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1405
UMA QUESTÃO DE GÊNERO: DEBATES TEÓRICOS EM TORNO DO CONCEITO E USOS
POSSÍVEIS PARAAANÁLISE DO MUNDO DO TRABALHO1
Moisés Waismann (UCS)
moises.waismann@bol.com.br
Natalia Pietra Méndez (UCS)
npietramendez@hotmail.com
Resumo:
Esta comunicação visa discutir as contribuições dos estudos de gênero para a análise do
mundo do trabalho. Examina os debates teóricos em torno do conceito de gênero e sua
influência para a produção historiográfica. Toma como principais contribuições para esse
debate os estudos vinculados à história social de tradição neomarxista, a sociologia crítica
de Bourdieu e aos estudos pós-estruturalistas de Scott. Um dos objetivos é problematizar
as diferenças e aproximações que essas três vertentes produziram para compreender o
gênero como uma relação estruturante da sociedade e do mundo do trabalho. Ainda, o
artigo apresentará de que modo esse debate teórico pode mediar a pesquisa interdisciplinar
conduzida pelo Observatório do Trabalho da Universidade de Caxias do Sul intitulada
Gênero e Trabalho: trajetórias de mulheres e homens no mercado de trabalho formal de
Caxias do Sul. A investigação, de caráter quantitativo, analisa em que medida as relações
de gênero no âmbito laboral sofreram modificações ao longo dos anos 2000. Utiliza como
fonte principal o banco de dados da Relação Anual de Informações Sociais do Ministério
do Trabalho (RAIS/MTE) considerando que esses dados numéricos podem evidenciar
alguns movimentos de mudanças e permanências na organização social do trabalho
formal.
Palavras-chave: gênero – trabalho – teoria e historiografia
Introdução
	 Desafiados pelo título do Simpósio Temático proposto pelo Grupo de Trabalho Estudos de
Gênero da ANPUH-RS2
, propomos pensar nos estudos de gênero como uma perspectiva teórica
fecunda para a análise do mundo do trabalho. A partir desses estudos, pretendemos, neste artigo,
1  	 Trabalho realizado com apoio do CNPq.
2 	 Este trabalho foi apresentado no simpósio temático1.	 Para além do gueto historiográfi-
co: a perspectiva de gênero como forma de pensar a história e o conhecimento histórico
1406
tecer algumas considerações sobre as diferenças e aproximações entre o gênero e outras duas
perspectivas teóricas: a sociologia crítica de Bourdieu e os estudos vinculados à história social
de tradição neomarxista. Por fim, pretendemos apresentar como esse debate teórico contribui
para a pesquisa interdisciplinar em andamento no Observatório do Trabalho da Universidade de
Caxias do Sul intitulada Gênero e Trabalho: trajetórias de mulheres e homens no mercado de
trabalho formal de Caxias do Sul. A investigação, de caráter quantitativo, analisa em que medida
as relações de gênero no âmbito laboral sofreram modificações ao longo dos anos 2000. Utiliza
como fonte principal o banco de dados da Relação Anual de Informações Sociais do Ministério
do Trabalho (RAIS/MTE) considerando que esses dados numéricos podem evidenciar alguns
movimentos de mudanças e permanências na organização social do trabalho formal.
Caxias do Sul foi escolhida como estudo de caso por se tratar de uma cidade média urbana,
com uma população de aproximadamente 400 mil habitantes (IBGE/2010). Constitui o segundo
polo metal-mecânico do Brasil, com significativa inserção no mercado global devido ao perfil
exportador de algumas empresas, principalmente no setor metal-mecânico. A cidade tem
apresentado um mercado de trabalho robusto nas últimas duas décadas que gerou, no ano de 2010,
171 mil vínculos formais de trabalho. A maioria desses empregos estão concentrados na indústria.
Há que se destacar que, embora o mercado de trabalho seja predominantemente fabril, a cidade
possui uma diversidade de setores ocupacionais, com destaque para o comércio e serviços. Assim,
verifica-se que o município de Caxias do Sul está inserido em um contexto global de mudanças
técnicas e produtivas. Neste cenário, cabe questionar quais são as repercussões (permanências/
deslocamentos) da organização social e sexual do mercado de trabalho formal?
O gênero como perspectiva analítica do mundo do trabalho
Estudar as relações de trabalho na sociedade contemporânea implica em considerar as
profundas transformações nos hábitos de trabalho resultantes do amadurecimento do
capitalismo industrial. Como afirma Thompson, novas disciplinas, novos estímulos e uma
nova natureza humana foram necessários a fim de garantir que o trabalho se tornasse um
valor central. A organização social do trabalho pode ser, em parte, compreendida a partir
do conceito de classe, constituído a partir de relações que possuem dimensões materiais
e culturais dentro das quais um grupo constitui uma experiência identitária e se reconhece
enquanto classe, em oposição a outra. Todavia, o conceito de classe, mesmo que se refira
a uma experiência dada nas sociedades capitalistas, não pode ser considerado apenas a
partir da posição dos indivíduos na produção. Igualmente, outras relações, para além
da classe social, organizam o mundo do trabalho, desafiando as fronteiras que muitas
vezes direcionam as análises para uma divisão da realidade social em dois polos: de
1407
um lado, o mundo do trabalho, da política, entre outros, como parte da esfera pública;
de outro, as dimensões privadas da vida, onde se encontrariam as relações de gênero
como parte de uma história da família. Assim, consideramos relevante os apontamentos
de BOURDIEU(2009) quando este afirma que o trabalho se organiza como exercício
de uma função social. Esta função social engloba atividades que a sociedade capitalista
considera como não produtivas, já que são desprovidas de sanção monetária. Seguindo
as pistas de Bourdieu, consideramos que toda divisão social do trabalho implica em uma
transposição de mecanismos de organização da chamada esfera privada para as atividades
socialmente remuneradas, assim como as formas como cada sociedade organiza os modos
de produzir a riqueza e a sobrevivência atribuem sentidos às práticas sociais de homens
e mulheres.
Compreendemos que o trabalho é composto de diversas distinções simbólicas e assume
diferentes conotações quando praticado por um homem ou por uma mulher, por brancos
ou negros, por jovens ou adultos. Essas diferenciações se ancoram nos elementos materiais
e simbólicos que atribuem lugares sociais específicos para os sujeitos históricos. E esses
lugares, embora mutáveis, apresentam permanências nas formas de organização social
do trabalho. É assim que, por exemplo, os indivíduos buscam ocupações que estejam de
acordo com suas possibilidades de mobilidade social, dentro do que Bourdieu denomina
de “expectativas objetivas”. Para o autor, tais expectativas que se convencionou chamar
de vocação podem ser exemplificadas a partir das posições oferecidas para as mulheres
na divisão do trabalho:
A lógica, essencialmente social, do que chamamos de “vocação”, tem por efeito produzir tais encontros
harmoniosos entre as disposições e as posições, encontros que fazem com que as vítimas da dominação
simbólica possam cumprir com felicidade (no duplo sentido do termo) as tarefas que lhes são atribuídas
por suas virtudes de submissão, de gentileza, de docilidade, de devotamento e de abnegação. (BOURDIEU,
2009: 73)
Embora os estudos de Bourdieu e os de Thompson não transitem pela categoria gênero,
parece viável realizar uma aproximação entre seus escritos e alguns estudos que se
valem deste conceito para definir os saberes sociais e culturais a respeito da diferença
sexual. Esses saberes organizam-se nos discursos e práticas sociais e se manifestam nos
significados díspares atribuídos à diferença corporal (SCOTT, 1994). A partir do gênero
é possível compreender porque as mulheres são consideradas inaptas para determinados
trabalhos e aptas para outros. Igualmente, o conceito permite entender o valor diferencial
(em termos materiais e de status) atribuído a um tipo de ofício quando desempenhado por
um homem e quando realizado por uma mulher. O ramo da culinária é um bom exemplo.
Até pouco tempo, o título de “chefs” era quase exclusivamente masculino, sobrando para
as mulheres a atividade de cozinheiras ou auxiliares de cozinha.
1408
Os usos do conceito de gênero tem se mostrado de grande valia quando associados a uma
história social de caráter analítica que, a partir de suas metodologias, busca evidenciar
a construção de diferentes experiências do feminino e do masculino. Como afirma
TILLY(1994:60), a história social enfatiza a possibilidade não apenas de descrever
aspectos relacionados à história das mulheres, mas também interpretá-los e vincular seus
resultados aos problemas atuais mais gerais.
Seentendermosqueclasseéumelementocentralparaacompreensãodaorganizaçãosocial
do trabalho nas sociedades capitalistas e que a classe se define a partir de experiências
materiais e culturais, concluímos que o mundo do trabalho é, também, delimitado pelo
gênero:
A divisão sexual do trabalho não é apenas um efeito da repartição em áreas ou em sectores de actividade, é
o princípio organizador da desigualdade face ao emprego: o “verdadeiro” trabalho está na mão dos homens,
o “trabalho ao lado” é reservado às mulheres(LAGRAVE, 1991: 538).
