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[Relatos de uma Vida] Uma história realmente imaginária ou imaginariamente real? Marian de Souza
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Capítulo I. Despedidas. ............................................................................................................... 3 
Capítulo II. Expectativas ............................................................................................................. 5 
Capítulo III. Contando (e escrevendo) histórias ........................................................................... 7 
Capítulo IV: peça de teatro e a música. (Sim, a música!) .............................................................. 9 
Aurora ............................................................................................................................................... 9 
Cogumelo ......................................................................................................................................... 10 
Capítulo V. Sobre a arte e o prazer de viajar. ............................................................................ 11 
Capítulo VI- Sobre a arte de cuidar ........................................................................................... 12 
Capítulo VII. O afeto e o cuidar. ................................................................................................ 15 
Capítulo VIII. Quando a gente gosta, é claro que a gente cuida... .............................................. 17 
Capítulo IX. E o cuidar continua ................................................................................................ 19 
Capítulo X: aprender a cuidar, cuidar para aprender, ou: a importância da dor do outro no entendimento das nossas próprias dores .................................................................................. 20 
Trabalhando com Pacientes Laringectomizados ................................................................................. 21 
Laringectomia e Espiritismo .............................................................................................................. 24 
Capítulo XI: Existem pessoas que parecem surgir “do nada”, mas na verdade são anjos enviados por Deus para nos ajudar na nossa missão”! ............................................................................. 27 
Capítulo XII: Porque toda pessoa é a pessoa certa! ................................................................... 29 
Capítulo XIII. Porque para ela, tudo é motivo para refletir! ....................................................... 31 
Refletindo sobre algumas coisas que acontecem conosco no Caminho da Vida .................................. 33 
“Não pode carregar peso”. ...................................................................................................... 35 
Caminhar... ...................................................................................................................................... 36 
Mais descobertas- hérnia! ................................................................................................................ 37 
Capítulo XIV: sobre o tempo ..................................................................................................... 39 
O tempo ........................................................................................................................................... 39 
Capítulo XV: Saudade ............................................................................................................... 41 
Capítulo XVI: Considerações finais, ou: mas tem que ter um final? ............................................ 45 
Agradecimentos ....................................................................................................................... 46
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Capítulo I. Despedidas. 
Toda a sua família espiritual já estava reunida. Espíritos afins estavam envolvidos com os últimos preparativos para a festa de despedida. Todos sabiam que, do ponto de vista da Espiritualidade, da Eternidade, o tempo que estariam “distantes” seria muito breve, sem falar que haviam já combinado que os encontros durante o sono, e pelos sonhos, seriam constantes. Porém, espíritos de alma alegre como eram, não perdiam a chance de festejar, um festejo que ampliava ainda mais o grande raio de luz e felicidade que os circundava. Explico: cada um deles havia uma aura de luz branca e dourada que, em contato com a aura do outro, se expandia, formando como se fosse uma grande redoma de luz, do tamanho do infinito. Foi um dos grandes Mestres que a perguntou: 
_ Então, estás pronta para a missão que tu mesmas escolheste? 
_ Sim, creio de sim. 
_ Saibas que, neste caminho que escolheste, algumas vezes, se pensares em definição de papéis, te sentirás meio confusa. Serás uma mãe em um corpo de filha, e, desde muito cedo, desenvolverás um dom que se tornará uma das tuas características mais preciosas: o dom de cuidar. Além disso, faculdades como a bondade, a paciência, a persistência e também a coragem para mudar, se farão fundamentais. Haverás tantos desafios a serem superados, e em alguns momentos, não será fácil não se deixar dominar pela ansiedade. Nestas horas, lembre-se que jamais estarás só. Que nós estamos contigo, esteja onde estiveres. Respira fundo e confia. Segues a tua intuição, aquela “vozinha” que te diz o caminho a seguir, sem medo. Obstáculos são feitos para serem superados, e as mudanças fazem parte da tua caminhada. Cada passo dado, ficará registrado no teu grande livro da vida. Quando terminares esta etapa do teu trabalho, tornarás e juntos daremos uma olhada no teu livro e, se quiseres, te ajudarei a escolher o título. 
Após ter dito isto, Ele e os demais espíritos de imensa luz e bondade que se encontravam ali reunidos se deram as mãos, formando um grande círculo de luz. Pediram então para que aquele jovem espírito, que se preparava para reencarnar, tomasse o centro do círculo. Feito isto, o envolveram com luzes de todas as cores do arco-iris, enquanto mentalizavam palavras de carinho, como: fé, bondade, amizade, paciência, felicidade, tranquilidade, paz, amor, luz, saúde, fraternidade, sonhos...o objetivo, além de transmitir àquele espírito todas estas faculdades, era o de formar um escudo protetor, em modo que, diante de dificuldades e obstáculos que certamente iriam surgir, ele se sentisse em condições de lutar, utilizando, acima de tudo, a sua melhor arma: seu olhar verdadeiro e seu sorriso sincero.
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Estava chegando a hora... a concepção já tinha acontecido, e seu invólucro de carne começava a crescer... Como sempre, as últimas providências tinham ficado para a última hora. Alguns meses já tinham se passado de quando houve a concepção, mas lhe disseram de aguardar um pouco mais, pois lhe teriam reservado um surpresa. 
Sentada no trem espacial que a levaria para a Terra (sim, seria uma menina), já com características que se tornariam típicas de sua personalidade, ou seja, um pouco de ansiedade e muita, muita expectativa, muita alegria e felicidade, ela, que não via a hora de chegar em seu destino, estranhou quando o trem fez uma parada intermediária. 
_Ué.... o que houve? Por que será que paramos? 
Nisto, o condutor do trem entra na sua cabine, e diz: 
- Tem alguém aqui que veio se despedir. Queria te ver antes que partisses. Vossas vidas já se cruzaram muitas e muitas vezes. Desta vez, porém, vocês escolheram encarnarem em momentos diversos. A missão dele encerrou con a tua concepção. Agora, és tu que irás dar continuidade às sementes que foram plantadas. E fica tranquila, pois, assim como na Pátria Espiritual, também lá na Terra serás sempre circundada de espíritos que te ajudarão. Espíritos amigos e afins, que te darão força quando precisares, e espíritos também de nível inferior em relação ao teu, mas que te ajudarão de forma ímpar no cumprimento da tua tarefa. 
Dito isto, a portinhola que separava um vagão do outro se abriu, e ele surgiu. Havia ainda a “forma”, a imagem de como tinha sido na sua última encarnação. Os cabelos castanhos e encaracolados, os olhos verdes pequenos mas de olhar profundo, cobertos de lágrimas de emoção. Os olhares se cruzaram, ela já “plasmada” na forma que teria na Terra. Inicialmente, pequena, ainda bebê. Ele a pegou no colo, com carinho, e lhe beijou a fronte. Em seguida, se abraçaram, e seguiram cada um o seu caminho.
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Capítulo II. Expectativas 
Na Terra, os preparativos para a chegada daquele espírito estavam a mil. Devido aos últimos acontecimentos, o “clima” era confuso, um mixto de alegria e esperança, com tristeza e desespero. Aquela que tinha sido escolhida para fazer o papel de mãe, passava por momentos de muito questionamento. Era difícil entender, aceitar que uma perda pudesse ser simplesmente um desejo de Deus. Afinal, sempre tinham lhe dito que Deus era bom, era um Pai...Mas que Pai mais maldoso e sarcástico seria este? 
Como já era de se esperar, naquele momento, seres de infinito amor e bondade lhe mostraram o caminho que lhe conduziria à verdade. Junto de sua irmã, começou a sua caminhada na busca da Espiritualidade. (Mal podia imaginar que, depois deste, ela ainda iria explorar muitos e muitos caminhos. Todos, porém, com um objetivo em comum: a busca da “sua” propria espiritualidade). 
_E chegou a hora! Vai nascer! Dia de São João! Quem sabe se eu “sacudir” um pouco ela resolve sair! 
Dentro do útero, aquele serzinho que já se sentia meio apertado, mas que na real estava curtindo aquele calorzinho, tentava entender por que pulava tanto, sem saber que era culpa das ruas esburacadas. Além disso, num outro dia, do nada, deu um “pulo” de susto. O estouro de um foguete lançado no terreno da casa em que se encontravam o fez levar as pequenas mãozinhas aos ouvidos. 
_ Será que lá fora é assim tão barulhento?’ Ah, então eu fico aqui mais um pouquinho! 
E assim foi, até que, no dia 26, ela nasceu. Surpresa por ter nascido num dia de calor em pleno inverno, depois iria ficar sabendo da escolha de sua mãe... Ir até a Bahia, para que aquele doce espírito pudesse vir ao mundo na alegria, e não no vale de lágrimas que tinha se transformado aquela que teoricamente teria sido a sua cidade de origem, devido à “perda”, à “morte” daquele que teria sido o seu pai. 
Embora inicialmente possa parecer uma decisão tomada às pressas, na verdade era uma das opções traçadas desde o início, quando este grupo de espíritos, ainda no plano espiritual, criava o seu “roteiro de vida”. Nele, haviam traçado um esboço, deixando várias estradas, várias alternativas. O caminho a seguir seria decidido depois, através do livre-arbítrio. 
Muitas vezes durante a sua vida de encarnada, aquela menina, moça, mulher, iria se questionar o que, na sua vida, poderia ter sido diferente, se as coisas tivessem acontecido em um
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modo diverso. Se tivesse tido seu pai presente (encarnado) ao seu lado, se tivesse nascido no Sul, etc... teria estudado nos mesmos colégios? Teria conhecido as mesmas pessoas? Teria tido o mesmo grupo de amigos? Teria feito as viagens que fez? Teria, teria, teria... 
Ser “filha única de mãe viúva” era um título do qual ela poderia “se aproveitar” quando quisesse. Um modo simples e fácil de fazer os outros ficarem com pena, e até se sentirem em culpa. Mas não era o seu estilo. As pessoas ficavam sabendo que ela era filha única somente se perguntavam. Afinal, sua mãe foi muito atenta no modo de cuidá-la, criá-la e educá-la, afim de que ela não viesse a se tornar uma garotinha chata e mimada. Isto para não falar que seria a filha única com mais pais e mães que alguém pudesse imaginar... 
O carinho con o qual este espírito de luz seria criado, circundado de amor, iria refletir nas suas escolhas.
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Capítulo III. Contando (e escrevendo) histórias 
Desde muito, muito cedo, seu gosto pela leitura se desenvolveu. Contar histórias na hora de dormir era um modo que sua mãe encontrara para estar mais próxima. Trabalhando fora o dia inteiro, a noite era o momento que elas tinham para se curtir, as duas. Naquelas horas, sua mãe (que ela aprendera a dividir com alunos, primos, etc), era todinha dela. Falando assim, pode até parecer uma cosia egoísta mas, na verdade, aqueles dois espíritos precisavam daqueles momentos. Mesmo que naqueles momentos não fossem de tudo conscientes, no futuro, aquele “contar histórias” iria refletir no modo de se relacionarem, de viverem, de “sonharem”. 
Começando com contos de fadas, para depois passarem a histórias criadas, inventadas, em dupla. Uma começava, a outra continuava, e assim por diante. Ela não podia imaginar que, na verdade, todos aqueles lugares mágicos, encantados, para onde ela se progetava, seja durante as histórias, seja durante o sono,não eram simplesmente fruto da imaginação. Eram, sim, mundos mais evoluídos, em um plano superior, onde a natureza era “tão real que parecia ser falsa”. 
De tanto ouvir, ler e imaginar histórias, começa a nascer a vontade de escrever. Um dia, ela decide escrever uma história. Mas ela não tinha ainda sido alfabetizada! 
_Mãe, escreve a história que eu vou te ditar? 
Num bloco de rascunho, sua mãe, então, escreveu sua primeira história. Depois, ela se encarregou do título e das ilustrações. 
A história se chamava “A menina que gosta deste mundo”. Com o tempo, este bloco iria “sumir”, para ser reencontrado anos depois, e depois sumir de novo. Até o dia em que será guardado como um tesouro precioso. 
Na época em que tal história foi escrita, ela se encontrava ainda muito ligada ao mundo espiritual. “este mundo”, é a Terra, mas vista com um olhar menos materialista, um olhar “de alma”... 
Dentre os vários livros que iria ler durante a sua existência terrena, o Sítio do Pica-Pau Amarelo seria um dos seus grandes companheiros de leitura na hora de dormir. Um dia, na praia, inspirada nas obras de Monteiro Lobato, pegou um caderno, um lápis, e começou a esboçar uma história. 
“As aventuras de uma menina” contava a história de uma menina que, através do “Pó de Pirlimpimpim”, se progeta no mundo mágico dos contos de fada, onde vive inúmeras aventuras.
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Neste mundo, Branca de Neve, Cinderela, Bela Adormecida, todos se conhecem. De novo, o destaque é para a natureza, florestas lindas, cachoeiras, paisagens deslumbrantes. O interessante é que, na sua história, não existem nem bruxas nem dragões. O mal não faz parte, o que aparece é simplesmente o encanto da vida, da felicidade. 
A história, no entanto, acabou ficando mais na testa que no papel. Escreve, escreve, escreve, até que cansa. E o caderno, que fim levou? Ninguém sabe. 
Depois daquela primeira, ou melhor, segunda experiência literária, ela seguiu escrevendo. Poesias, contos, redações, reflexões. Ela nunca iria deixar de escrever. Escrever se tornaria um hobby, um sonho, uma realidade, uma terapia.
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Capítulo IV: peça de teatro e a música. (Sim, a música!) 
Tímida, sensível, frágil. “Um vaso de cristal”. Era assim que os outros a definiam, sem saber que na verdade sua extrema sensibilidade era devido ao seu dom de perceber além das aparências. A sensibilidade iria sempre fazer parte de si, do seu ser, mas não a impediria de tornar-se uma mulher repleta de coragem, capaz de enfrentar obstáculos e desafios que lhe seriam impostos. 
Una caracteristica que sempre fez parte da sua personalidade foi o não acreditar no acaso. Assim, passaria a gradecer sempre, pelas coisas que dão certo e por aquelas que não dão. Afinal, no final sempre acabava descobrindo que tudo acontecera pelo melhor. 
Falemos então sobre o teatro. Sua mãe era uma apaixonada, e, como é a tendência natural de todas as mães, pensou que também ela pudesse se apaixonar. E ela gostou. Sim, gostou, depois enjoou, depois, já na adolescência, voltou. Um dia, escreveu uma peça de teatro, um musical, sendo que os personagens foram criados usando como “pano de fundo” as fantasias que sua mãe tinha em casa. Os atores? Atrizes. Sua colegas, melhores amigas da época. (Sonhadora como era, criou a história, que era toda cantada. Deu a cada uma uma personagem, mas elas jamais iriam ficar sabendo. O nome delas? Liziane, Giovana, Joice, Micaela, Xenia, Fabiana Paim. 
Pra variar, a história era repleta de fantasia. Novamente, uma menina. Uma menina que pegava no sono, e “acordava” em um lugar encantado. Como numa dança, os personagens iam se apresentando, cantando, dançando. Que fim será que levaram aqueles escritos? 
Parece incrível, mas, passados mais de 20 anos, ela ainda lembra da tal história. E o mais interessante é que ainda sabe de cor algumas das músicas criadas. Lembra ainda do texto e também do ritmo das canções. E ela cantava: 
Aurora 
“Eu sou a aurora, aurora, aurora, que veio cantar.. .cantar... cantar.... 
Eu sou a aurora, que veio dançar... 
Nas noites felizes (felizes, felizes), eu hei de surgir... surgir... surgir... 
E as noites infelizes,não vão existir! 
Pois eu sou a aurora, aurora... aurora....
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Cogumelo 
Meu nome é Cogumelo Sapeca 
Porque eu canto, 
Uma linda canção. 
Preste atenção, 
Você vai reconher 
Pois esta música vem 
Do fundo do seu coração! 
Cante comigo agora, 
Que a noite já vai embora 
Vamos cantar e dançar 
Que o dia já vai raiar! 
Foi o seu tio que, de pequena, a acostumou a ouvir canções para se adormentar. E todos, desde sempre, a incentivavam a cantar e ela, com o dom de imaginar, de sonhar, de criar, escrevia poesias, rimas e canções. Esperta e atenta, muitas vezes iria esgotar o repertório do tio, que se “salvaria” com o Hino Nacional. (Dizem que isto a ajudou a tornar-se ainda mais patriota. Quem sabe?)
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Capítulo V. Sobre a arte e o prazer de viajar. 
Viagens. Tantas, inúmeras, infinitas. Lugares diferentes, perto, distantes. Viagens iguais para lugares diferentes, viagens diferentes para os mesmos lugares. Lugares novos, lugares vistos e revistos, mas cada vez com um novo olhar. O velho que parece novo, o novo que parece velho. Tem coisa melhor do que viajar? Viagens completas, de corpo, de alma, de espírto. Viagens que parecem sonhos, sonhos que viram realidade. Sonhos que parecem reais (E que, na verdade, o são, mas em uma dimensão diferente). 
De carro, de onibus, de trem, de avião. Só com o pensamento e o coração. Viagens durante o sono, para lugares cuja distância é impossível calcular. Viagens no tempo (sim, é possível), para ir ao encontro de outros seres e espíritos afins, para buscar algo, talvez pedir uma orientação. Percorrer caminhos, alguns tortuosos até. Atravessar rios, atolar na lama, “cair de bunda”... Depois erguer-se e continuar. Parar no meio do caminho, se reabastecer e seguir adiante. Comidas, bebidas, olhares... Conhecer lugares, cidades, Países, praias, montanhas, Universos paralelos. 
Atravessar oceanos, conquistar espaços, realizar sonhos. Correr riscos e nunca, nunca desistir da sua meta principal: a felicidade. E assim a vida ia sendo encarada: como um eterno viajar, um caminho a ser percorrido, sem dramas, sem dores sem explicação, sem arrependimentos. Alguns trechos, melhor percorrer a pé... 
E os melhores lugares, aqueles percorridos na Espiritualidade. E ela sabia disto, ela percebia, embora ao acordar não possuísse praticamente nenhuma lembrança concreta. Permanecia, no entanto, a “sensação”.
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Capítulo VI- Sobre a arte de cuidar 
Cuidar é uma arte, cuidar é um dom, cuidar é inato? 
Os cuidados que ela tinha com o seu nono, eram incontáveis. Uma criança que cuida de um adulto, um adulto que, no ciclo da vida, volta a ser criança. Sim, aquele mesmo adulto que lhe causava medo, quando ela ia visitá-lo no hospital. Aquele cabelo penteado pra trás, aqueles óculos pesados, enfim... 
Decisão tomada em família: “ele volta pra casa”! E, com o passar dos anos, muda penteado, diminui remédios, tira os óculos (que serviriam, agora, apenas para ler). E ele se torna um amigo, um pai, em alguns momentos, quase um “brinquedo”... Ela é criança, brinca, de escola, de teatro, e ele, sempre presente. Ela o fantasia, e a ensina a jogar, ela cria um caderno só dele, e lhe passa tarefas. Matemática, português, história... E ele a ensina canções. Canções em dialeto Vêneto, o Hino Nacional, etc... 
E ele conta histórias... Da sua vida, da família, de como entortou o dedo tentando abrir uma garrafa com um canivete. 
E chega a noite. E ele sonha, e ele tem pesadelos, e ele perambula pela casa. E ele reza, reza em latim, o réquiem para os mortos. E ela se assusta num primeiro momento, depois acostuma, depois, intuitivamente, conversa com ele, fazem uma prece, como se percebesse que, naquele momento, ele na verdade se encontra num espaço sutil entre as duas dimensões. 
E ela aprende. Aprende a cuidar deste nono que a faz ainda mais feliz. O ajuda a comer, a se vestir, a caminhar, enfim...Aprende, acima de tudo, a lidar com suas manias, seus trejeitos, e a interpretar seus “teatros”, suas mudanças de humor... (Era divertido sair de casa, deixando-o sozinho na sala e, ao voltar, espiar pelo vidro da porta antes de tocar a campainha. Lá estava ele, em pé, lendo os jornal, conferindo documentos, etc. Até a campainha tocar. Na velocidade da luz, tirava os óculos, pegava uma manta, colocava sobre os joelhos, sentava na poltrona, fechava os olhos e abria um pouco a boca. Como se estivesse dormindo, aliás, roncando. Ou então, ia abrir a porta, sem antes, no entanto, tirar o óculos, fazer uma expressão de “dor” e gemer. 
Obviamente nem sempre era assim, mas estes episódios ajudavam todos daquela casa a enfrentar as coisas de forma mais “leve”. 
E quantas vezes ela (a nossa personagem), dando-se conta do avançar da idade e de que, um dia, ele iria partir para o Mundo Espiritual, se perguntava como seria, como ela viveria esta
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perda, e o grau de sofrimento que isto traria. Afinal, ela nunca tinha perdido ninguém. E o tempo foi passando. 
Um dia, numa manhã de fevereiro, algo acontece. Café da manhã tomado normalmente. Depois, na hora de levantar para ir almoçar, lá está ele, caído ao lado da cama. 
E ela jamais iria esquecer daquela noite, antes do derrame (O café tinha sido dado pela sua tia). Ele que dizia que ia dormir, e as filhas dizendo para ele esperar mais um pouco. Ele usando suas estratégias gemia, pedia para uma, depois para outra, e depois, obviamente, “apelava” pra neta. Ela o olhou, e disse: 
_ Mas é cedo ainda! Come uma bala! 
Sabe-se lá por que ela perguntou se ele não queria uma bala! O fato é que ele se virou para uma das filhas e perguntou: 
_Posso comer uma bala? 
E aquelas seriam as últimas palavras que ela ouviria seu nono pronunciar. 
Derrame? Lado esquerdo paralisado. Perde os movimentos, a fala, entre outras coisas. Mas seu olhar diz muito, diz tudo. 
E foi asim por alguns meses, até o momento em que, com muita tranquilidade, ele deixa a prisão do seu corpo físico e retorna à Pátria Espiritual. 
A viagem foi rápida e abençoada, anjos e seres os mais variados o acompanhavam. Quem pudesse observar, teria a certeza de que todas as crenças, sem excessão, quando se voltam para o bem, jamais se excludem. Elas se completam, ou, se já são completas, seguem caminhos paralelos, estradas diversas. O ponto final, no entanto, é o mesmo. 
Os seres de luz que o acompanham tomam as formas mais diversas, anjos, santos, hinduistas, mestres japoneses e espíritos de luz. Tudo porque, cada um com a sua fé, seus 6 filhos estavam presentes na hora do “até logo”. 
Regressando, assume rapidamente sua forma mais jovial, e sorri de alegria ao ver quem o espera. Logo ao chegar, com um sorriso no rosto e os braços abertos, está sua querida esposa. E, sabendo que ele é um recém chegado eque talvez não tenha de tudo deixado de sentir as necessidades dos encarnados, plasma um delicioso quitute!
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Logo mais, outras “pessoas” vêm se aproximando... e assim, ele se vê circundado (e abraçado) de cada um dos seus 8 irmãos, para finalizar o encontro duplamente abraçado pelo seu pai e sua mãe. 
Enquanto isso, na Terra, as coisas seguem. Surge a questão: e “Ela”? 
Ela não estava fisicamente presente na hora do desencarne, mas, talvez, estivesse ali de espírito. Pois ela, naquela noite, sonhara. Sonhara com a escola, e com ela que dava a notícia que seu nono tinha falecido. E todas as dúvidas de como se sentiria após o seu desencarne desaparecem. E ela se dá conta do quanto muitas vezes tendemos a imaginar coisas, e até a sofrer antecipadamente, sem razão. Porque, na verdade, as coisas não só aconteceram de uma forma super serena e tranquila como, vira e mexe, por um longo período, eles iriam se encontrar durante o sono. E, ao despertar, ela não apenas acordaria com uma sensação de serenidade mas, especialmente, iria precisar de alguns minutos para raciocinar, e dar-se conta de que ele não estava mais neste mundo. 
