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Entrevista | Salman Khan
38 | exame CEO | AGOSTO 2015 AGOSTO 2015 | exame CEO | 39
Crédito
Para o americano Salman Khan, o professor mais
famoso da internet, os cursos online representam a
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– como era 500 anos atrás com o modelo baseado
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americano Salman Khan, 38 anos,
é hoje a figura mais influente do mundo em tecnologia da edu-
cação. Ex-gestor de fundos de investimento, ele criou em 2006
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cacionais pela internet. Sua plataforma já permitiu a visualiza-
ção de mais de 400 milhões de aulas, em disciplinas que vão de
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alguns dos maiores bilionários do mundo: o americano Bill Gates (da
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lecomunicações América Móvil) e o brasileiro Jorge Paulo Lemann (da cervejaria
AB InBev). Khan, que estudou em algumas das melhores universidades do mundo,
como o Massachusetts Institute of Technology (MIT), onde estudou matemática
e ciência da computação, e Harvard, onde fez MBA, defende um novo modelo
educacional, que valorize mais as habilidades práticas adquiridas pelos estudantes
do que o prestígio conferido por um diploma de instituições tradicionais. De seu
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EXAME CEO Como o modelo de educação
atual está sendo impactado pela tecnologia?
SALMAN KHAN Quinhentos anos atrás, para
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bém, mais tarde, para médicos e advogados.
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Acho que os alunos vão aprender no seu ritmo
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Khan Academy. A aula vai ser mais interativa,
os alunos farão perguntas, terão projetos, par-
ticiparão de debates e workshops para apren-
der a escrever, a programar computadores. Eles
vão receber feedback uns dos outros. Vão cons-
Entrevista | Salman Khan
40 | exame CEO | AGOSTO 2015 AGOSTO 2015 | exame CEO | 41
truir seus portfólios, para provar suas habilida-
des de forma concreta. As avaliações serão ri-
gorosas. Serão não apenas questões de múltipla
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Cursosonline,comoosdaKhanAcademy,au-
xiliam alunos e professores em vários países.
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Sou um grande fã dos MOOCs [massive open
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Assim poderíamos saber, por exemplo: “Essa
pessoa é de nível cinco”. Então, o Google e o
Facebook poderiam oferecer um trabalho con-
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Hoje o Google consegue entrevistar uma fração
das pessoas que se candidatam. Eles escolhem
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frequentado boas escolas. Mas assim você dei-
xa de fora talvez 99% da população, inclusive
pessoas que poderiam ser melhores do que os
alunos de Stanford ou de Harvard. Se houvesse
uma certificação a que todos tivessem acesso,
você poderia medir a capacidade de escrever e
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crosoft e a escola de negócios Insead lançaram
uma certificação desse tipo. Acho que veremos
muito disso nos próximos dez anos.
O diploma universitário ainda é visto como
um tíquete para entrar na classe média – ou
paramanter-senela.Issovaimudarnofuturo?
Em mercados em desenvolvimento, a universi-
dade é algo para as elites e, para conseguir em-
pregos, é ótimo ter diploma. Mas, nos Estados
Unidos, quase todo mundo vai para a universi-
dade. Antes, os alunos com pós-graduação con-
seguiam os melhores empregos, os com menos
educação conseguiam os demais. Mas se mais
gente vai para a universidade, isso não significa
que, de repente, há mais empregos pagando
altos salários. Os pós-graduados passam a pegar
os empregos daqueles com faculdade e os com
diploma universitário pegam empregos de pes-
soas com ensino médio. Você estuda economia
O professor do
futuro será
como um
treinador: ele
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estudante a
alcançar a
meta traçada
Salman Khan
ao lado do
empresário
Jorge Paulo
Lemann: ajuda
de pessoas
influentes para
difundir seus
cursos em todo
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o ritmo, mesmo que você ainda tenha proble-
mas para resolver. O que tentamos fazer na
Khan Academy é desempacotar esse conteúdo
para que uma pessoa possa aprender no seu
próprio ritmo. Não nos consideramos um
MOOC. Sobre a certificação, acho que isso vai
acontecer. Só não sei se nós [da Khan Academy]
vamos fazer. Sempre que encontro com um
político, digo: “Crie um sistema no seu país em
que uma pessoa possa provar que aprendeu”.
Se essa certificação for respeitada universal-
mente, pode ser uma ferramenta poderosa.
Mas o sr. vê os políticos de algum país se mo-
vendo nessa direção?