	 As análises do mercado de trabalho em anos recentes apontam para a convergência
de alguns deslocamentos nesta divisão sexual do trabalho, sinalizando que há um
crescimento da participação feminina em setores tradicionalmente masculinos. Contudo,
tendemos a concordar com as pesquisas de Helena Hirata: ao analisar os contextos
ocupacionais de diferentes países e continentes, a autora conclui que a hierarquia social
do masculino e do feminino, que estabelece a inferioridade e a subordinação do segundo
ao primeiro, está longe de se esgotar no âmbito do mercado de trabalho (HIRATA,
2002:25).
Gênero e trabalho em Caxias do Sul: perfil da participação feminina nos últimos 20
anos
	 Nos últimos vinte anos, Caxias do Sul assistiu a movimentos de retração e
expansão da população ocupada no mercado formal de trabalho. A tabela 01 apresenta a
quantidade total e a quantidade feminina de vínculos no mercado formal de trabalho por
setor econômico no município no período que vai de 1990 à 2010
	 Pode-se observar na tabela 01 que a retração se concentrara ao longo da década de
1990, associada, possivelmente a uma conjuntura nacional favorável à desregulamentação
do mercado de trabalho. Já, a partir do ano 2000 atingiu-se o número de 100 mil empregos
e uma tendência de crescimento da formalidade.
1409
Tabela 01 – Quantidade de vínculos por setor econômico no município de Caxias do Sul no período
de 1990 à 2010.
Setor
Econômico 1990 1992 1994 1996 1998 2000 2002 2004 2006 2008 2010
Extrativa
mineral
Total 31 32 23 29 38 52 32 36 57 77 106
Fem. 3 4 2 4 3
7
0 3 5 8 8
Indústria
de
transformação
Total 45.479 39.675 44.891 40.387 42.704 48.618 51.887 61.949 66.993 79.086 85.426
Fem. 14.644 11.525 14.002 12.154 11.983 13.955 14.417 17.911 20.059 24.706 27.606
Serviços
industriais
de utilidade
pública
Total 176 199 684 126 7 11 27 41 354 2.731 2.905
Fem. 29 31 185 24 0 1 2 7 81 598 629
Construção
Civil
Total 864 1.137 2.330 3.355 3.050 3.611 3.570 3.272 3.653 4.224 5.412
Fem. 69 80 160 372 397 498 480 392 354 298 463
Comércio
Total 10.384 9.735 11.152 11.693 12.534 14.116 16.178 17.757 19.447 22.346 25.781
Fem. 4.702 4.334 5.061 5.181 5.330 6.211 7.192 8.137 9.391 11.103 13.280
Serviços
Total 17.569 17.320 17.367 21.006 24.749 27.895 30.885 32.961 37.543 41.154 44.060
Fem. 7.830 7.832 8.783 10.726 12.911 14.691 16.709 18.215 20.806 22.910 24.737
Administração
Pública
Total 4.506 5.542 5.886 6.561 4.795 5.161 5.369 5.733 5.312 5.671 6.010
Fem. 2.013 2.587 2.985 4.231 3.296 3.565 3.778 4.021 3.845 4.069 4.326
Agropecuária,
extração
vegetal, caça e
pesca
Total 1.054 1.194 1.466 3.269 1.041 1.363 1.578 1.532 1.635 1.694 1.772
Fem. 469 490 270 719 278 409 424 407 484 474 529
Total
Total 82.180 78.685 83.799 86.426 88.918 100.827 109.526 123.281 134.994 156.983 171.472
Fem. 30.623 28.330 31.448 33.411 34.198 39.337 43.002 49.093 55.025 64.166 71.578
Fonte: MTE/PDET/RAIS - Tabulação: Observatório do Trabalho/UCS
	 Observa-se, ainda na tabela 01, que ao longo de todo o período o setor da indústria
de transformação foi o que mais gerou empregos formais, sendo responsável pela maioria
dos vínculos de trabalho para as mulheres. No entanto, se considerarmos a proporção
da participação feminina no total de vínculos, verifica-se uma maior representatividade
na administração pública, serviços e comércio. A presença feminina decai quando se
observam setores pouco robustos em termos de geração de empregos formais, tais como
a agropecuária, a construção civil e o setor extrativo mineral.
	 A figura 01 apresenta a variação na quantidade total e feminina de vínculos por
setor econômico no município de Caxias do Sul nos anos de 1990 e 2010 tendo como
base 100 o ano de 1990 e permite observar o comportamento dos empregos femininos em
relação ao total de empregos.
1410
Figura 01 – Variação na quantidade total e feminina de vínculos por setor econômico no município
de Caxias do Sul nos anos de 1990 e 2010. (base 100 = 1990)
Extrativa mineral
Indústria
Servicos Ind. Util. Púb.
Construção Civil
Comércio
Serviços
Administração Pública
Agropecuária (…)
Total
0 500 1.000 1.500 2.000 2.500
342
188
1.651
626
248
251
133
168
209
267
189
2.169
671
282
316
215
113
234
TOTAL FEMININO
Fonte: Tabela 01
	 Observa-se na figura 01 que em todos os setores a variação dos empregos totais
foi positiva em relação ao ano de 1990. As mulheres tiveram uma variação acima do
total em quase todos os setores econômicos, com exceção da agropecuária e do extrativo
mineral. Destaca-se que o crescimento foi significativo em um novo setor econômico, o
serviços industriais de utilidade pública, que ainda é pouco representativo com relação
à quantidade de vínculos empregatícios ao longo deste período. Pode-se inferir a partir
dos dados que houve um reenquadramento de ocupações que estavam alocadas em outros
setores para este novo setor.
	 Durante o espaço temporal da pesquisa, constata-se um aumento no grau de
escolarização da força de trabalho caxiense, tanto de homens quanto de mulheres, fator
que pode ser observado na Tabela 2 que apresenta a quantidade de vínculos por grau de
instrução no município de Caxias do Sul no período de 1990 à 2010.
Na década de 1990, o ensino fundamental incompleto, com 20.754 vínculos, apontava
como a faixa de escolarização que mais concentrava vínculos empregatícios. Esse quadro
começou a se alterar no final da década em questão
1411
Tabela 02 – Quantidade de vínculos por grau de instrução no município de Caxias do Sul no
período de 1990 à 2010.
Grau de
instrução
1990 1992 1994 1996 1998 2000 2002 2004 2006 2008 2010
Analfabeto
Total 2.150 2.139 2.952 1.432 1.417 979 680 300 212 223 245
Fem. 1.006 741 749 512 631 367 183 109 80 76 86
Fundamental
Incompleto
Total 40.552 37.823 38.095 38.966 34.221 33.186 28.042 26.013 23.722 24.403 23.446
Fem. 12.627 11.026 11.754 11.886 10.016 10.041 8.743 8.350 7.768 8.164 7.889
Ensino
Fundamental
Total 20.754 20.363 24.676 23.003 26.449 32.506 32.617 38.686 41.817 46.135 46.748
Fem. 8.086 7.493 9.418 8.834 9.568 11.419 11.477 12.910 13.920 15.545 15.692
Ensino
Médio
Total 12.820 12.621 14.157 15.289 18.074 24.842 34.059 43.682 54.288 69.003 81.311
Fem. 6.154 6.293 7.345 7.558 8.591 11.693 15.454 19.548 24.275 30.106 36.226
Ensino
Superior
Total 4.596 5.091 5.569 7.472 8.710 9.314 14.128 14.600 14.955 17.219 19.722
Fem. 2.193 2.644 3.008 4.524 5.375 5.817 7.145 8.176 8.982 10.275 11.685
Total
Total 82.180 78.685 85.495 86.516 88.921 100.827 109.526 123.281 134.994 156.983 171.472
Fem. 30.623 28.330 32.289 33.438 34.199 39.337 43.002 49.093 55.025 64.166 71.578
Fonte: MTE/PDET/RAIS - Tabulação: Observatório do Trabalho/UCS
Nota: A categoria Fundamental Incompleto inclui os trabalhadores que possuem o até 5ª Incompleto, 5ª
Completo Fundamental e 6ª a 9ª Fundamental. A categoria Ensino Fundamental inclui os trabalhadores
que possuem o fundamental completo e o médio incompleto. A categoria Ensino Médio inclui os
trabalhadores que possuem o médio completo e o superior incompleto.
	 No ano de 2002 já foi possível observar que o ensino médio completo, com 34.059
vínculos, passou a ocupar a primeira posição entre o nível de escolarização que mais
concentrava trabalhadores e trabalhadoras, fato que sinaliza um processo de escolarização,
que é uma base importante para a qualificação da força de trabalho. Pode-se inferir a
partir dos dados apresentados um aumento nas exigências por escolarização para a mão
de obra no mercado formal de trabalho no município.
