1. O USO DO BLOG COMO ESTRATÉGIA DE ENSINO E COMO WEBFÓLIO
NO ENSINO DE CIÊNCIAS EM UMA PERSPECTIVA SUSTENTÁVEL
Willianir Fernandes de Assis1
Juliene Silva Vasconcelos2
RESUMO
O presente artigo aborda fundamentos e a utilização de ferramentas tecnológicas,
principalmente blog e webfólio, no ensino fundamental, com o foco no ensino de ciências,
bem como, sua eficiência e importância como estratégia pedagógica, principalmente o uso do
blog como webfólio, ou seja, um portfólio adaptado, no ensino fundamental de ciências,
através de um método construcionista de ensino e de uma educação significativa, na
perspectiva de uma educação sustentável. O artigo foi baseado no projeto desenvolvido nos
sétimos anos 1, 2, 3 e 4 e nos oitavos anos 5 e 6 da Escola Municipal Professor Otávio Batista
Coelho Filho, no Município de Uberlândia/MG, no ano letivo de 2009, no cotidiano de um
fazer pedagógico em parceria com os alunos.
Palavras-chave: blog, webfólio, ferramentas tecnológicas, construcionista.
1
Aluna do Curso de Especialização em Tecnologias Educacionais em Laboratório de Aprendizagem, Professora
da Rede Municipal de Uberlândia, vinculado a Escola Municipal Professor Otávio Batista Coelho Filho. E-mail:
life_assis@hotmail.com.
2
Professora Orientadora, Coordenadora Didático-Pedagógica, Professora do Curso de Especialização em
Tecnologias Educacionais em Laboratório de Aprendizagem e do Curso de Pedagogia, Docência, Gestão e
Tecnologia da União Educacional Minas Gerais/UNIMINAS. E-Mail: juliene.silva@pitagoras.com.br
2. 2
1. INTRODUÇÃO
No mundo atual a tecnologia permeia todos os setores da sociedade e o processo educacional
acompanha esses avanços de modo gradativo. Nesse modelo educacional associado à
tecnologia, o aluno é sujeito principal no processo de aprendizagem e o professor atua como
mediador e/ou facilitador desse processo de ensino aprendizagem.
Adotando como método de ensino o construcionista, enfatizando a educação
sustentável, neste tipo de abordagem são utilizados como recursos as ferramentas virtuais e
estratégias tecnológicas, dentre elas o uso do blog como webfólio.
Diante disso, considerando que o avanço pedagógico pode ser intensificado ao
incorporar recursos tecnológicos à prática docente. Buscou-se neste artigo discutir sobre os
alcances pedagógicos na aprendizagem de alunos das séries finais do ensino fundamental da
Escola Municipal Professor Otávio Batista Coelho Filho, em Uberlândia/MG,uma escola
considerada “modelo”, a partir do uso do blog na disciplina de ciências, relacionado em geral
à questão da educação sustentável.
Isso se justifica pelo fato de que o blog educativo tem sido utilizado cada vez mais
pelos educadores, pois o uso da tecnologia na sala de aula desperta o interesse do aluno para a
aprendizagem, favorece a aprendizagem colaborativa, a interatividade, funcionando como um
estímulo para a aprendizagem significativa, pois a maioria dos alunos é fascinada por
tecnologia, favorecendo a atualização e o aprimoramento tanto dos professores quanto dos
alunos. Para tanto, em um primeiro momento, buscou-se sobre o uso da tecnologia enquanto
meio/caminho para a aprendizagem significativa. Em seguida, apresentou-se o blog como
ferramenta virtual que pode ser utilizada como estratégia pedagógica significativa para a
aprendizagem.
Na metodologia, através de um relato de experiências, nota-se que o blog de cada
aluno funciona como um tipo especial de portfólio, porque mostra a evolução nas informações
adquiridas nos trabalhos realizados e sua capacidade de aprendizado. Numa expectativa de
que a partir desta construção, professor e aluno, sujeitos diretos do processo possam vivenciar
e exercer uma prática educativa mais democrática, autônoma e criativa.