Acho que a indústria vai fazer isso antes. As
empresas estão frustradas porque analisam o
currículo de alunos de boas universidades e,
mesmo assim, não conseguem medir o que o
Crédito
Entrevista | Salman Khan
42 | exame CEO | AGOSTO 2015 AGOSTO 2015 | exame CEO | 43
achando que vai trabalhar no Federal Reserve
[o banco central americano] e, de repente, tem
que trabalhar numa cafeteria. Isso é um grande
desperdício de recursos. Você passa quatro
anos da sua vida apenas subsidiando essa in-
dústria. Isso vai mudar. Nos Estados Unidos,
como as universidades são tão caras, as pesso-
as estão questionando o retorno de seu inves-
timento e começam a surgir caminhos alterna-
tivos. No Vale do Silício, por exemplo, tem uma
escola, a App Academy, que ensina programa-
ção de computadores em alto nível por um ano,
e de graça. É o suficiente para conseguir um
emprego no Google ou no Facebook. Eles en-
contram um emprego para você e depois retêm
18% do seu primeiro salário anual. E os salários
médios dos alunos estão em seis dígitos (por
ano). Essa é uma ruptura. A maioria dos alunos
são pessoas que já estudaram em universidades
como Stanford ou Yale. Eles gastaram 200 000
dólares em quatro anos, não conseguiram em-
prego e agora estudam um ano de graça para
finalmente trabalhar. Por que não foram ime-
diatamente para essa escola? Acho que isso vai
começar a acontecer agora.
Então, há um abismo entre o que as universi-
dades ensinam e o que o mercado precisa?
Sim. No Vale do Silício, por exemplo, as pesso-
as altamente qualificadas já não precisam mais
de diplomas. Eu diria para meus filhos: “Ir pa-
ra a universidade é uma boa experiência. Você
vai morar num dormitório, discutir filosofia...
mas é um luxo”. Francamente, acho que se
aprende mais viajando pelo mundo. Mas se vo-
cê quiser ter uma posição profissional com uma
contribuição significativa para a sociedade, um
diploma pode não se necessário.
Paísesdesenvolvidosenfrentamdificuldades
paraencontrarprofissionaiscomníveldeedu-
cação profissionalizante. Como o sr. vê isso?
É o mercado enviando um forte sinal. Um CEO
me disse que soldadores bem qualificados ga-
nham 200 000 dólares por ano nos Estados
Unidos. É mais do que um médico. Esses sol-
dadores passam por um ano de curso profissio-
nalizante e depois aprendem com um mestre
poralgunsanos.Elesjáfazemdinheiroenquan-
to estudam. Encanadores conseguem, facil-
mente, salários anuais de seis dígitos. O emprei-
teiro que renovou minha casa ganha muito
dinheiro. Ele me disse que falta gente treinada.
O sr. acredita que as pessoas estão estudando
demais hoje em dia?
Como minha mulher é médica, vi o que fizeram
com a escola de medicina. Oito anos de educa-
ção são desnecessários. E ainda há pessoas com
MD-Phd [doutorado para médicos interessados
em pesquisa acadêmica], um nível ainda mais
avançado. Ninguém retém tanta informação. É
apenas um ritual. Outros países têm um sistema
mais racional, com um ano ou dois de academia
e treinamento na área. Acho que um ano ou dois
de academia, seguidos de trabalho no campo,
em quase qualquer área, é o que basta. Não é
preciso ficar na escola por 20 anos.
Com que idade os jovens poderiam começar
a trabalhar?
O que estou dizendo é audacioso, porque seria
necessário reformar o ensino básico e o médio,
mas acredito que muitos estudantes no final do
ensino fundamental poderiam aprender como
Um ou dois anos de
academia, seguidos de
trabalho no campo, é o
suficiente. Ninguém
precisa ficar na escola
por 20 anos
os atuais alunos de graduação. Com 21 anos, as
pessoas poderiam entrar no mercado com um
nível alto de qualificação. Seria possível ter mé-
dicos, advogados e cientistas com essa idade. Já
para pessoas que trabalham em um emprego
tradicionaldeescritório,elespoderiamcomeçar
no fim da adolescência. Se fizéssemos isso, adi-
cionaríamos produtividade à economia. Esses
são os anos mais produtivos e criativos das pes-
soas. Você não tem uma família, pode ficar acor-
dadoanoitetodaenãogastarecursosparapagar
mensalidades(ouogovernonãogastarecursos).