	 Chama a atenção, ainda, a presença majoritária das mulheres, desde os anos 1990,
tanto no ensino médio quanto no ensino superior. Outro aspecto que pode ser evidenciado
através dos dados é a queda da participação de analfabetos nos empregos formais, com
uma tendência que se acentuou apenas no final dos anos 1990 e se manteve ao longo da
décadaseguinte.Nooutroextremo,observou-se ummovimentocrescentedetrabalhadores
com ensino superior completo, segmento no qual as mulheres aparecem como líderes ao
longo de todo o período. Os dados sobre escolarização comungam com outras pesquisas
realizadas no Brasil acerca da vantagem que as mulheres vem apresentando sobre os
homens quanto ao requisito escolaridade. De acordo com Bruschini e Lombardi “a
expansão da escolaridade, à qual as brasileiras vêm tendo cada vez mais acesso, é um
1412
dos fatores que mais tem causado impacto sobre o ingresso das mulheres no mercado
de trabalho. (BRUSCHINI;LOMBARDI, 2007: 54). A escolarização mais elevada das
mulheres constitui-se como um imperativo para o acesso ao mercado de trabalho formal.
No entanto, como veremos adiante, nem sempre a vantagem escolar é convertida no
acesso aos postos de trabalho mais qualificados.
À medida em que se registram avanços na presença feminina no mercado formal, cabe
observar como esta inserção ocorre em termos de jornada de trabalho. A quantidade de
vínculos associados às modalidades de jornadas pode ser considerada outro indicativo
para compreender se há uma distribuição diferenciada dos trabalhadores de acordo com
o sexo. A tabela 03 apresenta a quantidade de vínculos por faixa de horas contratadas no
município de Caxias do Sul no período de 1994 à 2010, desta forma pode-se verificar o
total de vínculos existentes em cada faixa de jornada, bem como indicar o percentual de
participação feminina.
Tabela 03 – Quantidade de vínculos por faixa de horas contratadas no município de Caxias do Sul
no período de 1994 à 2010.
Faixa de Horas
Contratadas
1994 1996 1998 2000 2002 2004 2006 2008 2010
Até 20 horas
Total 1.893 4.283 4.811 4.889 5.898 5.940 6.989 7.273 8.069
Fem. 1.041 3.333 3.685 3.780 4.419 4.483 4.969 5.096 5.566
Part.
Fem.
55% 78% 77% 77% 75% 75% 71% 70% 69%
21 a 30 horas
Total 5.526 4.219 4.277 3.955 4.083 4.710 4.846 5.787 6.334
Fem. 3.962 2.568 2.669 2.500 2.574 2.826 2.954 3.361 3.569
Part.
Fem.
72% 61% 62% 63% 63% 60% 61% 58% 56%
31 a 44 horas
Total 77.937 77.947 79.789 91.983 99.545 112.631 123.159 143.923 157.069
Fem. 27.224 27.515 27.815 33.057 36.009 41.784 47.102 55.709 62.443
Part.
Fem.
35% 35% 35% 36% 36% 37% 38% 39% 40%
Total
Total 85.495 86.516 88.921 100.827 109.526 123.281 134.994 156.983 171.472
Fem. 32.289 33.438 34.199 39.337 43.002 49.093 55.025 64.166 71.578
Part.
Fem.
38% 39% 38% 39% 39% 40% 41% 41% 42%
Fonte: MTE/PDET/RAIS - Tabulação: Observatório do Trabalho/UCS
	 Ao longo de todos os anos analisados, a maioria dos vínculos empregatícios, tanto
dehomensquantodemulheres, seconcentraramnasjornadasde31a44horas. Opercentual
de participação feminina nesta faixa é inferior (entre 35 e 40%) se o comparamos com as
faixas de até 20 horas (55 a 69%) ou de 21 a 30 horas (72 a 56%). Contudo, cabe observar
que, em números absolutos, as jornadas mais extensas são as que concentram o maior
número de trabalhadoras. Ainda dentro desta tabela, nota-se uma tendência à diminuição
da participação feminina nos vínculos que perfazem 21 a 30 horas semanais. Os dados
sobre jornada são importantes porque assinalam que há uma significativa paridade entre
1413
os sexos quando o assunto é quantidade de horas trabalhadas.Ao contrário do que afirma o
senso comum, as mulheres, em sua maioria, não trabalham menos que os homens. Ainda,
há que considerar que uma parcela dos vínculos empregatícios que possuem 30 horas ou
menos semanais estão relacionados a ocupações que não excluem o acúmulo de mais de
um vínculo de trabalho, a exemplo de profissões relacionadas à saúde e à educação, onde
a presença feminina é superior.
Além da jornada de trabalho, um interesse da pesquisa foi verificar a situação da
remuneração média no mercado formal de trabalho ao longo do período analisado a fim
de perceber possíveis alterações na diferença salarial auferida conforme o sexo, neste
sentido foi elaborada a Tabela 04 que mostra a remuneração média em salários mínimos
por sexo e total no município de Caxias do Sul no período de 1994 à 2010.
Tabela 04 – Remuneração média em salários mínimos por sexo e total no município de Caxias do
Sul no período de 1994 à 2010.
1994 1996 1998 2000 2002 2004 2006 2008 2010
Total 2,28 3,70 3,94 4,16 4,95 6,24 6,99 8,20 9,55
Feminino 1,83 3,08 3,28 3,53 4,22 5,20 5,85 6,68 7,91
Masculino 2,54 4,06 4,32 4,54 5,39 6,88 7,73 9,19 10,67
Feminino/Total -19,90% -16,74% -16,74% -15,15% -14,83% -16,57% -16,34% -18,51% -17,16%
Feminino/Masculino -39,06% -31,81% -31,63% -28,42% -27,81% -32,11% -32,14% -37,57% -34,81%
Fonte: MTE/PDET/RAIS - Tabulação: Observatório do Trabalho/UCS
	 Os dados obtidos sinalizam que ao longo de todo o período houve uma permanência
na diferença de média salarial recebida por homens e mulheres, favorável aos primeiros.
Não é possível afirmar que haja uma tendência à queda dessa diferença. Por exemplo, no
primeiro ano da mostra, o salário feminino apresentou uma diferença negativa de 39,06%
em relação ao masculino. Essa diferença caiu ao longo dos anos seguintes, chegando,
em 2002, ao patamar dos -27,81%. Contudo, nos anos posteriores a diferença voltou a	
crescer e em 2008 as mulheres voltaram a ostentar uma diferença negativa de mais de
35% em relação à remuneração masculina. Os resultados não surpreendem. Quando se
analisam os rendimentos gerais da população brasileira os resultados têm sido semelhantes
em diversas pesquisas:
(...) Verifica-se que as mulheres continuaram a ganhar menos que os homens, independente do setor de
atividade econômica em que trabalhavam, do número de horas de sua jornada de trabalho, do número de
anos de estudo, de sua posição na ocupação, o que confirma, mais uma vez, o diferente valor atribuído aos
trabalhos dos homens e das mulheres na sociedade.( BRUSCHINI;LOMBARDI, 2007: 84)
	 O diferencial salarial entre os sexos só pode ser compreendido a partir do gênero.
1414
Em que pese a maior escolarização feminina, as jornadas de trabalho iguais e o ingresso
em carreiras tradicionalmente masculinas, as trabalhadoras continuam a ostentar salários
inferiores.Assim,aquestãosalarialéumaquestãodegênero.Somenteadiferençaatribuída
ao masculino e o feminino explicam a permanência das disparidades na remuneração:
as desigualdades nos rendimentos constituem um fator permanente de organização do
mundo do trabalho. Os dados da pesquisa não indicam um cenário de mudança drástica
na relação entre salários de homens e mulheres ao longo das duas décadas analisadas.
A figura 02 auxilia na visualização das diferenças de rendimentos quando mostra a
variação na remuneração média em salários mínimos por sexo e total no município de
Caxias do Sul no período de 1994 à 2010, tendo como base 100, o ano de 1994.
Figura 02 – Variação na remuneração média em salários mínimos por sexo e total no município de
Caxias do Sul no período de 2010 (base 100 = 1994)
0,0
50,0
100,0
150,0
200,0
250,0
300,0
350,0
400,0
450,0
500,0
418,6
432,9
419,7
86,2 89,1
Total
Feminino
Masculino
Feminino/Total
Feminino/Masculino
Fonte:Tabela 04
	 Verifica-se na figura 02 que no período analisado a remuneração total cresceu em
318,6% e a remuneração feminina cresceu em 332,9% e a masculina em 319,7%. Com a
remuneração feminina crescendo no período mais que a remuneração total e a masculina
observa-se uma queda de 13,8% na diferença sobre a remuneração o total e de 10,9%
sobre a remuneração masculina. Pode-se também observar na figura 03, a variação na
proporção da remuneração feminina média em salários mínimos sobre o rendimento total
e masculino município de Caxias do Sul no período de 1994 à 2010 tendo como base 100
o ano de 1994, este movimento ao longo do tempo.