Por fim, analisamos o Projeto do Blog como Webfólio no Ensino de Ciências,
desenvolvido na citada escola, a partir da perspectiva de aprendizagem colaborativa, tanto na
questão tecnológica como na alteração de costumes relacionados a sustentabilidade.
3. 3
2. ESTRATÉGIA PEDAGÓGICA: O USO DO BLOG COMO WEBFÓLIO
O termo blog é uma abreviação de weblog, original do inglês, em que web corresponde a rede
e blog ao diário de bordo. Há uma tendência do termo blog ser definido como diário pessoal
eletrônico.
Essa definição sofreu atualizações, e seu uso e função vem ganhando maior
abrangência e diversidade em várias áreas profissionais, inclusive na educacional. Ocorreu
essa evolução no multiuso dos blogs, principalmente porque os blogs estão cada vez mais
acessíveis, evoluídos e democráticos.
Os blogs estão cada vez mais acessíveis porque permitem a todas as pessoas a
compreensão do seu conteúdo, independente das limitações pessoais. Como exemplo pode-se
citar um software, como o Jaws, capaz de ler em voz alta o conteúdo de um site, tornando
assim acessível para uma pessoa cega.
O primeiro blog foi criado pelo americano Jorn Barger. A princípio era um simples
diário pessoal on-line (weblog), tendo entrado on-line pela primeira vez em 1997. Com o
passar do tempo os blogs foram ficando mais sofisticados. Atualmente eles
podem ser acessados até pelo celular (como o Twitter, por exemplo). Os blogs são espaços
virtuais que permitem a utilização de informações textuais, imagens e vídeos sobre os mais
variados assuntos (posts). O proprietário do blog, denominado como blogueiro, cria seus
conteúdos e personaliza seu blog, deixando de ser apenas consumidor de informações para
ser, também, o autor. Esse processo facilita a interação entre as pessoas de tal forma que,
quando se trata de interatividade, o blog é uma ferramenta poderosa, e, interatividade é
palavra de ordem na educação tecnológica (DOMINGUES, 2009).
Assim, em apenas 12 anos, o blog deixou de ser apenas um diário on-line, para se
transformar em uma ferramenta virtual que vem ganhando abrangência em todos os setores e
classes sociais, evidenciando a opinião de celebridades, políticos, empresas, pessoas anônimas
e muitos outros.
Ao contrário dos diários tradicionais que eram manuscritos, leituras secretas e
privadas, os blogs estão cada vez mais democráticos, tratando-se de diários eletrônicos on-
line e públicos. Todos os internautas podem ler os posts, e na maioria das vezes, opinar ou
escrever comentários sobre as postagens.
O uso de ferramentas tecnológicas, entre elas o blog, viabiliza muito esse processo
democrático de ensino, desde que esses recursos digitais não sejam usados meramente através
4. 4
de adestramento digital. É necessário usar as ferramentas digitais como recursos auxiliares de
aprendizagem que não servem só para recombinar informações já existentes, mas também a
fim de criar e construir novos conhecimentos, tornando o aluno protagonista. Uma vez que a
internet é uma rede hipertextual, que aumenta cada vez mais o número de suas webpages e
blogs, isso implica em um fluxo maior de informações, contribuindo para a socialização do
conhecimento.
A maioria dos serviços do blog é gratuita e disponibilizam textos, imagens, áudios,
vídeos, template3, layouts4, gadegts5, arquivos, tags6 e outros. Tudo isso torna os blogs uma
ferramenta poderosa e cada vez mais versátil, contribuindo para o estímulo à leitura, escrita e
interpretação, publicação de vídeos, filmagens, desenhos, fotos, produções, exposições de
idéias e debates sobre temas variados, desenvolvimento de projetos. Permite também
compartilhar o progresso de todas as atividades em tempo real, possibilita o desenvolvimento
de trabalho de autoria e de co-autoria, contribui para a socialização dos conhecimentos
adquiridos e para uma maior autonomia dos alunos na aquisição do saber, além de facilitar a
interação entre alunos, professores e familiares.
