Neurociência para profissionais de marketing aula 2 - emoção e motivação
Quatro passos para seu negócio
1. Vida empreendedores
Edson Bueno,
fundador da Amil, rede
de serviços de saúde
com 25 mil funcionários
Quatro passos
“Ter uma inspiração e
estudar muito é um bom
começo. Minha motivação
iniciou-se com a admiração
para seu negócio
por um médico no interior.
Mas o empreendedor
precisa de duas coisas: ver
problemas que quer corrigir
e conseguir empolgar outras
Planeje, melhore, execute e envolva pessoas. pessoas com sua visão ”
Como grandes e pequenos empresários lidam com
as etapas fundamentais para fazer bem feito
Marcos Coronato
N
os anos 1960, o garoto Edson, inibe a vontade de abrir o negócio pró-
em Guarantã, interior de São prio, ou ao longo do percurso, quando
Paulo, tinha um ídolo: Moacir, a lida diária com burocracia, contas e
o médico da cidade. Hoje, cinco décadas pequenos problemas impede o em-
depois, o empresário Edson de Godoy preendedor de se concentrar no que
Bueno comanda a Amil, uma rede de importa: fazer a empresa melhorar e
serviços médicos que fatura mais de R$ 9 crescer. “O dia a dia do negócio tende a
bilhões por ano. O que aconteceu en- matar a criatividade típica do brasilei-
tre um momento e outro é o ciclo mais ro, a fazê-lo deixar de planejar e pensar
fundamental (e talvez o menos com- no longo prazo”, diz o economista Erik
preendido) para o enriquecimento de Camarano, diretor-presidente do Mo-
uma sociedade. Ele começa com uma vimento Brasil Competitivo (MBC).
vontade, passa pelo Como um dos res-
amadurecimento de ponsáveis pelo Prê-
uma ideia e resulta O que determina o mio MPE Brasil, o Billy
numa empresa. Se sucesso do negócio MBC avaliou mais Nascimento e
Ana Carolina
ela for bem-suce- não é a sacada genial, de 400 mil peque- de Souza,
dida, florescerá ao e sim a capacidade de nas e microempre- fundadores da
redor de seus funda- sas na última déca- Forebrain, criada
melhorar o tempo todo da, 33 mil apenas em 2011
dores e atrairá novos
sócios, investidores em 2011. Com base
1 planeje
doutores em neurologia, seguiram esse rando empreendedores, e em conversas
e funcionários. Essa mesma lógica se nessa experiência, Camarano percebeu De onde vêm último caminho. Tornaram-se referên- com a equipe da incubadora de empre-
aplica tanto a uma padaria quanto a uma que a principal característica dos negó- as boas ideias? cia na área com trabalhos importantes
O negócio
sas da Coppe/UFRJ. No ano passado,
companhia multinacional. Na cabeça de cios bem-sucedidos não é uma sacada sobre o efeito nos fumantes das imagens Mapear a reação cerebral criaram a Forebrain, empresa que ajuda
Bueno, é bem clara a linha contínua en- genial, e sim a capacidade de manter a
tre a inspiração de garoto e seu trabalho visão estratégica no futuro e de se con-
atual. Muitos empreendedores, porém, centrar em melhorar, pouco a pouco, o
A o abrir um negócio próprio, inovar
é ótimo, mas não fundamental.
Fundamental é pensar, pesquisar e ouvir
em maços de cigarros e o nível de estresse
nos soldados brasileiros nas tropas de
paz no Haiti. Queriam aplicar a ciência
das pessoas diante
de um produto
ou imagem
companhias a entender como o cérebro
das pessoas reage diante de um produ-
to, imagem ou interface. A falta de uma
perdem-se em algum ponto da trajetó- tempo todo. Como manter esse rumo, antes de fazer, para achar uma vanta- a um negócio, mas tinham apenas uma ideia não deve intimidar ninguém.
ria – por isso, três quartos dos pequenos ao longo de toda a trajetória? ÉPOCA gem: um ótimo ponto, um jeito melhor vaga ideia de como fazer isso. “Não sabía- A dúvida A consultora Filomena Garcia calcula
São especialistas
negócios criados no país não chegam ao ouviu especialistas, grandes e pequenos de vender, uma forma de baratear – ou mos como transformar o conhecimento
numa área interessante,
que um quinto das franquias – ideias
quinto ano de vida. empresários, e destilou esse percurso de transformar conhecimento num numa empresa”, diz Nascimento. A ideia mas não sabiam bem que já testadas – no Brasil exige investi-
O desvio pode surgir logo no iní- em quatro desafios que o novo negócio serviço que possa ser vendido. Billy de negócio tomou forma em congressos, negócio abrir mento inicial ao alcance da classe
cio, quando a falta de uma grande ideia deve superar para se dar bem. Nascimento e Ana Carolina de Souza, onde encontraram colegas cientistas vi- média, entre R$ 50 mil e R$ 150 mil.