1415
Figura 03 – Variação na proporção da remuneração feminina média em salários minímos sobre o
rendimento total e masculino município de Caxias do Sul no período de 1994 à 2010. (base 100 =
1994)
1994 1996 1998 2000 2002 2004 2006 2008 2010
-45%
-40%
-35%
-30%
-25%
-20%
-15%
-10%
-5%
0%
-20%
-17% -17%
-15% -15%
-17% -16%
-19%
-17%
-39%
-32% -32%
-28% -28%
-32% -32%
-38%
-35%
Feminino/Total Feminino/Masculino
Fonte: Tabela 04
A partir do gráfico observamos que a diferença salarial se mantém ao longo do período
analisado, porém evidencia-se uma tendência fraca de diminuição nesta diferença.
Será necessário um acompanhamento contínuo dos próximos anos para confirmar esta
tendência.
Finalizando, com o objetivo de verificar como o diferencial nos rendimentos femininos e
masculinos se comporta em distintas ocupações foi organizada a tabela 5. Ela apresenta
a remuneração média total e feminina por hora e diferença percentual entre remuneração
feminina e masculina por subgrupos ocupacionais selecionados no município de Caxias
do Sul no período de 2004 à 2010 com os valores corrigidos para julho de 2012.
1416
Tabela 05 – Remuneração média total e feminina por hora e diferença percentual entre a
remuneração feminino e masculino por subgrupo ocupacional selecionados município de Caxias
do Sul no período de 2004 à 2010. Valores corrigidos para julho de 2012.
2004 2006 2008 2010
Subgrupo
Ocupacional
Total Fem.
Dif.
Fem./
Masc.
Total Fem.
Dif.
Fem./
Masc.
Total Fem.
Dif.
Fem./
Masc.
Total Fem.
Dif.
Fem./
Masc.
121 Diretores
gerais
45,56 14,00 -73,9% 63,72 17,41 -76,1% 61,36 17,66 -76,0% 65,68 25,27 -65,5%
234 Professores do
ensino superior
44,33 42,28 -9,2% 55,80 54,81 -3,4% 48,63 46,45 -8,8% 54,02 54,50 1,9%
123 Diretores de
áreas de apoio
42,15 20,12 -58,4% 47,66 22,07 -60,6% 51,66 20,12 -67,2% 53,56 22,94 -65,0%
353 Técnicos
de nível médio
em operações
financeiras
29,60 29,36 -1,6% 33,43 30,40 -17,9% 37,75 35,02 -20,0% 34,07 30,70 -23,2%
214 Engenheiros,
arquitetos e afins
27,46 16,42 -42,5% 29,67 21,11 -31,6% 29,84 21,71 -30,0% 32,99 26,16 -23,1%
111 Membros
superiores do
poder legislativo,
executivo e
judiciário
20,74 22,34 23,5% 24,33 26,33 24,8% 25,50 28,00 30,2% 27,28 29,64 26,4%
519 Outros
trabalhadores de
serviços diversos
4,07 3,33 -20,6% 4,75 4,19 -14,5% 4,84 4,50 -8,7% 4,98 4,17 -20,8%
516 Trabalhadores
nos serviços de
embelezamento e
cuidados pessoais
4,49 4,29 -15,5% 5,27 4,89 -25,9% 5,01 4,60 -32,8% 4,64 4,29 -28,3%
622 Trabalhadores
agrícolas
3,49 3,09 -14,0% 4,10 3,50 -18,0% 4,23 3,70 -15,6% 4,34 3,80 -15,7%
513 Trabalhadores
dos serviços
de hotelaria e
alimentação
3,58 3,41 76,9% 3,89 3,69 79,0% 3,71 3,54 81,8% 4,20 4,00 79,6%
621 Trabalhadores
na exploração
agropecuária em
geral
3,36 3,04 -12,1% 3,79 3,66 -4,2% 3,98 3,55 -14,2% 4,18 3,70 -15,5%
717 Ajudantes de
obras
3,97 5,03 27,8% 3,84 3,10 -26,7% 3,56 2,77 -29,9% 4,06 3,11 -27,9%
Total 8,87 7,40 -24,3% 9,84 8,23 -24,3% 9,74 7,94 -27,3% 10,43 8,64 -25,8%
Fonte: MTE/PDET/RAIS - Tabulação: Observatório do Trabalho/UCS
Verifica-se na tabela 05 que as ocupações que tradicionalmente são associadas à
cultura masculina (diretores gerais, arquitetos e engenheiros, bem como ajudantes de
obras) apresentam as maiores diferenças salariais. Evidencia-se que a qualificação da
trabalhadora não é um fator essencial para garantir equidade na remuneração. Aspectos
históricos (tardio ingresso das mulheres em determinadas profissões) e culturais (suposta
inaptidão feminina para profissões que exijam capacidade de liderança ou uso da força
1417
física) se associam para tornar a desigualdade salarial entre os sexos um elemento natural
dentro da organização do mundo do trabalho. Todavia, quando se trata de ocupações
que possuem ingresso através de concurso público, as mulheres tendem a apresentar não
apenas equidade salarial como vantagem em relação aos homens. É o caso da CBO 111
- Membros superiores do poder legislativo, executivo e judiciário, onde os rendimentos
femininos foram, ao longo de todo o período analisado, superiores ao total.
Considerações finais:
Nas últimas décadas o mercado de trabalho formal de Caxias do Sul seguiu a tendência de
expansão nacional. Contudo, esse aumento da empregabilidade formal foi acompanhado
por uma mobilidade em direção às faixas salariais menos robustas, o que ocorreu tanto
para as mulheres quanto para os homens. Paradoxalmente, os ocupados passaram a
ostentar maior escolarização. Nesta relação, as mulheres obtiveram maior decréscimo
em seus ganhos do que homens, mesmo apresentando, ao longo de todo o período,
um predomínio no ensino médio completo e no ensino superior completo. Assim, o
crescimento proporcionalmente maior de empregos para mulheres no mercado formal foi
igualmente acompanhado de uma expansão de trabalhadoras vinculadas a faixas salariais
com remuneração entre 1,01 a 2 salários mínimos.
A força de trabalho feminina se concentrou nas jornadas laborais acima de 30 horas
semanais. As extensas jornadas podem ser explicadas pelo fato de que a maioria das
mulheres estão ocupadas no setor da Indústria. Porém, ao observar o percentual de
participação, constata-se que a Administração Pública é o setor que apresenta a maior
proporção feminina (cerca de 70%). Cabe destacar que no setor Indústria, a participação
feminina em cargos de gerência e direção é inferior à participação geral.
Em Caxias do Sul novas e antigas formas de segregação estão combinadas, denotando
que as relações de gênero são fundamentais para a compreensão da dinâmica do mercado
de trabalho. As transformações tecnológicas e produtivas remodelaram os discursos
sobre qualidade e “competências”. A escolarização passou a ser o requisito básico de
acesso ao mercado de trabalho formal. No entanto, as exigências para homens e mulheres
não parecem ser as mesmas. O mercado formal aquilata diferentemente qualificação
e escolarização. Para as mulheres, qualificação e competência estão associadas a
características consideradas “positivas” mas que são pouco valorizadas em termos de
remuneração, tais como: a concentração, a capacidade de exercer múltiplas funções, a
disciplina, a organização.
Conclui-se que ao longo das duas décadas houve um incremento da inserção da força de
trabalho feminina, as suas jornadas laborais se tornaram mais extensas e as remunerações,
1418
em média são 25 a 45% inferiores daquelas auferidas pelos trabalhadores homens.
A força-de-trabalho - tanto masculina quanto feminina – prepondera em setores que
tradicionalmente são associados aos papéis sociais dos dois sexos.
Como resultado, constatamos que, apesar de alguns deslocamentos, o mundo do trabalho
permanece organizado a partir de fronteiras de gênero.
Referências:
BOURDIEU, P. A dominação masculina. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2009.
BRUSCHINI, C; LOMBARDI, M. R. Trabalho, educação e rendimentos das mulheres
no Brasil em anos recentes. In: HIRATA, H. SEGNINI, L.(org). Organização, trabalho
e gênero. São Paulo: Ed. Senac, 2002.
GRENIER, Jean-Yves. A História quantitativa ainda é necessária? In: BOUTIER, j.
JULIA, D. Passados recompostos: campos e canteiros da história. Rio de Janeiro:
UFRJ, 1998
HIRATA, H. SEGNINI, L.(org). Organização, trabalho e gênero. São Paulo: Ed. Senac,
2002.
LAGRAVE, Rose Marie. Uma emancipação sob tutela. Educação e trabalho das
mulheres no século XX. In: DUBY, G. PERROT, M. História das Mulheres no
Ocidente. Porto: Afrontamento, 1991.
SCOTT, Joan. Prefácio a Gender and Politics of History. Cadernos Pagu(3), Núcleo de
Estudos de Gênero/Unicamp, São Paulo, 1994.