Além de todas essas contribuições o blog contribui para uma aprendizagem
significativa. Para Ausubel (1980, apud Moreira, 1982, p.100):
A aprendizagem significativa é um processo dinâmico em que uma nova
informação ancora-se em conceitos relevantes preexistentes na estrutura
cognitiva, estrutura hierárquica de conceitos que são abstrações da
experiência dos indivíduos, do sujeito aprendente que se atualiza sempre que
um novo conceito é significado.
Diante disso, acredita-se que o blog favoreça a aprendizagem significativa, pois
trabalha com projetos significativos interdisciplinares, pesquisa na rede, com as produções de
autoria e co-autoria dos estudantes, permitindo ao aluno deixar de ser apenas expectador e
participar de atividades mais integradoras e contextualizadas, além de desafiar os conceitos já
aprendidos.
A importância da relação entre os conhecimentos próprios do aluno e o processo pelo
qual ele adquire novos conceitos é amplamente abordada pelo educador por David Ausubel e
colaboradores (Ausubel et. al. 1980). De acordo com Tavares (2008, p.94):
3
Template ou design é o visual do site, é o desenho (NA)
4
Layout é o planejamento que mostra a distribuição física dos elementos como textos, imagens, etc, num
determinado espaço (NA).
5
Gadegts são utilitários, mini-aplicativos, acessórios para diversos fins (NA).
6
Tag é uma palavra-chave ou termo associado com uma informação, um recurso muito usado em sites e blogs
colaborativo, lembra um hipertexto. São etiquetas de orientação (NA).
5. 5
A teoria da aprendizagem de Ausubel e colaboradores se propõem a lançar
as bases para a compreensão de como o ser humano constrói significados e
desse modo apontar caminhos para a elaboração de estratégias de ensino que
facilitem uma aprendizagem significativa. Dessa forma o aluno pode ser
autor de seu conhecimento.
O blog permite que o aluno seja autor do seu conhecimento de uma forma processual.
Para Alicia Fernandez em nosso sistema educacional o conhecimento é considerado uma
informação a ser transmitida, o que não possibilita ou dificulta o processo de autoria do
conhecimento. Sobre essa questão de autoria Alicia Fernandez afirma que “O processo é o ato
de produção de sentidos e de reconhecimento de si mesmo como protagonista ou participante
de tal produção” (FERNANDEZ, 2001, p.90).
O blog pode também ser utilizado como uma espécie de portfólio, ou seja, um
webfólio, que é uma versão eletrônica do portfólio 7 visando principalmente estimular o
processo de autoria nos trabalhos dos alunos. O blog e o webfólio são coleções organizadas de
trabalhos, materiais e recursos selecionados. Uma vez publicada num sítio/página da internet,
esta coleção permite ligações a outros recursos tecnológicos com interatividade, através do
hipertexto, dos comentários em post, dos links e outros. É um espaço virtual onde o aluno
constrói e reconstrói o seu conhecimento de forma contínua, permanente e sustentável.
Na educação o portfólio começou ser usado mais efetivamente nos anos 1980, com
influência do construtivismo, em resposta aos testes de múltipla escolha. O portfólio serve
para organizar o que se aprendeu e fazer um registro visual e cognitivo desse conhecimento.
Não é necessário registrar tudo, pois o mais importante é envolver o aprendiz no processo
ensino-aprendizagem. O processo funciona como um diário de aprendizagem, favorecendo a
investigação de um ou mais temas trabalhados na sala de aula.
Para Hernandez (2000, p.160), o portfólio é “um continente de diferentes tipos de
documentos”, sendo que os documentos publicados no portfólio fornecem “evidências
utilizadas para aprender a disposição de quem elabora para continuar aprendendo”
(HERNANDEZ, 2000, p.166).
Na prática pedagógica, o portfólio, segundo Grace; Shores (2001, p.92) pode ajudar “a
demonstrar aos pais como seus filhos estão progredindo, com um critério definido, bem como
captar evidencias das qualidades particulares dos seus filhos”.
7
Portfólio é o conjunto ou coleção daquilo que está ou pode ser guardado numa porta-fólio (fotografia,
gravuras,desenhos, etc); ou sob a ótica da publicidade portfólio é o conjunto de trabalhos de um artista (designer,
desenhista, cartunista, fotógrafo etc.) ou de ator, modelo, utilizado para divulgação entre editores, e clientes
(Dicionário Houaiss, 1991).
