A interpretacao das escrituras [ capitulo 5 ]A.W PINK
1. A Interpretação das Escrituras
A. W. Pink
Capítulo 5
Dizer que nossa interpretação precisa obedecer rigorosamente à Analogia da Fé pode soar
como algo simples e óbvio, contudo é surpreendente a quantidade de pessoas — não apenas aquelas
sem instrução profissional, mas também os mais experimentados — que se afastam dessa regra. Sem
dúvida, aqueles que desejam “originalidade”, e têm gosto por achar algo novo ou impressionante
(especialmente baseando-se em passagens obscuras) sem prestar atenção a esse princípio básico, com
toda certeza vão errar. Mas como J. Owen observou: “Enquanto com sinceridade observarmos essa
regra, não estaremos em perigo de corromper pecaminosamente a Palavra de Deus, ainda que não
cheguemos ao seu significado exato em todos os casos”. Por exemplo, quando aprendemos que “Deus
é espírito” (Jo 4.23), incorpóreo e invisível, isso nos guarda de compreender erradamente as passagens
onde olhos e ouvidos, mãos e pés Lhe são atribuídos; e quando somos informados que nEle não há
“mudança, nem sombra de variação” (Tg 1.17), sabemos que quando se diz que Ele Se “arrependeu”,
Ele está falando à maneira dos homens. Da mesma forma, quando o Salmo 19.11 e outros versículos
prometem grande recompensa aos santos que obedecem aos mandamentos, outras passagens bíblicas
mostram que essa recompensa não se deve aos méritos nem às boas obras de quem obedece, mas é
concedida pela graça de Deus.
Nenhum versículo será explicado de forma conflitante com aquilo que está ensinado, de forma
simples e uniforme, no todo das Escrituras, todo esse que nos é apresentado como a única regra de fé e
obediência. Isso requer do expositor não apenas um amplo conhecimento do significado geral da
Bíblia, mas também exige que ele se dê ao trabalho de juntar e comparar todas as passagens que tratam
ou que têm clara relação com o assunto de que está tratando, de forma que ele consiga obter o pleno
pensamento do Espírito sobre esse assunto. Havendo feito isso, qualquer passagem que lhe permaneça
obscura ou duvidosa, precisa ser interpretada por aquelas que são claras. Nenhuma doutrina deve
fundamentar-se numa só passagem, como os mórmons se baseiam em 1 Coríntios 15.29, onde baseiam
o seu erro de batizar os membros do seu culto em favor dos seus ancestrais. Ou como os católicos
apelam a Tiago 5.14.15 para basear o seu dogma da “extrema unção”. É somente por boca de duas ou
três testemunhas que se estabelece qualquer verdade, como nosso Senhor insistiu em Seu ministério:
João 5.31-39; 8.16-18. É preciso tomar cuidado para que nenhum ensino importante se baseie apenas
nalgum tipo, expressão figurativa, ou mesmo parábola; em vez disso, essas referências devem ser usadas
apenas para ilustrar passagens claras e de sentido literal.
Que fique estabelecido, então, na mente do expositor, que nenhuma Escritura deve ser
interpretada sem considerar a relação que possui com as outras partes. A fidelidade a essa regra
fundamental preservará o intérprete de perverter muitos versículos. Dessa forma, quando ouvimos
Cristo dizer: “O Pai é maior do que eu” (Jo 14.28), seremos guardados de qualquer idéia de que Ele era,
em Sua pessoa essencial, inferior de alguma forma, se prestarmos atenção à Sua declaração anterior:
“Eu e o Pai somos um” (Jo 10.31). Por isso, a referência de João 14.28 necessariamente se refere ao Seu
ofício mediatório, no qual Ele era subserviente à vontade do Pai. Dizemos “necessariamente” porque o
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Filho não é outro senão o “Deus Forte” (Is 9.6), “o verdadeiro Deus” (1 Jo 5.20). Além disso, palavras
como “recebe o batismo e lava os teus pecados” (At 22.16) têm de ser entendidas de forma que não
entrem em conflito com “o sangue de Jesus, seu Filho, nos purifica de todo pecado” (1 Jo 1.7), mas
consideradas apenas como um “lavar” simbólico. “...reconciliar todas as coisas a si mesmo”1 (Cl 1.20) não
pode estar ensinando o universalismo, caso contrário todas as passagens que declara o castigo eterno
dos perdidos seriam desmentidas. O ensino de 1 João 3.9 tem de ser entendido de forma consistente
com o de 1 João 1.8.