THOMPSON, E. P. Tempo, disciplina de trabalho e capitalismo industrial. IN:________
Costumes em Comum: estudos sobre a cultura popular tradicional. São Paulo:
Companhia das Letras, 1998.
THOMPSON, Edward. P. A Formação da Classe Operária Inglesa. Rio de Janeiro:
Paz e Terra, 1987.
TILLY, Louise. Gênero, História das Mulheres e História Social. Cadernos Pagu(3),
Núcleo de Estudos de Gênero/UNICAMP, São Paulo, 1994.

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  • 1. 1405 UMA QUESTÃO DE GÊNERO: DEBATES TEÓRICOS EM TORNO DO CONCEITO E USOS POSSÍVEIS PARAAANÁLISE DO MUNDO DO TRABALHO1 Moisés Waismann (UCS) moises.waismann@bol.com.br Natalia Pietra Méndez (UCS) npietramendez@hotmail.com Resumo: Esta comunicação visa discutir as contribuições dos estudos de gênero para a análise do mundo do trabalho. Examina os debates teóricos em torno do conceito de gênero e sua influência para a produção historiográfica. Toma como principais contribuições para esse debate os estudos vinculados à história social de tradição neomarxista, a sociologia crítica de Bourdieu e aos estudos pós-estruturalistas de Scott. Um dos objetivos é problematizar as diferenças e aproximações que essas três vertentes produziram para compreender o gênero como uma relação estruturante da sociedade e do mundo do trabalho. Ainda, o artigo apresentará de que modo esse debate teórico pode mediar a pesquisa interdisciplinar conduzida pelo Observatório do Trabalho da Universidade de Caxias do Sul intitulada Gênero e Trabalho: trajetórias de mulheres e homens no mercado de trabalho formal de Caxias do Sul. A investigação, de caráter quantitativo, analisa em que medida as relações de gênero no âmbito laboral sofreram modificações ao longo dos anos 2000. Utiliza como fonte principal o banco de dados da Relação Anual de Informações Sociais do Ministério do Trabalho (RAIS/MTE) considerando que esses dados numéricos podem evidenciar alguns movimentos de mudanças e permanências na organização social do trabalho formal. Palavras-chave: gênero – trabalho – teoria e historiografia Introdução Desafiados pelo título do Simpósio Temático proposto pelo Grupo de Trabalho Estudos de Gênero da ANPUH-RS2 , propomos pensar nos estudos de gênero como uma perspectiva teórica fecunda para a análise do mundo do trabalho. A partir desses estudos, pretendemos, neste artigo, 1  Trabalho realizado com apoio do CNPq. 2  Este trabalho foi apresentado no simpósio temático1. Para além do gueto historiográfi- co: a perspectiva de gênero como forma de pensar a história e o conhecimento histórico
  • 2. 1406 tecer algumas considerações sobre as diferenças e aproximações entre o gênero e outras duas perspectivas teóricas: a sociologia crítica de Bourdieu e os estudos vinculados à história social de tradição neomarxista. Por fim, pretendemos apresentar como esse debate teórico contribui para a pesquisa interdisciplinar em andamento no Observatório do Trabalho da Universidade de Caxias do Sul intitulada Gênero e Trabalho: trajetórias de mulheres e homens no mercado de trabalho formal de Caxias do Sul. A investigação, de caráter quantitativo, analisa em que medida as relações de gênero no âmbito laboral sofreram modificações ao longo dos anos 2000. Utiliza como fonte principal o banco de dados da Relação Anual de Informações Sociais do Ministério do Trabalho (RAIS/MTE) considerando que esses dados numéricos podem evidenciar alguns movimentos de mudanças e permanências na organização social do trabalho formal. Caxias do Sul foi escolhida como estudo de caso por se tratar de uma cidade média urbana, com uma população de aproximadamente 400 mil habitantes (IBGE/2010). Constitui o segundo polo metal-mecânico do Brasil, com significativa inserção no mercado global devido ao perfil exportador de algumas empresas, principalmente no setor metal-mecânico. A cidade tem apresentado um mercado de trabalho robusto nas últimas duas décadas que gerou, no ano de 2010, 171 mil vínculos formais de trabalho. A maioria desses empregos estão concentrados na indústria. Há que se destacar que, embora o mercado de trabalho seja predominantemente fabril, a cidade possui uma diversidade de setores ocupacionais, com destaque para o comércio e serviços. Assim, verifica-se que o município de Caxias do Sul está inserido em um contexto global de mudanças técnicas e produtivas. Neste cenário, cabe questionar quais são as repercussões (permanências/ deslocamentos) da organização social e sexual do mercado de trabalho formal? O gênero como perspectiva analítica do mundo do trabalho Estudar as relações de trabalho na sociedade contemporânea implica em considerar as profundas transformações nos hábitos de trabalho resultantes do amadurecimento do capitalismo industrial. Como afirma Thompson, novas disciplinas, novos estímulos e uma nova natureza humana foram necessários a fim de garantir que o trabalho se tornasse um valor central. A organização social do trabalho pode ser, em parte, compreendida a partir do conceito de classe, constituído a partir de relações que possuem dimensões materiais e culturais dentro das quais um grupo constitui uma experiência identitária e se reconhece enquanto classe, em oposição a outra. Todavia, o conceito de classe, mesmo que se refira a uma experiência dada nas sociedades capitalistas, não pode ser considerado apenas a partir da posição dos indivíduos na produção. Igualmente, outras relações, para além da classe social, organizam o mundo do trabalho, desafiando as fronteiras que muitas vezes direcionam as análises para uma divisão da realidade social em dois polos: de
  • 3. 1407 um lado, o mundo do trabalho, da política, entre outros, como parte da esfera pública; de outro, as dimensões privadas da vida, onde se encontrariam as relações de gênero como parte de uma história da família. Assim, consideramos relevante os apontamentos de BOURDIEU(2009) quando este afirma que o trabalho se organiza como exercício de uma função social. Esta função social engloba atividades que a sociedade capitalista considera como não produtivas, já que são desprovidas de sanção monetária. Seguindo as pistas de Bourdieu, consideramos que toda divisão social do trabalho implica em uma transposição de mecanismos de organização da chamada esfera privada para as atividades socialmente remuneradas, assim como as formas como cada sociedade organiza os modos de produzir a riqueza e a sobrevivência atribuem sentidos às práticas sociais de homens e mulheres. Compreendemos que o trabalho é composto de diversas distinções simbólicas e assume diferentes conotações quando praticado por um homem ou por uma mulher, por brancos ou negros, por jovens ou adultos. Essas diferenciações se ancoram nos elementos materiais e simbólicos que atribuem lugares sociais específicos para os sujeitos históricos. E esses lugares, embora mutáveis, apresentam permanências nas formas de organização social do trabalho. É assim que, por exemplo, os indivíduos buscam ocupações que estejam de acordo com suas possibilidades de mobilidade social, dentro do que Bourdieu denomina de “expectativas objetivas”. Para o autor, tais expectativas que se convencionou chamar de vocação podem ser exemplificadas a partir das posições oferecidas para as mulheres na divisão do trabalho: A lógica, essencialmente social, do que chamamos de “vocação”, tem por efeito produzir tais encontros harmoniosos entre as disposições e as posições, encontros que fazem com que as vítimas da dominação simbólica possam cumprir com felicidade (no duplo sentido do termo) as tarefas que lhes são atribuídas por suas virtudes de submissão, de gentileza, de docilidade, de devotamento e de abnegação. (BOURDIEU, 2009: 73) Embora os estudos de Bourdieu e os de Thompson não transitem pela categoria gênero, parece viável realizar uma aproximação entre seus escritos e alguns estudos que se valem deste conceito para definir os saberes sociais e culturais a respeito da diferença sexual. Esses saberes organizam-se nos discursos e práticas sociais e se manifestam nos significados díspares atribuídos à diferença corporal (SCOTT, 1994). A partir do gênero é possível compreender porque as mulheres são consideradas inaptas para determinados trabalhos e aptas para outros. Igualmente, o conceito permite entender o valor diferencial (em termos materiais e de status) atribuído a um tipo de ofício quando desempenhado por um homem e quando realizado por uma mulher. O ramo da culinária é um bom exemplo. Até pouco tempo, o título de “chefs” era quase exclusivamente masculino, sobrando para as mulheres a atividade de cozinheiras ou auxiliares de cozinha.