6. 6
Ainda segundo as mesmas autoras o portfólio, pode dar suporte a:
[...] modelos curriculares diferentes quanto à abordagem ao
desenvolvimento, incluindo a instrução relacionada a inteligências múltiplas,
o enfoque de projetos e de oficinas, e uma mistura de estratégias de
orientações para a leitura (GRACE; SHORES, 2001, p.28).
O computador e, principalmente a internet, possibilitaram que o portfólio evoluísse
para uma versão eletrônica publicada on-line denominada webfólio, que faz registros,
publicações, produções de trabalhos, textos, imagens, desenhos, projetos e outros, tornando os
portfólios inovadores e democráticos. Mais do que uma coleção de trabalhos, atividades e
produções dos alunos, o webfólio registra também o crescimento, o progresso e o
amadurecimento intelectual dos alunos.
Outras vantagens apresentadas pelo webfólio é que as informações, tomados os
devidos cuidados, não se perdem e permitem fácil acesso, armazenagem de maior quantidade
de material de ensino, maior socialização das produções dos alunos, interatividade através de
hiperlinks e fácil atualização.
O uso do blog na educação e o uso do blog como webfólio não é uma ferramenta
meramente instrucional, não esta preso só a um tutorial cheio de regras e instruções como
uma “receita de bolo”. Ele permite e favorece ao aluno o processo criativo de suas produções
de autoria ou de co-autoria. Oferece liberdade e flexibilidade de edição no processo de criação
do seu conhecimento. Para ilustrar essa idéia, Papert (1985) relata uma experiência pessoal
contando que:
[...] desde os dois anos de idade, era apaixonado por engrenagens, e que
essas serviam de modelos para pensar. Mais tarde, já na escola, as
engrenagens serviram como modelo para pensar, facilitando o acesso às
idéias abstratas (PAPERT, 1985, p.13).
Ainda segundo Papert (1985, p.29) “a melhor aprendizagem ocorre quando o aprendiz
assume o comando, de seu próprio desenvolvimento em atividades que sejam significativas e
lhe despertem o prazer”.
A educação tradicional não atende esses anseios da educação transformadora. Em uma
época de globalização é preciso educar para a diversidade. É preciso que a escola seja um
espaço de transformação e de construção. O uso educacional dos recursos disponíveis no
computador e na internet favorecem o aluno a assumir o comando do seu conhecimento,
permitindo o rompimento da abordagem meramente instrucionista.
7. 7
2.2. A Perspectiva Construcionista na Educação Sustentável
Papert8, discípulo de Piaget, criou seu próprio método educacional: o método construcionista.
Na linha do construtivismo de Piaget, no sujeito dos processos cognitivos, a aprendizagem é
um processo de construção. Na linha do construcionismo de Papert, no sujeito do
inconsciente, a aprendizagem é um processo de transformação (VALENTE, 1998, p.132).
Em geral os métodos de Papert estão muito ligados ao inconsciente do sujeito
aprendiz, o que vem de encontro com a idéia psicanalítica de Lacan9, de que o aprendizado
está muito ligado ao consciente e ao inconsciente.
A tecnologia contribui para democratizar o ensino, e socializar o processo ensino-
aprendizagem através de uma educação construcionista. A abordagem construcionista
significa, portanto, o uso do computador como meio de propiciar a construção do
conhecimento pelo aluno. Interagindo com o computador na resolução de problemas, o aluno
tem a chance de construir seu conhecimento. (VALENTE, 1998, p.104)
O método construcionista prioriza a aprendizagem e a construção do conhecimento na
qual o aprendiz, constrói por intermédio do computador seu próprio conhecimento. Nesse
método o professor é tido como mediador, e para isso, necessita conhecer os processos de
aprendizagem, ter uma nova visão dos fatores sociais e afetivos, além de conhecer a
ferramenta computacional. Esses fatores são básicos para que o aluno possa transformar e
construir seu conhecimento com sustentabilidade. (PAPERT, 1985, p.90).