E os encontros durante o sono, as viagens para outros lugares e dimensões, a permitiriam de se despedir daqueles que voltariam para a morada do Pai Maior, mesmo ela estando fisicamente distante milhares de quilometros. Foi assim que, poucos dias antes que falecessem, ela conversou com seus tios. (E até hoje, alguns anos depois, ela saberia descrever direitinho o quarto do hospital onde seu tio estivera pouco antes de falecer, mesmo sem nunca ter, fisicamente, ido até lá. 
E o que isto tem a ver com cuidar? Não sei. Mas, se estas linhas surgiram exatamente neste espaço, certamente alguma relação deve ter. 
E ela vira escoteira e, sabe-se lá por que as atividades de ajuda ao próximo se tornam as suas preferidas. E resolve ser Psicóloga. E um dia, tendo que fazer um progeto para a cadeira de Psicologia Comunitária, uma colega a convida para fazerem juntas, visto que moram na mesma cidade. E aquela experiência lhe marcaria por toda a vida.
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Capítulo VII. O afeto e o cuidar. 
O progeto consistia em, dois dias na semana, através de jogos, brincadeiras, etc, dedicar um pouco de tempo à crianças e pré-adolescentes de um abrigo da cidade. Abrigo, “casa de passagem”, chamem como quiserem. O fato é que lá se encontravam desde crianças abandonadas até aquelas que foram “tiradas de casa” por terem sofrido violência ou negligência. Sem falar, por exemplo, em um casal de irmãos que, tendo perdido os pais, acabaram indo morar neste abrigo. Eles tinham um “nonno” que os visitava toda a semana. Um senhor simpático, carinhoso e muito afetuoso. Percebia-se que o amor e o carinho eram recíprocos. 
Sextas-feiras. Dia do berçário. Impossível esquecer aqueles anjinhos encarnados, o maior dele com dois aninhos. E os gêmeos? Uns fofos, doía o coração saber que estavam ali por neglicência. E dentre tantos momentos de afeto, de carinho, de trocas, um episódio engraçado. (Obviamente depende do ponto de vista, mas poder rir diante de situações desastrosas é um dom) 
Naquele dia, a merenda era muito especial. Mousse de chocolate!! E ver aqueles fofos saboreando,felizes, aquele doce delicioso,não tinha preço. Mas eis que, de repente, a nossa “heroína” percebe que algo não é o que parece. Sentado num cantinho, dando risada, com uma expressão de felicidade e a boca toda marrom, estava um menininho de 2 anos. Ela o observou, e lhe chamou a atenção o movimento das suas mãozinhas... se aproximou, e... ops! Aquilo não era chocolate! Todo faceiro, o menininho comia seu cocô como se fosse o doce e saboroso mousse... 
E as crianças maiores? Aquelas, os encontros eram aos sábados. Jogos, brincadeiras, desenhos, pinturas... Através da arte, quantas histórias, quantas coisas eram capazes de expressar! Como aqueles momentos faziam com que ela, a nossa personagem, se sentisse ainda mais privilegiada e feliz, pela vida que levava, pela família que tinha, pelas oportunidades que a vida lhe oferecera. E, dentre todos os episódios, algo a marcou mais do que todo o resto. 
Um dia, ela sentou-se num banco no pátio e, rapidamente, se aproximou uma criança e sentou no seu colo. De repente, elas se deram conta que aquelas crianças e pré-adolescentes não tinham (ou tinham muito pouco) recebido algo que é fundamental: afeto. Certo que o afeto pode ser demonstrado de várias maneiras, e aquelas crianças tinham roupa, comida quentinha, cama alguns brinquedos. Mas raramente tinham “colo”. Raramente tinham o “toque”, o afeto... 
Ser recebida todo sábado por crianças que chegam correndo e te abraçam com alegria e afetividade, não tem preço. E hoje, muitos anos depois, ela ainda se pergunta por que o progeto precisou ser concluído, e como (e onde) estarão agora aquelas crianças (hoje já adultos).
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Voltemos à questão do colo. Um minuto, às vezes até menos. E bastava. Bastava, para deixar aquelas crianças mais felizes. E se notava que eram crianças de uma instituição, e que tinham aprendido a “dividir”, e que inconscientemente lutavam por um pouco de individualidade. Um minuto. Porque, atrás dela, tinha uma longa fila de outras crianças, também esperando pelo seu momento de “colo”. E, além disso, queriam também fazer as outras atividades!
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Capítulo VIII. Quando a gente gosta, é claro que a gente cuida... 
E parece mesmo que uma das tarefas do nosso doce espírito, personagem destes escritos, é o “cuidar”. 
Crianças e adolescentes autistas e/ou com atraso no desenvolvimento: físico, mental, intelectual. E quem foi que disse que os autistas não sabem exprimir afeto? Tá bom, até pode ser que eles simplesmente imitem os gestos do outro, mas.. e daí? Toda e qualquer forma de afeto é válida! 
Espíritos de uma inteligência ímpar mas que, infelizmente,não souberam fazer bom uso da mesma. Espíritos que talvez tenham usado sua sabedoria e inteligência superiores de forma erronea ou abusiva, agora pedem, humildemente, uma forma de redimir seus erros, para seguir no caminho da evolução. E assim, ocupam corpos “defeituosos” aos olhares incrédulos, mas perfeitos para aqueles que sabem que os maiores valores da humanidade são o amor e a caridade. 
Tá pra nascer ser mais carinhoso do que as crianças e adolescentes com Síndrome de Down. E quando uma criança autista te olha nos olhos e percebes a sua presença “real” (quando ela não olha “através” de ti), é impossível não abrir um largo sorriso, nem sentir-se gratificada por aquele momento! E não culpar a criança pelos seus atos “impensados”, mas fazer uma prece aos seus espíritos protetores, para que a orientem a e protejam enquanto através do abraço e de palavras amigas tenta confortá-la. 
Aqueles meninos eram considerados “hiperativos”. Enquanto um ia e voltava, correndo pelo corredor, abrindo e fechando portas, o outro fazia suas tarefas e, pouco antes de terminar, jogava tudo no chão, destruindo o que estava por ser concluído. Nunca ninguém parou para se questionar o que o “concluído” podia signficar para aquele menino? E ambos tinham crises de raiva. E quantas vezes ea voltou para casa com marcas de mordidas na mão e nos braços! 
E surge um novo adolescente. Parece um animal. A falta de conhecimento dos seus pais havia feito com que eles, com medo das suas reações, o deixassem “preso” em uma pequena sala, sem nada (para que ele não fizesse mal nem a si e nem aos outros), com pedaços de jornal. Resultado: aquele menino grunhia e comia papel. Mas, aos poucos, foi se tornando “humano”. Ataques de raiva ainda ocorriam, mas eram bem menos frequentes. E ele era inteligente. E, quando te olhava e sorria... bem, impossível não virem algumas lágrimas nos olhos! Uma das suas crises iria marcar (literalmente) aquele espírito-mulher da nossa história...
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Somente os 2 em uma sala, ele fazendo algumas atividades. Do nada, tem uma crise, um surto e, de um trato, derruba a mesa (uma grande mesa redonda) e, ao mesmo tempo, dá um soco, um murro na nossa amiga! Ela, com uma mão segurava o tampo da mesa, com a outra, segurava o adolescente (Que a estas alturas tinha se assustado consigo mesmo, e a olhava sem compreender), enquanto tentava manter a cabeça erguida para aliviar o sangramento no nariz. Em seguida chegou sua colega, que o levou para o pátio. 
Quanto ainda tinha a aprender a nossa personagem naquela época! Embora não tenha tido reação de raiva, ela, por um tempo, ficou com medo. E aquele espírito, que talvez procurasse apenas um modo de afeto, acabou, mais uma vez, afastando alguém. Felizmente, algumas horas depois, ela dexou o medo de lado e se reaproximou. 
Mordidas, cuspes, socos. Marcas no corpo, mas nenhuma marca na alma. Porque a alma ficaria marcada se, diante de tais atitudes, ela apresentasse sintomas como raiva, ira, ódio ou falta de amor. Não, ela não aceitava tais reações como se fossem normais. Ela respondia, falava duro, “contia”, sem machucar. Mostrava que aquilo era errado. Quando um adolescente se aproximava em tom de desafio e cuspia.... Ela não baixava o olhar... E quantas vezes os 2 acabavam por começar a rir! 
Crianças pequenas. De 2, 3 anos. Crianças que entravam em desespero se alguma coisa da sua rotina mudava. E naquela tarde estava chovendo. Ir ao parque? Nem pensar! E aquele menino se torna inconsolável... 
Aquela menina (uma moça, mas parecia uma menina) tinha sido diagnosticada com Autismo, mesmo sendo Down. Porém, a parte alguns movimentos (como rodar em torno de si mesma, sacudir objetos, e algumas vezes o olhar um pouco ausente), era inteligente e carinhosa. Havia a necessidade de seguir uma rotina, mas aprendia coisas novas com facilidade. E a nossa personagem terminou seu estágio com ela, e passou a ajudar na sala as crianças menores. E, durante várias semanas, quando aquela adolescente chegava, ia até a sala onde a nossa personagem se encontrava, a pegava pela mão e a levava até a sua sala. Afinal, o que fazia ela lá com as crianças? Seu lugar era ali com ela! 
Existem um livro intitulado “O Direito de Existir”, que fala da Síndrome de Down. Recomendo a leitura. E, falando nisso, nossa querida adolescente Down cumpriu rapidamente a sua missão. Tendo vivido em uma família muito amorosa (o carinho da mãe e dos irmãos por ela era lindo de se ver!), talvez tenha sido menos duro do quanto pudesse parecer ter que enfrentar a vida num corpo Down. E, certamente, quantas lições deixou para cada um que passou pela sua vida!
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Capítulo IX. E o cuidar continua 
“Crianças normais”. Assim que as pessoas costumam se referir quando uma crianças se “enquadra” nos tantos títulos e explicações que costumamos ouvir por aí. Por dentro, no entanto, são sempre espíritos... 
Desta vez, o “desafio” que teria de ser enfrentado era com, especialmente, 3 grupos: o primeiro, o berçario, com seus doces (e arteiros) bebês. Os outros, a turminha do maternal 2 (3 anos de idade, mais ou menos) e a dos “grandes” de 5, 6 anos, incluindo um menino com Sindrome de Down) 
Episódios marcantes? Tantos! A festa de Natal, emocionante e inesquecível! As brincadeiras no pátio! 
E aquela vez no berçario, em que, após o banho de um dos bebes, este estava “sentadinho” na bancada e, num segundo de distração da senhora responsável, tentou “descer” dali, escorregando? Ela (nossa personagem) o pegou, literalmente, “no ar”, simplesmente estendendo o braço para o lado, numa mistura de intuição, sorte e sei lá mais o quê... 
Em outro momento, observar os “grandes” que, tendo a professora saído da sala, começam a discutir “temas filosóficos” como “ de onde viemos” “Como nascem os bebes”, etc, etc, foi certamente um aprendizado também para aquele espírito que, um dia, iria ter de responder a estas mesmas perguntas àquele serzinho que lhe seria enviado por Deus. O que mais lhe chamara a atenção? O quanto cada um defendia com unhas e dentes a sua idéia!
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Capítulo X: aprender a cuidar, cuidar para aprender, ou: a importância da dor do outro no entendimento das nossas próprias dores 
Do ponto de vista lógico, ela jamais encontraria uma explicação para as suas escolhas, sejam pessoais, sejam profissionais. 
A experiência naquele hospital exclusivamente feminino, não só seria bela e inesquecível, mas despertaria ainda mais o seu dom de cuidar e a levaria a percorrer caminhos que, embora já traçados no Mundo Espiritual, no plano terreno, para muitos, pareceria sem sentido. 
Interessante como as linhas da vida vão sendo traçadas! Seu primeiro contato do ponto de vista profissional com um hospital foi mais associado à vida, à alegria, do que ao sofrimento e a morte. Sim, teve dor, tiveram dificuldades, tiveram lágrimas. No geral, porém, era um lugar de nascimentos, de afetos, de trocas. Grupos com gestantes de risco, diabetes, HIV, e um espaço onde estas mulheres eram acolhidas, escutadas, cuidadas... Um lugar onde as culpas do passado eram elaboradas e as futuras mamães se davam uma nova chance e podiam se permitir olhar para a frente com um novo olhar. E a nossa personagem aprendeu a não julgar, a se colocar no lugar do outro, e a ajudar, reconhecendo também as próprias limitações. 
Dicas sobre amamentação, palestras sobre os aspectos emocionais da gravidez, parto e puerpério. Muitas vezes surgiria a dúvida, como uma pessoa tão jovem sabia tanto a respeito, e falava em uma maneira tão coinvolgente... ainda por cima sem ter tido filhos! 
Acontece que nossa personagem não apenas tinha se preparado do ponto de vista da teoria, como trazia dentro de si traços de uma existência anterior, esperiências de outras vidas, guardadas em um cantinho do seu ser. 
E o encontro com tantos anjinhos de luz, natimortos, ou mortos após poucos dias ou poucas horas de vida, iria aumentar ainda mais a sua fé. 
Quem iria imaginar que, alguns anos depois, ela se aproximaria a um “outro mundo” ligado ao hospital. Um mundo de sofrimento, de doença, de morte. Mas, muito mais do que isto, um mundo de esperanças, sonhos, aprendizado, vivências e grandes lições! 
Primeiro a psico-oncologia, depois a psicossomática e, mais adiante, os cuidados paliativos. Eis o “mundo” onde a nossa personagem foi parar. E, ao invés de ensinar, ela aprendeu. E passou a questionar modos de encarar a vida, rever prioridades, e se deu conta de que se colocar em primeiro lugar, ser a personagem mais importante da sua propria história,
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aprender a reconhecer limites e dizer não, sem que isto a faça sentir-se em culpa, nao era uma questão de egoismo, mas de sobrevivencia. 
Muitos desafios, muitas descobertas, muitas reflexões. Inicialmente, pacientes larignectomizados, em grupo e individualmente. Um desafio maior do que se pode imaginar: como fazer terapia, cujo principal instrumento do paciente é a fala, com quem “perdeu” justamente as cordas vocais? E depois, outros desafios, pacientes com os mais diversos tipos de cancer, jovens, maduros, idosos... diagnósticos novos, recidivas, curas, paliativismo, morte... familiares. Familiares sofridos, esperançosos, revoltados, enfim, de tudo um pouco. E ela cresce juntamente com cada um deles, e reflete, e escreve, especialmente sobre esta doença que coincidentemente leva o nome do seu signo. Escreve sobre questões emocionais, culturais, sobre a famìlia, sobre perdas de um modo mais geral, enfim... muitos argomentos, mas todos ligados entre si. 
Falando sobre escritos, uma coisa que a fez pensar muito foi justamente como encarar o desafio de ser psicologa de alguém que não pode mais falar (pelo menos não do modo em que estamos acostumados). E surgiu o seguinte texto: 
Trabalhando com Pacientes Laringectomizados 
Trabalhar com pacientes laringectomizados totais é um grande desafio. A laringectomia total, operação realizada em caso de Câncer nas cordas vocais, acarreta, dentre outras conseqüências, a perda da fala. 
Nós, seres humanos, nascemos e somos criados para sermos sujeitos “falantes”. Salvo nos casos de surdez de nascença, aprendemos a compreender a nós mesmos e aos outros especialmente através da fala. É pelo choro que o bebê se comunica, desde o seu primeiro instante de vida. Ele chora para “avisar” que chegou ao mundo e, conforme o tempo vai passando, a mãe, ou a pessoa responsável por ele, vai “nomeando” seu choro, identificando e diferenciando-o Assim, sabe se é fome, cólica, sono ou simplesmente “manha”. 
O câncer de laringe, na maioria das vezes, ocorre em pessoas adultas, devido especialmente ao uso do cigarro, agravado pelo consumo excessivo do álcool. É um câncer que muitas vezes pode demorar para ser diagnosticado e que, em alguns casos, torna-se necessária a retirada total da laringe (cordas vocais). O paciente passará então a respirar por um orifício no pescoço e deverá reaprender certas atividades, como a de engolir os alimentos. 
Tal operação afeta e muito a auto-estima dos pacientes. Todos os cânceres de cabeça e pescoço são causadores de grande impacto e abalo emocional. A “cabeça” é retrato, é o que é mostrado ao mundo, é a região do corpo que não pode ser escondida.
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Dificilmente alguém que sofreu uma operação nesta região, ao sair na rua, não será alvo de olhares curiosos, comentários em voz baixa ou manifestações de pena ou dó. No início, é impossível “esconder” aquela cânula saindo do pescoço e, mais adiante, o protetor que tapa aquele orifício no pescoço, por onde agora eles respiram. E qual é a sensação que isto pode causar? Como é andar na rua sentindo-se, de certa forma, observado? 
Alguns tiram isto de letra; outros, sentem-se mais incomodados. Alguns se recusam a usar a proteção, talvez para não “aparecerem” tanto, talvez como uma forma de negar a própria doença, como se assim ela deixasse de existir. Talvez não o usem como uma forma de auto-punição, para poder lidar com a culpa que têm dentro de si, por terem, no passado, se anulado em prol de tantas outras coisas, ter vivido muito mais a vida dos outros do que a sua própria, ou por terem negado para si mesmos que sabiam (sim, sabiam) o quanto aqueles cigarros estavam lhes prejudicando. 
E, além disso, tem, como mencionado anteriormente, a perda da fala. Embora existam alternativas e, através de exercícios de fonoaudiologia, muitos voltem a falar, através da chamada voz esofágica ou com o auxílio da “laringe eletrônica”, não é a mesma coisa. 
Em um mundo como o nosso, em que a comunicação pela fala é tão valorizada, perdê-la é como perder a própria identidade. Resgata-la é possível, sim, mas ela virá de outra forma. O som produzido será diferente e, da mesma forma, a pessoa certamente estará diferente. 
Tanto o câncer de laringe como os cânceres em geral surgem na vida das pessoas em momentos considerados cruciais. Muitas vezes, aparecem em pessoas que, durante muitos anos, se anularam em prol dos outros, ou que passaram a vida inteira “engolindo sapos”, ódios, rancores... No caso do câncer de laringe, sabe-se que a causa principal é o fumo e o álcool. Porém, existem fatores de ordem emocional que certamente reforçam os males por eles causados, caso contrário, todos aqueles que fumam ou bebem em demasia teriam câncer de laringe. Acredito, assim, que os fatores emocionais são, junto com a questão da propensão genética, responsáveis pelo advento da doença. 
Sabe-se que tudo que faz mal ou prejudica precisa ser “despejado” de alguma forma. Se não estamos bem, tanto física como emocionalmente, nosso organismo irá buscar um modo de “expulsar” este mal. Se não encontramos uma maneira saudável, equilibrada de lidar com isto, se não conseguimos deixar nossos sentimentos virem a tona, mostrar nossos desejos, se não nos permitimos “viver”, tudo que “engolimos” a vida inteira, um dia desabrochará em forma de um sintoma ou de uma doença, que pode ser desde uma simples dor de estômago, ou de garganta, ou de cabeça, até uma coisa mais séria, como um câncer. 
E como trabalhar com um paciente laringectomizado? 
Antes de mais nada, precisamos ter muito cuidado para que, o fato de ele se dar conta de que a doença é um “alarme”, um “grito de socorro”, não o faça sentir-se ainda mais culpado. Desta vez, culpado por ter se anulado, por ter se machucado. E também precisamos ficar alertas para que, ao
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dar-se conta, analisando sua vida, de coisas que “deixou para trás”, ele não passe a culpar os outros por hoje encontrar-se ali, repleto de perdas, sociais, emocionais e físicas. 
É preciso fazer com que o paciente compreenda que, mais do que nunca, é hora de VIVER. Que mudanças ocorrerão, certamente, mas que talvez seja hora de ele refletir, e pensar o que deseja para a sua vida dali pra frente. É hora de estimulá-lo a fazer exercícios de fonoaudiologia, participar das reuniões em família, dar-se conta que é um sujeito normal e de que a fala faz falta sim, mas não é uma prioridade para que se viva e, especialmente, para que sejamos felizes. 
No entanto, é necessário termos muito cuidado, para não darmos falsas esperanças ao paciente. Alguns, na urgência de voltarem a falar, seja com voz esofágica, seja através da laringe eletrônica, tornam-se “surdos” quando se trata de ouvir aquilo que não desejam. Existem casos em que a volta da fala é muito difícil, para não dizer impossível. E, mesmo sendo constantemente alertados desta dificuldade, os pacientes tendem a se agarrar naquele “fiozinho de esperança” que parece lhes restar. O que fazer com isto? 
Aí está mais um grande desafio. Precisamos trabalhar com a auto-estima do paciente. Colocá- lo, de alguma forma, na “realidade”, sem, no entanto, tirar a esperança que o estimula a continuar batalhando por aquilo que deseja. Talvez uma alternativa seja ir, aos poucos, transformando este desejo. Em algo mais simples, mais fácil de ser realizado. E insistir. Porque iremos falar uma, duas, dez vezes... Se ele não estiver preparado para ouvir, nada do que dissemos será registrado... 
Bem, mas quase ia esquecendo do maior desafio que eu, como psicóloga, tive que enfrentar, ao começar meu trabalho com laringectomizados: como fazer psicoterapia com pessoas que perderam justamente aquilo que é por nós mais valorizado, ou seja, a fala? 
Isto me levou a milhares de questionamentos. Por que a gente estuda tanto para aprender a ter uma "escuta clínica”, a “ouvir” as entrelinhas dos diálogos? É claro que aprendemos também sobre comportamento corporal, reações, etc., mas nada é tão valorizado na nossa profissão quanto a fala. 
A primeira coisa que me veio na cabeça é o quanto isto não acaba gerando um certo “preconceito” da parte de nós, psicólogos, em tratar pacientes deste tipo. Muitas vezes, acabamos muito mais dirigindo-nos à família do que aos pacientes em si. (Talvez como uma “fuga”, pelo medo que nós próprios temos de lidar com esta “falta”, com esta voz que insiste em não sair). Mas existem milhares de maneiras de nos comunicarmos. 
Meu primeiro passo, então, foi buscar “vias alternativas” de comunicação. 
O uso da escrita mostrou-se bastante eficiente e sei, por experiência própria, que existem pessoas (eu sou uma delas) que se expressam muito melhor no papel do que com palavras. Sabendo da necessidade de expor o que sente, de “botar para fora” as angústias, sugeri a adoção de um diário, onde o paciente pudesse registrar seus sentimentos, desejos, aflitos... Como um “caderno do desabafo”.
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O que ele iria fazer com ele depois, não interessa. Podia até rasgá-lo, colocá-lo fora... O importante não era o conteúdo em si, mas o ato de poder lidar de alguma forma com suas angústias. Mas... e os analfabetos? 
Acho que com nenhum outro tipo de paciente nós psicólogos precisamos mais falar do que ouvir. E observar. Observar cada gesto, cada sinal... A maneira de olhar, a reação mediante cada palavra.Uma boa maneira de trabalhar com estes pacientes seria, num primeiro momento, através de perguntas concretas, fáceis de serem respondidas com um simples sim ou não. Depois, apostar em técnicas como o relaxamento, a visualização e mostrar, através de atitudes, compreensão. Isto, independente de serem ou não alfabetizados... 
Bem, estou ainda começando, e minha experiência com pacientes laringectomizados é de 2004 pra cá... A cada dia, é um novo desafio. Fico sempre me perguntando como agir, reagir, o que falar. Procuro fazer o paciente sentir-se à vontade, permitir-se rir, chorar, reclamar. Nem sempre sei se fiz a coisa certa. Mas é justamente aí que mora o desafio. É aprender mais a cada dia, sem medo, e poder ajudar cada ser humano da melhor forma possível. Meu maior desejo é transmitir algo de bom, é fazer o bem para cada um que se aproximar de mim. E que cada paciente tenha, a cada dia, a sensação e a certeza de que a vida vale a pena, e de que nunca é tarde para recomeçar...mesmo quando a morte está próxima... que cada minuto vivido é o melhor minuto de todos...E que quando partirem desta vida, partam serenos. E em paz. Especialmente em paz consigo mesmos, com os seus próprios corações. 
