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Entrevista ELIANA ZARONI

Muito além da paleta
                                                                                                                          HENRIQUE SANTIAGO E KÁIQUE FERREIRA




A artista defende a liberação de espaços adequados para a prática da pichação no
país e apresenta sua crítica esclarecedora sobre o papel da arte na sociedade


A                                                                                 “
     artista plástica Eliana Zaroni Lin-
     denberg, 56, tem sua vida dedicada à                                             O grafite é uma
     arte. São quase quatro décadas de
     carreira e um vasto currículo que                                            manifestação legítima
mostra a versatilidade em sua obra. Ela
foi convidada para expor sua arte no                                                da necessidade de
Museu de Arte Moderna e fez parceria
com artistas renomados, dentre eles Vik
Muniz. A sua realização mais acessível
                                                                                   expressão e deveria
ao povo é a escultura “Solaris”, locali-                                          ser reconhecido como

                                                                                               ”
zada na Estação Penha do Metrô, em
São Paulo. Além de obras de alcance
popular, Eliana é doutora em pictogra-
                                                                                           arte
mas e ideogramas. O seu trabalho é
deveras crítico, assim como sua opinião
referente à arte desde os primórdios até
os dias atuais. A plasticista defende a
implantação de áreas cujo espaço seja
reservado para a exposição de diversos
elementos gráficos, dentre eles a pi-
chação. “Humanizar nossos sentidos,
compartilhar poéticas, sensibilidade e
liberdade de expressão”, diz ela sobre
a pichação. Como admiradora da arte,
propõe que todos os manifestos artísti-
cos devão ser inseridos na sociedade.

A arte no metrô é viável, sabendo que a
pressa é predominante no dia a dia do
paulistano? Há tempo para ser aprecia-
da? Há obras que exigem mais e aos
poucos aprimoramos nosso olhar e a
descobrimos. O mesmo acontece se
o olhar é desprendido, já que somos
pegos de repente, como se estivésse-
                                            HENRIQUE SANTIAGO E KAÍQUE FERREIRA




mos vendo pela primeira vez, pois na
arte há vários planos de percepção e
de representação. Não há como prever
assim em um único momento. Por
um instante percebemos e depois nos
apaixonamos.

O quão importante é a união de obras
de arte e metrô, por onde circulam mi-
lhares de paulistanos? É um patrimô-
nio cultural paulistano. Consiste em
transformar aos poucos o olhar dos
cidadãos, para que valorizem a arte e
não as vitrines de um shopping. É um
                                                                                             veja/universidade cruzeiro do sul I 03 DE JUNHO, 2011 I 17
Entrevista       ELIANA ZARONI




modo de a arte estar na vida, de olhar,
de ampliar a experiência da arte na
                                                 “A arte de um
                                                distingue
                                                          se
                                                                                    cado de determinado assunto e passa
                                                                                    a conferir-lhe uma nova significação,
vida cotidiana.
                                              período histórico                     de modo que o “encaixe social” da
                                                                                    obra que se cria passa por todo o
O quão relevante é a inserção da arte
para o espaço urbano? A arte modifica            ao outro por                       repertório dos fatos inseridos em seu
                                                                                    contexto, desde o meio ambiente até
o ambiente, agindo em nossa memó-                                                   a situação cultural, política e social.
ria e em nossa imaginação. Como               suas convenções,                      Se isso acontece é porque há na arte
comunicação sensível desperta os                                                    uma sabedoria, um conhecimento
sentidos afetivos em nosso diálogo                 por criar                        que é transpassado, que solicita nossa
com o que nos cerca. A Companhia do                                                 sensibilidade, “ ao mesmo tempo que
Metropolitano - Metrô vem realizando              um estilo,                        convida a razão a se integrar ludi-
ao longo desses anos uma das expe-                                                  camente ao sentir”, parafraseando a
riências mais ricas e fundamentais de            produzir um                        filósofa Krauss.
apropriação estética para a população
paulistana, relacionando arte e vida             determinado                        As escolas não estimulam a arte em
com as contingências da urbanidade,                                                 seus alunos, quando estipulam as cores
com o indivíduo ou com a própria                    gênero                          e o formato de alguns desenhos? A arte


