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     Competitividade Baseada em Competências e Recursos

                    Eduardo Damião da Silva (PUC PR) eduardo.damiao@pucpr.br
                      Paola Albiero Gómez (PUC PR) paagomez@hotmail.com
                           Alceu Souza (PUC PR) alceusouza@bsi.net.br


Resumo - Este artigo apresenta o modelo de estruturas organizacionais baseado em
competências, mostrando seu conceito, através de um framework, e relacionando-o com os
diferentes níveis de competências e recursos. Este framework ajuda a compreender como os
diferentes níveis de competências interagem e afetam a capacidade competitiva da empresa e
sua respectiva performance. Além disso, destacam-se a importância dos recursos e
capacidades, focado na visão baseada em recursos da firma, e da formulação da estratégia
de marketing para a organização.

Palavras-chave: Estratégias competitivas, Gestão de competências, Gestão de recursos


1. INTRODUÇÃO

Este artigo analisa as várias contribuições, à teoria e à prática, da competição baseada em
recursos e competências com seus diferentes níveis relacionados com a organização. É
introduzido um framework, baseado nas competências centrais, para fazer a distinção entre a
análise estática e a dinâmica das competências. O objetivo central do artigo é responder quais
são os fatores e/ou atributos que a organização deve possuir para construir e garantir sua
vantagem competitiva.
Além disso, destaca-se a importância da metodologia que implementa a competência como
estratégia competitiva. Destaca-se também a relevância da função do líder e do conceito de
marketing (estratégia de marketing) necessário para a organização formular estratégias
dinâmicas, assegurando a habilidade de criar novas e temporárias vantagens competitivas e
ainda atender a constantes mudanças e necessidades de produtos inovadores. Logo após, é
detalhada a função dos recursos e capacidades, as diferenças entre vantagem competitiva
posicional e vantagem competitiva sustentável e o ciclo contínuo da vantagem competitiva
que irão formular e implementar a estratégia competitiva.
O presente artigo está divido em quatro segmentos. No primeiro segmento descreve-se a
metodologia e a pergunta de pesquisa; no segundo há um relato sobre as diversas
interpretações de competências, seus níveis hierárquicos e análises; na terceiro descreve-se
como identificar as competências, como se dá o processo de seu desenvolvimento, como elas
são lideradas e, por último, destacam-se os conceitos de recursos e capacidades, o ciclo de
vantagem competitiva, os benefícios da gestão de competência e de recursos como vantagem
competitiva.

2. METODOLOGIA E DEFINIÇÃO DO PROBLEMA
A metodologia utilizada é a da pesquisa bibliográfica que permite construir (ou reconstruir)
um modelo implícito nos diferentes construtos, criando um arcabouço teórico capaz de
sustentar ou subsidiar as questões de pesquisa (BERTO e NAKANO, 1998). A metodologia
teórico-conceitual também é presenciada uma vez que é resultado de reflexões a partir de um
fenômeno observado ou relatado pela literatura (revisão bibliográfica), ou seja, compilação de
idéias e opiniões de diferentes autores. A questão central identificada e que este texto tem por

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objetivo responder é: quais fatores e/ou atributos as organizações devem possuir para
construir e garantir sua vantagem competitiva?

3. O CONCEITO DE COMPETÊNCIA
Grande parte da literatura já existente aborda a construção de competências. Cada autor
coloca seu argumento principal e seu objetivo de investigação. Desta forma, certos estudos
têm interesse na aquisição de competências através de mecanismos internos de aprendizagem
individual e coletiva (SENGE, 1990). Segundo ZARAFIAN (1999) a competência é a
inteligência prática para situações que se apóiam sobre os conhecimentos adquiridos e os
transformam com tanto mais força, quanto mais aumenta a complexidade das situações. De
uma outra forma, outros enfatizam a importância de diferentes ferramentas estratégicas como
alianças, licenças ou aquisição de companhias (PRAHALAD; HAMEL, 1989). A aquisição
de competências por mecanismos externos supre a flexibilidade que soluções internas não
podem suprir facilmente. Conforme a exigência do mercado muda e novas competências e
recursos são necessários, novas sociedades são adquiridas e, portanto, as velhas são
abandonadas. Outros estudos recomendam a centralização em competências essenciais
(PRAHALAD; HAMEL, 1990), enquanto outros sugerem que uma rede de conhecimento é
necessária para a constituição da competência da organização.
A construção das competências é um processo em que a companhia desenvolve uma
configuração estratégica procurando atingir e exercitar os objetivos estratégicos. Esse
processo compreende, de um lado, o objetivo estratégico presente, e de outro lado, produzindo
outputs, o objetivo estratégico futuro e suas perspectivas. Essa construção de competências se
dá através da combinação mais efetiva dos fatores tangíveis e intangíveis.
Prahalad e Hamel (1990) definem competências essências como “um aprendizado coletivo na
organização, especialmente em como coordenar diversos tipos de produção e integrar
múltiplas tecnologias”. Os autores enfatizam a competência como um resultado de um
processo cumulativo de conhecimento e essencialmente dependente da tecnologia. Outros
autores definem competência como a habilidade de coordenar taxas de forma a ajudar a
organização a atingir os objetivos. Competência é um conjunto de tecnologias e habilidades,
isto é, a capacidade de organizar, manusear e coordenar as atividades da organização.
Existem ainda quatro diferentes interpretações de competências que foram identificadas
(BAKER et al., 1997); (ZARAFIAN, 1990):
   − Competência estratégica: o chamado “ajuste-fino” entre estratégia de negócios da
     organização e ambiente competitivo externo. (Entretanto, para os autores o termo mais
     adequado e utilizado por eles é congruência.);
   − Competência distinta: é uma série de tecnologias e técnicas essenciais que provém da
     vantagem competitiva e pode existir em múltiplos níveis na organização. É como se
     fosse uma competência única de uma ou poucas organizações.
   − Competência funcional: é o “ajuste-fino” entre prioridades competitivas da
     organização e seus pontos fortes dentro de uma função em particular como manufatura
     ou marketing, por exemplo.
   − Competência individual: é uma série de técnicas e conhecimentos de uma necessidade
     individual para realizar efetivamente um trabalho.

Algumas empresas construíram seus impérios baseados somente em poucas competências.
Exemplos disso são companhias como a Honda, Canon, Sony e 3M (veja abaixo o exemplo
na Figura 1). Mesmo competindo em grandes e diversificados mercados, com poucas, porém
sólidas, competências atingiram o mercado global (LAZARUS, 2002).