Hoje temos uma carreira de 40 anos e podería-
mos estendê-la para 50, 55 anos.
A Khan Academy tem no Brasil um de seus
maiores mercados. O que a tornou tão popu-
lar no país?
A Khan Academy cresceu por meio da divulga-
ção boca a boca tanto no Brasil como nos Esta-
dos Unidos. Mas, nos últimos três anos, o cres-
cimento se deu com a ajuda da Fundação Le-
mann. O empresário Jorge Paulo Lemann fez
da Kahn Academy um dos principais focos de
sua fundação no Brasil. Eles têm um projeto
piloto com 70 000 estudantes em 44 cidades.
No último ano, quase 5 milhões de brasileiros
usaram a Khan Academy.
Como o sr. conheceu Jorge Paulo Lemann?
Ele veio para o nosso escritório uma vez e eu
não sabia quem era. Vi que era um cara inteli-
gente, que fazia boas perguntas. Depois me
perguntaram: sabe quem ele é? Eu disse: sim, é
um homem de negócios brasileiro. Então me
explicaram que ele é “o” homem de negócios
brasileiro. Hoje o vejo como um mentor. Ele é
um cara fascinante, que conquistou muito nos
negócios e em outras áreas, como no tênis [Le-
mann foi um dos melhores tenistas do Brasil nos
anos 60 e chegou a disputar o tradicional torneio
de Wimbledon].
Existe alguma particularidade do mercado
brasileiro para a Khan Academy?
O Brasil é um país em rápido desenvolvimento
econômico. E, nesse processo, pode pular eta-
pas pelas quais os países desenvolvidos tiveram
de passar. A classe média brasileira está cres-
cendo rápido e está faminta por esse tipo de
recurso oferecido pela Khan Academy. Há um
rápido crescimento da conectividade, especial-
mente por meio de celulares. A dinâmica está
lá, assim como pessoas visionárias como o Jor-
ge Paulo, que perceberam que a educação é
chave para o Brasil.
Crédito
Khan em
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doméstico na
Califórnia: para
ele, aprende-se
mais “viajando
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  • 2. Entrevista | Salman Khan 40 | exame CEO | AGOSTO 2015 AGOSTO 2015 | exame CEO | 41 truir seus portfólios, para provar suas habilida- des de forma concreta. As avaliações serão ri- gorosas. Serão não apenas questões de múltipla escolha, mas também exames orais ou projetos para criar algo. O papel do professor será mais importante ainda. Hoje é ele quem dissemina informação, dá aula e a nota. No futuro, ele vai ser cada vez mais o mentor, o guia. Será como um treinador esportivo: o estudante tem uma meta e o professor o ajuda a chegar lá. Pela sua experiência, que tipo de habilidades está faltando para os estudantes que entram hoje no mercado de trabalho? Uma das principais habilidades que faltam é saberescrever.Issotemavercomaformacomo essa técnica é ensinada. Claro que gramática é importante, mas escrever é mais do que isso: é uma jornada criativa. Portanto, escrever deve- ria ser ensinado em workshops, com os estu- dantes recebendo bastante feedback. É uma habilidade clássica, ainda mais importante ho- je em dia. As pessoas com maiores chances de conseguir um emprego são as que sabem se expressar, planejar, escrever documentos e fa- zer marketing online de si mesmas. Outra ha- bilidade exigida, relacionada a essa, é a comu- nicação oral, que está praticamente fora do sistema educacional comum. Fomos ensinados a sentar e ficar quietos. E uma nova habilidade que eu destacaria é a programação de compu- tadores. Nem todo mundo vai se tornar progra- mador, mas você pode fazer coisas poderosas usando um programa. Em um nível mais abs- trato, eu destacaria a habilidade de aprender. Não basta aprender uma habilidade e aplicá-la por 40 anos. Se aparece algo novo, você precisa saber como tirar o conhecimento que está na internet e aplicá-lo sozinho. Cursosonline,comoosdaKhanAcademy,au- xiliam alunos e professores em vários países. Maselespodemiralém?Seriapossívelreceber certificadosreconhecidospelomercadodepois de concluir esses cursos? Sou um grande fã dos MOOCs [massive open online courses, ou cursos online abertos e mas- sivos]. Nossa missão é promover uma educação de qualidade e de graça para qualquer um em qualquer lugar, e eles também seguem essa mis- são. Mas é diferente do que nós fazemos. Os MOOCs tentam trazer aulas clássicas para o mundo virtual. Isso é bom porque o mundo to- do pode ter acesso