3. A Lavoura
A Lavoura
ANO 114 - NO 687
DIRETOR RESPONSÁVEL
Antonio Mello Alvarenga Neto
PESQUISA
Raça bovina americana é foco de
EDITORA melhoramento pela Embrapa
Cristina Baran
editoria@sna.agr.br
O senepol é uma raça adaptada
ENDEREÇO
Av. General Justo, 171 - 7º andar
20021-130 - Rio de Janeiro - RJ
ao calor, fértil e sua carne
é de boa qualidade 38
Tel.: (21) 3231-6350
Fax: (21) 2240-4189 HORTICULTURA
ENDEREÇO ELETRÔNICO
Tomate: produção integrada com milho
www.sna.agr.br
ganha força
e-mails: alavoura@sna.agr.br Um novo aumento da produção de
redacao.alavoura@sna.agr.br
tomate poderá ocorrer em 2012
DIAGRAMAÇÃO / EDITORAÇÃO ELETRÔNICA nas propriedades onde o
Paulo Américo Magalhães
Tel: (21) 2580-1235 / 8126-5837
e-
mail:pm5propaganda@terra.com.br
cultivo é alternado com
o plantio de grãos 40
IMPRESSÃO: LEITE
Central Indústria Gráfica Novos desafios da produção leiteira
Tel.: (32) 3215-8988 O mercado leiteiro é um setor de
www.centralindustriagrafica.com.br
grande impacto no agronegócio
COLABORADORES DESTA EDIÇÃO: com uma produção média
Aguinaldo José de Lima
Ana Carolina Miotto
Antonio Mello Alvarenga Neto
Carla Gomes
estimada de 32 bilhões
para 2011 49
Daniela Miyasaka S. Cassol
Eduardo Pinho Rodrigues
Eliana Cezar Silveira
Fernanda Domiciano
VINICULTURA
Gabriela Afonso Prado
Gastão Crocco
Vinhos, tradição e modernidade 14
Ibsen de Gusmão Câmara
Ivani Cunha ALGODÃO
Isabella Vincoletto
Jacira Collaço Avanços e recordes do algodão
João Eugênio
Juliana Caldas
no Brasil 21
Liliane Castelões
Luís Alexandre Louzada VITICULTURA
Marcos Esteves Produção integrada de uva: maior valor
Paulo Sader
Pietro Massari agregado no processamento
Regina Flores
Renato Ponzio
à cadeia vitivinícola 29
Ronaldo Spirlandelli
Samar Velho da silveira VITICULTURA SNA 114 ANOS 06
Sérgio de Marco
Silvia Palhares Cultivo protegido de uva aumenta
Sophia Gebrim produtividade em 100% 35 PANORAMA 10
É proibida a reprodução parcial ou total de
qualquer forma, incluindo os meios
eletrônicos, sem prévia
SILAGEM SOCIEDADE RURAL
autorização do editor. É tempo de pensar na silagem 44
ISSN 0023-9135 BRASILEIRA - SRB 22
Os artigos assinados são de responsa- COOPERATIVISMO
bilidade exclusiva de seus autores, não
traduzindo necessariamente a opinião
Exportações das cooperativas crescem SOBRAPA 25
da revista A Lavoura e/ou da Socie-
dade Nacional de Agricultura
34,6% entre janeiro e outubro 46
BIOTECNOLOGIA 34
Capa: Uva da variedade grenache,
DESENVOLVIMENTO
da fazenda vinícola “La Vieille Ferme”,
em Vinsobres, Provence, França, AGRÍCOLA ANIMAIS DE ESTIMAÇÃO 42
de propriedade da Família Perrin As Câmaras Setoriais e Temáticas
Foto de Cristina Baran
editoria@sna.agr.br do Ministério da Agricultura 54 EMPRESAS 48
A Lavoura DEZEMBRO/2011 3
4. DIRETORIA EXECUTIVA DIRETORIA TÉCNICA COMISSÃO FISCAL
ALBERTO WERNECK DE FIGUEIREDO MARCIO SETTE FORTES DE ALMEIDA CLAUDINE BICHARA DE OLIVEIRA
ANTONIO MELLO ALVARENGA NETO PRESIDENTE ANTONIO FREITAS MARIA HELENA FURTADO MARIA CECÍLIA LADEIRA DE ALMEIDA
ALMIRANTE IBSEN DE GUSMÃO CÂMARA 1O VICE-PRESIDENTE
CLAUDIO CAIADO MAURO REZENDE LOPES PLÁCIDO MARCHON LEÃO
OSANÁ SÓCRATES DE ARAÚJO ALMEIDA 2O VICE-PRESIDENTE
JOHN RICHARD LEWIS THOMPSON PAULO PROTÁSIO ROBERTO PARAÍSO ROCHA
JOEL NAEGELE 3O VICE-PRESIDENTE
FERNANDO PIMENTEL ROBERTO FERREIRA S. PINTO RUI OTAVIO ANDRADE
TITO BRUNO BANDEIRA RYFF 4O VICE-PRESIDENTE
FRANCISCO JOSÉ VILELA SANTOS DIRETOR JAIME ROTSTEIN RONY RODRIGUES OLIVEIRA
HÉLIO MEIRELLES CARDOSO DIRETOR JOSÉ MILTON DALLARI RUY BARRETO FILHO
JOSÉ CARLOS AZEVEDO DE MENEZES DIRETOR KATIA AGUIAR
LUIZ MARCUS SUPLICY HAFERS DIRETOR
RONALDO DE ALBUQUERQUE DIRETOR
SÉRGIO GOMES MALTA DIRETOR
FUNDADOR E P AT R O N O : O C TAV I O M E L L O A LVA R E N G A
Academia Nacional
de Agricultura CADEIRA PATRONO TITULAR
01 E NNES DE S OUZA R OBERTO F ERREIRA DA S ILVA P INTO
02 M OURA B RASIL J AIME R OTSTEIN
03 C AMPOS DA P AZ E DUARDO E UGÊNIO G OUVÊA V IEIRA
04 B ARÃO DE C APANEMA F RANCELINO P EREIRA
05 A NTONINO F IALHO L UIZ M ARCUS S UPLICY H AFERS
06 W ENCESLÁO B ELLO R ONALDO DE A LBUQUERQUE
07 S YLVIO R ANGEL T ITO B RUNO B ANDEIRA R YFF
08 P ACHECO L EÃO
09 L AURO M ULLER F LÁVIO M IRAGAIA P ERRI
10 M IGUEL C ALMON J OEL N AEGELE
11 L YRA C ASTRO M ARCUS V INÍCIUS P RATINI DE M ORAES
12 A UGUSTO R AMOS R OBERTO P AULO C ÉZAR DE A NDRADE
13 S IMÕES L OPES R UBENS R ICUPERO
14 E DUARDO C OTRIM P IERRE L ANDOLT
15 P EDRO O SÓRIO A NTONIO E RMÍRIO DE M ORAES
16 T RAJANO DE M EDEIROS I SRAEL K LABIN
17 P AULINO F ERNANDES
18 F ERNANDO C OSTA
19 S ÉRGIO DE C ARVALHO S YLVIA W ACHSNER
20 G USTAVO D UTRA A NTONIO D ELFIM N ETTO
21 J OSÉ A UGUSTO T RINDADE R OBERTO P ARAÍSO R OCHA
22 I GNÁCIO T OSTA J OÃO C ARLOS F AVERET P ORTO
23 J OSÉ S ATURNINO B RITO
24 J OSÉ B ONIFÁCIO
25 L UIZ DE Q UEIROZ A NTONIO C ABRERA M ANO F ILHO
26 C ARLOS M OREIRA J ÓRIO D AUSTER
27 A LBERTO S AMPAIO A NTONIO C ARREIRA
28 E PAMINONDAS DE S OUZA A NTONIO M ELLO A LVARENGA N ETO
29 A LBERTO T ORRES I BSEN DE G USMÃO C ÂMARA
30 C ARLOS P EREIRA DE S Á F ORTES JOHN RICHARD LEWIS THOMPSON
31 T HEODORO P ECKOLT J OSÉ C ARLOS A ZEVEDO DE M ENEZES
32 R ICARDO DE C ARVALHO A FONSO A RINOS DE M ELLO F RANCO
33 B ARBOSA R ODRIGUES R OBERTO R ODRIGUES
34 G ONZAGA DE C AMPOS J OÃO C ARLOS DE S OUZA M EIRELLES
35 A MÉRICO B RAGA F ÁBIO DE S ALLES M EIRELLES
36 N AVARRO DE A NDRADE L EOPOLDO G ARCIA B RANDÃO
37 M ELLO L EITÃO A LYSSON P AOLINELLI
38 A RISTIDES C AIRE O SANÁ S ÓCRATES DE A RAÚJO A LMEIDA
39 V ITAL B RASIL D ENISE F ROSSARD
40 G ETÚLIO V ARGAS E DMUNDO B ARBOSA DA S ILVA
41 E DGARD T EIXEIRA L EITE E RLING S. L ORENTZEN
SOCIEDADE NACIONAL DE AGRICULTURA · Fundada em 16 de janeiro de 1897 · Reconhecida de Utilidade Pública pela Lei nº 3.459 de 16/10/1918
Av. General Justo, 171 - 7º andar · Tel. (21) 3231-6350 · Fax: (21) 2240-4189 · Caixa Postal 1245 · CEP 20021-130 · Rio de Janeiro - Brasil e-mail:
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ESCOLA WENCESLÁO BELLO / FAGRAM · Av. Brasil, 9727 - Penha CEP: 21030-000 - Rio de Janeiro / RJ · Tel. (21) 3977-9979
4 DEZEMBRO/2011 A Lavoura
5. Carta da S NA
Segurança alimentar para 9 bilhões de bocas
população mundial atingiu, no início de no- As exportações da agropecuária brasileira atin-
A
N vembro, sete bilhões de pessoas. Até 2050,
a ONU estima que chegaremos a nove bi-
lhões de habitantes. São 213 mil novas bo-
cas por dia, ou 78 milhões por ano.
