1) Uma revisão de estudos mostra que, no pior cenário de mudança climática, uma em cada seis espécies de animais e plantas será extinta.
2) Geograficamente, a América do Sul e a Oceania serão as mais afetadas, com até 15,7% de espécies em risco de extinção.
3) Embora todas as esferas da vida sejam afetadas, espécies endêmicas e aquelas com distribuição geográfica menor correm maior risco.
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MIGUEL ÁNGEL CRIADO 1 MAY 2015 - 20:11 BRT
MUDANÇA CLIMÁTICA »
Uma em cada seis espécies será extinta
pela mudança climática
O aquecimento global afetará principalmente a biodiversidade da América do Sul e Oceania
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Independentemente do que façam os políticos em suas
cúpulas contra a mudança climática, boa parte das espécies
do planeta está condenada a desaparecer. Uma revisão dos
últimos estudos que analisaram a relação entre o
aquecimento global e a biodiversidade mostra que, no pior
dos cenários, uma em cada seis espécies de animais e
plantas será extinta. O desastre afetará todos os ramos da
árvore da vida, mas geograficamente terá como foco a
América do Sul e a Oceania.
Os últimos relatórios do Grupo
Intergovernamental de
Especialistas sobre a Mudança Climática (IPCC) retratam
uma série de cenários para o final do século, as chamadas
trajetórias de concentração representativa (RCP). O destino
final de cada trajetória é uma determinada concentração de
dióxido de carbono e, com o efeito estufa, um consequente
aumento da temperatura. Partindo da situação atual, onde
superamos a cifra de 400 partes por um milhão (ppm) de
CO2, o cenário mais otimista (o RCP 2,6) indica um
aumento da temperatura média global de 2o. Outros
Embora os anfíbios estejam entre os animais mais afetados pela mudança climática,
espécies como a salamandra prateada ampliaram sua categoria geográfica graças ao
aquecimento. / MARK URBAN
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Embora as espécies
endêmicas sejam as mais
expostas à extinção, todas
as esferas da vida serão
afetadas
cenários mais realistas estimam uma elevação do
aquecimento global entre 3o e 4o, cenários RCP 6,0 e RCP
8,5, respectivamente.
Como esse aumento da temperatura afetará os
ecossistemas? As diversas espécies terão capacidade para se
adaptar ao aquecimento? Quais seres vivos são os mais
vulneráveis? Essas são algumas das perguntas que muitos
biólogos e ecologistas tentam responder desde o início do
debate sobre a mudança climática, no final do século
passado. Agora, o biólogo da Universidade de Connecticut
(EUA), Mark Urban, coletou mais de uma centena de
estudos focados na conexão entre o aquecimento global e a
extinção das espécies. Há estudos sobre algumas espécies e
outros que superam 24.000. Os resultados de sua análise
não são muito otimistas.
“Para o cenário RCP 6,0, calculo
uma porcentagem de extinção
de 7,7% e, para o RCP 8,5, a
estimativa sobe para até 15,7%”,
disse Urban por e-mail. Ambas
as rotas são as que estão
ganhando mais aceitação entre
os cientistas do clima. Isso
significa que, no segundo caso (onde a temperatura média
subiria mais de 4o), uma em cada seis espécies do planeta
teria muitas probabilidades de desaparecer. O fato é que,
mesmo sendo muito otimista, com um aumento de apenas
2o (a meta de toda cúpula sobre o clima), o risco de
extinção afetaria 5,2% das espécies.
O estrago que a mudança climática está causando à
biodiversidade tem muitas facetas. O mesmo aumento de
temperatura que reduz o habitat natural do urso polar está
afetando muitas espécies de anfíbios das selvas tropicais.
Nas áreas de clima mediterrâneo, sempre à beira da
desertificação, um grau a mais de temperatura já representa
um completo desafio para animais e plantas. Nas zonas
temperadas, a antecipação da primavera está deslocando
muitas espécies que haviam planejado seu destino de
acordo com a floração e frutificação das árvores.
“Surpreendentemente, não encontrei um efeito do grupo
taxonômico sobre o risco de extinção”, comenta Urban, que
dedicou cinco anos na análise do desenvolvimento
científico sobre este tema. Como mostra em seu trabalho,
publicado na revista Science, não há espécies mais
preparadas ou mais vulneráveis diante da mudança
climática. A exceção a essa regra são as espécies endêmicas.
Seja por sua delicada situação atual (número escasso,
reduzida variedade genética) ou por seu habitat reduzido,
os animais e plantas endêmicos correm um risco extra de
desaparecer comparados aos demais que, segundo Urban, é
de 6%.
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Os mamíferos têm mais
A diferença, na verdade, está na distribuição geográfica das
extinções. Embora o desaparecimento das espécies venha a
ser um fenômeno global, a maioria dos estudos analisados
destaca que as zonas mais afetada serão a América do Sul,
Austrália e Nova Zelândia. O impacto será menor no
hemisfério norte.
O mapa mostra como os ecossistemas marinhos dos trópicos e a Antártida são os que têm
maior risco de extinção. / FINNEGAN ET AL, SCIENCE
Mas, como lamenta Urban, não foram encontrados muitos
estudos sobre o caso da África e muito menos da África.
“Meu estudo não pode determinar as razões exatas dessas
diferenças regionais”, esclarece o especialista em biologia
evolutiva. “No entanto, a América do Sul, a Austrália e a
Nova Zelândia abrigam muitas espécies com reduzida
distribuição, o que implica que já possuem um habitat
menor que poderia desaparecer mais facilmente”, explica.
No caso das duas últimas regiões, além disso, devido ao seu
caráter insular, as espécies mais dinâmicas não poderão se
deslocar a outras zonas à medida que o aquecimento altere
seus ecossistemas originais.
O trabalho de Urban não põe data de validade nas espécies,
de modo que as porcentagens obtidas não implicam o
desaparecimento delas neste século. “São processos que
podem levar mais tempo”, lembra. Mas ele está convencido
de que a mudança climática, além de causar a extinção de
muitas espécies no futuro, está acelerando seu final.
A revista Science publicou também esta semana outro
estudo que busca no passado pistas para determinar o risco
de extinção das espécies que vivem na era da mudança
climática provocada pelos humanos. Os pesquisadores
rastrearam dados de 23 milhões de anos atrás para ver
quais animais são mais vulneráveis às alterações climáticas.
Embora o trabalho se concentre nos ecossistemas
marinhos, suas conclusões quase confirmam as de Urban.
A pesquisa, que se baseia no registro fóssil, mostra como os
animais com uma distribuição geográfica menor são os que
possuem as maiores taxas de extinção no passado.
Novamente, o fator de risco é o endemismo. Como no
estudo anterior, também comprovaram que a extinção
tende a ser maior em algumas zonas do que em outras.