida e difusão na fase de vapor.
Quando o fluxo de massa por convecção é pequeno
ou desprezível, o CQ é capaz de se mover no solo por
esses processos. Muitos modeladores do transporte
de CQs no solo incluem a dispersão na equação de
fluxo para levar em conta a sua difusão por causa
das variações na velocidade da água, entretanto, em
baixos fluxos de água em solos uniformes, esse termo
é relativamente sem importância.
A mobilidade convectiva pode ser estimada pelo
tempo de convecção (tc), o qual é definido como:
ou
Assim, o inverso do tempo de convecção pode ser
usado como índice de vulnerabilidade intrínseca
de corpos de água subterrâneos à contaminação,
calculado pela expressão:
[8]= R
L.FVIX
[9]= R
P(Li.Fi)VIXn
onde R é a recarga hídrica líquida anual (cm),
L representa a profundidade do corpo de água
subterrâneo (cm) a partir da superfície do solo (zona
não saturada) e F é a umidade na capacidade de
campo do solo (v/v). O índice VIX é adimensional.
O valor de R é obtido a partir de dados meteorológicos
de precipitação pluviométrica e de evapotranspiração
potencial, além de dados da irrigação, quando
houver. A recarga hídrica líquida é obtida pela
soma da precipitação e da irrigação, subtraindo a
evapotranspiração. O valor de L é obtido a campo por
meio de perfuração até o corpo de água subterrâneo;
enquanto o valor de F é proveniente de ensaio de
laboratório.
Em estudos com maior abrangência geográfica, em
escala menor e, portanto, com maior generalização
e menor detalhe, os valores de R, L e F podem ser
estimados remotamente: R pode ser calculado por
meio da interpolação espacial de dados de estações
meteorológicas, utilizando o método do inverso da
distância ponderada ou geoestatística; L pode ser
estimado pela aplicação de funções analíticas em
sistemas de informações geográficas (SIG), a partir de
modelo digital de elevação (MDE), como o proposto
por Rennó et al. (2008); e F pode ser baseado em
mapas pedológicos em conjunto com dados de
trabalhos como o de Gomes e Spadotto (2004). Assim,
o índice VIX pode ser aplicado em um SIG.
Adicionalmente, para solos com diferentes camadas
(ou horizontes) pode ser utilizada a equação:
onde P indica o produto da expressão (Li.Fi) por
camada, i designa a camada (i = 1,...n) e n o
número de camadas. Os valores de L e F são únicos
para cada camada até o topo do corpo de água
subterrâneo.
Aplicação do índice VIX
Como exemplo de aplicação do índice VIX, são aqui
apresentados os cálculos realizados para duas áreas
com diferentes tipos de solos da região de Ribeirão
Preto (SP). A estimativa da recarga hídrica líquida
anual (R = 43 cm) foi feita a partir de dados anuais de
precipitação e evapotranspiração potencial obtidos
3Índice de Vulnerabilidade de Água Subterrânea ...
no Banco de Dados Climáticos do Brasil (BANCO...,
2014). Nenhuma irrigação foi considerada.
Para a umidade do solo na capacidade de campo (F)
foram usados os valores médios dos intervalos para
Latossolos Argilosos e Neossolos Quartzarênicos
apresentados por Gomes e Spadotto (2004).
Três diferentes profundidades do corpo de água
subterrâneo (L) foram consideradas e, para cada solo,
o valor de F foi assumido ser o mesmo do horizonte
mais profundo com dados disponíveis (BW1
no
Latossolo Argiloso e C2
no Neossolo Quartzarênico)
até o topo do lençol freático. Os resultados do índice
VIX nas áreas com diferentes solos e vários horizontes
estão na Tabela 1.
Área - Solo Prof. do Lençol Freático
(m)
VIX
Área 1 - Latossolo Argiloso
1 0,065
2 0,024
3 0,015
Área 2 - Neossolo Quatzarênico
1 0,270
2 0,101
3 0,062
Tabela 1 – Valores do índice VIX calculado para as áreas
com Latossolo Argiloso e Neossolo Quartzarênico da
região de Ribeirão Preto (SP), considerando os diferentes
horizontes dos solos.
Recarga hídrica líquida anual calculada R = 43 cm.