4. A necessidade de prestar bastante atenção ao contexto é, também, assunto da maior
importância. É necessário não apenas que cada afirmação das Escrituras sejam explicadas em total
harmonia com a genérica Analogia da Fé, mas, mais especificamente, em completa concordância com o
sentido comum e com o mesmo teor da passagem de que faz parte. Esse “sentido comum” precisa ser
procurado com diligência. Há poucas coisas que têm contribuído mais para interpretações errôneas do
que a desconsideração desse princípio óbvio. Por divorciar um versículo do seu ambiente ou por
escolher uma simples afirmação, pode-se “provar” não apenas absurdos mas verdadeiras falsidades por
meio das próprias palavras das Escrituras. Por exemplo, “ouvir a igreja” não é uma exortação aos leigos
a que submetam seu julgamento ao dos clérigos, mas, como deixa claro Mateus 18.17, a assembleia local
deve decidir o assunto quando um irmão faltoso não se deixa disciplinar por meio de conselho em
particular. Como alguém já disse, “Uma mente engenhosa e insincera consegue selecionar certos
versículos isolados das Escrituras, e então os combina da forma mais arbitrária possível, de maneira
que, ao mesmo tempo em que são todos verdadeiras palavras das Escrituras, contudo ao mesmo tempo
expressam os pensamentos daquele que os compilou, e não os do Espírito Santo”.
Consegue-se obter muita ajuda por meio da apuração do significado preciso de certas
expressões por observar as circunstâncias e a ocasião em que foram empregadas. Por falhar nesse ponto,
muito pregador falhou em perceber a real força das seguintes palavras muito conhecidas: “Abre,
Senhor, os meus lábios, e a minha boca manifestará os teus louvores” (Sl 51.15). A boca de Davi havia
sido fechada pelo pecado e pela não-confissão, e dessa forma o Espírito foi sufocado! Agora que ele
tinha acertado o assunto com o Senhor, ele clama com fervor que Deus lhe abra os lábios cobertos de
vergonha. Muitas vezes se percebe o significado espiritual de um evento observando-se as suas ligações
(o contexto). Um notável exemplo disso se encontra em Mateus 8.23-26, onde, lembremo-nos, temos
uma aplicação ao nosso caso. A chave do texto se encontra na última cláusula do verso 23 e na leitura
dos versos 19-22. A ordem do pensamento ali é muito sugestivo: a passagem toda trata de “seguir” a
Cristo, e os versículos 23-26 fornecem uma descrição típica da natureza do caminho do discípulo
através de um mundo atribulado: ele encontra provas, dificuldades e perigos; e muitas vezes parece que o
Senhor está “dormindo” — negligente ou indiferente com nossos perigos! Na realidade, é um teste da
fé, uma demonstração de que Ele requer que O aguardemos, que Ele é nosso único recurso, suficiente
para toda e qualquer tormenta!
A parábola registrada em Lucas 15.3-32, talvez não possa ser interpretada corretamente se
desconsiderarmos o seu contexto. Quanta perplexidade desnecessária já não provocou, e quanta
divergência entre os comentaristas a respeito da identidade das noventa e nove ovelhas deixadas no
deserto (definidas como “justos que não necessitam de arrependimento”) e do “filho mais velho” (que
reclamou do tratamento generoso concedido ao seu irmão), tudo isso pela falha em não usar a chave
que é observar que essa parábola (dividida em três partes) não foi proferida por Cristo aos discípulos,
mas foi endereçada aos Seus inimigos. Ela foi proferida em resposta aos fariseus e escribas que
murmuravam porque o Senhor recebera pecadores para comer com eles. O Seu propósito era expôr a
condição do coração deles, e vindicar as Suas próprias ações cheias de graça. Ele o fez ao retratar a
condição perdida dos Seus censuradores, e ao tornar conhecida a base em que Ele recebia os pecadores
à comunhão consigo mesmo, e ao revelar a ação de Deus que conduz a esses benditos resultados. Uma
vez que se apreendem esses fatos óbvios, não existe mais dificuldade para compreender os detalhes da
parábola.