giram a cifra recorde de US$ 92 bilhões no período
de 12 meses, entre novembro de 2010 e outubro de
2011. O valor representa uma expansão de 25% em
relação ao mesmo período do ano anterior.
O maior desafio a ser enfrentado nas próximas Considerando que as importações do setor alcan-
décadas será equacionar a oferta de alimentos para çaram o montante de US$ 16,8 bilhões no mesmo pe-
os novos habitantes do planeta. Não é tarefa fácil, ríodo, o superávit da balança comercial do agrone-
principalmente se levarmos em conta que temos atu- gócio alcançou a extraordinária cifra de US$ 75 bi-
almente cerca de um bilhão de pessoas subnutridas. lhões!
Caberá ao Brasil desempenhar importante papel É difícil imaginar o que seria da economia brasi-
na solução dessa equação, que envolve segurança ali- leira se não fosse esse vigoroso sucesso de nosso agro-
mentar e sustentabilidade. Principalmente nos pró- negócio.
ximos 20 ou 30 anos, enquanto novas áreas de pro- Há muitos interessados em investir no desenvol-
dução no mundo não venham a ser desenvolvidas. vimento do setor. No entanto, precisamos supe-
Além de produzir alimentos em quantidade, qua- rar alguns obstáculos. O primeiro deles é propor-
lidade e preço para a sua população, o Brasil precisa- cionar mais segurança aos investidores, resolven-
rá responder, cada vez mais, ao desafio de suprir do a questão do novo Código Florestal e a legisla-
as necessidades de alimentação do mundo. Isso sem ção sobre a venda de terras para estrangeiros.
falar na produção de energia verde. Outro problema é a precariedade de nossa in-
Para atender a essa demanda, a expansão virá fraestrutura de transporte, armazenagem e logís-
com o aumento da produtividade de nossas pasta- tica de exportação. Somos muito eficientes “da
gens e com a incorporação, ao processo produtivo, porteira para dentro”, mas nossa infraestrutura não
de novas áreas no cerrado. É inevitável. acompanhou o crescimento do agronegócio, afe-
O Brasil tem conseguido aproveitar suas vanta- tando duramente a competitividade dos produtos
gens comparativas para tornar-se referência no agro- brasileiros no exterior, e reduzindo a renda dos pro-
negócio global. Temos terra, água, clima, tecnolo- dutores. Para se ter uma ideia, o custo do frete
gia e mão-de-obra qualificada para satisfazer a cres- no Brasil chega a ser quatro vezes maior que em
cente demanda global por produtos de origem agro- outros países exportadores do agribusiness, como
pecuária. é o caso dos EUA e da Argentina.
Há tempos estamos aumentando nossa produção As oportunidades são claras e devemos
a taxas maiores do que aquelas alcançadas em ou- aproveitá-las. Somos uma nação que precisa cres-
tras regiões do planeta. Com isso, vamos consolidan- cer, proporcionar emprego e boas condições de
do nossa posição de grande player nos mercados do vida aos brasileiros. Não podemos impedir o pro-
agronegócio mundial. gresso de nosso agronegócio. O Brasil precisa
Somos o maior produtor de café, cana-de-açú- produzir alimentos e energia renovável para os
car e laranja do mundo; o segundo maior produtor novos habitantes do planeta. Uma questão de
de soja e o maior exportador mundial de carnes. Em segurança alimentar e sustentabilidade.
pouco tempo, seremos o principal polo mundial de
algodão e de biocombustíveis e um dos principais for-
necedores de madeira, papel e celulose. Antonio Mello Alvarenga Neto
A Lavoura DEZEMBRO/2011 5
6. SNA comemora a Semana
Mundial da Alimentação
Durante evento,
DANIELLE MEDEIROS
instituição assina acordo
com a Organização das
Cooperativas Brasileiras
Até 2050, a população mundial será de nove
bilhões de habitantes, segundo estimativas da ONU.
Organismos internacionais apontam que há cerca
de um bilhão de pessoas mal alimentadas no mun-
do. Com o objetivo de debater os desafios que o
planeta terá de enfrentar na produção de alimen-
tos, nos próximos anos, bem como o papel do Bra-
sil na solução deste problema, a Sociedade Nacio-
nal de Agricultura, para comemorar a Semana
Mundial da Alimentação, promoveu, em seu audi-
tório, no dia 19 de outubro, uma reunião com Marcos Diaz (presidente da OCB-RJ), Márcio Lopes de Freitas (presidente da
OCB-Nacional) e Antonio Alvarenga (presidente da SNA)
membros da diretoria e da Academia Nacional de
Agricultura. O encontro contou ainda com a participação de au- lação, vem se tornando responsável por garantir boa parte das ne-
toridades representativas do setor agrícola. cessidades de alimentação do mundo”.
Na abertura do evento, o presidente da SNA, Antonio Alvarenga, Segundo o presidente da SNA, o Brasil vem respondendo bem
saudou os presentes e falou sobre a importância de promover um a este desafio, aumentando sua produção a taxas maiores do que
debate de qualidade, reunindo personalidades de vários segmentos os índices de crescimento em outras regiões do planeta. “O país
do agronegócio. Citando números da FAO - que prevê, até 2050, a está ganhando participação cada vez maior no mercado interna-
necessidade do mundo em aumentar a produção de grãos em cerca cional, consolidando-se como um grande player do agronegócio
de 50%, e de carnes, em quase 100% -, Alvarenga abordou a questão mundial”, salientou, acrescentando que, mesmo com um cená-
de futuras demandas globais. rio positivo, “é necessário melhorar a pauta exportadora, com o
“Nos próximos anos, a crise de alimentos estará cada vez mais incremento de produtos de melhor valor agregado”.
presente nos fóruns internacionais e em nosso dia-a-dia. A preocu- Em seguida, o diretor da SNA, Fernando Pimentel, disse que,
pação mundial se voltará com grande intensidade para a segurança apesar do bom momento pelo o qual o agronegócio vem passando, o
alimentar. E o Brasil deverá desempenhar um papel cada vez mais setor não está imune à crise internacional. Na ocasião, traçou um
importante nesse sentido. Além de produzir alimentos em quantida- painel geral do Brasil no contexto geoeconômico que, para ele,
de, qualidade e preço para atender às necessidades de sua popu- apresenta estabilidade, ao lado de países como China e Austrália.
Fábio Meirelles, presidente da Federação de
Agricultura do Estado de São Paulo (Faesp), afirmou
DANIELLE MEDEIROS
que as lideranças do campo devem se empenhar
para defender o produtor, a cultura agrícola e a
sociedade brasileira. “É necessário estabelecer uma
política de defesa da nossa economia, dentro da
realidade nacional”.
Cooperativismo
O movimento cooperativista ganhou destaque
durante o encontro, que foi finalizado com a assi-
natura de um convênio entre a SNA e a Organiza-
ção das Cooperativas Brasileiras (OCB), para promo-
ver ações de ensino e capacitação, bem como pro-
jetos de sustentabilidade e segurança alimentar. Es-
tiveram presentes à ocasião Márcio Lopes de
Freitas, presidente da OCB-Nacional, Marcos Diaz,
presidente da OCB-RJ, Jorge Barros, superintenden-
te técnico do Sescoop-RJ, e Renato Nobile, supe-
rintendente da OCB-Brasília.
