1. INSTITUTO FEDERAL SUL-RIO-GRANDENSE - CAMPUS PELOTAS
CURSO DE ENGENHARIA ELÉTRICA
DINÂMICA DE MÁQUINAS ELÉTRICAS – 2015/1
PROF. ANDRE ARTHUR PERLEBERG LERM
Trabalho 1 – Motor CC
Fabiano Luís Lima Passos
Pelotas, 08 de março de 2015.
2. Introdução
Nesta primeira atividade da cadeira de Dinâmica de Máquinas Elétricas serão
apresentadas as equações que possibilitam a modelagem de uma Máquina de Corrente
Contínua (CC) no Simulink / MATLAB. Os resultados e considerações obtidas com as
simulações serão explicadas ao longo deste relatório.
Equações desenvolvidas para um Motor CC de excitação independente
O circuito elétrico equivalente do motor CC é apresentado na figura abaixo:
As equações relatadas neste item foram desenvolvidas utilizando alguns conceitos
vistos na disciplina de Conversão de Energia e complementadas pelas explicações em
aula do professor da disciplina Dinâmica de Máquinas Elétricas. São elas:
Em regime permanente:
𝑉 = 𝑒 + 𝑅 𝑎. 𝑖 𝑎
A variação da corrente é nula, e multiplicando ambos os lados por ia, obtém-se:
𝑉. 𝑖 𝑎 = 𝑒. 𝑖 𝑎 + 𝑅 𝑎. 𝑖 𝑎
2
O termo Ra.ia
2
denota as perdas do cobre da armadura e V.ia é a potência total.
Consequentemente e.ia denota a potência efetiva que foi transformado da forma elétrica
para mecânica, em seguida a potência do entreferro Pa. A potência do entreferro Pa é
expressa em termos de torque eletromagnético e velocidade angular Wm:
𝑃𝑎 = 𝑊𝑚. 𝑇𝑒 = 𝑒. 𝑖 𝑎
3. Assim, o torque eletromagnético Te ou torque do entreferro é representado como:
𝑇𝑒 =
𝑒. 𝑖 𝑎
𝑊𝑚
A tensão induzida e é obtida sabendo-se que z é o número de condutores na
armadura com um fluxo de campo ɸf por pólo:
𝑒 = 𝑧.
𝑑∅ 𝑓
𝑑𝑡
= 𝑧.
∅ 𝑓
𝑡
t é o tempo necessário para os condutores cortar as linhas de fluxo ɸf.
Realizando algumas simplificações devido ao tipo de enrolamentos possíveis na
armadura chegamos a seguinte equação:
𝑒 = 𝐾. ∅ 𝑓. 𝑊𝑚
O fluxo de campo é constante, então a fem induzida é proporcional à velocidade
do rotor e a constante de proporcionalidade é conhecida como a fem induzida. Então, a
fem induzida é representada como:
𝑒 = 𝐾𝑏. 𝑊𝑚
Onde Kb é a fem induzida, dada por:
𝐾𝑏 = 𝐾. ∅ 𝑓
Onde K é uma constante de proporcionalidade. O fluxo de campo é escrito como
a razão entre o campo Força Magnetomotriz (fmm) e a indutância mútua.
∅ 𝑓 =
𝑁𝑓. 𝑖 𝑓
𝑅 𝑚
= 𝑀. 𝑖 𝑓
Onde Nf é o número de voltas no enrolamento de campo, e i f é a corrente de campo,
e Rm é a relutância do caminho de fluxo mútuo. O fluxo mútuo é a resultante da armadura e
fluxos de campo.