                                                                          ”
comunidade. Nesse processo ainda há                                                 se distingue de um período histórico
muita dificuldade de se pensar a arte
pública como uma intervenção, que
                                                de concepção                        ao pôr suas convenções, por criar um
                                                                                    estilo e produzir um determinado gê-
direcionada da maneira certa, pode                                                  nero de concepção. Quando se torna
trazer grandes benefícios ao patrimô-                                               uma convenção, no mundo já estão
nio cultural e arquitetônico da cidade.    preceitos, no entanto, atrofiam o lado   brotando outras formas de expressão,
Observa-se o pouco interesse que há        artístico da pessoa. Como você vê es-    que transformam estas que já se fo-
em restaurar obras de arte através da      ses parâmetros para a composição das     ram, convencionadas. Ela se distingue
subvenção, patrocínios ou mesmo            obras? É uma construção poética e        por ser um ato criativo que acompa-
verbas de parcerias, que sabemos           sensível muito particular, assim como    nha o ser humano desde os tempos
que são cada vez mais abolidas. As         é na literatura e na música. Há os       das cavernas. Os neolíticos traçaram o
obras que permanecem preservadas           artistas que criam suas obras através    conhecimento adquirido nas relações
se tornam signos culturais na imagem       das contingências, enquanto outros       do homem com o ambiente e em sua
do ambiente urbano que está carente        se aproximam do mundo através da         forma de estruturar o mundo, como na
dessa ação comunicativa.                   história e outras vivências poéticas     escrita do ideograma, como nas abs-
                                           pelas quais ficam sensibilizados. São    trações da geometria, da matemática
O interesse do brasileiro para com a       fatores que evidenciam muitas fontes     e da arquitetura. Na arte, os artifícios
arte é suficiente o bastante para haver    de origem. Depende do caminho que        manufaturados inscritos pelos primiti-
grandes exposições? O brasileiro é         você escolhe e no processo de elabo-     vos nos relevos da pedra, o sentido de
criativo, gosta de participar e viver. A   ração, vai adquirindo forma e conte-     integração cosmológica e a liberdade
arte é a melhor forma de tirar o indiví-   údo, produzindo o sedimento criativo     de pensamento poético conquistaram
duo da alienação.                          para o pensar artístico.                 um espaço único para o desenvolvi-
                                                                                    mento dos desígnios da experiência da
De onde parte a inspiração para projetar   A maior preocupação do artista é expor   criação humana. Este sentimento de
a arte? A inspiração é uma ocorrência      seus sentimentos em sua obra ou a        ultrapassagem do significado da cap-
que se dá a partir da prática, de um       reação que causará no espectador?        tação do mundo, (que ainda prevalece
trabalho que se aprofunda, e em um         Existe uma cadeia de interações,         na atitude do artista de hoje) originou
determinado instante, revela o quão        que são lidas pelo espectador como       as sínteses perceptivas e estruturou o
ampla é a conexão com o mundo que          possibilidades de arranjos e de formar   conhecimento de sistemas posteriores
nos circunda. Fruto de muita persis-       novos contextos em seu discurso in-      de representação.
tência e paciência, quando acontece        dividual. As obras podem influenciar
é porque o artista está pronto para        nossos hábitos de sentir, provocando     Tarsila do Amaral, Manabu Mabe e Di
decifrá-la, surgindo assim uma cone-       mudanças, já que o espectador não        Cavalcanti são alguns dos mais reno-
xão muito íntima e natural.                está isolado da obra, como afirma a      mados artistas brasileiros mundo afora.
                                           crítica Rosalind Krauss; ao contrário,   Por que no Brasil a notoriedade de seus
Quando um artista está criando, ele        ele entra em seu discurso através das    artistas não é devidamente valorizada?
utiliza-se dos valores culturais adqui-    experiências interiorizadas, numa        O problema estaria no próprio cidadão
ridos nas experiências vividas. Os         espécie de fusão que altera o signifi-   ou na falta de incentivo à arte? Ocorre
18 I 03 DE JUNHO, 2011 I veja/universidade cruzeiro do sul
pela falta de veiculação e pouco espa-
ço na mídia. Mesmo com toda a tec-
                                                “Ada cultura
                                                  divulgação
                                                                                       ocorre somente por um ou outro fator.
                                                                                       e sim, por um emaranhado de senti-
nologia os museus continuam cheios,
ou até mesmo em obras públicas                      na mídia                           mentos que necessitam ser repassados
                                                                                       e emitidos.
monumentais. Repare quantas pessoas
querem ser fotografas no Ibirapuera,            é informativa,                         No século XXI há inovação e criativi-
sobre o Monumento às Bandeiras, ou                                                     dade suficientes para ser criado um
à frente, nessa escultura de Brecheret,         fragmentária,                          novo movimento de arte? A História da
no fim de semana, ou até mesmo apre-                                                   Arte demonstra que hoje a arte se faz
ciar dentro do carro, os vários ângulos              pouco                             por fragmentos do mundo urbano, do
da obra. Ela é um marco, referência e                                                  avanço tecnológico, diferenciado-se
signo atuante no espaço da cidade.               aprofundada                           do que ocorria no século passado ou
                                                                                       em tempos mais remotos. O cubismo,
Como você vê o valor da arte brasileira      como conhecimento                         por exemplo, foi o primeiro movi-
para os brasileiros e da arte brasilei-                                                mento a incluir materiais do mundo
ra para os estrangeiros? No Brasil,              que estimule                          real, com o pedaço de jornal que
a divulgação da cultura na mídia é                                                     Picasso e Braque inseriram na tela
informativa, fragmentária e pouco                 a reflexão e                         ao invés de pintá-la; o famoso papier