Fábio de Salles Meireles (presidente da FAESP); Antonio Alvarenga (presidente da O vice-presidente da SNA, Joel Naegele, consi-
Sociedade Nacional de Agricultura), e o vice-presidente da SNA, Osaná de Araújo Almeida derou o acordo histórico. “O documento garante
6 DEZEMBRO/2011 A Lavoura
7. DANIELLE MEDEIROS
Joel Naegele (vice-presidente da SNA), Márcio Lopes de Freitas (presidente da OCB-Nacional), Antonio Alvarenga (pres. SNA),
Marcos Diaz (presidente da OCB-RJ), Cesário Ramalho (presidente da SRB), Renato Nobile (superintendente da OCB-Brasília) e
Jorge Barros (superintendente do Sescoop-RJ) comemoram a parceria SNA/OCB
a permanência das práticas cooperativistas,
DANIELLE MEDEIROS
para que os produtores tenham maior assis-
tência e ganhos”.
Márcio Lopes de Freitas informou que,
atualmente, o país conta com 1612 coopera-
tivas, respondendo por 44% da produção bra-
sileira. “Cooperativa é negócio, é estruturada
para ganhar dinheiro”, afirmou, sugerindo,
como estratégias para o setor, maior
interatividade entre cooperativas e empresas,
e a formação de uma sociedade anônima para
captar recursos do exterior.
Ao anunciar a estruturação de um gran-
de centro de formação cooperativista em São
Paulo, Freitas declarou que “as cooperativas
devem ter um compromisso maior nas comu- O empresário e produtor rural Ruy Barreto e o presidente da FAESP, Fábio de Salles
nidades em que estão presentes”. Meireles, durante almoço comemorativo, ao lado da diretoria da SNA: Antonio
Alvarenga (presidente), almirante Ibsen de Gusmão Câmara (vice-presidente), Ronaldo
Cesário Ramalho, presidente da Socieda- de Albuquerque (diretor) e Roberto Paraíso Rocha (membro da Comissão Fiscal)
de Rural Brasileira, destacou o papel da SRB
neste setor. “Temos um relacionamento profundo com várias asso- setor “é uma espécie de rede onde pequenos, médios e grandes
ciações rurais. O agricultor deve ter a capacidade de gerir seu produtores dependem um do outro e das comunidades que utili-
negócio, com o apoio das cooperativas”, declarou, ressaltando a zam os produtos”. “Nesse âmbito”, disse a coordenadora, “é im-
luta da SRB por uma renda e apoio maior ao homem do campo. portante saber o que o consumidor deseja”. Sylvia observou ainda
Produção e consumo a falta de marcas genuinamente brasileiras no agronegócio, em com-
Para falar sobre a produção cafeeira, Ruy Barreto Filho, dire- paração às multinacionais.
tor da SNA, denunciou o abandono do setor nos últimos 25 anos, Também presente ao encontro, o diretor da SNA, Márcio
lembrando a extinção, pelo governo, do Instituto Brasileiro do Café Sette Fortes de Almeida, argumentou que “o produto rural é
(IBC). O diretor também chamou a atenção para a falta de políticas competitivo até a porteira da fazenda, mas vai perdendo com-
de exportação. “Não exportamos café solúvel e, ao mesmo tem- petitividade quando chega ao consumidor final”. O diretor atri-
po, somos importadores de café brasileiro industrializado. Nossa bui este problema a falhas de infraestrutura, incluindo fatores
política vesga beneficia o produtor e prejudica a exportação com como transporte e armazenamento (neste caso, a carência de
valor agregado”, alertou. silos). De acordo com Márcio Fortes, “30% da safra se perde no
Já na visão de Ruy Barreto, “o café não é um produto primário próprio trajeto”. Segundo ele, “falta investimento e diálogo”
e tornou o Brasil um dos maiores países do mundo”. Ampliando o para resolver esses gargalos.
debate, o produtor frisou que “o mundo tem, atualmente, uma Ao introduzir no debate a questão ambiental, o vice-presiden-
enorme responsabilidade para alimentar sete bilhões de pessoas”. te da SNA, almirante Ibsen de Gusmão Câmara, reconheceu que
Representando a Embrapa, Regina Lago, chefe da área de ali- há dificuldades em conciliar a produção de alimentos com a rea-
mentos da instituição, abordou as oscilações nos preços de mer- lidade das mudanças climáticas. “O clima onde as regiões são frias
cado, chamou a atenção para o aumento do valor da cesta básica, será atenuado, mas nas regiões temperadas e tropicais, será mais
e falou sobre a importância da produção alimentar. “Atualmente, quente. O panorama agrícola será totalmente modificado. Portan-
não basta produzir o alimento; é preciso que haja qualidade e se- to, as próximas décadas serão cruciais para a preservação da hu-
gurança”, declarou, citando a atuação da Embrapa nas áreas de manidade”.
nutrição, biotecnologia e saúde. Ao final da reunião, o diretor da SNA, Alberto de Figueiredo,
Com o foco voltado para a cadeia do agronegócio, a coorde- apresentou aos representantes da OCB um programa destinado à
nadora do Projeto OrganicsNet, Sylvia Wachsner, ressaltou que o melhoria da pecuária leiteira no Estado do Rio
A Lavoura DEZEMBRO/2011 7
8. Sociedade Nacional de Agricultura
lança nova publicação
A Sociedade Nacional de Agricultura promo-
DANIELLE MEDEIROS
veu, no dia 6 de outubro, a festa de lan-
çamento de sua nova publicação, Animal
Business Brasil.
Participaram do evento, no auditório da
SNA, mais de 80 pessoas, entre membros da
diretoria, lideranças empresariais, autoridades
e representantes do setor agropecuário.
Na ocasião, o presidente da Sociedade Na-
cional de Agricultura, Antonio Alvarenga, dis-
se que, apesar da notável liderança do Brasil
como maior exportador de carne bovina e de
frango do mundo, é preciso avançar mais em
termos de produtividade. “Nos últimos anos ti-
vemos grandes progressos nos setores de grãos
e cana de açúcar. Agora é preciso cuidar do au-
mento da produtividade de nossa pecuária”. Embaixador Flávio Perri, Antonio Alvarenga (presidente da SNA), Roberto Paulo Cézar de
Alvarenga ressaltou ainda a importância da Andrade, membro da Academia Nacional de Agricultura, e o ex-deputado Márcio Fortes
tecnologia para o desenvolvimento da pecuá-
DANIELLE MEDEIROS
ria - aspecto que constitui um dos principais
focos da nova revista da SNA, também volta-
da para a ampliação da inserção internacional
das cadeias produtivas do segmento animal.
Ao abordar os propósitos da publicação,
seu editor, Luiz Octavio Pires Leal, informou
que a Animal Business Brasil é uma revista de
negócios, direcionada a atrair investimentos
para o setor. “Divulgar internamente e no ex-
terior as tecnologias avançadas e as oportuni-
dades de investimentos constituem também
objetivos da nova publicação, e para isso con-
tamos com a colaboração de especialistas”.
O diretor da SNA, Márcio Sette Fortes de
Almeida, que assina um artigo no primeiro nú-
mero da revista, destacou que a publicação é
voltada para o produtor que pretende adotar
novas tecnologias, e elogiou os esforços do em-
Cristina Baran, editora da revista A Lavoura; Márcio Sette Fortes de Almeida, diretor da
presariado e do governo brasileiro para incre- SNA; e os representantes da Animal Business Brasil: Marcelo Thadeu Rodrigues
mentar a qualidade dos produtos de origem (diagramador) e Luiz Octavio Pires Leal (editor)
animal.
DANIELLE MEDEIROS
Especializada em tecnologia da criação, re-
produção, industrialização e comercialização de
animais, a revista Animal Business Brasil, em seu
número de estreia, publica matérias sobre re-
produção high tech, avicultura brasileira, mer-
cado de saúde animal, comércio internacional
de cavalos, exportação de carne, entre outros.
Com 72 páginas em cores, periodicidade
bimestral e forte distribuição no Brasil e no ex-
terior, a publicação bilíngue (português e in-
glês) tem por objetivo estimular as exportações
e os investimentos em tecnologia no segmen-
to animal do agronegócio brasileiro.