Grupo de laringectomizados, clínica de quimioterapia, e a união , em um trabalho escrito, de 3 matérias repletas de coisas em comum: a Psico-oncologia, a Psicossomática e os Cuidados Paliativos, todos eles com uma visão de ser humano que sempre foi a sua, embora talvez ela inicialmente não a tivesse tão claro: o homem como um ser bio-psico- social- espiritual. 
Falando em espiritual, a sua forte ligação com o mundo dos espíritos a levaria a escrever um outro texto que, embora a uma primeira vista poderia para alguns até parecer psicografado, se tratava, sim, de um sua criação, embora orientada dos seres de luz que a acompanham sempre, isto sem nenhuma dúvida! 
Laringectomia e Espiritismo 
Há algum tempo, venho me questionando acerca da questão dos laringectomizados totais, sob o ponto de vista do Espiritismo. Que explicações haveria, segundo esta doutrina, para a perda da voz? 
Embora eu tenha nascido e sido criada dentro da Doutrina Espírita, acabei, com o tempo, me afastando da mesma, sem, no entanto, deixar de nela acreditar e, indiretamente, de aplicar, no meu dia-a-dia, seus principais preceitos (amar ao próximo e fazer o bem, sem olhar a quem). De uns tempos pra cá, no entanto, retomei as consultas, passes e, especialmente, as leituras. E passei a
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desejar compreender melhor algumas coisas com as quais estou mais envolvida atualmente. Dentre elas, a questão dos laringectomizados, visto que, desde o início de 2004, sou voluntária de um grupo de pacientes que foram submetidos à cirurgia de laringectomia total. (para quem não sabe, a laringectomia total consiste na retirada cirúrgica das pregas (cordas) vocais devido a câncer e acarreta, com isto, a perda da voz). Então, pergunto: “Do ponto de vista do espírito, o que leva a isto”? 
Passei, eu mesma, a criar algumas hipóteses, que irei relatar a seguir. Saliento que tais “teorias” não foram por mim encontradas em livros (ao menos não de forma direta), nem me foram relatadas por espíritos superiores, sob a forma de sonhos ou mensagens psicografadas. Embora todos sejamos médiuns, não tenho tais qualidades desenvolvidas. Não tenho, no entanto, como afirmar, com absoluta certeza, que as hipóteses traçadas sejam única e exclusivamente advindas da minha própria dedução ou imaginação. As perguntas que me vêm seguido à mente são: 
1. Teriam estas pessoas, em encarnações anteriores, feito mau uso de um dom tão rico como o da voz? Teriam usado sua voz para falar mal dos outros, fofocarem, prejudicar os seus semelhantes? Teriam usado a voz pra praticar discursos que incutavam a disputa, a raiva, a violência? Teriam dado início á guerra? Teriam usado a voz como instrumento que fere, como arma, muitas vezes letal? 
2. Teriam, em outras vidas, sido degoladas? E, devido á brutalidade e violência de suas mortes, voltado para terminar uma missão inacabada, mas tendo restado uma seqüela da vida anterior? 
3. Seriam estes espíritos suicidas, que “deram cabo” da própria vida, através do enforcamento? Espíritos que vieram agora afim de “resgatar” algo, aprender, redimir- se do maior crime de todos, que é o matar a si mesmo, atitude esta que vai de encontro às leis da vida e do Criador? 
Tenho pensado muito nisto, e confesso que em alguns momentos chego a me angustiar. Afinal, as pessoas que conheço que sofreram tal cirurgia cometeram erros sim, especialmente contra si mesmos (a bebida, o cigarro, são suicídios disfarçados). No entanto, são pessoas de caráter, de um coração enorme, e que me ensinam, a cada dia, novas lições. Em função disto, eu preferia pensar que eles, na verdade, são espíritos que antes de ingressar nesta vida fizeram esta escolha para trazer lições, aprendizagens, a todos nós. Pois através de suas experiências passamos a dar mais valor à vida, revemos valores, etc. Mas não tem como não pensar nas hipóteses anteriores. E, assim sendo, Deus demonstrou mais uma vez sua infinita bondade e sabedoria, presenteando-nos com o “dom do esquecimento”. Caso contrário, como lidar com a dor, a raiva, a culpa?
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Talvez eu nunca encontre uma resposta para esta questão. Ao menos não nesta encarnação. De uma coisa, no entanto, eu sei. Nossos caminhos se encontraram por alguma razão. E, neste convívio aprendo, a cada dia, uma nova e grande lição. 
Marian Festugato de Souza, 29 de setembro de 2007
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Capítulo XI: Existem pessoas que parecem surgir “do nada”, mas na verdade são anjos enviados por Deus para nos ajudar na nossa missão”! 
Para algumas coisas, não existe uma explicação lógica. São coisas que fazemos seguindo simplesmente o instinto, a inutição, ou... chamem como quiser. Um dos episódios, diz respeito à uma menina. Uma garota, suas irmãs, sua mãe, seu irmão, seu pai. Enfim, dizem respeito a uma inteira família. Uma família que iria surgir no caminho da personagem desta história, e tornar-se inesquecível. 
Era uma manhã e, como muitas outras, alguém tocara o interfone pedindo ajuda. Ela não tinha o costume de ajudar todo mundo que tocava o seu intrerfone, mesmo porque seria impossível. Mas, naquele dia, algo a impulsionou. Ela desceu as escadas, olhou para aquela menina, uma moça aliás, e falou: “Eu não tenho o hábito de ajudar todo mundo, mas tu...não sei o motivo, mas fui com a tua cara. Eu vou te ajudar”. 
Mal sabia ela que, dali, iria se instaurar algo muito especial. Como se aquela garota tivesse virado sua “protegida”, ela, por anos, a ajudou. Na época de Natal, preparava uma “cesta” especial, garantindo a ceia dela e da família. Com o tempo, conheceu as irmãs, depois a mãe que, curiosa e muito, muito emocionada, um dia, fez questão de ir agradecê-la pessoalmente, pela ajuda, pelo carinho, por tudo que ela, por um longo tempo, fez por eles. Trouxe umas roscas feitas em casa, como forma de agradecimento. Falou no marido, que, por ter tido um acidente, precisou parar de trabahar. Andava triste, deprimido.... E, expontaneamente, ela, a nossa personagem, o espírito do qual falamos nesta história, se ofereceu para ajudar. Afinal, como psicóloga, podia fazer algo, ou, pelo menos, tentar. 
E assim foi. Algumas consultas no consultório e ficaram mais tranquilos e, acima de tudo, mais confiantes. Eram realmente uma família “do bem”. E que delícia receber deliciosos pastéis quentinhos como forma de pagamento!! 
Aquele outro dia também foi interessante. O garoto, já adolescente, estava numa esquina pertinho da sua casa. Com ele, várias caixas de morangos, que ele vendia. Ela se aproximou e disse: “Tu és o filho da Jurema, irmão da Ana Paula, né?”. Que susto! Ele deu um “pulo”, olhou meio desconfiado, até ela se apresentar.. Sim, era ele que, para ajudar a família, vendia morangos pela estrada. (Com isto, permitia que as irmãs continuassem os estudos. E, no final do ano, eis que elas iam lá na casa dela, só pra contar do colégio...)
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Outra coisa que aquela família tinha de especial? Tantas. O fato de não serem insistentes, mas de entenderem quando ela dizia que, naquele dia, naquela semana, naquele mês, não teria como ajudar... 
O momento mais marcante? Tantos, mas em especial o dia em que deu desencontro, e a Ana Paula deixou um carta de despedida. Uma carta que ela levou pra itália, e que a emociona sempre. Não precisa nem reler, basta lembrar que as lágrimas brotam. E ela não esconde um pouquinho de tristeza pelo fato que, quando esteve no Brasil,não conseguiu contatá-las. (Aquele numero de celular, no qual as chamava, ou do qual era chamada,não funcionava mais...) 
Se ela pudesse exprimir um desejo, seria o de rever aquela família... Receber um abraço daquelas 3 meninas, daquele menino, daquela mãe e daquele pai seria simplesmente maravilhoso. 
Longe, muito longe, do outro lado o oceano. E ela segue pensando, lembrando, rezando por aquelas pessoas. Pessoas que surgiram “do nada” e que significam tanto! 
Surgiram “do nada”? Bem, existem controvérisas. E, um dia, já no plano espiritual, ela iria descobrir que, na verdade, aquela família teve um papel muito, muito importante no progeto de vida que ela mesma tinha traçado antes de encarnar.
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Capítulo XII: Porque toda pessoa é a pessoa certa! 
Falando em projetos, ela desde muito cedo se daria conta que tudo acontece por algum motivo. Mas esta sua certeza, de manifestaria apenas em alguns momentos, e não em outros. Um dia, já adulta, começaria a se questionar a respeito de algumas “frases feitas” usadas pelas pessoas em alguns momentos específicos, especialmente como forma de “conforto” ou consolação. 
Desde criança ela conversa com espíritos. A diferença é que, quando pequena, ela sabia disto. Hoje, no fundo, ela ainda sabe mas, contaminada pelo mundo materialista que a circunda (e que, ao menos por hora, lhe é ainda necessário), hoje ela prefere dizer que.. conversa sozinha, que fala com o espelho, que quando a sua mente faz grandes e filosóficos diálogos, é ela, é sempre ela, ela apenas. 
O que a levou a pensar, e a discutir, e a refletir, e a entender certas coisas de outra maneira, foi o fato de que algumas ditas “frases de consolo”, ou frases utilizadas por quem “nos quer bem” (ou até por nós mesmos), por exemplo quando, do ponto de vista desta encarnação, um relacionamento (seja de amor, seja de amizade) chega ao fim. Quantas vezes ela ouviu (dito para si e também para outros): “Não era a pessoa certa”! Aquela ali? Mas não tinha nada a ver contigo!” 
Ora... mas isto vem exatamente de encontro com toda a filosofia na qual ela viveu, cresceu, morreu, renasceu, evoluiu!! Porque por mas que exista um livre-arbítrio,não teria sentido viver tantos “momentos sem sentido”! Pois é, nossa amiga talvez esteja deixand os nossos leitores confusos, com estas idéias que vira e mexe lhe veem em mente! O que ela pensou foi: 
“Tudo aquilo que acontece na nossa vida é por alguma razão, e tem a ver com as nossas escolhas. Escolhas e decisões che foram, na sua maior (ou menor) parte, feitas em um outro momento da nossa existência. Sendo assim, TODAS as pessoas que se aproximam de nós, TUDO o que vivemos em um determinado momento, são importantes para a nossa própria evolução!”. 
Ela prefere acreditar, seja falando de amigos que de amores (ou casos, ou rolos, ou o nome que cada um preferir), que aquela era a pessoa cerca para aquele momento. Ela acredita em tarefas inacabadas, missões interrompidas, e que a busca pela real felicidade e o encontro com aquela alma especial, aquela que é “pra valer” a sua alma afim, só poderá se realizar quando ela se der conta disto (de modo consciente ou inconsciente) e, primeiro, coloque um “ponto final” em tudo aquilo que tinha ficado abandonado, esquecido, “não vivido”. E aqueles ali, aqueles seres
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tão diferentes, tão estranhos, tão, tão tão... Quantas coisas ela ensinou a eles e o que talvez seja ainda mais importante: quanto com eles ela aprendeu! E Cresceu! E se permitu! E viveu!! 
Sim, isto mesmo.. parece que ela descobriu um dos grandes segredos... cada um que se aproxima, ou se afasta, ou vai, ou fica para sempre estâ, de um modo ou outro, lhe ajudando nesta linda e preciosa tarefa de transformar o mundo (incluindo aquele interior) em um lugar ainda melhor.
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Capítulo XIII. Porque para ela, tudo é motivo para refletir! 
Este é um dos dons da nossa personagem. Como os poetas, que diante da dor escrevem seus melhores títulos, ou os pintores, que com a loucura, a doença ou a depressão pintam os seus mais belos quadros... Ela também é um pouco assim. Não, ela não é louca, nem deprimida, nem doente... O que a aproxima dos “grandes” é, simplesmente, o dom, a facilidade com que faz, de cada coisa que vive, que sente, que sonha, um motivo para refletir, para escrever, para repensar... E foi assim com tantas coisas! 
Desde muito pequena, diante de cada obstáculo, de cada decepção, de cada coisa que não desse certo, ela iria ouvir da sua mãe, sábio espírito a quem a Providência Divina a confiou, sempre a mesma frase: “Filha, nada é por acaso, é pra prevenir um mal maior”. “Calma filha, nada é por acaso”... Quem diria que, anos depois, diantes de algumas circunstancias da vida, seria ela a repetir, para a sua mãe (e para si mesma), em diversos momentos, esta mesma frase! 
Aquele espírito que encarnara como sua mãe, sem perceber, acabara plantando dentro daquele ser a sementinha da paciência, da compreensão e, acima de tudo, da aceitação. Não que fosse sempre fácil para ela aceitar derrotas, decepções, ainda mais que, embora em processo de evolução, seu espírito ainda tinha muito o que aprender naquela vida terrena, e aceitar um não, aceitar a ausência de seu nome em listas de aprovados... ah, aquilo ainda doía... Culpa daquele seu lado mundano, ainda presente, cheio de orgulho, que a fazia acreditar que era muito melhor do que as pessoas julgavam. E, sim, era melhor, muito melhor.. mas não se dera conta de que, na verdade, seu valores eram outros... 
Como estava dizendo, aquela frase de sua mãe esteve sempre presente e ela, de um modo ou outro, acabava acreditando...E alguns episódios da sua vida terrena pareciam vir justamente com o intuito de comprovar aquela verdade, dita tantas vezes e com tanto carinho... 
Vestibular. Mudar de cidade? Ir morar longe de casa? Não, aquela idéia nunca lhe havia passado em mente. Derrota no psicotécnico, frustração. Mal podia esperar que, na verdade, aquilo nada mais era do que um sinal de que, a partir daquele momento, sua vida tomaria um novo (e lindo) rumo. 
O destino quis que ela fosse parar na Unisinos, e se encantesse com o lugar. Se encantasse a tal ponto, de ter vontade de gritar aos 4 ventos: “Sim, é aqui que eu quero estudar, é este o meu lugar”. Amor à primeira vista por aquele local no meio do verde, cercado de muita, muita natureza... Plantas, flores, caminhos “secretos”, lago... Lagartos, corujas, tartarugas, aves, patos, marrecos, gansos que invadiam a sala de aula, fazendo a maior bagunça...Bate-papos,
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piqueniques, amigas muito especiais. Professores que, anos depois, ela iria reencontrar, no seu segundo pós... Não demorou muito para ela agradecer ofato de não ter podido estudar na sua cidade de origem. 
Mudanças, quantas mudanças! E o privilégio de ter uma familia tão especial! Tio e tia que, durante um longo período, se revezarm para que ela jamais se sentisse só. 
E os amigos? Espírito privilegiado mesmo este da nossa história! E tudo isto, de uma forma ou outra, era já programado. De repente, a vida (e a sua melhor amiga, que na verdade era um espírito muito afim, ao qual ela tinha prometido ajudar no seu processo de evolução), a aproximaram de um grupo de espíritos com os quais ela teria uma missão muito importante, e os quais se aproximariam dela de um modo muito especial. Era difícil, para quem era de longe, ou olhava de fora, compreender o tipo de relação que os unia, que os unia em modo tão profundo. Eram amigos. Amigos no sentido mais forte, mais puro, mais verdadeiro do termo. Aquele espírito, no corpo de uma mulher, iria encontrar, naqueles espíritos encarnados em corpos de homens, mais do que amigos, seres que se uniriam a ela, a cuidariam, e a protegeriam, como verdadeiros irmãos. 
A nossa personagem sabia, antes de encarnar, que seria “teoricamente” filha única, mas que este fato jamais significaria solidão. Ela teria, sim, muitos irmãos e irmãs, muitas almas afins, que iriam aparecer em vários momentos da sua vida. Algumas, iriam surgir para que ela socorresse, ajudasse a trilhar o caminho. Outras, apareceriam justamente para que ela fosse ajudada. E, com o passar dos anos, ela iria se dar conta de que, na verdade, os papéis poderiam ter sido o inverso, pois ajudando, no final, a maior beneficiada foi ela mesma. 
E ela não passou no exame de Roma, para ter seu diploma reconhecido. Ficou chateada, mas sabia, nada era por acaso. E, sem estar trabalhando, pôde ajudar, acompanhar, estar ao lado do seu amor, em um momento muito difícil pelo qual ele estava passando. O não trabalhar, naquele momento, foi providencial. 
E ela tenta fazer um trabalho de baby-sitter, mas o fato de precisar também estudar faz com que não seja a escolhida. Tempos depois, descobre ter desenvolvido uma hérnia de disco e que, naquele período, carregar peso (como, pro exemplo, pegar uma criança no colo) poderia ter sido muito, muito prejudicial. 
Frustrações, derrotas, dificuldades., muitas já superadas, outras ainda por vir. Mas o que caracterizava aquele espírito, era, acima de tudo, a fé. A confiança, a certeza de 2 coisas: 
1. Que nada, absolutamente nada, acontece por acaso
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2. Que tudo vem no momento certo. 
E assim, seguia em frente. Sempre, agradecendo, aceitando, se resignando. Obviamente, sendo um espírito ainda em fase de evolução, ainda em, por assim dizer, “fase de crescimento”, momentos de tristeza, frustração, decepção também eram rpesentes. Raiva? Não, isto não. Ela jamais aprendera o que significava sentir raiva. Ou, se aprendera, há muito já esquecera. Ela precisou, sim, fazer um grande trabalho consigo mesma. Precisou aceitar seus limites, precisou repetir, muitas vezes, para si mesma, que as coisas não dependiam só dela. Cabe sim a ela fazer a sua parte, mas cabe também aos outros fazerem a sua. 
E sobre a hérnia, ela descobriria valores simbólicos, significados escondidos, metáforas da vida...E sobre isto, escreveria... textos como estes aqui: 
Refletindo sobre algumas coisas que acontecem conosco no Caminho da Vida 
Descobri que estou com uma hérnia de disco. Descobri que o “desconforto” que vinha sentindo não era um “cutuque” do meu corpo me pedindo algo. Ou melhor, talvez ele até tenha me cutucado, e eu não tenha sabido ouvir. Então ele gritou e, por alguns instantes, literalmente me “paralisou”. Impossível não começar a pensar,a refletir sobre o que tudo isto pode significar, indo além da questão física... ok, ok,,, a hérnia cresceu, migrou, então pressionando o nervo, causando formigamento, anestesia, dor, etc, etc, etc... Mas... e o resto?? 
Hoje, enquanto me dirigia até o prédio da médica generalista pra trentar descobrir os horários de atendimento, algumas reflexões me vieram em mente. Agora, enquanto escrevo, outras idéias me passam pela cabeça. 
Primeiramente, acho importante salientar o LADO do meu corpo em que está a lesão, o lado que, de uma hora para outra, “bloqueou”. Considero de extrema importancia o fato de eu me dar conta que quem “gritou” foi o lado esquerdo! O lado esquerdo está ligado mais com a emoção, com o feminino, com a sensibilidade, e também com o passado. Resta só eu me dar conta se algo do passado se bloqueou ou fui eu quem “bloqueei” algo no passado. 
Falando em “bloqueio”, acho que é bem por aí o que o meu organismo estava tentando me dizer: talvez ficar “bloqueada”, mesmo que pouco, tenha a ver com falta de flexibilidade. Importante salientar que o bloqueio passou, mas segue o desconforto, significando que, obviamente, aquele foi só um sinal, para que eu prestasse mais atenção em alguma coisa, que talvez eu ainda tenha que descobrir o que é. 
Eu podia até me questionar: “Falta de flexibilidade, eu?”. Sempre me considerei, ao contrário, uma pessoa muito flexível, e que se adapta facilmente à novidades e às situações diversas e adversas. Tanto é que, olha onde eu vim parar!
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Comecei então a pensar no “momento” em que isto aconteceu, e como anda a minha vida. E me veio em mente que, em um certo senso, talvez em alguns pontos de vista, eu não esteja me peemitindo ser flexível, o que vem criando inúmeros bloqueios, que me causam angústia, sofrimento, medo, insegurança... Sentimentos que acabam sendo pouco expressos, me boqueando por dentro e, agora, “por fora”. 
O fato de eu ter sempre sido considerada uma excelente profissional, e de eu sempre ter amado muito a minha profissão, seja lá no comecinho, com as crianças autistas, passando pelas gestantes, adolescentes, os pacientes de cabeça e pescoço, indo para a área da oncologia e chegando nos cuidados paliativos e, ao mesmo tempo, ter sido “blocada” (ou bloqueada?) pela burocracia européia que ainda não me permite voltar a trabalhar na área, acabaram causando em mim um “bloqueio” profissional que acabou, agora que me dou conta disto, refletindo nas minhas atitudes de vida. 
Quantas vezes falei, e até procurei, algo diferente pra fazer! Por que estou sem emprego todo este tempo? Porque estou “bloqueada”! Estava tão habituada a fazer o que eu fazia, e que eu fazia tão bem, que, olhando as ofertas de emprego que surgem, automaticamente, sou acompanhada de insegurança, medo e, talvez, também frustração. Baby-sitter, educadora, tradutora, intérprete, tata, etc,etc,etc...Mas eu tenho também que fazer o exame em Roma, então, tem que ser algo part-time, preciso ter tempo livre para estudar, etc, etc, etc... Não pode ser contrato longo, porque depois, quando puder exercer a profissão de Psicóloga, vou ter que abandonar (estou certa disto?)sair, etc, etc, etc... Enfim... quantos impecilhos! 
Diante de tudo isto, me dei conta também do porque isto ter acontecido, então, exatamente neste momento. Talvez eu precise aprender a ser mais flexível comigo mesma. Preciso aprender a exercitar a auto-aceitação. Quero dizer, aceitar que eu posso ir além daquela comodidade que eu tinha “acostumado”, e aceitar também, e especialmente, os meus medos, os meu erros, e me dar conta, também, que nisto tudo deve também ter muito acerto que ficou “esquecido” no meio do caminho! Que o "desacomodar" também faz bem! 
Um exemplo de acerto? Bem.... supondo que tudo isto são coisas que eu teria necessariamente que passar, de uma forma ou outra. (Afinal, foi também uma minha escolha, no meu processo evolutivo)... bem, tendo em mente isto, eu pergunto: A este ponto, não é melhor que eu esteja “livre”, sem trabalho, pois aí posso me dedicar inteiramente aos meus cuidados e ao tratamento? Isto pra não falar na questão que justamente agora o Ste está entrando me férias, e assim, poderá me acompanhar na consulta com o especialista, etc, etc, etc.... 
Então... este é um termo sobre o qual vou estar mais atenta daqui pra frente. Eu chamarei: flexibilidade emocional/espiritual.
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Para finalizar, uma última coisa: dizem que tudo tem o seu lado bom e o seu lado ruim. E é verdade. Mas cada um, se quiser, pode escolher o lado ao qual dar mais atenção. Eu, por exemplo, reconheço os dois lados, mas procuro das enfase sempre no lado bom. Assim, quando acontece algo ruim, procuro ver o que aquilo pode me trazer de positivo, que pode ser desde pequenos detalhes, até coisas grandiosas. (Por exemplo, e se em vez do ciático a hérnia tivesse ido pro outro lado e pressionado a medula? Agora, ao invés de sentir os dedos do pé meio formigados, eu podia, sabe-se lá, até estar meio “paralisada”!) 