Onde M é a indutância mútua entre enrolamentos da armadura e de campo dada
por:
𝑀 =
𝐾. 𝑁𝑓
𝑅 𝑚
Realizando algumas simplificações chegamos:
𝑒 = 𝑀. 𝑖 𝑓. 𝑊𝑚
𝐾𝑏 = 𝑀. 𝑖𝑓
6. Função de Transferência
Aplicando Laplace e desconsiderando as condições iniciais temos:
𝐼 𝑎( 𝑠) =
𝑉( 𝑠) − 𝐾𝑏. 𝑊𝑚( 𝑠)
𝑅 𝑎 − 𝑠𝐿 𝑎
𝐼𝑓( 𝑠) =
𝑉𝑓( 𝑠)
𝐿 𝑓 𝑠 − 𝑅𝑓
𝑊𝑚( 𝑠) =
𝐾𝑏 𝐼 𝑎(𝑠) − 𝑇𝑐(𝑠)
𝑏 − 𝑠𝐽𝑡
Para o sistema elétrico, supondo que a carga do motor é nula (Tc = 0), teremos:
𝐻𝑒𝑙é𝑡𝑟𝑖𝑐𝑜( 𝑠) =
𝑊𝑚( 𝑠)
𝑉( 𝑠)
𝑊𝑚( 𝑠)
𝑉( 𝑠)
=
𝐾𝑏
𝑠2( 𝐽𝑡 𝐿 𝑎) + 𝑠( 𝑏𝐿 𝑎 + 𝐽𝑡 𝑅 𝑎) + (𝑏𝑅 𝑎 + 𝐾𝑏
2
)
Para o sistema mecânico, teremos:
𝐻 𝑚𝑒𝑐â𝑛𝑖𝑐𝑜(𝑠) =
𝑊𝑚(𝑠)
𝑇𝑐(𝑠)
𝑊𝑚( 𝑠)
𝑇𝑐( 𝑠)
=
−( 𝑅 𝑎 + 𝑠𝐿 𝑎)
𝑠2( 𝐽𝑡 𝐿 𝑎) + 𝑠( 𝑏𝐿 𝑎 + 𝐽𝑡 𝑅 𝑎) + ( 𝑏𝑅 𝑎 + 𝐾𝑏
2)
Sendo a entrada de tensão V(s) e a saída Wm(s) temos:
𝑊𝑚( 𝑠) = 𝐻𝑒𝑙é𝑡𝑟𝑖𝑐𝑜( 𝑠). 𝑉( 𝑠) + 𝐻 𝑚𝑒𝑐â𝑛𝑖𝑐𝑜( 𝑠). 𝑇𝑐(𝑠)
7. Simulink / Matlab
O modelo criado no Simulink na figura a seguir:
Antes de realizar as simulações no Simulink, foi preciso encontrar os parâmetros
necessários para comparação do modelo criado e o real. Tabela com parâmetros e curvas
de resposta retiradas do manual do motor:
Wm
Wm
Velocidade Angular
Te
Torque Eletrico
Tc
Torque Carga
tempo
Tempo
Step2
Step1
Step
Product2
Product1
Product
1
s
Integrator2
1
s
Integrator1
1
s
Integrator Ia
Kb
Gain8
Rf/Lf
Gain7
1/Lf
Gain6
Kb/Jt
Gain5
Kb/La
Gain4
b/Jt
Gain3
Ra/La
Gain2
1/Jt
Gain1
1/La
Gain
If
Corrente de Campo
Ia
Corrente Armadura
Vf
Constant2
Tc
Constant1
V
Constant
Clock
Add2
Add1
Add
8. Parâmetros do Motor
Dados Valor
Resistência da Armadura (Ra) 0,05227 Ω
Indutância da armadura (La) 0,0005227 H
Resistência de campo (Rf) 41,82 Ω
Indutância do campo (Lf) 10,454 H
Constante do motor (Kb) 0,3136 V.s/rad
Coeficiente de atrito viscoso (b) 0,5227 N.m.s/rad
Momento de inercia (Jt) 0,003136 Kg.m²
Tensão de armadura (V) 115 V
Tensão de campo (Vf) 115 V
Torque da carga (Tc) 26,136 N.m
Os resultados obtidos na primeira simulação do modelo implementado:
Corrente de Armadura (Ia)
Nota-se que a corrente de armadura apresenta um pico elevado na partida do motor
e após entrar em regime permanente este valor tende a permanecer constante em seu valor
normal. A razão dessa alta corrente de partida pode ser facilmente entendida
considerando-se que, quando o motor é ligado, a armadura está completamente parada e
o valor da força contra eletromotriz e é zero (a velocidade é nula). Em consequência, toda
a tensão de armadura, V fica aplicada sobre a resistência de armadura, Ra, que é bem
pequena, dando origem a uma grande corrente de armadura. Após a partida, o motor
ganha velocidade, e aumenta e a corrente Ia diminui. Para minimizar o efeito da corrente
de partida alta, utilizam-se técnicas de redução de corrente, principalmente em motores
de grande potência, tais como partida em tensão de armadura reduzida usando reostatos.