Fonte: Elaborado pelo autor a partir dos dados dos solos
presentes em Gomes e Spadotto (2004).
Ficam evidentes os maiores valores do índice VIX
para a área com o Neossolo Quartzarênico, o que
representa maior vulnerabilidade à contaminação;
lembrando que, tratando-se da mesma região, a
precipitação e a evapotranspiração consideradas
foram as mesmas. Como esperado, para os dois
solos, quanto mais profundo o lençol freático,
menos vulnerável à contaminação. A vantagem do
uso do índice VIX é que, através dele, é possível
quantificar e facilmente comparar os diferentes
níveis de vulnerabilidade.
Referências
BANCO de dados climáticos do Brasil. [Campinas:
Embrapa Monitoramento por Satélite; Piracicaba:
ESALQ/USP, 2014]. Disponível em: < http://www.
bdclima.cnpm.embrapa.br/resultados/index.
php?UF=sp >. Acesso em: 10 out. 2014.
GOMES, M. A. F.; SPADOTTO, C. A. Subsídio à
avaliação de risco ambiental de agrotóxicos em
solos agrícolas brasileiros. Jaguariúna: Embrapa
Meio Ambiente, 2004. 5p. (Embrapa Meio
Ambiente. ComunicadoTécnico, 11). Disponível em:
< http://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/
CNPMA/5842/1/comunicado_11.pdf >.Acesso em: 10
nov. 2014.
RENNÓ, C. D.; NOBRE, A. D.; CUARTAS, L. A.;
SOARES, J. V.; HODNETT, M. G.;TOMASELLA, J.,
WATERLOO, M. J. Hand, a new terrain descriptor
using SRTM-DEM: Mapping terra-firme rainforest
environments in Amazonia. Remote Sensing of
Environment, NewYork, v. 112, n. 9, p. 3469-3481,
2008.
Exemplares desta edição podem ser adquiridos na:
Embrapa Gestão Ambiental
Av. Soldado Passarinho, 303, Fazenda Chapadão.
CEP 13070-115, Capinas, SP
Fone: (19) 3211-6200
www.embrapa.br/gestao-territorial
1a
edição
1a
impressão (2014): versão on-line
Presidente: MirianTherezinha Souza da Eira
Secretário-Executivo: Rosângela Galon Arruda
Membros: Alba Chiesse da Silva, Helena Sicoli,
Ivan Sérgio Freire de Sousa, Eliane Gonçalves
Gomes Assunta, Rosana Hoffman Câmara,
Chang das Estrelas Wilches, Marita Féres
Cardilo, Otávio Valentim Balsadi, Jeane de
Oliveira Dantas
Editoração eletrônica: Daniela Maciel
Normalização Bibliográfica: Daniela Maciel
Revisão de texto: Wilma Inês Araújo
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Índice de Vulnerabilidade de Água Subterrânea à Contaminação (VIX

  • 1. Índice de Vulnerabilidade de Água Subterrânea à Contaminação – VIX Introdução Água é essencial para a manutenção da vida e os recursos hídricos são fundamentais para várias atividades humanas. Historicamente a presença ou ausência de água determina a ocupação de territórios e o futuro de gerações. A água cobre grande parte da superfície da Terra, no entanto, apenas cerca de 2,5% são de água doce. Os maiores volumes de recursos hídricos em todo o planeta estão concentrados em seis países, entre eles, o Brasil, com cerca de 12% da água doce disponível. Além do volume de água, a sua qualidade merece, ou deveria merecer, grande atenção. Diversas atividades humanas afetam a qualidade e a potabilidade das águas. Essas atividades, especialmente quando desenvolvidas em áreas onde as águas subterrâneas estão em condições de maior vulnerabilidade à contaminação, representam uma grande ameaça à qualidade da água, podendo, por consequência, colocar em risco a conservação da biodiversidade, o equilíbrio dos ecossistemas e a sobrevivência da espécie humana. Dos 8,5 milhões de quilômetros cúbicos de água doce, na forma líquida, 98,5% são de água subterrânea. Esses milhões de quilômetros cúbicos representam uma reserva estratégica, especialmente em momentos de falta de chuvas e de escassez de água superficial. Nesse contexto, identificar as áreas com maior vulnerabilidade da água subterrânea à contaminação torna-se imprescindível para o ordenamento e o planejamento