Quando acontece alguma coisa boa, no entanto, eu não fico me “preparando” como se algo de ruim estivesse pra acontecer! Por que? Porque, ao contrário do que muitos alegam, eu não acredito que “pensar no pior” ou que “lembrar do lado ruim” nos ajude. Reconheço que pode até ser que as coisas tenham o seu lado ruim, mas sei que, se algo é para acontecer, acontece. Pensar no aspecto negativo, na parte ruim da coisa, me desculpe quem pensa diferente, mas pra mim, particularmente, não ameniza o sofrimento. Ao contrário, pensar em algo ruim ou negativo antes que aconteça, só serve a criar angústia e sofrer com antecedência. Então. Digamos que eu reconheço a existência do lado ruim das coisas, mas não o “atiço”, não o “alimento”. Afinal, se ele tiver que “vir à tona” virá, independentemente da minha ação. Quando assim for, eu o enfrento. Mas se decidir de não aparecer... beh... eu o deixo lá, mas não o ignoro. Simplesmente não faço dele, na história da minha vida, o personagem principal. 
Bem, que a VIDA possa ensinar à todos nós a sermos mais flexíveis, especialmente conosco mesmos! 
“Não pode carregar peso”. 
Que cargas tão pesadas serão estas que eu vinha carregando? O que teria sobrecarregado o meu espírito, a ponto do físico dar um grito para que eu parasse? Seriam pesos desta e de quantas outras vidas? 
Bem, talvez neste momento o mais importante não seja ver de quando ou de onde estas “cargas” vem, mas buscar um modo de aliviá-las 
Esta carga pode ser composta de tantas coisas! Quem sabe, inclusive, de alguns espíritos obsessores, espíritos sofredores em busca de alívio aos seus sofrimentos. Espíritos que, não tendo sido orientados, ou melhor, não estando em condições de entender ou de escutar as orientações, se “agrapam”, nas costas de um espírito encarnado, chegando por trás, com as mãos no pescoço e envolvendo a cintura e a área lombar com os pés. Conforme o movimento que o encarnado faz, o pés do desencarnado balança, dando “coices” atrás da perna, causando dor e formigamento. 
Muitas (talvez quase todas) dessas “cargas” são minhas, eu sei. Inclusive e especialmente em se tratando de cargas a nível espiritual. Porque o fato de eu me considerar uma pessoa bastante
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esclarecida, não significa que eu o seja realmente. E, se alguns “irmãos” em sofrimento resolveram, do seu modo, me procurar, algum motivo tem. E então? 
Então eu acho que, mais do que nunca, eu tenho acima de tudo que agradecer, pois certamente esta será mais uma oportunidade que me foi dada de fazer algo para auxiliar o meu processo evolutivo. Depois, pedir. Pedir ainda mais paciência, força, serenidade... E pedir muita luz, especialmente para aqueles, encarnados e desencarnados, que ainda sentem medo, angústia e insegurança (como eu mesma?) de caminhar com as próprias pernas. E caminhar sem os “pesos” de, quem sabe, provações anteriores. 
Ah, só pra finalizar: será que todo mundo se dá conta do quanto a vida é metafórica?? 
Caminhar... 
A tal da hérnia faz com que eu tenha que caminhar de outro modo. Não, não estou entortando a coluna, nem me curvando, nem me inclinando. De forma alguma. Sigo caminhando "normalmente", porém, percebi que me sinto melhor se caminho com mais calma. Com passos mais lentos e mais curtos. Para mim, que sempre caminhei com passos longos e velozes, está sendo uma experiência ímpar e um grande aprendizado. Tenho aprendido a exercitar a paciência e a tranquilidade também neste sentido. E, caminhando desta forma, tranquila e, acima de tudo, serena, quem sabe quantas coisas da paisagem irei notar, que sempre me passaram despercebidas! 
E, diante de uma figura exatamente assim: 
Ela escreveu o seguinte texto:
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Mais descobertas- hérnia! 
Final de ano, a gente sempre acaba parando um pouco pra refletir, né?? E agora, ainda por cima, tem toda esta coisa de “fim do Mundo” rolando… Mas, na verdade, este texto não tem absolutamente nada a ver com tudo isto. Tem a ver (de novo) comigo. Cá estou eu, de novo, refletindo sobre algumas coisas que aconteceram este ano. Como sempre acreditei que nada é por acaso, e que tudo tem um motivo, qualquer coisa que possa me ajudar a pensar melhor sobre ago que me aconteceu é sempre bem-vindo. Hoje, no Facebook, me deparei com esta imagem (vou tentar publicá-la). Achei divina! E logo lembrei da tal hérnia, que foi assunto de algumas reflexões, aqui neste blog. Refleti sobre o que ela podia significar, do ponto de vista físico, emocional e espiritual. Falei sobre equilíbrio, sobre o carregar (ou não) peso, sobre pressões espirituais. Sobre o quanto ela me ensinou a ver (e viver) tudo com mais calma e tranquilidade… Tempos depois, aprendi a exercitar a calma, a tranquilidade, a paciência e, especialmente, a dedicação, não a mim, mas ao meu companheiro de vida, de jornada, de missão espiritual. mas isto é uma outra história! Voltando então à hérnia! Vi este desenho, e fui logo procurar o local que correspondia à minha lesão. Vértebras L5S1. A sensibilidade e a simplicidade. Sempre me considerei muito sensível, uma pessoa capaz de “captar” as coisas no ar. E simples também. Mas talvez eu tenha m desligado um pouco disto, e era hora de resgatar! Ou então, exagerei na dose! (Quem sabe se não foi por isto que a hérnia “fugiu”?? Sim, ela “migrou”, da região da sensibilidade e da simplicidade, foi escorregar pro ladinho e eu, quando tinha dor, tinha bem na região do “equilíbrio”…Então… estava na hora de conciliar, de equilibrar. Voltar a pensar no espiritual, ajudar aos outros mas também a si mesmo, permitir que as coisas fluam, e fazer a minha parte. E que 2013 seja um ano de realizações, espirituais, divinas, especiais e também materiais… Equilíbrio de corpo, mente, alma e espírito. Razão, emoção, pensamentos, coração! Que cada dia comece com um agradecimento (na verdade começa sempre assim), uns beijos e um sorriso, siga com um bom trabalho, e termine com afeto, beijos, sonhos e oração! 
Porque escrever sempre fora o seu modo de se expressar, de contar, de sonhar...Ali, no papel, era onde ela iria expor tudo aquilo que tinha dentro de si, onde iria revelar tudo aquilo de mais importante: seu íntimo, seus sonhos, sua alma... Escrita como diversão, escrita como terapia, escrita como arte... ou simplesmente como passatempo... Suas palavras, colocadas, inicialmente no papel, depois digitadas em arquivos de computador, de uma ou outra forma, a tornariam eterna.
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Mas a eternidade, para ela, vai muito além de simplesmente deixar traços de sua atual existencia em pedações de papel. Sim, porque, embora seja ainda um espírito em fase de evolução, muita coisa ele/ela já compreendeu. Dentre elas, a questão da inexistência do tempo e da “morte” , assim como nós a concebemos.
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Capítulo XIV: sobre o tempo 
Pois é. Quando as idéias surgem, não importa o lugar, ela, sempre que possível, tenta colocá-las no papel. Inúmeras são as coisas, fatos e situações que a fazem refletir. E, um dos textos que escrevera sobre “O tempo”, foi elaborado durante uma viagem de Trensurb, à caminho da faculdade. Na época, aquele espírito não fazia idéia, mas, um dia, iria descobrir que, de um modo ou outro, suas palavras, suas reflexões, um dia, serviriam a contribuir, sim, para que outros seres humanos começassem a pensar na possibilidade de um mundo melhor. 
O tempo 
Quem é este ser tão poderoso chamado tempo? Por que nós, da sociedade ocidental, nos submetemos a ele de tal forma, que muitas vezes parece que estamos vivos só por obrigação? Para cumprir uma tarefa onde, em vários momentos, o que menos importa é o “prazer”? Deve ser mesmo poderoso o “Sr. Tempo”. E cada vez seu poder aumenta mais. 
O tempo está acelerando, o mundo parece girar mais rápido. Hoje, tudo já virou ontem. E o amanhã? Ora, o amanhã...Nunca chega. E quando chega, já passou. 
Hoje em dia, as transformações ocorrem em questão de milésimos de segundos. E, nesta rapidez toda, também nós sentimos a necessidade de sermos “rápidos”. Viver tudo ão mesmo tempo, com intensidade, a mil quilômetros por hora... Espera aí... Esta história eu já ouvi antes... 
Não era justamente a “velocidade”, o “viver dez anos a mil ao invés de mil anos a dez”, o que “inspirava” a “Juventude Transviada”? James Dean, sexo, drogas, rock and roll. Viver o mito. Morte? O que importava! O tempo (sim, já naquela época) passava rápido, tinha que “curtir”. (E quanto jovem morreu sem nem mesmo dar-se conta de que a vida é muito mais do que um copo de cerveja!). Bem, voltando ao fato. 
O tempo acelerado vem nos obrigando a sermos mais “dinâmicos”, a nos adaptarmos à realidade que aí está. Quem não estiver disposto a acompanhá-lo, corre sério risco de se tornar espécie em extinção. Milhões, trilhões de mudanças vêm ocorrendo, sem nos darmos conta da “missa a metade”. Mas está por aí... Como já dizia Janis Joplin, “If you got a today, you don’t need a tomorrow. Tomorrow never happens”. O que existe, afinal? O agora? Não, o agora não é mais agora. Já passou. Confuso, não? 
Às vezes me ponho a pensar a respeito deste que chamei de “Senhor Tempo”. Ô carinha com voz de comando! Ele consegue nos deixar ansiosos, parece parar, quando temos algo para realizar. Se esperamos por alguém, ele transforma cada segundo em gotas de eternidade. Nos momentos de maior prazer, ele acelera seus ponteiros, num jogo perverso, num típico papel de estraga prazeres.
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Mas é verdade que ele também nos ajuda. Porque mesmo aquelas coisas que são demoradas, ele faz acabarem. E aquilo que queremos que dure mais, ele deixa uma pontinha de esperança de que possa vir a ocorrer de novo. Ser engraçado, este “Sr. Tempo”... Ele controla nossas ansiedades, expectativas, nervosismo, alegrias, tristezas... Somos mais vulneráveis a ele do que podemos imaginar. Às vezes parece que “não vai dar tempo”. Outras, que o tempo “simplesmente parou”. 
Nunca, no decorrer da sua vida, num daqueles típicos dias de corre-corre, você deu uma parada para pensar? Pensar no motivo de tanta ansiedade, nesta necessidade de fazer “tudo ao mesmo tempo agora”, deixando de lado, muitas vezes, sua própria singularidade? Você já se deu conta de como é controlado por uma “força invisível” chamada tempo? Provavelmente já. E você lembra de alguma vez ter delegado a “ele” (o tempo) tal poder? E se você resolvesse viver cada momento “bem”, ao invés de “atropelar tudo”... Que conseqüências isto traria para sua vida? 
Como eu sempre digo: “Sem stress!” Somos, sim, escravos do tempo. Mas podemos tentar um acordo com o “dito cujo”. Que ele nos dê um pouco de liberdade...para vivermos nossas vidas...cada momento. Pois o tempo, além de poderoso, é valioso. Precioso demais, para simplesmente “deixá-lo passar”. 
Não é viver dez anos a mil, mas também não é “laissez faire, laissez passer”. Nem oito, nem oitenta. Só não dá é pra ficar passivo demais diante desta “outorgação temporal”. 
Quer saber? Construa você mesmo o seu próprio tempo. Lembre do ontem, pense no amanhã, mas VIVA o hoje. E...CARPE DIEM! 
Texto escrito no TRENSURB (a maior parte), após leitura do texto sobre o “tempo”, publicado na Agenda Tribo/98- Porto Alegre, 24 de março de 1999.
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Capítulo XV: Saudade 
Pensando a respeito de pessoas, fatos e histórias, ela questionava: “A gente pode sentir saudades do que não viveu”? E afinal, quem disse que o real é mesmo real? Quem garante que os sonhos não são a realidade, e a realidade não passa de um grande sonho? TUDO é real, pois é tudo percebido, vivido ,sentido. Quando “embarcamos” no mundo dos sonhos, seja através do sono, seja através do nosso pensamento, aquele passa a ser real. E a sensação que temos, ao acordar, de ter vivido aqueles momentos? 
E, de repente, de tanto ouvirmos histórias, de tanto nos contarem coisas interessantes, é como se a gente “introjetasse” tais informações, e passassemos a nos sentirmos, nos comportarmos de acordo com isto. Quase um mecanismo de identificação projetiva! Mas não é só isso. 
Embora não se desse conta (pelo menos não de modo consciente), seguia buscando, especialmente durante os momentos em que seu corpo carnal descansava, orientações a respeito da vida, da sua caminhada, das coisas passadas e das coisas vindouras. E, na medida em que crescia, sentia ainda mais forte a presença de espíritos afins os quais, na presente encarnação, não havia sequer encontrado. Mas...como pode? Seria obra da sua fértil imaginação? Também. Mas até esta, tem uma razão de ser. 
Os espíritos familiares, ou “espiritos afins”, sao espíritos que estão unidos através da energia que emanam, da vibração, das ondas eletromagnéticas do Universo... Vocês já pararam para pensar na razão pela qual, em um universo imenso, com milhões, bilhões, trilhões de pessoas, se aproximam de nós “exatamente” estas? E as afinidades (e semelhanças) com alguns espíritos já desecarnados, como se explica? 
Ora, acontece que não é desta vida que existem tais afinidades! E, se nesta encarnação, temos a vívida impressao de termos “vivido” algo que não vivemos, é porque este encontro já ocorrera. Em outros tempos, em outra dimensão, mas sim, ocorrera sim! E quando a gente se refere à amigas como irmãs de alma, não imagina o quanto é verdadeira tal afirmação! 
E eis que, um dia, pensando sobre isto, ela faz a seguinte reflexão: 
A gente se dá conta da inexistência o tempo quando passa a sentir saudades de momentos que, em teoria, "jamais vivemos", de pessoas que "nesta vida" jamais conhecemos... Inicialmente pode parecer estranho, mas depois entendemos que isto ocorre porque esta vida não é a única, ou melhor, únicos somos nós, mas as vidas, são muitas, e os encontros e desencontros acontecem por alguma razão. Confuso? Tento me expressar melhor: sentir sudades de alquém que partiu antes da gente
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nascer, nada tem de estranho. Porque mesmo que não tenhamos plena consciência disto, um dia, este encontro aconteceu. Por essas e outras que lembro e penso sempre em vocês, Renan de Souza e Italia Cassina Festugato! 
E de repente ela vai se dando conta que os encontros no Mundo Espiritual, à medida em que o tempo vai passando, se tornam cada vez mais mágicos e alegres. Algumas vezes, ela também toma parte, obviamente, com a devida autorização. 
Em um dia de outubro, uma comemoração. 
E hoje o céu está em festa! Dizem que, para nossos pais, nós jamais deixamos de ser criança... Já posso imaginar a vó Eleonora preparando aqueles doces lindos e caprichados, riquíssimos de detalhes...gatinhos, cachorrinhos menino e menina, etc...E os salgadinhos? Ah, aqueles croquetes redondinhos, com embaixo um pedacinho de pepino pra enfeitar...e os pastéis.... E, pra dividir um pouco a tarefa, a torta quem fez foi a nona Italia...Enquanto isto, o vô Vercedino e o nono Piereto jogam uma partida de escova. E o aniversariante? Bem, ele está lá, em oração. Recebendo todos os bons pensamentos, as boas energias e vibrações de tantos espíritos que o querem bem, encarnados e desencarnados.... Lembrando, obviamente que, estando no mundo espiritual, docinhos e sagadinhos, assim como todo o resto, são "plasmados", e os ingredientes são pura energia e amor. Então...feliz aniversário pai querido! 
O que a nossa personagem não sabia é que a hora da festa, seria também um momento de bate-papos e reencontros. 
Pouco a pouco os convidados iam chegado. A grande maioria, familiares, ou melhor, espíritos que, na última existência terrena, haviam dividido momentos e vivências. 
A data havia sido programada há tempos, e era esperada com ansiedade por muitos. Não importava muito quem era o celebrado (no caso, o espírito que, encarnado, desempenhara o papel de pai da nossa personagem). O mais importante era a oportunidade que estava sendo oferecida à todos. 
Oportunidade? Sim, oportunidade, acima de tudo, de reencontros! 
Muitas vezes, acreditando na existência de um Mundo Espiritual, tendemos (e queremos) acreditar que, necessariamente, logo após o desencarne, o espírito passa imediatamente a “viver” junto com aqueles com quem havia convivido durante o período em que esteve encarnado. Assim, pais reencontrariam filhos, famílias seguiriam reunidas, sem nenhum tipo de mudança. Mas, na verdade, nem sempre as coisas são assim.
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Particularidades, individualidades, personalidades, diferenças, devem ser consideradas e respeitadas. Carmas, escolhas, missões. Vidas diferentes, papéis diferentes, e também desencarnes que se deram de forma diferente. 
O desencarne é um processo individual e, embora ponha um “fim” à todo sofrimento carnal, inicialmente o espírito, apegado às questões terrenas, ainda sente, sofre, pensa e se comporta como um encarnado. Assim sendo, precisa ser curado, muitas vezes hospitalizado, enfim, ajudado. E, ao menos que fosse um Grande Hospital Geral, seria meio estranho colocarem num mesmo quarto, por exemplo, um enfartado e um doente de câncer, por exemplo. 
A cada um, a cura ideal, no lugar ideal. Para isto, existem as colônias-hospitais. Obviamente, durante o período em que estão sendo curados/cuidados, recebem sim a visita dos espíritos que lhes são caros, os quais ajudam a orientá-los e confortá-los. E, sim, eles estavam lá no momento do desencarne, para recebê-los, abraçá-los e seguirem, então, as suas tarefas. 
Durante o período de tratamento, cuja duração é complicada de ser estabelecida, mesmo porque a percepção do tempo é completamente diversa no Mundo Espiritual, existem momentos nos quais sair do lugar onde estão e ir para outras Pátrias espirituais, é justo e inclusive terapêutico. 
São diversas as ocasiões nas quais os espíritos afins, mesmo que no momento frenquentando escolas, hospitais, colonias diferentes, acabam por se reunir. Isto pode ocorrer em datas particulares, como Natal, Finados, Páscoa, etc, mas também em datas não necessariamente marcadas por algo em particular. Voltemos então à nossa história. 
Como dito anteriormente, aquele seria um momento de encontros, reencontros, alegrias e muita, muita emoção. 
O aniversariante do dia, que na Terra recebera o nome de Renan, esperava os convidados junto a seus queridos pais e sogros, tendo ao seu lado um querido sobrinho que, por ser extremamente sensível e frágil, acabou, na existência terrena, envolvido por espíritos menos evoluídos, cometendo suicídio. O seu processo de recuperação ainda seria muito longo mas, devido ao seu sincero arrependimento e ao grande amor que sua família nutria, pudera, naquele dia, estar presente na festa. 
E assim, aos poucos, as pessoas, ou melhor, os demais espíritos iam chegando, amigos de infância, de longa data, parentes, pessoas a quem ajudara, enfim. Os cunhados, Chico e Waldyr, com os quais iria bater longos papos, e a visita tão esperada da querida cunhada Mary, da qual a sua amada filha Marian iria herdar tantas coisas. Como sempre, ela se apresentara
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extremamente elegante, e dona de uma simplicidade e gentileza que lhe são peculiares. E tinha, também, uma outra convidada muito especial: aquela que, na Terra, fora a mãe de um espírito de muita luz, que iria encontrar, a um oceano de distância, seu espírito afim. Um ao lado do outro, os espíritos Renan e Bice iriam observar, do Mundo Espiritual, o lindo encontro daquelas almas, tão distantes e ao mesmo tempo tão próximas: Marian e Stefano. 
Eis que voltamos a falar na nossa personagem principal. Falando nela, não apenas ela, mas muitos outros espíritos encarnados também apareceram na festa. Obviamente, tiveram que aproveitar o momento em que seus corpos, no plano terreno, estavam adormecidos. E, ao retornarem, para que pudessem seguir no cumprimento de suas missões, foram envolvidos no manto do esquecimento. (Embora uma vaga lembrança e, mais do que isto, uma forte sensação de conforto e paz permanecera).
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Capítulo XVI: Considerações finais, ou: mas tem que ter um final? 
Duas são as coisas mais difíceis quando se escreve uma história: escolher um título e elaborar um final. Em se tratando de um livro como este, onde real e imagiário se misturam, onde a personagem, encarando uma terceira pessoa, faz também as vezes de narrador, uma obra onde vida e morte, início e fim estão intimamente ligadas, esta missão é ainda mais complicada. 
Sim, a vida é eterna, mas é dividida em etapas, em existências, assim como um livro é dividido em capítulos. Por que o fazemos? Especialmente, para melhor entendimento, para melhor compreensão. Ops... mas isto se refere à vida ou ao livro? 
Aos dois!! Deste ponto de vista, a diferença é que, em um livro, chega o momento em que precisamos necessariamente colocar um ponto final. Porque um livro pode ser eterno sim, na medida em que passa de mão em mão, atravessando gerações. Mas a história que conta, como toda boa história que se preza, precisa de personagens, de um bom enredo, de um início, um meio e um final. E a vida? 
Enquanto espíritos encarnados, especialmente se acreditamos na existência de um “Bem Maior”, e na continuidade da vida, o fato de não termos lembranças de vidas anteriores, pode nos fazer pensar em cada existência como um novo livro, onde os capítulos, de acordo com as nossas escolhas, podem ser divididos em anos, momentos, fases. No entanto, ao reingressarmos ao Mundo Espiritual, nos damos conta de que, na verdade, o Livro não apenas é único, com cada existência correspondendo a um capítulo, mas, acima de tudo, que ele é apenas um pequeno volume na Grande Coleção do criador. 
E a nossa história, como irá terminar? Ninguém conhece exatamente o final, mas todos sabem que, visto a inexistência do acaso, acontecerá exatamente o que tem que acontecer e, diante de tudo isto, fica a certeza de que a felicidade poder ser construída e conquistada dia após dia, e que a vida vale muito, muito a pena ser vivida!
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Agradecimentos 
Escrever, para mim, sempre foi como uma terapia, antes mesmo que eu me desse conta, talvez, antes mesmo que eu mesma aprendesse a escrever. Textos e rascunhos espalhados por tudo, em velhas agendas, em disquetes que não funcionam mais, em cadernos rasgados perdidos por aí, em bilhetes que sabe-se lá onde foram parar. 
Sendo este um livro (ou uma espécie de livro), eu deveria agradecer especialmente àqueles que sempre me incentivaram, minha família, meus professores, minhas amigas, enfim. E à todos eles eu digo, sim, muito obrigada, e não cito nomes, para não correr o risco de deixar alguém de fora. 
Agradeço também aos meus pacientes, de ontem, de hoje e de amanhã. Sendo eu uma pessoa para quem o tempo é algo extremamente relativo, me autorizo a agradecer, também, por coisas ainda vindouras. 
Acima de tudo, porém, agradeço à Deus, e à todos os espíritos de luz que me circundam, encarnados e desencarnados. Agradeço a cada ser que passou pela minha vida, tantas vezes de forma despercebida, numa simples troca de olhares, num bate-papo teoricamente sem sentido na parada de ônibus, enfim. Porque, afinal, tudo é interligado, e até aquela conversa meio sem sentido teve o seu porquê. 
Agradeço, especialmente, por tantos privilégios que me foram concedidos. Por, em uma existência onde vejo tantos espíritos sofredores, a minha dor, quando aparece, ser sempre tão pequena e insignificante. Agradeço por este meu modo otimista de ser e por a vida ter me ensinado a encará-la de forma leve e feliz. 
Agradeço pelos momentos de dificuldade, e pelo modo como estes aparecem na minha vida, geralmente acompanhados de coisas positivas. Ou talvez seja simplesmente o meu jeito de enxergar, mas não importa. 
Bem, acho que é isto. Espero que tenham gostado desta leitura, uma história meio autobiográfica, meio imaginária, onde a linha que separa estes dois mundos é tão sutil, que se confundem, se unem, se misturam.