                                                                             ”
aprofundada como um conhecimento                                                       collé; com isso, o mundo real e virtual
que estimule a reflexão e a introspec-
ção. O que prevalece atualmente é o
                                               a instrospecção                         passaram a interagir. Assim como
                                                                                       Duchamp criou o ReadMade e aboliu
modelo de programações estrangeiras.                                                   o fazer artístico tradicional. Os movi-
O que vi sobre o Brasil na divulgação                                                  mentos de vanguarda passaram a não
da mídia remanesce da arte popular          para o seu registro. As duas formas        ser mais em séculos, de cinquenta em
brasileira, a alegoria do carnaval, que     de expressão devem ser inseridas           cinquenta anos. Agora, elas caminham
hoje é considerada como a maior ma-         na programação visual urbana, mas          em um curto espaço de tempo. No sé-
nifestação de arte e de festa produzida     redirecionadas, assim como foram           culo passado ocorriam de dez em dez
no planeta. Sem dúvidas, é o que há         realizadas as obras de arte adquiridas     anos, depois de cinco em cinco anos,
de mais belo e simbólico na comuni-         pelo metrô, em espaços próprios,           até que hoje não há mais uma barreira
cação expressiva do país.                   com intuito de agir na comunicação         para a diversidade de linguagens e
                                            urbana.                                    para o estabelecimento de apenas uma
O nacionalismo na arte, pode ser pre-                                                  convenção. O importante é o conteú-
judicial para o artista, ao ponto de seu    A pichação é uma manifestação artística    do da obra. Mesmo assim, a pintura
amor pela pátria ser alvo de críticas?      ou o desabafo de vândalos que degra-       não resiste mais como um movimen-
Sim, quando ele tem de a ser dogmáti-       dam o patrimônio público? A pichação       to. No cotidiano, cada vez mais o ócio
co e preso às convenções vigentes.          se difere do grafite por ser vandalis-     é luxo, a solidão é maior e a parti-
                                            mo, no entanto seriam necessários          cipação de atividades de arte é para
O espaço urbano de São Paulo contém         espaços públicos para mostrar essa         poucos. Vivemos na era programada,
diversos traços culturais de povos com      forma de contestação no ambiente           e com pouco tempo, para o devaneio
culturas diferentes. Como é produzida       urbano. A pichação criou uma nova          ou mesmo para se dedicar com afinco
uma obra de arte, na qual, possa atingir    forma de tipografia e deveria partici-     a algo que não sabemos se será aceito
todos os nichos da sociedade? A arte        par de uma forma mais construtiva na       ou não pelo mercado.
fala sobre o universal através do parti-    imagem da cidade. Quando você pas-
cular, como Kant afirma, assim como         sa a estudar a afloração das artes, você   Atualmente, a mídia não dá muito
Homero escreveu a Odisséia ou como          adquiri verossimilhanças e, no caso        enfoque às artes? Sim, o espaço é para
surgiu o primeiro samba.                    da pichação, há muitas coincidências       a moda, para o consumo rápido de
                                            para com os pictogramas das caver-         produtos que logo são vendidos e des-
O grafite e o piche, a priori, são produ-   nas, só que naquela época não havia a      cartados. Não dá para ser permanente.
zidos por culturas semelhantes, no en-      “politicagem” que hoje possuímos.
tanto, uma é considerada arte e a outra                                             Será possível a arte tornar-se tão
uma degradação. Como você entende           A pichação é uma obra de arte, críticas importante como o futebol é para os
esses movimentos? O grafite é uma           à sociedade ou ao governo ou é a aflo-  brasileiros? Futebol é uma arte tão im-
manifestação legítima da necessidade        ração dos dotes artísticos que a pessoa portante quanto à pintura. São meios
de expressão e deveria ser reconheci-       adquire com a sua bagagem cultural? A   de integrar a sensibilidade, união do
do como arte, para adquirir espaços         tipografia nestes aspectos é bastante   espírito no coletivo e na interioridade
permanentes, materiais resistentes          similar, mas não há como julgar se      do indivíduo.
                                                                 veja/universidade cruzeiro do sul I 03 DE JUNHO, 2011 I 19

