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MÚSICA .FILME .HQ .SHOWAno 4 nº 24 João Pessoa, dezembro 2014
Distribuiçãogratuita
Qual o sentido de tudo isso? Diversão garantida? Tocar guitarra no mais alto volume? Colocar as neuroses pra fora? Dedo na
ferida? Pode ser tudo ou nada disso. Mas o que não se nega é que Leandro, Fabio e Douglas são narradores do cotidiano, trans-
formando as mazelas vivenciadas em música. O fio condutor da narração desses jovens não poderia ser outro, senão o hardcore.
Sonoridade que, mesmo tendo alguns tentáculos na grande mídia, incomoda e sempre irá incomodar, porque ainda continua à
margem, funcionando muito bem, para quem sabe usá-la de forma simples e direta. No recém lançado CD Jovens Mortos não
Fazem e não Contam Histórias, os três jovens, que estão muito vivos, contam ao Microfonia algumas histórias. Vamos a elas?
trumental está mais direto. Essa é a grande diferença!
Por que esse título, Jovens Mortos?
Douglas – O título completo é Jovens Mortos Não
Fazem e Não Contam Histórias. Eu escrevi essa letra
porque eu vejo que tem muito conformismo, uma apa-
tia tremenda. Antes as pessoas estavam mais ativas,
hoje me dia deu uma caída, então surgiu a ideia da letra.
As outras letras giram em torno desse mesmo tema?
Douglas – Não, não é um álbum temático. A
gente nunca pensou em fazer um álbum temático.
É só você que escreve as letras?
Douglas – Todos. A gente chega com ide-
ias e daí se acrescenta ou lima alguma coisa.
Fábio – Tanto na letra como no instrumen-
tal, a gente vai complementando a ideia de
quem trouxe, até chegar num resultado satis-
fatório pra banda e tem funcionado muito bem.
O que vocês estão escutando atualmente?
Douglas – Eu gosto de música pra caramba,
então não me limito. Apesar de gostar muito de
punk/hardcore, gosto de escutar outras coisas.
Fábio – Vou do metal extremo ao rap nacional, punk
mais antigo, mas o que tenho mais escutado são as
produções que estão sendo feitas no meu estúdio.
Leandro – Estou escutando Luiz Gonzaga e Olho Seco
Quais produções você destaca do seu estúdio?
Fábio – Acho que o Agaglock, aqui de São Paulo.
Gostei demais, tem uma temática de rap nacional. É
pesado, mas ao mesmo tempo não é muito sujo, nem
muito berrado, gostei de fazer. Tem um trabalho que
estou gostando muito de fazer no momento, é da outra
banda do Douglas, chamada Massacre em Alphaville.
Cruel Face que foi bem legal de fazer por ser uma
gravação ao vivo. Eu tinha muito preconceito com
gravação ao vivo, mas essa experiência mudou tudo!
Quais foram os obstáculos que vocês
enfretaram ou ainda enfrentam?
Em 2013, o Microfonia, assistiu Ódio Social
como um trio, no Cidadão do Mundo, junto com
Periferia S/A. Qual foi o momento que vocês
se consolidaram como trio? Foi nesse show?
Douglas – Foi natural. Houve uma saída de um in-
tegrante e foi só uma questão de adaptação porque
como trio ia funcionar do mesmo jeito. Só mu-
dou o pensamento. Hoje a gente pensa com uni-
dade. Naquele show, já deu pra gente perceber que
dava pra levar. Era só uma questão de tempo e en-
saio. A partir do momento em que o antigo inte-
grante saiu, já éramos um trio. Não tinha porque fi-
car pensando em alguém pra substituir. E acho que
essa formação irá funcionar por um bom tempo.
Fábio – Antes disso, éramos um quin-
teto, então, foi a mesma adaptação.
Teve uma lavagem pública de rou-
pa suja com a saída do integrante. Ban-
das passam por isso... Como ficou o pós?
Fábio – A gente não trombou com ele depois disso.
Nenhum contato. A gente seguiu com nosso trabalho.
Estamos tranquilos e acredito que vai continuar assim.
Essa foi a formação que gravou Jovens
Mortos? Quando começou a ser pensado?
Fábio – Acho que em outubro do ano passado, 60%
das músicas do disco já estavam prontas, mas com
a mudança, a gente acabou tendo que readaptar.
Principalmente por conta da guitarra. Não foi pre-
ciso refazer as músicas, mas mudaram um pouco.
Qual a diferença de Jovens Mortos para o CD an-
terior?
Fábio – a grande diferença é que o CD vai chegar em
lugares que a gente não conseguiria alcançar, pois o
Jeff da Redstar tem contatos diferentes do que a gente
tem. Nem melhor, nem pior, mas pelo fato de chegar
em lugares diferentes. Não acho ruim lançar material
independente, tem tamnto vantagens como desvanta-
gens em ambos os casos. Como a gente não tinha ne-
nhum material lançado por um selo mais consolidado
na cena, acho que vai ser mais interessante por isso,
por alcançar um publico que não alcançaríamos por
conta própria.
Douglas – Não só a Redstar, mas também a Svoboda
Records, da França, tá dando um suporte pra gente.
Sonoramente, qual a diferença desse trabalho para
os anteriores?
Douglas – a diferença é que antes a gente tinha duas
guitarras, dava para trabalhar mais. Hoje em dia é
mais paulada.
Fábio – O som está mais direto. O que mudou foi jus-
tamente a segunda guitarra. Agora são três vocais, an-
tes eram só dois. Não sei dizer se está melhor ou pior,
mais trabalhado ou menos trabalhado, na questão ins-
Ódio Social - Jovens vivos contam histórias
Foto:OlgaCosta
MICROFONIA2
EXPEDIENTE
Editores:
Adriano Stevenson (DRT - 3401)
Olga Costa (DRT - 60/85)
Colaboradores: Beto L./Gabriela Gelain/Henrique
Magalhães
Fotos/Editoração:Olga Costa
Ilustração:Josival Fonseca
Revisão: Juliene Paiva Osias
E-mail:jornalmicrofonia@gmail.com
Facebook.com/jornalmicrofonia
Twitter:@jmicrofonia
Tiragem:5.000 exemplares
Todos os textos dos nossos colaboradores são as-
sinados e não necessariamente refletem a opinião
da redação.