0 5 10 15
0
200
400
600
800
1000
1200
1400
1600
1800
2000
Corrente de armadura (Ia)
Tempo (s)
Corrente(A)
9. Corrente de Campo (If)
A corrente de campo If apresenta uma subida que não excede o seu valor de regime
permanente, podemos considerar um comportamento suave.
Velocidade Angular do Motor (Wm)
Com relação a velocidade podemos verificar que apresenta um pico na partida,
como a corrente de armadura, devido ao baixo valor de e. Quando o valor de e se
estabelece em um valor, a velocidade se estabiliza em um valor final.
Importante notar que os picos ocorridos na corrente de armadura (Ia) e na
velocidade angular do motor (Wm) podem trazer consideráveis prejuízos físicos ao motor
e aos equipamentos conectados à ele.
0 5 10 15
0
0.5
1
1.5
2
2.5
3
Corrente de Campo (If)
Tempo (s)
Corrente(A)
0 5 10 15
-500
0
500
1000
1500
2000
2500
3000
3500
Velocidade Angular do Motor (Wm)
Tempo (s)
VelocidadeAngular(rpm)
10. Controle de Velocidade
Foram escolhidos os seguintes métodos para análise do controle de velocidade:
pela inserção de resistência na armadura, pela corrente de campo e pela variação de tensão
na armadura.
Controle pela Resistência de Armadura
Simulação inserindo um resistor R ao circuito da armadura, este é um método
pouco usual.
Resultados da simulação adicionando uma resistência R em série com a resistência
da armadura Ra:
Corrente de Armadura (Ia)
Notamos que o valor do pico da corrente de armadura diminuiu
consideravelmente, o que é desejado para que a velocidade não apresente um pico tão
elevado.
Corrente de Campo (If)
0 5 10 15
0
50
100
150
200
250
Corrente de armadura (Ia)
Tempo (s)
Corrente(A)
0 5 10 15
0
0.5
1
1.5
2
2.5
3
Corrente de Campo (If)
Tempo (s)
Corrente(A)
11. Podemos notar que a inserção de um resistor em série no circuito de armadura não
gera nenhuma alteração na corrente de campo.
Velocidade Angular (Wm)
O disparo de velocidade no eixo do motor no momento da partida é bem menor,
porém também passamos a ter uma velocidade de regime permanente menor que a
anterior.
Controle do Campo
Aumentando a resistência de campo (Rf).
Corrente de Armadura (Ia)
0 5 10 15
-400
-200
0
200
400
600
800
1000
Velocidade Angular do Motor (Wm)
Tempo (s)
VelocidadeAngular(rpm)
0 5 10 15
0
200
400
600
800
1000
1200
1400
1600
1800
2000
Corrente de armadura (Ia)
Tempo (s)
Corrente(A)
12. Corrente de Campo (If)
Velocidade Angular (Wm)
Nos gráficos podemos verificar um significativo aumento da corrente de
armadura, o que era esperado, bem como um aumento na velocidade final em regime
permanente. O aumento da resistência de campo causa a diminuição da corrente de
campo, o que provoca a queda do fluxo e consequentemente uma diminuição da tensão
interna gerada e. Com outra simulação, agora diminuído a resistência de campo
observamos o aumento da corrente de campo e a corrente de armadura irá diminuir,
características estudadas na disciplina de Conversão de Energia.