1 Tradução Brasileira.
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Em Lucas 15.1,2, são-nos apresentadas duas classes distintas e nitidamente contrastadas: os
desprezados publicanos e pecadores que, devido ao profundo senso de necessidade que possuíam,
sentiam-se atraídos a Cristo; e os orgulhosos fariseus e escribas, satisfeitos consigo mesmos. Em cada
uma das três partes da parábola, estão em vista essas mesmas duas classes, e isso na seguinte ordem:
primeiro, o bom pastor procura e dá segurança às Suas ovelhas perdidas, porque é o Seu trabalho que é
a base da salvação; as noventa e nova, que na própria estimativa deles não precisavam de
arrependimento, ilustravam os fariseus justos aos seus próprios olhos — deixados “no deserto”, em
contraste com a ovelha trazida “para casa”. Na segunda parte, descrevem-se as operações secretas do
Espírito no coração (ilustradas pela figura de uma mulher dentro de casa) e, por meio da “luz”, a moeda
perdida é recuperada — as outras dez são deixadas por sua própria conta. Na terceira parte, a ovelha
procurada e encontrada pelo Pastor, e iluminada pelo Espírito, é vista com o Pai; enquanto o filho mais
velho (que arrogantemente afirma ter servido “sem jamais transgredir uma ordem tua”) ilustra os
fariseus — estranhos à festa e ao regozijo! Aprendemos, assim, a importância de observar a quem se
destina a passagem, as circunstâncias e a ocasião quando foi proferida ou escrita, o propósito central de
quem fala ou escreve, antes de procurar interpretar os detalhes.
Todo versículo começado pela palavra “Pois” requer que investiguemos a conexão com o
contexto anterior: essa palavra antecede a comprovação de alguma afirmação feita anteriormente. Da
mesma forma as expressões “por esta causa”, “por conseguinte”, “por essa razão”, “por isso”, e
palavras como “portanto”, “então”, “consequentemente” e “então”. Todas elas requerem cuidadosa
atenção, visto que podemos ter à nossa frente a afirmação da qual se originou a conclusão. A frequente
compreensão errônea de 2 Coríntios 5.17 nos fornece exemplo do que acontece quando se negligencia
esse ponto. Em nove de dez citações do versículo, omite-se a expressão inicial “E, assim” e, ao deixar
de compreender o significado dessa expressão, dá-se uma compreensão completamente errada do que
segue: “se alguém está em Cristo, é nova criatura; as coisas antigas já passaram; eis que se fizeram
novas”. A expressão inicial “E, assim” indica que o versículo não deve ser considerado como algo à
parte, completo em si mesmo, mas antes como estreitamente relacionado com algo que o antecede.
Considerando o versículo anterior, descobrimos que ele também começa com a expressão “Assim
que”, o que de imediato mostra que essa passagem é didática ou doutrinal, não sendo nem biográfica
(que retrata a experiência da alma) nem hortativo (que exorta ou incita à ação de algum dever).
Deve-se notar com cuidado que o “alguém” de 2 Coríntios 5.17 mostra que o termo não
descreve nenhum resultado excepcional ou alguns poucos favorecidos, nem representa somente
cristãos maduros; em vez disso está expondo algo que é comum a todos os regenerados. Na verdade, o
versículo não se refere de forma nenhuma à experiência cristã, e sim ao novo relacionamento a que
somos trazidos por meio da regeneração. Acabaríamos nos desviando do nosso propósito, agora, se
fôssemos responder a questões como: Qual era o assunto específico do apóstolo? O que o levou a
tratar disso? Qual era o seu objetivo específico nessa ocasião? É suficiente dizer, por ora, que ele estava
refutando os judaizantes que o caluniavam, e dessa forma removia o fundamento em que eles se
baseavam. Nos versículos 14-16, ele insiste que a união com Cristo resulta numa morte judicial aos
relacionamentos naturais, na qual cessam todas as distinções entre judeus e gentios; sim, somos trazidos
a novo território, o da ressurreição, o que cria para nós uma nova posição diante de Deus. Como
membros de uma nova criação, estamos debaixo de um pacto inteiramente novo e, para nós, as limitações
e restrições do velho pacto “já passaram”. Tornar esse fato completamente manifesto é o principal
propósito da Epístola aos Hebreus.