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                                 Exemplos de Competências Essenciais
            Companhia             Competência Essencial
            Honda                 Máquinas, Motores e Trens Elétricos
            Canon                 Mecanismos de Precisão, Ótica e Microeletrônicos
            Sony                  Miniaturização e Tecnologia de Vídeo
            3M                    Abrasivos e Adesivos

        Figura 1 – Exemplo de Competências Essenciais nas Empresas
       Fonte: LAZARUS (2001)


Essas competências podem ser facilmente percebidas dentro dessas companhias, porém são
extremamente complicadas de serem imitadas, uma vez que são constituídas por uma rede
complexa de técnicas e conhecimentos. Além disso, elas favorecem a comunicação dentro da
organização, envolvendo um profundo e árduo trabalho dos respectivos gerentes.

4. IDENTIFICANDO AS COMPETÊNCIAS ESSENCIAIS
Nos anos 80, os empresários eram analisados pela sua capacidade de reestruturar sua
organização, porém na década passada, os mesmos eram analisados sob outro ponto de vista:
pela capacidade de identificar, analisar e explorar seu núcleo de competências. A tarefa agora
é criar produtos nunca antes imaginados que satisfaçam as necessidades dos novos e exigentes
consumidores (PRAHALAD; HAMEL, 1990). Para isso, a companhia necessita de mudanças
drásticas na administração, concentrando seus esforços em identificar as competências
essenciais, enfatizando sua competitividade perante os concorrentes. Essa competitividade,
em curto prazo, é conseqüente da razão preço-qualidade. Porém, em longo prazo, ela é
conseqüente da redução de custos mais habilidosa do que os concorrentes.
Segundo Prahalad e Hamel (1990), ao menos três testes podem ser aplicados para identificar
as competências essenciais de uma organização, quais sejam:
   − As competências essenciais promovem acesso potencial a uma variedade de
     mercados?
   − Fazem uma significativa contribuição ao benefício percebido de clientes no produto
     final?
   − São difíceis de serem imitadas, principalmente o modelo de coordenação e
     aprendizado ?

Ainda, segundo esses mesmos autores, para definir as competências essenciais é preciso ter a
visão ou criar o futuro (e não fazer uma previsão), fazendo um planejamento do que pode vir
a acontecer e de quais serão as conseqüências dessas mudanças para a organização e sugerem
uma arquitetura estratégica ou seja, um mapa do futuro, identificando quais as competências
que devem ser construídas e suas respectivas tecnologias. Esse mapa do futuro ajuda o gerente
a entender a lógica de como funcionam as competências. Para isso, a companhia deve
responder perguntas como controle sobre competências e competitividade estabelecida. Essas
respostas fazem com que a organização abra os olhos sobre as competências e as formule da
maneira mais correta, prevenindo assim que outras companhias liderem o mercado.
O grande desafio é criar o futuro e não pré-definir. Os gerentes precisam entender as
condições que poderão acontecer, e usando a imaginação criar contextos plausíveis com o que
se deseja atingir (PRAHALAD; HAMEL, 1990). Porém, isso se torna cada vez mais difícil,


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pois os gerentes não enxergam as mudanças que o mercado vem sofrendo e as mudanças na
natureza da competição e, conseqüentemente, não conseguem identificar as oportunidades que
se destacam. É fato que os que hoje dominam o mercado são aqueles que os criaram
antigamente..

5. RECUROS E CAPACIDADES
Depois de identificado as competências essenciais, é necessário definir o conceito de recursos
e capacidades. De um ponto de vista mais amplo, os recursos de uma empresa podem ser
definidos como todos os ativos, capacidades, processos organizacionais, atributos
empresariais, informações, conhecimentos controlados pela empresa para conceber e
implementar estratégias que aperfeiçoem sua eficiência e eficácia (YEPES e GARRE, 1999b).
Por recursos entende-se os ativos tangíveis e intangíveis que são vinculados de forma semi-
permanente à empresa (WERNERFELT, 1984). Outros autores definem de maneira mais
pontual, como sendo os elementos que participam do processo produtivo, tais como máquinas
e equipamentos, habilidades dos trabalhadores, marcas e patentes, etc. Já BARNEY (1996)
considera como recursos, todos os ativos, as competências, o processo organizacional, os
atributos e as informações da empresa, o conhecimento, enfim ampla gama de ativos que
pertencem à empresa.
       Craig e Grant (1999), Barney (1996) e Barney e Hesterly (1996) distinguem seis
categorias atendendo a natureza do recurso:

   −    Recursos financeiros: reservas de caixa, ativos financeiros de curto prazo, capacidade
       de empréstimos e fluxo de caixa;
   −   Recursos físicos: fábrica e equipamentos (escala, localização, época, tecnologia,
       flexibilidade) e recursos de matérias-primas;
   −   Recursos humanos: experiência e qualificação das diferentes categorias de
       empregados, adaptabilidade e fidelidade dos empregados, qualificação e experiência
       de alta administração;
   −   Tecnologia: tecnologia própria (na forma de patentes, direitos autorais e segredos
       comerciais) e recursos tecnológicos (na forma de instalação e pessoal de P&D);
   −   Reputação: marcas dos produtos e seus respectivos valores da marca, marcas
       registradas e reputação da empresa;
   −   Relacionamento: com clientes, fornecedores, distribuidores e autoridades
       governamentais.

Os recursos nunca estão sozinhos e sempre atuam conjuntamente com as capacidades da
empresa. A diferença entre recursos e capacidades, é que esta segunda pode ser definida
independente de seu uso (PENROSE, 1962 apud YEPES e GARRE, 1999b), e implicam uma
função ou atividade, embutidas nas rotinas e práticas organizacionais (DAY, 1999). As
capacidades são consideradas como um fluxo e têm caráter dinâmico. As capacidades estão
baseadas no conhecimento organizacional, a maioria das vezes não codificado, que se
armazena na memória organizativa. As competências organizacionais são criadas a partir do
uso estratégico das capacidades e recursos organizacionais. Exemplos de recursos
organizacionais incluem humanos, de finanças, trademarks, copyrights, plantas e locações.
Penrose (1997) apud Leite e Porsse (2003) analisaram os processos de crescimento das firmas
como caracterizados pelas oportunidades externas e internas, as quais são decorrentes do
conjunto de recursos das firmas, apresentando, assim, uma perspectiva diferente da economia
neoclássica. Também enfatizaram os limites e as possibilidades dos recursos organizacionais,
destacando que a procura constante das empresas pela maximização do emprego dos recursos