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  • 1. 1 paz vida felicidade amor bondade sonhos dádiva presentes sabedoria dom esperança espiritualidade amizade aprendizado luz paz vida felicidade amor bondade sonhos dádiva presentes sabedoria dom esperança espiritualidade amizade aprendizado luz paz vida felicidade amor bondade sonhos dádiva presentes sabedoria dom esperança espiritualidade amizade aprendizado luz paz vida felicidade amor bondade sonhos dádiva presentes sabedoria dom esperança espiritualidade amizade aprendizado luz [Relatos de uma Vida] Uma história realmente imaginária ou imaginariamente real? Marian de Souza
  • 2. 2 Capítulo I. Despedidas. ............................................................................................................... 3 Capítulo II. Expectativas ............................................................................................................. 5 Capítulo III. Contando (e escrevendo) histórias ........................................................................... 7 Capítulo IV: peça de teatro e a música. (Sim, a música!) .............................................................. 9 Aurora ............................................................................................................................................... 9 Cogumelo ......................................................................................................................................... 10 Capítulo V. Sobre a arte e o prazer de viajar. ............................................................................ 11 Capítulo VI- Sobre a arte de cuidar ........................................................................................... 12 Capítulo VII. O afeto e o cuidar. ................................................................................................ 15 Capítulo VIII. Quando a gente gosta, é claro que a gente cuida... .............................................. 17 Capítulo IX. E o cuidar continua ................................................................................................ 19 Capítulo X: aprender a cuidar, cuidar para aprender, ou: a importância da dor do outro no entendimento das nossas próprias dores .................................................................................. 20 Trabalhando com Pacientes Laringectomizados ................................................................................. 21 Laringectomia e Espiritismo .............................................................................................................. 24 Capítulo XI: Existem pessoas que parecem surgir “do nada”, mas na verdade são anjos enviados por Deus para nos ajudar na nossa missão”! ............................................................................. 27 Capítulo XII: Porque toda pessoa é a pessoa certa! ................................................................... 29 Capítulo XIII. Porque para ela, tudo é motivo para refletir! ....................................................... 31 Refletindo sobre algumas coisas que acontecem conosco no Caminho da Vida .................................. 33 “Não pode carregar peso”. ...................................................................................................... 35 Caminhar... ...................................................................................................................................... 36 Mais descobertas- hérnia! ................................................................................................................ 37 Capítulo XIV: sobre o tempo ..................................................................................................... 39 O tempo ........................................................................................................................................... 39 Capítulo XV: Saudade ............................................................................................................... 41 Capítulo XVI: Considerações finais, ou: mas tem que ter um final? ............................................ 45 Agradecimentos ....................................................................................................................... 46
  • 3. 3 Capítulo I. Despedidas. Toda a sua família espiritual já estava reunida. Espíritos afins estavam envolvidos com os últimos preparativos para a festa de despedida. Todos sabiam que, do ponto de vista da Espiritualidade, da Eternidade, o tempo que estariam “distantes” seria muito breve, sem falar que haviam já combinado que os encontros durante o sono, e pelos sonhos, seriam constantes. Porém, espíritos de alma alegre como eram, não perdiam a chance de festejar, um festejo que ampliava ainda mais o grande raio de luz e felicidade que os circundava. Explico: cada um deles havia uma aura de luz branca e dourada que, em contato com a aura do outro, se expandia, formando como se fosse uma grande redoma de luz, do tamanho do infinito. Foi um dos grandes Mestres que a perguntou: _ Então, estás pronta para a missão que tu mesmas escolheste? _ Sim, creio de sim. _ Saibas que, neste caminho que escolheste, algumas vezes, se pensares em definição de papéis, te sentirás meio confusa. Serás uma mãe em um corpo de filha, e, desde muito cedo, desenvolverás um dom que se tornará uma das tuas características mais preciosas: o dom de cuidar. Além disso, faculdades como a bondade, a paciência, a persistência e também a coragem para mudar, se farão fundamentais. Haverás tantos desafios a serem superados, e em alguns momentos, não será fácil não se deixar dominar pela ansiedade. Nestas horas, lembre-se que jamais estarás só. Que nós estamos contigo, esteja onde estiveres. Respira fundo e confia. Segues a tua intuição, aquela “vozinha” que te diz o caminho a seguir, sem medo. Obstáculos são feitos para serem superados, e as mudanças fazem parte da tua caminhada. Cada passo dado, ficará registrado no teu grande livro da vida. Quando terminares esta etapa do teu trabalho, tornarás e juntos daremos uma olhada no teu livro e, se quiseres, te ajudarei a escolher o título. Após ter dito isto, Ele e os demais espíritos de imensa luz e bondade que se encontravam ali reunidos se deram as mãos, formando um grande círculo de luz. Pediram então para que aquele jovem espírito, que se preparava para reencarnar, tomasse o centro do círculo. Feito isto, o envolveram com luzes de todas as cores do arco-iris, enquanto mentalizavam palavras de carinho, como: fé, bondade, amizade, paciência, felicidade, tranquilidade, paz, amor, luz, saúde, fraternidade, sonhos...o objetivo, além de transmitir àquele espírito todas estas faculdades, era o de formar um escudo protetor, em modo que, diante de dificuldades e obstáculos que certamente iriam surgir, ele se sentisse em condições de lutar, utilizando, acima de tudo, a sua melhor arma: seu olhar verdadeiro e seu sorriso sincero.
  • 4. 4 Estava chegando a hora... a concepção já tinha acontecido, e seu invólucro de carne começava a crescer... Como sempre, as últimas providências tinham ficado para a última hora. Alguns meses já tinham se passado de quando houve a concepção, mas lhe disseram de aguardar um pouco mais, pois lhe teriam reservado um surpresa. Sentada no trem espacial que a levaria para a Terra (sim, seria uma menina), já com características que se tornariam típicas de sua personalidade, ou seja, um pouco de ansiedade e muita, muita expectativa, muita alegria e felicidade, ela, que não via a hora de chegar em seu destino, estranhou quando o trem fez uma parada intermediária. _Ué.... o que houve? Por que será que paramos? Nisto, o condutor do trem entra na sua cabine, e diz: - Tem alguém aqui que veio se despedir. Queria te ver antes que partisses. Vossas vidas já se cruzaram muitas e muitas vezes. Desta vez, porém, vocês escolheram encarnarem em momentos diversos. A missão dele encerrou con a tua concepção. Agora, és tu que irás dar continuidade às sementes que foram plantadas. E fica tranquila, pois, assim como na Pátria Espiritual, também lá na Terra serás sempre circundada de espíritos que te ajudarão. Espíritos amigos e afins, que te darão força quando precisares, e espíritos também de nível inferior em relação ao teu, mas que te ajudarão de forma ímpar no cumprimento da tua tarefa. Dito isto, a portinhola que separava um vagão do outro se abriu, e ele surgiu. Havia ainda a “forma”, a imagem de como tinha sido na sua última encarnação. Os cabelos castanhos e encaracolados, os olhos verdes pequenos mas de olhar profundo, cobertos de lágrimas de emoção. Os olhares se cruzaram, ela já “plasmada” na forma que teria na Terra. Inicialmente, pequena, ainda bebê. Ele a pegou no colo, com carinho, e lhe beijou a fronte. Em seguida, se abraçaram, e seguiram cada um o seu caminho.
  • 5. 5 Capítulo II. Expectativas Na Terra, os preparativos para a chegada daquele espírito estavam a mil. Devido aos últimos acontecimentos, o “clima” era confuso, um mixto de alegria e esperança, com tristeza e desespero. Aquela que tinha sido escolhida para fazer o papel de mãe, passava por momentos de muito questionamento. Era difícil entender, aceitar que uma perda pudesse ser simplesmente um desejo de Deus. Afinal, sempre tinham lhe dito que Deus era bom, era um Pai...Mas que Pai mais maldoso e sarcástico seria este? Como já era de se esperar, naquele momento, seres de infinito amor e bondade lhe mostraram o caminho que lhe conduziria à verdade. Junto de sua irmã, começou a sua caminhada na busca da Espiritualidade. (Mal podia imaginar que, depois deste, ela ainda iria explorar muitos e muitos caminhos. Todos, porém, com um objetivo em comum: a busca da “sua” propria espiritualidade). _E chegou a hora! Vai nascer! Dia de São João! Quem sabe se eu “sacudir” um pouco ela resolve sair! Dentro do útero, aquele serzinho que já se sentia meio apertado, mas que na real estava curtindo aquele calorzinho, tentava entender por que pulava tanto, sem saber que era culpa das ruas esburacadas. Além disso, num outro dia, do nada, deu um “pulo” de susto. O estouro de um foguete lançado no terreno da casa em que se encontravam o fez levar as pequenas mãozinhas aos ouvidos. _ Será que lá fora é assim tão barulhento?’ Ah, então eu fico aqui mais um pouquinho! E assim foi, até que, no dia 26, ela nasceu. Surpresa por ter nascido num dia de calor em pleno inverno, depois iria ficar sabendo da escolha de sua mãe... Ir até a Bahia, para que aquele doce espírito pudesse vir ao mundo na alegria, e não no vale de lágrimas que tinha se transformado aquela que teoricamente teria sido a sua cidade de origem, devido à “perda”, à “morte” daquele que teria sido o seu pai. Embora inicialmente possa parecer uma decisão tomada às pressas, na verdade era uma das opções traçadas desde o início, quando este grupo de espíritos, ainda no plano espiritual, criava o seu “roteiro de vida”. Nele, haviam traçado um esboço, deixando várias estradas, várias alternativas. O caminho a seguir seria decidido depois, através do livre-arbítrio. Muitas vezes durante a sua vida de encarnada, aquela menina, moça, mulher, iria se questionar o que, na sua vida, poderia ter sido diferente, se as coisas tivessem acontecido em um
  • 6. 6 modo diverso. Se tivesse tido seu pai presente (encarnado) ao seu lado, se tivesse nascido no Sul, etc... teria estudado nos mesmos colégios? Teria conhecido as mesmas pessoas? Teria tido o mesmo grupo de amigos? Teria feito as viagens que fez? Teria, teria, teria... Ser “filha única de mãe viúva” era um título do qual ela poderia “se aproveitar” quando quisesse. Um modo simples e fácil de fazer os outros ficarem com pena, e até se sentirem em culpa. Mas não era o seu estilo. As pessoas ficavam sabendo que ela era filha única somente se perguntavam. Afinal, sua mãe foi muito atenta no modo de cuidá-la, criá-la e educá-la, afim de que ela não viesse a se tornar uma garotinha chata e mimada. Isto para não falar que seria a filha única com mais pais e mães que alguém pudesse imaginar... O carinho con o qual este espírito de luz seria criado, circundado de amor, iria refletir nas suas escolhas.
  • 7. 7 Capítulo III. Contando (e escrevendo) histórias Desde muito, muito cedo, seu gosto pela leitura se desenvolveu. Contar histórias na hora de dormir era um modo que sua mãe encontrara para estar mais próxima. Trabalhando fora o dia inteiro, a noite era o momento que elas tinham para se curtir, as duas. Naquelas horas, sua mãe (que ela aprendera a dividir com alunos, primos, etc), era todinha dela. Falando assim, pode até parecer uma cosia egoísta mas, na verdade, aqueles dois espíritos precisavam daqueles momentos. Mesmo que naqueles momentos não fossem de tudo conscientes, no futuro, aquele “contar histórias” iria refletir no modo de se relacionarem, de viverem, de “sonharem”. Começando com contos de fadas, para depois passarem a histórias criadas, inventadas, em dupla. Uma começava, a outra continuava, e assim por diante. Ela não podia imaginar que, na verdade, todos aqueles lugares mágicos, encantados, para onde ela se progetava, seja durante as histórias, seja durante o sono,não eram simplesmente fruto da imaginação. Eram, sim, mundos mais evoluídos, em um plano superior, onde a natureza era “tão real que parecia ser falsa”. De tanto ouvir, ler e imaginar histórias, começa a nascer a vontade de escrever. Um dia, ela decide escrever uma história. Mas ela não tinha ainda sido alfabetizada! _Mãe, escreve a história que eu vou te ditar? Num bloco de rascunho, sua mãe, então, escreveu sua primeira história. Depois, ela se encarregou do título e das ilustrações. A história se chamava “A menina que gosta deste mundo”. Com o tempo, este bloco iria “sumir”, para ser reencontrado anos depois, e depois sumir de novo. Até o dia em que será guardado como um tesouro precioso. Na época em que tal história foi escrita, ela se encontrava ainda muito ligada ao mundo espiritual. “este mundo”, é a Terra, mas vista com um olhar menos materialista, um olhar “de alma”... Dentre os vários livros que iria ler durante a sua existência terrena, o Sítio do Pica-Pau Amarelo seria um dos seus grandes companheiros de leitura na hora de dormir. Um dia, na praia, inspirada nas obras de Monteiro Lobato, pegou um caderno, um lápis, e começou a esboçar uma história. “As aventuras de uma menina” contava a história de uma menina que, através do “Pó de Pirlimpimpim”, se progeta no mundo mágico dos contos de fada, onde vive inúmeras aventuras.
  • 8. 8 Neste mundo, Branca de Neve, Cinderela, Bela Adormecida, todos se conhecem. De novo, o destaque é para a natureza, florestas lindas, cachoeiras, paisagens deslumbrantes. O interessante é que, na sua história, não existem nem bruxas nem dragões. O mal não faz parte, o que aparece é simplesmente o encanto da vida, da felicidade. A história, no entanto, acabou ficando mais na testa que no papel. Escreve, escreve, escreve, até que cansa. E o caderno, que fim levou? Ninguém sabe. Depois daquela primeira, ou melhor, segunda experiência literária, ela seguiu escrevendo. Poesias, contos, redações, reflexões. Ela nunca iria deixar de escrever. Escrever se tornaria um hobby, um sonho, uma realidade, uma terapia.
  • 9. 9 Capítulo IV: peça de teatro e a música. (Sim, a música!) Tímida, sensível, frágil. “Um vaso de cristal”. Era assim que os outros a definiam, sem saber que na verdade sua extrema sensibilidade era devido ao seu dom de perceber além das aparências. A sensibilidade iria sempre fazer parte de si, do seu ser, mas não a impediria de tornar-se uma mulher repleta de coragem, capaz de enfrentar obstáculos e desafios que lhe seriam impostos. Una caracteristica que sempre fez parte da sua personalidade foi o não acreditar no acaso. Assim, passaria a gradecer sempre, pelas coisas que dão certo e por aquelas que não dão. Afinal, no final sempre acabava descobrindo que tudo acontecera pelo melhor. Falemos então sobre o teatro. Sua mãe era uma apaixonada, e, como é a tendência natural de todas as mães, pensou que também ela pudesse se apaixonar. E ela gostou. Sim, gostou, depois enjoou, depois, já na adolescência, voltou. Um dia, escreveu uma peça de teatro, um musical, sendo que os personagens foram criados usando como “pano de fundo” as fantasias que sua mãe tinha em casa. Os atores? Atrizes. Sua colegas, melhores amigas da época. (Sonhadora como era, criou a história, que era toda cantada. Deu a cada uma uma personagem, mas elas jamais iriam ficar sabendo. O nome delas? Liziane, Giovana, Joice, Micaela, Xenia, Fabiana Paim. Pra variar, a história era repleta de fantasia. Novamente, uma menina. Uma menina que pegava no sono, e “acordava” em um lugar encantado. Como numa dança, os personagens iam se apresentando, cantando, dançando. Que fim será que levaram aqueles escritos? Parece incrível, mas, passados mais de 20 anos, ela ainda lembra da tal história. E o mais interessante é que ainda sabe de cor algumas das músicas criadas. Lembra ainda do texto e também do ritmo das canções. E ela cantava: Aurora “Eu sou a aurora, aurora, aurora, que veio cantar.. .cantar... cantar.... Eu sou a aurora, que veio dançar... Nas noites felizes (felizes, felizes), eu hei de surgir... surgir... surgir... E as noites infelizes,não vão existir! Pois eu sou a aurora, aurora... aurora....
  • 10. 10 Cogumelo Meu nome é Cogumelo Sapeca Porque eu canto, Uma linda canção. Preste atenção, Você vai reconher Pois esta música vem Do fundo do seu coração! Cante comigo agora, Que a noite já vai embora Vamos cantar e dançar Que o dia já vai raiar! Foi o seu tio que, de pequena, a acostumou a ouvir canções para se adormentar. E todos, desde sempre, a incentivavam a cantar e ela, com o dom de imaginar, de sonhar, de criar, escrevia poesias, rimas e canções. Esperta e atenta, muitas vezes iria esgotar o repertório do tio, que se “salvaria” com o Hino Nacional. (Dizem que isto a ajudou a tornar-se ainda mais patriota. Quem sabe?)
  • 11. 11 Capítulo V. Sobre a arte e o prazer de viajar. Viagens. Tantas, inúmeras, infinitas. Lugares diferentes, perto, distantes. Viagens iguais para lugares diferentes, viagens diferentes para os mesmos lugares. Lugares novos, lugares vistos e revistos, mas cada vez com um novo olhar. O velho que parece novo, o novo que parece velho. Tem coisa melhor do que viajar? Viagens completas, de corpo, de alma, de espírto. Viagens que parecem sonhos, sonhos que viram realidade. Sonhos que parecem reais (E que, na verdade, o são, mas em uma dimensão diferente). De carro, de onibus, de trem, de avião. Só com o pensamento e o coração. Viagens durante o sono, para lugares cuja distância é impossível calcular. Viagens no tempo (sim, é possível), para ir ao encontro de outros seres e espíritos afins, para buscar algo, talvez pedir uma orientação. Percorrer caminhos, alguns tortuosos até. Atravessar rios, atolar na lama, “cair de bunda”... Depois erguer-se e continuar. Parar no meio do caminho, se reabastecer e seguir adiante. Comidas, bebidas, olhares... Conhecer lugares, cidades, Países, praias, montanhas, Universos paralelos. Atravessar oceanos, conquistar espaços, realizar sonhos. Correr riscos e nunca, nunca desistir da sua meta principal: a felicidade. E assim a vida ia sendo encarada: como um eterno viajar, um caminho a ser percorrido, sem dramas, sem dores sem explicação, sem arrependimentos. Alguns trechos, melhor percorrer a pé... E os melhores lugares, aqueles percorridos na Espiritualidade. E ela sabia disto, ela percebia, embora ao acordar não possuísse praticamente nenhuma lembrança concreta. Permanecia, no entanto, a “sensação”.
  • 12. 12 Capítulo VI- Sobre a arte de cuidar Cuidar é uma arte, cuidar é um dom, cuidar é inato? Os cuidados que ela tinha com o seu nono, eram incontáveis. Uma criança que cuida de um adulto, um adulto que, no ciclo da vida, volta a ser criança. Sim, aquele mesmo adulto que lhe causava medo, quando ela ia visitá-lo no hospital. Aquele cabelo penteado pra trás, aqueles óculos pesados, enfim... Decisão tomada em família: “ele volta pra casa”! E, com o passar dos anos, muda penteado, diminui remédios, tira os óculos (que serviriam, agora, apenas para ler). E ele se torna um amigo, um pai, em alguns momentos, quase um “brinquedo”... Ela é criança, brinca, de escola, de teatro, e ele, sempre presente. Ela o fantasia, e a ensina a jogar, ela cria um caderno só dele, e lhe passa tarefas. Matemática, português, história... E ele a ensina canções. Canções em dialeto Vêneto, o Hino Nacional, etc... E ele conta histórias... Da sua vida, da família, de como entortou o dedo tentando abrir uma garrafa com um canivete. E chega a noite. E ele sonha, e ele tem pesadelos, e ele perambula pela casa. E ele reza, reza em latim, o réquiem para os mortos. E ela se assusta num primeiro momento, depois acostuma, depois, intuitivamente, conversa com ele, fazem uma prece, como se percebesse que, naquele momento, ele na verdade se encontra num espaço sutil entre as duas dimensões. E ela aprende. Aprende a cuidar deste nono que a faz ainda mais feliz. O ajuda a comer, a se vestir, a caminhar, enfim...Aprende, acima de tudo, a lidar com suas manias, seus trejeitos, e a interpretar seus “teatros”, suas mudanças de humor... (Era divertido sair de casa, deixando-o sozinho na sala e, ao voltar, espiar pelo vidro da porta antes de tocar a campainha. Lá estava ele, em pé, lendo os jornal, conferindo documentos, etc. Até a campainha tocar. Na velocidade da luz, tirava os óculos, pegava uma manta, colocava sobre os joelhos, sentava na poltrona, fechava os olhos e abria um pouco a boca. Como se estivesse dormindo, aliás, roncando. Ou então, ia abrir a porta, sem antes, no entanto, tirar o óculos, fazer uma expressão de “dor” e gemer. Obviamente nem sempre era assim, mas estes episódios ajudavam todos daquela casa a enfrentar as coisas de forma mais “leve”. E quantas vezes ela (a nossa personagem), dando-se conta do avançar da idade e de que, um dia, ele iria partir para o Mundo Espiritual, se perguntava como seria, como ela viveria esta
  • 13. 13 perda, e o grau de sofrimento que isto traria. Afinal, ela nunca tinha perdido ninguém. E o tempo foi passando. Um dia, numa manhã de fevereiro, algo acontece. Café da manhã tomado normalmente. Depois, na hora de levantar para ir almoçar, lá está ele, caído ao lado da cama. E ela jamais iria esquecer daquela noite, antes do derrame (O café tinha sido dado pela sua tia). Ele que dizia que ia dormir, e as filhas dizendo para ele esperar mais um pouco. Ele usando suas estratégias gemia, pedia para uma, depois para outra, e depois, obviamente, “apelava” pra neta. Ela o olhou, e disse: _ Mas é cedo ainda! Come uma bala! Sabe-se lá por que ela perguntou se ele não queria uma bala! O fato é que ele se virou para uma das filhas e perguntou: _Posso comer uma bala? E aquelas seriam as últimas palavras que ela ouviria seu nono pronunciar. Derrame? Lado esquerdo paralisado. Perde os movimentos, a fala, entre outras coisas. Mas seu olhar diz muito, diz tudo. E foi asim por alguns meses, até o momento em que, com muita tranquilidade, ele deixa a prisão do seu corpo físico e retorna à Pátria Espiritual. A viagem foi rápida e abençoada, anjos e seres os mais variados o acompanhavam. Quem pudesse observar, teria a certeza de que todas as crenças, sem excessão, quando se voltam para o bem, jamais se excludem. Elas se completam, ou, se já são completas, seguem caminhos paralelos, estradas diversas. O ponto final, no entanto, é o mesmo. Os seres de luz que o acompanham tomam as formas mais diversas, anjos, santos, hinduistas, mestres japoneses e espíritos de luz. Tudo porque, cada um com a sua fé, seus 6 filhos estavam presentes na hora do “até logo”. Regressando, assume rapidamente sua forma mais jovial, e sorri de alegria ao ver quem o espera. Logo ao chegar, com um sorriso no rosto e os braços abertos, está sua querida esposa. E, sabendo que ele é um recém chegado eque talvez não tenha de tudo deixado de sentir as necessidades dos encarnados, plasma um delicioso quitute!