Durante o coquetel de lançamento da re-
vista, o público assistiu a uma apresentação do
pianista Osmar Milito e da cantora Sanny Alves, Antônio Carlos de Andrade (economista); Antonio Alvarenga (presidente da SNA), e
que mostraram clássicos da música brasileira. os diretores Francisco Vilela e Sérgio Malta
8 DEZEMBRO/2011 A Lavoura
9. OrganicsNet debate orgânicos na panificação
O projeto OrganicsNet, da Sociedade Nacional de Agri-
cultura, participou do 3º Workshop de Cooperação Inter-
nacional - Gestão & Inovação na Panificação, realizado em
orgânica do Brasil, a Molino D´Oro, localizada em Itaipava
- região de Petrópolis (RJ). O estabelecimento, que per-
tence ao Sítio do Moinho, utiliza fermento natural sem co-
outubro, na Federação das Indústrias do Estado Mato Grosso adjuvantes no processo produtivo, e desenvolve conheci-
do Sul. mento e técnica próprios para garantir a qualidade e a ras-
O evento mostrou aos empresários do setor de panifica- treabilidade de seus produtos, fabricados com matéria pri-
ção do estado as novas práticas de gestão, além das tecno- ma italiana.
logias e inovações que visam à melhoria do processo produ- Dias antes de sua palestra, Sylvia fez uma visita a Itaipava
tivo, com o incremento da qualidade. e teve a oportunidade de conversar com os técnicos respon-
Na ocasião, a coordenadora do projeto OrganicsNet, sáveis pela Molino D‘Oro e acompanhar todas as etapas da
Sylvia Wachsner, apresentou o case da primeira padaria produção de pães.
Fagram forma sua última turma de Zootecnia
DANIELLE MEDEIROS
A Faculdade de Ciências Agro-ambi-
entais (FAGRAM) realizou, no último dia
20 de outubro, no auditório da SNA, a
cerimônia de formatura de sua última
turma de Zootecnia. Após quinze anos
de funcionamento, a FAGRAM encerrou
suas atividades no campus da Penha.
O presidente da SNA, Antonio Al-
varenga, lamentou o término do cur-
so “por falta de demanda no Rio de
Janeiro” e ressaltou a importância da
Zootecnia na segurança alimentar de
futuras gerações.
“Até 2050, teremos dois bilhões de
pessoas a mais no mundo para alimen-
tar, e a Zootecnia é a área que cuida
da produção de alimentos de origem
animal com qualidade e respeito ao
meio ambiente e ao homem. O mundo
espera que Brasil consiga aumentar sua
produção para suprir esta demanda,
pois ainda podemos crescer em eficiên-
cia e em área, de forma sustentável e
responsável” – declarou Alvarenga.
Formandos posam para a foto clássica
A coordenadora do curso de
Zootecnia, Christianne Perali, lembrou a história da FAGRAM e chamou a atenção para os deveres a atitudes dos novos
profissionais. “Apesar de ser a última turma, a responsabilidade de cada um dos zootecnistas formados nesta data e nas
turmas anteriores está centrada na produção com ética e responsabilidade ambiental e social”. A professora recomendou
aos formados que se dediquem constantemente ao aprimoramento profissional e trabalhem com afinco para atingir seu
sucesso.
Os demais professores agradeceram ao período de convivência com os alunos e as experiências trocadas em sala de
aula, e manifestaram pesar pelo fim do curso.
Colaram grau, durante a cerimônia, os alunos Leonardo Gonçalves, Flávio Bindi, Amanda Arêa, Ildecir Sias, Ellen Simas,
Gustavo Mattozinhos da Rosa, Eruana Santos, Marcos Nalin, Marcos Provetti e Mário Tremura.
Estiveram presentes à mesa o professor Olavo David Filho, Christianne Perali, Antonio Alvarenga, Dione Firmino (paraninfa),
professor Markus Budjinsky e Marcos Aronovich.
A Lavoura DEZEMBRO/2011 9
10. EMBRAPA TRIGO
Safra de trigo em 2011 é menor,
mas com excelente qualidade
A safra de trigo em 2011, em áreas As cultivares BRS 264 e BRS 254 são duas aplicações de fungicidas e duas de
irrigadas com pivô central, no Distrito indicadas para região do Cerrado do inseticida, o que baixou os custos das
Federal, Minas Gerais e em Goiás acom- Brasil Central, que compreende os es- lavouras.
panhou a redução de produtividade tados de Minas Gerais, Goiás, Mato A brusone continua sendo a doença
verificada em todo o país. Em compa- Grosso, Bahia e o Distrito Federal. Atu- que mais causa prejuízos na triticultura
ração à safra anterior, a produtividade almente, 90% da área plantada com do Cerrado. Segundo o pesquisador da
foi 10% inferior, embora algumas lavou- trigo irrigado nessa região utiliza as Embrapa Cerrados, no caso do plantio
ras tenham alcançado em torno de 115 variedades lançadas pela Embrapa. do trigo irrigado, a doença se agrava
sacos por hectare com a cultivar BRS As unidades da Empresa Brasilei- com a ocorrência de chuvas no estágio
264, quando a média foi de 90 sacos por ra de Pesquisa Agropecuária - Embra- de espigamento. Isso diminui conside-
hectare. Levantamento da Companhia pa Cerrados e Embrapa Trigo são as ravelmente a produtividade da lavou-
Nacional de Abastecimento (Conab) in- responsáveis pelo desenvolvimento do ra e a qualidade de grãos. Os grãos
dica que a produção nacional deverá ser programa de melhoramento do trigo. infectados apresentam-se enrugados,
de 5.129,9 mil toneladas, 12,8% menor Somado à boa produtividade, o tri- pequenos, deformados e com baixo
do que a colhida em 2010. go produzido na região é todo de alta peso específico. Para as lavouras per-
A área total cultivada com trigo ir- qualidade, comparável ao das melho- manecerem livres desta doença, os tra-
rigado no Distrito Federal, Minas Gerais res regiões produtoras do mundo, como tamentos com fungicidas, indicados
e em Goiás também teve uma redução o Canadá. Todas as variedades planta- pela pesquisa, devem ser preventivos.
neste ano. Em relação a 2010, a cultu- das no Cerrado são de trigo pão e A Embrapa possui projetos em an-
ra foi plantada em menos 20% das áre- melhorador, conforme a demanda da damento que visam identificar fontes
as. As condições climáticas favorece- indústria moageira. “No Brasil, o trigo de resistência à brusone, mas ainda não
ram o bom desenvolvimento das plan- de melhor qualidade industrial é o do foram desenvolvidas cultivares resis-
tas de trigo na região do Brasil Central. Cerrado, em função de sua alta força tentes ao fungo Pyricularia grisea, cau-
“A maioria das lavouras foi colhida no de glúten e estabilidade”, acrescenta sador da doença. Experimentos em
período seco, sem a ocorrência de chu- o pesquisador. rede estão sendo desenvolvidos em
vas, o que favoreceu a qualidade dos Menos perdas Planaltina-DF, Dourados-MS e Londrina-
grãos e, consequentemente, favoreceu O ataque de pragas e doenças não PR. Nos campos experimentais da
a comercialização. Os produtores estão foi significativo nesta safra, o que con- Embrapa Cerrados, em Planaltina-DF,
vendendo a sua produção entre R$ tribuiu para a produtividade e a quali- estão sendo testados vários genótipos
37,00 e R$ 42,00 por saco de 60 kg”, dade do trigo nessa região. Dessa for- anualmente. O objetivo é selecionar
explica o pesquisador da Embrapa Cer- ma, muitos produtores conseguiram materiais que apresentem baixo nível
rados Júlio Cesar Albrecht. chegar até o final do ciclo com apenas de incidência da doença.
LILIANE CASTELÕES - EMBRAPA CERRADOS
10 DEZEMBRO/2011 A Lavoura
11. SECRETARIA DE ESTADO DE AGRICULTURA, PECUÁRIA E ABASTECIMENTO
Bois confinados em Minas
produzem 80 mil ton de carne
Rebanho mantido nos currais tem apresentado cotações
e piquetes aumentou 20% crescentes desde janeiro.
Segundo análise da
Iniciado o período das águas, os Subsecretaria do Agronegó-
pecuaristas de Minas Gerais que mantiveram cio da Secretaria da
bois em confinamento durante a seca de Agricultura, no período de
2011 estão levando o gado gordo para os janeiro a outubro de 2011,
abatedouros. Neste ano, cerca de 400 mil o preço médio subiu
animais (volume 20% superior ao de 2010) 19,92%. Há sinais de que a
ficaram nos currais ou piquetes durante um tendência de alta seguirá
período de até três meses para cada lote, até janeiro/fevereiro.