Para garantir uma melhor qualidade de ensino para as gerações futuras, mais do que
interdisciplinar, a educação precisa fazer uso das ferramentas tecnológicas de ensino na
perspectiva de uma educação sustentável. A inserção do termo “sustentabilidade” no processo
educacional é comentado por Gadotti (2000):
[...] o termo sustentabilidade se inseriu definitivamente na educação,
sintetizando o tema: uma educação sustentável para a sobrevivência do
planeta, difundido pelo movimento Carta da Terra. Esse tema vai dominar os
debates educacionais, nas próximas décadas (GADOTTI, 2000, p.58).
A educação dentro de uma perspectiva tecnológica é fundamental para a construção e
a formação da cidadania. Para isso, é fundamental o conhecimento de tecnologias sustentáveis
e inovadoras. A constante inovação tecnológica permite a rápida contextualização e
8
Seymour Papert, um matemático, é considerado o pai do construcionismo e um dos maiores visionários do uso
da tecnologia na educação. Ele trabalhou com Jean Piaget (construtivista). Já em 1960, Papert dizia que toda
criança deveria ter um computador em sala de aula.
9
Jacques Lacan, psicanalista, seguidor de Freud.Para Lacan o aluno deve assumir uma idéia mais central,a de
protagonista dos seus conhecimentos.
8. 8
atualização da educação e do conhecimento, favorecendo uma educação cada vez mais
sustentável. Optar por usar ferramentas digitais de ensino é contar com a interatividade, com a
aprendizagem colaborativa, com a criação de uma rede de saberes através de apresentações
multimídias, cursos on-line integrados, tutoriais com o passo-a-passo, recursos audiovisuais
midiáticos e outros.
A maioria dos alunos que já nasceram na era digital tem mais receptividade,
familiaridade e facilidade com as inovações tecnológicas. O uso de ferramentas tecnológicas
no processo ensino-aprendizagem permite que o ensino seja menos conteudista e mais criativo
e interativo, em um processo hipertextual que permite o acesso às informações mais
atualizadas. Esse contexto favorece uma educação mais inovadora e efetiva, para que a
educação saia da “decoreba” e entre no processo de memorização com um resultado mais
permanente e sustentável.
Educar é algo coletivo e colaborativo, e assim sendo, não se admite uma educação ou
um processo educativo escolar que segmente o conhecimento. A escola tem que ser
interdisciplinar, interativa, e o uso de recursos midiáticos favorece essa interatividade,
contribuindo para a formação do hábito de trabalhar em equipe, o que é essencial para uma
educação sustentável.
3. RELATO DE EXPERIÊNCIAS
O propósito aqui não é relatar todas as atividades desenvolvidas, nem suas formas de
elaboração e montagem, mas demonstrar, de forma geral, o cotidiano de um fazer pedagógico
em parceria com os alunos e analisá-lo em relação à fundamentação teórica apresentada,
envolvendo o uso de tecnologias para a promoção de uma educação sustentável.
O projeto escolhido para essa finalidade faz uso de ferramentas tecnológicas no ensino
de Ciências, em que a principal ferramenta foi a utilização da interface blog, principalmente
como webfólio. Esse recurso midiático foi utilizado para publicações e criação de trabalhos
escolares, textos, imagens, vídeos e outros, sendo de autoria ou co-autoria dos alunos, de
forma individual ou em grupo de duas até seis pessoas.
Foram criados blogs individuais ou coletivos10, sempre objetivando uma visão voltada
para uma aprendizagem colaborativa, significativa e construcionista. Para tanto, cada turma
recebeu um eixo-temático norteador, sendo que para os alunos do sétimo ano o tema principal
10
Ver em< http://jardinsecia-lifeassis.blogspot.com/>. Acesso em: 06 maio 2010.
9. 9
foi Zoologia e Meio Ambiente e para os alunos dos oitavos anos o tema principal foi Saúde,
Nutrição e Meio Ambiente.
