Diversidade biológica dos Arroios Capivaras, Ribeiro e Orla do Guaíba no Município de Barra do Ribeiro, RS: A riqueza natural como instrumento para a gestão sustentável dos recursos locais.
Este documento apresenta os resultados de um estudo sobre a diversidade biológica de arroios e orlas do Guaíba no município de Barra do Ribeiro, RS. O estudo utilizou a metodologia de Avaliação Rápida para coletar dados sobre a flora e fauna da região em 6 pontos de amostragem entre 2011 e 2014. Foram inventariadas espécies de plantas, peixes, anfíbios, répteis, aves e mamíferos com o objetivo de subsidiar ações de conservação da biodivers
Semelhante a Diversidade biológica dos Arroios Capivaras, Ribeiro e Orla do Guaíba no Município de Barra do Ribeiro, RS: A riqueza natural como instrumento para a gestão sustentável dos recursos locais.
Semelhante a Diversidade biológica dos Arroios Capivaras, Ribeiro e Orla do Guaíba no Município de Barra do Ribeiro, RS: A riqueza natural como instrumento para a gestão sustentável dos recursos locais. (20)
GUIA DE APRENDIZAGEM 2024 9º A - História 1 BI.doc
Diversidade biológica dos Arroios Capivaras, Ribeiro e Orla do Guaíba no Município de Barra do Ribeiro, RS: A riqueza natural como instrumento para a gestão sustentável dos recursos locais.
1. Luciano Moura de Mello e Vinícius Brasil do Amaral
Diversidade Biológicados Arroios Capivaras, Ribeiro e orla do
Guaíba no município de Barra do Ribeiro, RS
Alexandra Alves Cantos • Clodoaldo Leites Pinheiro • Daiane Maria Melo Pazinato •Darliane Evangelho Silva
Débora Tatiane Borges Motta • Antônio Hector Bastide Ramos • Gelson Luis Menezes de Souza
Leonardo Pompéu de Moraes • Luiz Liberato Costa Corrêa • Vinícius Braga Comaretto
Marjorie Knippling do Amaral • Pâmela Salen Domingues Quadro • Pâmela Martins Mugica
A riqueza natural como instrumento
para a gestão sustentável dos recursos locais
2. Diversidade Biológicados Arroios Capivaras, Ribeiro e orla do
Guaíba no município de Barra do Ribeiro, RS
Luciano Moura de Mello e Vinícius Brasil do Amaral
Alexandra Alves Cantos • Clodoaldo Leites Pinheiro • Daiane Maria Melo Pazinato •Darliane Evangelho Silva
Débora Tatiane Borges Motta • Antônio Hector Bastide Ramos • Gelson Luis Menezes de Souza
Leonardo Pompéu de Moraes • Luiz Liberato Costa Corrêa • Vinícius Braga Comaretto
Marjorie Knippling do Amaral • Pâmela Salen Domingues Quadro • Pâmela Martins Mugica
A riqueza natural como instrumento
para a gestão sustentável dos recursos locais
3. Capa:
Fotografia de Luciano Moura de Mello. Pôr de sol do dia 08 de julho de 2011,
Lago do Guaíba, RS, fim de tarde do primeiro dia de trabalho de reconhecimento
das áreas de estudo.
Projeto gráfico:
Luciano Moura de Mello
Revisão:
Daniele Soares de Lima
MELLO, Luciano Moura; AMARAL, Vinícius Brasil
Diversidade biológica dos Arroios Capivaras, Ribeiro e Orla do Guaíba no Municí-
pio de Barra do Ribeiro, RS: A riqueza natural como instrumento para a gestão
sustentável dos recursos locais. Santa Maria, RS, 2012.
Il.;
ISBN 978-85-65503-32-7
1. MELLO, L.M. AMARAL. V. B., 2012, Diversidade Biológica. Barra do Ribeiro.
Todos os direitos reservados.
2012
5. Sumário
Capítulo
6
Florística e Ecolo-
gia de Orchidace-
ae e Bromeliace-
ae
Capítulo
7
Florestas ciliares
e os impactos
ambientais nas
APP
Capítulo
8
Educação Ambiental
como instrumento
de conservação dos
ambientes naturais
Capítulo
9
Discussões finais
e proposição de
soluções
Apresentação dos Autores
78
95
115
129
0
140
6. Apresentação do Projeto
Desde a primeira infância
tivemos o privilégio de fre-
quentar o grande paraíso da
natureza de nosso amado
Guaíba e adjacências como
praias e arroios em estado de
magnífica conservação à
época. Ao longo dos anos
aprendemos a respeitar e
admirar áreas tão próximas
da grande metrópole (Porto Alegre) que com o passar do tempo foram
gradativamente sendo agredidas pelo homem, apesar da beleza ímpar de
um bioma incomparável.
Percebemos então que somente através de um projeto sério e
fundamentado poderíamos concretizar a iniciativa de mitigar esse perigo-
so processo de degradação na denominada “zona de impacto” (áreas com
grande riqueza de flora e fauna vizinhas de grandes concentrações demo-
gráficas).
Mas como realizaríamos tão ambicioso trabalho sendo meros ob-
servadores leigos?
A partir de então participaríamos de fóruns, debates, cursos e se-
minários sobre os principais temas do meio ambiente, e após quatro lon-
gos anos encontraríamos através da Pampa Consultoria Ambiental, na
cidade de Bagé, a equipe coordenada pelo Biólogo Luciano Moura de Mel-
lo, que sendo Professor do Curso de Ciências Biológicas da URCAMP e
através de exaustiva colaboração acadêmica voluntária projetou e desen-
volveu o presente trabalho visando à preservação desse frágil e tão pouco
preservado ecossistema, que debaixo de nossos olhos é muitas vezes es-
quecido em prol da conservação da Amazônia, Mata Atlântica, Pantanal e
tantas outros não menos importantes, mas distantes de nosso foco imedi-
ato.
7. Em 18 meses de trabalho, de julho de 2011 a dezembro de 2012,
somadas todas as expedições das equipes de trabalho, enfrentaram juntas
cerca de 10.900km pelas rodovias entre Bagé e Barra do Ribeiro, vivendo
conosco o sonho de trabalhar pela conservação de ambientes tão queri-
dos e importantes ecologicamente.
Após este período de intensos trabalhos de campo, é momento
de apresentar o primeiro produto deste grande esforço: um guia contendo
os resultados das primeiras fases do estudo.
Esperamos que esse importante trabalho sirva para chamar a
atenção de formadores de opinião, empresários, políticos, magistrados,
estudantes, ambientalistas e simples homens que obtém da mãe natureza
o ar puro que ainda respiram, um sopro de motivação e responsabilidade
para defender com “unhas e dentes” nossas plantas e animais que implo-
ram por socorro e justiça!
Vinícius Brasil do Amaral e Marjorie Knippling do Amaral
Empresários e idealizadores do Projeto
8. Aspectos metodológicos e os sítios de coleta
de dados
Luciano Moura de Mello 1
Para a coleta de dados de
fauna e flora foi utilizado
neste projeto a metodologia
do Programa de Avaliação
Rápida (“Rapid Assessment
Program”), ou RAP.
O objetivo básico da
metodologia é coletar a
campo e analisar o máximo
de informações de maneira
rápida e segura a respeito da biodiversidade de uma região, possibilitando
a realização de um inventário biológico consistente. O desenvolvimento
desta metodologia, entretanto, pode requerer que ações complementares
posteriores sejam realizadas, como a determinação de populações, flutua-
ções sazonais, distribuição, eventos migratórios, interações entre os ecos-
sistemas locais entre outros.
O método RAP envolve passos decisivos de planejamento e organiza-
ção que garantem seu sucesso:
1. Identificação das necessidades e objetivos para a pesquisa;
2. Seleção das áreas de pesquisa;
3. Obtenção de informações preliminares sobre a biodiversidade da área;
4. Determinação do número e localização dos locais de amostragem;
5. Levantamento das épocas do ano a amostrar;
6. Determinação dos grupos taxonômicos que serão amostrados;
7. Determinação dos membros da equipe;
1
Biólogo, MSc, Doutorando (FAEM/UFPEL). Email: luciano_moura_biologia@yahoo.com.br.
Capítulo
1
9. 8. Planejamento de logística (transporte, acampamentos, equipamentos,
alimentação, etc.);
9. Organizar ou adquirir equipamentos e suprimentos necessários.
A fim de selecionar os grupos de organismos a amostrar num Pro-
grama de Avaliação Rápida deve-se considerar os seguintes aspectos:
1. facilidade de amostragem do grupo a campo, garantindo boa imagem
da riqueza de espécies em um curto espaço de tempo;
2. equipamentos e logística apta à amostragem das áreas e ao acesso
aos diversos ambientes de ocorrência do grupo, e
3. Existência de especialistas ou guias de identificação que permitam a
confirmação dos indivíduos com o máximo de segurança.
Dados coletados durante RAP geralmente incluem (a) uma lista de
espécies por ambiente, (b) o número total de espécies para cada local e
para a área total, (c) comparações entre locais em termos de riqueza de
espécies (índices e listas de diversidade), (d) listas de espécies importan-
tes, incluindo ameaçadas de extinção, endêmicas restritas ou não, indica-
dores, introduzidos, migratórios, raras, protegidas e imunes ao corte bem
como em outras categorias especiais, (e) informações ecológicas sobre
cada uma das espécies, incluindo o tipo de habitat que necessitam, o que
alimentam-se, onde vivem, tipo de ninho, o tamanho das populações (se
possível) e seus papéis nos processos ecossistêmicos ou serviços.
O método de pesquisa RAP é essencialmente rápido, além de con-
fiável. A agilidade e confiabilidade dos inventários justificam sua aplicação
neste trabalho e é garantida pela diversificação das equipes de trabalho e
da intensidade das ações a campo, gerando grande volume de dados
comparáveis. A organização logística e a gestão dos trabalhos garante
redução sensível de custos quando comparados a trabalhos descentraliza-
dos onde equipes mobilizam-se isoladamente para os trabalhos de campo.
Os inventários na área de estudo envolveram o meio biótico (fau-
na e flora), o meio abiótico (qualidade dos recursos hídricos) e o meio
sócio-ambiental, com entrevistas dirigidas à população ribeirinha e a pro-
posição de ações educação ambiental.
10. No meio biótico, foi estudada a flora arbórea das florestas de gale-
ria além de representantes das Famílias Orchidaceae e Bromeliaceae dis-
tribuídos nestas mesmas áreas. Os inventários de fauna relatam, além da
ocorrência de visitantes florais em registros de oportunidade, os principais
grupos de vertebrados, como peixes, anfíbios, répteis, aves e mamíferos,
voadores e não voadores. Para a flora a metodologia envolveu a descrição
geral das formações florestais, as relações de diversidade e domínio de
espécies em cada ambiente, estando a descrição da densidade média de
espécies, dos índices de diversidade e similaridade, programados para a
etapa seguinte do trabalho, mostrando os padrões fitogeográficos para
cada área de estudo. Estas ações são de extrema importância por que dão
suporte às decisões eficientes nos trabalhos de recuperação ambiental a
serem implantados.
Os inventários de fauna abordam invertebrados que podem ser
considerados espécies-chaves para a conservação de ecossistemas: visi-
tantes florais são grupos bastante específicos em suas redes alimentares e
sua ocorrência pode assinalar aspectos da qualidade dos ambientes estu-
dados. Entre os vertebrados, os peixes destacam-se pela sua importância
no reconhecimento de padrões na malha hidrográfica além de caracteriza-
rem-se como importantes fontes de exploração econômica de subsistência
e comercial. Anfíbios, répteis, aves silvestres e mamíferos fornecem im-
portantes dados sobre a composição e a ocorrência de danos nos ecossis-
temas locais.