Leandro – Todos os obstáculos. Nós três nos conhe-
cemos numa época que todo mundo corria atrás de
show. Aqui sempre foi fechado e é uma dificuldade
até hoje. O Ódio Social começou em 2000. São qua-
torze anos de carreira. Teve muita gente que ajudou
a gente, como o pessoal de uma banda chamada
Rrrraict Tuff, que sempre chamava pra tocar quando
tinha show. Até instrumento era muito difícil, tudo
muito tosco, podrão, mas tudo isso amadureceu a
banda. Depois que conhecemos Jeferson e Mar-
cos do Agrotóxico, tivemos uma chance um pouco
maior, porque a partir daí abriram-se portas para
festivais, como o Punk na Páscoa, depois veio CD
o Four Way Split, o Fábio foi se especializar em
gravar. O sonho em comum da banda era ter um
trabalho lançado em vinil, corremos atrás e con-
seguimos lançar o nosso primeiro EP e isso abriu
um leque enorme, triplicou o interesse pelo OS, na
França, Bélgica, Suécia e até os Estados Unidos tam-
bém, que era um lugar super fechado. E agora com
esse novo trabalho, só pegando a deixa do Fábio e
Douglas que já comentaram, para mim é o tra-
balho mais consistente e o melhor nas letras, musi-
calidade e gravação. Acho que é um marco na nossa
trajetória como banda, um start para produções me-
lhores, mais coisas boas. Depois que a gente lançou
o EP em vinil, várias bandas também lançaram em
seguida. Assim, pretensão nenhum da gente ter in-
fluenciado essa galera, mas teve uma contribuição,
um incentivo pro pessoal correr atrás e tentar lançar.
Fábio – Reinterando o que foi falado,
se você correr atrás, nada é impossível!
Qual foi a grande roubada que o OS já passou?
Fábio – Nada como a experiência, não é? Hoje
em dia conseguimos sacar quando vai dar mer-
da, bem antes! E é mais ligeiro driblar a roubada.
E quando vocês chegam em um lugar esperando
um público legal e tem só uma galera escassa?
Douglas – Eu nunca me liguei nisso. Ten-
do um lugar pra tocar, rolando o show, a
gente vai querer fazer o barulho o mais fu-
dido possível para a galera que está curtindo.
Fábio – Cinco ou cinco mil a gente vai fazer
o mesmo show, mas já tocamos em show que
foram dez pessoas e a gente mantém contato até
hoje. Então, isso não influi, mas queríamos que
tivesse uma cena mais forte em todos os eventos.
Qual banda que você gostaria de tra-
balhar no seu estúdio e não fez ainda?
Fábio – Nunca pensei a respeito disso, mas se-
ria bem legal gravar Ratos de Porão, Sepultura,
Slayer (risos). É só me chamar pelo facebook (risos).
Um famoso produtor britânico disse certa vez:
“o produtor tem que ser amigo da banda”...
Douglas – Quando fui gravar no estúdio
do Fábio, ele tirou um oitão da cintura e fa-
lou: grava! Daí eu gravei sossegado (risos).
É o Phil Ramone! Bom aluno! (risos)
Fábio – Funciona, viu? Produtores do mundo! (risos)
Qual música do CD novo, Jovens Mor-
tos Não Fazem e Não Contam Histórias,
que deu mais trabalho para finalizar?
Fábio –Agente gravou tudo separado.Aexecução do
instrumental estava tudo certinho. Só uma que a ba-
teria ainda não estava definida e uma letra que eu fiz
na hora de gravar! (risos). Como a maioria das músi-
cas do disco já estavam compostas, mesmo com as
mudanças ao longo do tempo, houve poucos ajustes.
Vocês compõem a quantidade certa de
músicas que vão entrar no CD ou fazem a
mais e escolhem depois quais irão entrar?
Fábio – Só teve uma sobra, que a gente vai usar
como bônus. Eu quero muito gravar essa músi-
ca, que é Honra ao Mérito. É uma música an-
tiga, de uma formação ainda mais antiga da
banda. A gente teve a preocupação com o tempo
de adio, não necessariamente com a quantidade
de músicas, pensando nos dois lados do vinil.
Qual foi o melhor rolê de vocês já como trio?
Fábio – Pra mim foi no Sinfonoise em Belo Hori-
zonte. Tanto pela figura do Cleuber Tosco, como pelo
role em si. A formação como trio ainda era muito
recente. Foi começo de novembro do ano passado.
EDITORIAL
Fechando o ano de 2014 com saldo na conta.
Não financeiro e sim nas novas parcerias:
leia-se Fred do Não Conformismo assinando
a coluna Alta Fidelidade, que fala de vinil e
lojas, Gabriela Gelain dissecando zines de
todo canto do mundo na coluna Nunca Te Vi,
Sempre Te Amei. No Amor à Queima-Roupa
a Camila de Henrique Magalhães (Marca de
Fantasia) quebrando barreiras sociais. Tem
ainda nossos parceiros de longa data, que
inclui Val Fonseca, Joelson Nascimento,
Igor Nicotina, Italo Moreli, Beto Luxúria e
Juliene Osias. Esse ano, também, além do
Jardim Elétrico que vai ao ar toda quinta das
20 às 22 horas na Tabajara FM, estreamos
o Sessão Microfonia que já se consolidou
como um evento cultural, no calendário da
cidade. Na parte dos lançamentos do selo
tivemos: Rotten Flies, N.T.E., Não Confor-
mismo e Ponto de Ignição, para fechar o
excelente ano. Sem esquecer, que, rodamos
muito com a banquinha do jornal pelas es-
tradas afora, levando nosso impresso para
lugares longinquos. Avante! Como diz Fla-
vio HC (Casca Grossa – SE). 2015 já chegou!
JOVENS MORTOS NÃO FAZEM E NÃO
CONTAM HISTÓRIA – A faixa que abre o
disco representa bem o som atual da banda.
Clássico hardcore punk brazuca dos anos 80
e temperado com D-beat. A letra fala sobre co-
modismo e a importância do “faça você mesmo”.
ME DÁ UM CIGARRO – História do cidadão
que perdeu o “jogo da vida”, e foi condenado ao
desprezo por uma sociedade individualista, por
não se adequar ao padrão capitalista, consumis-
ta e repleto de falsidade do mundo moderno.
NÃO PASSARÃO – Influência de Armage-
dom, Exploited e Lobotomia. A letra é uma
homenagem a luta de todos os grupos e orga-
nizações antifascistas espalhados pelo mundo.
