1. A Escola e a Abordagem Comparada. Novas realidades e novos olhares. Rui Canário
A Escola e a Abordagem Comparada. Novas realidades e novos olhares
Rui Canário
Devido ao acelerado processo de integração económica supranacional
denotaram-se transformações a nível de políticas educacionais. Estas passam a
focalizar-se na preparação dos jovens para o mercado de trabalho. Como exemplo disso
temos o processo de Bolonha que pretende “promover a dimensão europeia do ensino
superior, a mobilidade e a cooperação, em particular nos domínios da avaliação e da
qualidade, e tornar assim o Espaço Europeu de Ensino Superior mais competitivo e
coeso”1. Essa coesão verifica-se através do reconhecimento dos diplomas dos cursos a
nível europeu, tornando mais fácil a entrada no mundo do trabalho de pessoas que
procuram emprego em países que não o seu. Esta procura começa a ser estimulada
aquando o aparecimento de programas como o ERASMUS que permite a mobilidade de
jovens estudantes entre vários países. Este programa traduz novamente a ideia de coesão
na Europa.
Mediante esta globalização, os sistemas educativos concebidos estritamente a
nível nacional passam a estar ultrapassados. Isto acontece porque a educação já não visa
apenas uma coesão nacional, mas sim uma coesão a nível mundial, que está subordinada
às políticas educativas de “carácter económico inerente a um mercado global e único”
(pag 30). Nesta perspectiva, já não se tem em conta apenas os aspectos sociais,
culturais, políticos, económicos de cada país na criação de políticas educativas mas,
tem-se em conta principalmente esses mesmos aspectos dos países em geral da Europa,
com o objectivo de consolidar um “mercado mundial da educação”.
Outra transformação visível no campo da educação provocada pela globalização
é a crescente colaboração de organismos supranacionais que contribuem para o
desenvolvimento da educação “através de programas de cooperação técnica, de apoio à
investigação e ao desenvolvimento” (pag 30). Alguns exemplos desses organismos são:
o Banco Mundial, o Fundo Monetário Internacional, a OCDE, a Unesco, Comissão
Europeia.
Actualmente é cada vez mais comum a utilização dos conceitos
“educação/formação”, o que faz com que haja um esbatimento dos diversos tipos de
fronteiras, ou seja, já não se separa a educação escolar e pós-escolar, a educação e o
trabalho, a educação e o emprego e a educação e o lazer. É usual a empregação do
1)http://www.ipleiria.pt/portal/ipleiria?p_id=6859 Página 1
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termo “Aprendizagem ao longo da Vida” pois cada vez mais é necessário estar a par do
desenvolvimento global, quer a nível cultural, tecnológico, económico, político,
educacional. Quer isto dizer que a apreensão de conhecimentos não acontece apenas nas
instituições escolares, mas cada vez mais através de outras formações tanto profissionais
(participação em conferências, Centro de Competências, Novas Oportunidades) como
pessoais (através dos média, jornais, revistas, viagens).
Ainda neste contexto, existe uma forte necessidade de formação do indivíduo
devido “às exigências do mercado de trabalho e de gestão do emprego” (pag 32) o que
faz com que seja impossível separar a educação da situação profissional dando origem a
um novo paradigma educativo, onde o que importa mais são as competências e não a
cultura.
Mediante estas transformações no campo educacional, assiste-se a uma
modificação do papel do professor, este que também é vítima das tensões causadas pelas
constantes reformas das políticas educativas e do seu próprio estatuto. A identidade do
educador tende a desaparecer e a eficácia do seu trabalho e métodos a ser questionada.
Ao mesmo tempo que há um aumento da autonomia das escolas existe uma diminuição
da autonomia dos docentes e uma consequente precarização do trabalho dos mesmos. É
neste âmbito que Agnès van Zanten relacionou a “crise” “da profissão docente com a
crise de um modelo de regulação burocráticpo/profissional, concominante com a
emergência de lógicas de mercado”. Agnès van Zanten refere que o enquadramento
externo e interno aos estabelecimentos é contraditório à retórica largamente difundida
sobre a autonomia profissional, ou seja, a suposta autonomia que os professores deviam
usufruir, educando segundo o contexto da turma e as necessidades da mesma, é
substituída pelas experiências educativas provenientes de outros contextos e que, de
uma forma discreta, são implementadas nas escolas, com o objectivo de educar crianças
e jovens de acordo com as necessidades económicas e culturais de uma sociedade cada
vez mais globalizada.
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