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causa os desequilíbrios das organizações e dos mercados, sendo que dessas imperfeições do
mercado as empresas extraem suas vantagens competitivas. Assim, quando as empresas criam
produtos únicos, elas desenvolvem capacidades únicas, habilidades gerenciais, ou ainda
recursos. Estas capacidades estabelecem, necessariamente, limites para a expansão da
empresa em determinado período de tempo.
Segundo Barney (1996) a diferença de desempenho entre as empresas, ou melhor, a obtenção
da vantagem competitiva, é explicada pela heterogeneidade dos recursos. Isso significa que a
fonte básica para a vantagem competitiva são os recursos e competências desenvolvidos e
controlados pelas organizações. Em outros termos, as imperfeições do mercado de recursos
possibilitam a obtenção de desempenho acima da média do mercado. Quando a organização
percebe uma mudança futura no mercado e deseja criar novos segmentos para obter vantagem
competitiva a longo prazo, ela deve construir novas competências (e não mobilizar recursos),
uma vez que estas, como já enfatizado, podem demorar décadas para serem concretizadas.
Sintetizando, esta nova abordagem considera os recursos, capacidades e habilidades como
sendo a base de conhecimento produtivo e organizacional e, por sua vez, uma fonte
importante da vantagem competitiva, da heterogeneidade e do retorno (lucratividade) das
organizações, a curto prazo. O objetivo principal da perspectiva baseada em recursos é
explicar a criação, manutenção e renovação da vantagem competitiva em termos de recursos
do lado da organização (recursos internos). Sua contribuição básica é uma análise minuciosa
das condições sob as quais os recursos gerem retornos, ou seja, recursos heterogêneos,
imóveis e difíceis de imitar são ativos estratégicos geradores de retornos para a mesma.

6. O CICLO DA VANTAGEM COMPETITIVA
Estratégia é buscar uma vantagem competitiva sobre os concorrentes e, ao mesmo tempo,
diminuir a erosão das vantagens atuais. Poucas vantagens podem ser sustentadas
indefinidamente, pois o tempo acaba tornando-as obsoletas. Em ambientes de mudanças mais
lentas, as empresas podem sustentar as vantagens durante períodos relativamente longos antes
de serem substituídas, e normalmente essas vantagens são construídas baseadas nas
competências essenciais (DAY, 1999), (PRAHALAD, HAMEL, 1990). Em ambientes
dinâmicos, esse processo de criação e erosão das vantagens se acelera. À medida que as
vantagens se tornam cada vez mais temporárias, os gerentes mudam a ênfase da busca de uma
vantagem estática incontestável para a criação de organizações que buscam novas fontes de
vantagens. Entender as fontes principais de vantagens e como elas são sustentadas ou sofrem
erosão é importante para a formulação de estratégias competitivas.
Conforme Day (1999) existem duas abordagens de obtenção da vantagem competitiva. De
acordo com a abordagem das forças estruturais, as vantagens competitivas resultam de se
assegurar um custo justificável ou da posição de diferenciação nos segmentos mais atraentes
do mercado total. A visão baseada em recursos, ao contrário, relaciona um desempenho
superior a recursos específicos e de difícil reprodução que a empresa possui. Esses recursos,
que são cultivadas ao longo do tempo, não podem ser prontamente negociados e limitam a
capacidade de adaptação às mudanças por parte das empresas (BARNEY, 1996).
A posição e o desempenho da empresa descreve o estado da vantagem, mas sua posição de
superioridade é conseqüência da relativa superioridade nos recursos que a empresa emprega.
Por outro lado, esses recursos são resultados de investimentos passados feitos para melhorar a
posição competitiva. A criação e manutenção das vantagens é, portanto, um ciclo contínuo. A
posição de superioridade competitiva e as recompensas resultantes de participação de
mercado de lucros estão continuamente sujeitas à erosão causada pelos movimentos
competitivos e mudanças no mercado. Nesse ciclo dinâmico, a estratégia tem dois propósitos:


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Colocar barreiras no caminho dos concorrentes para proteger as vantagens atuais e investir em
novos ativos e capacidades para inibir a imitação e criar novos mercados. Esse processo de
renovação pode ser conseguido da seguinte forma (DAY, 1999): (1) desenvolvendo novos
ativos; (2) melhoria das capacidades existentes através da melhoria contínua ou da
reconfiguração radial dos processos atuais; (3) aquisição dos recursos alternativos que
ameaçam a posição atual da empresa; (4) investimentos para entender os recursos para novas
arenas competitivas. A criação das vantagens e sua sustentação, portanto, são processos
interativos de longo prazo, que exigem investimentos contínuos, além da energia e capacidade
de previsão da gerência. Para sustentar e renovar as vantagens em ambientes dinâmicos, os
gerentes precisam entender como as vantagens são obtidas e como sofrem erosão.
       Existem diferenças na velocidade da erosão das vantagens e estas se refletem em três
categorias de ciclos competitivos:
    − Ciclo lento: essas empresas têm vantagens altamente duradouras, baseadas em
       competências peculiares, firmemente garantidas dentro da organização.
    − Ciclo padrão: as empresas geralmente enfrentam grande concorrência de algumas
       empresas que perseguem os mesmo mercados.
    − Ciclo rápido: essas organizações são encontradas em mercados com produtos de ciclos
       de vida curtos e rápida compreensão da margem de lucro.

Neste último caso, as organizações situadas em ambientes dinâmicos não detêm de tempo
suficiente para desenvolver uma estratégia baseada em competências, uma vez que estas para
serem desenvolvidas podem levar anos. Portanto, essas organizações, quando necessitam de
estratégias imediatas, somente mobilizam de forma estratégica as competências e os recursos
já existentes, para que assim suas respostas sejam rápidas e eficientes.

7. ESTRATÉGIA COMPETITIVA
Segundo Porter (1980), a identificação de várias estratégias e vantagens competitivas pode
permitir com sucesso a implementação de novas oportunidades de negócio. Essas estratégias
incluem: (1) oferecer ao consumidor superioridade através de uma diferenciação de produtos,
e/ ou (2) operar com baixos custos. Possíveis resultados como satisfação dos consumidores
podem existir tanto através de baixos preços e/ ou qualidade do produto.
A essência da formulação de estratégia consiste em enfrentar a competição com base na
vantagem competitiva. No entanto, não é fácil encarar esta última de forma muito estreita e
com excesso de pessimismo. Na luta pela fatia do mercado, a competição não só se manifesta
na figura dos outros participantes. Ao contrário, os clientes, as forças governamentais, os
fornecedores, os entrantes em potencial e os produtos substitutos são concorrentes ativos
dependendo do setor. Existem, segundo PORTER (1999), cinco forças competitivas: novos
entrantes, produtos ou serviços substitutos, poder de negociação dos clientes, poder de
negociação dos fornecedores e os próprios concorrentes. De acordo com essas forças e
dependendo de cada setor que a emprese se encontra, o estrategista formula a estratégia da
organização. Por exemplo, mesmo uma empresa com forte posição em um setor, não
ameaçado por entrantes em potencial, seus retornos (lucros) diminuirão se defronte com um
produto substituto superior ou de custo inferior. Nesta situação, enfrentar o produto substituto
se transforma prioridade estratégica número um da organização, focando todas ou quase todas
sua competências e recursos nesse ponto crucial.
O estrategista é capaz de desenvolver um plano de ação que inclui (PORTER, 1999): (1) o
posicionamento da empresa, de modo que suas competências proporcionem a melhor defesa
contra as forças competitivas; e/ ou (2) a influenciação no equilíbrio das forças, através de


