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Edição em 92 tópicos da versão preliminar integral do livro de Augusto de
Franco (2011), FLUZZ: Vida humana e convivência social nos novos mundos
altamente conectados do terceiro milênio




                             49
           (Corresponde ao décimo-terceiro tópico do Capítulo 7,
              intitulado Alterando a estrutura das sociosferas)




                            Não-partidos

Redes de interação política (pública) exercitando a democracia local na base
da sociedade e no cotidiano dos cidadãos

Nada deve impedir que pessoas se associem livremente para fazer política
pública. Se houver algo impedindo isso, então estamos em uma autocracia
ou em uma democracia formal de baixa intensidade, fortemente perturbada
pela presença de instituições hierárquicas que deformam o campo social.
Partidos são, obviamente, uma dessas instituições, conquanto não consigam
– na vigência de regimes democráticos formais – impedir totalmente que as
pessoas exerçam a política; não, pelo menos, nos âmbitos de suas redes de
relacionamento, nos círculos com graus de separação mais baixos.
Dentro de certos limites – impostos pelo grau de autocratização das
democracias realmente existentes na atualidade – é possível democratizar a
política na base da sociedade, inventando e experimentando novas formas
de interação política realmente inovadoras. Nas autocracias isso não é
possível, razão pela qual as democracias formais – com suas conhecidas
mazelas e limitações – são infinitamente preferíveis a todas as formas de
regimes autoritários, por mais que se lhes tentem louvar as supostas
virtudes sociais. Essa nova política possível, entretanto, será
necessariamente uma política pública, não de grupos privados de interesses
– ou não será de fato nova. Se tentarmos reeditar a disputa adversarial de
interesses de grupos privados, decairemos fatalmente na velha política
(36).

O simples fato de algumas pessoas já terem desistido dos partidos e
arregaçado as mangas para fazer o que acham que deve ser feito em suas
localidades – articulando redes de interação política (pública) e exercitando
a democracia local na base da sociedade e no cotidiano dos cidadãos – já é
um sinal de que a dinâmica da sociosfera (em que convivem) está sendo
alterada.

Nos Highly Connected Worlds as pessoas (que quiserem) poderão constituir
não-partidos, comunidades políticas para tratar dos seus assuntos comuns,
regulando seus conflitos de modo cada vez mais democrático ou
pluriarquico. Isso significa que evitarão modos de regulação de conflitos que
produzam artificialmente escassez (como a votação, a construção
administrada de consenso, o rodízio e, até mesmo, o sorteio), guiando-se –
cada vez mais – pela “lógica da abundância”. É claro que isso só se aplica
em redes mais distribuídas do que centralizadas e na medida do grau de
distribuição e conectividade (quer dizer, de interatividade) dessas redes.

Dizendo a mesma coisa de outra maneira: se você não produz
artificialmente escassez quando se põe a regular qualquer conflito, produz
rede (distribuída); do contrário, produz hierarquia (centralização).

Os problemas que se estabelecem a partir de divergências de opinião são –
em grande parte – introduzidos artificialmente pelo modo-de-regulação. E
somente em estruturas hierárquicas tais problemas costumam se agigantar
a ponto de gerar conflitos realmente graves, capazes de ameaçar a
convivência. Porque nessas estruturas o que está em jogo não é a
funcionalidade do organismo coletivo e sim o poder de mandar nos outros,
quer dizer, a capacidade de exigir obediência ou de comandar e controlar os
semelhantes.




                                     2
Quanto mais distribuída for uma rede, mais a regulação que nela se
estabelece pode ser pluriarquica. Uma pessoa propõe uma coisa. Ótimo.
Aderirão a essa proposta os que concordarem com ela. E os que não
concordarem? Ora, os que não concordarem não devem aderir. E sempre
podem propor outra coisa. Os que concordarem com essa outra coisa
aderirão a ela. E assim por diante.

Em redes distribuídas nunca se admite a votação como método de regular
majoritariamente qualquer dilema da ação coletiva. E quando houver
discordâncias de opiniões, como faremos? Ora, não faremos nada! Por que
deveríamos fazer alguma coisa? Viva a diversidade! Se você estabelece a
prevalência de qualquer coisa a partir da votação (ou de outros mecanismos
semelhantes de regulação de conflitos), cai em uma armadilha
centralizadora ou hierarquizante. Produz “de graça” escassez onde não
havia.