Confinamento é rentável para produtores que cuidam bem
recebendo alimento e água, informa a De agora em diante, da gestão do negócio
Emater-MG, vinculada à Secretaria de Agri- acrescenta o assessor da se-
cultura, Pecuária e Abastecimento (Seapa). cretaria, a procura pela carne deve aumen- va que vem aprimorando o confinamento
“Os animais de confinamento ofere- tar, sendo a oferta quase exclusivamente do desde 1979, quando adotou essa alterna-
cem carne em quantidade e com a quali- produto de confinamentos. Começa um novo tiva de manejo do gado utilizando ape-
dade exigida pelos frigoríficos e os consu- ciclo de engorda de animais centralizado nos nas cem bois. No ano seguinte engordou
midores, um produto muito valorizado”, pastos que já apresentam sinais de recupe- mil animais e depois continuou expandin-
diz o coordenador estadual de ração. do a produção.
Bovinocultura da Emater, José Alberto de Números positivos Para 2012, Queiroz confirma que vai tra-
Ávila Pires. Considerado um dos pioneiros do balhar com 40 mil bois, pois em sua opinião
Ele estima que pelo menos 90% dos bois confinamento de bois no Brasil, o pecuarista a engorda de um grande volume de animais
confinados em Minas neste ano já foram ofe- Adalberto José de Queiroz, do município de possibilita renda ao produtor inclusive nos
recidos no mercado. Segundo o balanço re- Frutal (Triângulo Mineiro), manteve em cur- períodos de baixa cotação da carne. “Prin-
alizado pela Emater, o volume total de ani- rais, desde março, um total de 12 mil bois e cipalmente quando se pode contar com uma
mais preparado à base de ração deve possi- ainda conta com 25% desse plantel. Para o boa safra de milho no dstado, como a esti-
bilitar o aproveitamento de 80 mil tonela- produtor, os resultados deste ano foram po- mada para 2012, e a possibilidade de pro-
das de carne. Este volume é suficiente para sitivos porque ele conseguiu fechar bons duzir na propriedade uma parte dos compo-
o abastecimento de 6,7 milhões de pessoas contratos de venda a termo, isto é, comer- nentes da ração”, finaliza.
em quatro meses, consumindo cada uma a cialização dos animais à base de acertos que Cenário do boi
média de 12 quilos. independem dos preços praticados geral- Dados da Emater mostram que, em Mi-
O agrônomo Renato de Assis Porto de mente pelo mercado. Predominam nas ne- nas Gerais, um grupo de 63 produtores tra-
Melo, assessor técnico do programa Minas gociações as condições dos animais ofereci- balha com plantéis confinados de mil a cin-
Carne, criado pela Secretaria da Agricultura, dos, o cumprimento de prazos e outros as- co mil cabeças, respondendo por 56,5% dos
também ressalta a importância do pectos. “Estamos entregando boi por R$ animais dentro do sistema. Para completar
confinamento de bovinos e diz que os produ- 98,50 a arroba e um mês atrás vendíamos a oferta da carne confinada no Estado, há
tores estão aderindo ao sistema com por um preço acima da cotação atual do um contingente de 658 pecuaristas que tra-
profissionalismo. “Eles fazem altos investi- mercado”, enfatiza. balham na faixa inferior a 150 e até mil bois.
mentos principalmente na compra de ração Queiroz ressalta que o confinamento De acordo com Ávila Pires, a presença des-
para os animais confinados e, por isso, sem- é uma prática rentável sobretudo para os se número de pequenos produtores é um
pre têm a expectativa de obter uma remu- produtores que cuidam bem da gestão do bom suporte à atividade, que garante o abas-
neração melhor ao vender esse gado do que negócio. “É necessário aproveitar bem as tecimento do mercado interno em extenso
obteriam com a comercialização de animais oportunidades para vender o boi gordo e período, possibilitando a oferta de carne
engordados no pasto”, explica. também para comprar os bezerros que bovina de qualidade a preços estáveis.
A arroba do boi, comercializada atual- iniciarão um novo ciclo nos currais ou pi- IVANI CUNHA - SECRETARIA DE ESTADO DE AGRICULTURA,
mente em Minas Gerais por cerca de R$ 100, quetes”, esclarece. O pecuarista obser- PECUÁRIA E ABASTECIMENTO
Bezerros de laboratório mente no Laboratório de Reprodução Animal do Campo Experimen-
tal Santa Mônica, em Valença-RJ, mais um fruto da parceria entre
a Pesagro-Rio e a Embrapa Gado de Leite. O resultado foi come-
A Pesagro-Rio dá mais um passo para o domínio da tecnologia de
produção de embriões in vitro de bovinos de leite.
Nasceram entre os dias 21 e 24 de junho passado, as três primei-
morado pelo presidente da Pesagro, Sílvio Galvão, que destacou a
parceria estratégica, a dedicação e o profissionalismo das equipes
ras bezerras desenvolvidas a partir de embriões produzidos integral- e dos pesquisadores responsáveis pelo trabalho.
De acordo com a pesquisadora Raquel Varella Serapião, da
Pesagro-Rio, os embriões foram produzidos a partir de óvulos
PESAGRO-RIO
coletados de vacas doadoras de alto valor genético da raça Gir e
fecundados com sêmen de touro Holandês, sendo então transferi-
dos para vacas receptoras (barrigas de aluguel) do rebanho do
Campo Experimental, sendo todas as etapas executadas pela equipe
da empresa.
A técnica vem sendo utilizada para a produção de matrizes que
resultem em animais de alta qualidade genética, permitindo a
melhoria do rebanho fluminense e o aumento da produtividade do
leite, informou o pesquisador da Pesagro Agostino Jorge dos Reis
Camargo, que integra a equipe do projeto.
Bezerras produzidas
“in vitro” pela A Lavoura DEZEMBRO/2011 11
Pesagro-Rio
12. Pesquisa avalia
ESALQ/USP
transferência de renda
do agronegócio para
outros setores da
economia
O agronegócio brasileiro, nos últimos 15 anos, aumentou
sua produção e cresceu mais do que o PIB do País, permi-
tindo que se expandissem o consumo interno e a exportação de
seus produtos. Analisando esse contexto, uma pesquisa desen-
volvida no programa de Pós-graduação em Economia Aplicada,
da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (ESALQ/USP),
observou o papel do agronegócio no processo de transferência
de renda para os demais setores da economia doméstica e tam- Setor pecuarista: queda de preços devido ao aumento da produção
bém para o mercado externo.
De autoria de Adriana Ferreira Silva e orientação do pro-
fessor Geraldo Sant’Ana de Camargo Barros, do Departamento setor teve participação relevante nesta trajetória”, explica
de Economia, Administração e Sociologia (LES), o estudo Adriana.
intitulado “Transferências Interna e Externa de Renda do Agro- Setor pecuarista
negócio Brasileiro” apontou que a redução da concentração Segundo a pesquisadora, devido à queda de preços dos pro-
de renda e da pobreza no Brasil também teve suas raízes no dutos agropecuários, a sociedade absorveu, entre os anos de
agronegócio. “Ao assumir posição estratégica para o contro- 1995 a 2009, uma renda de R$ 837 bilhões do agronegócio, prin-
le da inflação e geração de divisas no comércio exterior, esse cipalmente do setor pecuarista, e dos segmento primário e in-
Alho: Minas aposta na qualidade para concorrer
Safra estadual deve alcançar volume A colheita mineira prevista para este ano equivale a
16,6% da safra nacional, garantindo a vice-liderança do
5,3% superior ao do ano passado ranking brasileiro do alho, atrás apenas de Goiás. Para o su-
perintendente de Política e Economia Agrícola da
Apesar das importações crescentes de alho pelo Brasil – Subsecretaria do Agronegócio da Secretaria da Agricultura
entre janeiro e agosto de 2011 entraram no país 109,9 mil de Minas Gerais, João Ricardo Albanez, o aumento da safra
toneladas do produto argentino e chinês –, os agricultores estadual é consequência principalmente da intensa utiliza-
mineiros investem no aumento da safra. O IBGE estima que a ção de tecnologia nas lavouras. “Por isso, a produtividade
produção de alho em Minas Gerais neste ano vai alcançar 19,7 média de alho no Estado é de 12,1 toneladas de alho por
mil toneladas, volume 5,3% maior que o registrado no ano hectare. Há dez anos, a produtividade era de 8,1 toneladas
passado. por hectare”, explica Albanez.