  • 4. 1408 Os usos do conceito de gênero tem se mostrado de grande valia quando associados a uma história social de caráter analítica que, a partir de suas metodologias, busca evidenciar a construção de diferentes experiências do feminino e do masculino. Como afirma TILLY(1994:60), a história social enfatiza a possibilidade não apenas de descrever aspectos relacionados à história das mulheres, mas também interpretá-los e vincular seus resultados aos problemas atuais mais gerais. Seentendermosqueclasseéumelementocentralparaacompreensãodaorganizaçãosocial do trabalho nas sociedades capitalistas e que a classe se define a partir de experiências materiais e culturais, concluímos que o mundo do trabalho é, também, delimitado pelo gênero: A divisão sexual do trabalho não é apenas um efeito da repartição em áreas ou em sectores de actividade, é o princípio organizador da desigualdade face ao emprego: o “verdadeiro” trabalho está na mão dos homens, o “trabalho ao lado” é reservado às mulheres(LAGRAVE, 1991: 538). As análises do mercado de trabalho em anos recentes apontam para a convergência de alguns deslocamentos nesta divisão sexual do trabalho, sinalizando que há um crescimento da participação feminina em setores tradicionalmente masculinos. Contudo, tendemos a concordar com as pesquisas de Helena Hirata: ao analisar os contextos ocupacionais de diferentes países e continentes, a autora conclui que a hierarquia social do masculino e do feminino, que estabelece a inferioridade e a subordinação do segundo ao primeiro, está longe de se esgotar no âmbito do mercado de trabalho (HIRATA, 2002:25). Gênero e trabalho em Caxias do Sul: perfil da participação feminina nos últimos 20 anos Nos últimos vinte anos, Caxias do Sul assistiu a movimentos de retração e expansão da população ocupada no mercado formal de trabalho. A tabela 01 apresenta a quantidade total e a quantidade feminina de vínculos no mercado formal de trabalho por setor econômico no município no período que vai de 1990 à 2010 Pode-se observar na tabela 01 que a retração se concentrara ao longo da década de 1990, associada, possivelmente a uma conjuntura nacional favorável à desregulamentação do mercado de trabalho. Já, a partir do ano 2000 atingiu-se o número de 100 mil empregos e uma tendência de crescimento da formalidade.
  • 5. 1409 Tabela 01 – Quantidade de vínculos por setor econômico no município de Caxias do Sul no período de 1990 à 2010. Setor Econômico 1990 1992 1994 1996 1998 2000 2002 2004 2006 2008 2010 Extrativa mineral Total 31 32 23 29 38 52 32 36 57 77 106 Fem. 3 4 2 4 3 7 0 3 5 8 8 Indústria de transformação Total 45.479 39.675 44.891 40.387 42.704 48.618 51.887 61.949 66.993 79.086 85.426 Fem. 14.644 11.525 14.002 12.154 11.983 13.955 14.417 17.911 20.059 24.706 27.606 Serviços industriais de utilidade pública Total 176 199 684 126 7 11 27 41 354 2.731 2.905 Fem. 29 31 185 24 0 1 2 7 81 598 629 Construção Civil Total 864 1.137 2.330 3.355 3.050 3.611 3.570 3.272 3.653 4.224 5.412 Fem. 69 80 160 372 397 498 480 392 354 298 463 Comércio Total 10.384 9.735 11.152 11.693 12.534 14.116 16.178 17.757 19.447 22.346 25.781 Fem. 4.702 4.334 5.061 5.181 5.330 6.211 7.192 8.137 9.391 11.103 13.280 Serviços Total 17.569 17.320 17.367 21.006 24.749 27.895 30.885 32.961 37.543 41.154 44.060 Fem. 7.830 7.832 8.783 10.726 12.911 14.691 16.709 18.215 20.806 22.910 24.737 Administração Pública Total 4.506 5.542 5.886 6.561 4.795 5.161 5.369 5.733 5.312 5.671 6.010 Fem. 2.013 2.587 2.985 4.231 3.296 3.565 3.778 4.021 3.845 4.069 4.326 Agropecuária, extração vegetal, caça e pesca Total 1.054 1.194 1.466 3.269 1.041 1.363 1.578 1.532 1.635 1.694 1.772 Fem. 469 490 270 719 278 409 424 407 484 474 529 Total Total 82.180 78.685 83.799 86.426 88.918 100.827 109.526 123.281 134.994 156.983 171.472 Fem. 30.623 28.330 31.448 33.411 34.198 39.337 43.002 49.093 55.025 64.166 71.578 Fonte: MTE/PDET/RAIS - Tabulação: Observatório do Trabalho/UCS Observa-se, ainda na tabela 01, que ao longo de todo o período o setor da indústria de transformação foi o que mais gerou empregos formais, sendo responsável pela maioria dos vínculos de trabalho para as mulheres. No entanto, se considerarmos a proporção da participação feminina no total de vínculos, verifica-se uma maior representatividade na administração pública, serviços e comércio. A presença feminina decai quando se observam setores pouco robustos em termos de geração de empregos formais, tais como a agropecuária, a construção civil e o setor extrativo mineral. A figura 01 apresenta a variação na quantidade total e feminina de vínculos por setor econômico no município de Caxias do Sul nos anos de 1990 e 2010 tendo como base 100 o ano de 1990 e permite observar o comportamento dos empregos femininos em relação ao total de empregos.
  • 6. 1410 Figura 01 – Variação na quantidade total e feminina de vínculos por setor econômico no município de Caxias do Sul nos anos de 1990 e 2010. (base 100 = 1990) Extrativa mineral Indústria Servicos Ind. Util. Púb. Construção Civil Comércio Serviços Administração Pública Agropecuária (…) Total 0 500 1.000 1.500 2.000 2.500 342 188 1.651 626 248 251 133 168 209 267 189 2.169 671 282 316 215 113 234 TOTAL FEMININO Fonte: Tabela 01 Observa-se na figura 01 que em todos os setores a variação dos empregos totais foi positiva em relação ao ano de 1990. As mulheres tiveram uma variação acima do total em quase todos os setores econômicos, com exceção da agropecuária e do extrativo mineral. Destaca-se que o crescimento foi significativo em um novo setor econômico, o serviços industriais de utilidade pública, que ainda é pouco representativo com relação à quantidade de vínculos empregatícios ao longo deste período. Pode-se inferir a partir dos dados que houve um reenquadramento de ocupações que estavam alocadas em outros setores para este novo setor. Durante o espaço temporal da pesquisa, constata-se um aumento no grau de escolarização da força de trabalho caxiense, tanto de homens quanto de mulheres, fator que pode ser observado na Tabela 2 que apresenta a quantidade de vínculos por grau de instrução no município de Caxias do Sul no período de 1990 à 2010. Na década de 1990, o ensino fundamental incompleto, com 20.754 vínculos, apontava como a faixa de escolarização que mais concentrava vínculos empregatícios. Esse quadro começou a se alterar no final da década em questão
  • 7. 1411 Tabela 02 – Quantidade de vínculos por grau de instrução no município de Caxias do Sul no período de 1990 à 2010. Grau de instrução 1990 1992 1994 1996 1998 2000 2002 2004 2006 2008 2010 Analfabeto Total 2.150 2.139 2.952 1.432 1.417 979 680 300 212 223 245 Fem. 1.006 741 749 512 631 367 183 109 80 76 86 Fundamental Incompleto Total 40.552 37.823 38.095 38.966 34.221 33.186 28.042 26.013 23.722 24.403 23.446 Fem. 12.627 11.026 11.754 11.886 10.016 10.041 8.743 8.350 7.768 8.164 7.889 Ensino Fundamental Total 20.754 20.363 24.676 23.003 26.449 32.506 32.617 38.686 41.817 46.135 46.748 Fem. 8.086 7.493 9.418 8.834 9.568 11.419 11.477 12.910 13.920 15.545 15.692 Ensino Médio Total 12.820 12.621 14.157 15.289 18.074 24.842 34.059 43.682 54.288 69.003 81.311 Fem. 6.154 6.293 7.345 7.558 8.591 11.693 15.454 19.548 24.275 30.106 36.226 Ensino Superior Total 4.596 5.091 5.569 7.472 8.710 9.314 14.128 14.600 14.955 17.219 19.722 Fem. 2.193 2.644 3.008 4.524 5.375 5.817 7.145 8.176 8.982 10.275 11.685 Total Total 82.180 78.685 85.495 86.516 88.921 100.827 109.526 123.281 134.994 156.983 171.472 Fem. 30.623 28.330 32.289 33.438 34.199 39.337 43.002 49.093 55.025 64.166 71.578 Fonte: MTE/PDET/RAIS - Tabulação: Observatório do Trabalho/UCS Nota: A categoria Fundamental Incompleto inclui os trabalhadores que possuem o até 5ª Incompleto, 5ª Completo Fundamental e 6ª a 9ª Fundamental. A categoria Ensino Fundamental inclui os trabalhadores que possuem o fundamental completo e o médio incompleto. A categoria Ensino Médio inclui os trabalhadores que possuem o médio completo e o superior incompleto. No ano de 2002 já foi possível observar que o ensino médio completo, com 34.059 vínculos, passou a ocupar a primeira posição entre o nível de escolarização que mais concentrava trabalhadores e trabalhadoras, fato que sinaliza um processo de escolarização, que é uma base importante para a qualificação da força de trabalho. Pode-se inferir a partir dos dados apresentados um aumento nas exigências por escolarização para a mão de obra no mercado formal de trabalho no município. Chama a atenção, ainda, a presença majoritária das mulheres, desde os anos 1990, tanto no ensino médio quanto no ensino superior. Outro aspecto que pode ser evidenciado através dos dados é a queda da participação de analfabetos nos empregos formais, com uma tendência que se acentuou apenas no final dos anos 1990 e se manteve ao longo da décadaseguinte.Nooutroextremo,observou-se ummovimentocrescentedetrabalhadores com ensino superior completo, segmento no qual as mulheres aparecem como líderes ao longo de todo o período. Os dados sobre escolarização comungam com outras pesquisas realizadas no Brasil acerca da vantagem que as mulheres vem apresentando sobre os homens quanto ao requisito escolaridade. De acordo com Bruschini e Lombardi “a expansão da escolaridade, à qual as brasileiras vêm tendo cada vez mais acesso, é um