Vamos imaginar que exista alguém que não esteja muito contente com a
maneira como as coisas estão acontecendo em uma comunidade. O que
essa pessoa pode fazer, além de externar sua opinião e colocá-la em
debate? Ora, no limite, essa pessoa descontente pode configurar uma nova
rede, se inserir em outra comunidade, ir conviver em outro mundo. Como
os mundos são múltiplos, ela não está mais aprisionada e não precisa ficar
constrangida a permanecer no mesmo emaranhado onde não se sente
confortável.

Evidentemente a pluriarquia não pode ser adotada em organizações
centralizadas, erigidas no contra-fluzz, como as escolas, as igrejas, os
partidos e as corporações. Com mais razão ainda não pode vigir nos
Estados e seus aparatos, que – mais do que organizações hierárquicas –
são troncos geradores de programas centralizadores.

A despeito disso, porém, não-partidos tendem a florescer nos mundos
altamente conectados que estão emergindo. Ignorando solenemente as
restritivas disposições estatais e as crenças religiosas (sim, religiosas,
mesmo quando travestidas de científicas) em uma suposta competitividade
inerente ao ser humano difundidas pelas escolas e academias, pessoas vão
se conectando voluntariamente com pessoas para tratar cooperativamente
de seus assuntos comuns em todos os lugares, sobretudo nas vizinhanças –
conjuntos habitacionais, ruas, bairros – e nas comunidades de prática, de
aprendizagem e de projeto que se formam nas cidades inovadoras que não
querem mais permanecer eternamente na condição de instâncias
subordinadas ao Estado-nação.




                                    3
Nota

(36) É por isso que têm se revelado vãs todas as tentativas de fundar um novo
partido para reformar a política, a partir de novas idéias e, supostamente, da
inauguração de novas práticas. Em pouquíssimo tempo esse novo partido será
capturado pelo oligopólio dos velhos partidos e se comportará como eles. Quando
não há má intenção (e tudo então não passa de pretexto para construir uma nova
caciquia ou para legalizar uma nova quadrilha para assaltar o público), parece
evidente que há falta de inteligência mesmo nos que vivem insistindo em percorrer
essa via.




