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XXIV Congresso Brasileiro da Comunicação – Campo Grande /MS – setembro 2001

Teoria da Narrativa, Representações do Feminino e Telenovela
Cláudia Rejane do Carmo
Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Informação
da Universidade Federal do Rio Grande do Sul

Resumo: O texto defende a pertinência da utilização de conceitos da teoria da narrativa como
instrumental teórico no estudo das representações do feminino na telenovela brasileira. Na da
análise da personagem Maria Regina, da novela Suave Veneno, de Aguinaldo Silva, buscamos
aplicar a sintaxe narrativa na descrição da trama fictícia e da configuração da personagem, de
modo a identificarmos a relação mantida entre representações do feminino, política de gênero e
telenovela. A trajetória de Maria Regina, na novela, revela a tentativa de transição, da
personagem feminina, da condição de anti-sujeito para a condição de sujeito na narrativa
ficcional, bem como o desfecho punitivo destinado à figura feminina que rompe com o estatuto
de segundo sexo, de objeto no transcurso narrativo.

Palavras-chave: Teoria da narrativa, representações do feminino, telenovela
A teoria da narrativa, cuja origem pertence aos domínios dos estudos literários, apresenta
possibilidades de aplicação que transcendem o campo da teoria e da crítica literária. A
racionalidade científica imposta pelos modelos operatórios nos quais se sustenta a narratologia,
efetivada através da tarefa de sistematização conceitual e de renovação de estratégias do texto
narrativo - regido pela interação código(s)/mensagem - trata-se de útil instrumento também para a
análise de narrativas não-literárias, como as presentes na ficção televisiva seriada. Especialmente
no que se refere à análise da telenovela sob a ótica dos estudos de gênero, entendemos ser de
grande valia a utilização deste instrumental teórico no desvelamento da forte articulação existente
entre representações do feminino, políticas de gênero e este produto da mídia.
Desde o princípio dos tempos, o ato de representar mostra-se como parte intrínseca do
"moldar a vida", da lente através da qual o ser humano constrói e interpreta o mundo. Decorrente
deste trabalho de substituição do real pela imagem posta, no qual o ser representado é sempre
segundo, mediatizado pelo discurso que o constrói, muitas vezes a realidade da coisa confunde-se
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com a deformação figurada desta realidade (Crampe-Casnabet, 1991). No sentido de desfazer o
baralhamento entre causas e efeitos, no que tange às representações do feminino,

se faz

necessário ter em mente que é do ponto de vista do homem, da palavra masculina presente/incutida também nas instâncias simbólicas do sexo feminino - que se institui, no campo
das representações, um duplo discurso: do homem sobre o homem e do homem sobre a mulher.
Assim, é estabelecida para as duas metades do gênero humano uma maneira distinta de ser
representada. E é neste contexto que cabe à mulher, manifestada na personagem feminina, ocupar
o lugar de objeto nos discursos, cujos conteúdos se encarregam de expor como justas as causas da
sua subordinação.
As representações do feminino na telenovela - objeto de linguagem, lugar de
representação, momento de narração, unidade comunicativa - têm sua constituição calcada em
apreciações de ordem moral e valorativa, em modelos de comportamentos sexuais presos no
espírito da nossa cultura, indubitavelmente, regida pela lógica patriarcal. No "mundo possível"
apresentado na novela, sustentado por meio de estreitos laços mantidos com o "mundo real", a
falsificação das aparências, a seleção dos fragmentos da vida e sua manipulação em série são
instrumentos utilizados na construção de um "sentido de realidade" onde se misturam processos
ideológicos através dos quais é legitimado um fato social - a condição feminina -, transfigurado
na forma de um destino intransponível reservado às mulheres, destino este apresentado como
imposição da "natureza" do seu sexo.
A obra ficcional alimenta-se do mundo real, no qual atua, refletindo-o e interpenetrando-o
e, assim, influenciando idéias. A novela, da mesma forma que a ficção literária, é concebida e
produzida em um contexto cultural e, nessa medida, atende a certas necessidades de
representação do mundo que são articuladas e atreladas aos rituais e símbolos da prática social ou
aos conceitos vigentes sobre o objeto, o dado referencial. Estes padrões encontram-se
sintonizados com toda a lógica patriarcal, atuando na (re)construção de uma política de gênero
que fixa o feminino como uma categoria sexual natural e imutável e não como uma construção
cultural.

Uma vez que o sentido de gênero na ideologia patriarcal não se traduz apenas pela

noção de "diferença" do feminino em relação ao masculino, mas pela noção de divisão e
inferioridade, a polarização dos sexos, tradicionalmente definida pelos termos "cultura" e
"natureza", perpetua uma mitologia que hierarquiza os papéis sexuais e que, em última análise,
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trabalha para assegurar a subordinação da mulher e o controle da sexualidade feminina (Schmidt,
1988).
A telenovela, pertinente ao conjunto de instâncias que contribuem para reproduzir a
hierarquia dos gêneros, introjeta

e mantém acesos paradigmas culturais nos quais ela se apóia,

reproduzindo estereótipos e atitudes em relação à mulher, interligados a normas sociais
conscientes e a concepções simbólicas da cultura. Uma observação mais apurada da trajetória de
personagens femininas, inseridas neste produto da mídia, revela os estreitos laços existentes entre
estratégias artísticas empreendidas na criação e no desenvolvimento da trama fictícia e condutas
de comportamento social convencionalizadas de acordo com a lógica patriarcal que rege a nossa
sociedade e, num aspecto mais amplo, a nossa civilização.
A personagem feminina, ao romper com a condição de objeto na trajetória narrativa - o
"outro" do herói, o ser por ele buscado -, contrariando a expectativa em torno de uma certa "ética
feminina", ingressa na situação de anti-sujeito, fadado a um desfecho punitivo, a fim de que seja
restabelecido, ao final da narrativa, a ordem "natural" das coisas. Enquanto as virtudes femininas
são alicerçadas em valores como obediência, modéstia e humildade, ao herói masculino é
atribuído qualificativos como o espírito livre, a ambição e o orgulho. Neste dualismo que
perpassa séculos de representações, o masculino é a cabeça, a razão; o feminino é o coração, a
sensibilidade.
Fazer emergir, na análise da telenovela, as imbricações entre personagens femininas

e

políticas de gênero requer do analista o ato de empreender uma estratégia metódica de abordagem
do seu objeto de estudo, elucidando, dessa forma, a organização das unidades narrativas
responsáveis pela configuração do todo globalmente coerente que é o texto narrativo. A tipologia
narrativa, aplicada tanto na descrição da trama fictícia quanto na explicitação da constituição
da(s) personagem(ns) de estudo, permite a classificação das situações narrativas que, desde de
que não deslocadas de um enquadramento histórico - desprendendo-se de um enfoque
excessivamente rígido através do qual o texto acabe por ter diluída a sua especificidade -,
evidenciam a dimensão sociocultural do texto ficcional, já que os modelos narrativos se
encontram perspectivados no âmbito dos sistemas de modalização da cultura, já que a lógica
narrativa é parte indissociável da lógica dos códigos comportamentais e ideológicos da cultura à
qual ela pertence. (Reis; Lopes, 1988).
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A sintaxe narrativa e a análise das representações do feminino na telenovela