O meio abiótico será detalhado na segunda fase, sendo julgado
com relação à aspectos da qualidade dos recursos hídricos, onde será ava-
liado o oxigênio dissolvido, demanda química e bioquímica de oxigênio,
pH, coliformes e outros parâmetros biofisicoquímicos, buscando correlaci-
oná-los com a distribuição dos organismos vivos.
O meio sócio-ambiental foi avaliado por meio de pesquisa dirigi-
das à população ribeirinha abordando aspectos relativos à escolaridade
média, atividades econômicas, renda média, entre outras informações
importantes para diagnosticar os principais problemas, dificuldades, po-
tencialidades e a relação da população local com os organismos e os am-
bientes locais.
11. Figura 01. Mapa de distribuição das áreas de estudo.
As áreas de estudo (Figura 01) situam-se no município de Barra do
Ribeiro (Latitude -30° 17' 28'' Longitude -51° 18' 04'') e estão distribuídas
nos quadros a seguir, conforme as respectivas etapas de desenvolvimento
do estudo.
12. Figura 02. Margem de Barra do Ribeiro com o Guaíba,em Julho de 2011, vista
da foz do Arroio Ribeiro e Capivaras (FOTO: Luciano M. de Mello).
Foram realizadas amostragens totais via fluvial de suas fozes até os
pontos médios definidos na tabela abaixo, com a finalidade de identificar,
georreferenciar e registrar fotograficamente os pontos de impactos que
não podem ser observados em imagens de satélite.
De acordo com os critérios citados acima foram selecionados os
pontos de amostragem:
1ª fase: Junho de 2011 a Junho de 2012
PONTOS DE AMOS-
TRAGEM
COORDENADAS DE
REFERÊNCIA
AMBIENTES
Área
amostrada
P1. Foz do Arroio Ri-
beiro e Capivaras
30° 16’
56,22 S
51° 18’
08,76 W
AF, AM, AU, AA,
AC
95.000m²
P2. Arroio Capivaras
30° 16’
49,83 S
51° 18’
20,92 W
AF, AM, AU, AA 120.000m²
P3. Arroio Ribeiro
30° 16’
57,55 S
51° 18’
18,67 W
AF, AM, AU, AA 150.000m²
13. 2ª fase: Julho de 2012 a Julho de 2013
PONTOS DE AMOS-
TRAGEM
COORDENADAS DE
REFERÊNCIA
AMBIENTES
Área amos-
trada
P4. Ponta do Salgado
30° 18’
25,69 S
51° 13’
00,81 W
AF, AM, AA 290.000m²
P5. Arroio Araçá
30° 19’
55,39 S
51° 15’
18,65 W
AF, AM, AU, AA,
AC
190.000m²
3ª fase: Agosto de 2013 a Agosto de 2014
PONTOS DE AMOS-
TRAGEM
COORDENADAS DE
REFERÊNCIA
AMBIENTES
Área amos-
trada
P6. Ponta das Ceroulas
30° 15’
07,02 S
51° 16’
52,87 W
AF, AM, AU, AA 310.000m²
P7. Ponta do Jacaré
30° 14’
07,26 S
51° 17’
50,77 W
AF, AM, AU, AA 125.000m²
P8. Arroio Petim
30° 12’
36,30 S
51° 19’
29,69 W
AF, AM, AU, AA,
AC
180.000m²
Legenda das tabelas descritivas das fases do trabalho: AF: áreas florestadas, AM: áreas
marginais, AU: áreas úmidas, AA: ambientes aquáticos e AC: ambientes campestres).
Figura 03. Margem do Guaíba (fim de tarde de 03 Dez 12) (FOTO: Luciano M.
de Mello).
14. Figura 04. Graxaim-do-mato em praia da Ponta do Salgado durante reconhe-
cimento das áreas de estudo (09 Jul 11) (FOTO: Luciano M. de Mello).
Os dados são apresentados em capítulos por grupos de organis-
mos e temas a seguir:
LEVANTAMENTOS DE FAUNA
CAPÍTULO 2: Aves Silvestres
CAPÍTULO 3: Répteis e Anfíbios
CAPÍTULO 4: Mamíferos
CAPÍTULO 5: Peixes
LEVANTAMENTOS DE FLORA
CAPÍTULO 6: Orquídeas e bromélias
CAPÍTULO 7: Flora arbórea e Áreas de Preservação
EDUCAÇÃO AMBIENTAL
CAPÍTULO 8: Ações de Educação Ambiental
RESULTADOS E DISCUSSÕES
CAPÍTULO 9: Proposição de soluções integradas
15. Entre os mais importantes resultados da pesquisa já na primeira
fase, pode-se destacar:
1. a obtenção de dados preliminares sobre a diversidade biológica em
áreas naturais e com diferentes níveis de ação antrópica, devido às ativi-
dades econômicas e agrosilvopastoris desenvolvidas no município de Bar-
ra do Ribeiro;
2. determinação do grau geral e particular de conservação dos ecossiste-
mas mediante estudo integrado das paisagens;
3. diagnóstico e prognóstico das atividades praticadas na região e que
porventura estejam interferindo ou possam interferir na distribuição e
manutenção das populações locais;
4. entendimento dos padrões bioecológicos locais e geração de informa-
ções que subsidiem o manejo natural, a conservação e indicação de áreas
sensíveis para a preservação;
5. realização de audiências públicas para o encaminhamento de soluções;
6. proposição de ações de educação ambiental a serem implementadas
em escolas municipais de Barra do Ribeiro a título de apoio às ações já
desenvolvidas e focadas na conservação e valorização dos ambientes lo-
cais e
7. projeção de ações, como a reedição das publicações associadas ao re-
sultados de trabalhos ao final de cada etapa do estudo, adicionando-se
informações que melhor amparem as decisões voltadas à gestão dos am-
bientes naturais e expansão das metas gerais do projeto a outras áreas do
Estado.
16. Figura 05. Arroio Capivaras (10 Jul 11) (FOTO: Luciano M. de Mello).
Figura 06. Entrando ao Arroio Araçá, durante reconhecimento das áreas de es-
tudo (09 Jul 11) (FOTO: Leonardo P. de Moraes).
17. Figura 07. Navegando em reconhecimento no Arroio Araçá (09 Jul 11) (FOTO:
Luciano M. de Mello).
Agradecimentos do autor
Agradeço aos idealizadores, Vinícius e Marjorie, pela confiança em nosso trabalho e a Sepé
Tiaraju de Los Santos pelo apoio durante a primeira expedição às áreas de estudo que nos
permitiram mais do que conhecer, mas a amar mais esse precioso pedaço deste planeta.
18. Levantamento preliminar da diversidade de
avifauna em Barra do Ribeiro
Leonardo Pompéu de Moraes 2
Luciano Moura de Mello 3
Luiz Liberato Costa Corrêa 4
Pâmela Salen Domingues Quadro 5
As aves constituem o grupo
de animais mais conhecido
entre todos. Sua ampla dis-
tribuição significa a grande
adaptação destes animais aos
diversos ambientes e funções
ecológicas. Estas funções
ecológicas dão às aves espe-
cial papel na estabilidade dos
ecossistemas.
Desde os tempos antigos a humanidade tem compartilhado espaços
e recursos com espécies da fauna silvestre, dentre eles as aves destacam-
se por serem animais importantes para o homem, inclusive nos aspectos
culturais, para muitos eram considerados na antiguidade deuses, para
outros, como povos indígenas, incorporavam danças em seus rituais u-
sando penas na cabeça e outras partes do corpo, ainda hoje se utilizam
desses elementos em suas canções e obras e buscam inspirações na bele-
za das aves, e seus cantos melodiosos (ANDRADE, 1997).
As aves são um grupo de vertebrados que possuem como caracte-
rísticas principais o corpo coberto por penas, apêndices locomotores ante-
riores modificados em asas, bico córneo e ossos pneumáticos. Seu orga-
nismo, tanto fisiológica quanto biomecanicamente estão totalmente a-
daptados à prática do voo. Tanto a endotermia quanto a capacidade de
2
Biólogo, Esp. Email: leonardo_bage@yahoo.com.br
3
Biólogo, MSc., Doutorando, FAEM/UFPEL. Email: luciano_moura_biologia@yahoo.com.br
4
Biólogo, Mestrando, PPG em Ambiente e Desenvolvimento (UNIVATES).
Email: lc_correa@yahoo.com.br
5
Bióloga. Email: pamela_salen@yahoo.com.br
Capítulo
2
19. voo foram determinantes para o grande sucesso e a notável diversificação
das aves na Terra, pois permitiram que elas colonizassem áreas remotas e
sobrevivessem sob condições climáticas adversas (SICK, 1984; 1997; AN-
DRADE, 1997; BENCKE et al., 2003; ARES, 2007).
As aves sempre encantaram as pessoas, com seus cantos melodio-
sos, e suas belas plumagens coloridas (Andrade, 1997; Reinert et al.,
2004), sendo um grupo de animais superiores muito conhecido (Andrade,
1997), além do fato da grande maioria das espécies possuir hábitos diur-
nos e vocalizar com frequência, são relativamente espécies de boa detec-
ção em campo (Develey, 2006), comparando a outros grupos de animais
(ANDRADE, 1997).
Dessa forma, trata-se de um dos grupos de vertebrados mais
conspícuos e estudados em paisagens naturais ou artificiais (Bencke et al.,
2003; MMA, 2005). Acredita-se que cerca de 99,9% das espécies desse
grupo já foram descritas (SICK, 1984; 1997).
De acordo com Bencke et al. (2003) atualmente são registradas cer-
ca de 10 mil espécies no globo terrestre, sendo que dessas, cerca de 2645
vivem na América do Sul (REINERT et al., 2004).
No Brasil ocorrem atualmente 1.832 espécies já registradas (CBRO,
2011), sendo a avifauna brasileira considerada uma das mais exuberantes
Figura 01. Agelaioides badius (Asa-
de-telha), pousado em área campes-
tre (FOTO: Luiz L. C. Corrêa).
Figura 02. Cyanoloxia brissonii (Azulão)
capturado em região dos pomares (FOTO:
Leonardo P. de Moraes).
20. e ricas do mundo, devido à grande extensão de nosso território, diversida-
de de ecossistemas e belezas naturais existentes (ANDRADE, 1997).
O Rio Grande do Sul, Estado mais meridional do Brasil (Belton,
1994), dispõe atualmente de uma lista com 661 espécies já registradas
(BENCKE et al., 2010). Segundo Belton (1994) a investigação ornitológica
no Estado parece ter começado com o francês Augst Sainte Hilaire que
viajou nesta região em 1820-1821, sendo que outros pesquisadores tive-
ram suas contribuições, mas quem mais contribuiu com dados e pesquisas
foi William Belton, ornitólogo norte-americano, que realizou e compilou
vários estudos sobre nossa avifauna entre os anos de 1970 e 1983, sendo
que seu trabalho atualmente é fonte de referência para pesquisa sobre as
aves do Estado gaúcho (BENCKE, 2001; BENCKE et al., 2003).
Atualmente vários pesquisadores vêm destacando-se, e contribu-
indo com dados de extrema importância com aspectos de registros, dis-
tribuição e estudo das aves silvestres encontradas no Estado: G. A. Ben-
cke, L. Bugoni, M. V. Petry; R. A. Dias; I. A. Acoordi; C. S. Fontana; entre
outros. No entanto o estudo das aves no Rio Grande do Sul encontra-se
em fase exploratória e descritiva, portanto quaisquer informações adicio-
Figura 03. Chloroceryle amazona (Martim-pescador-verde),
capturado em rede de neblina, margem do Arroio Capivaras
(FOTO: Leonardo P. de Moraes).