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manobras estratégicas, melhorando dessa forma a posição da organização; e/ ou (3) a
antecipação de mudanças nas reações às forças competitivas, na esperança de explorá-las de
modo favorável.
O lema da estratégia competitiva é ser diferente. Significa escolher, de forma deliberada, um
conjunto diferente de atividades para proporcionar um mix de valores. Significa escolher
poucas mas sólidas competências para realizar essas atividades da melhor maneira possível, a
fim de dar um passo a frente na competição. Mais do que somente satisfazer as necessidades
do cliente, é necessário também pensar em uma técnica de logística conhecida como cross-
docking (STALK; EVANS; SHULMAN, 1992), reduzindo o tempo desde o preparo até a
entrega do produto.
Vantagens estratégicas construídas em capacidades são mais fáceis de serem transferidas
geograficamente do que as vantagens estratégicas tradicionais (STALK; EVANS;
SHULMAN, 1992). E vantagens competitivas baseadas no tempo também são de grande
importância para a organização. A organização pode tomar como estratégia o menor tempo de
inovação, de descontos e distribuição entre outros. Isso faz com que a organização agilize o
processo e ataque as outras organizações concorrentes. Esses autores afirmam que em
essência a competição baseada em tempo foca em ganhar vantagem sendo mais rápidos que
os concorrentes, mais rápidos em respostas as mudanças do mercado, mais rápidos no
desenvolvimento de novos produtos e na introdução deles no mercado, mais rápidos em
integrar novas tecnologias com os produtos, e mais rápido na distribuição e serviços para
atender as necessidades do consumidor.     Sintetizando, a competição baseada no tempo
pode ser o mesmo que estratégia focada no consumidor. Companhias que usam essa
estratégia, como por exemplo as companhias japonesas de automobilismo, concentram em
encurtar o tempo requerido para fazer e distribuir seus produtos e cortar o tempo necessário
para desenvolver e introduzir novos produtos. Fazendo isso, essas companhias podem
oferecer uma variedade de produtos, cobrindo mais segmentos, e conseqüentemente melhorar
rapidamente a sofisticação tecnológica com seus produtos. Além disso, para a companhia
obter uma estratégia mais ampla deve-se também focar em qualidade, custo e flexibilidade.

8. DISCUSSÕES E CONCLUSÕES
A identificação de diferentes níveis de competência é útil para uma profunda compreensão da
fundamentação teórica das competições baseadas em competências. Sugeriu-se que as
organizações podem ter competências em diferentes níveis e que possuem diferentes impactos
na competitividade em diferentes tempos. Os trabalhos de Prahalad e Hamel (1990) se
mostraram muito eficientes na identificação das competências essenciais, sugerindo três
perguntas básicas.
A Teoria da Competição Baseada em Competências, (PRAHALAD; HAMEL, 1990), deve
ser gerenciada como um sistema e os objetivos estratégicos gerenciados holisticamente. No
curto prazo, as alianças competitivas ou a mobilização de recursos podem tornar-se um meio
para obter oportunidades de mercado e vantagem competitiva. Entretanto, no longo prazo, a
sustentação da vantagem competitiva depende de uma capacidade superior para identificar,
construir e alavancar novas competências. Desse modo, a aprendizagem se torna a variável
estratégica crítica para o sucesso competitivo.
De um modo os fundamentos da Teoria Baseada em Recursos indicam que o desempenho das
organizações depende da dotação de recursos construídos (através da acumulação interna) ou,
se não, adquiridos (no mercado de fatores específicos) e que a criação, manutenção e
renovação da vantagem competitiva das firmas estão, em grande parte, associadas aos
recursos (atributos) internos. Pode-se concluir, portanto, que a fonte básica e os fatores para a


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vantagem competitiva e conseqüentemente estratégia competitiva, são as competências,
recursos e capacidades. As competências são utilizadas para estratégias de longo prazo, pois é
quando se tem tempo disponível para construí-las. Já os recursos e capacidades são utilizados
quando a organização está inserida em ambientes dinâmicos e não dispõe de muito tempo.

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YEPES, J. A. L.; GARRE, M. F. M. Gestión de los Recursos y Capacidades de la Empresa: la Clave de la
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ZARAFIAN, P. Objectif Competénce. Paris: Liaisons, 1999.