Primeiro colocado na produção estadual de alho, o Alto
Paranaíba tem uma safra estimada de 13,8 mil toneladas, volu-
BARAN
CRISTINA
me correspondente a cerca de 70% da safra estadual. Albanez
avalia que o plantio, principalmente na região líder de produção,
foi estimulado em 2011 pela recuperação de preço registrada em
2010, como consequência de uma redução temporária das im-
portações de alho chinês.
Qualidade reconhecida
O agricultor familiar Oswaldo Júnior, que mantém o cultivo
de alho em 18 hectares no município de São Gotardo, no Alto
Paranaíba, diz que o produtor deve sempre investir na qualida-
de, independente da importação. “É necessário produzir sem-
pre o nosso alho com qualidade, exista ou não a importação. Além
disso, o volume das compras externas do produto pelo Brasil pode
cair, e nesse caso os preços internos serão mais compensadores.”
Oswaldo concorda que o alho nacional, especialmente o co-
lhido nas lavouras mineiras, tem a preferência dos consumidores
que valorizam a qualidade. A observação é compartilhada pelo
extensionista Dener Henrique de Castro, que atua no município.
Alho: colheita mineira equivale a 16,6% da safra nacional, ficando
atrás apenas de Goiás
12 DEZEMBRO/2011 A Lavoura
13. dustrial da agricultura. “Essa queda de preços se dá devido ao
EDUARDO PINHO
aumento da produção, gerado pela aquisição de novas tecnolo-
gias. Isso significa que a renda perdida pelo agronegócio não Milho BRS
afetou sua sustentação. Além disso, o fato da produção apre-
sentar crescimento nesse cenário é um indicador de que as
quedas de preço não representaram perda total da rentabilida-
Caatingueiro
de das novas tecnologias”, afirma.
Adriana expõe ainda outro motivo para a queda dos pre-
melhora a produção
ços no País: o avanço da tecnologia e o aumento da produ-
ção em escala internacional. “Aliados ao protecionismo dos
países mais desenvolvidos, eles geraram uma baixa dos pre-
no Semiárido
ços em grandes proporções. Ou seja, o desempenho do Bra-
sil não se deu de forma isolada, ele apenas ajustou seus cus-
tos ao movimento dos demais países”, explica. O trabalho
conclui que a redução dos preços reais dos produtos agrope-
cuários foi fator primordial na capacidade do poder aquisiti-
vo dos consumidores, em especial, para as famílias de baixa
renda - nas quais grande parcela da renda é despendida em
alimentos. Por outro lado, há que se garantir que os preços
pagos aos produtores remunerem seus esforços, para que
desestímulos à produção de alimentos não surjam e no futu-
ro ocasionem uma redução da oferta e consequente eleva-
ção dos preços.
Esta pesquisa de Adriana Ferreira Silva ganhou o Prêmio
Edson Potsch Magalhães de melhor tese em economia rural,
durante a realização do 49º Congresso da Sociedade Brasi-
leira de Economia, Administração e Sociologia Rural (SOBER),
realizado em julho.
ANA CAROLINA MIOTTO - ESALQ/USP BRS Caatingueiro: superprecoce
com produto importado A colheita do milho começou em junho no Nordeste bra-
sileiro, e os produtores da região, principalmente os pe-
quenos agricultores familiares do Semiárido, já comemo-
“O produto de Minas Gerais tem qualidade reconhecida em todo ram o aumento da produção. Na região de Irecê, no cen-
o país, especialmente nos mercados de São Paulo, Recife e Ama- tro norte da Bahia, que integra cidades como Ibititá,
zonas”, explica. Canarana, Lapão e João Dourado, a produtividade desta
A preferência do consumidor brasileiro pelo alho nacional safra foi três vezes maior do que a dos últimos seis anos.
também é citada por Eduardo Sekita, diretor do grupo Sekita, de A média, que era de 40 mil toneladas, subiu para 142 mil
São Gotardo, que trabalha com a parceria de 49 produtores em toneladas de milho este ano.
190 hectares da propriedade. Esse contingente de agricultores Boa parte desse sucesso se deve à utilização do BRS
familiares deve garantir ao grupo, em 2011, uma produção da Caatingueiro, desenvolvido pela Embrapa Tabuleiros Costei-
ordem de 3,7 mil toneladas, ele informa. ros, em parceria com a Embrapa Milho e Sorgo, e
“O grande problema é que as importações permitidas pelo comercializado pela Embrapa Transferência de Tecnologia,
governo federal possibilitam a venda do acho chinês por R$ 40,00 unidades da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária.
a caixa de dez quilos, enquanto no Alto Paranaíba o preço varia Superprecoce
de R$ 42,00 a R$ 45,00, porque abaixo disso seria insuficiente para A cultivar apresenta grãos semiduros amarelos e é
cobrir os custos de produção”, explica o executivo. adaptada especialmente ao Semiárido nordestino. Sua
Segundo Sekita, outro aspecto que dificulta a situação dos principal vantagem é o ciclo superprecoce, o que per-
produtores brasileiros é que o alho importado está presente em mite boas colheitas mesmo em períodos de pouca chu-
todo o país durante o ano inteiro. Já o produto colhido nas lavou- va. Como o florescimento do BRS Caatingueiro ocorre
ras da maioria dos Estados chega ao consumidor em um período entre 41 e 50 dias, diminui o risco de estresse hídrico
definido, de agosto a fevereiro, sendo que em Minas Gerais o no momento em que o milho é mais sensível à falta de
abastecimento predomina numa faixa de tempo ainda menor, de água.
agosto a janeiro. Após o plantio, a cultivar precisa de apenas 90 dias para
Organização da produção atingir a época da colheita. Mas se a distribuição das chuvas
“Diante do cenário da importação de alho pelo Brasil, os agri- for regular, a safra já está garantida com 65 a 70 dias de plan-
cultores devem buscar orientação junto às associações e coope- tio. Na região mais seca do Semiárido, a produtividade do BRS
rativas para desenvolver a produção programada”, recomenda o Caatingueiro varia em torno de 2 a 3 toneladas de grãos por
superintendente do Mercado Livre do Produtor (MLP) da hectare.
CeasaMinas pela Subsecretaria de Agricultura Familiar da Secre- Em condições mais regulares de precipitação, a produti-
taria da Agricultura, Lucas de Oliveira Scarascia. Ele diz que é vidade pode chegar a 6 toneladas de grãos por hectare. Por
fundamental para os produtores o acesso a informações sobre as isso, a cultivar é ideal para os pequenos produtores, que
tendências do mercado, política de abastecimento do país, situ- geralmente dispõem de poucos recursos, encontram dificul-
ação do câmbio e interesse de outros países em colocar seus pro- dades para ter acesso ao crédito e não têm tipo algum de
dutos no Brasil. orientação técnica.
IVANI CUNHA - SECRETARIA DE ESTADO DE AGRICULTURA, PECUÁRIA E ABASTECIMENTO DE MINAS GERAIS EDUARDO PINHO RODRIGUES - EMBRAPA TRANSFERÊNCIA DE TECNOLOGIA
A Lavoura DEZEMBRO/2011 13
14. VINICULTURA
VINICULTURA
Vinhos, tradição
e modernidade
A NTONIO A LVARENGA
CRISTINA BARAN
PRESIDENTE DA SOCIEDADE NACIONAL DE AGRICULTURA - SNA
A família Perrin produz
vinhos desde 1909, na
região da Provence, e
hoje é uma das maiores
podutoras da França
Uvas para a produção dos vinhos
Château de Beaucastel: os “galets”
(pedras arredondadas no solo),
retém o calor do dia e aquecem
14 DEZEMBRO/2011 A Lavoura as videiras durante a noite
15. VINICULTURA
E m recente viagem à França,
tivemos a oportunidade de co-
nhecer as propriedades viní-
colas da tradicional família Perrin,
que se passa em suas propriedades,
caves e instalações industriais, é vi-
sível seu amor pela terra, videiras e
pela produção do vinho.
blage” é sempre diferente em cada
safra, tendo em vista que anualmen-
te as características das uvas são
diferentes conforme o clima e épo-
gente simples, elegante e muito aco- O reconhecimento desse trabalho ca da colheita, que interferem no re-
lhedora. apaixonado vem, dentre outros resul- sultado final após sua maturação e
A família Perrin dedica-se à pro- tados relevantes, por meio da avali- fermentação. É François Perrin quem
dução de vinhos desde 1909, na re- ação dos críticos especializados. Re- define a data de início da colheita e
gião da Provence, sendo atualmente centemente, um dos vinhos – Château dá a palavra final no “assemblage”
uma das maiores produtoras de vinho de Beaucastel, branco, velhas vinhas de cada um dos vinhos produzidos
da França. – obteve a nota máxima - 100 - do pelas vinícolas da família.