21. nais sobre a fauna ornitológica no Estado que ainda careçam de uma do-
cumentação apropriada devem ser divulgados (BENCKE, 2001).
As aves são fundamentais na manutenção dos mais diferentes e-
cossistemas, onde desempenham importantes funções ecológicas agindo
ativamente sobre o ambiente e teias alimentares em que se encontram.
Algumas das funções mais importantes desempenhadas no ambien-
te consistem na dispersão de sementes, polinização de plantas (beija-
flores) e auxilio no controle da população de insetos e de pequenos verte-
brados (SICK, 1984; 1997; ANDRADE, 1997; BENCKE et al., 2003; REINERT
et al., 2004; ARES, 2007).
Os organismos móveis possuem uma ampla margem de controle
sobre o ambiente em que vivem; eles podem sair de um ambiente letal ou
desfavorável e buscar ativamente outro (BEGON, 2007). Essa facilidade
das aves, dada pela característica do voo, possibilitam que localizem sufi-
ciente disponibilidade de recursos alimentares e abrigo (Andrade, 1997),
realizando pequenas ou grandes migrações na busca de ambientes mais
favoráveis.
Figura 04. Turdus rufiventris (Sabiá-laranjeira) capturado em
rede de neblina em área campestre, próximo a pomares (FOTO:
Leonardo P. de Moraes).
22. Figura 05. Turdus amaurochalinus (Sabiá-poca) capturado em
rede de neblina (FOTO: Luciano M. de Mello).
Neste sentido, as aves constituem um dos grupos faunísticos mais
importantes em termos de bioindicação da qualidade ambiental, devido à
facilidade de obtenção de dados em pesquisa de campo, permitindo-se
obter diagnósticos precisos em curto espaço de tempo (RAMOS, 1997). No
entanto, a simples presença ou a ausência dessas espécies já é indicativa
de conservação ou degradação de uma determinada área (Reinert et al.,
2004) embora dados complementares devam ser reunidos à estas conclu-
sões a fim de estabelecer a bioindicação.
A realização de estudos em levantamentos e inventários da avifauna
pode indicar a qualidade de um ambiente como seu nível de perturbação
ecológica, permitindo a identificação dos locais em que deve ser realiza-
dos planejamentos e ações de intervenção no manejo e conservação de
ecossistemas.
Novos registros de uma espécie podem representar indícios da ex-
pansão geográfica ativa de uma população, possivelmente motivada por
alterações em seus hábitats originais, bem como o desaparecimento de
espécies anteriormente descritas.
Neste contexto julga-se importante a realização de inventários or-
nitológicos de campo (SEIXAS et al., 2010).
23. METODOLOGIA
Foi realizado um levantamento qualitativo, de acordo em Develey
(2006), da avifauna em uma área com cerca de 30 hectares (divididos en-
tre áreas florestadas e campestres), no Município de Barra do Ribeiro,
região central do Rio grande do Sul (30º16’48.8”S 51°18’12.1”W), inserida
no Bioma Pampa (IBGE, 2004).
No período de julho de 2011 à março de 2012, foram realizadas 8
expedições a campo na região, cada uma com dois dias, realizando-se
transectos para o registro da avifauna com auxilio de binóculos (8x40;
10x50) para realizar varreduras em observações em curtas e longas dis-
tâncias. Em alguns trechos aleatórios nas proximidades de ambientes flo-
restais e aquáticos foram realizados pontos de escuta na primeira hora da
manhã e ao anoitecer.
Utilizou-se ainda redes de neblina (12 e 7x3m), para a captura e
identificação de espécies e registro fotográfico. As redes foram instaladas
ao amanhecer, e mantidas até o fim da tarde, sendo revisadas em interva-
los de 30 minutos. Também foi utilizada a técnica do playbacks em perío-
do diurno e noturno, a fim de atrair algumas espécies que dificilmente são
observadas diretamente. Para aplicar a técnica de playback foram utiliza-
dos aparelhos (Gravador/Olympus-WS-700M) para a reprodução das voca-
lizações de aves, de acervo particular dos pesquisadores, e amplificador
portátil para reproduzir o som.
Develey (2006) comenta que o levantamento qualitativo tem por
finalidade conhecer a riqueza da comunidade encontrada em uma deter-
minada área (RAP), compilando esforços, em caminhadas a pé, transectos,
pontos de escuta, utilizando redes de captura e uso de playbacks, ressul-
tando em uma excelente metodologia para adquirir uma listagem de aves
da área em estudo.
Para a identificação e comparação das espécies registradas foram
seguidos os guias de campo: Narosky & Yzurieta (2003) e Perlo (2009).
24. RESULTADOS E DISCUSSÕES
Foram registras 82 espécies (Tabela 1), em 196 horas de esforço
amostral. A família mais representativa foi a Tyrannidae, seguida de
Thraupidae. Para nomenclatura das espécies seguiu a versão mais atual
da lista de aves do Brasil (CBRO, 2011).
As aves foram agrupadas por hábitos alimentares, baseando-se
em dados obtidos em Sick (1984, 1997); Rodriges et al., (2005) e Scherer
et al. (2010), considerando as seguintes guildas6
: carnívoros; frugívoros
(alimentação baseada em frutos); granívoros (alimentação baseada em
sementes); nectarívoros: utilizam o néctar como base em sua dieta ali-
mentar; piscívoros (alimentação baseada em peixes); onívoros: sua dieta é
baseada em frutos, artrópodes e pequenos vertebrados, sendo assim con-
sideradas as espécies cuja alimentação é composta por mais de uma guil-
da alimentar. Insetívoros alimentam-se de insetos e necrófagos alimen-
tam-se de carcaças de animais em decomposição.
6
Guildas são grupos de organismos reunidos pela função que desempenham no controle
de outras populações.
Figura 07. Bubo virginianus
(Jacurutu), em mata de galeria, orla
do Guaíba (FOTO: Luiz L. C. Corrêa).
Figura 06. Saltador similis (Trinca-ferro-
verdadeiro) em mata de galeria, orla do
Guaíba (FOTO: Leonardo P. de Moraes).
em
25. Devido a localização e diversidade de ecossitesmas da região (am-
bientes campestres, áquaticos e florestais), estes dispõe de diversificadas
fontes alimentares para aves, beneficiando àquelas espécies que caracte-
rizam-se pela dieta alimentar insetívora e onívora, sendo as primeiras as
mais representativas na região (Gráfico 01 e 02).
Gráfico 1: Distribuição do número de espécies de aves regis-
tradas por guildas alimentares.
0
5
10
15
20
25
30
Figura 08. Basileuterus culicivorus
(Pula-pula-assobioador) em mata de
galeria, orla do Guaíba (FOTO :
Luciano M. De Mello).
Figura 09. Lanio cucullatus (Tico-tico-rei) em
mata de galeria, na orla do Guaíba (FOTO:
Pâmela S. D. Quadros).
26. Gráfico 2: Distribuição percentual das espécies de aves regis-
tradas por guildas alimentares.
As espécies registradas no estudo já eram esperadas para a região
de acordo com consulta bibliográfica em Belton (1994), ressaltando-se
também que não houve nesta primeira fase registro de nenhuma espécie
que amplia sua distribuição ou novo registro quando consultado Belton
(1994); Bencke (2001) e Bencke et al. (2010).
Figuras 10 e 11. Fezes de aves contendo diversos tipos de sementes de espécies nativas,
em postes de cercas, demonstrando a importante participação das aves silvestres na
dispersão de espécies vegetais (FOTOS: Luciano M. de Mello).
Deve-se ressaltar que a região possui ainda um grau de fragmen-
tação que merece atenção, dada pela ocupação humana, indicando a ne-
34%
32%
13%
7%
5%
5%
3%
1%
Insetívoros
Onívoros
Granívoros
Frugívoros
Piscívoros
Carnívoros
Necrófagos
Nectatívoro
27. cessidade de um plano de recuperação e manejo a fim de garantir e esta-
bilidade destes ambientes.
Sobre locais de encontros dos espécimes foram caraterizados da
seguinte forma os registros: Campo: refere-se a ave registrada em ambi-
ente campestre, pousada ou em voo livre; Florestal: o registro em ambien-
tes provenientes de mata nativa (ciliar) e Área úmida: registro em ambien-
te aquático.
Não foram registradas espécies ameaçadas na área de estudo,
comparando com Bencke et al. (2003).
Figura 14. Ortalis guttata (Aracuã) em mata
de galeria, Arroio Ribeiro (FOTO: Luciano M.
de Mello).
Figura 12. Pipraeidea bonariensis
(Sanhaço-papa-laranja) em mata de gale-
ria, Arroio Capivaras (FOTO: Leonardo P.
de Moraes).
Figura 13. Columbina picui (Picui) em mata
de galeria, orla do Guaíba (FOTO: Leonardo
P. de Moraes).
Figura 15. Thraupis sayaca (Sanhaço-
cinzento) em mata de galeria, orla do
Guaíba (FOTO: Leonardo P. de Moraes).
28. Tabela 1. Lista da diversidade de aves silvestres em Barra do Ribeiro, RS
(período de Jul 2011 a Mar 2012).
Ordem/Família/espécie Nome-Comum
Guilda
Alimentar
Ambiente de
registro
TINAMIFORMES
TINAMIDAE
Nothura maculosa Codorna-amarela Onívoro Campo
ANSERIFORMES
ANHIMIDAE
Chauna torquata Tachã Onívoro Área úmida
ANATIDAE
Amazonetta brasiliensis Pé-vermelho Onívoro Área úmida
Figura 18. Ardea alba (Garça-branca-grande)
sobre vegetação aquática. Arroio Capivaras.
FOTO: Luciano M. de Mello).
Figura 16. Hydropsalis torquata
(Bacurau) em área campestre próximo a
casas (FOTO: Luiz L. C. Corrêa).
Figura 17. Pitangus sulfuratus (Bem-te-vi)
em mata de galeria, foz do Arroio Ribeiro
(FOTO: Leonardo P. de Moraes).
Figura 19. Tigrisoma lineatum
(Socó-boi) sobre vegetação aquá-
tica, Arroio Ribeiro (FOTO: Lucia-
no M. de Mello).
29. GALLIFORMES
CRACIDAE
Ortalis guttata Aracuã Frugívoro Florestal
SULIFORMES
HALACROCORACIDAE
Phalacrocorax brasilianus Biguá Piscívoro Área úmida
PELECANIFORMES
ARDEIDAE
Tigrisoma lineatum Socó-boi-verdadeiro Piscívoro Área úmida
Ardea cocoi Socó-grande Onívoro Área úmida
Ardea alba Garça-branca-grande Onívoro Área úmida
Nycticorax nycticorax Savacu Onívoro Área úmida
THRESKIORNITHIDAE
Plegadis chihi Maçarico-preto Onívoro Área úmida
Phimosus infuscatus
Maçarico-de-cara-
pelada
Onívoro Área úmida
CATRARTIFORMES
CATHARTIDAE
Coragyps atratus Urubu-de-cabeça-preta Necrófago Campo
Cathartes aura
Urubu-de-cabeça-
vermelha
Necrófago Campo/florestal
ACCIPITRIFORMES
ACCIPITRIDAE
Rupornis magnirostris Gavião-Carijó Carnívoro Florestal
FALCONIFORMES
FALCONIDAE
Caracara plancus Caracará Carnívoro Campo
Falco sparverius Quiri-quiri Onivoro Campo
RALLIDAE
Aramides cajanea Três-potes Onívoro Área úmida
Aramides ypecaha Saracuraçu Onívoro Área úmida
Laterallus melanophaius Pinto-d´água-comum Onívoro Área úmida
CHARADRIFORMES
CHARADRIIDAE
Charadrius collaris Batuíra-de-coleira Insetívoro Área úmida
Vanellus chilensis Quero-quero Insetívoro Campo
JACANIDAE
Jacana jacana Jaçanã Onívoro Área úmida
COLUMBIFORMES
COLUMBIDAE
Columbina talpacoti Rolinha-roxa Granívoro Campo/florestal
Columbina picui Rolinha-picuí Granívoro Campo/florestal
Leptotila verreauxi Juriti-pupu Granívoro Florestal
Zenaida auriculata Pomba-de-bando Granívoro Campo/florestal
CUCULIFORMES
CUCULIDAE
32. PASSERIDAE
Passer domesticus Pardal Onívoro Campo
Agradecimento dos autores
Ao Sr Cláudio Wilfing, pela camaradagem e ao Biól. Antônio Hector Bastide Ramos, ao
profissional - pelo apoio às atividades de campo e ao “irmão de ideal”, pela amizade de
sempre.