  • 14. 14 Logo mais, outras “pessoas” vêm se aproximando... e assim, ele se vê circundado (e abraçado) de cada um dos seus 8 irmãos, para finalizar o encontro duplamente abraçado pelo seu pai e sua mãe. Enquanto isso, na Terra, as coisas seguem. Surge a questão: e “Ela”? Ela não estava fisicamente presente na hora do desencarne, mas, talvez, estivesse ali de espírito. Pois ela, naquela noite, sonhara. Sonhara com a escola, e com ela que dava a notícia que seu nono tinha falecido. E todas as dúvidas de como se sentiria após o seu desencarne desaparecem. E ela se dá conta do quanto muitas vezes tendemos a imaginar coisas, e até a sofrer antecipadamente, sem razão. Porque, na verdade, as coisas não só aconteceram de uma forma super serena e tranquila como, vira e mexe, por um longo período, eles iriam se encontrar durante o sono. E, ao despertar, ela não apenas acordaria com uma sensação de serenidade mas, especialmente, iria precisar de alguns minutos para raciocinar, e dar-se conta de que ele não estava mais neste mundo. E os encontros durante o sono, as viagens para outros lugares e dimensões, a permitiriam de se despedir daqueles que voltariam para a morada do Pai Maior, mesmo ela estando fisicamente distante milhares de quilometros. Foi assim que, poucos dias antes que falecessem, ela conversou com seus tios. (E até hoje, alguns anos depois, ela saberia descrever direitinho o quarto do hospital onde seu tio estivera pouco antes de falecer, mesmo sem nunca ter, fisicamente, ido até lá. E o que isto tem a ver com cuidar? Não sei. Mas, se estas linhas surgiram exatamente neste espaço, certamente alguma relação deve ter. E ela vira escoteira e, sabe-se lá por que as atividades de ajuda ao próximo se tornam as suas preferidas. E resolve ser Psicóloga. E um dia, tendo que fazer um progeto para a cadeira de Psicologia Comunitária, uma colega a convida para fazerem juntas, visto que moram na mesma cidade. E aquela experiência lhe marcaria por toda a vida.
  • 15. 15 Capítulo VII. O afeto e o cuidar. O progeto consistia em, dois dias na semana, através de jogos, brincadeiras, etc, dedicar um pouco de tempo à crianças e pré-adolescentes de um abrigo da cidade. Abrigo, “casa de passagem”, chamem como quiserem. O fato é que lá se encontravam desde crianças abandonadas até aquelas que foram “tiradas de casa” por terem sofrido violência ou negligência. Sem falar, por exemplo, em um casal de irmãos que, tendo perdido os pais, acabaram indo morar neste abrigo. Eles tinham um “nonno” que os visitava toda a semana. Um senhor simpático, carinhoso e muito afetuoso. Percebia-se que o amor e o carinho eram recíprocos. Sextas-feiras. Dia do berçário. Impossível esquecer aqueles anjinhos encarnados, o maior dele com dois aninhos. E os gêmeos? Uns fofos, doía o coração saber que estavam ali por neglicência. E dentre tantos momentos de afeto, de carinho, de trocas, um episódio engraçado. (Obviamente depende do ponto de vista, mas poder rir diante de situações desastrosas é um dom) Naquele dia, a merenda era muito especial. Mousse de chocolate!! E ver aqueles fofos saboreando,felizes, aquele doce delicioso,não tinha preço. Mas eis que, de repente, a nossa “heroína” percebe que algo não é o que parece. Sentado num cantinho, dando risada, com uma expressão de felicidade e a boca toda marrom, estava um menininho de 2 anos. Ela o observou, e lhe chamou a atenção o movimento das suas mãozinhas... se aproximou, e... ops! Aquilo não era chocolate! Todo faceiro, o menininho comia seu cocô como se fosse o doce e saboroso mousse... E as crianças maiores? Aquelas, os encontros eram aos sábados. Jogos, brincadeiras, desenhos, pinturas... Através da arte, quantas histórias, quantas coisas eram capazes de expressar! Como aqueles momentos faziam com que ela, a nossa personagem, se sentisse ainda mais privilegiada e feliz, pela vida que levava, pela família que tinha, pelas oportunidades que a vida lhe oferecera. E, dentre todos os episódios, algo a marcou mais do que todo o resto. Um dia, ela sentou-se num banco no pátio e, rapidamente, se aproximou uma criança e sentou no seu colo. De repente, elas se deram conta que aquelas crianças e pré-adolescentes não tinham (ou tinham muito pouco) recebido algo que é fundamental: afeto. Certo que o afeto pode ser demonstrado de várias maneiras, e aquelas crianças tinham roupa, comida quentinha, cama alguns brinquedos. Mas raramente tinham “colo”. Raramente tinham o “toque”, o afeto... Ser recebida todo sábado por crianças que chegam correndo e te abraçam com alegria e afetividade, não tem preço. E hoje, muitos anos depois, ela ainda se pergunta por que o progeto precisou ser concluído, e como (e onde) estarão agora aquelas crianças (hoje já adultos).
  • 16. 16 Voltemos à questão do colo. Um minuto, às vezes até menos. E bastava. Bastava, para deixar aquelas crianças mais felizes. E se notava que eram crianças de uma instituição, e que tinham aprendido a “dividir”, e que inconscientemente lutavam por um pouco de individualidade. Um minuto. Porque, atrás dela, tinha uma longa fila de outras crianças, também esperando pelo seu momento de “colo”. E, além disso, queriam também fazer as outras atividades!
  • 17. 17 Capítulo VIII. Quando a gente gosta, é claro que a gente cuida... E parece mesmo que uma das tarefas do nosso doce espírito, personagem destes escritos, é o “cuidar”. Crianças e adolescentes autistas e/ou com atraso no desenvolvimento: físico, mental, intelectual. E quem foi que disse que os autistas não sabem exprimir afeto? Tá bom, até pode ser que eles simplesmente imitem os gestos do outro, mas.. e daí? Toda e qualquer forma de afeto é válida! Espíritos de uma inteligência ímpar mas que, infelizmente,não souberam fazer bom uso da mesma. Espíritos que talvez tenham usado sua sabedoria e inteligência superiores de forma erronea ou abusiva, agora pedem, humildemente, uma forma de redimir seus erros, para seguir no caminho da evolução. E assim, ocupam corpos “defeituosos” aos olhares incrédulos, mas perfeitos para aqueles que sabem que os maiores valores da humanidade são o amor e a caridade. Tá pra nascer ser mais carinhoso do que as crianças e adolescentes com Síndrome de Down. E quando uma criança autista te olha nos olhos e percebes a sua presença “real” (quando ela não olha “através” de ti), é impossível não abrir um largo sorriso, nem sentir-se gratificada por aquele momento! E não culpar a criança pelos seus atos “impensados”, mas fazer uma prece aos seus espíritos protetores, para que a orientem a e protejam enquanto através do abraço e de palavras amigas tenta confortá-la. Aqueles meninos eram considerados “hiperativos”. Enquanto um ia e voltava, correndo pelo corredor, abrindo e fechando portas, o outro fazia suas tarefas e, pouco antes de terminar, jogava tudo no chão, destruindo o que estava por ser concluído. Nunca ninguém parou para se questionar o que o “concluído” podia signficar para aquele menino? E ambos tinham crises de raiva. E quantas vezes ea voltou para casa com marcas de mordidas na mão e nos braços! E surge um novo adolescente. Parece um animal. A falta de conhecimento dos seus pais havia feito com que eles, com medo das suas reações, o deixassem “preso” em uma pequena sala, sem nada (para que ele não fizesse mal nem a si e nem aos outros), com pedaços de jornal. Resultado: aquele menino grunhia e comia papel. Mas, aos poucos, foi se tornando “humano”. Ataques de raiva ainda ocorriam, mas eram bem menos frequentes. E ele era inteligente. E, quando te olhava e sorria... bem, impossível não virem algumas lágrimas nos olhos! Uma das suas crises iria marcar (literalmente) aquele espírito-mulher da nossa história...
  • 18. 18 Somente os 2 em uma sala, ele fazendo algumas atividades. Do nada, tem uma crise, um surto e, de um trato, derruba a mesa (uma grande mesa redonda) e, ao mesmo tempo, dá um soco, um murro na nossa amiga! Ela, com uma mão segurava o tampo da mesa, com a outra, segurava o adolescente (Que a estas alturas tinha se assustado consigo mesmo, e a olhava sem compreender), enquanto tentava manter a cabeça erguida para aliviar o sangramento no nariz. Em seguida chegou sua colega, que o levou para o pátio. Quanto ainda tinha a aprender a nossa personagem naquela época! Embora não tenha tido reação de raiva, ela, por um tempo, ficou com medo. E aquele espírito, que talvez procurasse apenas um modo de afeto, acabou, mais uma vez, afastando alguém. Felizmente, algumas horas depois, ela dexou o medo de lado e se reaproximou. Mordidas, cuspes, socos. Marcas no corpo, mas nenhuma marca na alma. Porque a alma ficaria marcada se, diante de tais atitudes, ela apresentasse sintomas como raiva, ira, ódio ou falta de amor. Não, ela não aceitava tais reações como se fossem normais. Ela respondia, falava duro, “contia”, sem machucar. Mostrava que aquilo era errado. Quando um adolescente se aproximava em tom de desafio e cuspia.... Ela não baixava o olhar... E quantas vezes os 2 acabavam por começar a rir! Crianças pequenas. De 2, 3 anos. Crianças que entravam em desespero se alguma coisa da sua rotina mudava. E naquela tarde estava chovendo. Ir ao parque? Nem pensar! E aquele menino se torna inconsolável... Aquela menina (uma moça, mas parecia uma menina) tinha sido diagnosticada com Autismo, mesmo sendo Down. Porém, a parte alguns movimentos (como rodar em torno de si mesma, sacudir objetos, e algumas vezes o olhar um pouco ausente), era inteligente e carinhosa. Havia a necessidade de seguir uma rotina, mas aprendia coisas novas com facilidade. E a nossa personagem terminou seu estágio com ela, e passou a ajudar na sala as crianças menores. E, durante várias semanas, quando aquela adolescente chegava, ia até a sala onde a nossa personagem se encontrava, a pegava pela mão e a levava até a sua sala. Afinal, o que fazia ela lá com as crianças? Seu lugar era ali com ela! Existem um livro intitulado “O Direito de Existir”, que fala da Síndrome de Down. Recomendo a leitura. E, falando nisso, nossa querida adolescente Down cumpriu rapidamente a sua missão. Tendo vivido em uma família muito amorosa (o carinho da mãe e dos irmãos por ela era lindo de se ver!), talvez tenha sido menos duro do quanto pudesse parecer ter que enfrentar a vida num corpo Down. E, certamente, quantas lições deixou para cada um que passou pela sua vida!
  • 19. 19 Capítulo IX. E o cuidar continua “Crianças normais”. Assim que as pessoas costumam se referir quando uma crianças se “enquadra” nos tantos títulos e explicações que costumamos ouvir por aí. Por dentro, no entanto, são sempre espíritos... Desta vez, o “desafio” que teria de ser enfrentado era com, especialmente, 3 grupos: o primeiro, o berçario, com seus doces (e arteiros) bebês. Os outros, a turminha do maternal 2 (3 anos de idade, mais ou menos) e a dos “grandes” de 5, 6 anos, incluindo um menino com Sindrome de Down) Episódios marcantes? Tantos! A festa de Natal, emocionante e inesquecível! As brincadeiras no pátio! E aquela vez no berçario, em que, após o banho de um dos bebes, este estava “sentadinho” na bancada e, num segundo de distração da senhora responsável, tentou “descer” dali, escorregando? Ela (nossa personagem) o pegou, literalmente, “no ar”, simplesmente estendendo o braço para o lado, numa mistura de intuição, sorte e sei lá mais o quê... Em outro momento, observar os “grandes” que, tendo a professora saído da sala, começam a discutir “temas filosóficos” como “ de onde viemos” “Como nascem os bebes”, etc, etc, foi certamente um aprendizado também para aquele espírito que, um dia, iria ter de responder a estas mesmas perguntas àquele serzinho que lhe seria enviado por Deus. O que mais lhe chamara a atenção? O quanto cada um defendia com unhas e dentes a sua idéia!
  • 20. 20 Capítulo X: aprender a cuidar, cuidar para aprender, ou: a importância da dor do outro no entendimento das nossas próprias dores Do ponto de vista lógico, ela jamais encontraria uma explicação para as suas escolhas, sejam pessoais, sejam profissionais. A experiência naquele hospital exclusivamente feminino, não só seria bela e inesquecível, mas despertaria ainda mais o seu dom de cuidar e a levaria a percorrer caminhos que, embora já traçados no Mundo Espiritual, no plano terreno, para muitos, pareceria sem sentido. Interessante como as linhas da vida vão sendo traçadas! Seu primeiro contato do ponto de vista profissional com um hospital foi mais associado à vida, à alegria, do que ao sofrimento e a morte. Sim, teve dor, tiveram dificuldades, tiveram lágrimas. No geral, porém, era um lugar de nascimentos, de afetos, de trocas. Grupos com gestantes de risco, diabetes, HIV, e um espaço onde estas mulheres eram acolhidas, escutadas, cuidadas... Um lugar onde as culpas do passado eram elaboradas e as futuras mamães se davam uma nova chance e podiam se permitir olhar para a frente com um novo olhar. E a nossa personagem aprendeu a não julgar, a se colocar no lugar do outro, e a ajudar, reconhecendo também as próprias limitações. Dicas sobre amamentação, palestras sobre os aspectos emocionais da gravidez, parto e puerpério. Muitas vezes surgiria a dúvida, como uma pessoa tão jovem sabia tanto a respeito, e falava em uma maneira tão coinvolgente... ainda por cima sem ter tido filhos! Acontece que nossa personagem não apenas tinha se preparado do ponto de vista da teoria, como trazia dentro de si traços de uma existência anterior, esperiências de outras vidas, guardadas em um cantinho do seu ser. E o encontro com tantos anjinhos de luz, natimortos, ou mortos após poucos dias ou poucas horas de vida, iria aumentar ainda mais a sua fé. Quem iria imaginar que, alguns anos depois, ela se aproximaria a um “outro mundo” ligado ao hospital. Um mundo de sofrimento, de doença, de morte. Mas, muito mais do que isto, um mundo de esperanças, sonhos, aprendizado, vivências e grandes lições! Primeiro a psico-oncologia, depois a psicossomática e, mais adiante, os cuidados paliativos. Eis o “mundo” onde a nossa personagem foi parar. E, ao invés de ensinar, ela aprendeu. E passou a questionar modos de encarar a vida, rever prioridades, e se deu conta de que se colocar em primeiro lugar, ser a personagem mais importante da sua propria história,
  • 21. 21 aprender a reconhecer limites e dizer não, sem que isto a faça sentir-se em culpa, nao era uma questão de egoismo, mas de sobrevivencia. Muitos desafios, muitas descobertas, muitas reflexões. Inicialmente, pacientes larignectomizados, em grupo e individualmente. Um desafio maior do que se pode imaginar: como fazer terapia, cujo principal instrumento do paciente é a fala, com quem “perdeu” justamente as cordas vocais? E depois, outros desafios, pacientes com os mais diversos tipos de cancer, jovens, maduros, idosos... diagnósticos novos, recidivas, curas, paliativismo, morte... familiares. Familiares sofridos, esperançosos, revoltados, enfim, de tudo um pouco. E ela cresce juntamente com cada um deles, e reflete, e escreve, especialmente sobre esta doença que coincidentemente leva o nome do seu signo. Escreve sobre questões emocionais, culturais, sobre a famìlia, sobre perdas de um modo mais geral, enfim... muitos argomentos, mas todos ligados entre si. Falando sobre escritos, uma coisa que a fez pensar muito foi justamente como encarar o desafio de ser psicologa de alguém que não pode mais falar (pelo menos não do modo em que estamos acostumados). E surgiu o seguinte texto: Trabalhando com Pacientes Laringectomizados Trabalhar com pacientes laringectomizados totais é um grande desafio. A laringectomia total, operação realizada em caso de Câncer nas cordas vocais, acarreta, dentre outras conseqüências, a perda da fala. Nós, seres humanos, nascemos e somos criados para sermos sujeitos “falantes”. Salvo nos casos de surdez de nascença, aprendemos a compreender a nós mesmos e aos outros especialmente através da fala. É pelo choro que o bebê se comunica, desde o seu primeiro instante de vida. Ele chora para “avisar” que chegou ao mundo e, conforme o tempo vai passando, a mãe, ou a pessoa responsável por ele, vai “nomeando” seu choro, identificando e diferenciando-o Assim, sabe se é fome, cólica, sono ou simplesmente “manha”. O câncer de laringe, na maioria das vezes, ocorre em pessoas adultas, devido especialmente ao uso do cigarro, agravado pelo consumo excessivo do álcool. É um câncer que muitas vezes pode demorar para ser diagnosticado e que, em alguns casos, torna-se necessária a retirada total da laringe (cordas vocais). O paciente passará então a respirar por um orifício no pescoço e deverá reaprender certas atividades, como a de engolir os alimentos. Tal operação afeta e muito a auto-estima dos pacientes. Todos os cânceres de cabeça e pescoço são causadores de grande impacto e abalo emocional. A “cabeça” é retrato, é o que é mostrado ao mundo, é a região do corpo que não pode ser escondida.
  • 22. 22 Dificilmente alguém que sofreu uma operação nesta região, ao sair na rua, não será alvo de olhares curiosos, comentários em voz baixa ou manifestações de pena ou dó. No início, é impossível “esconder” aquela cânula saindo do pescoço e, mais adiante, o protetor que tapa aquele orifício no pescoço, por onde agora eles respiram. E qual é a sensação que isto pode causar? Como é andar na rua sentindo-se, de certa forma, observado? Alguns tiram isto de letra; outros, sentem-se mais incomodados. Alguns se recusam a usar a proteção, talvez para não “aparecerem” tanto, talvez como uma forma de negar a própria doença, como se assim ela deixasse de existir. Talvez não o usem como uma forma de auto-punição, para poder lidar com a culpa que têm dentro de si, por terem, no passado, se anulado em prol de tantas outras coisas, ter vivido muito mais a vida dos outros do que a sua própria, ou por terem negado para si mesmos que sabiam (sim, sabiam) o quanto aqueles cigarros estavam lhes prejudicando. E, além disso, tem, como mencionado anteriormente, a perda da fala. Embora existam alternativas e, através de exercícios de fonoaudiologia, muitos voltem a falar, através da chamada voz esofágica ou com o auxílio da “laringe eletrônica”, não é a mesma coisa. Em um mundo como o nosso, em que a comunicação pela fala é tão valorizada, perdê-la é como perder a própria identidade. Resgata-la é possível, sim, mas ela virá de outra forma. O som produzido será diferente e, da mesma forma, a pessoa certamente estará diferente. Tanto o câncer de laringe como os cânceres em geral surgem na vida das pessoas em momentos considerados cruciais. Muitas vezes, aparecem em pessoas que, durante muitos anos, se anularam em prol dos outros, ou que passaram a vida inteira “engolindo sapos”, ódios, rancores... No caso do câncer de laringe, sabe-se que a causa principal é o fumo e o álcool. Porém, existem fatores de ordem emocional que certamente reforçam os males por eles causados, caso contrário, todos aqueles que fumam ou bebem em demasia teriam câncer de laringe. Acredito, assim, que os fatores emocionais são, junto com a questão da propensão genética, responsáveis pelo advento da doença. Sabe-se que tudo que faz mal ou prejudica precisa ser “despejado” de alguma forma. Se não estamos bem, tanto física como emocionalmente, nosso organismo irá buscar um modo de “expulsar” este mal. Se não encontramos uma maneira saudável, equilibrada de lidar com isto, se não conseguimos deixar nossos sentimentos virem a tona, mostrar nossos desejos, se não nos permitimos “viver”, tudo que “engolimos” a vida inteira, um dia desabrochará em forma de um sintoma ou de uma doença, que pode ser desde uma simples dor de estômago, ou de garganta, ou de cabeça, até uma coisa mais séria, como um câncer. E como trabalhar com um paciente laringectomizado? Antes de mais nada, precisamos ter muito cuidado para que, o fato de ele se dar conta de que a doença é um “alarme”, um “grito de socorro”, não o faça sentir-se ainda mais culpado. Desta vez, culpado por ter se anulado, por ter se machucado. E também precisamos ficar alertas para que, ao
  • 23. 23 dar-se conta, analisando sua vida, de coisas que “deixou para trás”, ele não passe a culpar os outros por hoje encontrar-se ali, repleto de perdas, sociais, emocionais e físicas. É preciso fazer com que o paciente compreenda que, mais do que nunca, é hora de VIVER. Que mudanças ocorrerão, certamente, mas que talvez seja hora de ele refletir, e pensar o que deseja para a sua vida dali pra frente. É hora de estimulá-lo a fazer exercícios de fonoaudiologia, participar das reuniões em família, dar-se conta que é um sujeito normal e de que a fala faz falta sim, mas não é uma prioridade para que se viva e, especialmente, para que sejamos felizes. No entanto, é necessário termos muito cuidado, para não darmos falsas esperanças ao paciente. Alguns, na urgência de voltarem a falar, seja com voz esofágica, seja através da laringe eletrônica, tornam-se “surdos” quando se trata de ouvir aquilo que não desejam. Existem casos em que a volta da fala é muito difícil, para não dizer impossível. E, mesmo sendo constantemente alertados desta dificuldade, os pacientes tendem a se agarrar naquele “fiozinho de esperança” que parece lhes restar. O que fazer com isto? Aí está mais um grande desafio. Precisamos trabalhar com a auto-estima do paciente. Colocá- lo, de alguma forma, na “realidade”, sem, no entanto, tirar a esperança que o estimula a continuar batalhando por aquilo que deseja. Talvez uma alternativa seja ir, aos poucos, transformando este desejo. Em algo mais simples, mais fácil de ser realizado. E insistir. Porque iremos falar uma, duas, dez vezes... Se ele não estiver preparado para ouvir, nada do que dissemos será registrado... Bem, mas quase ia esquecendo do maior desafio que eu, como psicóloga, tive que enfrentar, ao começar meu trabalho com laringectomizados: como fazer psicoterapia com pessoas que perderam justamente aquilo que é por nós mais valorizado, ou seja, a fala? Isto me levou a milhares de questionamentos. Por que a gente estuda tanto para aprender a ter uma "escuta clínica”, a “ouvir” as entrelinhas dos diálogos? É claro que aprendemos também sobre comportamento corporal, reações, etc., mas nada é tão valorizado na nossa profissão quanto a fala. A primeira coisa que me veio na cabeça é o quanto isto não acaba gerando um certo “preconceito” da parte de nós, psicólogos, em tratar pacientes deste tipo. Muitas vezes, acabamos muito mais dirigindo-nos à família do que aos pacientes em si. (Talvez como uma “fuga”, pelo medo que nós próprios temos de lidar com esta “falta”, com esta voz que insiste em não sair). Mas existem milhares de maneiras de nos comunicarmos. Meu primeiro passo, então, foi buscar “vias alternativas” de comunicação. O uso da escrita mostrou-se bastante eficiente e sei, por experiência própria, que existem pessoas (eu sou uma delas) que se expressam muito melhor no papel do que com palavras. Sabendo da necessidade de expor o que sente, de “botar para fora” as angústias, sugeri a adoção de um diário, onde o paciente pudesse registrar seus sentimentos, desejos, aflitos... Como um “caderno do desabafo”.