François Perrin dirige o grupo de renomado crítico norte-americano Linha de produtos
empresas da família com extrema de- Robert Parker, uma das maiores au- Há uma extensa linha de produ-
dicação e eficiência, adotando mo- toridades mundiais em vinhos, cuja tos, desde o especialíssimo Châ-
dernas técnicas de gestão - desde o crítica favorável pode lançar o preço teauneuf-du-Pape – Château de
manejo das videiras, colheita das de um vinho às alturas. É a primeira
uvas e produção dos vinhos até sua vez que um vinho branco da região de
CRISTINA BARAN
comercialização, incluindo toda a Châteauneuf-du-Pape recebe 100
complicada logística envolvida no pro- pontos.
cesso e o marketing dos produtos. O “Assemblage”
ambiente é bastante informal, mas Um dos principais segredos de um
tudo funciona perfeitamente. Aqui bom vinho é o “assemblage”, ou seja,
vale nosso ditado: “o olho do dono é o percentual de cada tipo de uva em
que engorda o gado”. Atento a tudo sua composição final. Esse “assem-
CRISTINA BARAN
Propriedade da família Perrin, na Provence,
França, onde são produzidos e armazenados
os vinhos Château de Beaucastel (detalhe) A Lavoura DEZEMBRO/2011 15
16. PERRIN ET FILS VINICULTURA
Obedecendo o método tradicional de produção, a colheita do Château de Beaucastel é manual
Beaucastel – até vinhos mais sim- altitude de cerca de 300 m e clima
ples, como os La Vieille Ferme ou bastante adequado para a uva syrah;
Côtes du Rhone, de boa qualidade, e o Vacqueyras, produzido em solos
honestos e adequados para os seg- argilosos pesados com cascalho de
mentos de mercado aos quais se pro- Ouvèze, onde uma combinação das
põem atender. uvas grenache com syrah produz um
Há também os excelentes vinhos vinho aromático e de muito boa re-
PERRIN ET FILS
Gigondas, produzidos a partir de putação na França.
uvas grenache, cultivadas em solos A linha de produtos inclui vinhos
muito arenosos; o Vinsobres, um dos tintos, brancos, roses e até um
melhores Crus do sul do Vale do Rhone, doce. Também há vinhos orgânicos
cujo vinhedo está localizado ao nor- – como é o caso do Château de Beau-
te de Châteauneuf-du-Pape, a uma castel e Côtes du Rhone Rouge
Primum Familae Vini (Grandes Famílias do Vinho)
petitividade no mercado internacional.
A vinícola Perrin e Fils faz parte de uma associa-
ção exclusiva que reúne 12 empresas pertencen-
tes a famílias tradicionais produtoras de vinhos, com
Atualmente, os membros da Primum Familae Vini
são as vinícolas: Champagne Pol Roger, Joseph Drouin
o objetivo de manter a tradição e transmitir às ge- (Borgonha), Hugel & Fils (Alsácia), Perrin & Fils
rações futuras a paixão que eles têm com a produ- (Rhone), Château Mouton Rothschild (Bordeaux), to-
ção do vinho. A associação realiza reuniões periódi- dos da França; Torres e Vega Sicilia (Espanha); Tenuta
cas com as famílias associadas e também promove San Guido e Antinori, ambos da Toscana, Itália; Egon
programas de cooperação mútua, sobretudo na divul- Müller Scharzhof, da Alemanha; e Grupo Symington,
gação de seus produtos, visando ganhar maior com- de Portugal.
A Lavoura DEZEMBRO/2011 17
16 DEZEMBRO/2011 A Lavoura
17. VINICULTURA
e forte, que chega a atingir 100 km/ zados 30% de mourvedre, 30% de
hora. Todos estes componentes – in- grenache, 10% de syrah, e 5% de
clusive as diferenças entre altas e muscardin, vaccarese e cinsault
baixas temperaturas – se combinam cada. O restante é composto de pe-
e se complementam pa-ra dar às vi- quenas quantidades de sete outras
nhas de Beaucastel excepcionais qua- variedades permitidas em Château-
lidades e originalidade neuf-du-Pape, que proporcionam uma
reconhecidas mundial- complexidade graciosa que fazem o
PERRIN ET FILS
mente. Château de Beaucastel ser um vinho
A propriedade cobre extraordinário.
um total de 130 hecta- O período de colheita é fundamen-
res, dos quais apenas tal, porque as uvas são colhidas e vi-
100 hectares são planta- nificadas separadamente, permitin-
dos com vinhas: 75% do-lhes expressar suas próprias per-
são dedicados à produ- sonalidades no produto final.
ção do Châteauneuf-du- A colheita e a classificação são
Pape – Chateau de Beau- manuais. As peles das uvas são aque-
castel, e 25% para produ- cidas rapidamente para 80°C e, em
ção do Côtes-du-Rhone seguida, resfriado a 20°C antes de le-
denominado Coudoulet var os cachos para cubas de
de Beaucastel. Os res- maceração onde ficam durante 12
tantes 30 hectares, são dias. O suco é, então, drenado.
utilizados na rotação de A partir do método de aquecimen-
culturas para preparar to flash, Beaucastel Rouge segue uma
Produção do vinho Château de Beaucastel: novos plantios de vinha, vinificação mais ou menos clássica. A
maturação, envelhecimento e guarda... porque, a cada ano, um maioria das variedades são fermen-
ou dois hectares de vi- tadas separadamente. O vinho jo-
nhas velhas são desati- vem, em seguida, amadurece em
Nature. Desde 1962, os vinhedos de vadas e uma área equivalente é barricas de carvalho por cerca de 12
Château de Beaucastel produzem replantada em terreno onde não hou- meses. As castas das uvas - vinifi-
vinhos orgânicos. ve produção dura*nte, pelo menos, cadas separadamente - são mistura-
Há vinhos produzidos a partir de dez anos. Desde 1962 o cultivo dos das após a fermentação e uma série
vinhas antigas, algumas com 90 vinhedos de Beaucastel é orgânico. de degustações. O vinho resultante é
anos. Em determinados anos, depen- Château de Beaucastel tinto então amadurecido por um ano em
dendo da característica da safra, são O vinho é resultado de 13 varie- grandes barricas de carvalho e depois
produzidos alguns vinhos especiais, dades de uvas. As videiras têm em engarrafado. Finalmente, o vinho é
como é o caso do “Hommage à média 50 anos e o rendimento é de, maturado em garrafas e guardado
Jacques Perrin”, que também já re- no máximo, 30 hectolitros por hecta- nas caves Beaucastel por mais um
cebeu a pontuação máxima do críti- re. Essa é uma vinha saudável e vi- ano antes de ser colocado à venda.
co Robert Parker. brante, devido a anos de cultivo Château de Beaucastel branco
A produção total das propriedades orgânico. Na produção do vinho tin- Os vinhos brancos do Château de
da família Perrin é de 10 milhões de to Château de Beaucastel, são utili- Beaucastel estão entre os melhores
garrafas por ano, sendo 500 mil gar-
rafas do Châteauneuf-du-Pape.
PERRIN ET FILS
Galets
No Château de Beaucastel, o mé-
todo de produção é tradicional: co-
lheita manual e sistemas artesanais
de prensagem, maturação, envelhe-
cimento, engarrafamento e guarda
em barris de carvalho.