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SICK, H. Ornitologia brasileira. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1997. 862 p.
34. Levantamento preliminar da herpetofauna
silvestre de Barra do Ribeiro
Luciano Moura de Mello 7
Daiane Maria Melo Pazinato 8
A herpetofauna compreende os
anfíbios e répteis, esses animais
estão amplamente distribuídos,
ocupando variados habitats. Os
anfíbios foram os primeiros verte-
brados a se adaptarem ao ambien-
te terrestre, mas os répteis obtive-
ram maior sucesso adaptativo em
ambientes secos, sendo encontrados inclusive em regiões áridas.
Neste capítulo apresentamos uma lista preliminar da herpetofauna
encontrada no Município de Barra do Ribeiro, Rio Grande do Sul. As amostra-
gens foram realizadas no período de julho de 2011 a março de 2012. A meto-
dologia utilizada foi o método qualitativo buscando usar para registro das
espécies o encontro direto. Foram registradas oito espécies de répteis per-
tencentes a duas ordens: Squamata e Testudines, distribuídas em cinco famí-
lias (Gekkonidae, Teiidae, Colubridae, Chelidae e Emydidae) e seis espécies de
anfíbios anuros pertencentes a três famílias (Hylidae, Leiuperidae e Leptodac-
tylidae).
Os répteis ocorrem em vários continentes e condições climáticas re-
lativamente variadas, exceto nos pólos, são diversificados e abundantes
(HICKMAN Jr; ROBERTS; LARSON, 2003; GARCIA; VINCIPROVA, 2003). Fo-
ram os primeiros vertebrados adaptados a vida em ambientes secos gra-
ças à pele espessa e escamosa, com poucas glândulas cutâneas que redu-
zem a perda de água (QUINTELA; LOEBMANN, 2009). A principal adapta-
ção foi o desenvolvimento do ovo com casca, pois libertou os répteis do
ambiente aquático, originando um processo de desenvolvimento inde-
7
Biólogo, MSc., Doutorando, FAEM/UFPEL. Email: luciano_moura_biologia@yahoo.com.br
8
Bióloga, Ativista, ONG Interação de trabalhos Ambientais - ITA, Caçapava do Sul, RS.
Email: da.paz.melo@hotmail.com
Capítulo
3
35. pendente da água ou de ambientes terrestres muito úmidos (HICKMAN Jr;
ROBERTS; LARSON, 2003).
Os répteis foram mais eficientes na conquista terrestre do que os
anfíbios, pois estes continuam dependendo do ambiente aquático para a
reprodução (BERNARDE; MACHADO, 2006; LOEBMANN, 2005). A ecto-
termia é uma característica destes dois grupos, a temperatura corpórea é
semelhante a do meio ambiente, oscilando com a mesma (LEMA, 2002).
O Brasil possui uma rica biodiversidade, ocupa a segunda colocação
na relação de países com maior riqueza de espécies de répteis. No caso
dos anfíbios, o Brasil é o país com a maior riqueza de espécies, estando
esta classe representada por aproximadamente 946 espécies, distribuídas
em três ordens: Anura (rãs, sapos e pererecas), Caudata (salamandras) e
Gymnophionas (cobras-cegas) (LOEBMANN, 2005; SBH, 2012). Para o Rio
Grande do Sul são conhecidas cerca de 95 espécies de anfíbios, sendo 93
anuros e duas cobras-cegas (BORGES-MARTINS et al.; 2007).
No Brasil a classe Reptilia é representada por três ordens: Testudi-
nes (cágados, jabutis e tartarugas), Squamata (anfisbênias, cobras e lagar-
tos) e Crocodylia (crocodilos e jacarés) (SBH, 2012). De acordo com Bencke
et. al. (2009) são registradas 126 espécies de répteis para o nosso Estado.
Os anfíbios da ordem Anura são muito bem adaptados e geralmen-
te estão entre os vertebrados mais abundantes e presentes em maior
número de habitats, perdendo somente para aves e morcegos em número
de espécies (LIMA et al., 2006).
A identificação das espécies de anfíbios revela dados decisivos para
o sucesso das ações que buscam conservar a biodiversidade (DEIQUES et
al., 2007; HEYER et al., 1994). A fragilidade dos anfíbios diante das condi-
ções adversas, naturais e antrópicas, a sua importância como indicadores
biológicos de qualidade ambiental tornam extremamente importante o
estudo desses animais (LOEBMANN, 2005). A extinção de espécies confi-
gura-se como um dos problemas ambientais mais dramáticos da atualida-
de (MARQUES et al., 2002).
As causas da extinção dos répteis estão relacionadas principalmente
à destruição dos habitats explorados por estes e a aversão que o homem
possui aos répteis também contribui para o declínio das populações (LE-
MA, 2002; DI-BERNARDO, 2003; BORGES-MARTINS, 2007; OLIVEIRA, 2003;
QUINTELA, 2009; LOEBMANN, 2009).
36. Figura 01: Chironius sp. capturada na
copa de um Maricá (Mimosa bimucro-
nata), à margem do Arroio Capivaras,
em agosto de 2011.
Existe uma evidente falta de informações sobre a biologia, distribui-
ção e conservação da herpetofauna brasileira que pode ser mitigada atra-
vés de inventários e monitoramento da fauna (DIXO, 2006).
Os anuros e répteis são extremamente importantes nas cadeias
alimentares, realizando controle biológico e encontram-se cada vez mais
ameaçados, o conhecimento a cerca destes animais é fundamental para
identificarmos as causas que os ameaçam e estabelecer prioridades de
ação para a preservação.
METODOLOGIA
Foram realizadas saídas a campo no período de julho de 2011 a
março de 2012, para a amostragem da fauna reptiliana e anura do Muni-
cípio de Barra do Ribeiro, região central do Rio grande do Sul
(30º16’48.8”S 51°18’12.1”W).
A metodologia utilizada foi o método qualitativo buscando usar
para registro das espécies o encontro direto, as buscas se deram em am-
bientes campestres, florestais (florestas de galeria), aquáticos e úmidos. A
região apresenta áreas naturais bem preservadas com matas nativas nas
zonas ciliares, mas também possui locais antropizados com grandes áreas
destinadas à produção agrícola.
02 03
Figura 02: Teius oculatus (Teju-verde) foto-
grafado em clareira na mata da orla do Guaí-
ba (FOTOS: Luciano Moura de Mello).
02
01
37. Figura 03 e 04: Dendropsophus minutus (FOTO: Luiz L. C. Corrêa) e Leptodactylus gracilis
(FOTO: Luciano Moura de Mello).
Os exemplares encontrados foram fotografados e soltos no ambi-
ente. Os trabalhos de campo foram realizados em seis ocasiões, os horá-
rios de busca foram variados, ocorrendo a partir das 06 horas, estenden-
do-se até o crepúsculo, cada saída teve a duração aproximada de 12 ho-
ras, totalizando 144 horas de esforço amostral.
Durante as saídas a campo foram utilizados equipamentos de se-
gurança como calças de tecido grosso, botas compridas, luvas de couro e
gancho para manejo de serpentes a fim de evitar acidentes ofídicos. Fo-
ram realizadas observações em locais com troncos caídos, embaixo de
pedras, nas proximidades de vegetação aquática, nas áreas campestres ou
com características similares. No caso dos anuros as observações foram
realizadas em corpos de água utilizando a procura visual ativa e auditiva e
também nas áreas anteriormente citadas.
Figura 05 e 06: Physalaemus sp. e Scinax sp. (FOTO: Luciano Moura de Mello).
0605
0403
38. Um total de 14 espécies (Tabela 1) foram identificadas na área,
seis anfíbios e oito répteis. A nomenclatura das espécies seguiu a classifi-
cação da Sociedade Brasileira de Herpetogia.
Figura 06 e 07: Ovos em ninhos de quelônio nas margens do Guaíba.
Figura 09: artefato de madeira (com quase 1m) com anzol, localizado
nas margens do Arroio Capivaras e utilizado por caçadores locais para
a captura de jacarés. O artefato é iscado com carne ou peixe e amar-
rado por uma corda a árvore nas margens do arroio: o animal é “fis-
gado” e trazido à terra, onde é abatido. Estes animais, no entanto,
não foram encontrados pelas equipes de trabalho na área.
Figura 10: Tupinambis
merianae (Lagarto-de-
papo-amarelo) registrado
em armadilha fotográfica.
(FOTOS: Luciano Moura
de Mello).
Tabela 1. Lista das espécies de anfíbios e répteis registradas no Município
de Barra do Ribeiro, RS.
Ordem/ Família/ Espécie Nome comum
ANURA
Hylidae
Dendropsophus minutus (Peters, 1872) Perereca-rajada
Scinax sp. Perereca
Leiuperidae
Physalaemus sp. Rã
07 08
09
10
39. Leptodactylidae
Leptodactylus fuscus (Schneider, 1799) Rã-assobiadora
Leptodactylus gracilis (Duméril & Bibron, 1841) Rã-listrada
Leptodactylus latrans (Steffen, 1815) Rã-manteiga
SQUAMATA
Gekkonidae
Hemidactylus mabouia (Moreau de Jonnès, 1818) Lagartixa-das-casas
Teiidae
Teius oculatus (D’Orbigny & Bibron, 1837) Teju-verde
Tupinambis merianae (Duméril & Bibron, 1839) Lagarto-do-papo-
marelo
Colubridae
Chironius sp. Caninana-verde
Thamnodynastes hypoconia (Cope, 1860) Corredeira-carenada
Xenodon sp. Boipeva
TESTUDINES
Chelidae
Phrynops hilarii (Duméril & Bibron, 1835) Cágado-de-barbelas
Emydidae
Trachemys dorbigni (Duméril & Bibron, 1835) Tartaruga-tigre-
d'água
Figura 11: Thamnodynastes hypoconia (Corre-
deira-carenada) (FOTO: Luciano Moura de
Mello)
Agradecimento dos autores
Os autores agradecem à Dra. Lize Helena
Cappellari (URCAMP) pelo auxílio nas
identificações, ao Biól. Luiz Liberato Costa Corrêa pela cedência de imagens obti-
das a campo e que ilustram este capítulo e ao Acadêmico de Ciências Biológicas
(URCAMP) Éderson França de Machado, pelo apoio às atividades de campo.