5. Para o intérprete, é igualmente necessário determinar o objetivo de cada passagem, isto é, a sua
coerência com o que a precede e o que a segue. Às vezes, isso pode ser mais bem feito quando se
repara com cuidado o livro específico em que se encontra o texto. De forma especial, esse é o caso com
alguns textos na Epístola aos Hebreus. Quantos cristãos que sofreram uma queda feia ou que
apostataram por algum tempo, depois de se arrependerem, torturam-se sem necessidade quando leem
versículos como os de Hebreus 6.4-6 ou 10.26-31! Dizemos ‘sem necessidade’, pois esses versículos se
dirigem a uma classe muito diferente, a pessoas cujo caso era completamente outro. Aqueles hebreus
ocupavam uma posição única, singular. Educados no judaísmo, eles haviam desposado o Evangelho;
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mas mais tarde foram afligidos e abalados porque não se realizaram as suas esperanças carnais que
nutriam a respeito do Messias, e a severa perseguição que estavam então sofrendo os tentava
terrivelmente a abandonar a profissão do Cristianismo e voltar ao Judaísmo. Nas passagens
mencionadas acima, eles foram claramente advertidos de que uma decisão dessas seria fatal. Assim,
aplicar essas passagens a cristãos apóstatas é inteiramente injustificado, fazendo-se uso delas de forma
inteiramente estranha ao seu objetivo e propósito.
Às vezes, encontra-se a chave de uma passagem ao se observar em que parte do livro ela aparece.
Encontramos um exemplo apropriado disso em Romanos 2.6-10, passagem que não poucos têm
distorcido gravemente. O grande tema dessa epístola é “a justiça de Deus” — declarado em 1.16,17. A
sua primeira divisão vai de 1.18 a 3.21, onde se demonstra a necessidade universal da justiça de Deus. A
segunda divisão vai de 3.21 a 5.1, na qual se apresenta a manifestação da justiça de Deus. A terceira
divisão, a imputação da justiça de Deus, de 5.1 a 8.39. Em 1.18-32, o apóstolo estabelece a culpa do
mundo gentio, e no capítulo 2, a dos judeus. Nos primeiros dezesseis versículos, ele estabelece os
princípios que vão reger o juízo final, e nos versos 17-24, faz aplicação direta desses princípios à nação
favorecida. Esses princípios são os seguintes: (1) o juízo de Deus agirá sobre o fundamento da auto-
condenação do homem (v.1); (2) ele será de acordo com a realidade de cada caso (v.2); (3) o abuso da
misericórdia aumenta a culpa (vv.3-5); (4) as obras, e não a mera profissão dos lábios é que decidirão o
assunto (vv.6-10); (5) Deus será imparcial, não mostrará nenhum favoritismo (v.11); (6) haverá plena
prestação de contas segundo os vários graus de luz recebida pelos diferentes indivíduos (vv.11-15); (7) o
julgamento será executado por Jesus Cristo (v.16).
Dessa breve análise (que exibe o propósito, o alvo da passagem bíblica), fica muito evidente que
o apóstolo não estava revelando o caminho da salvação quando declarou: “que retribuirá a cada um
segundo o seu procedimento: a vida eterna aos que, perseverando em fazer o bem, procuram glória,
honra e incorruptibilidade” (vv. 6,7). Longe de afirmar que os homens decaídos podem assegurar a
felicidade eterna por meio de suas próprias boas obras ou pela obediência a Deus, o seu propósito era
exatamente o oposto. O seu objetivo era mostrar o que a santa lei de Deus exigia, e que essa exigência
também se mostraria no dia do juízo. Uma vez que a natureza depravada torna a perfeita e contínua
obediência à lei de Deus impossível a todos os homens, quer judeus ou gentios, torna-se assim evidente
a total desesperança da situação, e torna-se claramente evidenciada a sua terrível necessidade de buscar
fora de si mesmo a justiça de Deus em Cristo.