ENEGEP 2004                                   ABEPRO                                                   3990

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  • 1. XXIV Encontro Nac. de Eng. de Produção - Florianópolis, SC, Brasil, 03 a 05 de nov de 2004 Competitividade Baseada em Competências e Recursos Eduardo Damião da Silva (PUC PR) eduardo.damiao@pucpr.br Paola Albiero Gómez (PUC PR) paagomez@hotmail.com Alceu Souza (PUC PR) alceusouza@bsi.net.br Resumo - Este artigo apresenta o modelo de estruturas organizacionais baseado em competências, mostrando seu conceito, através de um framework, e relacionando-o com os diferentes níveis de competências e recursos. Este framework ajuda a compreender como os diferentes níveis de competências interagem e afetam a capacidade competitiva da empresa e sua respectiva performance. Além disso, destacam-se a importância dos recursos e capacidades, focado na visão baseada em recursos da firma, e da formulação da estratégia de marketing para a organização. Palavras-chave: Estratégias competitivas, Gestão de competências, Gestão de recursos 1. INTRODUÇÃO Este artigo analisa as várias contribuições, à teoria e à prática, da competição baseada em recursos e competências com seus diferentes níveis relacionados com a organização. É introduzido um framework, baseado nas competências centrais, para fazer a distinção entre a análise estática e a dinâmica das competências. O objetivo central do artigo é responder quais são os fatores e/ou atributos que a organização deve possuir para construir e garantir sua vantagem competitiva. Além disso, destaca-se a importância da metodologia que implementa a competência como estratégia competitiva. Destaca-se também a relevância da função do líder e do conceito de marketing (estratégia de marketing) necessário para a organização formular estratégias dinâmicas, assegurando a habilidade de criar novas e temporárias vantagens competitivas e ainda atender a constantes mudanças e necessidades de produtos inovadores. Logo após, é detalhada a função dos recursos e capacidades, as diferenças entre vantagem competitiva posicional e vantagem competitiva sustentável e o ciclo contínuo da vantagem competitiva que irão formular e implementar a estratégia competitiva. O presente artigo está divido em quatro segmentos. No primeiro segmento descreve-se a metodologia e a pergunta de pesquisa; no segundo há um relato sobre as diversas interpretações de competências, seus níveis hierárquicos e análises; na terceiro descreve-se como identificar as competências, como se dá o processo de seu desenvolvimento, como elas são lideradas e, por último, destacam-se os conceitos de recursos e capacidades, o ciclo de vantagem competitiva, os benefícios da gestão de competência e de recursos como vantagem competitiva. 2. METODOLOGIA E DEFINIÇÃO DO PROBLEMA A metodologia utilizada é a da pesquisa bibliográfica que permite construir (ou reconstruir) um modelo implícito nos diferentes construtos, criando um arcabouço teórico capaz de sustentar ou subsidiar as questões de pesquisa (BERTO e NAKANO, 1998). A metodologia teórico-conceitual também é presenciada uma vez que é resultado de reflexões a partir de um fenômeno observado ou relatado pela literatura (revisão bibliográfica), ou seja, compilação de idéias e opiniões de diferentes autores. A questão central identificada e que este texto tem por ENEGEP 2004 ABEPRO 3983
  • 2. XXIV Encontro Nac. de Eng. de Produção - Florianópolis, SC, Brasil, 03 a 05 de nov de 2004 objetivo responder é: quais fatores e/ou atributos as organizações devem possuir para construir e garantir sua vantagem competitiva? 3. O CONCEITO DE COMPETÊNCIA Grande parte da literatura já existente aborda a construção de competências. Cada autor coloca seu argumento principal e seu objetivo de investigação. Desta forma, certos estudos têm interesse na aquisição de competências através de mecanismos internos de aprendizagem individual e coletiva (SENGE, 1990). Segundo ZARAFIAN (1999) a competência é a inteligência prática para situações que se apóiam sobre os conhecimentos adquiridos e os transformam com tanto mais força, quanto mais aumenta a complexidade das situações. De uma outra forma, outros enfatizam a importância de diferentes ferramentas estratégicas como alianças, licenças ou aquisição de companhias (PRAHALAD; HAMEL, 1989). A aquisição de competências por mecanismos externos supre a flexibilidade que soluções internas não podem suprir facilmente. Conforme a exigência do mercado muda e novas competências e recursos são necessários, novas sociedades são adquiridas e, portanto, as velhas são abandonadas. Outros estudos recomendam a centralização em competências essenciais (PRAHALAD; HAMEL, 1990), enquanto outros sugerem que uma rede de conhecimento é necessária para a constituição da competência da organização. A construção das competências é um processo em que a companhia desenvolve uma configuração estratégica procurando atingir e exercitar os objetivos estratégicos. Esse processo compreende, de um lado, o objetivo estratégico presente, e de outro lado, produzindo outputs, o objetivo estratégico futuro e suas perspectivas. Essa construção de competências se dá através da combinação mais efetiva dos fatores tangíveis e intangíveis. Prahalad e Hamel (1990) definem competências essências como “um aprendizado coletivo na organização, especialmente em como coordenar diversos tipos de produção e integrar múltiplas tecnologias”. Os autores enfatizam a competência como um resultado de um processo cumulativo de conhecimento e essencialmente dependente da tecnologia. Outros autores definem competência como a habilidade de coordenar taxas de forma a ajudar a organização a atingir os objetivos. Competência é um conjunto de tecnologias e habilidades, isto é, a capacidade de organizar, manusear e coordenar as atividades da organização. Existem ainda quatro diferentes interpretações de competências que foram identificadas (BAKER et al., 1997); (ZARAFIAN, 1990): − Competência estratégica: o chamado “ajuste-fino” entre estratégia de negócios da organização e ambiente competitivo externo. (Entretanto, para os autores o termo mais adequado e utilizado por eles é congruência.); − Competência distinta: é uma série de tecnologias e técnicas essenciais que provém da vantagem competitiva e pode existir em múltiplos níveis na organização. É como se fosse uma competência única de uma ou poucas organizações. − Competência funcional: é o “ajuste-fino” entre prioridades competitivas da organização e seus pontos fortes dentro de uma função em particular como manufatura ou marketing, por exemplo. − Competência individual: é uma série de técnicas e conhecimentos de uma necessidade individual para realizar efetivamente um trabalho. Algumas empresas construíram seus impérios baseados somente em poucas competências. Exemplos disso são companhias como a Honda, Canon, Sony e 3M (veja abaixo o exemplo na Figura 1). Mesmo competindo em grandes e diversificados mercados, com poucas, porém sólidas, competências atingiram o mercado global (LAZARUS, 2002). ENEGEP 2004 ABEPRO 3984