CORVOS, ABUTRES E CHACAIS –In-
trodução a la Bad Religion seguidas de uma base
totalmente influenciada por Olho Seco! Tão in-
fluenciada que o mito Fabião não poderia ficar
de fora. Letra fala sobre a trairagem no mundão.
VAI SOFRER – Sabe aquele truta seu que
sempre correu lado a lado com você mas
quando ele teve a sorte de melhorar de vida
te ignorou? Uma levada melancólica de punk
rock pra lembrar que o mundo dá voltas.
MOTOREDSON – Homenagem a obra do
músico, poeta e produtor Redson Pozzi, o cara
que simplesmente mais batalhou pela cena inde-
pendente do país e botou pra funcionar o under-
ground por aqui.
CATÁSTROFE – Para fãs de Extreme
Noise Terror como nós. A letra fala sobre o
ser humano e suas cagadas pelo planeta azul.
SEGUE CALADO – Nepotismo, pecu-
lato e massa de manobra em uma levada
de, como diria a banda Esgoto, punk rock
sem frescura e diretão na cara. Pogo!
MURALHA DE HIPÓCRITAS – Aqui o hard-
core punk flerta com o thrash e o groove. Com
participação da lenda viva JP, ex vocal da banda,
a letra diz praquele cara acomodado, no topo
da pirâmide social, que a hora dele vai chegar.
DANÇA DOS RATOS – Punk rock pra
lembrar a todos os humildes, que a cor-
da sempre estoura no lado mais fraco.
ESTADO GRAVE – Hardcore! Muito Hard Core
com um breve respiro pra mais Hard Core! Essa
é a levada para uma letra que fala sobre saúde
pública e o descaso de governos e autoridades.
CARTASMARCADAS–HC/Punk.Políticospro-
fissionais mentem. Nenhum partido te representa!
NAPALM NELES – Para fechar o disco,
a vontade do povão de ver todo e qualquer
político corrupto queimando no inferno, em
um groove repetitivo e intenso, que quase
como um mantra, deseja de coração uma morte
lenta e dolorosa a quem rouba com a caneta.
Faixa a Faixa
MICROFONIA 3
Enquanto isso, fora da redação...
NÃO CONFORMISMO – AUTOFLAGELO DA HUMANIDADE EP 7” VINIL 2014 O baterista da Rotten Flies, ao ser perguntado sobre
a união da cena local, disse certa feita, : “aqui não tem união de porra nenhuma”. Essa frase define a letra de Cena de Merda. A raiva contida nas
letras do NC está estampada em todas as faixas, desde Autoflagelo da Humanidade (dizimando corpo e alma/e ainda vai perguntar o porque!),
passando por Pobre Diabo (seu conformismo alimenta a fogueira), Raiva Demais: não perca a capacidade de se indignar!, pois a indignação é o
primeiro passo para não se conformar com as regras ditadas pelo sistema. O disquinho vermelho (sim!), termina com Descamisados, que fala do
acontecido no governo Collor.Além da fúria verbal e escrita emanada por Fred, NC conta com Marlon (guitarra),Alex (guitarra), Felipe (guitarra)
e Sidata (bateria). Depois de ouvir esse EP é impossível não questionar, ou pelo menos, não parar um pouco pra observar o que nos rodeia. O.C.
ÓDIO SOCIAL-JOVENS MORTOS NÃO CONTAM HISTÓRIAS CD 2014 (SP) A sonzeira começa com uma base cli-
chê da música que da título ao disco: Jovens Mortos não Fazem e nem Contam Histórias. A faixa bem escolhida pra abrir o trab-
alho do Ódio Social tem aquele riff, que desde os primórdios do Ratos de Porão e mil e outras bandas fazem (dãndãn dãndãn dãndãn
dããããnnn) sem querer ser pejorativo, mas usando a fórmula de contar a mesma história de forma diferente, e é ai que está a graça. O
trio formado por Leandro (guitarra e vocal), Fabio (baixo e vocal) e Douglas (bateria e vocal) se garante, nos três acordes, coisa que
é para poucos. O CD, em formato digipack, conta com 13 faixas, recheadas com punk/HC e participações bem equalizadas - Fabio
(Olho Seco), Jeferson(Agrotóxico), Antoni Carlos (Sistema Sangria), Wendell (Coléra), DUX (RDH), Diögro (Agaclock) e Larys (Ra-
tas Rabiosas). A faixa MotörRedson, como o próprio título entrega , é uma mistura riffada do Motörhead com uma singela homena-
gem ao eterno vocalista Redson , conta com participação de Wendell (atual vocal do Cólera), que canta: “Hey violência, eu vivo sem
você”, típico refrão que o Sr. Redson usaria em suas composições. Excelente lançamento da Redstar, pra fechar o ano com chave. A.S.
PONTO DE IGNIÇÃO – COLETÂNEA PUNK/HC V/A CD 2014 Ponto de Ignição é a temperatura mínima para ocorrer uma com-
bustão. Aqui, Ponto de Ignição é reação sonora, composta por: Casca Grossa (SE), hardcore feroz direto nas entranhas! Abre a coletânea
com Estado Opressor, porrada, logo de cara! Em seguida um bando do Rio Grande do Norte transforma zumbis em cangaceiros e bota
os seres inertes para correr com seu horror punk criativo e contagiante. Com músicas gravadas num quarto em algum bairro de Teresina,
Obtus quebra as paredes e avança com fúria, só ouvindo pra sentir. DxDxAx (Distúrbio de Déficit de Atenção), faz com que seu déficit
se dissipe nas quatro músicas de total crossover paraibano. Insolência Pública influenciou meio mundo de bandas no Pará e continua na
estrada carregando todas as sonoridades da sua terra e finalizando, a pernambucana C.A.M. (Companhia de Amores Miseráveis) foi bus-
car o nome numa música do D.R.I., mas as letras retratam o que está muito próximo da realidade, por eles vivida, no bairro de Brasília
Teimosa: uma tijolada! Para fechar: a capa fuderosa de Igor Tadeu atestando o ponto de partida: o fogo transforma, desde muito! O.C.