ao que se passa em Stanford ou em Harvard. Mas, se você não puder acom- panhar o ritmo do MIT, que pena. Eles mantêm candidato realmente sabe. No Vale do Silício, os candidatos a empregos passam por quatro ou cinco rodadas de entrevistas. Esse processo deveria ser padronizado e feito apenas uma vez. Assim poderíamos saber, por exemplo: “Essa pessoa é de nível cinco”. Então, o Google e o Facebook poderiam oferecer um trabalho con- dizente para uma pessoa “com nível cinco”. Hoje o Google consegue entrevistar uma fração das pessoas que se candidatam. Eles escolhem os entrevistados por meio de critérios como ter frequentado boas escolas. Mas assim você dei- xa de fora talvez 99% da população, inclusive pessoas que poderiam ser melhores do que os alunos de Stanford ou de Harvard. Se houvesse uma certificação a que todos tivessem acesso, você poderia medir a capacidade de escrever e programar computadores, por exemplo. A Mi- crosoft e a escola de negócios Insead lançaram uma certificação desse tipo. Acho que veremos muito disso nos próximos dez anos. O diploma universitário ainda é visto como um tíquete para entrar na classe média – ou paramanter-senela.Issovaimudarnofuturo? Em mercados em desenvolvimento, a universi- dade é algo para as elites e, para conseguir em- pregos, é ótimo ter diploma. Mas, nos Estados Unidos, quase todo mundo vai para a universi- dade. Antes, os alunos com pós-graduação con- seguiam os melhores empregos, os com menos educação conseguiam os demais. Mas se mais gente vai para a universidade, isso não significa que, de repente, há mais empregos pagando altos salários. Os pós-graduados passam a pegar os empregos daqueles com faculdade e os com diploma universitário pegam empregos de pes- soas com ensino médio. Você estuda economia O professor do futuro será como um treinador: ele vai ajudar o estudante a alcançar a meta traçada Salman Khan ao lado do empresário Jorge Paulo Lemann: ajuda de pessoas influentes para difundir seus cursos em todo o mundo o ritmo, mesmo que você ainda tenha proble- mas para resolver. O que tentamos fazer na Khan Academy é desempacotar esse conteúdo para que uma pessoa possa aprender no seu próprio ritmo. Não nos consideramos um MOOC. Sobre a certificação, acho que isso vai acontecer. Só não sei se nós [da Khan Academy] vamos fazer. Sempre que encontro com um político, digo: “Crie um sistema no seu país em que uma pessoa possa provar que aprendeu”. Se essa certificação for respeitada universal- mente, pode ser uma ferramenta poderosa. Mas o sr. vê os políticos de algum país se mo- vendo nessa direção? Acho que a indústria vai fazer isso antes. As empresas estão frustradas porque analisam o currículo de alunos de boas universidades e, mesmo assim, não conseguem medir o que o Crédito
  • 3. Entrevista | Salman Khan 42 | exame CEO | AGOSTO 2015 AGOSTO 2015 | exame CEO | 43 achando que vai trabalhar no Federal Reserve [o banco central americano] e, de repente, tem que trabalhar numa cafeteria. Isso é um grande desperdício de recursos. Você passa quatro anos da sua vida apenas subsidiando essa in- dústria. Isso vai mudar. Nos Estados Unidos, como as universidades são tão caras, as pesso- as estão questionando o retorno de seu inves- timento e começam a surgir caminhos alterna- tivos. No Vale do Silício, por exemplo, tem uma escola, a App Academy, que ensina programa- ção de computadores em alto nível por um ano, e de graça. É o suficiente para conseguir um emprego no Google ou no Facebook. Eles en- contram um emprego para você e depois retêm 18% do seu primeiro salário anual. E os salários médios dos alunos estão em seis dígitos (por ano). Essa é uma ruptura. A maioria dos alunos são pessoas que já estudaram em universidades como Stanford ou Yale. Eles gastaram 200 000 dólares em quatro anos, não conseguiram em- prego e agora estudam um ano de graça para finalmente trabalhar. Por que não foram ime- diatamente para essa escola? Acho que isso vai começar a acontecer agora. Então, há um abismo entre o que as universi- dades ensinam e o que o mercado precisa? Sim. No Vale do Silício, por exemplo, as pesso- as altamente qualificadas já não precisam mais de diplomas. Eu diria para meus filhos: “Ir pa- ra a universidade é uma