O terreno em Beaucastel – entre
as cidades de Avignon e Orange - é
marcado pela presença de um gran-
de número de pedras arredondadas,
conhecido como “galets” Estes
“galets” retêm o calor do dia e aque-
cem as videiras durante a noite. O
clima tem um papel importante: bai-
xa precipitação, o vento Mistral, seco
... em barris de carvalho
17 DEZEMBRO/2011 A Lavoura A Lavoura DEZEMBRO/2011 17
18. CRISTINA BARAN VINICULTURA
PERRIN ET FILS
Engarrafamento do vinho rosé “La Vieille Ferme” (detalhe), da Perrin et Fils
vinhos brancos da França. Produzidos Há uma pequena quantidade do
a partir de uvas cultivadas em clima “Vieilles Vignes” cuvée, produzido in- cestos. A classificação também é
quente, sendo 80% roussanne, 15% teiramente a partir de vinhas manual, para separar as uvas verdes
grenache blanc e 5% de outras vinhas. roussanne, com cerca de 100 anos de ou danificadas. Trinta por cento do
As vinhas datam entre 10 e 40 anos. idade. vinho é fermentado em barris e o
A vinha que produz o Château de restante em temperatura controla-
Beaucastel Blanc possui apenas sete da, em cubas de aço inoxidável. Uma
hectares para uma produção de vez que a fermentação é concluída,
François Perrin na cave
em Beaucastel, onde estão 6.000 garrafas por ano. A extraordi- a metade do vinho novo amadurece
guardadas garrafas de nária qualidade e reduzida produção em pequenos barris de carvalho e
vinho de diversas safras. tornam esse vinho uma raridade no metade em cubas por cerca de oito
No detalhe, o vinho meses. O Vieilles Vignes cuvée é
branco Château de
mercado.
Beaucastel, que foi As uvas são colhidas à mão e le- mantido em carvalho por um perío-
recentemente premiado vadas para a adega em pequenos do mais longo.
com a nota máxima
BARAN
CRISTINA
FILS
ET
PERRIN
18 DEZEMBRO/2011 A Lavoura
19. VINICULTURA
Os vinhos franceses
A França é referência mundial na produção de vinhos. É
lá que se produz os mais famosos vinhos do mun-
do e a maior variedade de vinhos de alta qualidade.
A vinicultura existe na França há mais de 2.000
anos. A partir de 1905, o governo começou a controlar
e regulamentar a produção do vinho no país. Em 1935
foi criado o Institut National des Appellations d’Origine
(INAO), que fiscaliza toda a produção de vinhos na
França.
Cada região produtora tem sua própria regulamen-
CRISTINA BARAN
tação e classificações diversas. As principais regiões
produtoras são Bordeaux, Borgonha, Champagne,
Alsácia, Rhone e Loire.
São cerca de 110 mil vinhedos espalhados pelo país,
com os “terroirs” mais diversos, nas mãos de cerca
de 69 mil produtores/negociantes e cooperativas. Só
em Bordeaux, são mais de 7.000 châteaus e cerca de Vinhos produzidos na Provence, França, pela Perrin et Fils
13.000 vinhedos.
A legislação é rigorosa no controle da produção dos
vinhos, sendo os vinhos classificados conforme sua VDQS, vinho delimitado de qualidade superior
qualidade: Na teoria, um degrau antes de um vinho ou região
“Vin de Table”, ou vinho de mesa alcançar o nível AOC, ficando situado entre esta clas-
sificação e o “Vin de Pays”. Corresponde a aproxima-
São vinhos básicos, simples e mais baratos. É o damente 2% do total da produção.
vinho produzido pelas comunidades onde, mais ou me-
nos, se faz o que quer. Representam cerca de 17% do “Vin d’Appellation d’Origine Contrôlée” - AOC
vinho produzido na França e é, quase que totalmente, (Vinho de Denominação de Origem Controlada)
consumido localmente. A região de origem não é men- Nesta categoria estão os grandes vinhos franceses.
cionada no rótulo. As normas de produção são estabelecidas pelo Institut
“Vin de Pays” ou vinho regional National des Appellations d’Origine (INAO). A AOC pos-
sui regras rígidas de controle e fiscalização, determinando
São vinhos regionais em que as regras de produ- desde as uvas que podem, ou não, ser produzidas na re-
ção são menos rígidas do que nas AOC, especialmen- gião, procedimentos de controle do vinhedo, uvas que
te no que se refere às cepas de uvas que podem ser
podem ser usadas na elaboração dos vinhos, porcentuais
usadas. Existe uma maior liberdade e é aqui que os dos cortes, teores de álcool, etc. Daqui saem a grande
produtores deixam fluir sua criatividade e experimen- maioria dos grandes vinhos da França. São mais de 450
tação na busca de novos vinhos. Apesar de existir muito
diferentes AOC espalhadas por todas as regiões produ-
vinho de baixa qualidade, pode-se encontrar bons pro- toras, respondendo por cerca de 50% da produção nacio-
dutos com esta denominação. Correspondem a cerca nal. A denominação é estampada no rótulo e pode ser
de 30% da produção total.
usada sozinha, ou em conjunto com o nome da região.
Produção Mundial de Vinhos
O mercado mundial de vinhos 1. Itália – 47.700.000 hl (um hectolitro = 100 litros)
2. França – 45.600.000 hl
A França rivaliza com a Itália como maior produtor e com
a Espanha em termos de área plantada. Sua produção
anual alcança cerca de 5.8 bilhões de garrafas. O consumo
3. Espanha – 35.200.000 hl
Consumo Mundial de Vinhos
1. França – 29.900.000 hl
per capita está hoje ao redor de 60 litros anuais, uma signifi- 2. Estados Unidos – 27.300.000 hl
cativa redução em relação aos 150 litros da década de 1950. 3. Itália – 24.500.000 hl
Enquanto o consumo na França vem se reduzindo, na China 4. Alemanha – 20.300.000 hl
está em franca expansão. 5. China – 14.000.000 hl
Superfície de Vinhedos Exportação Mundial de Vinhos
1. Espanha – 1.113.000 ha (hectare) 1. Itália – 18.600.000 hl
2. França – 840.000 ha 2. Espanha – 14.400.000 hl
3. Itália – 818.000 ha 3. França – 12.500.000 hl
4. China – 470.000 ha 4. Austrália – 7.700.000 hl
A Lavoura DEZEMBRO/2011 19
20. VINICULTURA
Châteauneuf-du-Pape
produz vinhos de fama mundial
CRISTINA BARAN
Châteauneuf-du-Pape, uma das regiões de terra mais caras da França...
N uma pequena região, no coração da região sul do Rhone,
fica a área de produção de Châteauneuf-du-Pape, en-
tre as cidades de Avignon e Orange. Situada no topo de uma
colina, possui 3.000 hectares de vinhedos. Nesta área o solo
é coberto de pequenas pedras que absorvem calor durante
o dia e aquecem as raízes das videiras de noite, os chama-
dos “galets”. Uma das regiões de terras mais caras na Fran-
CRISTINA BARAN
ça, em Châteauneuf-du-Pape o hectare custa em média o equi-
valente a R$ 1 milhão e as propriedades medem em torno de
5 hectares.
A estória desses vinhedos tem as suas raízes num dos capí-
tulos mais curiosos da História da França, que é a chegada dos
papas à Avignon durante a Idade-Média. Nesta cidade, seis pa-
pas se sucederam ao longo de um período de setenta anos.
Denominação
Em 1929, a denominação de origem, Châteauneuf-du-Pape,
foi sacramentada.
A denominação permite a utilização de 13 tipos de uvas
diferentes para constituir esse vinho. Contudo, nos
“assemblages”, a proporção de uva grenache noir costuma
ser de 80%, sendo complementada em geral pela syrah e a
mourvèdre. As outras variedades são usadas como tempe- ... e as vinhas com as quais são produzidos os vinhos com alto
ro: cinzault, muscardin, vaccarèse, terret noir, picpoul noir, valor no mercado
counoise.
Vale mencionar também as castas brancas que produzem
vinhos, cuja qualidade vem aumentando a cada ano, e cuja A sua cor mais característica é um rubi escuro com refle-
uva dominante é a grenache blanc, seguida pela clairette, a xos granada. Os seus aromas, por tradição, são extremamen-
bourboulenc, a picardan e a roussanne. te sedutores. Entre eles, predominam toques pronunciados
Fama mundial de frutas vermelhas maduras, de especiarias e de ervas aro-
De fama mundial, conhecido pelas suas garrafas amplas e máticas, sempre de grande intensidade.
bojudas, que trazem o selo das armas dos papas estampado No paladar, há equilíbrio entre acidez e álcool, sendo que
no vidro, o Châteauneuf-du-Pape possui grande força e volu- o seu corpo aveludado e volumoso tem um final longo e
me, graças à uva grenache que proporciona a sua consistên- frutado, com um amargor leve e amadeirado.
cia característica de um vinho de guarda. Assim, os seus Para os tintos: mourvedre, grenache, syrah, cinsault,
melhores vinhos podem esperar de 10 a 12 anos até serem counoise, muscardin, vaccarese.
consumidos, alguns dos quais podem ser guardados por até Para os brancos: grenache blanc, bourboulenc, clairette,
25 anos. roussanne, picpoul, picardan.
20 DEZEMBRO/2011 A Lavoura