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tetrápodes recentes do Rio Grande do Sul, Brasil. In: RIBEIRO, A. M.;
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42. Levantamento da diversidade de mamíferos
silvestres em Barra do Ribeiro
Vinícius Braga Comaretto 9
Luciano Moura de Mello 10
Darliane Evangelho Silva 11
Mamíferos são animais de sangue
quente, vertebrados, podendo vari-
ar em tamanhos e hábitos, possu-
em o corpo coberto por pelos, fê-
meas com glândulas mamárias e a
grande maioria com hábitos notur-
nos (FREITAS & SILVA,2005; REIS et
al., 2006; ACHAVAL et al., 2007;
CARVALHO-JR & LUZ, 2008; CULLEN
et al., 2009). Seus representantes são quadrúpedes, embora existam vari-
ações anatômicas e fisiológicas entre as espécies, que possibilitam a vida
tanto em meio terrestre, aéreo e aquático (SILVA, 1994; FREITAS & SIL-
VA,2005).
O Brasil é considerado um país megadiverso, ou seja, é um dos
mais ricos em números de espécies no mundo (CARVALHO-JR & LUZ,
2008). Atualmente são registradas aproximadamente 5.418 espécies de
mamíferos no mundo (WILSON & REEDER, 2005). De acordo com Paglia et
al. (2012) no território brasileiro são registradas 701 espécies distribuídos
em 50 Famílias e 12 Ordens. Estes números indicam o Brasil como possui-
dor da maior riqueza de mamíferos de toda a região neotropical (CARVA-
LHO-JR & LUZ, 2008).
Estudos relacionados com a mastofauna são extremamente im-
portantes, pois contribuem significativamente para o conhecimento des-
sas espécies, além do fato dos mamíferos possuírem uma importante fun-
9
Biólogo, Email: asp.braga@hotmail.com
10
Biólogo, MSc., Doutorando (FAEM/UFPEL).
Email: luciano_moura_biologia@yahoo.com.br.
11
Bióloga, Mestranda em Ambiente e Desenvolvimento, UNIVATES.
Email: ds_evangelho@yahoo.com.br
Capítulo
4
43. ção ecológica por manterem o equilíbrio de uma floresta (ALMEIDA et al.,
2008). Neste contexto, a constante ameaça à fauna e flora brasileira está
relacionada aos severos desmatamentos que ocorrem diariamente em
todo o território nacional. Diante deste fato, visualiza-se um crescente
fracionamento das florestas, ocasionando a perda de hábitat, o isolamen-
to populacional local e a restrição do tamanho populacional destes ani-
mais, principalmente os mamíferos de médio e grande porte, que além de
sofrerem com a caça, necessitam de áreas demográficas maiores para seu
desenvolvimento (WILCOX & MURPHY 1985; SHAFER, 1990; SAUNDERS et
al., 1991). No entanto, em contra partida, sofrem uma crescente ameaça à
sua existência, o que mostra a necessidade de maiores estudos sobre o
grupo, não somente para a preservação dessas espécies, mas do ecossis-
tema como um todo (ALMEIDA et al., 2008).
Algumas espécies estão associadas a um impacto negativo ou ad-
verso ao ambiente. Elas podem causar danos para o homem, uma vez que
muitas delas podem alimentar-se da lavoura ou até mesmo de alguns
animais domésticos ou de criação (CARVALHO-JR & LUZ, 2008).
A presença de animais de dieta diversificada e generalista, como,
por exemplo, os Graxains (Pseudalopex gymnocercus) e os Gambás (Didel-
phis albiventris) normalmente são indesejados mesmo com todas as con-
tribuições ecológicas que prestam ao homem. No entanto, ações de ma-
nejo, além de cuidados simples, em geral, anulam totalmente os efeitos
negativos que estes mamíferos silvestres possam ter sobre animais criados
pelo homem.
Porém, é importante ressaltar que muitas dessas situações são
causadas pela alteração intensa do ambiente natural desses animais numa
determinada região (CARVALHO-JR & LUZ, 2008).
A fauna mastozoológica do Rio Grande do Sul é muito expressiva,
graças à sua privilegiada posição fisiográfica (SILVA, 1994).
Segundo dados obtidos em Santos et al. (2008), ocorrem mais de
150 espécies no Estado do Rio Grande do Sul, sendo que destas, 33 encon-
tram-se em ameaça no Estado (Fontana et al., 2003), sendo o Pampa, o
bioma brasileiro com terceiro maior número de espécies de mamíferos
ameaçadas (13%) do país (COSTA et al., 2005).
O bioma Pampa tem sido profundamente modificado pelas ativi-
dades humanas (pastoreio excessivo, queimadas, invasão de espécies exó-
44. ticas e conversão em áreas agriculturáveis), restando muitas vezes apenas
pequenos remanescentes em uma paisagem predominantemente agrícola
e modificada (PORTO, 2002; BENCKE, 2003).
Avaliar os impactos das diferentes formas de uso da terra sobre a
biodiversidade é fundamental para entendermos e desenvolvermos as
melhores formas de utilização dos recursos naturais, conciliando assim o
desenvolvimento socioeconômico com a conservação da natureza (CAR-
VALHO-JR & LUZ, 2008).
METODOLOGIA
Para a coleta de dados de fauna foi utilizado neste projeto a me-
todologia do Programa de Avaliação Rápida. Para os mamíferos a pesquisa
prevê identificação das espécies voadoras e não voadores.
Para isso, foram utilizadas redes de neblina de 7-12mx2,5m para a
coleta de morcegos (Quiroptera), e buscas ativas, armadilhas fotográficas
e outros meios para os outros grupos de mamíferos.
Foram utilizadas duas armadi-
lhas fotográficas digitais (Figura 01)
BUSHNELL (ZT820) de 2,1 megapixel
com sensor infravermelho (motion-
activated).
A nomenclatura taxonômica
das espécies, foi seguido de acordo em
Reis et al. (2006).
Figura 01. Armadilha fotográfica armada em
caule de Palmeira-rio-grandense (Syagrus ro-
manzoffiana) numa trilha da floresta de ciliar,
foz do Arroio Ribeiro (Foto: Luciano M. de Mel-
lo).
As amostragens a campo foram realizadas entre os meses de ju-
nho de 2011 a março de 2012, no qual seis expedições de campo foram
realizadas, cada uma com cerca de 12 horas de buscas ativas, totalizando
72h de esforço amostral entre armadilha fotográfica e procura visual e
indireta.
45. O estudo teve objetivo de inventariar a mastofauna da região Bar-
ra Ribeiro, tanto quanto determinar o uso de áreas e a dispersão dos ma-
míferos locais.
RESULTADOS E DISCUSSÕES
Através dos métodos utilizados foram registradas 13 espécies dis-
tribuídas em 11 Famílias (Tabela 1).
Foram registradas 3 espécies ameaçadas no Estado de acordo em
Fontana et al. (2003), são elas : Lontra (Lontra longicaudis), Gato-do-mato-
grande (Leopardus geoffroyi) e Coati (Nasua nasua).
DESCRIÇÃO DAS ESPÉCIES IDENTIFICADAS NO ESTUDO
Gambá-de-orelha-branca (Didelphis albiventris), é uma espécie de porte
médio, comum em áreas urbanas e rurais (Figura 02). Possui hábitos no-
turnos e crepusculares, de alimentação onívora, podendo até alimentar-se
de aves domésticas, onde chega a causar prejuízos em certas ocasiões.
Figura 02. Gambá-de-orelha-branca (Didelphis albiventris), (a) em armadilha modelo
gaiola (Tomahawk), e (b) fotografado por armadilha fotográfica (FOTO: Luiz L. C.
Corrêa).
Os Gambás conseguem trepar e andar sobre as árvores com muita
facilidade, graças a adaptações dos pés e mãos, sua cauda preênsil ajuda
na sua locomoção sobre troncos e galhos. Quando atacados, para se de-
fender exalam um odor forte e pouco agradável ao olfato (SILVA, 1994;
MASSOIA et al., 2002; MAMEDE & ALHO, 2008).
a b
46. Tabela 1: Lista de espécies de mamíferos silvestres registradas entre junho
de 2011 e março de 2012, em Barra do Ribeiro, RS.
(Legenda dos ambientes (AMB): FO: Floresta da orla do Guaíba, FG: Florestas de
galeria (arroios), AC: áreas campestres, AA: ambientes úmidos ou aquáticos)
Ordem Família
Nome
Científico
Nome
Popular
AMB
Didelphimorphia Didelphidae
Didelphis
albiventris
Gambá-de-
orelha-
branca
FO, FG,
AC
Xenarthra Dasypodidae
Dasypus
novemcinctus
Tatu-galinha AC, FG
Chiroptera Vespertilionidae Eptesicus sp. Morcego AC, FG
Carnivora
Canidae
Pseudalopex
gymnocercus
Graxaim-do-
campo
FO, FG,
AC
Cerdocyon thous
Graxaim-do-
mato
FG
Procyonidae
Procyon
cancrivorus
Mão-pelada
FO, FG,
AC, AA
Nasua Nasua Coati FO, FG
Mustelidae
Conepatus
chinga
Zorrilho AC
Lontra
longicaudis
Lontra AA
Felidae
Leopardus geo-
ffroyi
Gato-do-
mato-grande
FO, FG
Rodentia
Hydrochaeridae
Hydrochaeris
hydrochoerus
Capivara AA
Myocastoridae
Myocastor
coypus
Ratão-do-
banhado
AA
Caviidae Cavia aperea Preá AC
Lagomorpha Leporidae Lepus europaeus
Lebre-
européia
AC
Tatu-galinha (Dasypus novemcinctus), possui uma carapaça, alta e curva
(Figura 03), é formada por oito a nove cintas móveis localizada na porção
mediana da carapaça. Não tem pelos no dorso, e a cabeça é pequena e
comprida com focinho comprido e estreito com orelhas grandes, finas e
muito próximas entre si. Sua coloração geral é marrom escura no dorso,
sendo lateralmente mais amarelada.
47. Possui membros curtos com cinco dedos nos membros posteriores
e quatro nos anteriores onde os dois dedos médios são grandes, a cauda
comprida, cônica, apresenta a ponta fina que é envolvida por anéis cór-
neos bem distintos. É um tatu bastante comum, vive em vários tipos de
formação vegetais, tem hábito noturno, mas pode ser encontrado durante
o dia, sua alimentação é composta por insetos, raízes de plantas, peque-
nos invertebrados e eventualmente frutos.
Figura 03. (a) Tatu-galinha (D. novemcintus), fotografado por armadilha foto-
gráfica; (b) pegadas de tatu-galinha (Fotos: Luiz. L. C. Corrêa).
A audição e visão são pouco desenvolvidas, mas possui olfato mui-
to apurado. O período de gestação é de 150 a 240 dias, onde a fêmea
constrói um ninho de folhas e palhas secas, no fundo da toca de moradia
(SILVA, 1994; MAMEDE & ALHO, 2008). É uma espécie muito procurada
por caçadores que apreciam sua carne (FREITAS & SILVA, 2005).
Morcego (Eptesicus sp), é uma espécie de hábitos noturnos, onde alimen-
ta-se de insetos (Figura 04). Pode ser encontrado em sótãos, ocos de árvo-
res e furnas (SILVA, 1994).
a b
a b
48. Figura 04. Morcego (Eptesicus sp.), (a) e (b) capturado em dezembro de 2011 em
rede de neblina próximo a construções humanas iluminadas (Foto: Débora T. B.
Motta).
Graxaim-do-mato (Cerdocyon thous), sua coloração é acinzentada, com as
extremidades dos membros anteriores e posteriores com coloração negra
(Figura 05).
Figura 05. Graxaim-do-mato (C. thous), (a) fotografado em Praia da Ponta do Salgado,
em Julho de 2011 (Foto: Luciano M. de Mello); (b) animal jovem registrado em armadilha
fotográfica (Foto: Luiz L. C. Corrêa).
Espécie de hábitos geralmente noturno, com alimentação bastante
diversificada: frutos, insetos, anfíbios, crustáceos, pequenos lagartos, aves
e pequenos mamíferos. Vive preferencialmente em áreas florestais, po-
dendo ser avista em áreas abertas e úmidas no período diurno, mas sem-
pre nas proximidades de áreas florestais (MAMEDE & ALHO, 2008).