  • 3. XXIV Encontro Nac. de Eng. de Produção - Florianópolis, SC, Brasil, 03 a 05 de nov de 2004 Exemplos de Competências Essenciais Companhia Competência Essencial Honda Máquinas, Motores e Trens Elétricos Canon Mecanismos de Precisão, Ótica e Microeletrônicos Sony Miniaturização e Tecnologia de Vídeo 3M Abrasivos e Adesivos Figura 1 – Exemplo de Competências Essenciais nas Empresas Fonte: LAZARUS (2001) Essas competências podem ser facilmente percebidas dentro dessas companhias, porém são extremamente complicadas de serem imitadas, uma vez que são constituídas por uma rede complexa de técnicas e conhecimentos. Além disso, elas favorecem a comunicação dentro da organização, envolvendo um profundo e árduo trabalho dos respectivos gerentes. 4. IDENTIFICANDO AS COMPETÊNCIAS ESSENCIAIS Nos anos 80, os empresários eram analisados pela sua capacidade de reestruturar sua organização, porém na década passada, os mesmos eram analisados sob outro ponto de vista: pela capacidade de identificar, analisar e explorar seu núcleo de competências. A tarefa agora é criar produtos nunca antes imaginados que satisfaçam as necessidades dos novos e exigentes consumidores (PRAHALAD; HAMEL, 1990). Para isso, a companhia necessita de mudanças drásticas na administração, concentrando seus esforços em identificar as competências essenciais, enfatizando sua competitividade perante os concorrentes. Essa competitividade, em curto prazo, é conseqüente da razão preço-qualidade. Porém, em longo prazo, ela é conseqüente da redução de custos mais habilidosa do que os concorrentes. Segundo Prahalad e Hamel (1990), ao menos três testes podem ser aplicados para identificar as competências essenciais de uma organização, quais sejam: − As competências essenciais promovem acesso potencial a uma variedade de mercados? − Fazem uma significativa contribuição ao benefício percebido de clientes no produto final? − São difíceis de serem imitadas, principalmente o modelo de coordenação e aprendizado ? Ainda, segundo esses mesmos autores, para definir as competências essenciais é preciso ter a visão ou criar o futuro (e não fazer uma previsão), fazendo um planejamento do que pode vir a acontecer e de quais serão as conseqüências dessas mudanças para a organização e sugerem uma arquitetura estratégica ou seja, um mapa do futuro, identificando quais as competências que devem ser construídas e suas respectivas tecnologias. Esse mapa do futuro ajuda o gerente a entender a lógica de como funcionam as competências. Para isso, a companhia deve responder perguntas como controle sobre competências e competitividade estabelecida. Essas respostas fazem com que a organização abra os olhos sobre as competências e as formule da maneira mais correta, prevenindo assim que outras companhias liderem o mercado. O grande desafio é criar o futuro e não pré-definir. Os gerentes precisam entender as condições que poderão acontecer, e usando a imaginação criar contextos plausíveis com o que se deseja atingir (PRAHALAD; HAMEL, 1990). Porém, isso se torna cada vez mais difícil, ENEGEP 2004 ABEPRO 3985
  • 4. XXIV Encontro Nac. de Eng. de Produção - Florianópolis, SC, Brasil, 03 a 05 de nov de 2004 pois os gerentes não enxergam as mudanças que o mercado vem sofrendo e as mudanças na natureza da competição e, conseqüentemente, não conseguem identificar as oportunidades que se destacam. É fato que os que hoje dominam o mercado são aqueles que os criaram antigamente.. 5. RECUROS E CAPACIDADES Depois de identificado as competências essenciais, é necessário definir o conceito de recursos e capacidades. De um ponto de vista mais amplo, os recursos de uma empresa podem ser definidos como todos os ativos, capacidades, processos organizacionais, atributos empresariais, informações, conhecimentos controlados pela empresa para conceber e implementar estratégias que aperfeiçoem sua eficiência e eficácia (YEPES e GARRE, 1999b). Por recursos entende-se os ativos tangíveis e intangíveis que são vinculados de forma semi- permanente à empresa (WERNERFELT, 1984). Outros autores definem de maneira mais pontual, como sendo os elementos que participam do processo produtivo, tais como máquinas e equipamentos, habilidades dos trabalhadores, marcas e patentes, etc. Já BARNEY (1996) considera como recursos, todos os ativos, as competências, o processo organizacional, os atributos e as informações da empresa, o conhecimento, enfim ampla gama de ativos que pertencem à empresa. Craig e Grant (1999), Barney (1996) e Barney e Hesterly (1996) distinguem seis categorias atendendo a natureza do recurso: − Recursos financeiros: reservas de caixa, ativos financeiros de curto prazo, capacidade de empréstimos e fluxo de caixa; − Recursos físicos: fábrica e equipamentos (escala, localização, época, tecnologia, flexibilidade) e recursos de matérias-primas; − Recursos humanos: experiência e qualificação das diferentes categorias de empregados, adaptabilidade e fidelidade dos empregados, qualificação e experiência de alta administração; − Tecnologia: tecnologia própria (na forma de patentes, direitos autorais e segredos comerciais) e recursos tecnológicos (na forma de instalação e pessoal de P&D); − Reputação: marcas dos produtos e seus respectivos valores da marca, marcas registradas e reputação da empresa; − Relacionamento: com clientes, fornecedores, distribuidores e autoridades governamentais. Os recursos nunca estão sozinhos e sempre atuam conjuntamente com as capacidades da empresa. A diferença entre recursos e capacidades, é que esta segunda pode ser definida independente de seu uso (PENROSE, 1962 apud YEPES e GARRE, 1999b), e implicam uma função ou atividade, embutidas nas rotinas e práticas organizacionais (DAY, 1999). As capacidades são consideradas como um fluxo e têm caráter dinâmico. As capacidades estão baseadas no conhecimento organizacional, a maioria das vezes não codificado, que se armazena na memória organizativa. As competências organizacionais são criadas a partir do uso estratégico das capacidades e recursos organizacionais. Exemplos de recursos organizacionais incluem humanos, de finanças, trademarks, copyrights, plantas e locações. Penrose (1997) apud Leite e Porsse (2003) analisaram os processos de crescimento das firmas como caracterizados pelas oportunidades externas e internas, as quais são decorrentes do conjunto de recursos das firmas, apresentando, assim, uma perspectiva diferente da economia neoclássica. Também enfatizaram os limites e as possibilidades dos recursos organizacionais, destacando que a procura constante das empresas pela maximização do emprego dos recursos ENEGEP 2004 ABEPRO 3986