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Entrevista ELIANA ZARONI: A arte, a sociedade e a liberdade de expressão

  • 1. Entrevista ELIANA ZARONI Muito além da paleta HENRIQUE SANTIAGO E KÁIQUE FERREIRA A artista defende a liberação de espaços adequados para a prática da pichação no país e apresenta sua crítica esclarecedora sobre o papel da arte na sociedade A “ artista plástica Eliana Zaroni Lin- denberg, 56, tem sua vida dedicada à O grafite é uma arte. São quase quatro décadas de carreira e um vasto currículo que manifestação legítima mostra a versatilidade em sua obra. Ela foi convidada para expor sua arte no da necessidade de Museu de Arte Moderna e fez parceria com artistas renomados, dentre eles Vik Muniz. A sua realização mais acessível expressão e deveria ao povo é a escultura “Solaris”, locali- ser reconhecido como ” zada na Estação Penha do Metrô, em São Paulo. Além de obras de alcance popular, Eliana é doutora em pictogra- arte mas e ideogramas. O seu trabalho é deveras crítico, assim como sua opinião referente à arte desde os primórdios até os dias atuais. A plasticista defende a implantação de áreas cujo espaço seja reservado para a exposição de diversos elementos gráficos, dentre eles a pi- chação. “Humanizar nossos sentidos, compartilhar poéticas, sensibilidade e liberdade de expressão”, diz ela sobre a pichação. Como admiradora da arte, propõe que todos os manifestos artísti- cos devão ser inseridos na sociedade. A arte no metrô é viável, sabendo que a pressa é predominante no dia a dia do paulistano? Há tempo para ser aprecia- da? Há obras que exigem mais e aos poucos aprimoramos nosso olhar e a descobrimos. O mesmo acontece se o olhar é desprendido, já que somos pegos de repente, como se estivésse- HENRIQUE SANTIAGO E KAÍQUE FERREIRA mos vendo pela primeira vez, pois na arte há vários planos de percepção e de representação. Não há como prever assim em um único momento. Por um instante percebemos e depois nos apaixonamos. O quão importante é a união de obras de arte e metrô, por onde circulam mi- lhares de paulistanos? É um patrimô- nio cultural paulistano. Consiste em transformar aos poucos o olhar dos cidadãos, para que valorizem a arte e não as vitrines de um shopping. É um veja/universidade cruzeiro do sul I 03 DE JUNHO, 2011 I 17
  • 2. Entrevista ELIANA ZARONI modo de a arte estar na vida, de olhar, de ampliar a experiência da arte na “A arte de um distingue se cado de determinado assunto e passa a conferir-lhe uma nova significação, vida cotidiana. período histórico de modo que o “encaixe social” da obra que se cria passa por todo o O quão relevante é a inserção da arte para o espaço urbano? A arte modifica ao outro por repertório dos fatos inseridos em seu contexto, desde o meio ambiente até o ambiente, agindo em nossa memó- a situação cultural, política e social. ria e em nossa imaginação. Como suas convenções, Se isso acontece é porque há na arte comunicação sensível desperta os uma sabedoria, um conhecimento sentidos afetivos em nosso diálogo por criar que é transpassado, que solicita nossa com o que nos cerca. A Companhia do sensibilidade, “ ao mesmo tempo que Metropolitano - Metrô vem realizando um estilo, convida a razão a se integrar ludi- ao longo desses anos uma das expe- camente ao sentir”, parafraseando a riências mais ricas e fundamentais de produzir um filósofa Krauss. apropriação estética para a população paulistana, relacionando arte e vida determinado As escolas não estimulam a arte em com as contingências da urbanidade, seus alunos, quando estipulam as cores com o indivíduo ou com a própria gênero e o formato de alguns desenhos? A arte ” comunidade. Nesse processo ainda há se distingue de um período histórico muita dificuldade de se pensar a arte pública como uma intervenção, que de concepção ao pôr suas convenções, por criar um estilo e produzir um determinado gê- direcionada da maneira certa, pode nero de concepção. Quando se torna trazer grandes benefícios ao patrimô- uma convenção, no mundo já estão nio cultural e arquitetônico da cidade. preceitos, no entanto, atrofiam o lado brotando outras formas de expressão, Observa-se o pouco interesse que há