0 5 10 15
0
0.2
0.4
0.6
0.8
1
1.2
1.4
1.6
1.8
2
Corrente de Campo (If)
Tempo (s)
Corrente(A)
0 5 10 15
-500
0
500
1000
1500
2000
2500
3000
3500
Velocidade Angular do Motor (Wm)
Tempo (s)
VelocidadeAngular(rpm)
13. Controle pela Tensão da Armadura
Variando a tensão V de entrada nas simulações:
Corrente de Armadura (Ia)
Corrente de Campo (If)
0 5 10 15
0
500
1000
1500
2000
2500
Corrente de armadura (Ia)
Tempo (s)
Corrente(A)
0 5 10 15
0
0.5
1
1.5
2
2.5
3
Corrente de Campo (If)
Tempo (s)
Corrente(A)
14. Velocidade Angular (Wm)
Variando-se a tensão da armadura dentro de um certo limite, a velocidade tenderá
a aumentar ou diminuir seu valor em regime permanente. Aumentando a tensão V a
velocidade aumenta também. Para a velocidade diminuir, neste caso, diminuímos o valor
de V.
Frenagem
O método escolhido para simulação é simples. Quando o motor estiver em
regime permanente, a tensão da armadura (V) será invertida.
Corrente de Armadura (Ia)
0 5 10 15
-500
0
500
1000
1500
2000
2500
3000
3500
4000
Velocidade Angular do Motor (Wm)
Tempo (s)
VelocidadeAngular(rpm)
0 5 10 15 20 25 30
-500
0
500
1000
1500
2000
Corrente de armadura (Ia)
Tempo (s)
Corrente(A)
15. Corrente de Campo (If)
Velocidade Angular (Wm)
Este tipo de frenagem realiza-se invertendo o sentido de rotação do motor por
inversão do sentido da corrente na armadura. Isso é obtido invertendo a polaridade da
fonte que alimenta a armadura. É também conhecida por frenagem de contracorrente.
0 5 10 15 20 25 30
0
0.5
1
1.5
2
2.5
3
Corrente de Campo (If)
Tempo (s)
Corrente(A)
0 5 10 15 20 25 30
-1000
-500
0
500
1000
1500
2000
2500
3000
3500
Velocidade Angular do Motor (Wm)
Tempo (s)
VelocidadeAngular(rpm)
16. Conclusão
Este trabalho proporcionou rever os conceitos estudados na disciplina de
Conversão de Energia para o regime permanente, e também agregar e desenvolver o
conhecimento sobre o regime transitório de um motor CC. As simulações realizadas no
Matlab/Simulink para o modelo do motor CC elaborado, possibilitaram definir as
características importantes para a partida, frenagem e controle de velocidade dos motores
de corrente continua.
Na partida de motores CC é preciso reduzir os picos de corrente de armadura e de
velocidade para que o motor e componentes do sistema não sejam danificados. Podendo-
se utilizar resistores de partida em série com a armadura. Uma outra opção é elevar a tensão
de armadura gradativamente à medida que a máquina acelera, isso é possível com o uso
de retificadores controlados.
No controle de velocidade pelo circuito da armadura notamos que a velocidade
diminui com o aumento da resistência de armadura, pelo circuito de campo, o aumento
da resistência de campo aumenta a velocidade, e o também sendo possível o controle pela
variação da tensão de alimentação da armadura.
Na frenagem com uma simulação de inversão da tensão de alimentação no circuito
de armadura notamos a queda da velocidade é abrupta, também chamada de frenagem de
contracorrente. Este método pode danificar ou gerar perturbações no sistema.
O trabalho também contribuiu para aprimorar e desenvolver o uso do Matlab como
ferramenta de estudo para sistemas dinâmicos relacionados a motores, abrindo uma
variedade de opções e métodos possíveis para a modelagem dos mesmos.
17. Referências
[1] BIM, Edson. Máquinas Elétricas e Acionamento. Rio de Janeiro: Elsevier, 2009.
[2] CHAPMAN, Stephen J. Fundamentos de Máquinas Elétricas. 5 ed. Porto Alegre:
AMGH, 2013.
[3] CARACTERÍSTICAS E ESPECIFICAÇÕES DE MOTORES DE CORRENTE
CONTÍNUA E CONVERSORES CA/CC. Apostila do Curso DT – 3. WEG Indústrias
S.A. - Máquinas.