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  • 1. Em pílulas Edição em 92 tópicos da versão preliminar integral do livro de Augusto de Franco (2011), FLUZZ: Vida humana e convivência social nos novos mundos altamente conectados do terceiro milênio 49 (Corresponde ao décimo-terceiro tópico do Capítulo 7, intitulado Alterando a estrutura das sociosferas) Não-partidos Redes de interação política (pública) exercitando a democracia local na base da sociedade e no cotidiano dos cidadãos Nada deve impedir que pessoas se associem livremente para fazer política pública. Se houver algo impedindo isso, então estamos em uma autocracia ou em uma democracia formal de baixa intensidade, fortemente perturbada pela presença de instituições hierárquicas que deformam o campo social. Partidos são, obviamente, uma dessas instituições, conquanto não consigam – na vigência de regimes democráticos formais – impedir totalmente que as pessoas exerçam a política; não, pelo menos, nos âmbitos de suas redes de relacionamento, nos círculos com graus de separação mais baixos.
  • 2. Dentro de certos limites – impostos pelo grau de autocratização das democracias realmente existentes na atualidade – é possível democratizar a política na base da sociedade, inventando e experimentando novas formas de interação política realmente inovadoras. Nas autocracias isso não é possível, razão pela qual as democracias formais – com suas conhecidas mazelas e limitações – são infinitamente preferíveis a todas as formas de regimes autoritários, por mais que se lhes tentem louvar as supostas virtudes sociais. Essa nova política possível, entretanto, será necessariamente uma política pública, não de grupos privados de interesses – ou não será de fato nova. Se tentarmos reeditar a disputa adversarial de interesses de grupos privados, decairemos fatalmente na velha política (36). O simples fato de algumas pessoas já terem desistido dos partidos e arregaçado as mangas para fazer o que acham que deve ser feito em suas localidades – articulando redes de interação política (pública) e exercitando a democracia local na base da sociedade e no cotidiano dos cidadãos – já é um sinal de que a dinâmica da sociosfera (em que convivem) está sendo alterada. Nos Highly Connected Worlds as pessoas (que quiserem) poderão constituir não-partidos, comunidades políticas para tratar dos seus assuntos comuns, regulando seus conflitos de modo cada vez mais democrático ou pluriarquico. Isso significa que evitarão modos de regulação de conflitos que produzam artificialmente escassez (como a votação, a construção administrada de consenso, o rodízio e, até mesmo, o sorteio), guiando-se – cada vez mais – pela “lógica da abundância”. É claro que isso só se aplica em redes mais distribuídas do que centralizadas e na medida do grau de distribuição e conectividade (quer dizer, de interatividade) dessas redes. Dizendo a mesma coisa de outra maneira: se você não produz artificialmente escassez quando se põe a regular qualquer conflito, produz rede (distribuída); do contrário, produz hierarquia (centralização). Os problemas que se estabelecem a partir de divergências de opinião são – em grande parte – introduzidos artificialmente pelo modo-de-regulação. E somente em estruturas hierárquicas tais problemas costumam se agigantar a ponto de gerar conflitos realmente graves, capazes de ameaçar a convivência. Porque nessas estruturas o que está em jogo não é a funcionalidade do organismo coletivo e sim o poder de mandar nos outros, quer dizer, a capacidade de exigir obediência ou de comandar e controlar os semelhantes. 2
  • 3. Quanto mais distribuída for uma rede, mais a regulação que nela se estabelece pode ser pluriarquica. Uma pessoa propõe uma coisa. Ótimo. Aderirão a essa proposta os que concordarem com ela. E os que não concordarem? Ora, os que não concordarem não devem aderir. E sempre podem propor outra coisa. Os que concordarem com essa outra coisa aderirão a ela. E assim por diante. Em redes distribuídas nunca se admite a votação como método de regular majoritariamente qualquer dilema da ação coletiva. E quando houver discordâncias de opiniões, como faremos? Ora, não faremos nada! Por que deveríamos fazer alguma coisa? Viva a diversidade! Se você estabelece a prevalência de qualquer coisa a partir da votação (ou de outros mecanismos semelhantes de regulação de conflitos), cai em uma armadilha centralizadora ou hierarquizante. Produz “de graça” escassez onde não havia. Vamos imaginar que exista alguém que não esteja muito contente com a maneira como as coisas estão acontecendo em uma comunidade. O que essa pessoa pode fazer, além de externar sua opinião e colocá-la em debate? Ora, no limite, essa pessoa descontente pode configurar uma nova rede, se inserir em outra comunidade, ir conviver em outro mundo. Como os mundos são múltiplos, ela não está mais aprisionada e não precisa ficar constrangida a permanecer no mesmo emaranhado onde não se sente confortável. Evidentemente a pluriarquia não pode ser adotada em organizações centralizadas, erigidas no contra-fluzz, como as escolas, as igrejas, os partidos e as corporações. Com mais razão ainda não pode vigir nos Estados e seus aparatos, que – mais do que organizações hierárquicas – são troncos geradores de programas centralizadores. A despeito disso, porém, não-partidos tendem a florescer nos mundos altamente conectados que estão emergindo. Ignorando solenemente as restritivas disposições estatais e as crenças religiosas (sim, religiosas, mesmo quando travestidas de científicas) em uma suposta competitividade inerente ao ser humano difundidas pelas escolas e academias, pessoas vão se conectando voluntariamente com pessoas para tratar cooperativamente de seus assuntos comuns em todos os lugares, sobretudo nas vizinhanças – conjuntos habitacionais, ruas, bairros – e nas comunidades de prática, de aprendizagem e de projeto que se formam nas cidades inovadoras que não querem mais permanecer eternamente na condição de instâncias subordinadas ao Estado-nação. 3
  • 4. Nota (36) É por isso que têm se revelado vãs todas as tentativas de fundar um novo partido para reformar a política, a partir de novas idéias e, supostamente, da inauguração de novas práticas. Em pouquíssimo tempo esse novo partido será capturado pelo oligopólio dos velhos partidos e se comportará como eles. Quando não há má intenção (e tudo então não passa de pretexto para construir uma nova caciquia ou para legalizar uma nova quadrilha para assaltar o público), parece evidente que há falta de inteligência mesmo nos que vivem insistindo em percorrer essa via. 4