de atividades humanas no espaço geográfico, assim como para a adoção de medidas mitigadoras dos seus possíveis impactos negativos. Nesse Comunicado Técnico é apresentado o Índice de Vulnerabilidade de Água Subterrânea à Contaminação (VIX), desenvolvido em base científica, com algumas simplificações para condição não saturada do solo. Descrição do índice VIX É tido que em um meio poroso unidimensional e homogêneo, a equação de conservação de massa para um contaminante químico (CQ) não-reativo, sem degradação, pode ser escrita como: Claudio A. Spadotto1 2ISSN 2317-8787 Campinas, SP Dezembro, 2014 Técnico 1 Engenheiro Agrônomo, Ph.D. em Ciência de Solo e Água, pesquisador da Embrapa Gestão Territorial, Campinas, SP. E-mail: claudio.spadotto@embrapa.br Comunicado mqC mqs mt mz = _ [1]
  • 2. 2 Índice de Vulnerabilidade de Água Subterrânea ... onde C e qs são, respectivamente, concentração e fluxo do CQ, q representa o teor volumétrico de água do solo, t é o tempo e z a profundidade do solo. Desprezando o transporte na fase adsorvida, a dispersão hidrodinâmica e a difusão, o fluxo de massa do CQ pode ser escrito como: onde v é velocidade efetiva de convecção para um CQ não-reativo e é dada por: mqC mq.C mt mz = _ [3] mC mvC mt mz _ [4] [2]qs = q.C onde q é o fluxo de água no solo. De onde, ou [5]= q qv [6]= L v tc [7]= L.q q tc Além do fluxo de massa na fase solo-água, dois outros processos de transporte de CQ no solo são difusão na fase líquida e difusão na fase de vapor. Quando o fluxo de massa por convecção é pequeno ou desprezível, o CQ é capaz de se mover no solo por esses processos. Muitos modeladores do transporte de CQs no solo incluem a dispersão na equação de fluxo para levar em conta a sua difusão por causa das variações na velocidade da água, entretanto, em baixos fluxos de água em solos uniformes, esse termo é relativamente sem importância. A mobilidade convectiva pode ser estimada pelo tempo de convecção (tc), o qual é definido como: ou Assim, o inverso do tempo de convecção pode ser usado como índice de vulnerabilidade intrínseca de corpos de água subterrâneos à contaminação, calculado pela expressão: [8]= R L.FVIX [9]= R P(Li.Fi)VIXn onde R é a recarga hídrica líquida anual (cm), L representa a profundidade do corpo de água subterrâneo (cm) a partir da superfície do solo (zona não saturada) e F é a umidade na capacidade de campo do solo (v/v). O índice VIX é adimensional. O valor de R é obtido a partir de dados meteorológicos de precipitação pluviométrica e de evapotranspiração potencial, além de dados da irrigação, quando houver. A recarga hídrica líquida é obtida pela soma da precipitação e da irrigação, subtraindo a evapotranspiração. O valor de L é obtido a campo por meio de perfuração até o corpo de água subterrâneo; enquanto o valor de F é proveniente de ensaio de laboratório. Em estudos com maior abrangência geográfica, em escala menor e, portanto, com maior generalização e menor detalhe, os valores de R, L e F podem ser estimados remotamente: R pode ser calculado por meio da interpolação espacial de dados de estações meteorológicas, utilizando o método do inverso da distância ponderada ou geoestatística; L pode ser estimado pela aplicação de funções analíticas em sistemas de informações geográficas (SIG), a partir de modelo digital de elevação (MDE), como o proposto por Rennó et al. (2008); e F pode ser baseado em mapas pedológicos em conjunto com dados de trabalhos como o de Gomes e Spadotto (2004). Assim, o índice VIX pode ser aplicado em um SIG. Adicionalmente, para solos com diferentes camadas (ou horizontes) pode ser utilizada a equação: onde P indica o produto da expressão (Li.Fi) por camada, i designa a camada (i = 1,...n) e n o número de camadas. Os valores de L e F são únicos para cada camada até o topo do corpo de água subterrâneo. Aplicação do índice VIX Como exemplo de aplicação do índice VIX, são aqui apresentados os cálculos realizados para duas áreas com diferentes tipos de solos da região de Ribeirão Preto (SP). A estimativa da recarga hídrica líquida anual (R = 43 cm) foi feita a partir de dados anuais de precipitação e evapotranspiração potencial obtidos