  • 8. 1412 dos fatores que mais tem causado impacto sobre o ingresso das mulheres no mercado de trabalho. (BRUSCHINI;LOMBARDI, 2007: 54). A escolarização mais elevada das mulheres constitui-se como um imperativo para o acesso ao mercado de trabalho formal. No entanto, como veremos adiante, nem sempre a vantagem escolar é convertida no acesso aos postos de trabalho mais qualificados. À medida em que se registram avanços na presença feminina no mercado formal, cabe observar como esta inserção ocorre em termos de jornada de trabalho. A quantidade de vínculos associados às modalidades de jornadas pode ser considerada outro indicativo para compreender se há uma distribuição diferenciada dos trabalhadores de acordo com o sexo. A tabela 03 apresenta a quantidade de vínculos por faixa de horas contratadas no município de Caxias do Sul no período de 1994 à 2010, desta forma pode-se verificar o total de vínculos existentes em cada faixa de jornada, bem como indicar o percentual de participação feminina. Tabela 03 – Quantidade de vínculos por faixa de horas contratadas no município de Caxias do Sul no período de 1994 à 2010. Faixa de Horas Contratadas 1994 1996 1998 2000 2002 2004 2006 2008 2010 Até 20 horas Total 1.893 4.283 4.811 4.889 5.898 5.940 6.989 7.273 8.069 Fem. 1.041 3.333 3.685 3.780 4.419 4.483 4.969 5.096 5.566 Part. Fem. 55% 78% 77% 77% 75% 75% 71% 70% 69% 21 a 30 horas Total 5.526 4.219 4.277 3.955 4.083 4.710 4.846 5.787 6.334 Fem. 3.962 2.568 2.669 2.500 2.574 2.826 2.954 3.361 3.569 Part. Fem. 72% 61% 62% 63% 63% 60% 61% 58% 56% 31 a 44 horas Total 77.937 77.947 79.789 91.983 99.545 112.631 123.159 143.923 157.069 Fem. 27.224 27.515 27.815 33.057 36.009 41.784 47.102 55.709 62.443 Part. Fem. 35% 35% 35% 36% 36% 37% 38% 39% 40% Total Total 85.495 86.516 88.921 100.827 109.526 123.281 134.994 156.983 171.472 Fem. 32.289 33.438 34.199 39.337 43.002 49.093 55.025 64.166 71.578 Part. Fem. 38% 39% 38% 39% 39% 40% 41% 41% 42% Fonte: MTE/PDET/RAIS - Tabulação: Observatório do Trabalho/UCS Ao longo de todos os anos analisados, a maioria dos vínculos empregatícios, tanto dehomensquantodemulheres, seconcentraramnasjornadasde31a44horas. Opercentual de participação feminina nesta faixa é inferior (entre 35 e 40%) se o comparamos com as faixas de até 20 horas (55 a 69%) ou de 21 a 30 horas (72 a 56%). Contudo, cabe observar que, em números absolutos, as jornadas mais extensas são as que concentram o maior número de trabalhadoras. Ainda dentro desta tabela, nota-se uma tendência à diminuição da participação feminina nos vínculos que perfazem 21 a 30 horas semanais. Os dados sobre jornada são importantes porque assinalam que há uma significativa paridade entre
  • 9. 1413 os sexos quando o assunto é quantidade de horas trabalhadas.Ao contrário do que afirma o senso comum, as mulheres, em sua maioria, não trabalham menos que os homens. Ainda, há que considerar que uma parcela dos vínculos empregatícios que possuem 30 horas ou menos semanais estão relacionados a ocupações que não excluem o acúmulo de mais de um vínculo de trabalho, a exemplo de profissões relacionadas à saúde e à educação, onde a presença feminina é superior. Além da jornada de trabalho, um interesse da pesquisa foi verificar a situação da remuneração média no mercado formal de trabalho ao longo do período analisado a fim de perceber possíveis alterações na diferença salarial auferida conforme o sexo, neste sentido foi elaborada a Tabela 04 que mostra a remuneração média em salários mínimos por sexo e total no município de Caxias do Sul no período de 1994 à 2010. Tabela 04 – Remuneração média em salários mínimos por sexo e total no município de Caxias do Sul no período de 1994 à 2010. 1994 1996 1998 2000 2002 2004 2006 2008 2010 Total 2,28 3,70 3,94 4,16 4,95 6,24 6,99 8,20 9,55 Feminino 1,83 3,08 3,28 3,53 4,22 5,20 5,85 6,68 7,91 Masculino 2,54 4,06 4,32 4,54 5,39 6,88 7,73 9,19 10,67 Feminino/Total -19,90% -16,74% -16,74% -15,15% -14,83% -16,57% -16,34% -18,51% -17,16% Feminino/Masculino -39,06% -31,81% -31,63% -28,42% -27,81% -32,11% -32,14% -37,57% -34,81% Fonte: MTE/PDET/RAIS - Tabulação: Observatório do Trabalho/UCS Os dados obtidos sinalizam que ao longo de todo o período houve uma permanência na diferença de média salarial recebida por homens e mulheres, favorável aos primeiros. Não é possível afirmar que haja uma tendência à queda dessa diferença. Por exemplo, no primeiro ano da mostra, o salário feminino apresentou uma diferença negativa de 39,06% em relação ao masculino. Essa diferença caiu ao longo dos anos seguintes, chegando, em 2002, ao patamar dos -27,81%. Contudo, nos anos posteriores a diferença voltou a crescer e em 2008 as mulheres voltaram a ostentar uma diferença negativa de mais de 35% em relação à remuneração masculina. Os resultados não surpreendem. Quando se analisam os rendimentos gerais da população brasileira os resultados têm sido semelhantes em diversas pesquisas: (...) Verifica-se que as mulheres continuaram a ganhar menos que os homens, independente do setor de atividade econômica em que trabalhavam, do número de horas de sua jornada de trabalho, do número de anos de estudo, de sua posição na ocupação, o que confirma, mais uma vez, o diferente valor atribuído aos trabalhos dos homens e das mulheres na sociedade.( BRUSCHINI;LOMBARDI, 2007: 84) O diferencial salarial entre os sexos só pode ser compreendido a partir do gênero.
  • 10. 1414 Em que pese a maior escolarização feminina, as jornadas de trabalho iguais e o ingresso em carreiras tradicionalmente masculinas, as trabalhadoras continuam a ostentar salários inferiores.Assim,aquestãosalarialéumaquestãodegênero.Somenteadiferençaatribuída ao masculino e o feminino explicam a permanência das disparidades na remuneração: as desigualdades nos rendimentos constituem um fator permanente de organização do mundo do trabalho. Os dados da pesquisa não indicam um cenário de mudança drástica na relação entre salários de homens e mulheres ao longo das duas décadas analisadas. A figura 02 auxilia na visualização das diferenças de rendimentos quando mostra a variação na remuneração média em salários mínimos por sexo e total no município de Caxias do Sul no período de 1994 à 2010, tendo como base 100, o ano de 1994. Figura 02 – Variação na remuneração média em salários mínimos por sexo e total no município de Caxias do Sul no período de 2010 (base 100 = 1994) 0,0 50,0 100,0 150,0 200,0 250,0 300,0 350,0 400,0 450,0 500,0 418,6 432,9 419,7 86,2 89,1 Total Feminino Masculino Feminino/Total Feminino/Masculino Fonte:Tabela 04 Verifica-se na figura 02 que no período analisado a remuneração total cresceu em 318,6% e a remuneração feminina cresceu em 332,9% e a masculina em 319,7%. Com a remuneração feminina crescendo no período mais que a remuneração total e a masculina observa-se uma queda de 13,8% na diferença sobre a remuneração o total e de 10,9% sobre a remuneração masculina. Pode-se também observar na figura 03, a variação na proporção da remuneração feminina média em salários mínimos sobre o rendimento total e masculino município de Caxias do Sul no período de 1994 à 2010 tendo como base 100 o ano de 1994, este movimento ao longo do tempo.