A fim de realizarmos este tipo de análise, partimos da concepção de narrativa como todo
discurso que nos apresenta uma história imaginária como se fosse real, constituída por uma
pluralidade de personagens, na qual os episódios de vida se entrelaçam num tempo e num espaço
determinados. Encontrada em diversas situações funcionais e contextos

comunicacionais, do

mesmo modo que em suportes expressivos diversos, passando por modalidades mistas verboicônicas, a narrativa expressa, pela ativação das suas categorias dominantes, potencialidades de
representação de vetores histórico-culturais e axiológicos manifestados por seu tempo. A
potencialidade exteriorizadora da narrativa, a sua dimensão cognitiva, aliada à sua progressão
finalística e à sua capacidade demonstrativa, não cessa de se afirmar como modo de
representação orientado para a condição histórica humana, para o seu devir e para a realidade na
qual ela se processa. (Reis; Lopes, 1988)
Na análise de representações do feminino na telenovela brasileira, em recente estudo
realizado1 , reconhecemos no primeiro capítulo da novela Suave Veneno2 a exposição da intriga
encarregada de nortear a progressão ordenada da história, bem como os principais plots da
estrutura narrativa da obra novelesca. Os aspectos ligados à caracterização das personagens
foram expostos já no princípio da obra, de modo a proporcionar ao telespectador um breve
panorama daquilo que o esperava.
Waldomiro (José Wilker), o protagonista da novela, ponto fulcral de toda a história, foi
mostrado como um homem de pouca instrução, oriundo da região nordeste brasileira, alguém que
venceu na vida graças à sua capacidade de fazer o que "o coração manda". Na manhã do dia em
que ele receberá uma homenagem como empresário do ano, dois acontecimentos ocorrem de
modo a apresentar as duas principais tramas da novela: a que envolve Inês (Glória Pires), por
quem Waldomiro - sujeito na narrativa - se envolverá amorosamente, e a que diz respeito à
Maria Regina (Letícia Spiller), que atua na novela na forma de um anti-sujeito, cujo papel
actancial é o de ser sua oponente na disputa pela presidência da empresa familiar, a Marmoreal.
Ao deixar o prédio da empresa, no centro da cidade, Waldomiro intervém numa tentativa
de assalto e recupera a bolsa da vítima, uma mulher - Inês, a responsável pelo plot mistério - que
desaparece do local sem deixar vestígios. Na bolsa recuperada não há nada além de um batom
com a inscrição "Suave Veneno". Na mesma cena, do outro lado da calçada, outra mulher
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misteriosa - Clarice (Patrícia França), a responsável pelo plot vingança - cruza a rua e, de longe,
observa o empresário. Enquanto isso, na Marmoreal, Maria Regina põe em ação a sua primeira
investida na disputa pela presidência da empresa: aproveitando-se da ausência do pai, que foi
visitar a Serra da Vereda - pedreira da qual ele extrai o "granito azul", sua fonte de maior riqueza
-, ela assina um contrato com os "italianos" - principais clientes da Marmoreal -, ampliando a
produção de 200 para 500 toneladas mensais, contrariando explicitamente a ordem paterna.
Em casa, à noite, antes de ir para a festa da qual será o homenageado, Waldomiro recebe
por fax, anonimamente, uma cópia do contrato assinado por Maria Regina. Ao tomar
conhecimento do assunto, indignado, ele convoca suas três filhas - além de Maria Regina, Maria
Antônia (Vanessa Lóes) e Marcia Eduarda (Luana Piovani) - para uma conversa em particular.
Eleonor (Irene Ravache), sua ex-esposa, posiciona-se contra a autoridade paterna, argumentando
que já está na hora de Waldomiro entender que é necessário delegar poderes, de aceitar que a
Marmoreal é uma empresa familiar. É travado, assim, o primeiro embate verbal entre os membros
do principal plot família.
Após a discussão familiar, Waldomiro vai dar uma volta pela cidade, sozinho, dirigindo
um táxi antigo - usado, estrategicamente, para que as pessoas não desconfiem que ele é um
homem de posses. No percurso, ao parar numa sinaleira, a mesma mulher cuja bolsa ele
recuperara no assalto, invade o seu carro e provoca um acidente de trânsito. Ele, ileso, deixa o
local, auxiliado pelo amigo Fortunato (Nelson Xavier) - personagem confidente de Waldomiro que vai à polícia dar conta do ocorrido. M tarde, durante a solenidade em sua homenagem, é
ais
denunciado, publicamente, por Clarice - advogada que testemunhou o fato e que, sem que ele
ainda saiba, é sua filha - por omissão de socorro.
Disposto a arcar com toda a responsabilidade, Waldomiro vai ao hospital no qual a
acidentada foi internada. Lá, a desconhecida revela a ele que, devido ao choque sofrido, somente
consegue lembrar do próprio nome: Inês. Pesaroso pela situação da moça, Waldomiro a leva para
morar com ele - as duas personagens formarão um dos plots de amor -, gerando revolta e
inconformidade por parte de Eleonor, suas três filhas e genros.
Atendendo à necessidade de compor a narrativa com personagens que possuam diferentes
graus de relevo, no Bege Bahia, prédio localizado no bairro carioca Laranjeiras, construído há
vários anos por Waldomiro, habita o núcleo classe média da novela. Nele moram as personagens
secundárias que servem de pano de fundo para o entrecho principal e possibilitam uma maior
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identificação por parte dos telespectadores. Ali moram Fortunato,