El Mariachi
50 TONS DE ÓDIO! VÁRIOS ARTISTAS - CINQUENTA BANDAS EM CINQUENTA MINUTOS CD-R 2013 Colocar cinquenta bandas
com cada uma utilizando apenas um minuto, não é brincadeira! É o que podemos ouvir nesse trem sem freios. Aqui você vai encontrar tudo que
é estilo dentro do underground, no entanto, fica difícil definir o trabalho de uma banda em um minuto. Além do tempo ínfimo para a música,
algumas ficaram uma verdadeira desgraça, em termos de produção e mixagem. Mas, isso não tira o mérito da coletânea, pois existe gosto para
tudo. A capa, em formato envelope, é bem bacana, com o desenho de um rosto de uma mulher com cara de espanto. Além das ilustres desconhe-
cidas, tem também bandas como Negative Control, Pastel de Miolos e Blind Pigs. Boa sorte e viagem no mundo do barulho, caro leitores. B.L.
RASTROS DE ÓDIO – O MUNDO EM ESTADO DE ÓBITO EP CD-R(MG) 2013 O nome desta banda me lembra um dos clássicos do cin-
ema dirigido por John Ford e tendo o supra-sumo dos cowboys do velho oeste, John Wayne, o Arizona nunca mais foi o mesmo. Voltando pra ban-
da, posso dizer que o hardcore vai agradar gregos e troianos, pois é aquela direta com bases que grudam no seu ouvido, lembrando bandas como
Desordeiros do Brasil e Ratos de Porão. O CD está bem gravado, a única coisa que faltou foi volume na guitarra. O vocal é bem agressivo e com-
preensível. A capa é em formato envelope com as letras, a arte é um desenho do clichê de um punk vomitando tudo o que não presta. Apesar deser
um EP, tem uma faixa bônus que inclui uma gravação ao vivo com uma porrada de músicas. A banda é formada por Tosco (vocal), Plank (baixo/
backing vocals), Zebra (guitarra/backing vocals) e Dumetal (bateria). Destaque para todas as músicas. E ainda dizem que o punk morreu! B.L.
MICROFONIA4
OAmor à Queima-RoupaAtrás da Porta Verde
Pequenos Picos #01
capa azul ou laranja,
miolo branco, 20 pgs
Imagine você com um bom emprego, vivendo numa
puta casa e, para fechar, casado com uma mulher
muito gata. Só tem um problema: você tem a fanta-
sia de ver a sua mulher transando com outros caras.
Ou seja, você quer ser corno, a todo custo! E pior:
escolhe uns caras bem sarados para pegar a sua mu-
lher! Tá de brincadeira, não é, meu amigo?Assim,
você é duplamente corno, pois a mulher começa a
gostar do joguinho e se entrega para um papatudo!
Aí o barco começa a afundar... quando o dito cujo
transa com ela e mais duas garotas, o barco afunda
de vez! Moral da história: essa fantasia só leva a
chifre, como diz meu amigo Mano. Pois, não é só
nos zoológicos e parques que existem ursos. B.L.
Em 2012, a editora Marca de Fantasia realizou mais
uma edição de seu concurso de quadrinhos para es-
timular os autores amadores a mostrar seu trabalho,
que em seguida é publicado em álbum com os sele-
cionados. A temática foi a homossexualidade,
aberta a várias expressões de gênero, como gays,
ursos, lésbicas e transexuais, enfocando seus pro-
blemas, conquistas e afirmação. Em meio a uma
boa leva de trabalhos, surpreendeu-nos as tiras de
Camila, personagem transexual criada por Julie Al-
buquerque. Até onde sabemos, trata-se da primeira
personagem com essa característica feita no país
e ainda mais por uma autora também transexual.
Julie Albuquerque é Júlio César de Oliveira Albu-
querque. Júlio sempre teve uma aparência feminina.
Julie se considera a primeira transexual a editar um
fanzine com uma personagem transexual, o Camila
GLS Rock Zine. Camila foi criada em homenagem
a Camila de Castro, transexual que vivia na Praça
Roosevelt em São Paulo, e que (supostamente) se
matou, jogando-se nua do 7º andar do apartamento
em que morava. Cerca de um ano depois, Julie lançou
o Camila Zine edição especial nº1, durante o show do
Ação Direta em Ibiúna, alcançando um sucesso in-
esperado na cena underground de rock. Irreverente,
às vezes desbocada e só levemente imoral, Camila
é a expressão de um mundo em conflito, que vive
cerceado por padrões morais ancestrais e estúpidos.
Embora o sexo esteja quase sempre presente nas
tiras, o mundo de Camila faz reiteradamente refe-
rência às bandas de rock preferidas da autora, sobre-
tudo as que circulam fora dos esquemas comerciais.
Embora a produção de Camila seja esporádica - re-
unimos praticamente tudo o que já foi criado com
a personagem e publicado em várias edições de seu
fanzine. O trabalho de Julie ganha densidade pela
originalidade estética de sua obra, que ela domina
bem, e pelo conteúdo excêntrico e provocador, num
meio tão marcadamente machista como o dos quadri-
nhos. H.M. Texto completo: marcadefantasia.com
Killer Looks - Direção de Toby
Phillips, com Sara Suzanne
Brown, Len Donato e
Janine Linden
(1994)
Adquiri o fanzine Pequenos Picos #1 durante o Ugra
Fest zine deste ano nesta minha última ida até São
Paulo. Foi ao trocar uma idéia com a zineira Adriana
Terra, que descobri este simpático fanzine de capa co-
lorida. Lançado em março de 2014, o Pequenos Picos
#1 fala de lugares da cidade de São Paulo através de
quadrinhos, muitos destes lugares localizados na região
central – no final do fanzine, você até pode conferir
onde ficam os lugares citados na história. Segundo os
editores (Mzk e Adri Terra), a ideia para as edições fu-
turas é falar sobre outras áreas e de outras cidades. Se
me lembro bem, a edição veio em um plástico com a-
desivos/stickers do mesmo desenho da capa em versão
pequena. Já saí colando por aí e por isso não tenho
certeza de quantos vieram! Acho bem legal essa pro-
posta dos zineiros atualmente fazerem mini-pacotes
de fanzines com patches ou stickers. Tipo o Pack do
Bikini Kill zine da Jessica Nakaema,trazendo um
patche + fanzine. Mas esse fica para futuras resenhas.
Camila
Julie
Albuquerque
Série
Repertório, 19
Marca de
Fantasia
2014. 60p.
14x20cm.
R$12,00.
Nunca te Vi, Sempre te Amei
PATROCÍNIO
Fanzine feminista produzido pela Gabi Rotilli de
Santa Maria/RS, lançado novembro de 2014. Sim,
saiu do forno há pouco! As capas do fanzine têm
cores neon - ganhei uma edição na cor pink – e traz
textos sobre feminismo interseccional, anticapitalista
e antiespecista. 16 páginas com sede de revolução!