Uma outra passagem em que a falta de atenção para o propósito com que foi escrita resultou
em falsa doutrina é 1 Coríntios 3.11-15. Com frequência se tem apelado a esse texto para fundamentar
o perigoso engano de que existe uma classe de crentes verdadeiros que perderam toda “recompensa”
futura, não tendo esses crentes nenhuma boa obra que pese em seu favor, contudo entrarão no céu. Tal
conceito é um grosseiro insulto ao Espírito Santo, visto que implica em que Ele opera um milagre da
graça na alma, passa a morar naquela pessoa, contudo não gera nenhum fruto espiritual. Uma idéia
grotesca dessas é completamente contrária à Analogia da Fé, pois Efésios 2.10 nos diz que aqueles
Deus salva pela graça por meio da fé são “feitura sua, criados em Cristo Jesus para boas obras”.
Aqueles que não andam em boas obras não são salvos, pois “a fé sem obras é morta” (Tg 2.20). A
Escritura declara: “Na verdade, há recompensa para o justo” (Sl 58.11), e que “cada um receberá o seu
louvor da parte de Deus” (1 Co 4.5), o que certamente não poderia ser o caso se alguns desses são
meros estorvos nesta terra.
Essa interpretação errônea não somente é altamente desonrosa para com Deus e diretamente
contrária ao claro ensino de outros textos bíblicos, mas ela também é refutada pelo próprio contexto.
Para entender 1 Coríntios 3.11-15, é necessário prestar atenção aos versículos 1-10 — para conseguir
determinar o assunto que o apóstolo está tratando. No início do capítulo 3, Paulo retorna ao desafio que
ele havia feito aos coríntios em 1.11, onde ele os reprovou por estarem contrapondo um servo de Deus
contra o outro, resultando em divisões — a principal razão por que estava lhes escrevendo. Em 3.3, ele
destaca que essa conduta evidenciava a carnalidade deles. Ele os lembra que tanto ele mesmo como
Apolo eram apenas “Servos por meio de quem crestes” (v. 5). Ele apenas tinha plantado e Apolo tinha
regado — mas o crescimento tinha vindo de Deus. Uma vez que nenhum deles era “alguma coisa” a
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menos que Deus Se dignasse a abençoar os seus esforços (v. 7), que loucura não era fazer um ídolo de
um mero instrumento! Dessa forma, é claro, além de qualquer dúvida, que os versículos iniciais de 1
Coríntios 3 tratam do ministério oficial dos servos de Deus. Isso é até mais claro no grego, pois a palavra
“homem” não ocorre em nenhum lugar dessa passagem; “cada homem2” é, literalmente “cada um”, isto
é, da classe específica a que se está fazendo referência.
Esse mesmo assunto continua no versículo 8, embora haja diversidade na obra dos servos de
Deus (uma evangelística, outra de doutrinamento), contudo foram ordenadas pelo mesmo Mestre e tem
como finalidade o bem-estar das almas; essa é a razão por que é estupidez pecaminosa pôr um contra o
outro ou então exaltar um em detrimento de outro. Embora Cristo tenha distribuído diferentes dons a
Seus servos e os tenha designado a uma variedade de ministérios, “cada um receberá o seu louvor da
parte de Deus”. A construção é do próprio Deus, e os ministros são os edificadores (v. 9). No versículo
10, Paulo se refere ao “fundamento” ministerial que ele havia posto (veja Ef 2.20), e aquilo que vem em
seguida diz respeito ao material usado pelos edificadores que vieram depois dele. Se esse material (as
pregações deles) honrou a Cristo e edificou os santos, eles haverão de permanecer e serão
recompensados. Mas se em lugar disso o pregador usou como tema o aumento do crime, as ameaças
das bombas, as últimas decisões dos judeus etc., esse tipo de futilidade sem valor será queimado no Dia
vindouro e não receberá recompensa nenhuma. Assim, é o material usado pelos pregadores em suas
ministrações públicas, e não o andar pessoal do cristão, que está sendo considerado neste texto.
2 Essa observação não tem muito sentido para nós, de língua portuguesa, pois em nossas traduções já aparece a expressão “cada
um”. Contudo, para os de fala inglesa, é extremamente apropriada.