sua mulher Geninha (Ana

Rosa) - um dos pontos de equilíbrio da novela -, dona-de-casa prestimosa, e sua filha Adriana,
secretária na Marmoreal - com o desenvolvimento da trama, ela descobre que é filha apenas de
Fortunato, configurando o plot mistério do nascimento; Carlota (Beth Faria), viúva, amiga e
conselheira do prédio, possui uma vida dupla, dividindo-se entre a filantropia e a prostituição plot dupla personalidade; Uálber (Diogo Villela), sua mãe, Maria do Carmo (Eva Todor), e os
seus ambiciosos sobrinhos, Marina (Débora Secco) e Léo (Matheus Rocha) - outro plot família; e
o porteiro Clóvis (Elias Andreatto) , pai de Renildo (Rodrigo Faro), jovem jogador de futebol em
ascensão. Próximo ao Bege Bahia situa-se o bar do "Gato" (Nuno Leal Maia), ponto de encontro
entre as personagens envolvidas em sub-tramas.
Depois de preparados através de diversos episódios, o desenlace resolve as tensões
acumuladas ao longo da novela, encerrando a história e instituindo uma situação de estabilidade.
Por encaminhar o final da obra, o desenlace possui uma grande importância no que se refere à
enunciação do texto, ato que se desenvolve no interior do discurso narrativo. (Reis; Lopes, 1988)
Quando percebe que irá perder boa parte da fortuna para pagar uma multa por ter
mandado instalar softwares piratas na Marmoreal, Maria Regina, que por um curto período
ocupou a presidência da Marmoreal, decide ir atrás dos diamantes de Waldomiro, economia do
empresário roubada pela sua filha Clarice, com a ajuda de Inês - cuja verdadeira identidade é
Lavínia. Inteligente, obtém uma cópia do inquérito da morte de Clarice - a personagem acabou
sendo assassinada por seu próprio capanga - e lendo o documento descobre que antes dela
morrer, ela havia pronunciado Nossa Senhora da Conceição. Maria Regina lembra, então, que
Selma (Léa Garcia), tia de Clarice, estranhou quando a sobrinha lhe pediu para jamais se separar
da imagem da santa colocada na sala de jantar. A partir desta dedução, Maria Regina planeja
entrar na casa em que a falecida morava e se apropriar das pedras. Antes de por em prática o seu
plano, ela recebe a visita de Waldomiro que diz estar disposto a "zerar as coisas entre os dois".
Na troca de acusações, a filha diz ao pai que o ama, mas que jamais será sua subalterna.
Lavínia, através de seu irmão Adelmo (Angelo Antônio), fica sabendo dos planos da filha
de Waldomiro e, com o auxílio do místico Uálber, consegue encontrar, antes dela, os diamantes.
Maria Regina, ao chegar na casa de Clarice para pegar as pedras, dispara tiros contra Lavínia
mas, sem querer, atinge Adelmo, seu motorista e por quem ela é apaixonada. Desesperada, ela
foge com ele, gravemente ferido,

para fora da cidade. Após uma intensa fuga, Maria Regina,
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encurralada, é alcançada pela polícia e, depois de manter, de dentro do carro, uma última
discussão com Waldomiro, acelera o carro em direção ao despenhadeiro à sua frente, tendo ao
lado o corpo de Adelmo, já morto devido ao ferimento a bala.3 As demais personagens, com
exceção de Marcelo Barone - personagem adepto de seitas demoníacas -, alcançam um final feliz.
O epílogo possui uma propensão conclusiva e alude, no final da narrativa, ao destino das
personagens mais destacadas da ação. Apresentado depois do desenlace, o epílogo atua tanto no
plano funcional, articulado com os eventos da intriga, quanto no plano semântico, já que se
revela um espaço privilegiado de insinuações morais e éticas. (Reis; Lopes, 1988)
Na última cena de Suave Veneno, passado um ano, Lavínia ocupa o leito de uma
maternidade com um recém nascido nos braços. Ao lado, Waldomiro, com o filho Adelminho no
colo, comemora o nascimento de mais um "filho macho" - como ele tanto desejava. A cena e a
novela são encerradas com a imagem do casal e dos filhos - congelada na tela -, e, ao fundo, os
seguintes dizeres: "Eles tiveram mais dois filhos. Sim, dois meninos ... e viveram felizes para
sempre."

O lugar do feminino na narrativa de Suave Veneno

O desenvolvimento e a trajetória da personagem Maria Regina, em Suave Veneno,
demonstra, a partir do relacionamento dela mantido com o pai, Waldomiro, um modo de
representar o feminino, passível de ser observado em outras construções culturais: mulher
insubordinada, demonizada em decorrência desta insubordinação; personagem constituída pela
relação filial; mulher de temperamento altivo que, ao final, desiste de lutar e se entrega à loucura
e à morte. A representação do feminino, contida na figura de Maria Regina, refere-se ao trabalho
constante de diferenciação a que homens e mulheres estão submetidos e que os leva a se
masculinizar ou a se feminilizar. É por meio deste trabalho de construção social das estruturas
cognitivas, conforme defende Bourdieu (1999), que são organizados os atos de construção do
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XXIV Congresso Brasileiro da Comunicação – Campo Grande /MS – setembro 2001