De acordo em Silva (1994), acredita-se que alguns indivíduos apren-
dam de forma oportunística a comer galinhas ou atacar ovelhas, causando
algum prejuízo ao homem quando seus animais de criação não são ade-
quadamente manejados. No entanto, estudos realizados na Argentina que
a
b
a b
a b
49. avaliaram o conteúdo estomacal destes canídeos comprovam que muitos
animais carregam a fama de matadores de galinhas ou ovelhas após locali-
zarem e alimentarem-se de ovelhas e outros animais mortos. É um dos
carnívoro mais comuns em atropelamentos em estradas e rodovias (MA-
MEDE & ALHO, 2008).
Graxaim-do-campo (Pseudalopex gymnocercus), canídeo de pequeno
porte medindo cerca de 50 cm de comprimento e 30 cm de cauda, sua
coloração geral é cinza amarelada (Figura 06), com tendência para mar-
rom ferrugíneo no alto da cabeça.
As patas são branco-amareladas, possuem orelhas grandes, de cor
clara, focinho afilado na extremidade, sendo uma espécie típica dos pam-
pas. É encontrado em regiões abertas, como campos e capoeiras de ma-
tas. Tem hábitos noturnos e crepusculares, com alimentação onívora e de
hábito solitário, mas podem ser vistos no período de reprodução em ca-
sais (SILVA, 1994; MAMEDE & ALBO, 2008).
Figura 06. Graxaim-do-campo (P. gymnocercus), fotografado em área campestre (FOTOS:
Luiz L. C. Corrêa). Observa-se as diferenças entre os canídeos que facilitam a sua identifi-
cação a campo: coloração geral, colocação de patas e cauda.
Mão-pelada (Procyon cancrivorus), apresenta pelos curtos de coloração
geral cinza-escuro no dorso (Figura 07), podendo ser facilmente identifica-
do pela máscara preta que desce dos olhos à base da mandíbula, pelos
vários anéis escuros na cauda e a maior altura dos membros posteriores.
As patas anteriores são desprovidas de pelos, o que deu origem ao nome
comum “mão-pelada”. Os dedos são finos e longos, sendo uma espécie
50. que habita locais com vegetação cerrada e alta, nas proximidades de rios,
riachos, banhados e lagos.
Durante o dia fica em ocos de árvores, sob grandes raízes ou em to-
cas, conseguindo com facilidade trepar em árvores quando perseguido.
O Mão-pelada é um animal de tem hábito noturno, com alimenta-
ção bem variada, desde matéria vegetal à animal, em especial aquáticos,
ao se alimentar apoia-se sobre os membros posteriores manuseando o
alimento com a “mão”, geralmente a fêmea tem de dois a quatro filhotes
(SILVA, 1994; ACHAVAL et al., 2007; MAMEDE & ALHO, 2008).
Figura 07. (a) Mão-pelada (P. cancrivorus), em armadilha fotográfica (FOTO: Luiz L. C.
Corrêa); (b) pegada de Mão-pelada (FOTO: Stefan Vilges de Oliveira).
Coati (Nasua nasua), são animais de cores variadas que vão do marrom-
avermelhado ao cinza-escuro no dorso (Figura 08), sendo o peito amarela-
do. A cauda do Coati é longa e com listras tranversais pretas ou marrom
escuras. Vivem geralmente em grupo em florestas, com hábitos noturnos
e diurnos. Alimenta-se de frutos, insetos, vermes, ovos e pequenos verte-
brados. Locomovem-se tanto no solo com em árvores (SILVA, 1994; FREI-
TAS & SILVA, 2005; MAMEDE & ALHO, 2008).
É uma espécie ameaçada de extinção no Estado, estando classifi-
cado na caterogia “vulnerável” (FONTANA et al., 2003), sendo que as prin-
cipais causas de seu declínio estão associadas a caça predatória para co-
mercialização de sua pele e a fragmentação de florestas (MAMEDE &
ALHO, 2008).
a b
51. Figura 08. Coati (N.nasua) (FOTO: Luiz L. C. Corrêa).
Zorrilho (Conepatus chinga), espécie de hábito noturno e solitário. Sua
alimentação é composta de artrópodes e pequenos roedores, eventual-
mente serpentes (Figura 09). O hábito deste animal de predar serpentes
faz com que seja bem tolerado entre as comunidades rurais.
Refugia-se no período diurno para repouso em buracos, tocas e
fendas de árvores. Quando perseguido utiliza como defesa pessoal, as
glândulas perianais que lançam secreção volátil e odor extremamente
desagradável (SILVA, 1994; MAMEDE & ALHO, 2008).
Figura 09. (a) Zorrilho (Conepatus chinga), em armadilha fotográfica (FOTO: Luiz L. C.
Corrêa); (b) pegadas de Zorrilho (a barra corresponde a 10cm) (FOTO: Stefan Vilges de
Oliveira).
Lontra (Lontra longicaudis), seus pelos são grossos, curtos e brilhantes de
coloração marrom-escura, sendo a região da garganta e abdômen mais
a b
52. claros (Figuras 10 e 11). Tem o corpo alongado, robusto e flexível, mem-
bros curtos com dedos unidos por membranas, as orelhas são curtas e
arredondadas, a cauda é longa, estreita e achatada na extremidade, a
ponta do focinho é desprovida de pelos.
A Lontra é um animal de hábitos tanto noturnos quanto diurnos, é
solitária e territorialista, escava tocas nas barrancas para reproduzir e es-
conder-se durante o dia.
As Lontras alimentam-se de peixes, moluscos e crustáceos e aves
que capturam, com grande habilidade dentro d’água.
Figura 10. (a) Lontra (Lontra longicaudis), em armadilha fotográfica (FOTO: Carlos Be-
nhur Kasper); (b) pegada de Lontra (a barra em preto corresponde a 10cm) (FOTO:
Stefan Vilges de Oliveira).
Figura 11. (a) latrina e fezes de Lontra e (b) muco fecal (a barra corresponde a 5cm) (FO-
TOS: Stefan Vilges de Oliveira).
a b
b ca
53. Figura 11. fezes de lontra (a barra cor-
responde a 10cm) (FOTO: Stefan Vilges de
Oliveira).
Na época de reprodução as
Lontras emitem gritos caracte-
rísticos, durante brincadeiras pré
copulatórias (SILVA, 1994; MAME-
DE & ALHO, 2008). É uma espécie
ameaçada de extinção no Estado,
estando classificado na caterogia
“vulnerável” (FONTANA et al.,
2003).
Gato-do-mato-grande (Leopardus geoffroyi), é um felino de porte peque-
no, apresentando da cabeça e corpo de 58cm, com a cauda de com 32cm
aproximadamente, a coloração de fundo é cinza amarelada (Figura 12),
sendo mais escuras no dorso e quase branca nas parte inferior. As man-
chas são pequenas e numerosas, maiores dorsalmente do que nos lados
do corpo, podendo estar reunidas duas a duas.
Há faixas pretas transversais, nos membros, que são nítidas e nor-
malmente, sem interrupções.
Em cima dos olhos, notam-se linhas escuras que sobem pelo alto da cabe-
ça, chegando até a nuca, no peito e na garganta linhas escuras, alguns
animais podem ser melânicos. É encontrado da Bolívia ao extremo sul do
continente. No Brasil só apresenta registro no sul do Rio Grande do Sul, é
mais encontrada nos capões e matas de galeria, em regiões de campos e
também em morros cobertos de mata.
Anda no solo mais consegue trepar com muita facilidade em árvo-
res. Sua alimentação é predominante de pequenos roedores e pequenas
aves (SILVA, 1994; OLIVEIRA & CASSARO, 2006). É uma espécie ameaçada
de extinção no Estado, estando classificado na caterogia “vulnerável”
(FONTANA et al., 2003).
54. Figura 12. (a) Gato-do-mato-grande (L. geoffroyi) em armadilha fotográfica (FOTO: Lu-
iz L. C. Corrêa); (b) pegada de Gato-do-mato-grande em areia (FOTO: Stefan Vilges de
Oliveira)
Capivara (Hydrochaeris hydrochoerus), possui o corpo compacto, pernas
relativamente curtas, sem cauda, a coloração é marrom, com tons de
avermelhado sendo inferiormente, cinza-amareladas (Figura 13), os pelos
são grossos e ásperos e a pelagem densa, a cabeça é grande, com orelhas
e olhos localizados bem no alto, o que facilita a permanência dentro
d’água, o focinho é alto e obtuso, os pés anteriores tem quatro dedos e os
posteriores três, todos com unhas grossas, sendo que os dedos são unidos
por uma membrana, são de hábitos diurnos e noturnos.
São roedores de comportamento lento e pacífico, incapazes de
atacar outros animais, sua alimentação é herbívora, gramínea, vegetação
aquáticas entre outras vegetais, as ninhadas são de quatro a seis filhotes
podendo chegar até a oito (SILVA, 1994; MAMEDE & ALHO, 2008).
a b
55. Figura 13. (a) Capivara (H. hydrochoerus) em armadilha fotográfica (Foto: Luiz L. C.
Corrêa); (b) pegada em areia de Capivara (a barra corresponde a 10cm) (FOTO: Darlia-
ne E. Silva).
Ratão-do-banhado (Myocastor coypus), um roedor grande muito parecido
com um rato (Figura 14), cor geral marrom avermelhada escura, por cima
do corpo e amarela clara, ventralmente, forma alongada, cabeça de tama-
nho proporcional ao corpo, orelhas pequenas e arredondadas, focinho
com bigodes longo, dentes incisivos grandes e amarelos.
Figura 14. Ratão-do-banhado (Myocastor coypus), grupo com filhotes (Foto:
Luiz L. C. Corrêa).
a b
56. A pele é recoberta com pelos compridos, e uma camada densa mais
fina e macia, que lhe da proteção dentro d’água, dedos com membranas
interdigitais, dedos providos de unhas fortes. A cauda é grossa e mais cur-
ta que o corpo, revestidas por escamas e pelos escassos, tem hábitos no-
turnos e diurnos, vivem em banhados ou taipas, escavando tocas de refú-
gio e ninho. É altamente adaptada a vida aquática. Sua alimentação é her-
bívora, alimentam-se tanto na água como na terra, a fêmea tem geral-
mente dois a quatro filhotes, mas as ninhadas podem ser bem maiores
(SILVA, 1994; ACHAVAL et al., 2007).
Preá (Cavia aperea), roedor comum nos campos abertos e de ampla dis-
tribuição, sua coloração geral é acinzentada, com tons de marrom, sendo
as partes inferiores de cor branca-amarelada, o corpo longo com membros
curtos permite-lhe andar rente ao chão, os pés anteriores possuem quatro
dedos e os posteriores, três, todos com longas unhas, fortes e cortante, a
cabeça é proporcional ao tamanho do corpo, as orelhas são pequenas e a
cauda é ausente, tem hábitos noturnos e diurnos, constroem suas tocas
na vegetação, cavando túneis de 8 a 12cm. Sua alimentação é herbívora, a
fêmea gera de um a dois filhotes, podendo ter até duas ninhadas por ano
(SILVA, 1994; ACHAVAL et al., 2007).
Lebre-européia (Lepus europaeus), possui orelhas e pernas compridas, de
cor geral cinza amarronzada nas partes superiores e inferiores mais claras
(Figura 15), a cauda é facilmente visível, membros anteriores curtos e pos-
teriores largos.