Sonoridade e empatia! Putinha de Satanás é só o pri-
meiro – espero – de muitos. O nome surgiu porque,
pro sistema, se eu reclamar meu corpo enquanto meu,
eu sou vadia, se eu considerá-lo laico, eu sou de sa-
tanás!” Contato aqui: gabirotilli@gmail.com. G.G.
Putinha de Satanás #01
Ofício, capa em cores neon. 20 páginas,
miolo branco

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  • 1. MÚSICA .FILME .HQ .SHOWAno 4 nº 24 João Pessoa, dezembro 2014 Distribuiçãogratuita Qual o sentido de tudo isso? Diversão garantida? Tocar guitarra no mais alto volume? Colocar as neuroses pra fora? Dedo na ferida? Pode ser tudo ou nada disso. Mas o que não se nega é que Leandro, Fabio e Douglas são narradores do cotidiano, trans- formando as mazelas vivenciadas em música. O fio condutor da narração desses jovens não poderia ser outro, senão o hardcore. Sonoridade que, mesmo tendo alguns tentáculos na grande mídia, incomoda e sempre irá incomodar, porque ainda continua à margem, funcionando muito bem, para quem sabe usá-la de forma simples e direta. No recém lançado CD Jovens Mortos não Fazem e não Contam Histórias, os três jovens, que estão muito vivos, contam ao Microfonia algumas histórias. Vamos a elas? trumental está mais direto. Essa é a grande diferença! Por que esse título, Jovens Mortos? Douglas – O título completo é Jovens Mortos Não Fazem e Não Contam Histórias. Eu escrevi essa letra porque eu vejo que tem muito conformismo, uma apa- tia tremenda. Antes as pessoas estavam mais ativas, hoje me dia deu uma caída, então surgiu a ideia da letra. As outras letras giram em torno desse mesmo tema? Douglas – Não, não é um álbum temático. A gente nunca pensou em fazer um álbum temático. É só você que escreve as letras? Douglas – Todos. A gente chega com ide- ias e daí se acrescenta ou lima alguma coisa. Fábio – Tanto na letra como no instrumen- tal, a gente vai complementando a ideia de quem trouxe, até chegar num resultado satis- fatório pra banda e tem funcionado muito bem. O que vocês estão escutando atualmente? Douglas – Eu gosto de música pra caramba, então não me limito. Apesar de gostar muito de punk/hardcore, gosto de escutar outras coisas. Fábio – Vou do metal extremo ao rap nacional, punk mais antigo, mas o que tenho mais escutado são as produções que estão sendo feitas no meu estúdio. Leandro – Estou escutando Luiz Gonzaga e Olho Seco Quais produções você destaca do seu estúdio? Fábio – Acho que o Agaglock, aqui de São Paulo. Gostei demais, tem uma temática de rap nacional. É pesado, mas ao mesmo tempo não é muito sujo, nem muito berrado, gostei de fazer. Tem um trabalho que estou gostando muito de fazer no momento, é da outra banda do Douglas, chamada Massacre em Alphaville. Cruel Face que foi bem legal de fazer por ser uma gravação ao vivo. Eu tinha muito preconceito com gravação ao vivo, mas essa experiência mudou tudo! Quais foram os obstáculos que vocês enfretaram ou ainda enfrentam? Em 2013, o Microfonia, assistiu Ódio Social como um trio, no Cidadão do Mundo, junto com Periferia S/A. Qual foi o momento que vocês se consolidaram como trio? Foi nesse show? Douglas – Foi natural. Houve uma saída de um in- tegrante e foi só uma questão de adaptação porque como trio ia funcionar do mesmo jeito. Só mu- dou o pensamento. Hoje a gente pensa com uni- dade. Naquele show, já deu pra gente perceber que dava pra levar. Era só uma questão de tempo e en- saio. A partir do momento em que o antigo inte- grante saiu, já éramos um trio. Não tinha porque fi- car pensando em alguém pra substituir. E acho que essa formação irá funcionar por um bom tempo. Fábio – Antes disso, éramos um quin- teto, então, foi a mesma adaptação. Teve uma lavagem pública de rou- pa suja com a saída do integrante. Ban- das passam por isso... Como ficou o pós? Fábio – A gente não trombou com ele depois disso. Nenhum contato. A gente seguiu com nosso trabalho. Estamos tranquilos e acredito que vai continuar assim. Essa foi a formação que gravou Jovens Mortos? Quando começou a ser pensado? Fábio – Acho que em outubro do ano passado, 60% das músicas do disco já estavam prontas, mas com a mudança, a gente acabou tendo que readaptar. Principalmente por conta da guitarra. Não foi pre- ciso refazer as músicas, mas mudaram um pouco. Qual a diferença de Jovens Mortos para o CD an- terior? Fábio – a grande diferença é que o CD vai chegar em lugares que a gente não conseguiria alcançar, pois o Jeff da Redstar tem contatos diferentes do que a gente tem. Nem melhor, nem pior, mas pelo fato de chegar em lugares diferentes. Não acho ruim lançar material independente, tem tamnto vantagens como desvanta- gens em ambos os casos. Como a gente não tinha ne- nhum material lançado por um selo mais consolidado na cena, acho que vai ser mais interessante por isso, por alcançar um publico que não alcançaríamos por conta própria. Douglas – Não só a Redstar, mas também a Svoboda Records, da França, tá dando um suporte pra gente. Sonoramente, qual a diferença desse trabalho para os anteriores? Douglas – a diferença é que antes a gente tinha duas guitarras, dava para trabalhar mais. Hoje em dia é mais paulada. Fábio – O som está mais direto. O que mudou foi jus- tamente a segunda guitarra. Agora são três vocais, an- tes eram só dois. Não sei dizer se está melhor ou pior, mais trabalhado ou menos trabalhado, na questão ins- Ódio Social - Jovens vivos contam histórias Foto:OlgaCosta