Todos os temas principais estavam dentro da proposta do conteúdo programático. Os
alunos tiveram a oportunidade de escolha não obrigatória, porém criteriosa, de temas
transversais referentes a assuntos pessoais ou outros, para publicação nas postagens dos seus
blogs. Entendendo que as experiências vividas, as construídas, reconstruídas etc., devem ser
compartilhadas, pois são fundamentais na construção do conhecimento.
O relato de experiências foi organizado de acordo com o progresso na aprendizagem e
produções tecnológicas por parte dos alunos. Na primeira etapa do projeto (primeiro bimestre
de 2009), ofereceu-se instruções das noções do manuseio do computador e de informática
básica. Foram agendadas aulas no laboratório de informática, aulas extra turno, ministradas
pela professora responsável pelo projeto, bem como, sua assessoria e instrução pedagógica via
E-mail, Orkut, MSN, celular, telefone fixo, para maior agilização e viabilização do mesmo.
Na segunda etapa do projeto (segunda metade do primeiro bimestre de 2009), após as
noções básicas de informática, os alunos aprenderam a criar um e-mail para facilitar a
comunicação. Aqueles que já possuíam um e-mail aprenderam a criar um endereço mais
adequado e específico para criar um blog voltado para o projeto.
Em seguida os alunos aprenderam a utilizar os recursos do e-mail, principalmente
como enviar anexos e criar links. Toda a aprendizagem sobre criação e utilização de e-mails
facilitou, posteriormente, a produção dos post nos blogs. Aprender a criar links também foi
fundamental para enviar, via e-mail, os endereços dos blogs criados, para avaliação e análise
da professora.
Na terceira etapa do projeto (segundo bimestre de 2009), os alunos receberam
orientações passo-a-passo com o auxílio de um tutorial 11 sobre criação e montagem de blogs e
sites, desde o mais simples até o mais sofisticado. Eles começaram fazendo postagens simples
de textos, imagens, entrevistas, reportagens.
Na quarta etapa do projeto (primeira metade do terceiro bimestre), foi estimulada a
produção de vídeos, de filmagens, do uso do movie-marker, do Hagaquê, de desenhos no
paint-brush ou scaneados, jogos, gravações de som, todos sem obrigatoriedade. Os alunos
interessados tiveram orientações específicas da professora de acordo com a opção ou opções
desejadas.
11
Tutorial é um guia sobre um determinado assunto. É um passo-a-passo que ensina didaticamente como fazer
algo.
10. 10
Na quinta etapa do projeto (na segunda etapa do terceiro bimestre de 2009), os alunos
criaram uma coleção de artrópodes virtuais ou o herbário virtual, como uma alternativa à
coleção de artrópodes tradicional ou ao herbário convencional, dentro da proposta da
disciplina de Ciências para Educação em Meio a Ambiente Sustentável. Nesta etapa, os
alunos com maior facilidade nos manuseios das ferramentas tecnológicas, se tornaram
monitores e auxiliaram os outros que apresentavam dificuldades, no laboratório de
informática, na sala de aula, na assessoria virtual, nas aulas extras turnos. De forma
voluntária, houve a participação de muitos monitores.
A sexta etapa do projeto (quarto bimestre de 2009) foram várias atividades
pedagógicas (desenhos, filmagens, redação, teatro, histórias em quadrinhos, poemas, jogos,
pinturas) desenvolvidas a partir das leituras de e-books (livros virtuais) sobre meio ambiente e
sustentabilidade.
Os alunos escolheram um dos e-books propostos, bem como uma das atividades, para
apresentação do assunto tratado no livro eletrônico. Ainda nesta sexta etapa como conclusão
do projeto nesse ano de 2009, esse alunos dos sétimos anos e dos oitavos anos, citados nesse
artigo, ministraram uma oficina, divididos em grupo e de acordo com as séries, para
apresentação de suas produções nos blogs, bem como para dar noções básicas de criação e
montagem de blogs na Feira de Ciências da escola.