Figura 15. (a) Lebre-européia (Lepus europaeus) (Foto: Darliane E. Silva); (b) pegada de
Lebre (a barra em preto coresponde a 10cm) (Foto: Stefan Vilges de Oliveira)
a
b
57. As Lebres vivem em campos cerrados e lavouras, de hábito geralmen-
te noturno ou crepuscular mas pode, com alguma facilidade, ser vista ali-
mentando-se durante o dia.
Sua alimentação é exclusivamente herbívora, a fêmea tem até três fi-
lhotes e ela reproduz uma vez por ano, seus filhotes nascem aptos para
caminha no primeiro dia, para refugiar-se, não cava ou escava tocas, se
esconde sobre capins ou outros vegetais é uma espécie exótica no Rio
Grande do Sul (Silva, 1994; Achaval et al., 2007) que talvez tenha chegado
ao Estado após as ligações por pontes com países como o Uruguai e Ar-
gentina, para onde foram trazidos da Europa (SILVA, 1994).
Agradecimentos dos autores
A Carlos Benhur Kasper por ceder uma fotografia de Lontra, a Luiz Liberado Costa Corrêa e
Stefan Vilges de Oliveira, pela cedência de diversas fotografias que ilustram este capítulo e
pelas importantes revisões no texto.
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60. Levantamento preliminar da diversidade de
peixes dos Arroios Ribeiro e Capivaras,
em Barra do Ribeiro, RS
Débora Tatiane Borges Motta
12
Luciano Moura de Mello 13
Os Arroios Capivaras e Ribeiro, que
cortam o município de Barra do
Ribeiro, são importantes recursos
hídricos que se adicionam ao com-
plexo do Guaíba.
O desconhecimento sobre
a diversidade de peixes nestes dois
arroios da região constitui um
importante aspecto negativo para
o estabelecimento de medidas de
conservação daqueles ambientes naturais.
Os peixes regulam e ao mesmo tempo abastecem as delicadas ca-
deias alimentares em ambientes aquáticos, com muitas espécies atuando
como bons indicadores de qualidade ambiental destes recursos além de
operar como importante fonte de renda e subsistência de famílias que
habitam as regiões marginais.
Um dos grandes desafios da ictiologia é a caracterização da diver-
sidade, as dinâmicas populacionais e a identificação dos grupos funcionais
nos ambientes estudados, sendo que várias espécies, em especial as de
porte pequeno, são praticamente desconhecidas, tanto no ponto de vista
taxonômico, quanto de suas características ecológicas e biológicas. Este
trabalho tem o objetivo de dar o primeiro passo no conhecimento ictioló-
gico que pode permitir melhor entendimento do ecossistema, manejo e
exploração sustentada do meio ambiente.
12
Bióloga, URCAMP, Campus Bagé. Email: deborabmotta@hotmail.com
13
Biólogo, MSc, Doutorando (FAEM/UFPEL).
Email: luciano_moura_biologia@yahoo.com.br
Capítulo
5
61. Muitas espécies utilizam os pequenos cursos de água para procriar
e realizar inteiramente seu ciclo de vida, outras espécies ainda mantêm
ciclos mistos em diferentes ambientes, o que pode tornar ainda mais
complexo o entendimento de suas relações com os ambientes.
O tema é especialmente importante tendo em vista a existência
de comunidades de pescadores no município, que dependem da pesca
para a subsistência de suas famílias, assim, a equipe de trabalho aborda o
assunto sob o aspecto ecológico mas com o entendimento da relevância
deste grupo de animais para as comunidades locais.
METODOLOGIA
O trabalho com a ictiofauna local está dividido em três módulos: o
primeiro voltado para os inventários de diversidade em pontos seleciona-
dos para a amostragem no Arroio Ribeiro e Capivaras. O segundo módulo
será voltado à dinâmica de populações, dietas alimentares, relações eco-
lógicas e a identificação de grupos funcionais nestes mesmos pontos de
amostragem. O terceiro módulo deve estender todos os objetivos anterio-
res aos arroios Araçá e Petim (Quadro 1).
Figura 1. Detalhe de cauda e cabeça de Oligosarcus robustus (Menezes, 1969), Tambi-
ca, capturado em Dez 11 (FOTO: Luciano Moura de Mello).
Para a coleta de dados foi utilizado um bote inflável a motor de
3.3 Hp. Foram realizadas coletas qualitativas com o auxílio de redes de
62. espera, puçás e informações obtidas dos resultados de pesca de morado-
res locais, que usaram caniços, redes e linhas de pesca.
A pesquisa de campo será apoiada pela pesquisa social realizada
por equipe específica na segunda fase do trabalho, que tem o objetivo de
coletar dados sobre a frequência de pesca, espécies coletadas e tipo de
manejo de pesca realizada pela população ribeirinha.
Para as coletas de dados foram empregadas redes de malha de
1,5; 3; 4; 5 e 6cm (distância entre nós opostos). As redes utilizadas possuí-
am comprimentos de 5m (malhas 1,5 cm), 10m (3 e 4 cm) e 30m (5 e 6
cm) com alturas variando de 1,5 a 1,8m.
Quadro 1. Quadro de distribuição dos pontos de amostragens14
, período
dos trabalhos e número de expedições realizadas.
Arroio Capivaras Arroio Ribeiro
PA
Período
EX PA
Período
EX
IN FIM IN FIM
Módulo I
P1
P2
P3
Jul 11 Jan 12 6
P4
P5
P6
Jul 11 Jan 12 6
Módulo II
P1
P2
P3
Jun 12 Jun 13 12
P4
P5
P6
Jun 12 Jun 13 12
Módulo III - - - - - - - -
Arroio Araçá Arroio Petim
PA
Período
EX PA
Período
EX
IN FIM IN FIM
Módulo I - - - - - - - -
Módulo II - - - - - - - -
Módulo III
P7
P8
P9
Mar 13 Mar 14 12
P10
P11
P12
Mar 13 Mar 14 12
Legenda: PA (pontos de amostragem), IN (Início), Fim (FIM), EX (número de expe-
dições realizadas).
14
As coordenadas geográficas dos pontos de amostragem são apresentadas em mapa
específico (Figura 04).
63. Em cada coleta, as redes de tamanho de malha diferentes, foram
“armadas” com um período de espera de aproximadamente 4 horas.
Complementando as amostragens com os puçás, um confeccionado com
tela fina de 2 mm e o outro com rede de 10mm para a amostragem de
animais de superfície e de regiões de baixa profundidade.
Os exemplares foram coletados, identificados a campo, fotografa-
dos, medidos e devolvidos aos ambientes originais, exceto amostras de
exemplares que foram preservados em formalina a 10% e depois de iden-
tificados para depósito, sendo preservados em álcool a 70%.
Os exemplares em depósito encontram-se no Laboratório de Bio-
logia da Universidade da Região da Campanha, Campus de Bagé, RS.
RESULTADOS E DISCUSSÕES
Foram coletadas e identificadas 24 espécies pertencentes a 13
Famílias em 5 Ordens.
A análise preliminar da composição da ictiofauna mostrou ocor-
rência das ordens Siluriformes (Auchenipteridae, Callichthyidae, Heptapte-
ridae, Loricariidae e Pimelodidae), Characiformes (Anostomidae, Characi-
dae, Curimatidae, Erythrinidae e Prochilodontidae), Perciformes (Cichli-
dae), Atheriniformes (Atherinopsidae) e Gymnotiformes (Gymnotidae). A
maior parte das espécies foi coletada com redes de espera, seguidas das
coletas com puçás.
Tabela 1. Lista preliminar da diversidade de peixes nos Arroios Capivaras e
Ribeiro (Ambientes: AR, Arroio Ribeiro; AC: Arroio Capivaras)
Família Espécie Nome Popular Ambiente
Anostomidae
Leporinus obtusidens
(Valenciennes, 1837)
Piava AR, AC
Schizodon jacuiensis
(Bergmann, 1988)
Voga AR, AC
Atherinopsidae
Odontesthes aff. perugiae
(Evermann & Kendall, 1906)
Peixe-rei AR (foz)
Auchenipteridae
Trachelyopterus lucenai
(Bertoletti, Pezzi da Silva &
Pereira, 1995)
Porrudo AR
Callichthyidae
Corydoras paleatus
(Jenyns, 1842)
Cascudinho AR (foz)
64. Hoplosternum littorale
(Hancock, 1828)
Tamboatá AR
Characidae
Astyanax fasciatus
(Cuvier, 1819)
Lambari-do-
rabo-vermelho
AR, AC
Astyanax jacuhiensis
(Cope, 1894)
Lambari-do-
rabo-amarelo
AR, AC
Astyanax sp. Lambari AR
Cichlidae
Oligosarcus jenynsii
(Günther, 1864)
Tambica AR, AC
Oligosarcus robustus
(Menezes, 1969)
Tambica AR, AC
Crenicichla lepidota
(Heckel, 1840)
Joaninha AR, AC
Crenicichla punctata
(Hensel, 1870)
Joaninha AR, AC
Geophagus brasiliensis
(Quoy & Gaimard, 1824)
Cará AR, AC
Curimatidae
Cyphocharax voga
(Hensel, 1870)
Biru AR, AC
Erythrinidae
Hoplias malabaricus
(Bloch, 1794)
Traíra AR, AC
Gymnotidae
Gymnotus carapo
(Linnaeys, 1758)
Tuvira AC
Heptapteridae
Pimelodella australis
(Eigenmann, 1917)
Rhamdia quelen
(Quoy & Gaimard)
Bagre
Jundiá
AR, AC
AR, AC
Loricariidae
Hypostomus commersoni
(Valenciennes, 1836)
Cascudo AR, AC
Loricariichthys anus
(Valenciennes, 1836)
Cascudo-viola AC
Pimelodidae
Parapilelodus nigribarbis
(Boulenger, 1889)
Mandi AR, AC
Pimelodus maculatus
(Lacepède, 1803)
Pintado AR, AC
Prochilodontidae
Prochilodus lineatus (Valen-
ciennes, 1837)
Grumatã AR, AC
65. Figura 02 (conjunto). Espécies identificadas na região. 01 e 02. Odontesthes aff. perugiae
(Peixe-rei); 03. Astyanax fasciatus (Lambari-do-rabo-vermelho); 04 e 05. Loricariichthys
anus (Viola), vista dorsal, detalhe da região inferior e detalhe da cabeça, respectivamente
(figura 06 na próxima página).
02 0201
03
04 05
67. Figura 03 (Conjunto). 11 e 12. Hypostomus commersoni (cascudo); 13. Pimelodus ma-
culatus (Pintado), detalhe da cabeça. 14. Pimelodus maculatus (Pintado); 15. Hoplias
malabaricus (Traíra) (FOTOS: Débora T. B.Motta, exceto nº 01, 02 e 08, de Luciano
Moura de Mello).
11 12
2
13
15
2
14
2
68. Figura 03 (Conjunto, continuação). 16. e 17 Trachelyopterus lucenai (Porrudo), vista
dorsal e detalhe; 18. Oligosarcus robustus (Tambica); 19. Crenicichla lepidota (Joaninha)
(FOTOS: Débora T. B.Motta).
16 17
2
18
19
69. Foi ainda realizado o levantamento bibliográfico da dieta alimen-
tar das espécies identificadas com o intuito de amparar os estudos futuros
sobre a dinâmica das comunidades de peixes nos ambientes estudados
(Gráfico 01).
Gráfico 01: Distribuição percentual das espécies de peixes registradas na
área de estudo, por guildas alimentares.
A seleção dos pontos de amostragem considerou: a facilidade de
acesso, a diversidade de ambientes (características de margens, profundi-
dade, cobertura vegetal) e a possibilidade de uso dos materiais de coleta
disponíveis.