mundo e de seus poderes, que certos esquemas de percepção e de disposições são inscritos nos
próprios dominados, tornando-os sensíveis a certas manifestações simbólicas do poder.
A luta de Maria Regina para ocupar o lugar do pai, na presidência da Marmoreal, pode ser
interpretada, simbolicamente, como o esforço do feminino no sentido de suplantar a condição de
objeto que lhe é historicamente destinada. A subalternidade imposta à filha do presidente da
empresa, ratificada no processo punitivo que perfaz a solução dramatúrgica que lhe é atribuída,
denota a estrutura hierárquica, sexualmente conotada, segundo a qual uma mulher não pode ter
autoridade sobre homens, estando a mesma relegada a ocupar funções subordinadas. A ilicitude
dos atos empreendidos pela vilã reforça o seu estatuto de sexo inapto ao exercício do poder,
justificando a lógica do modelo tradicional entre o masculino e o feminino, sob a qual os homens
continuam a dominar o espaço público e a área produtiva - sobretudo as instâncias política e
econômica -, ao passo que às mulheres é destinado, predominantemente, o espaço privado - área
da reprodução -, bem como as extensões deste espaço - os serviços ligados à educação ou aos
serviços sociais - ou, ainda, os universos da produção simbólica - o fazer artístico, o jornalismo,
etc. (Bourdieu, 1999).
A defesa por determinados princípios que constróem simbolicamente a identidade
feminina - a discrição, a submissão, o dever servir, a passividade - está inscrita na punição de
Maria Regina, no insucesso de s investidas na disputa pelo poder. A ausência, na personagem,
uas
de determinada "ética feminina" faz com que ela seja pedagogicamente banida ao término da
novela. O caráter da vilã, associado à sua sexualidade expressiva, configuram-na como partícipe
do modelo do feminino transgressor e do processo punitivo destinado às mulheres que ousam
desafiar as regras da lógica patriarcal - simbolizada, na novela, no poder paterno -, em última
análise, aquelas que não desempenham o papel social de acordo com o estatuto de sexo de
segunda classe.
A personagem Maria Regina, foco de nosso estudo, trata-se de uma personagem redonda
pois ela reveste-se de complexidade suficiente para constituir uma personalidade bem vincada,
sendo uma figura de destaque no universo diegético, estando submetida a uma caracterização
relativamente elaborada. Por outro lado, o modo como ela é configurada, bem como as estratégias
ficcionais aplicadas no seu desenvolvimento na trama, evidenciam percursos figurativos
previsíveis,

constituídos

por

ações,

atitudes

especialmente no que diz respeito ao feminino.

e

aptidões

socioculturalmente

codificadas,
9

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Na personagem Maria Regina, no que tange à sua caracterização e desenvolvimento,
encontramos

isotopias,

traços

semânticos

que

estabelecem

uma

certa

homogeneidade

significativa no que se refere à configuração de personagens femininas. Longe de se restringir à
condição de vilã, Maria Regina - através da sua caracterização, do conjunto de ações que realiza
e das palavras que profere - é a personificação de um tipo de estereótipo simbólico do feminino,
fundado num saber socialmente partilhado, por meio do qual o ato de transgressão feminina vem
carregado de atributos negativos e de um desfecho implacavelmente punitivo.
O esquema narrativo de Suave Veneno, a trajetória de Maria Regina na novela, a sua
frustrada tentativa de deslocar-se da condição de anti-sujeito para a condição de sujeito, reafirma
o estatuto de objeto ao qual está, através do trabalho das estruturas sociais e das estruturas
subjetivas, condicionado o sexo feminino. A configuração e o desenvolvimento da personagem
exemplificam a atribuição de negatividade à personagem feminina que rompe com determinados
padrões de comportamento, historicamente construídos. Se as marcas da agressividade, da
ousadia, da individualidade, da coragem e da ambição servem para dignificar o herói da trama Waldomiro Cerqueira -, o mesmo não acontece quando em questão está a vilã da novela: estes
mesmos atributos, quando atrelados à Maria Regina, aparecem como elementos negativos e
desencadeadores de um processo punitivo na solução dramatúrgica da personagem. Assim, faz-se
perceptível, na novela, a lógica patriarcal fundada na oposição binária que confere ao masculino a
natureza de sujeito e ao feminino a natureza de objeto, conformada na figura de um anti-sujeito.
No plano macroestrutural de Suave Veneno, no qual observamos a representação abstrata
da estrutura global do significado da novela,

parte-se de uma situação inicial estável - o pai,

sujeito masculino, tem a posse do objeto, a presidência da Marmoreal -, até que uma determinada
força vem perturbar - a ação da filha que atua como anti-sujeito -, resultando, daí, um estado de
desequilíbrio - provisoriamente o sujeito masculino perde a posse do objeto para o anti-sujeito
feminino. O desfecho da história vem restabelecer o equilíbrio, restituindo ao sujeito masculino a
posse do objeto e punindo, em contrapartida, o anti-sujeito feminino.

NOTAS

1

Pesquisa realizada a partir da análise da personagem Maria Regina, de Suave Veneno, novela de Aguinaldo Silva,
levada ao ar pela Rede Globo, no período de 19 de janeiro a 17 de setembro de 1999. CARMO, Cláudia Rejane do.
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10

XXIV Congresso Brasileiro da Comunicação – Campo Grande /MS – setembro 2001

A mulher no Horário Nobre da TV: Estudo sobre representações do feminino na telenovela brasileira. Porto
Alegre, 2001. 231 p. Dissertação de Mestrado em Comunicação e Informação. PPGCOM/UFRGS.
2
SUAVE Veneno. Autor: Aguinaldo Silva. Co-autores: Angela Carneiro, Maria Helena Nascimento, Filipe Miguez
e Fernando Rebello. Colaboração: Marília Garcia. Direção Geral: Daniel Filho e Ricardo Waddington. Rede Globo
de Televisão. Levada ao ar de 18 de janeiro a 17 de setembro de 1999, no horário
3
A cena final de Maria Regina, que é encerrada com a imagem congelada do carro sobre o despenhadeiro, reproduz
a cena final do filme Thelma e Louise (1991), de Ridley Scott.

Bibliografia
BOURDIEU, Pierre. A Dominação Masculina. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1999.
CARMO, Cláudia Rejane do. A mulher no Horário Nobre da TV: Estudo sobre
representações do feminino na telenovela brasileira. Porto Alegre, 2001. 231 p.
Dissertação de Mestrado em Comunicação e Informação. PPGCOM/UFRGS.
CRAMPE-CASNABET, Michèle. A Mulher no Pensamento Filosófico do Século XVIII.
In: DUBY, Georges; PERROT, Michelle. História das Mulheres - Do Renascimento à
Idade Moderna. Porto: Edições Afrontamento, 1991, p. 370-407.
REIS, Carlos; LOPES, Ana Cristina M. Lopes. Dicionário de Teoria da Narrativa. São
Paulo: Ática, 1988.
SCHMIDT, Rita Terezinha. Mulher e Literatura. In: MARTINS, Cyro e outros. (Orgs.) Mulher
em Prosa e Verso. Coleção Ensaios, v.37. Porto Alegre: Movimento, 1988, p. 119-145.