artístico da pessoa. Como você vê es- que transformam estas que já se fo- em restaurar obras de arte através da ses parâmetros para a composição das ram, convencionadas. Ela se distingue subvenção, patrocínios ou mesmo obras? É uma construção poética e por ser um ato criativo que acompa- verbas de parcerias, que sabemos sensível muito particular, assim como nha o ser humano desde os tempos que são cada vez mais abolidas. As é na literatura e na música. Há os das cavernas. Os neolíticos traçaram o obras que permanecem preservadas artistas que criam suas obras através conhecimento adquirido nas relações se tornam signos culturais na imagem das contingências, enquanto outros do homem com o ambiente e em sua do ambiente urbano que está carente se aproximam do mundo através da forma de estruturar o mundo, como na dessa ação comunicativa. história e outras vivências poéticas escrita do ideograma, como nas abs- pelas quais ficam sensibilizados. São trações da geometria, da matemática O interesse do brasileiro para com a fatores que evidenciam muitas fontes e da arquitetura. Na arte, os artifícios arte é suficiente o bastante para haver de origem. Depende do caminho que manufaturados inscritos pelos primiti- grandes exposições? O brasileiro é você escolhe e no processo de elabo- vos nos relevos da pedra, o sentido de criativo, gosta de participar e viver. A ração, vai adquirindo forma e conte- integração cosmológica e a liberdade arte é a melhor forma de tirar o indiví- údo, produzindo o sedimento criativo de pensamento poético conquistaram duo da alienação. para o pensar artístico. um espaço único para o desenvolvi- mento dos desígnios da experiência da De onde parte a inspiração para projetar A maior preocupação do artista é expor criação humana. Este sentimento de a arte? A inspiração é uma ocorrência seus sentimentos em sua obra ou a ultrapassagem do significado da cap- que se dá a partir da prática, de um reação que causará no espectador? tação do mundo, (que ainda prevalece trabalho que se aprofunda, e em um Existe uma cadeia de interações, na atitude do artista de hoje) originou determinado instante, revela o quão que são lidas pelo espectador como as sínteses perceptivas e estruturou o ampla é a conexão com o mundo que possibilidades de arranjos e de formar conhecimento de sistemas posteriores nos circunda. Fruto de muita persis- novos contextos em seu discurso in- de representação. tência e paciência, quando acontece dividual. As obras podem influenciar é porque o artista está pronto para nossos hábitos de sentir, provocando Tarsila do Amaral, Manabu Mabe e Di decifrá-la, surgindo assim uma cone- mudanças, já que o espectador não Cavalcanti são alguns dos mais reno- xão muito íntima e natural. está isolado da obra, como afirma a mados artistas brasileiros mundo afora. crítica Rosalind Krauss; ao contrário, Por que no Brasil a notoriedade de seus Quando um artista está criando, ele ele entra em seu discurso através das artistas não é devidamente valorizada? utiliza-se dos valores culturais adqui- experiências interiorizadas, numa O problema estaria no próprio cidadão ridos nas experiências vividas. Os espécie de fusão que altera o signifi- ou na falta de incentivo à arte? Ocorre 18 I 03 DE JUNHO, 2011 I veja/universidade cruzeiro do sul
  • 3. pela falta de veiculação e pouco espa- ço na mídia. Mesmo com toda a tec- “Ada cultura divulgação ocorre somente por um ou outro fator. e sim, por um emaranhado de senti- nologia os museus continuam cheios, ou até mesmo em obras públicas na mídia mentos que necessitam ser repassados e emitidos. monumentais. Repare quantas pessoas querem ser fotografas no Ibirapuera, é informativa, No século XXI há inovação e criativi- sobre o Monumento às Bandeiras, ou dade suficientes para ser criado um à frente, nessa escultura de Brecheret, fragmentária, novo movimento de arte? A História da no fim de semana, ou até mesmo apre- Arte demonstra que hoje a arte se faz ciar dentro do carro, os vários ângulos pouco por fragmentos do mundo urbano, do da obra. Ela é um marco, referência e avanço tecnológico, diferenciado-se signo atuante no espaço da cidade. aprofundada do que ocorria no século