  • 5. XXIV Encontro Nac. de Eng. de Produção - Florianópolis, SC, Brasil, 03 a 05 de nov de 2004 causa os desequilíbrios das organizações e dos mercados, sendo que dessas imperfeições do mercado as empresas extraem suas vantagens competitivas. Assim, quando as empresas criam produtos únicos, elas desenvolvem capacidades únicas, habilidades gerenciais, ou ainda recursos. Estas capacidades estabelecem, necessariamente, limites para a expansão da empresa em determinado período de tempo. Segundo Barney (1996) a diferença de desempenho entre as empresas, ou melhor, a obtenção da vantagem competitiva, é explicada pela heterogeneidade dos recursos. Isso significa que a fonte básica para a vantagem competitiva são os recursos e competências desenvolvidos e controlados pelas organizações. Em outros termos, as imperfeições do mercado de recursos possibilitam a obtenção de desempenho acima da média do mercado. Quando a organização percebe uma mudança futura no mercado e deseja criar novos segmentos para obter vantagem competitiva a longo prazo, ela deve construir novas competências (e não mobilizar recursos), uma vez que estas, como já enfatizado, podem demorar décadas para serem concretizadas. Sintetizando, esta nova abordagem considera os recursos, capacidades e habilidades como sendo a base de conhecimento produtivo e organizacional e, por sua vez, uma fonte importante da vantagem competitiva, da heterogeneidade e do retorno (lucratividade) das organizações, a curto prazo. O objetivo principal da perspectiva baseada em recursos é explicar a criação, manutenção e renovação da vantagem competitiva em termos de recursos do lado da organização (recursos internos). Sua contribuição básica é uma análise minuciosa das condições sob as quais os recursos gerem retornos, ou seja, recursos heterogêneos, imóveis e difíceis de imitar são ativos estratégicos geradores de retornos para a mesma. 6. O CICLO DA VANTAGEM COMPETITIVA Estratégia é buscar uma vantagem competitiva sobre os concorrentes e, ao mesmo tempo, diminuir a erosão das vantagens atuais. Poucas vantagens podem ser sustentadas indefinidamente, pois o tempo acaba tornando-as obsoletas. Em ambientes de mudanças mais lentas, as empresas podem sustentar as vantagens durante períodos relativamente longos antes de serem substituídas, e normalmente essas vantagens são construídas baseadas nas competências essenciais (DAY, 1999), (PRAHALAD, HAMEL, 1990). Em ambientes dinâmicos, esse processo de criação e erosão das vantagens se acelera. À medida que as vantagens se tornam cada vez mais temporárias, os gerentes mudam a ênfase da busca de uma vantagem estática incontestável para a criação de organizações que buscam novas fontes de vantagens. Entender as fontes principais de vantagens e como elas são sustentadas ou sofrem erosão é importante para a formulação de estratégias competitivas. Conforme Day (1999) existem duas abordagens de obtenção da vantagem competitiva. De acordo com a abordagem das forças estruturais, as vantagens competitivas resultam de se assegurar um custo justificável ou da posição de diferenciação nos segmentos mais atraentes do mercado total. A visão baseada em recursos, ao contrário, relaciona um desempenho superior a recursos específicos e de difícil reprodução que a empresa possui. Esses recursos, que são cultivadas ao longo do tempo, não podem ser prontamente negociados e limitam a capacidade de adaptação às mudanças por parte das empresas (BARNEY, 1996). A posição e o desempenho da empresa descreve o estado da vantagem, mas sua posição de superioridade é conseqüência da relativa superioridade nos recursos que a empresa emprega. Por outro lado, esses recursos são resultados de investimentos passados feitos para melhorar a posição competitiva. A criação e manutenção das vantagens é, portanto, um ciclo contínuo. A posição de superioridade competitiva e as recompensas resultantes de participação de mercado de lucros estão continuamente sujeitas à erosão causada pelos movimentos competitivos e mudanças no mercado. Nesse ciclo dinâmico, a estratégia tem dois propósitos: ENEGEP 2004 ABEPRO 3987
  • 6. XXIV Encontro Nac. de Eng. de Produção - Florianópolis, SC, Brasil, 03 a 05 de nov de 2004 Colocar barreiras no caminho dos concorrentes para proteger as vantagens atuais e investir em novos ativos e capacidades para inibir a imitação e criar novos mercados. Esse processo de renovação pode ser conseguido da seguinte forma (DAY, 1999): (1) desenvolvendo novos ativos; (2) melhoria das capacidades existentes através da melhoria contínua ou da reconfiguração radial dos processos atuais; (3) aquisição dos recursos alternativos que ameaçam a posição atual da empresa; (4) investimentos para entender os recursos para novas arenas competitivas. A criação das vantagens e sua sustentação, portanto, são processos interativos de longo prazo, que exigem investimentos contínuos, além da energia e capacidade de previsão da gerência. Para sustentar e renovar as vantagens em ambientes dinâmicos, os gerentes precisam entender como as vantagens são obtidas e como sofrem erosão. Existem diferenças na velocidade da erosão das vantagens e estas se refletem em três categorias de ciclos competitivos: − Ciclo lento: essas empresas têm vantagens altamente duradouras, baseadas em competências peculiares, firmemente garantidas dentro da organização. − Ciclo padrão: as empresas geralmente enfrentam grande concorrência de algumas empresas que perseguem os mesmo mercados. − Ciclo rápido: essas organizações são encontradas em mercados com produtos de ciclos de vida curtos e rápida compreensão da margem de lucro. Neste último caso, as organizações situadas em ambientes dinâmicos não detêm de tempo suficiente para desenvolver uma estratégia baseada em competências, uma vez que estas para serem desenvolvidas podem levar anos. Portanto, essas organizações, quando necessitam de estratégias imediatas, somente mobilizam de forma estratégica as competências e os recursos já existentes, para que assim suas respostas sejam rápidas e eficientes. 7. ESTRATÉGIA COMPETITIVA Segundo Porter (1980), a identificação de várias estratégias e vantagens competitivas pode permitir com sucesso a implementação de novas oportunidades de negócio. Essas estratégias incluem: (1) oferecer ao consumidor superioridade através de uma diferenciação de produtos, e/ ou (2) operar com baixos custos. Possíveis resultados como satisfação dos consumidores podem existir tanto através de baixos preços e/ ou qualidade do produto. A essência da formulação de estratégia consiste em enfrentar a competição com base na vantagem competitiva. No entanto, não é fácil encarar esta última de forma muito estreita e com excesso de pessimismo. Na luta pela fatia do mercado, a competição não só se manifesta na figura dos outros participantes. Ao contrário, os clientes, as forças governamentais, os fornecedores, os entrantes em potencial e os produtos substitutos são concorrentes ativos dependendo do setor. Existem, segundo PORTER (1999), cinco forças competitivas: novos entrantes, produtos ou serviços substitutos, poder de negociação dos clientes, poder de negociação dos fornecedores e os próprios concorrentes. De acordo com essas forças e dependendo de cada setor que a emprese se encontra, o estrategista formula a estratégia da organização. Por exemplo, mesmo uma empresa com forte posição em um setor, não ameaçado por entrantes em potencial, seus retornos (lucros) diminuirão se defronte com um produto substituto superior ou de custo inferior. Nesta situação, enfrentar o produto substituto se transforma prioridade estratégica número um da organização, focando todas ou quase todas sua competências e recursos nesse ponto crucial. O estrategista é capaz de desenvolver um plano de ação que inclui (PORTER, 1999): (1) o posicionamento da empresa, de modo que suas competências proporcionem a melhor defesa contra as forças competitivas; e/ ou (2) a influenciação no equilíbrio das forças, através de ENEGEP 2004 ABEPRO 3988