  • 11. 1415 Figura 03 – Variação na proporção da remuneração feminina média em salários minímos sobre o rendimento total e masculino município de Caxias do Sul no período de 1994 à 2010. (base 100 = 1994) 1994 1996 1998 2000 2002 2004 2006 2008 2010 -45% -40% -35% -30% -25% -20% -15% -10% -5% 0% -20% -17% -17% -15% -15% -17% -16% -19% -17% -39% -32% -32% -28% -28% -32% -32% -38% -35% Feminino/Total Feminino/Masculino Fonte: Tabela 04 A partir do gráfico observamos que a diferença salarial se mantém ao longo do período analisado, porém evidencia-se uma tendência fraca de diminuição nesta diferença. Será necessário um acompanhamento contínuo dos próximos anos para confirmar esta tendência. Finalizando, com o objetivo de verificar como o diferencial nos rendimentos femininos e masculinos se comporta em distintas ocupações foi organizada a tabela 5. Ela apresenta a remuneração média total e feminina por hora e diferença percentual entre remuneração feminina e masculina por subgrupos ocupacionais selecionados no município de Caxias do Sul no período de 2004 à 2010 com os valores corrigidos para julho de 2012.
  • 12. 1416 Tabela 05 – Remuneração média total e feminina por hora e diferença percentual entre a remuneração feminino e masculino por subgrupo ocupacional selecionados município de Caxias do Sul no período de 2004 à 2010. Valores corrigidos para julho de 2012. 2004 2006 2008 2010 Subgrupo Ocupacional Total Fem. Dif. Fem./ Masc. Total Fem. Dif. Fem./ Masc. Total Fem. Dif. Fem./ Masc. Total Fem. Dif. Fem./ Masc. 121 Diretores gerais 45,56 14,00 -73,9% 63,72 17,41 -76,1% 61,36 17,66 -76,0% 65,68 25,27 -65,5% 234 Professores do ensino superior 44,33 42,28 -9,2% 55,80 54,81 -3,4% 48,63 46,45 -8,8% 54,02 54,50 1,9% 123 Diretores de áreas de apoio 42,15 20,12 -58,4% 47,66 22,07 -60,6% 51,66 20,12 -67,2% 53,56 22,94 -65,0% 353 Técnicos de nível médio em operações financeiras 29,60 29,36 -1,6% 33,43 30,40 -17,9% 37,75 35,02 -20,0% 34,07 30,70 -23,2% 214 Engenheiros, arquitetos e afins 27,46 16,42 -42,5% 29,67 21,11 -31,6% 29,84 21,71 -30,0% 32,99 26,16 -23,1% 111 Membros superiores do poder legislativo, executivo e judiciário 20,74 22,34 23,5% 24,33 26,33 24,8% 25,50 28,00 30,2% 27,28 29,64 26,4% 519 Outros trabalhadores de serviços diversos 4,07 3,33 -20,6% 4,75 4,19 -14,5% 4,84 4,50 -8,7% 4,98 4,17 -20,8% 516 Trabalhadores nos serviços de embelezamento e cuidados pessoais 4,49 4,29 -15,5% 5,27 4,89 -25,9% 5,01 4,60 -32,8% 4,64 4,29 -28,3% 622 Trabalhadores agrícolas 3,49 3,09 -14,0% 4,10 3,50 -18,0% 4,23 3,70 -15,6% 4,34 3,80 -15,7% 513 Trabalhadores dos serviços de hotelaria e alimentação 3,58 3,41 76,9% 3,89 3,69 79,0% 3,71 3,54 81,8% 4,20 4,00 79,6% 621 Trabalhadores na exploração agropecuária em geral 3,36 3,04 -12,1% 3,79 3,66 -4,2% 3,98 3,55 -14,2% 4,18 3,70 -15,5% 717 Ajudantes de obras 3,97 5,03 27,8% 3,84 3,10 -26,7% 3,56 2,77 -29,9% 4,06 3,11 -27,9% Total 8,87 7,40 -24,3% 9,84 8,23 -24,3% 9,74 7,94 -27,3% 10,43 8,64 -25,8% Fonte: MTE/PDET/RAIS - Tabulação: Observatório do Trabalho/UCS Verifica-se na tabela 05 que as ocupações que tradicionalmente são associadas à cultura masculina (diretores gerais, arquitetos e engenheiros, bem como ajudantes de obras) apresentam as maiores diferenças salariais. Evidencia-se que a qualificação da trabalhadora não é um fator essencial para garantir equidade na remuneração. Aspectos históricos (tardio ingresso das mulheres em determinadas profissões) e culturais (suposta inaptidão feminina para profissões que exijam capacidade de liderança ou uso da força
  • 13. 1417 física) se associam para tornar a desigualdade salarial entre os sexos um elemento natural dentro da organização do mundo do trabalho. Todavia, quando se trata de ocupações que possuem ingresso através de concurso público, as mulheres tendem a apresentar não apenas equidade salarial como vantagem em relação aos homens. É o caso da CBO 111 - Membros superiores do poder legislativo, executivo e judiciário, onde os rendimentos femininos foram, ao longo de todo o período analisado, superiores ao total. Considerações finais: Nas últimas décadas o mercado de trabalho formal de Caxias do Sul seguiu a tendência de expansão nacional. Contudo, esse aumento da empregabilidade formal foi acompanhado por uma mobilidade em direção às faixas salariais menos robustas, o que ocorreu tanto para as mulheres quanto para os homens. Paradoxalmente, os ocupados passaram a ostentar maior escolarização. Nesta relação, as mulheres obtiveram maior decréscimo em seus ganhos do que homens, mesmo apresentando, ao longo de todo o período, um predomínio no ensino médio completo e no ensino superior completo. Assim, o crescimento proporcionalmente maior de empregos para mulheres no mercado formal foi igualmente acompanhado de uma expansão de trabalhadoras vinculadas a faixas salariais com remuneração entre 1,01 a 2 salários mínimos. A força de trabalho feminina se concentrou nas jornadas laborais acima de 30 horas semanais. As extensas jornadas podem ser explicadas pelo fato de que a maioria das mulheres estão ocupadas no setor da Indústria. Porém, ao observar o percentual de participação, constata-se que a Administração Pública é o setor que apresenta a maior proporção feminina (cerca de 70%). Cabe destacar que no setor Indústria, a participação feminina em cargos de gerência e direção é inferior à participação geral. Em Caxias do Sul novas e antigas formas de segregação estão combinadas, denotando que as relações de gênero são fundamentais para a compreensão da dinâmica do mercado de trabalho. As transformações tecnológicas e produtivas remodelaram os discursos sobre qualidade e “competências”. A escolarização passou a ser o requisito básico de acesso ao mercado de trabalho formal. No entanto, as exigências para homens e mulheres não parecem ser as mesmas. O mercado formal aquilata diferentemente qualificação e escolarização. Para as mulheres, qualificação e competência estão associadas a características consideradas “positivas” mas que são pouco valorizadas em termos de remuneração, tais como: a concentração, a capacidade de exercer múltiplas funções, a disciplina, a organização. Conclui-se que ao longo das duas décadas houve um incremento da inserção da força de trabalho feminina, as suas jornadas laborais se tornaram mais extensas e as remunerações,
  • 14. 1418 em média são 25 a 45% inferiores daquelas auferidas pelos trabalhadores homens. A força-de-trabalho - tanto masculina quanto feminina – prepondera em setores que tradicionalmente são associados aos papéis sociais dos dois sexos. Como resultado, constatamos que, apesar de alguns deslocamentos, o mundo do trabalho permanece organizado a partir de fronteiras de gênero. Referências: BOURDIEU, P. A dominação masculina. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2009. BRUSCHINI, C; LOMBARDI, M. R. Trabalho, educação e rendimentos das mulheres no Brasil em anos recentes. In: HIRATA, H. SEGNINI, L.(org). Organização, trabalho e gênero. São Paulo: Ed. Senac, 2002. GRENIER, Jean-Yves. A História quantitativa ainda é necessária? In: BOUTIER, j. JULIA, D. Passados recompostos: campos e canteiros da história. Rio de Janeiro: UFRJ, 1998 HIRATA, H. SEGNINI, L.(org). Organização, trabalho e gênero. São Paulo: Ed. Senac, 2002. LAGRAVE, Rose Marie. Uma emancipação sob tutela. Educação e trabalho das mulheres no século XX. In: DUBY, G. PERROT, M. História das Mulheres no Ocidente. Porto: Afrontamento, 1991. SCOTT, Joan. Prefácio a Gender and Politics of History. Cadernos Pagu(3), Núcleo de Estudos de Gênero/Unicamp, São Paulo, 1994. THOMPSON, E. P. Tempo, disciplina de trabalho e capitalismo industrial. IN:________ Costumes em Comum: estudos sobre a cultura popular tradicional. São Paulo: Companhia das Letras, 1998. THOMPSON, Edward. P. A Formação da Classe Operária Inglesa. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987. TILLY, Louise. Gênero, História das Mulheres e História Social. Cadernos Pagu(3), Núcleo de Estudos de Gênero/UNICAMP, São Paulo, 1994.