passado ou em tempos mais remotos. O cubismo, Como você vê o valor da arte brasileira como conhecimento por exemplo, foi o primeiro movi- para os brasileiros e da arte brasilei- mento a incluir materiais do mundo ra para os estrangeiros? No Brasil, que estimule real, com o pedaço de jornal que a divulgação da cultura na mídia é Picasso e Braque inseriram na tela informativa, fragmentária e pouco a reflexão e ao invés de pintá-la; o famoso papier ” aprofundada como um conhecimento collé; com isso, o mundo real e virtual que estimule a reflexão e a introspec- ção. O que prevalece atualmente é o a instrospecção passaram a interagir. Assim como Duchamp criou o ReadMade e aboliu modelo de programações estrangeiras. o fazer artístico tradicional. Os movi- O que vi sobre o Brasil na divulgação mentos de vanguarda passaram a não da mídia remanesce da arte popular para o seu registro. As duas formas ser mais em séculos, de cinquenta em brasileira, a alegoria do carnaval, que de expressão devem ser inseridas cinquenta anos. Agora, elas caminham hoje é considerada como a maior ma- na programação visual urbana, mas em um curto espaço de tempo. No sé- nifestação de arte e de festa produzida redirecionadas, assim como foram culo passado ocorriam de dez em dez no planeta. Sem dúvidas, é o que há realizadas as obras de arte adquiridas anos, depois de cinco em cinco anos, de mais belo e simbólico na comuni- pelo metrô, em espaços próprios, até que hoje não há mais uma barreira cação expressiva do país. com intuito de agir na comunicação para a diversidade de linguagens e urbana. para o estabelecimento de apenas uma O nacionalismo na arte, pode ser pre- convenção. O importante é o conteú- judicial para o artista, ao ponto de seu A pichação é uma manifestação artística do da obra. Mesmo assim, a pintura amor pela pátria ser alvo de críticas? ou o desabafo de vândalos que degra- não resiste mais como um movimen- Sim, quando ele tem de a ser dogmáti- dam o patrimônio público? A pichação to. No cotidiano, cada vez mais o ócio co e preso às convenções vigentes. se difere do grafite por ser vandalis- é luxo, a solidão é maior e a parti- mo, no entanto seriam necessários cipação de atividades de arte é para O espaço urbano de São Paulo contém espaços públicos para mostrar essa poucos. Vivemos na era programada, diversos traços culturais de povos com forma de contestação no ambiente e com pouco tempo, para o devaneio culturas diferentes. Como é produzida urbano. A pichação criou uma nova ou mesmo para se dedicar com afinco uma obra de arte, na qual, possa atingir forma de tipografia e deveria partici- a algo que não sabemos se será aceito todos os nichos da sociedade? A arte par de uma forma mais construtiva na ou não pelo mercado. fala sobre o universal através do parti- imagem da cidade. Quando você pas- cular, como Kant afirma, assim como sa a estudar a afloração das artes, você Atualmente, a mídia não dá muito Homero escreveu a Odisséia ou como adquiri verossimilhanças e, no caso enfoque às artes? Sim, o espaço é para surgiu o primeiro samba. da pichação, há muitas coincidências a moda, para o consumo rápido de para com os pictogramas das caver- produtos que logo são vendidos e des- O grafite e o piche, a priori, são produ- nas, só que naquela época não havia a cartados. Não dá para ser permanente. zidos por culturas semelhantes, no en- “politicagem” que hoje possuímos. tanto, uma é considerada arte e a outra Será possível a arte tornar-se tão uma degradação. Como você entende A pichação é uma obra de arte, críticas importante como o futebol é para os esses movimentos? O grafite é uma à sociedade ou ao governo ou é a aflo- brasileiros? Futebol é uma arte tão im- manifestação legítima da necessidade ração dos dotes artísticos que a pessoa portante quanto à pintura. São meios de expressão e deveria ser reconheci- adquire com a sua bagagem cultural? A de integrar a sensibilidade, união do do como arte, para adquirir espaços tipografia nestes aspectos é bastante espírito no coletivo e na interioridade permanentes, materiais resistentes similar, mas não há como julgar se do indivíduo. veja/universidade cruzeiro do sul I 03 DE JUNHO, 2011 I 19