  • 3. 3Índice de Vulnerabilidade de Água Subterrânea ... no Banco de Dados Climáticos do Brasil (BANCO..., 2014). Nenhuma irrigação foi considerada. Para a umidade do solo na capacidade de campo (F) foram usados os valores médios dos intervalos para Latossolos Argilosos e Neossolos Quartzarênicos apresentados por Gomes e Spadotto (2004). Três diferentes profundidades do corpo de água subterrâneo (L) foram consideradas e, para cada solo, o valor de F foi assumido ser o mesmo do horizonte mais profundo com dados disponíveis (BW1 no Latossolo Argiloso e C2 no Neossolo Quartzarênico) até o topo do lençol freático. Os resultados do índice VIX nas áreas com diferentes solos e vários horizontes estão na Tabela 1. Área - Solo Prof. do Lençol Freático (m) VIX Área 1 - Latossolo Argiloso 1 0,065 2 0,024 3 0,015 Área 2 - Neossolo Quatzarênico 1 0,270 2 0,101 3 0,062 Tabela 1 – Valores do índice VIX calculado para as áreas com Latossolo Argiloso e Neossolo Quartzarênico da região de Ribeirão Preto (SP), considerando os diferentes horizontes dos solos. Recarga hídrica líquida anual calculada R = 43 cm. Fonte: Elaborado pelo autor a partir dos dados dos solos presentes em Gomes e Spadotto (2004). Ficam evidentes os maiores valores do índice VIX para a área com o Neossolo Quartzarênico, o que representa maior vulnerabilidade à contaminação; lembrando que, tratando-se da mesma região, a precipitação e a evapotranspiração consideradas foram as mesmas. Como esperado, para os dois solos, quanto mais profundo o lençol freático, menos vulnerável à contaminação. A vantagem do uso do índice VIX é que, através dele, é possível quantificar e facilmente comparar os diferentes níveis de vulnerabilidade. Referências BANCO de dados climáticos do Brasil. [Campinas: Embrapa Monitoramento por Satélite; Piracicaba: ESALQ/USP, 2014]. Disponível em: < http://www. bdclima.cnpm.embrapa.br/resultados/index. php?UF=sp >. Acesso em: 10 out. 2014. GOMES, M. A. F.; SPADOTTO, C. A. Subsídio à avaliação de risco ambiental de agrotóxicos em solos agrícolas brasileiros. Jaguariúna: Embrapa Meio Ambiente, 2004. 5p. (Embrapa Meio Ambiente. ComunicadoTécnico, 11). Disponível em: < http://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/ CNPMA/5842/1/comunicado_11.pdf >.Acesso em: 10 nov. 2014. RENNÓ, C. D.; NOBRE, A. D.; CUARTAS, L. A.; SOARES, J. V.; HODNETT, M. G.;TOMASELLA, J., WATERLOO, M. J. Hand, a new terrain descriptor using SRTM-DEM: Mapping terra-firme rainforest environments in Amazonia. Remote Sensing of Environment, NewYork, v. 112, n. 9, p. 3469-3481, 2008.
  • 4. Exemplares desta edição podem ser adquiridos na: Embrapa Gestão Ambiental Av. Soldado Passarinho, 303, Fazenda Chapadão. CEP 13070-115, Capinas, SP Fone: (19) 3211-6200 www.embrapa.br/gestao-territorial 1a edição 1a impressão (2014): versão on-line Presidente: MirianTherezinha Souza da Eira Secretário-Executivo: Rosângela Galon Arruda Membros: Alba Chiesse da Silva, Helena Sicoli, Ivan Sérgio Freire de Sousa, Eliane Gonçalves Gomes Assunta, Rosana Hoffman Câmara, Chang das Estrelas Wilches, Marita Féres Cardilo, Otávio Valentim Balsadi, Jeane de Oliveira Dantas Editoração eletrônica: Daniela Maciel Normalização Bibliográfica: Daniela Maciel Revisão de texto: Wilma Inês Araújo Comitê de publicações Expediente Comunicado Técnico, 2