92 > época , 2 de julho de 2012 Foto: Guillermo Giansanti/ÉPOCA 2 de julho de 2012, época > 93
2. Vida empreendedores
3 execute
Da teoria à prática
P assava das 4 horas da madruga-
da de 24 de dezembro de 2011
quando João Paulo Sattamini tomou
um gole da bebida energética que
vinha aprimorando desde 2009. Pela
primeira vez, ficou plenamente satis- Karina
feito. A bebida chegou ao mercado Barrella e
Fernando Patrícia
Canuto, em abril. Entre escrever um bom Garrafa
fundador do plano de negócios e chegar ao produ- fundaram
Bougue, criado to que imaginava, Sattamini penou. a Nerthus
em 2012 em abril
“Estudei, contratei engenheiros quí-
micos, troquei de fábrica duas vezes,
vendi imóvel. Meu carro virou latinha. O negócio
O negócio
Oferecer, pela
Em dezembro, quase perdi 20.000 Avaliar se
internet, um litros por uma mistura que come- o resíduo de
cardápio de çou errada”, diz. O roteiro sofrido é tratamento de
opções a quem esgoto pode virar
familiar à maioria dos empreendedo- fertilizante sem
contrata serviços
domésticos res e tem uma mensagem poderosa: oferecer risco
um plano bom com execução ruim
A dúvida A dúvida
não é nada. Hélio Rotenberg, criador
É uma grande Quem
da Positivo Informática, sugere um participará
ideia. Mas o
negócio pagará roteiro para a boa execução: 1) medir da empresa?
minhas contas? a dificuldade e o impacto da ideia; 2)
4 envolva
2 melhore
fazer avaliações periódicas da execu-
ção; 3) fazer, testar, corrigir – perma- Quem vai subir a bordo?
Alguém vai pagar? nentemente. Empreender é isso.
O empreendedor que amadurece
uma ideia corre o risco de apegar-se
N erthus é o nome de uma deu-
sa anglo-saxã da fertilidade. É
também o nome do empreendimento
Guilherme Paulus,
demais a ela. “O empresário novato e es- das cientistas Patrícia Garrafa e Kari- fundador da empresa de
Edna Onodera,
pecialista num assunto costuma chegar na Barrella, em desenvolvimento na turismo CVC, que atende
criadora da Onodera,
ao mercado com um prato feito. Ele preci- rede com 54 clínicas incubadora de negócios da USP, o 3 milhões de brasileiros por ano
sa se preparar para adaptar esse prato ao de beleza em 11 Estados Cietec. As duas se conheceram em 2002
“Aceitar um sócio exige pesquisa,
gosto do freguês, quando necessário”, diz e perceberam uma oportunidade de aproximação e conquista. Na fundação da
Sérgio Risola, diretor do Cietec, incubado- “Tive primeiro uma academia com aulas negócio em 2005: uma nova regulamen- CVC, em 1972, entrei com a experiência, e
de dança, depois me concentrei nos
ra de empresas da Universidade de São tação passou a exigir avaliação rigorosa meu sócio com o capital. Em 2009, aceitei
tratamentos estéticos. Ia aos prédios
como sócio um fundo de investimento, que
Paulo (USP), berço de 104 novos negó- conquistar alunos, fazia chá da tarde com do lodo resultante de tratamentos de trouxe conhecimento e acesso a recursos ”
clientes. Soube o que as pessoas queriam
cios desde 2002. Só assim os clientes se esgoto, antes que ele pudesse ser usado
porque corri atrás delas para perguntar ”
disporão a pagar. O empresário Fernando como fertilizante. As amigas passaram
Canuto vem preparando esse prato três anos separadas, pelo rumo das um único critério – afinidade pessoal ou
desde 2009. Ele quer facilitar o encontro academia de ginástica. Aprendeu a obser- carreiras acadêmicas. Nesse meio-tempo, dinheiro. “A escolha é mais complicada
de profissionais que prestam pequenos var, a cada momento, o que empolga os Patrícia tentou começar o negócio com que isso. O sócio precisa complementá-
serviços de limpeza e manutenção com potenciais consumidores e a abandonar outra sócia. Era uma boa companheira e lo, saber fazer o que você não sabe ou ter
famílias e empresas que querem contra- alguns negócios. A consultora americana cientista competente, mas não funcio- o que você não tem”, diz Sílvio Aparecido
tar esses serviços. Em setembro de 2011, Julianne Zimmerman, ex-engenheira nou. “Quando fomos disputar uma vaga dos Santos, professor da FEA-USP. “E não
João Paulo Sattamini,
o site de Canuto, o Bougue, começou a espacial que lidou por anos com as criador do energético Organique, na incubadora, ela começou a achar pode ser alguém que caia fora na primei-
criar uma comunidade em torno do tema indefinições da Nasa e do programa lançado em abril que era responsabilidade demais abrir e ra crise.” Guilherme Paulus, fundador da
e a conhecer melhor os clientes. Só em ju- espacial russo, recomenda abordagens administrar uma empresa”, diz Patrícia. CVC, celebra hoje a boa escolha de dois
lho deste ano passará a cobrar por alguns diretas; pergunte ao potencial cliente se Karina voltou ao negócio após uma sócios ao longo da vida. Ao avaliar as
serviços. Ele está no começo da trilha por ele pagaria pelo serviço, quanto, com O negócio A dúvida temporada nos Estados Unidos. Atritos necessidades que tem, o empreendedor
onde já passou Edna Onodera, dona da que frequência. “Você pode ficar desa- Vender uma No papel, o entre sócios estão entre as três principais saberá se precisa mesmo de um sócio, de
bebida energética negócio era ótimo.
maior franquia de clínicas estéticas do pontado com as respostas, mas essa causas de falha das empresas no Cietec, um funcionário – ou apenas de dinheiro.
orgânica à base Como garantir que
país. Ela empreende desde adolescente informação é muito valiosa. E lembre: os de erva-mate, a execução segundo Risola. Muitos pequenos em-
– vendeu doces, reformou móveis e teve clientes mudarão com o tempo”, afirma. guaraná e açaí siga o planejado? presários tropeçam nesse ponto por usar Com Rafael Ciscati e Daniella Cornachione
94 > época , 2 de julho de 2012 Fotos: Rogério Cassimiro/ÉPOCA, Leticia Moreira/ÉPOCA, 2 de julho de 2012, época > 95
Filipe Redondo/ÉPOCA, Julio Bittencourt e Camila Fontana/ÉPOCA