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Representações femininas na telenovela

  • 1. INTERCOM – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação 1 XXIV Congresso Brasileiro da Comunicação – Campo Grande /MS – setembro 2001 Teoria da Narrativa, Representações do Feminino e Telenovela Cláudia Rejane do Carmo Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Informação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul Resumo: O texto defende a pertinência da utilização de conceitos da teoria da narrativa como instrumental teórico no estudo das representações do feminino na telenovela brasileira. Na da análise da personagem Maria Regina, da novela Suave Veneno, de Aguinaldo Silva, buscamos aplicar a sintaxe narrativa na descrição da trama fictícia e da configuração da personagem, de modo a identificarmos a relação mantida entre representações do feminino, política de gênero e telenovela. A trajetória de Maria Regina, na novela, revela a tentativa de transição, da personagem feminina, da condição de anti-sujeito para a condição de sujeito na narrativa ficcional, bem como o desfecho punitivo destinado à figura feminina que rompe com o estatuto de segundo sexo, de objeto no transcurso narrativo. Palavras-chave: Teoria da narrativa, representações do feminino, telenovela A teoria da narrativa, cuja origem pertence aos domínios dos estudos literários, apresenta possibilidades de aplicação que transcendem o campo da teoria e da crítica literária. A racionalidade científica imposta pelos modelos operatórios nos quais se sustenta a narratologia, efetivada através da tarefa de sistematização conceitual e de renovação de estratégias do texto narrativo - regido pela interação código(s)/mensagem - trata-se de útil instrumento também para a análise de narrativas não-literárias, como as presentes na ficção televisiva seriada. Especialmente no que se refere à análise da telenovela sob a ótica dos estudos de gênero, entendemos ser de grande valia a utilização deste instrumental teórico no desvelamento da forte articulação existente entre representações do feminino, políticas de gênero e este produto da mídia. Desde o princípio dos tempos, o ato de representar mostra-se como parte intrínseca do "moldar a vida", da lente através da qual o ser humano constrói e interpreta o mundo. Decorrente deste trabalho de substituição do real pela imagem posta, no qual o ser representado é sempre segundo, mediatizado pelo discurso que o constrói, muitas vezes a realidade da coisa confunde-se
  • 2. INTERCOM – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação 2 XXIV Congresso Brasileiro da Comunicação – Campo Grande /MS – setembro 2001 com a deformação figurada desta realidade (Crampe-Casnabet, 1991). No sentido de desfazer o baralhamento entre causas e efeitos, no que tange às representações do feminino, se faz necessário ter em mente que é do ponto de vista do homem, da palavra masculina presente/incutida também nas instâncias simbólicas do sexo feminino - que se institui, no campo das representações, um duplo discurso: do homem sobre o homem e do homem sobre a mulher. Assim, é estabelecida para as duas metades do gênero humano uma maneira distinta de ser representada. E é neste contexto que cabe à mulher, manifestada na personagem feminina, ocupar o lugar de objeto nos discursos, cujos conteúdos se encarregam de expor como justas as causas da sua subordinação. As representações do feminino na telenovela - objeto de linguagem, lugar de representação, momento de narração, unidade comunicativa - têm sua constituição calcada em apreciações de ordem moral e valorativa, em modelos de comportamentos sexuais presos no espírito da nossa cultura, indubitavelmente, regida pela lógica patriarcal. No "mundo possível" apresentado na novela, sustentado por meio de estreitos laços mantidos com o "mundo real", a falsificação das aparências, a seleção dos fragmentos da vida e sua manipulação em série são instrumentos utilizados na construção de um "sentido de realidade" onde se misturam processos ideológicos através dos quais é legitimado um fato social - a condição feminina -, transfigurado na forma de um destino intransponível reservado às mulheres, destino este apresentado como imposição da "natureza" do seu sexo. A obra ficcional alimenta-se do mundo real, no qual atua, refletindo-o e interpenetrando-o e, assim, influenciando idéias. A novela, da mesma forma que a ficção literária, é concebida e produzida em um contexto cultural e, nessa medida, atende a certas necessidades de representação do mundo que são articuladas e atreladas aos rituais e símbolos da prática social ou aos conceitos vigentes sobre o objeto, o dado referencial. Estes padrões encontram-se sintonizados com toda a lógica patriarcal, atuando na (re)construção de uma política de gênero que fixa o feminino como uma categoria sexual natural e imutável e não como uma construção cultural. Uma vez que o sentido de gênero na ideologia patriarcal não se traduz apenas pela noção de "diferença" do feminino em relação ao masculino, mas pela noção de divisão e inferioridade, a polarização dos sexos, tradicionalmente definida pelos termos "cultura" e "natureza", perpetua uma mitologia que hierarquiza os papéis sexuais e que, em última análise,
  • 3. INTERCOM – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação 3 XXIV Congresso Brasileiro da Comunicação – Campo Grande /MS – setembro 2001 trabalha para assegurar a subordinação da mulher e o controle da sexualidade feminina (Schmidt, 1988). A telenovela, pertinente ao conjunto de instâncias que contribuem para reproduzir a hierarquia dos gêneros, introjeta e mantém acesos paradigmas culturais nos quais ela se apóia, reproduzindo estereótipos e atitudes em relação à mulher, interligados a normas sociais conscientes e a concepções simbólicas da cultura. Uma observação mais apurada da trajetória de personagens femininas, inseridas neste produto da mídia, revela os estreitos laços existentes entre estratégias artísticas empreendidas na criação e no desenvolvimento da trama fictícia e condutas de comportamento social convencionalizadas de acordo com a lógica patriarcal que rege a nossa sociedade e, num aspecto mais amplo, a nossa civilização. A personagem feminina, ao romper com a condição de objeto na trajetória narrativa - o "outro" do herói, o ser por ele buscado -, contrariando a expectativa em torno de uma certa "ética feminina", ingressa na situação de anti-sujeito, fadado