  • 2. MICROFONIA2 EXPEDIENTE Editores: Adriano Stevenson (DRT - 3401) Olga Costa (DRT - 60/85) Colaboradores: Beto L./Gabriela Gelain/Henrique Magalhães Fotos/Editoração:Olga Costa Ilustração:Josival Fonseca Revisão: Juliene Paiva Osias E-mail:jornalmicrofonia@gmail.com Facebook.com/jornalmicrofonia Twitter:@jmicrofonia Tiragem:5.000 exemplares Todos os textos dos nossos colaboradores são as- sinados e não necessariamente refletem a opinião da redação. Leandro – Todos os obstáculos. Nós três nos conhe- cemos numa época que todo mundo corria atrás de show. Aqui sempre foi fechado e é uma dificuldade até hoje. O Ódio Social começou em 2000. São qua- torze anos de carreira. Teve muita gente que ajudou a gente, como o pessoal de uma banda chamada Rrrraict Tuff, que sempre chamava pra tocar quando tinha show. Até instrumento era muito difícil, tudo muito tosco, podrão, mas tudo isso amadureceu a banda. Depois que conhecemos Jeferson e Mar- cos do Agrotóxico, tivemos uma chance um pouco maior, porque a partir daí abriram-se portas para festivais, como o Punk na Páscoa, depois veio CD o Four Way Split, o Fábio foi se especializar em gravar. O sonho em comum da banda era ter um trabalho lançado em vinil, corremos atrás e con- seguimos lançar o nosso primeiro EP e isso abriu um leque enorme, triplicou o interesse pelo OS, na França, Bélgica, Suécia e até os Estados Unidos tam- bém, que era um lugar super fechado. E agora com esse novo trabalho, só pegando a deixa do Fábio e Douglas que já comentaram, para mim é o tra- balho mais consistente e o melhor nas letras, musi- calidade e gravação. Acho que é um marco na nossa trajetória como banda, um start para produções me- lhores, mais coisas boas. Depois que a gente lançou o EP em vinil, várias bandas também lançaram em seguida. Assim, pretensão nenhum da gente ter in- fluenciado essa galera, mas teve uma contribuição, um incentivo pro pessoal correr atrás e tentar lançar. Fábio – Reinterando o que foi falado, se você correr atrás, nada é impossível! Qual foi a grande roubada que o OS já passou? Fábio – Nada como a experiência, não é? Hoje em dia conseguimos sacar quando vai dar mer- da, bem antes! E é mais ligeiro driblar a roubada. E quando vocês chegam em um lugar esperando um público legal e tem só uma galera escassa? Douglas – Eu nunca me liguei nisso. Ten- do um lugar pra tocar, rolando o show, a gente vai querer fazer o barulho o mais fu- dido possível para a galera que está curtindo. Fábio – Cinco ou cinco mil a gente vai fazer o mesmo show, mas já tocamos em show que foram dez pessoas e a gente mantém contato até hoje. Então, isso não influi, mas queríamos que tivesse uma cena mais forte em todos os eventos. Qual banda que você gostaria de tra- balhar no seu estúdio e não fez ainda? Fábio – Nunca pensei a respeito disso, mas se- ria bem legal gravar Ratos de Porão, Sepultura, Slayer (risos). É só me chamar pelo facebook (risos). Um famoso produtor britânico disse certa vez: “o produtor tem que ser amigo da banda”... Douglas – Quando fui gravar no estúdio do Fábio, ele tirou um oitão da cintura e fa- lou: grava! Daí eu gravei sossegado (risos). É o Phil Ramone! Bom aluno! (risos) Fábio – Funciona, viu? Produtores do mundo! (risos) Qual música do CD novo, Jovens Mor- tos Não Fazem e Não Contam Histórias, que deu mais trabalho para finalizar? Fábio –Agente gravou tudo separado.Aexecução do instrumental estava tudo certinho. Só uma que a ba- teria ainda não estava definida e uma letra que eu fiz na hora de gravar! (risos). Como a maioria das músi- cas do disco já estavam compostas, mesmo com as mudanças ao longo do tempo, houve poucos ajustes. Vocês compõem a quantidade certa de músicas que vão entrar no CD ou fazem a mais e escolhem depois quais irão entrar? Fábio – Só teve uma sobra, que a gente vai usar como bônus. Eu quero muito gravar essa músi- ca, que é Honra ao Mérito. É uma música an- tiga, de uma formação ainda mais antiga da banda. A gente teve a preocupação com o tempo de adio, não necessariamente com a quantidade de músicas, pensando nos dois lados do vinil. Qual foi o melhor rolê de vocês já como trio? Fábio – Pra mim foi no Sinfonoise em Belo Hori- zonte. Tanto pela figura do Cleuber Tosco, como pelo role em si. A formação como trio ainda era muito recente. Foi começo de novembro do ano passado. EDITORIAL Fechando o ano de 2014 com saldo na conta. Não financeiro e sim nas novas parcerias: leia-se Fred do Não Conformismo assinando a coluna Alta Fidelidade, que fala de vinil e lojas, Gabriela Gelain dissecando zines de todo canto do mundo na coluna Nunca Te Vi, Sempre Te Amei. No Amor à Queima-Roupa a Camila de Henrique Magalhães (Marca de Fantasia) quebrando barreiras sociais. Tem ainda nossos parceiros de longa data, que inclui Val Fonseca, Joelson Nascimento, Igor Nicotina, Italo Moreli, Beto Luxúria e Juliene Osias. Esse ano, também, além do Jardim Elétrico que vai ao ar toda quinta das 20 às 22 horas na Tabajara FM, estreamos o Sessão Microfonia que já se consolidou como um evento cultural, no calendário da cidade. Na parte dos lançamentos do selo tivemos: Rotten Flies, N.T.E., Não Confor- mismo e Ponto de Ignição, para fechar o excelente ano. Sem esquecer, que, rodamos muito com a banquinha do jornal pelas es- tradas afora, levando nosso impresso para lugares longinquos. Avante! Como diz Fla- vio HC (Casca Grossa – SE). 2015 já chegou! JOVENS MORTOS NÃO FAZEM E NÃO CONTAM HISTÓRIA – A faixa que abre o disco representa bem o som atual da banda. Clássico hardcore punk brazuca dos anos 80 e temperado com D-beat. A letra fala sobre co- modismo e a importância do “faça você mesmo”. ME DÁ UM CIGARRO – História do cidadão que perdeu o “jogo da vida”, e foi condenado ao desprezo por uma sociedade individualista, por não se adequar ao padrão capitalista, consumis- ta e repleto de falsidade do mundo moderno. NÃO PASSARÃO – Influência de Armage- dom, Exploited e Lobotomia. A letra é uma homenagem a luta de todos os grupos e orga- nizações antifascistas espalhados pelo mundo. CORVOS, ABUTRES E CHACAIS –In- trodução a la Bad Religion seguidas de uma base totalmente influenciada por Olho Seco! Tão in- fluenciada que o mito Fabião não poderia ficar de fora. Letra fala sobre a trairagem no mundão. VAI SOFRER – Sabe aquele truta seu que sempre correu lado a lado com você mas quando ele teve a sorte de melhorar de vida te ignorou? Uma levada melancólica de punk rock pra lembrar que o mundo dá voltas. MOTOREDSON – Homenagem a obra do músico, poeta e produtor Redson Pozzi, o cara que simplesmente mais batalhou pela cena inde- pendente do país e botou pra funcionar o under- ground por aqui. CATÁSTROFE – Para fãs de Extreme Noise Terror como nós. A letra fala sobre o ser humano e suas cagadas pelo planeta azul. SEGUE CALADO – Nepotismo, pecu- lato e massa de manobra em uma levada de, como diria a banda Esgoto, punk rock sem frescura e diretão na cara. Pogo! MURALHA DE HIPÓCRITAS – Aqui o hard- core punk flerta com o thrash e o groove. Com participação da lenda viva JP, ex vocal da banda, a letra diz praquele cara acomodado, no topo da pirâmide social, que a hora dele vai chegar. DANÇA DOS RATOS – Punk rock pra lembrar a todos os humildes, que a cor- da sempre estoura no lado mais fraco. ESTADO GRAVE – Hardcore! Muito Hard Core com um breve respiro pra mais Hard Core! Essa é a levada para uma letra que fala sobre saúde pública e o descaso de governos e autoridades. CARTASMARCADAS–HC/Punk.Políticospro- fissionais mentem. Nenhum partido te representa! NAPALM NELES – Para fechar o disco, a vontade do povão de ver todo e qualquer político corrupto queimando no inferno, em um groove repetitivo e intenso, que quase como um mantra, deseja de coração uma morte lenta e dolorosa a quem rouba com a caneta. Faixa a Faixa