  • 7. XXIV Encontro Nac. de Eng. de Produção - Florianópolis, SC, Brasil, 03 a 05 de nov de 2004 manobras estratégicas, melhorando dessa forma a posição da organização; e/ ou (3) a antecipação de mudanças nas reações às forças competitivas, na esperança de explorá-las de modo favorável. O lema da estratégia competitiva é ser diferente. Significa escolher, de forma deliberada, um conjunto diferente de atividades para proporcionar um mix de valores. Significa escolher poucas mas sólidas competências para realizar essas atividades da melhor maneira possível, a fim de dar um passo a frente na competição. Mais do que somente satisfazer as necessidades do cliente, é necessário também pensar em uma técnica de logística conhecida como cross- docking (STALK; EVANS; SHULMAN, 1992), reduzindo o tempo desde o preparo até a entrega do produto. Vantagens estratégicas construídas em capacidades são mais fáceis de serem transferidas geograficamente do que as vantagens estratégicas tradicionais (STALK; EVANS; SHULMAN, 1992). E vantagens competitivas baseadas no tempo também são de grande importância para a organização. A organização pode tomar como estratégia o menor tempo de inovação, de descontos e distribuição entre outros. Isso faz com que a organização agilize o processo e ataque as outras organizações concorrentes. Esses autores afirmam que em essência a competição baseada em tempo foca em ganhar vantagem sendo mais rápidos que os concorrentes, mais rápidos em respostas as mudanças do mercado, mais rápidos no desenvolvimento de novos produtos e na introdução deles no mercado, mais rápidos em integrar novas tecnologias com os produtos, e mais rápido na distribuição e serviços para atender as necessidades do consumidor. Sintetizando, a competição baseada no tempo pode ser o mesmo que estratégia focada no consumidor. Companhias que usam essa estratégia, como por exemplo as companhias japonesas de automobilismo, concentram em encurtar o tempo requerido para fazer e distribuir seus produtos e cortar o tempo necessário para desenvolver e introduzir novos produtos. Fazendo isso, essas companhias podem oferecer uma variedade de produtos, cobrindo mais segmentos, e conseqüentemente melhorar rapidamente a sofisticação tecnológica com seus produtos. Além disso, para a companhia obter uma estratégia mais ampla deve-se também focar em qualidade, custo e flexibilidade. 8. DISCUSSÕES E CONCLUSÕES A identificação de diferentes níveis de competência é útil para uma profunda compreensão da fundamentação teórica das competições baseadas em competências. Sugeriu-se que as organizações podem ter competências em diferentes níveis e que possuem diferentes impactos na competitividade em diferentes tempos. Os trabalhos de Prahalad e Hamel (1990) se mostraram muito eficientes na identificação das competências essenciais, sugerindo três perguntas básicas. A Teoria da Competição Baseada em Competências, (PRAHALAD; HAMEL, 1990), deve ser gerenciada como um sistema e os objetivos estratégicos gerenciados holisticamente. No curto prazo, as alianças competitivas ou a mobilização de recursos podem tornar-se um meio para obter oportunidades de mercado e vantagem competitiva. Entretanto, no longo prazo, a sustentação da vantagem competitiva depende de uma capacidade superior para identificar, construir e alavancar novas competências. Desse modo, a aprendizagem se torna a variável estratégica crítica para o sucesso competitivo. De um modo os fundamentos da Teoria Baseada em Recursos indicam que o desempenho das organizações depende da dotação de recursos construídos (através da acumulação interna) ou, se não, adquiridos (no mercado de fatores específicos) e que a criação, manutenção e renovação da vantagem competitiva das firmas estão, em grande parte, associadas aos recursos (atributos) internos. Pode-se concluir, portanto, que a fonte básica e os fatores para a ENEGEP 2004 ABEPRO 3989
  • 8. XXIV Encontro Nac. de Eng. de Produção - Florianópolis, SC, Brasil, 03 a 05 de nov de 2004 vantagem competitiva e conseqüentemente estratégia competitiva, são as competências, recursos e capacidades. As competências são utilizadas para estratégias de longo prazo, pois é quando se tem tempo disponível para construí-las. Já os recursos e capacidades são utilizados quando a organização está inserida em ambientes dinâmicos e não dispõe de muito tempo. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BAKER, J. C.; MAPES, J.; NEW, C. C.; SZWEJCZEWSKI, M. A Hierarchical Model as Business Competence. Integrated Manufacturing Systems, p.265-272, 1997. BARNEY, J. B. Firm Resources and Sustained Competitive Advantage. Journal of Management, n. 17, p. 99 – 110. BARNEY, J. B. Gaining and Sustaining Competitive Advantage. Reading – MA: Adisson Wesley, 1996. BARNEY, J. B.; HESTERLY, W. Organizational Economics: Understanding the Relationship Between Organizations and Economics Analysis. In: CLEGG, S. R.; HARDY, C.; NORD, W. R. Handbook of Organizations Studies. London: Sage Publications, 1996. BERTO, R.; NAKANO, D. Metodologia da pesquisa e a engenharia de produção. In: Encontro Nacional de Engenharia de Produção, 18., Niterói, 1998. Anais... Niterói: UFF/ABEPRO, 1998. CRAIG, J.; GRANT, R. Gerenciamento Estratégico – Recursos, Planejamento, Custo, Eficácia, Metas. São Paulo: Littera Mundi, 1999. DAY, G. S. Manutenção da Vantagem Competitiva: Criação Sustentação das Vantagens em Ambientes Competitivos Dinâmicos. In: DAY, G. S.; REIBSTEIN, D. J. A Dinâmica da Estratégia Competitiva. Rio de Janeiro: Editora Campus, 1999. p.59 – 85. DREJER, A. Illustrating Competence Development. Measuring Business Excellence, p.6-10, 2001. LAZARUS, A. Cultivate Your Core Competencies. The Physician Executive, p.34-38, May/June 2002. ORSSATTO, C. H. A Formulação das Estratégias da Empresa em um Ambiente de Aglomeração Industrial. Florianópolis, 2002. 253 f. Tese (Doutorado em Engenharia de Produção) – Setor de Ciências Exatas, Universidade Federal de Santa Catarina. PORTER, M. Competição: Estratégias Competitivas Essenciais. 5º Edição. Rio de Janeiro: Editora Campus, p. 27-126, 1999. PORTER, M. Competitive Strategy. Free Press, 1980. PRAHALAD, C. K. Emerging Leaders. Executive Excellence, p.3-4, Nov 1999. PRAHALAD, C. K.; HAMEL, G. The Core Competence of the Corporation. Harvard Business Review, p. 3- 15, May/June, 1990. PRAHALAD, C. K.; HAMEL, Gary. Strategic Intent. Harvard Business Review, p.17-30, May/June, 1989. SENGE, P. The Leader’s New Work: Building Leaning Organizations. Sloan Management Review, p. 7-23, 1990. STALK, G. Time- The Next Source as Competitive Advantage. Harvard Business Review, p.41-51, July- August, 1988. STALK, G.; EVANS, P.; SHULMAN, L. Competing on Capabilities: The New Rules of Corporate Strategy. Harvard Business Review, p.57-69, March/April 1992. WERNERFELT, B. A Resource-Based View of the Firm. Strategic Management Journal. 5: 171-180, 1984. YEPES, J. A. L.; GARRE, M. F. M. Gestión de los Recursos y Capacidades de la Empresa: la Clave de la Ventaja Competitiva Sostenible. Información Comercial Española, n. 777, mar/abr 1999b. ZARAFIAN, P. Objectif Competénce. Paris: Liaisons, 1999. ENEGEP 2004 ABEPRO 3990