  • 24. 24 O que ele iria fazer com ele depois, não interessa. Podia até rasgá-lo, colocá-lo fora... O importante não era o conteúdo em si, mas o ato de poder lidar de alguma forma com suas angústias. Mas... e os analfabetos? Acho que com nenhum outro tipo de paciente nós psicólogos precisamos mais falar do que ouvir. E observar. Observar cada gesto, cada sinal... A maneira de olhar, a reação mediante cada palavra.Uma boa maneira de trabalhar com estes pacientes seria, num primeiro momento, através de perguntas concretas, fáceis de serem respondidas com um simples sim ou não. Depois, apostar em técnicas como o relaxamento, a visualização e mostrar, através de atitudes, compreensão. Isto, independente de serem ou não alfabetizados... Bem, estou ainda começando, e minha experiência com pacientes laringectomizados é de 2004 pra cá... A cada dia, é um novo desafio. Fico sempre me perguntando como agir, reagir, o que falar. Procuro fazer o paciente sentir-se à vontade, permitir-se rir, chorar, reclamar. Nem sempre sei se fiz a coisa certa. Mas é justamente aí que mora o desafio. É aprender mais a cada dia, sem medo, e poder ajudar cada ser humano da melhor forma possível. Meu maior desejo é transmitir algo de bom, é fazer o bem para cada um que se aproximar de mim. E que cada paciente tenha, a cada dia, a sensação e a certeza de que a vida vale a pena, e de que nunca é tarde para recomeçar...mesmo quando a morte está próxima... que cada minuto vivido é o melhor minuto de todos...E que quando partirem desta vida, partam serenos. E em paz. Especialmente em paz consigo mesmos, com os seus próprios corações. Grupo de laringectomizados, clínica de quimioterapia, e a união , em um trabalho escrito, de 3 matérias repletas de coisas em comum: a Psico-oncologia, a Psicossomática e os Cuidados Paliativos, todos eles com uma visão de ser humano que sempre foi a sua, embora talvez ela inicialmente não a tivesse tão claro: o homem como um ser bio-psico- social- espiritual. Falando em espiritual, a sua forte ligação com o mundo dos espíritos a levaria a escrever um outro texto que, embora a uma primeira vista poderia para alguns até parecer psicografado, se tratava, sim, de um sua criação, embora orientada dos seres de luz que a acompanham sempre, isto sem nenhuma dúvida! Laringectomia e Espiritismo Há algum tempo, venho me questionando acerca da questão dos laringectomizados totais, sob o ponto de vista do Espiritismo. Que explicações haveria, segundo esta doutrina, para a perda da voz? Embora eu tenha nascido e sido criada dentro da Doutrina Espírita, acabei, com o tempo, me afastando da mesma, sem, no entanto, deixar de nela acreditar e, indiretamente, de aplicar, no meu dia-a-dia, seus principais preceitos (amar ao próximo e fazer o bem, sem olhar a quem). De uns tempos pra cá, no entanto, retomei as consultas, passes e, especialmente, as leituras. E passei a
  • 25. 25 desejar compreender melhor algumas coisas com as quais estou mais envolvida atualmente. Dentre elas, a questão dos laringectomizados, visto que, desde o início de 2004, sou voluntária de um grupo de pacientes que foram submetidos à cirurgia de laringectomia total. (para quem não sabe, a laringectomia total consiste na retirada cirúrgica das pregas (cordas) vocais devido a câncer e acarreta, com isto, a perda da voz). Então, pergunto: “Do ponto de vista do espírito, o que leva a isto”? Passei, eu mesma, a criar algumas hipóteses, que irei relatar a seguir. Saliento que tais “teorias” não foram por mim encontradas em livros (ao menos não de forma direta), nem me foram relatadas por espíritos superiores, sob a forma de sonhos ou mensagens psicografadas. Embora todos sejamos médiuns, não tenho tais qualidades desenvolvidas. Não tenho, no entanto, como afirmar, com absoluta certeza, que as hipóteses traçadas sejam única e exclusivamente advindas da minha própria dedução ou imaginação. As perguntas que me vêm seguido à mente são: 1. Teriam estas pessoas, em encarnações anteriores, feito mau uso de um dom tão rico como o da voz? Teriam usado sua voz para falar mal dos outros, fofocarem, prejudicar os seus semelhantes? Teriam usado a voz pra praticar discursos que incutavam a disputa, a raiva, a violência? Teriam dado início á guerra? Teriam usado a voz como instrumento que fere, como arma, muitas vezes letal? 2. Teriam, em outras vidas, sido degoladas? E, devido á brutalidade e violência de suas mortes, voltado para terminar uma missão inacabada, mas tendo restado uma seqüela da vida anterior? 3. Seriam estes espíritos suicidas, que “deram cabo” da própria vida, através do enforcamento? Espíritos que vieram agora afim de “resgatar” algo, aprender, redimir- se do maior crime de todos, que é o matar a si mesmo, atitude esta que vai de encontro às leis da vida e do Criador? Tenho pensado muito nisto, e confesso que em alguns momentos chego a me angustiar. Afinal, as pessoas que conheço que sofreram tal cirurgia cometeram erros sim, especialmente contra si mesmos (a bebida, o cigarro, são suicídios disfarçados). No entanto, são pessoas de caráter, de um coração enorme, e que me ensinam, a cada dia, novas lições. Em função disto, eu preferia pensar que eles, na verdade, são espíritos que antes de ingressar nesta vida fizeram esta escolha para trazer lições, aprendizagens, a todos nós. Pois através de suas experiências passamos a dar mais valor à vida, revemos valores, etc. Mas não tem como não pensar nas hipóteses anteriores. E, assim sendo, Deus demonstrou mais uma vez sua infinita bondade e sabedoria, presenteando-nos com o “dom do esquecimento”. Caso contrário, como lidar com a dor, a raiva, a culpa?
  • 26. 26 Talvez eu nunca encontre uma resposta para esta questão. Ao menos não nesta encarnação. De uma coisa, no entanto, eu sei. Nossos caminhos se encontraram por alguma razão. E, neste convívio aprendo, a cada dia, uma nova e grande lição. Marian Festugato de Souza, 29 de setembro de 2007
  • 27. 27 Capítulo XI: Existem pessoas que parecem surgir “do nada”, mas na verdade são anjos enviados por Deus para nos ajudar na nossa missão”! Para algumas coisas, não existe uma explicação lógica. São coisas que fazemos seguindo simplesmente o instinto, a inutição, ou... chamem como quiser. Um dos episódios, diz respeito à uma menina. Uma garota, suas irmãs, sua mãe, seu irmão, seu pai. Enfim, dizem respeito a uma inteira família. Uma família que iria surgir no caminho da personagem desta história, e tornar-se inesquecível. Era uma manhã e, como muitas outras, alguém tocara o interfone pedindo ajuda. Ela não tinha o costume de ajudar todo mundo que tocava o seu intrerfone, mesmo porque seria impossível. Mas, naquele dia, algo a impulsionou. Ela desceu as escadas, olhou para aquela menina, uma moça aliás, e falou: “Eu não tenho o hábito de ajudar todo mundo, mas tu...não sei o motivo, mas fui com a tua cara. Eu vou te ajudar”. Mal sabia ela que, dali, iria se instaurar algo muito especial. Como se aquela garota tivesse virado sua “protegida”, ela, por anos, a ajudou. Na época de Natal, preparava uma “cesta” especial, garantindo a ceia dela e da família. Com o tempo, conheceu as irmãs, depois a mãe que, curiosa e muito, muito emocionada, um dia, fez questão de ir agradecê-la pessoalmente, pela ajuda, pelo carinho, por tudo que ela, por um longo tempo, fez por eles. Trouxe umas roscas feitas em casa, como forma de agradecimento. Falou no marido, que, por ter tido um acidente, precisou parar de trabahar. Andava triste, deprimido.... E, expontaneamente, ela, a nossa personagem, o espírito do qual falamos nesta história, se ofereceu para ajudar. Afinal, como psicóloga, podia fazer algo, ou, pelo menos, tentar. E assim foi. Algumas consultas no consultório e ficaram mais tranquilos e, acima de tudo, mais confiantes. Eram realmente uma família “do bem”. E que delícia receber deliciosos pastéis quentinhos como forma de pagamento!! Aquele outro dia também foi interessante. O garoto, já adolescente, estava numa esquina pertinho da sua casa. Com ele, várias caixas de morangos, que ele vendia. Ela se aproximou e disse: “Tu és o filho da Jurema, irmão da Ana Paula, né?”. Que susto! Ele deu um “pulo”, olhou meio desconfiado, até ela se apresentar.. Sim, era ele que, para ajudar a família, vendia morangos pela estrada. (Com isto, permitia que as irmãs continuassem os estudos. E, no final do ano, eis que elas iam lá na casa dela, só pra contar do colégio...)
  • 28. 28 Outra coisa que aquela família tinha de especial? Tantas. O fato de não serem insistentes, mas de entenderem quando ela dizia que, naquele dia, naquela semana, naquele mês, não teria como ajudar... O momento mais marcante? Tantos, mas em especial o dia em que deu desencontro, e a Ana Paula deixou um carta de despedida. Uma carta que ela levou pra itália, e que a emociona sempre. Não precisa nem reler, basta lembrar que as lágrimas brotam. E ela não esconde um pouquinho de tristeza pelo fato que, quando esteve no Brasil,não conseguiu contatá-las. (Aquele numero de celular, no qual as chamava, ou do qual era chamada,não funcionava mais...) Se ela pudesse exprimir um desejo, seria o de rever aquela família... Receber um abraço daquelas 3 meninas, daquele menino, daquela mãe e daquele pai seria simplesmente maravilhoso. Longe, muito longe, do outro lado o oceano. E ela segue pensando, lembrando, rezando por aquelas pessoas. Pessoas que surgiram “do nada” e que significam tanto! Surgiram “do nada”? Bem, existem controvérisas. E, um dia, já no plano espiritual, ela iria descobrir que, na verdade, aquela família teve um papel muito, muito importante no progeto de vida que ela mesma tinha traçado antes de encarnar.
  • 29. 29 Capítulo XII: Porque toda pessoa é a pessoa certa! Falando em projetos, ela desde muito cedo se daria conta que tudo acontece por algum motivo. Mas esta sua certeza, de manifestaria apenas em alguns momentos, e não em outros. Um dia, já adulta, começaria a se questionar a respeito de algumas “frases feitas” usadas pelas pessoas em alguns momentos específicos, especialmente como forma de “conforto” ou consolação. Desde criança ela conversa com espíritos. A diferença é que, quando pequena, ela sabia disto. Hoje, no fundo, ela ainda sabe mas, contaminada pelo mundo materialista que a circunda (e que, ao menos por hora, lhe é ainda necessário), hoje ela prefere dizer que.. conversa sozinha, que fala com o espelho, que quando a sua mente faz grandes e filosóficos diálogos, é ela, é sempre ela, ela apenas. O que a levou a pensar, e a discutir, e a refletir, e a entender certas coisas de outra maneira, foi o fato de que algumas ditas “frases de consolo”, ou frases utilizadas por quem “nos quer bem” (ou até por nós mesmos), por exemplo quando, do ponto de vista desta encarnação, um relacionamento (seja de amor, seja de amizade) chega ao fim. Quantas vezes ela ouviu (dito para si e também para outros): “Não era a pessoa certa”! Aquela ali? Mas não tinha nada a ver contigo!” Ora... mas isto vem exatamente de encontro com toda a filosofia na qual ela viveu, cresceu, morreu, renasceu, evoluiu!! Porque por mas que exista um livre-arbítrio,não teria sentido viver tantos “momentos sem sentido”! Pois é, nossa amiga talvez esteja deixand os nossos leitores confusos, com estas idéias que vira e mexe lhe veem em mente! O que ela pensou foi: “Tudo aquilo que acontece na nossa vida é por alguma razão, e tem a ver com as nossas escolhas. Escolhas e decisões che foram, na sua maior (ou menor) parte, feitas em um outro momento da nossa existência. Sendo assim, TODAS as pessoas que se aproximam de nós, TUDO o que vivemos em um determinado momento, são importantes para a nossa própria evolução!”. Ela prefere acreditar, seja falando de amigos que de amores (ou casos, ou rolos, ou o nome que cada um preferir), que aquela era a pessoa cerca para aquele momento. Ela acredita em tarefas inacabadas, missões interrompidas, e que a busca pela real felicidade e o encontro com aquela alma especial, aquela que é “pra valer” a sua alma afim, só poderá se realizar quando ela se der conta disto (de modo consciente ou inconsciente) e, primeiro, coloque um “ponto final” em tudo aquilo que tinha ficado abandonado, esquecido, “não vivido”. E aqueles ali, aqueles seres
  • 30. 30 tão diferentes, tão estranhos, tão, tão tão... Quantas coisas ela ensinou a eles e o que talvez seja ainda mais importante: quanto com eles ela aprendeu! E Cresceu! E se permitu! E viveu!! Sim, isto mesmo.. parece que ela descobriu um dos grandes segredos... cada um que se aproxima, ou se afasta, ou vai, ou fica para sempre estâ, de um modo ou outro, lhe ajudando nesta linda e preciosa tarefa de transformar o mundo (incluindo aquele interior) em um lugar ainda melhor.
  • 31. 31 Capítulo XIII. Porque para ela, tudo é motivo para refletir! Este é um dos dons da nossa personagem. Como os poetas, que diante da dor escrevem seus melhores títulos, ou os pintores, que com a loucura, a doença ou a depressão pintam os seus mais belos quadros... Ela também é um pouco assim. Não, ela não é louca, nem deprimida, nem doente... O que a aproxima dos “grandes” é, simplesmente, o dom, a facilidade com que faz, de cada coisa que vive, que sente, que sonha, um motivo para refletir, para escrever, para repensar... E foi assim com tantas coisas! Desde muito pequena, diante de cada obstáculo, de cada decepção, de cada coisa que não desse certo, ela iria ouvir da sua mãe, sábio espírito a quem a Providência Divina a confiou, sempre a mesma frase: “Filha, nada é por acaso, é pra prevenir um mal maior”. “Calma filha, nada é por acaso”... Quem diria que, anos depois, diantes de algumas circunstancias da vida, seria ela a repetir, para a sua mãe (e para si mesma), em diversos momentos, esta mesma frase! Aquele espírito que encarnara como sua mãe, sem perceber, acabara plantando dentro daquele ser a sementinha da paciência, da compreensão e, acima de tudo, da aceitação. Não que fosse sempre fácil para ela aceitar derrotas, decepções, ainda mais que, embora em processo de evolução, seu espírito ainda tinha muito o que aprender naquela vida terrena, e aceitar um não, aceitar a ausência de seu nome em listas de aprovados... ah, aquilo ainda doía... Culpa daquele seu lado mundano, ainda presente, cheio de orgulho, que a fazia acreditar que era muito melhor do que as pessoas julgavam. E, sim, era melhor, muito melhor.. mas não se dera conta de que, na verdade, seu valores eram outros... Como estava dizendo, aquela frase de sua mãe esteve sempre presente e ela, de um modo ou outro, acabava acreditando...E alguns episódios da sua vida terrena pareciam vir justamente com o intuito de comprovar aquela verdade, dita tantas vezes e com tanto carinho... Vestibular. Mudar de cidade? Ir morar longe de casa? Não, aquela idéia nunca lhe havia passado em mente. Derrota no psicotécnico, frustração. Mal podia esperar que, na verdade, aquilo nada mais era do que um sinal de que, a partir daquele momento, sua vida tomaria um novo (e lindo) rumo. O destino quis que ela fosse parar na Unisinos, e se encantesse com o lugar. Se encantasse a tal ponto, de ter vontade de gritar aos 4 ventos: “Sim, é aqui que eu quero estudar, é este o meu lugar”. Amor à primeira vista por aquele local no meio do verde, cercado de muita, muita natureza... Plantas, flores, caminhos “secretos”, lago... Lagartos, corujas, tartarugas, aves, patos, marrecos, gansos que invadiam a sala de aula, fazendo a maior bagunça...Bate-papos,
  • 32. 32 piqueniques, amigas muito especiais. Professores que, anos depois, ela iria reencontrar, no seu segundo pós... Não demorou muito para ela agradecer ofato de não ter podido estudar na sua cidade de origem. Mudanças, quantas mudanças! E o privilégio de ter uma familia tão especial! Tio e tia que, durante um longo período, se revezarm para que ela jamais se sentisse só. E os amigos? Espírito privilegiado mesmo este da nossa história! E tudo isto, de uma forma ou outra, era já programado. De repente, a vida (e a sua melhor amiga, que na verdade era um espírito muito afim, ao qual ela tinha prometido ajudar no seu processo de evolução), a aproximaram de um grupo de espíritos com os quais ela teria uma missão muito importante, e os quais se aproximariam dela de um modo muito especial. Era difícil, para quem era de longe, ou olhava de fora, compreender o tipo de relação que os unia, que os unia em modo tão profundo. Eram amigos. Amigos no sentido mais forte, mais puro, mais verdadeiro do termo. Aquele espírito, no corpo de uma mulher, iria encontrar, naqueles espíritos encarnados em corpos de homens, mais do que amigos, seres que se uniriam a ela, a cuidariam, e a protegeriam, como verdadeiros irmãos. A nossa personagem sabia, antes de encarnar, que seria “teoricamente” filha única, mas que este fato jamais significaria solidão. Ela teria, sim, muitos irmãos e irmãs, muitas almas afins, que iriam aparecer em vários momentos da sua vida. Algumas, iriam surgir para que ela socorresse, ajudasse a trilhar o caminho. Outras, apareceriam justamente para que ela fosse ajudada. E, com o passar dos anos, ela iria se dar conta de que, na verdade, os papéis poderiam ter sido o inverso, pois ajudando, no final, a maior beneficiada foi ela mesma. E ela não passou no exame de Roma, para ter seu diploma reconhecido. Ficou chateada, mas sabia, nada era por acaso. E, sem estar trabalhando, pôde ajudar, acompanhar, estar ao lado do seu amor, em um momento muito difícil pelo qual ele estava passando. O não trabalhar, naquele momento, foi providencial. E ela tenta fazer um trabalho de baby-sitter, mas o fato de precisar também estudar faz com que não seja a escolhida. Tempos depois, descobre ter desenvolvido uma hérnia de disco e que, naquele período, carregar peso (como, pro exemplo, pegar uma criança no colo) poderia ter sido muito, muito prejudicial. Frustrações, derrotas, dificuldades., muitas já superadas, outras ainda por vir. Mas o que caracterizava aquele espírito, era, acima de tudo, a fé. A confiança, a certeza de 2 coisas: 1. Que nada, absolutamente nada, acontece por acaso
  • 33. 33 2. Que tudo vem no momento certo. E assim, seguia em frente. Sempre, agradecendo, aceitando, se resignando. Obviamente, sendo um espírito ainda em fase de evolução, ainda em, por assim dizer, “fase de crescimento”, momentos de tristeza, frustração, decepção também eram rpesentes. Raiva? Não, isto não. Ela jamais aprendera o que significava sentir raiva. Ou, se aprendera, há muito já esquecera. Ela precisou, sim, fazer um grande trabalho consigo mesma. Precisou aceitar seus limites, precisou repetir, muitas vezes, para si mesma, que as coisas não dependiam só dela. Cabe sim a ela fazer a sua parte, mas cabe também aos outros fazerem a sua. E sobre a hérnia, ela descobriria valores simbólicos, significados escondidos, metáforas da vida...E sobre isto, escreveria... textos como estes aqui: Refletindo sobre algumas coisas que acontecem conosco no Caminho da Vida Descobri que estou com uma hérnia de disco. Descobri que o “desconforto” que vinha sentindo não era um “cutuque” do meu corpo me pedindo algo. Ou melhor, talvez ele até tenha me cutucado, e eu não tenha sabido ouvir. Então ele gritou e, por alguns instantes, literalmente me “paralisou”. Impossível não começar a pensar,a refletir sobre o que tudo isto pode significar, indo além da questão física... ok, ok,,, a hérnia cresceu, migrou, então pressionando o nervo, causando formigamento, anestesia, dor, etc, etc, etc... Mas... e o resto?? Hoje, enquanto me dirigia até o prédio da médica generalista pra trentar descobrir os horários de atendimento, algumas reflexões me vieram em mente. Agora, enquanto escrevo, outras idéias me passam pela cabeça. Primeiramente, acho importante salientar o LADO do meu corpo em que está a lesão, o lado que, de uma hora para outra, “bloqueou”. Considero de extrema importancia o fato de eu me dar conta que quem “gritou” foi o lado esquerdo! O lado esquerdo está ligado mais com a emoção, com o feminino, com a sensibilidade, e também com o passado. Resta só eu me dar conta se algo do passado se bloqueou ou fui eu quem “bloqueei” algo no passado. Falando em “bloqueio”, acho que é bem por aí o que o meu organismo estava tentando me dizer: talvez ficar “bloqueada”, mesmo que pouco, tenha a ver com falta de flexibilidade. Importante salientar que o bloqueio passou, mas segue o desconforto, significando que, obviamente, aquele foi só um sinal, para que eu prestasse mais atenção em alguma coisa, que talvez eu ainda tenha que descobrir o que é. Eu podia até me questionar: “Falta de flexibilidade, eu?”. Sempre me considerei, ao contrário, uma pessoa muito flexível, e que se adapta facilmente à novidades e às situações diversas e adversas. Tanto é que, olha onde eu vim parar!
  • 34. 34 Comecei então a pensar no “momento” em que isto aconteceu, e como anda a minha vida. E me veio em mente que, em um certo senso, talvez em alguns pontos de vista, eu não esteja me peemitindo ser flexível, o que vem criando inúmeros bloqueios, que me causam angústia, sofrimento, medo, insegurança... Sentimentos que acabam sendo pouco expressos, me boqueando por dentro e, agora, “por fora”. O fato de eu ter sempre sido considerada uma excelente profissional, e de eu sempre ter amado muito a minha profissão, seja lá no comecinho, com as crianças autistas, passando pelas gestantes, adolescentes, os pacientes de cabeça e pescoço, indo para a área da oncologia e chegando nos cuidados paliativos e, ao mesmo tempo, ter sido “blocada” (ou bloqueada?) pela burocracia européia que ainda não me permite voltar a trabalhar na área, acabaram causando em mim um “bloqueio” profissional que acabou, agora que me dou conta disto, refletindo nas minhas atitudes de vida. Quantas vezes falei, e até procurei, algo diferente pra fazer! Por que estou sem emprego todo este tempo? Porque estou “bloqueada”! Estava tão habituada a fazer o que eu fazia, e que eu fazia tão bem, que, olhando as ofertas de emprego que surgem, automaticamente, sou acompanhada de insegurança, medo e, talvez, também frustração. Baby-sitter, educadora, tradutora, intérprete, tata, etc,etc,etc...Mas eu tenho também que fazer o exame em Roma, então, tem que ser algo part-time, preciso ter tempo livre para estudar, etc, etc, etc... Não pode ser contrato longo, porque depois, quando puder exercer a profissão de Psicóloga, vou ter que abandonar (estou certa disto?)sair, etc, etc, etc... Enfim... quantos impecilhos! Diante de tudo isto, me dei conta também do porque isto ter acontecido, então, exatamente neste momento. Talvez eu precise aprender a ser mais flexível comigo mesma. Preciso aprender a exercitar a auto-aceitação. Quero dizer, aceitar que eu posso ir além daquela comodidade que eu tinha “acostumado”, e aceitar também, e especialmente, os meus medos, os meu erros, e me dar conta, também, que nisto tudo deve também ter muito acerto que ficou “esquecido” no meio do caminho! Que o "desacomodar" também faz bem! Um exemplo de acerto? Bem.... supondo que tudo isto são coisas que eu teria necessariamente que passar, de uma forma ou outra. (Afinal, foi também uma minha escolha, no meu processo evolutivo)... bem, tendo em mente isto, eu pergunto: A este ponto, não é melhor que eu esteja “livre”, sem trabalho, pois aí posso me dedicar inteiramente aos meus cuidados e ao tratamento? Isto pra não falar na questão que justamente agora o Ste está entrando me férias, e assim, poderá me acompanhar na consulta com o especialista, etc, etc, etc.... Então... este é um termo sobre o qual vou estar mais atenta daqui pra frente. Eu chamarei: flexibilidade emocional/espiritual.