  • 3. MICROFONIA 3 Enquanto isso, fora da redação... NÃO CONFORMISMO – AUTOFLAGELO DA HUMANIDADE EP 7” VINIL 2014 O baterista da Rotten Flies, ao ser perguntado sobre a união da cena local, disse certa feita, : “aqui não tem união de porra nenhuma”. Essa frase define a letra de Cena de Merda. A raiva contida nas letras do NC está estampada em todas as faixas, desde Autoflagelo da Humanidade (dizimando corpo e alma/e ainda vai perguntar o porque!), passando por Pobre Diabo (seu conformismo alimenta a fogueira), Raiva Demais: não perca a capacidade de se indignar!, pois a indignação é o primeiro passo para não se conformar com as regras ditadas pelo sistema. O disquinho vermelho (sim!), termina com Descamisados, que fala do acontecido no governo Collor.Além da fúria verbal e escrita emanada por Fred, NC conta com Marlon (guitarra),Alex (guitarra), Felipe (guitarra) e Sidata (bateria). Depois de ouvir esse EP é impossível não questionar, ou pelo menos, não parar um pouco pra observar o que nos rodeia. O.C. ÓDIO SOCIAL-JOVENS MORTOS NÃO CONTAM HISTÓRIAS CD 2014 (SP) A sonzeira começa com uma base cli- chê da música que da título ao disco: Jovens Mortos não Fazem e nem Contam Histórias. A faixa bem escolhida pra abrir o trab- alho do Ódio Social tem aquele riff, que desde os primórdios do Ratos de Porão e mil e outras bandas fazem (dãndãn dãndãn dãndãn dããããnnn) sem querer ser pejorativo, mas usando a fórmula de contar a mesma história de forma diferente, e é ai que está a graça. O trio formado por Leandro (guitarra e vocal), Fabio (baixo e vocal) e Douglas (bateria e vocal) se garante, nos três acordes, coisa que é para poucos. O CD, em formato digipack, conta com 13 faixas, recheadas com punk/HC e participações bem equalizadas - Fabio (Olho Seco), Jeferson(Agrotóxico), Antoni Carlos (Sistema Sangria), Wendell (Coléra), DUX (RDH), Diögro (Agaclock) e Larys (Ra- tas Rabiosas). A faixa MotörRedson, como o próprio título entrega , é uma mistura riffada do Motörhead com uma singela homena- gem ao eterno vocalista Redson , conta com participação de Wendell (atual vocal do Cólera), que canta: “Hey violência, eu vivo sem você”, típico refrão que o Sr. Redson usaria em suas composições. Excelente lançamento da Redstar, pra fechar o ano com chave. A.S. PONTO DE IGNIÇÃO – COLETÂNEA PUNK/HC V/A CD 2014 Ponto de Ignição é a temperatura mínima para ocorrer uma com- bustão. Aqui, Ponto de Ignição é reação sonora, composta por: Casca Grossa (SE), hardcore feroz direto nas entranhas! Abre a coletânea com Estado Opressor, porrada, logo de cara! Em seguida um bando do Rio Grande do Norte transforma zumbis em cangaceiros e bota os seres inertes para correr com seu horror punk criativo e contagiante. Com músicas gravadas num quarto em algum bairro de Teresina, Obtus quebra as paredes e avança com fúria, só ouvindo pra sentir. DxDxAx (Distúrbio de Déficit de Atenção), faz com que seu déficit se dissipe nas quatro músicas de total crossover paraibano. Insolência Pública influenciou meio mundo de bandas no Pará e continua na estrada carregando todas as sonoridades da sua terra e finalizando, a pernambucana C.A.M. (Companhia de Amores Miseráveis) foi bus- car o nome numa música do D.R.I., mas as letras retratam o que está muito próximo da realidade, por eles vivida, no bairro de Brasília Teimosa: uma tijolada! Para fechar: a capa fuderosa de Igor Tadeu atestando o ponto de partida: o fogo transforma, desde muito! O.C. El Mariachi 50 TONS DE ÓDIO! VÁRIOS ARTISTAS - CINQUENTA BANDAS EM CINQUENTA MINUTOS CD-R 2013 Colocar cinquenta bandas com cada uma utilizando apenas um minuto, não é brincadeira! É o que podemos ouvir nesse trem sem freios. Aqui você vai encontrar tudo que é estilo dentro do underground, no entanto, fica difícil definir o trabalho de uma banda em um minuto. Além do tempo ínfimo para a música, algumas ficaram uma verdadeira desgraça, em termos de produção e mixagem. Mas, isso não tira o mérito da coletânea, pois existe gosto para tudo. A capa, em formato envelope, é bem bacana, com o desenho de um rosto de uma mulher com cara de espanto. Além das ilustres desconhe- cidas, tem também bandas como Negative Control, Pastel de Miolos e Blind Pigs. Boa sorte e viagem no mundo do barulho, caro leitores. B.L. RASTROS DE ÓDIO – O MUNDO EM ESTADO DE ÓBITO EP CD-R(MG) 2013 O nome desta banda me lembra um dos clássicos do cin- ema dirigido por John Ford e tendo o supra-sumo dos cowboys do velho oeste, John Wayne, o Arizona nunca mais foi o mesmo. Voltando pra ban- da, posso dizer que o hardcore vai agradar gregos e troianos, pois é aquela direta com bases que grudam no seu ouvido, lembrando bandas como Desordeiros do Brasil e Ratos de Porão. O CD está bem gravado, a única coisa que faltou foi volume na guitarra. O vocal é bem agressivo e com- preensível. A capa é em formato envelope com as letras, a arte é um desenho do clichê de um punk vomitando tudo o que não presta. Apesar deser um EP, tem uma faixa bônus que inclui uma gravação ao vivo com uma porrada de músicas. A banda é formada por Tosco (vocal), Plank (baixo/ backing vocals), Zebra (guitarra/backing vocals) e Dumetal (bateria). Destaque para todas as músicas. E ainda dizem que o punk morreu! B.L.