a um desfecho punitivo, a fim de que seja restabelecido, ao final da narrativa, a ordem "natural" das coisas. Enquanto as virtudes femininas são alicerçadas em valores como obediência, modéstia e humildade, ao herói masculino é atribuído qualificativos como o espírito livre, a ambição e o orgulho. Neste dualismo que perpassa séculos de representações, o masculino é a cabeça, a razão; o feminino é o coração, a sensibilidade. Fazer emergir, na análise da telenovela, as imbricações entre personagens femininas e políticas de gênero requer do analista o ato de empreender uma estratégia metódica de abordagem do seu objeto de estudo, elucidando, dessa forma, a organização das unidades narrativas responsáveis pela configuração do todo globalmente coerente que é o texto narrativo. A tipologia narrativa, aplicada tanto na descrição da trama fictícia quanto na explicitação da constituição da(s) personagem(ns) de estudo, permite a classificação das situações narrativas que, desde de que não deslocadas de um enquadramento histórico - desprendendo-se de um enfoque excessivamente rígido através do qual o texto acabe por ter diluída a sua especificidade -, evidenciam a dimensão sociocultural do texto ficcional, já que os modelos narrativos se encontram perspectivados no âmbito dos sistemas de modalização da cultura, já que a lógica narrativa é parte indissociável da lógica dos códigos comportamentais e ideológicos da cultura à qual ela pertence. (Reis; Lopes, 1988).
  • 4. INTERCOM – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação 4 XXIV Congresso Brasileiro da Comunicação – Campo Grande /MS – setembro 2001 A sintaxe narrativa e a análise das representações do feminino na telenovela A fim de realizarmos este tipo de análise, partimos da concepção de narrativa como todo discurso que nos apresenta uma história imaginária como se fosse real, constituída por uma pluralidade de personagens, na qual os episódios de vida se entrelaçam num tempo e num espaço determinados. Encontrada em diversas situações funcionais e contextos comunicacionais, do mesmo modo que em suportes expressivos diversos, passando por modalidades mistas verboicônicas, a narrativa expressa, pela ativação das suas categorias dominantes, potencialidades de representação de vetores histórico-culturais e axiológicos manifestados por seu tempo. A potencialidade exteriorizadora da narrativa, a sua dimensão cognitiva, aliada à sua progressão finalística e à sua capacidade demonstrativa, não cessa de se afirmar como modo de representação orientado para a condição histórica humana, para o seu devir e para a realidade na qual ela se processa. (Reis; Lopes, 1988) Na análise de representações do feminino na telenovela brasileira, em recente estudo realizado1 , reconhecemos no primeiro capítulo da novela Suave Veneno2 a exposição da intriga encarregada de nortear a progressão ordenada da história, bem como os principais plots da estrutura narrativa da obra novelesca. Os aspectos ligados à caracterização das personagens foram expostos já no princípio da obra, de modo a proporcionar ao telespectador um breve panorama daquilo que o esperava. Waldomiro (José Wilker), o protagonista da novela, ponto fulcral de toda a história, foi mostrado como um homem de pouca instrução, oriundo da região nordeste brasileira, alguém que venceu na vida graças à sua capacidade de fazer o que "o coração manda". Na manhã do dia em que ele receberá uma homenagem como empresário do ano, dois acontecimentos ocorrem de modo a apresentar as duas principais tramas da novela: a que envolve Inês (Glória Pires), por quem Waldomiro - sujeito na narrativa - se envolverá amorosamente, e a que diz respeito à Maria Regina (Letícia Spiller), que atua na novela na forma de um anti-sujeito, cujo papel actancial é o de ser sua oponente na disputa pela presidência da empresa familiar, a Marmoreal. Ao deixar o prédio da empresa, no centro da cidade, Waldomiro intervém numa tentativa de assalto e recupera a bolsa da vítima, uma mulher - Inês, a responsável pelo plot mistério - que desaparece do local sem deixar vestígios. Na bolsa recuperada não há nada além de um batom com a inscrição "Suave Veneno". Na mesma cena, do outro lado da calçada, outra mulher
  • 5. INTERCOM – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação 5 XXIV Congresso Brasileiro da Comunicação – Campo Grande /MS – setembro 2001 misteriosa - Clarice (Patrícia França), a responsável pelo plot vingança - cruza a rua e, de longe, observa o empresário. Enquanto isso, na Marmoreal, Maria Regina põe em ação a sua primeira investida na disputa pela presidência da empresa: aproveitando-se da ausência do pai, que foi visitar a Serra da Vereda - pedreira da qual ele extrai o "granito azul", sua fonte de maior riqueza -, ela assina um contrato com os "italianos" - principais clientes da Marmoreal -, ampliando a produção de 200 para 500 toneladas mensais, contrariando explicitamente a ordem paterna. Em casa, à noite, antes de ir para a festa da qual será o homenageado, Waldomiro recebe por fax, anonimamente, uma cópia do contrato assinado por Maria Regina. Ao tomar conhecimento do assunto, indignado, ele convoca suas três filhas - além de Maria Regina, Maria Antônia (Vanessa Lóes) e Marcia Eduarda (Luana Piovani) - para uma conversa em particular. Eleonor (Irene Ravache), sua ex-esposa, posiciona-se contra a autoridade paterna, argumentando que já está na hora de Waldomiro entender que é necessário delegar poderes, de aceitar que a Marmoreal é uma empresa familiar. É travado, assim, o primeiro embate verbal entre os membros do principal plot família. Após a discussão familiar, Waldomiro vai dar uma volta pela cidade, sozinho, dirigindo um táxi antigo - usado, estrategicamente, para que as pessoas não desconfiem que ele é um homem de posses. No percurso, ao parar numa sinaleira, a mesma mulher cuja bolsa ele recuperara no assalto, invade o seu carro e provoca um acidente de trânsito. Ele, ileso, deixa o local, auxiliado pelo amigo Fortunato (Nelson Xavier) - personagem confidente de Waldomiro que vai à polícia dar conta do ocorrido. M tarde, durante a solenidade em sua homenagem, é ais denunciado, publicamente, por Clarice - advogada que testemunhou o fato e que, sem que ele ainda saiba, é sua filha - por omissão de socorro. Disposto a arcar com toda a responsabilidade, Waldomiro vai ao hospital no qual a acidentada foi internada. Lá, a desconhecida revela a ele que, devido ao choque sofrido, somente consegue lembrar do próprio nome: Inês. Pesaroso pela situação da moça, Waldomiro a leva para morar com ele - as duas personagens formarão um dos plots de amor -, gerando revolta e inconformidade por parte de Eleonor, suas três filhas e genros. Atendendo à necessidade de compor a narrativa com personagens que possuam diferentes graus de relevo, no Bege Bahia, prédio localizado no bairro carioca Laranjeiras, construído há vários anos por Waldomiro, habita o núcleo classe média da novela. Nele moram as personagens secundárias que servem de pano de fundo para o entrecho principal e possibilitam uma maior