  • 35. 35 Para finalizar, uma última coisa: dizem que tudo tem o seu lado bom e o seu lado ruim. E é verdade. Mas cada um, se quiser, pode escolher o lado ao qual dar mais atenção. Eu, por exemplo, reconheço os dois lados, mas procuro das enfase sempre no lado bom. Assim, quando acontece algo ruim, procuro ver o que aquilo pode me trazer de positivo, que pode ser desde pequenos detalhes, até coisas grandiosas. (Por exemplo, e se em vez do ciático a hérnia tivesse ido pro outro lado e pressionado a medula? Agora, ao invés de sentir os dedos do pé meio formigados, eu podia, sabe-se lá, até estar meio “paralisada”!) Quando acontece alguma coisa boa, no entanto, eu não fico me “preparando” como se algo de ruim estivesse pra acontecer! Por que? Porque, ao contrário do que muitos alegam, eu não acredito que “pensar no pior” ou que “lembrar do lado ruim” nos ajude. Reconheço que pode até ser que as coisas tenham o seu lado ruim, mas sei que, se algo é para acontecer, acontece. Pensar no aspecto negativo, na parte ruim da coisa, me desculpe quem pensa diferente, mas pra mim, particularmente, não ameniza o sofrimento. Ao contrário, pensar em algo ruim ou negativo antes que aconteça, só serve a criar angústia e sofrer com antecedência. Então. Digamos que eu reconheço a existência do lado ruim das coisas, mas não o “atiço”, não o “alimento”. Afinal, se ele tiver que “vir à tona” virá, independentemente da minha ação. Quando assim for, eu o enfrento. Mas se decidir de não aparecer... beh... eu o deixo lá, mas não o ignoro. Simplesmente não faço dele, na história da minha vida, o personagem principal. Bem, que a VIDA possa ensinar à todos nós a sermos mais flexíveis, especialmente conosco mesmos! “Não pode carregar peso”. Que cargas tão pesadas serão estas que eu vinha carregando? O que teria sobrecarregado o meu espírito, a ponto do físico dar um grito para que eu parasse? Seriam pesos desta e de quantas outras vidas? Bem, talvez neste momento o mais importante não seja ver de quando ou de onde estas “cargas” vem, mas buscar um modo de aliviá-las Esta carga pode ser composta de tantas coisas! Quem sabe, inclusive, de alguns espíritos obsessores, espíritos sofredores em busca de alívio aos seus sofrimentos. Espíritos que, não tendo sido orientados, ou melhor, não estando em condições de entender ou de escutar as orientações, se “agrapam”, nas costas de um espírito encarnado, chegando por trás, com as mãos no pescoço e envolvendo a cintura e a área lombar com os pés. Conforme o movimento que o encarnado faz, o pés do desencarnado balança, dando “coices” atrás da perna, causando dor e formigamento. Muitas (talvez quase todas) dessas “cargas” são minhas, eu sei. Inclusive e especialmente em se tratando de cargas a nível espiritual. Porque o fato de eu me considerar uma pessoa bastante
  • 36. 36 esclarecida, não significa que eu o seja realmente. E, se alguns “irmãos” em sofrimento resolveram, do seu modo, me procurar, algum motivo tem. E então? Então eu acho que, mais do que nunca, eu tenho acima de tudo que agradecer, pois certamente esta será mais uma oportunidade que me foi dada de fazer algo para auxiliar o meu processo evolutivo. Depois, pedir. Pedir ainda mais paciência, força, serenidade... E pedir muita luz, especialmente para aqueles, encarnados e desencarnados, que ainda sentem medo, angústia e insegurança (como eu mesma?) de caminhar com as próprias pernas. E caminhar sem os “pesos” de, quem sabe, provações anteriores. Ah, só pra finalizar: será que todo mundo se dá conta do quanto a vida é metafórica?? Caminhar... A tal da hérnia faz com que eu tenha que caminhar de outro modo. Não, não estou entortando a coluna, nem me curvando, nem me inclinando. De forma alguma. Sigo caminhando "normalmente", porém, percebi que me sinto melhor se caminho com mais calma. Com passos mais lentos e mais curtos. Para mim, que sempre caminhei com passos longos e velozes, está sendo uma experiência ímpar e um grande aprendizado. Tenho aprendido a exercitar a paciência e a tranquilidade também neste sentido. E, caminhando desta forma, tranquila e, acima de tudo, serena, quem sabe quantas coisas da paisagem irei notar, que sempre me passaram despercebidas! E, diante de uma figura exatamente assim: Ela escreveu o seguinte texto:
  • 37. 37 Mais descobertas- hérnia! Final de ano, a gente sempre acaba parando um pouco pra refletir, né?? E agora, ainda por cima, tem toda esta coisa de “fim do Mundo” rolando… Mas, na verdade, este texto não tem absolutamente nada a ver com tudo isto. Tem a ver (de novo) comigo. Cá estou eu, de novo, refletindo sobre algumas coisas que aconteceram este ano. Como sempre acreditei que nada é por acaso, e que tudo tem um motivo, qualquer coisa que possa me ajudar a pensar melhor sobre ago que me aconteceu é sempre bem-vindo. Hoje, no Facebook, me deparei com esta imagem (vou tentar publicá-la). Achei divina! E logo lembrei da tal hérnia, que foi assunto de algumas reflexões, aqui neste blog. Refleti sobre o que ela podia significar, do ponto de vista físico, emocional e espiritual. Falei sobre equilíbrio, sobre o carregar (ou não) peso, sobre pressões espirituais. Sobre o quanto ela me ensinou a ver (e viver) tudo com mais calma e tranquilidade… Tempos depois, aprendi a exercitar a calma, a tranquilidade, a paciência e, especialmente, a dedicação, não a mim, mas ao meu companheiro de vida, de jornada, de missão espiritual. mas isto é uma outra história! Voltando então à hérnia! Vi este desenho, e fui logo procurar o local que correspondia à minha lesão. Vértebras L5S1. A sensibilidade e a simplicidade. Sempre me considerei muito sensível, uma pessoa capaz de “captar” as coisas no ar. E simples também. Mas talvez eu tenha m desligado um pouco disto, e era hora de resgatar! Ou então, exagerei na dose! (Quem sabe se não foi por isto que a hérnia “fugiu”?? Sim, ela “migrou”, da região da sensibilidade e da simplicidade, foi escorregar pro ladinho e eu, quando tinha dor, tinha bem na região do “equilíbrio”…Então… estava na hora de conciliar, de equilibrar. Voltar a pensar no espiritual, ajudar aos outros mas também a si mesmo, permitir que as coisas fluam, e fazer a minha parte. E que 2013 seja um ano de realizações, espirituais, divinas, especiais e também materiais… Equilíbrio de corpo, mente, alma e espírito. Razão, emoção, pensamentos, coração! Que cada dia comece com um agradecimento (na verdade começa sempre assim), uns beijos e um sorriso, siga com um bom trabalho, e termine com afeto, beijos, sonhos e oração! Porque escrever sempre fora o seu modo de se expressar, de contar, de sonhar...Ali, no papel, era onde ela iria expor tudo aquilo que tinha dentro de si, onde iria revelar tudo aquilo de mais importante: seu íntimo, seus sonhos, sua alma... Escrita como diversão, escrita como terapia, escrita como arte... ou simplesmente como passatempo... Suas palavras, colocadas, inicialmente no papel, depois digitadas em arquivos de computador, de uma ou outra forma, a tornariam eterna.
  • 38. 38 Mas a eternidade, para ela, vai muito além de simplesmente deixar traços de sua atual existencia em pedações de papel. Sim, porque, embora seja ainda um espírito em fase de evolução, muita coisa ele/ela já compreendeu. Dentre elas, a questão da inexistência do tempo e da “morte” , assim como nós a concebemos.
  • 39. 39 Capítulo XIV: sobre o tempo Pois é. Quando as idéias surgem, não importa o lugar, ela, sempre que possível, tenta colocá-las no papel. Inúmeras são as coisas, fatos e situações que a fazem refletir. E, um dos textos que escrevera sobre “O tempo”, foi elaborado durante uma viagem de Trensurb, à caminho da faculdade. Na época, aquele espírito não fazia idéia, mas, um dia, iria descobrir que, de um modo ou outro, suas palavras, suas reflexões, um dia, serviriam a contribuir, sim, para que outros seres humanos começassem a pensar na possibilidade de um mundo melhor. O tempo Quem é este ser tão poderoso chamado tempo? Por que nós, da sociedade ocidental, nos submetemos a ele de tal forma, que muitas vezes parece que estamos vivos só por obrigação? Para cumprir uma tarefa onde, em vários momentos, o que menos importa é o “prazer”? Deve ser mesmo poderoso o “Sr. Tempo”. E cada vez seu poder aumenta mais. O tempo está acelerando, o mundo parece girar mais rápido. Hoje, tudo já virou ontem. E o amanhã? Ora, o amanhã...Nunca chega. E quando chega, já passou. Hoje em dia, as transformações ocorrem em questão de milésimos de segundos. E, nesta rapidez toda, também nós sentimos a necessidade de sermos “rápidos”. Viver tudo ão mesmo tempo, com intensidade, a mil quilômetros por hora... Espera aí... Esta história eu já ouvi antes... Não era justamente a “velocidade”, o “viver dez anos a mil ao invés de mil anos a dez”, o que “inspirava” a “Juventude Transviada”? James Dean, sexo, drogas, rock and roll. Viver o mito. Morte? O que importava! O tempo (sim, já naquela época) passava rápido, tinha que “curtir”. (E quanto jovem morreu sem nem mesmo dar-se conta de que a vida é muito mais do que um copo de cerveja!). Bem, voltando ao fato. O tempo acelerado vem nos obrigando a sermos mais “dinâmicos”, a nos adaptarmos à realidade que aí está. Quem não estiver disposto a acompanhá-lo, corre sério risco de se tornar espécie em extinção. Milhões, trilhões de mudanças vêm ocorrendo, sem nos darmos conta da “missa a metade”. Mas está por aí... Como já dizia Janis Joplin, “If you got a today, you don’t need a tomorrow. Tomorrow never happens”. O que existe, afinal? O agora? Não, o agora não é mais agora. Já passou. Confuso, não? Às vezes me ponho a pensar a respeito deste que chamei de “Senhor Tempo”. Ô carinha com voz de comando! Ele consegue nos deixar ansiosos, parece parar, quando temos algo para realizar. Se esperamos por alguém, ele transforma cada segundo em gotas de eternidade. Nos momentos de maior prazer, ele acelera seus ponteiros, num jogo perverso, num típico papel de estraga prazeres.
  • 40. 40 Mas é verdade que ele também nos ajuda. Porque mesmo aquelas coisas que são demoradas, ele faz acabarem. E aquilo que queremos que dure mais, ele deixa uma pontinha de esperança de que possa vir a ocorrer de novo. Ser engraçado, este “Sr. Tempo”... Ele controla nossas ansiedades, expectativas, nervosismo, alegrias, tristezas... Somos mais vulneráveis a ele do que podemos imaginar. Às vezes parece que “não vai dar tempo”. Outras, que o tempo “simplesmente parou”. Nunca, no decorrer da sua vida, num daqueles típicos dias de corre-corre, você deu uma parada para pensar? Pensar no motivo de tanta ansiedade, nesta necessidade de fazer “tudo ao mesmo tempo agora”, deixando de lado, muitas vezes, sua própria singularidade? Você já se deu conta de como é controlado por uma “força invisível” chamada tempo? Provavelmente já. E você lembra de alguma vez ter delegado a “ele” (o tempo) tal poder? E se você resolvesse viver cada momento “bem”, ao invés de “atropelar tudo”... Que conseqüências isto traria para sua vida? Como eu sempre digo: “Sem stress!” Somos, sim, escravos do tempo. Mas podemos tentar um acordo com o “dito cujo”. Que ele nos dê um pouco de liberdade...para vivermos nossas vidas...cada momento. Pois o tempo, além de poderoso, é valioso. Precioso demais, para simplesmente “deixá-lo passar”. Não é viver dez anos a mil, mas também não é “laissez faire, laissez passer”. Nem oito, nem oitenta. Só não dá é pra ficar passivo demais diante desta “outorgação temporal”. Quer saber? Construa você mesmo o seu próprio tempo. Lembre do ontem, pense no amanhã, mas VIVA o hoje. E...CARPE DIEM! Texto escrito no TRENSURB (a maior parte), após leitura do texto sobre o “tempo”, publicado na Agenda Tribo/98- Porto Alegre, 24 de março de 1999.
  • 41. 41 Capítulo XV: Saudade Pensando a respeito de pessoas, fatos e histórias, ela questionava: “A gente pode sentir saudades do que não viveu”? E afinal, quem disse que o real é mesmo real? Quem garante que os sonhos não são a realidade, e a realidade não passa de um grande sonho? TUDO é real, pois é tudo percebido, vivido ,sentido. Quando “embarcamos” no mundo dos sonhos, seja através do sono, seja através do nosso pensamento, aquele passa a ser real. E a sensação que temos, ao acordar, de ter vivido aqueles momentos? E, de repente, de tanto ouvirmos histórias, de tanto nos contarem coisas interessantes, é como se a gente “introjetasse” tais informações, e passassemos a nos sentirmos, nos comportarmos de acordo com isto. Quase um mecanismo de identificação projetiva! Mas não é só isso. Embora não se desse conta (pelo menos não de modo consciente), seguia buscando, especialmente durante os momentos em que seu corpo carnal descansava, orientações a respeito da vida, da sua caminhada, das coisas passadas e das coisas vindouras. E, na medida em que crescia, sentia ainda mais forte a presença de espíritos afins os quais, na presente encarnação, não havia sequer encontrado. Mas...como pode? Seria obra da sua fértil imaginação? Também. Mas até esta, tem uma razão de ser. Os espíritos familiares, ou “espiritos afins”, sao espíritos que estão unidos através da energia que emanam, da vibração, das ondas eletromagnéticas do Universo... Vocês já pararam para pensar na razão pela qual, em um universo imenso, com milhões, bilhões, trilhões de pessoas, se aproximam de nós “exatamente” estas? E as afinidades (e semelhanças) com alguns espíritos já desecarnados, como se explica? Ora, acontece que não é desta vida que existem tais afinidades! E, se nesta encarnação, temos a vívida impressao de termos “vivido” algo que não vivemos, é porque este encontro já ocorrera. Em outros tempos, em outra dimensão, mas sim, ocorrera sim! E quando a gente se refere à amigas como irmãs de alma, não imagina o quanto é verdadeira tal afirmação! E eis que, um dia, pensando sobre isto, ela faz a seguinte reflexão: A gente se dá conta da inexistência o tempo quando passa a sentir saudades de momentos que, em teoria, "jamais vivemos", de pessoas que "nesta vida" jamais conhecemos... Inicialmente pode parecer estranho, mas depois entendemos que isto ocorre porque esta vida não é a única, ou melhor, únicos somos nós, mas as vidas, são muitas, e os encontros e desencontros acontecem por alguma razão. Confuso? Tento me expressar melhor: sentir sudades de alquém que partiu antes da gente
  • 42. 42 nascer, nada tem de estranho. Porque mesmo que não tenhamos plena consciência disto, um dia, este encontro aconteceu. Por essas e outras que lembro e penso sempre em vocês, Renan de Souza e Italia Cassina Festugato! E de repente ela vai se dando conta que os encontros no Mundo Espiritual, à medida em que o tempo vai passando, se tornam cada vez mais mágicos e alegres. Algumas vezes, ela também toma parte, obviamente, com a devida autorização. Em um dia de outubro, uma comemoração. E hoje o céu está em festa! Dizem que, para nossos pais, nós jamais deixamos de ser criança... Já posso imaginar a vó Eleonora preparando aqueles doces lindos e caprichados, riquíssimos de detalhes...gatinhos, cachorrinhos menino e menina, etc...E os salgadinhos? Ah, aqueles croquetes redondinhos, com embaixo um pedacinho de pepino pra enfeitar...e os pastéis.... E, pra dividir um pouco a tarefa, a torta quem fez foi a nona Italia...Enquanto isto, o vô Vercedino e o nono Piereto jogam uma partida de escova. E o aniversariante? Bem, ele está lá, em oração. Recebendo todos os bons pensamentos, as boas energias e vibrações de tantos espíritos que o querem bem, encarnados e desencarnados.... Lembrando, obviamente que, estando no mundo espiritual, docinhos e sagadinhos, assim como todo o resto, são "plasmados", e os ingredientes são pura energia e amor. Então...feliz aniversário pai querido! O que a nossa personagem não sabia é que a hora da festa, seria também um momento de bate-papos e reencontros. Pouco a pouco os convidados iam chegado. A grande maioria, familiares, ou melhor, espíritos que, na última existência terrena, haviam dividido momentos e vivências. A data havia sido programada há tempos, e era esperada com ansiedade por muitos. Não importava muito quem era o celebrado (no caso, o espírito que, encarnado, desempenhara o papel de pai da nossa personagem). O mais importante era a oportunidade que estava sendo oferecida à todos. Oportunidade? Sim, oportunidade, acima de tudo, de reencontros! Muitas vezes, acreditando na existência de um Mundo Espiritual, tendemos (e queremos) acreditar que, necessariamente, logo após o desencarne, o espírito passa imediatamente a “viver” junto com aqueles com quem havia convivido durante o período em que esteve encarnado. Assim, pais reencontrariam filhos, famílias seguiriam reunidas, sem nenhum tipo de mudança. Mas, na verdade, nem sempre as coisas são assim.
  • 43. 43 Particularidades, individualidades, personalidades, diferenças, devem ser consideradas e respeitadas. Carmas, escolhas, missões. Vidas diferentes, papéis diferentes, e também desencarnes que se deram de forma diferente. O desencarne é um processo individual e, embora ponha um “fim” à todo sofrimento carnal, inicialmente o espírito, apegado às questões terrenas, ainda sente, sofre, pensa e se comporta como um encarnado. Assim sendo, precisa ser curado, muitas vezes hospitalizado, enfim, ajudado. E, ao menos que fosse um Grande Hospital Geral, seria meio estranho colocarem num mesmo quarto, por exemplo, um enfartado e um doente de câncer, por exemplo. A cada um, a cura ideal, no lugar ideal. Para isto, existem as colônias-hospitais. Obviamente, durante o período em que estão sendo curados/cuidados, recebem sim a visita dos espíritos que lhes são caros, os quais ajudam a orientá-los e confortá-los. E, sim, eles estavam lá no momento do desencarne, para recebê-los, abraçá-los e seguirem, então, as suas tarefas. Durante o período de tratamento, cuja duração é complicada de ser estabelecida, mesmo porque a percepção do tempo é completamente diversa no Mundo Espiritual, existem momentos nos quais sair do lugar onde estão e ir para outras Pátrias espirituais, é justo e inclusive terapêutico. São diversas as ocasiões nas quais os espíritos afins, mesmo que no momento frenquentando escolas, hospitais, colonias diferentes, acabam por se reunir. Isto pode ocorrer em datas particulares, como Natal, Finados, Páscoa, etc, mas também em datas não necessariamente marcadas por algo em particular. Voltemos então à nossa história. Como dito anteriormente, aquele seria um momento de encontros, reencontros, alegrias e muita, muita emoção. O aniversariante do dia, que na Terra recebera o nome de Renan, esperava os convidados junto a seus queridos pais e sogros, tendo ao seu lado um querido sobrinho que, por ser extremamente sensível e frágil, acabou, na existência terrena, envolvido por espíritos menos evoluídos, cometendo suicídio. O seu processo de recuperação ainda seria muito longo mas, devido ao seu sincero arrependimento e ao grande amor que sua família nutria, pudera, naquele dia, estar presente na festa. E assim, aos poucos, as pessoas, ou melhor, os demais espíritos iam chegando, amigos de infância, de longa data, parentes, pessoas a quem ajudara, enfim. Os cunhados, Chico e Waldyr, com os quais iria bater longos papos, e a visita tão esperada da querida cunhada Mary, da qual a sua amada filha Marian iria herdar tantas coisas. Como sempre, ela se apresentara
  • 44. 44 extremamente elegante, e dona de uma simplicidade e gentileza que lhe são peculiares. E tinha, também, uma outra convidada muito especial: aquela que, na Terra, fora a mãe de um espírito de muita luz, que iria encontrar, a um oceano de distância, seu espírito afim. Um ao lado do outro, os espíritos Renan e Bice iriam observar, do Mundo Espiritual, o lindo encontro daquelas almas, tão distantes e ao mesmo tempo tão próximas: Marian e Stefano. Eis que voltamos a falar na nossa personagem principal. Falando nela, não apenas ela, mas muitos outros espíritos encarnados também apareceram na festa. Obviamente, tiveram que aproveitar o momento em que seus corpos, no plano terreno, estavam adormecidos. E, ao retornarem, para que pudessem seguir no cumprimento de suas missões, foram envolvidos no manto do esquecimento. (Embora uma vaga lembrança e, mais do que isto, uma forte sensação de conforto e paz permanecera).
  • 45. 45 Capítulo XVI: Considerações finais, ou: mas tem que ter um final? Duas são as coisas mais difíceis quando se escreve uma história: escolher um título e elaborar um final. Em se tratando de um livro como este, onde real e imagiário se misturam, onde a personagem, encarando uma terceira pessoa, faz também as vezes de narrador, uma obra onde vida e morte, início e fim estão intimamente ligadas, esta missão é ainda mais complicada. Sim, a vida é eterna, mas é dividida em etapas, em existências, assim como um livro é dividido em capítulos. Por que o fazemos? Especialmente, para melhor entendimento, para melhor compreensão. Ops... mas isto se refere à vida ou ao livro? Aos dois!! Deste ponto de vista, a diferença é que, em um livro, chega o momento em que precisamos necessariamente colocar um ponto final. Porque um livro pode ser eterno sim, na medida em que passa de mão em mão, atravessando gerações. Mas a história que conta, como toda boa história que se preza, precisa de personagens, de um bom enredo, de um início, um meio e um final. E a vida? Enquanto espíritos encarnados, especialmente se acreditamos na existência de um “Bem Maior”, e na continuidade da vida, o fato de não termos lembranças de vidas anteriores, pode nos fazer pensar em cada existência como um novo livro, onde os capítulos, de acordo com as nossas escolhas, podem ser divididos em anos, momentos, fases. No entanto, ao reingressarmos ao Mundo Espiritual, nos damos conta de que, na verdade, o Livro não apenas é único, com cada existência correspondendo a um capítulo, mas, acima de tudo, que ele é apenas um pequeno volume na Grande Coleção do criador. E a nossa história, como irá terminar? Ninguém conhece exatamente o final, mas todos sabem que, visto a inexistência do acaso, acontecerá exatamente o que tem que acontecer e, diante de tudo isto, fica a certeza de que a felicidade poder ser construída e conquistada dia após dia, e que a vida vale muito, muito a pena ser vivida!
  • 46. 46 Agradecimentos Escrever, para mim, sempre foi como uma terapia, antes mesmo que eu me desse conta, talvez, antes mesmo que eu mesma aprendesse a escrever. Textos e rascunhos espalhados por tudo, em velhas agendas, em disquetes que não funcionam mais, em cadernos rasgados perdidos por aí, em bilhetes que sabe-se lá onde foram parar. Sendo este um livro (ou uma espécie de livro), eu deveria agradecer especialmente àqueles que sempre me incentivaram, minha família, meus professores, minhas amigas, enfim. E à todos eles eu digo, sim, muito obrigada, e não cito nomes, para não correr o risco de deixar alguém de fora. Agradeço também aos meus pacientes, de ontem, de hoje e de amanhã. Sendo eu uma pessoa para quem o tempo é algo extremamente relativo, me autorizo a agradecer, também, por coisas ainda vindouras. Acima de tudo, porém, agradeço à Deus, e à todos os espíritos de luz que me circundam, encarnados e desencarnados. Agradeço a cada ser que passou pela minha vida, tantas vezes de forma despercebida, numa simples troca de olhares, num bate-papo teoricamente sem sentido na parada de ônibus, enfim. Porque, afinal, tudo é interligado, e até aquela conversa meio sem sentido teve o seu porquê. Agradeço, especialmente, por tantos privilégios que me foram concedidos. Por, em uma existência onde vejo tantos espíritos sofredores, a minha dor, quando aparece, ser sempre tão pequena e insignificante. Agradeço por este meu modo otimista de ser e por a vida ter me ensinado a encará-la de forma leve e feliz. Agradeço pelos momentos de dificuldade, e pelo modo como estes aparecem na minha vida, geralmente acompanhados de coisas positivas. Ou talvez seja simplesmente o meu jeito de enxergar, mas não importa. Bem, acho que é isto. Espero que tenham gostado desta leitura, uma história meio autobiográfica, meio imaginária, onde a linha que separa estes dois mundos é tão sutil, que se confundem, se unem, se misturam.