No projeto são utilizadas várias ferramentas tecnológicas de ensino, por exemplo; o
Orkut, o MSN, e-mails, celulares, blogs, sites, cds, pen drives, power point, movie marker,
Hagaquê, máquinas fotográficas digitais, filmadoras, mecanismos de busca e outros. A
maioria dos alunos tem muita familiaridade com as ferramentas tecnológicas, e o resultado
tem sido extremamente satisfatório.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A sociedade passa por constantes transformações em todas as áreas do conhecimento. A
tecnologia tem contribuído para romper com os chamados conceitos imutáveis. Tudo isso é a
revolução da ciência através do aprimoramento tecnológico. As mudanças tecnológicas
transformam a cidadania, a cultura, o campo político, social, econômico, as comunicações, e
principalmente o campo educacional.
Todas essas transformações e mudanças quebram mitos dogmas, e paradoxalmente
criam outros novos, inclusive no campo educacional. A inserção da tecnologia no campo
11. 11
educacional permitiu que a educação rompesse os limites de um ecossistema chamado escola
no molde tradicional, mudando o cenário da educação mundial. E até o tal método inovador
chamado construtivista, com o advento da tecnologia e o uso do computador como ferramenta
de ensino, vem cedendo lugar ao método do construcionismo.
A geração digital tem como maior área de domínio e atuação a internet, que é um
veículo multimídia, onde as informações ocorrem em tempos reais, e da mesma forma são
atemporais, contribuindo na formação do estudante autodidata e protagonista do seu
conhecimento, munido de suportes digitais variados e de modelos educacionais inovadores.
A educação digital é um processo colaborativo, que permite a desterritorialização do
saber, na comunidade virtual de aprendizagem. A diferença principal da educação tradicional
para a digital, renovada, construcionista é a ruptura com os espaços confinados, fixos e
localizáveis.
Dentro desse contexto o papel do professor é o de facilitador da aprendizagem, um
mediador e gerenciador de novas situações de aprendizagem, de forma eficiente, no contexto
de uma educação e tecnologias cada vez mais sustentáveis. O projeto do blog representa bem
esse novo jeito de ensinar e aprender.
Todas as etapas do projeto tiveram enfoque na necessidade da construção de uma
postura participativa, na valorização da força do grupo, na socialização de idéias, produções e
experiências. Quando os alunos fizeram produção de autorias, muitos alunos que aprenderam
o manuseio das ferramentas se tornaram monitores e na montagem da oficina de blogs,
desenvolveram a educação sustentável. O enfoque maior foi na gestão e produção de
conhecimento próprio, com o uso do computador, das ferramentas tecnológicas e
principalmente do uso da interface blog na criação e divulgação desses conhecimentos. O
resultado foi uma aprendizagem significativa, colaborativa, dentro de uma abordagem
construcionista de ensino, na perspectiva uma educação cada vez mais sustentável.
Como resultado do trabalho a maioria dos alunos se tornaram monitores, autodidatas,
protagonistas do seu conhecimento com um fluxo contínuo de informações. Uma vez que
nesse trabalho os alunos participaram como co-autores,como gestores e não como
expectadores de uma simples montagem que utiliza recursos midiáticos de ensino.
5. REFERÊNCIAS
12. 12
AUSUBEL, David P.; NOVAK, Joseph D.; HANESIAN, Helen. Psicologia educacional.
Tradução: Eva Nick. Rio de Janeiro: Interamericana, 1980, p.57.
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<http://origoex.wordpress.com/2009/05/09/a-origem-dos-blogs/>. Acesso em: 04 out. 2009.
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GADOTTI, Moacir. Pedagogia da terra. São Paulo: Peirópolis, Série Brasil Cidadão, 2000,
p.22.
GRACE, C.; SHORES, E. Manual de portfólio: um guia passo a passo para o professor. Porto
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HERNANDEZ, Fernando. Cultura visual, mudança educativa e projeto de trabalho. Porto
Alegre: Artmed, 2000, p.45.
MOREIRA, M. A.; MASINI, E. F. S. A aprendizagem significativa: a teoria de David
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Cognição 2008, v.13 (1): 94-100. Disponível em:
<http://www.cienciasecognicao.org/pdf/v13/cec_v13-1_m318229.pdf>. Acesso em: 07 nov.
2009.
VALENTE, J. A. Computadores e conhecimento: repensando a educação. Campinas:
Gráfica Central da UNICAMP, 1998, p. 104 e p.132.