  • 6. INTERCOM – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação 6 XXIV Congresso Brasileiro da Comunicação – Campo Grande /MS – setembro 2001 identificação por parte dos telespectadores. Ali moram Fortunato, sua mulher Geninha (Ana Rosa) - um dos pontos de equilíbrio da novela -, dona-de-casa prestimosa, e sua filha Adriana, secretária na Marmoreal - com o desenvolvimento da trama, ela descobre que é filha apenas de Fortunato, configurando o plot mistério do nascimento; Carlota (Beth Faria), viúva, amiga e conselheira do prédio, possui uma vida dupla, dividindo-se entre a filantropia e a prostituição plot dupla personalidade; Uálber (Diogo Villela), sua mãe, Maria do Carmo (Eva Todor), e os seus ambiciosos sobrinhos, Marina (Débora Secco) e Léo (Matheus Rocha) - outro plot família; e o porteiro Clóvis (Elias Andreatto) , pai de Renildo (Rodrigo Faro), jovem jogador de futebol em ascensão. Próximo ao Bege Bahia situa-se o bar do "Gato" (Nuno Leal Maia), ponto de encontro entre as personagens envolvidas em sub-tramas. Depois de preparados através de diversos episódios, o desenlace resolve as tensões acumuladas ao longo da novela, encerrando a história e instituindo uma situação de estabilidade. Por encaminhar o final da obra, o desenlace possui uma grande importância no que se refere à enunciação do texto, ato que se desenvolve no interior do discurso narrativo. (Reis; Lopes, 1988) Quando percebe que irá perder boa parte da fortuna para pagar uma multa por ter mandado instalar softwares piratas na Marmoreal, Maria Regina, que por um curto período ocupou a presidência da Marmoreal, decide ir atrás dos diamantes de Waldomiro, economia do empresário roubada pela sua filha Clarice, com a ajuda de Inês - cuja verdadeira identidade é Lavínia. Inteligente, obtém uma cópia do inquérito da morte de Clarice - a personagem acabou sendo assassinada por seu próprio capanga - e lendo o documento descobre que antes dela morrer, ela havia pronunciado Nossa Senhora da Conceição. Maria Regina lembra, então, que Selma (Léa Garcia), tia de Clarice, estranhou quando a sobrinha lhe pediu para jamais se separar da imagem da santa colocada na sala de jantar. A partir desta dedução, Maria Regina planeja entrar na casa em que a falecida morava e se apropriar das pedras. Antes de por em prática o seu plano, ela recebe a visita de Waldomiro que diz estar disposto a "zerar as coisas entre os dois". Na troca de acusações, a filha diz ao pai que o ama, mas que jamais será sua subalterna. Lavínia, através de seu irmão Adelmo (Angelo Antônio), fica sabendo dos planos da filha de Waldomiro e, com o auxílio do místico Uálber, consegue encontrar, antes dela, os diamantes. Maria Regina, ao chegar na casa de Clarice para pegar as pedras, dispara tiros contra Lavínia mas, sem querer, atinge Adelmo, seu motorista e por quem ela é apaixonada. Desesperada, ela foge com ele, gravemente ferido, para fora da cidade. Após uma intensa fuga, Maria Regina,
  • 7. INTERCOM – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação 7 XXIV Congresso Brasileiro da Comunicação – Campo Grande /MS – setembro 2001 encurralada, é alcançada pela polícia e, depois de manter, de dentro do carro, uma última discussão com Waldomiro, acelera o carro em direção ao despenhadeiro à sua frente, tendo ao lado o corpo de Adelmo, já morto devido ao ferimento a bala.3 As demais personagens, com exceção de Marcelo Barone - personagem adepto de seitas demoníacas -, alcançam um final feliz. O epílogo possui uma propensão conclusiva e alude, no final da narrativa, ao destino das personagens mais destacadas da ação. Apresentado depois do desenlace, o epílogo atua tanto no plano funcional, articulado com os eventos da intriga, quanto no plano semântico, já que se revela um espaço privilegiado de insinuações morais e éticas. (Reis; Lopes, 1988) Na última cena de Suave Veneno, passado um ano, Lavínia ocupa o leito de uma maternidade com um recém nascido nos braços. Ao lado, Waldomiro, com o filho Adelminho no colo, comemora o nascimento de mais um "filho macho" - como ele tanto desejava. A cena e a novela são encerradas com a imagem do casal e dos filhos - congelada na tela -, e, ao fundo, os seguintes dizeres: "Eles tiveram mais dois filhos. Sim, dois meninos ... e viveram felizes para sempre." O lugar do feminino na narrativa de Suave Veneno O desenvolvimento e a trajetória da personagem Maria Regina, em Suave Veneno, demonstra, a partir do relacionamento dela mantido com o pai, Waldomiro, um modo de representar o feminino, passível de ser observado em outras construções culturais: mulher insubordinada, demonizada em decorrência desta insubordinação; personagem constituída pela relação filial; mulher de temperamento altivo que, ao final, desiste de lutar e se entrega à loucura e à morte. A representação do feminino, contida na figura de Maria Regina, refere-se ao trabalho constante de diferenciação a que homens e mulheres estão submetidos e que os leva a se masculinizar ou a se feminilizar. É por meio deste trabalho de construção social das estruturas cognitivas, conforme defende Bourdieu (1999), que são organizados os atos de construção do