boa experiência. Você vai morar num dormitório, discutir filosofia... mas é um luxo”. Francamente, acho que se aprende mais viajando pelo mundo. Mas se vo- cê quiser ter uma posição profissional com uma contribuição significativa para a sociedade, um diploma pode não se necessário. Paísesdesenvolvidosenfrentamdificuldades paraencontrarprofissionaiscomníveldeedu- cação profissionalizante. Como o sr. vê isso? É o mercado enviando um forte sinal. Um CEO me disse que soldadores bem qualificados ga- nham 200 000 dólares por ano nos Estados Unidos. É mais do que um médico. Esses sol- dadores passam por um ano de curso profissio- nalizante e depois aprendem com um mestre poralgunsanos.Elesjáfazemdinheiroenquan- to estudam. Encanadores conseguem, facil- mente, salários anuais de seis dígitos. O emprei- teiro que renovou minha casa ganha muito dinheiro. Ele me disse que falta gente treinada. O sr. acredita que as pessoas estão estudando demais hoje em dia? Como minha mulher é médica, vi o que fizeram com a escola de medicina. Oito anos de educa- ção são desnecessários. E ainda há pessoas com MD-Phd [doutorado para médicos interessados em pesquisa acadêmica], um nível ainda mais avançado. Ninguém retém tanta informação. É apenas um ritual. Outros países têm um sistema mais racional, com um ano ou dois de academia e treinamento na área. Acho que um ano ou dois de academia, seguidos de trabalho no campo, em quase qualquer área, é o que basta. Não é preciso ficar na escola por 20 anos. Com que idade os jovens poderiam começar a trabalhar? O que estou dizendo é audacioso, porque seria necessário reformar o ensino básico e o médio, mas acredito que muitos estudantes no final do ensino fundamental poderiam aprender como Um ou dois anos de academia, seguidos de trabalho no campo, é o suficiente. Ninguém precisa ficar na escola por 20 anos os atuais alunos de graduação. Com 21 anos, as pessoas poderiam entrar no mercado com um nível alto de qualificação. Seria possível ter mé- dicos, advogados e cientistas com essa idade. Já para pessoas que trabalham em um emprego tradicionaldeescritório,elespoderiamcomeçar no fim da adolescência. Se fizéssemos isso, adi- cionaríamos produtividade à economia. Esses são os anos mais produtivos e criativos das pes- soas. Você não tem uma família, pode ficar acor- dadoanoitetodaenãogastarecursosparapagar mensalidades(ouogovernonãogastarecursos). Hoje temos uma carreira de 40 anos e podería- mos estendê-la para 50, 55 anos. A Khan Academy tem no Brasil um de seus maiores mercados. O que a tornou tão popu- lar no país? A Khan Academy cresceu por meio da divulga- ção boca a boca tanto no Brasil como nos Esta- dos Unidos. Mas, nos últimos três anos, o cres- cimento se deu com a ajuda da Fundação Le- mann. O empresário Jorge Paulo Lemann fez da Kahn Academy um dos principais focos de sua fundação no Brasil. Eles têm um projeto piloto com 70 000 estudantes em 44 cidades. No último ano, quase 5 milhões de brasileiros usaram a Khan Academy. Como o sr. conheceu Jorge Paulo Lemann? Ele veio para o nosso escritório uma vez e eu não sabia quem era. Vi que era um cara inteli- gente, que fazia boas perguntas. Depois me perguntaram: sabe quem ele é? Eu disse: sim, é um homem de negócios brasileiro. Então me explicaram que ele é “o” homem de negócios brasileiro. Hoje o vejo como um mentor. Ele é um cara fascinante, que conquistou muito nos negócios e em outras áreas, como no tênis [Le- mann foi um dos melhores tenistas do Brasil nos anos 60 e chegou a disputar o tradicional torneio de Wimbledon]. Existe alguma particularidade do mercado brasileiro para a Khan Academy? O Brasil é um país em rápido desenvolvimento econômico. E, nesse processo, pode pular eta- pas pelas quais os países desenvolvidos tiveram de passar. A classe média brasileira está cres- cendo rápido e está faminta por esse tipo de recurso oferecido pela Khan Academy. Há um rápido crescimento da conectividade, especial- mente por meio de celulares. A dinâmica está lá, assim como pessoas visionárias como o Jor- ge Paulo, que perceberam que a educação é chave para o Brasil. Crédito Khan em seu estúdio doméstico na Califórnia: para ele, aprende-se mais “viajando pelo mundo” do que em uma universidade