  • 4. MICROFONIA4 OAmor à Queima-RoupaAtrás da Porta Verde Pequenos Picos #01 capa azul ou laranja, miolo branco, 20 pgs Imagine você com um bom emprego, vivendo numa puta casa e, para fechar, casado com uma mulher muito gata. Só tem um problema: você tem a fanta- sia de ver a sua mulher transando com outros caras. Ou seja, você quer ser corno, a todo custo! E pior: escolhe uns caras bem sarados para pegar a sua mu- lher! Tá de brincadeira, não é, meu amigo?Assim, você é duplamente corno, pois a mulher começa a gostar do joguinho e se entrega para um papatudo! Aí o barco começa a afundar... quando o dito cujo transa com ela e mais duas garotas, o barco afunda de vez! Moral da história: essa fantasia só leva a chifre, como diz meu amigo Mano. Pois, não é só nos zoológicos e parques que existem ursos. B.L. Em 2012, a editora Marca de Fantasia realizou mais uma edição de seu concurso de quadrinhos para es- timular os autores amadores a mostrar seu trabalho, que em seguida é publicado em álbum com os sele- cionados. A temática foi a homossexualidade, aberta a várias expressões de gênero, como gays, ursos, lésbicas e transexuais, enfocando seus pro- blemas, conquistas e afirmação. Em meio a uma boa leva de trabalhos, surpreendeu-nos as tiras de Camila, personagem transexual criada por Julie Al- buquerque. Até onde sabemos, trata-se da primeira personagem com essa característica feita no país e ainda mais por uma autora também transexual. Julie Albuquerque é Júlio César de Oliveira Albu- querque. Júlio sempre teve uma aparência feminina. Julie se considera a primeira transexual a editar um fanzine com uma personagem transexual, o Camila GLS Rock Zine. Camila foi criada em homenagem a Camila de Castro, transexual que vivia na Praça Roosevelt em São Paulo, e que (supostamente) se matou, jogando-se nua do 7º andar do apartamento em que morava. Cerca de um ano depois, Julie lançou o Camila Zine edição especial nº1, durante o show do Ação Direta em Ibiúna, alcançando um sucesso in- esperado na cena underground de rock. Irreverente, às vezes desbocada e só levemente imoral, Camila é a expressão de um mundo em conflito, que vive cerceado por padrões morais ancestrais e estúpidos. Embora o sexo esteja quase sempre presente nas tiras, o mundo de Camila faz reiteradamente refe- rência às bandas de rock preferidas da autora, sobre- tudo as que circulam fora dos esquemas comerciais. Embora a produção de Camila seja esporádica - re- unimos praticamente tudo o que já foi criado com a personagem e publicado em várias edições de seu fanzine. O trabalho de Julie ganha densidade pela originalidade estética de sua obra, que ela domina bem, e pelo conteúdo excêntrico e provocador, num meio tão marcadamente machista como o dos quadri- nhos. H.M. Texto completo: marcadefantasia.com Killer Looks - Direção de Toby Phillips, com Sara Suzanne Brown, Len Donato e Janine Linden (1994) Adquiri o fanzine Pequenos Picos #1 durante o Ugra Fest zine deste ano nesta minha última ida até São Paulo. Foi ao trocar uma idéia com a zineira Adriana Terra, que descobri este simpático fanzine de capa co- lorida. Lançado em março de 2014, o Pequenos Picos #1 fala de lugares da cidade de São Paulo através de quadrinhos, muitos destes lugares localizados na região central – no final do fanzine, você até pode conferir onde ficam os lugares citados na história. Segundo os editores (Mzk e Adri Terra), a ideia para as edições fu- turas é falar sobre outras áreas e de outras cidades. Se me lembro bem, a edição veio em um plástico com a- desivos/stickers do mesmo desenho da capa em versão pequena. Já saí colando por aí e por isso não tenho certeza de quantos vieram! Acho bem legal essa pro- posta dos zineiros atualmente fazerem mini-pacotes de fanzines com patches ou stickers. Tipo o Pack do Bikini Kill zine da Jessica Nakaema,trazendo um patche + fanzine. Mas esse fica para futuras resenhas. Camila Julie Albuquerque Série Repertório, 19 Marca de Fantasia 2014. 60p. 14x20cm. R$12,00. Nunca te Vi, Sempre te Amei PATROCÍNIO Fanzine feminista produzido pela Gabi Rotilli de Santa Maria/RS, lançado novembro de 2014. Sim, saiu do forno há pouco! As capas do fanzine têm cores neon - ganhei uma edição na cor pink – e traz textos sobre feminismo interseccional, anticapitalista e antiespecista. 16 páginas com sede de revolução! Sonoridade e empatia! Putinha de Satanás é só o pri- meiro – espero – de muitos. O nome surgiu porque, pro sistema, se eu reclamar meu corpo enquanto meu, eu sou vadia, se eu considerá-lo laico, eu sou de sa- tanás!” Contato aqui: gabirotilli@gmail.com. G.G. Putinha de Satanás #01 Ofício, capa em cores neon. 20 páginas, miolo branco