  • 8. INTERCOM – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação 8 XXIV Congresso Brasileiro da Comunicação – Campo Grande /MS – setembro 2001 mundo e de seus poderes, que certos esquemas de percepção e de disposições são inscritos nos próprios dominados, tornando-os sensíveis a certas manifestações simbólicas do poder. A luta de Maria Regina para ocupar o lugar do pai, na presidência da Marmoreal, pode ser interpretada, simbolicamente, como o esforço do feminino no sentido de suplantar a condição de objeto que lhe é historicamente destinada. A subalternidade imposta à filha do presidente da empresa, ratificada no processo punitivo que perfaz a solução dramatúrgica que lhe é atribuída, denota a estrutura hierárquica, sexualmente conotada, segundo a qual uma mulher não pode ter autoridade sobre homens, estando a mesma relegada a ocupar funções subordinadas. A ilicitude dos atos empreendidos pela vilã reforça o seu estatuto de sexo inapto ao exercício do poder, justificando a lógica do modelo tradicional entre o masculino e o feminino, sob a qual os homens continuam a dominar o espaço público e a área produtiva - sobretudo as instâncias política e econômica -, ao passo que às mulheres é destinado, predominantemente, o espaço privado - área da reprodução -, bem como as extensões deste espaço - os serviços ligados à educação ou aos serviços sociais - ou, ainda, os universos da produção simbólica - o fazer artístico, o jornalismo, etc. (Bourdieu, 1999). A defesa por determinados princípios que constróem simbolicamente a identidade feminina - a discrição, a submissão, o dever servir, a passividade - está inscrita na punição de Maria Regina, no insucesso de s investidas na disputa pelo poder. A ausência, na personagem, uas de determinada "ética feminina" faz com que ela seja pedagogicamente banida ao término da novela. O caráter da vilã, associado à sua sexualidade expressiva, configuram-na como partícipe do modelo do feminino transgressor e do processo punitivo destinado às mulheres que ousam desafiar as regras da lógica patriarcal - simbolizada, na novela, no poder paterno -, em última análise, aquelas que não desempenham o papel social de acordo com o estatuto de sexo de segunda classe. A personagem Maria Regina, foco de nosso estudo, trata-se de uma personagem redonda pois ela reveste-se de complexidade suficiente para constituir uma personalidade bem vincada, sendo uma figura de destaque no universo diegético, estando submetida a uma caracterização relativamente elaborada. Por outro lado, o modo como ela é configurada, bem como as estratégias ficcionais aplicadas no seu desenvolvimento na trama, evidenciam percursos figurativos previsíveis, constituídos por ações, atitudes especialmente no que diz respeito ao feminino. e aptidões socioculturalmente codificadas,
  • 9. 9 INTERCOM – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XXIV Congresso Brasileiro da Comunicação – Campo Grande /MS – setembro 2001 Na personagem Maria Regina, no que tange à sua caracterização e desenvolvimento, encontramos isotopias, traços semânticos que estabelecem uma certa homogeneidade significativa no que se refere à configuração de personagens femininas. Longe de se restringir à condição de vilã, Maria Regina - através da sua caracterização, do conjunto de ações que realiza e das palavras que profere - é a personificação de um tipo de estereótipo simbólico do feminino, fundado num saber socialmente partilhado, por meio do qual o ato de transgressão feminina vem carregado de atributos negativos e de um desfecho implacavelmente punitivo. O esquema narrativo de Suave Veneno, a trajetória de Maria Regina na novela, a sua frustrada tentativa de deslocar-se da condição de anti-sujeito para a condição de sujeito, reafirma o estatuto de objeto ao qual está, através do trabalho das estruturas sociais e das estruturas subjetivas, condicionado o sexo feminino. A configuração e o desenvolvimento da personagem exemplificam a atribuição de negatividade à personagem feminina que rompe com determinados padrões de comportamento, historicamente construídos. Se as marcas da agressividade, da ousadia, da individualidade, da coragem e da ambição servem para dignificar o herói da trama Waldomiro Cerqueira -, o mesmo não acontece quando em questão está a vilã da novela: estes mesmos atributos, quando atrelados à Maria Regina, aparecem como elementos negativos e desencadeadores de um processo punitivo na solução dramatúrgica da personagem. Assim, faz-se perceptível, na novela, a lógica patriarcal fundada na oposição binária que confere ao masculino a natureza de sujeito e ao feminino a natureza de objeto, conformada na figura de um anti-sujeito. No plano macroestrutural de Suave Veneno, no qual observamos a representação abstrata da estrutura global do significado da novela, parte-se de uma situação inicial estável - o pai, sujeito masculino, tem a posse do objeto, a presidência da Marmoreal -, até que uma determinada força vem perturbar - a ação da filha que atua como anti-sujeito -, resultando, daí, um estado de desequilíbrio - provisoriamente o sujeito masculino perde a posse do objeto para o anti-sujeito feminino. O desfecho da história vem restabelecer o equilíbrio, restituindo ao sujeito masculino a posse do objeto e punindo, em contrapartida, o anti-sujeito feminino. NOTAS 1 Pesquisa realizada a partir da análise da personagem Maria Regina, de Suave Veneno, novela de Aguinaldo Silva, levada ao ar pela Rede Globo, no período de 19 de janeiro a 17 de setembro de 1999. CARMO, Cláudia Rejane do.
  • 10. INTERCOM – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação 10 XXIV Congresso Brasileiro da Comunicação – Campo Grande /MS – setembro 2001 A mulher no Horário Nobre da TV: Estudo sobre representações do feminino na telenovela brasileira. Porto Alegre, 2001. 231 p. Dissertação de Mestrado em Comunicação e Informação. PPGCOM/UFRGS. 2 SUAVE Veneno. Autor: Aguinaldo Silva. Co-autores: Angela Carneiro, Maria Helena Nascimento, Filipe Miguez e Fernando Rebello. Colaboração: Marília Garcia. Direção Geral: Daniel Filho e Ricardo Waddington. Rede Globo de Televisão. Levada ao ar de 18 de janeiro a 17 de setembro de 1999, no horário 3 A cena final de Maria Regina, que é encerrada com a imagem congelada do carro sobre o despenhadeiro, reproduz a cena final do filme Thelma e Louise (1991), de Ridley Scott. Bibliografia BOURDIEU, Pierre. A Dominação Masculina. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1999. CARMO, Cláudia Rejane do. A mulher no Horário Nobre da TV: Estudo sobre representações do feminino na telenovela brasileira. Porto Alegre, 2001. 231 p. Dissertação de Mestrado em Comunicação e Informação. PPGCOM/UFRGS. CRAMPE-CASNABET, Michèle. A Mulher no Pensamento Filosófico do Século XVIII. In: DUBY, Georges; PERROT, Michelle. História das Mulheres - Do Renascimento à Idade Moderna. Porto: Edições Afrontamento, 1991, p. 370-407. REIS, Carlos; LOPES, Ana Cristina M. Lopes. Dicionário de Teoria da Narrativa. São Paulo: Ática, 1988. SCHMIDT, Rita Terezinha. Mulher e Literatura. In: MARTINS, Cyro e outros. (Orgs.) Mulher em Prosa e Verso. Coleção Ensaios, v.37. Porto Alegre: Movimento, 1988, p. 119-145.