Estes pontos estão apresentados na Figura 04. e contém as coor-
denadas geográficas obtidas por equipamento de GPS. Não estão apresen-
tados os pontos no mapa em que foram coletadas as informações que
tiveram como fonte de dados os pescadores. Estes foram contactados
diretamente durante atividade de pesca nos arroios, nesta fase do estudo.
70. Quadro de dados sintéticos sobre dimensões (médias) e dieta alimentar
das espécies de peixes identificadas:
Leporinus obtusidens Piava
Alimentação: onívoro (insetos, restos de peixes e vegetais).
Tamanho: 76 cm
Referência: ZANIBONI FILHO et al., 2004.
Schizodon jacuiensis Voga
Alimentação: iliófagos15
. São de grande importância na cadeia alimentar
por serem indivíduos que vivem em geral, no fundo, auxiliando na recicla-
gem de nutrientes e servindo de alimento para peixes carnívoros.
Tamanho: 25 cm
Referência: OYAKAWA, 1998.
Odontesthes aff. perugiae Peixe-rei
Alimentação: onívoro, com preferência por organismos planctônicos.
Tamanho: 36 cm
Referência: BOSCHI & FUSTER DE PLAZA, 1959.
Trachelyopterus lucenai Porrudo
Alimentação: onívoras, alimentando-se preferencialmente de insetos,
crustáceos e pequenos peixes.
Tamanho: 16,5 cm
Referência: BECKER, 2007; MORESCO & BEMVENUTI, 2005.
Corydoras paleatus Cascudinho
Alimentação: onívoros.
Tamanho: 5,9 cm
Referência: REIS, 2003
Hoplosternum littorale Tamboatá
Alimentação: bentófaga
Tamanho: 24 cm
Referência: MEUNIER et al., 2002
15
Iliófagos são animais que alimentam de materiais orgânicos encontrados no lodo dos
corpos d’água, rios, lagos, barragens, etc.
71. Rhamdia quelen Jundiá
Alimentação: onívoro (GOMES et al., 2000)
Tamanho: 47,4 cm
Referência: ZANIBONI FILHO et al., 2004.
Astyanax fasciatus Lambari-do-rabo-vermelho
Alimentação: insetos e plantas (LIMA et al., 1995).
Tamanho: 16,8 cm
Referência: ZANIBONI FILHO et al., 2004.
Astyanax jacuhiensis Lambari-do-rabo-amarelo
Alimentação: Alimenta-se de insetos e plantas
Tamanho: 13,8 cm
Referência: LIMA et al., 1995.
Astyanax sp. Lambari
Alimentação: Alimenta-se de insetos e plantas
Tamanho: 16 cm
Referência: LIMA et al., 1995.
Oligosarcus jenynsii Tambica
Alimentação: carnívora, preferindo peixes pequenos, crustáceos e larvas
de insetos.
Tamanho: 22,8 cm
Referência: MENEZES 1969; KOCK et al., 2000.
Oligosarcus robustus Tambica
Alimentação: Provavelmente onívoros, alimentando preferencialmente de
peixes (BRISTKI, 1970).
Tamanho: 15 cm
Referência: MENEZES 1969; KOCK et al., 2000.
Crenicichla lepidota Joaninha
Alimentação: insetos, poliquetas e peixes.
Tamanho: 20 cm
Referência: SANTOS 1987; KOCK et al., 2000.
72. Crenicichla punctata Joaninha
Alimentação: alimenta-se de peixes, insetos, crustáceos, girinos ou peque-
nas rãs ou sapos.
Tamanho: 23,3 cm
Referência: KULLANDER, 2003.
Cyphocharax voga Biru
Alimentação: iliófagos ¹4
Tamanho: 19,6 cm
Referência: VARI, 1992
Hypostomus commersoni Cascudo
Alimentação: iliófagos
Tamanho: 60,5 cm
Referência: ZANIBONI FILHO et al., 2004.
Hoplias malabaricus Traíra
Alimentação: Na fase larval é planctófaga (PAIVA, 1974). Os indivíduos
jovens são insetívoros enquanto que os adultos são ictiófagos (MORAES &
BARBOLA, 1995). Apresentam grande resistência a períodos de jejum
(PAIVA, 1974)
Tamanho: 26 cm.
Referência: BARBIERI, 1989
Geophagus brasiliensis Cará
Alimentação: bentófagos e iliófagos (MAGALHÃES, 1931), gastrópodos
(COSTA & MAZZONI, 1997), microcrustáceos, larvas de insetos, algas e
detritos vegetais (HAHN et al., 1997).
Tamanho: 24,5 cm
Referência: BARBIERI, 1974
Prochilodus lineatus Grumatã
Alimentação: iliófagos
Tamanho: 80 cm
Referência: ZANIBONI FILHO et al., 2004.
73. Gymnotus carapo Tuvira
Alimentação: carnívoros, principalmente insetos e crustáceos
Tamanho: 42 cm
Referência: PEREIRA & RESENDE, 2006
Pimelodella australis Bagre
Alimentação: iliófagos.
Tamanho: 10,6 cm
Referência: BOCKMANN & GUAZZELLI, 2003
Loricariichthys anus Viola
Alimentação: pequenos peixes, moluscos, crustáceos e insetos
Tamanho: 46 cm
Referência: FERRARIS, 2003.
Parapilelodus nigribarbis Mandi
Alimentação: onívoro
Tamanho: 18,6 cm
Referência: LUCENA et al., 1992
Pimelodus maculatus Pintado
Alimentação: onívoro (BASILE-MARTINS,1986).
Tamanho: 36 cm
Referência: FENERICH et al., 1975
Figura 05 (conjunto): Imagens do trabalho. (a) Equipe percorrendo as áreas de estudo no
Arroio Capivaras. (b) Geophagus capturado parcialmente predado na rede de coleta, possi-
velmente por Lontras.
a b
74. Figura 04: Mapa de localização georreferenciada dos pontos de coletas de dados. FONTE
DE IMAGEM: Google Earth®, acesso em 05 de maio de 2012.
Agradecimentos dos autores
À Vinícius Brasil do Amaral, Marjorie Knippling do Amaral e ao Sr Cláudio Wilfing, pelas
carinhosas recepções, pela motivação, pelo suporte, material e logística para que este
trabalho pudesse ser concluído. À Pâmela Mugica, Leonardo Pompéu de Moraes e Ricardo
Lemos, pelo apoio durante as atividades de campo, muito obrigado.
Figura 06 (conjunto): Imagens do trabalho. (a) e (b) Área de pesca amadora em trapiche,
na foz do arroio Ribeiro (FOTOS: Débora T. B. Motta)
a b
a
75. Bibliografia
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tora da UFSC. 2004.
78. Florística e ecologia de Orchidaceae e
exemplares de Bromeliaceae
em Barra do Ribeiro
Clodoaldo Leites Pinheiro
16
A importância ecológica
do epifitismo nas comunidades
florestais consiste na manuten-
ção da diversidade biológica e
no equilíbrio dinâmico interati-
vo nos distintos ecossistemas
(WAECHTER, 1996). Orchidace-
ae possui origem filogenética17
recente, de grande diversidade
na região neotropical, que as
tornam relevantes no que tange
a estudos ecológicos (CARDIM et al., 2001). Em função das características
fisiológicas as epífitas podem ser utilizadas em estudos de processos eco-
lógicos que indiquem padrões de interferência antrópica ou distúrbios de
ordem natural no ambiente (VAN DEN BERG, 1996).
A despeito do relevante papel ecológico das orquídeas, o número
de indivíduos de cada população nos remanescentes da Mata Atlântica
tem declinado nos últimos anos, especialmente em função da devastação
das áreas preservadas e sua conversão em áreas de cultivo agrícola e da
coleta desenfreada das plantas para fins ornamentais e comerciais (WAR-
REM, 1996; FARIA e RIBEIRO, 2000). Neste contexto, o conhecimento da
diversidade taxonômica e ecológica contribui para o direcionamento de
estratégias de conservação e uso racional de recursos naturais.
Para o estudo de florística e ecologia de Orchidaceae foram utili-
zados duas metodologias. A primeira destinou-se a caracterização a diver-
sidade horizontal de comunidades de orquídeas e a segunda a diversidade
16
Tecn. Fruticultura (UERGS). MSc. Doutorando (Botânica/UFRGS).
Email: clodoaldo-pinheiro@hotmail.com
17
Abordagem da ciência que classifica espécies de acordo com sua história evolutiva.
Capítulo
6
79. vertical. Os objetivos básicos destas metodologias são uma rápida análise
de diversidade taxonômica e funcional. Assim, foi possível formular algu-
mas hipóteses a respeito da interferência do ambiente sobre a distribui-
ção e presença de espécies de orquídeas em um fragmento de mata se-
cundária.
Para a coleta de dados de densidade populacional e freqüência de
Orchidaceae foi adotado a metodologia de quadrantes contíguos (diversi-
dade horizontal). Foi utilizado um transecto18
em uma área de 3,2 hectares
dividida em 32 blocos de 10m x 100m. A contagem de orquídeas foi feita
considerando o campo de visão do pesquisador, contabilizando as orquí-
deas de cada bloco durante o transecto.
A partir do levantamento florístico foram calculados: (1) valores para
densidade absoluta (DA) pela relação entre número total de um determi-
nado indivíduo e a área de estudo (3,2 ha); (2) densidade relativa (DR)
considerando o percentual da relação entre DA e o somatório das DA de
todas as outras espécies de orquídeas; e (3) freqüência, calculada a partir
do percentual da relação de quadrantes em que a espécie se faz presente
pelo somatório de quadrantes (ANJOS-SILVA, 2000).
A diversidade vertical (Figura 01) foi avaliada através da obtenção
de dados de dominância relativa, frequência absoluta sob forófitos e im-
portância epifítica de plantas da família Orchidaceae em diferentes zonas
ecológicas do forófito19
(KERSTEN, 2006).
Legenda:
VIE = valor de importância epifítico
DoR = dominância relativa
FfR = freqüência relativa sobre os forófitos
DoA = dominância absoluta (soma das notas de cada espécie)
FfA = frequencia absoluta sobre os forófitos (=percentual de ocupação)
nfe = número de forófitos que abrigam a espécie epifítica
ntf = número total de forófitos
18
Método de contagem de organismos de uma determinada faixa de terreno.
19
Forófito: árvore que serve de suporte para epífitos.
80. Figura 01: Fórmulas para cálculos da diversidade vertical. O desenho representa o modelo
utilizado para divisão de zonas ecológicas do forófito.
Dentro da área de estudo, 50 árvores foram selecionadas aleatori-
amente e foram divididas em zonas ecológicas (Figura 01): (A) fuste baixo
(do solo até a altura de 1,3m), (B) fuste alto (galhos internos acima da
altura do fuste baixo) e (C) copa (ramos externos expostos a maior insola-
ção). Esta divisão é indicada quando os forófitos19
são árvores de até 4m
de altura (BRAUN-BLANQUET, 1979).
A abundância foi quantificada a partir da média entre o critério
que considera a dominância e biomassa da espécie epifítica, sendo adota-
da pontuação para dominância absoluta: 1 para indivíduos isolados, 2 para
pequenos grupos, 3 para grandes grupos, 4 para grandes massas e 5 para
população contínua; e pontuação para biomassa: 1 para indivíduos peque-
nos, 2 indivíduos médios e 3 indivíduos grandes (KERSTEN, 2006).
O valor de importância epifítica (VIE) foi obtido a partir da média
aritmética dos valores relativos de cada espécie para pontuar a represen-
tatividade deste na comunidade epifítica a qual faz parte (MATTEUCCI e
COLMA, 1982).
A área de estudo, nesta fase, compreende a fisionomia de mata às
margens do Guaíba junto à foz do Arroio Ribeiro.