1. Avaliação dos aspectos socioeconômicos e ambientais da
Silvicultura de Pinus na Restinga norte da Lagoa dos Patos – RS
Kahuam de Souza Gianuca
kgianuca@hotmail.com
1- INTRODUÇÃO
Localizada entre o Oceano Atlântico e uma das maiores lagoas costeiras
do mundo, a restinga norte da Lagoa dos Patos é ocupada pelos municípios de
São Jose do Norte, Tavares e Mostardas (Figura 1).
A origem da restinga que forma a margem leste da Lagoa dos Patos
está associada à evolução geológica da planície costeira do Rio Grande do Sul,
atribuída aos processos erosivos e deposicionais que acompanharam as
variações gláci-eustáticas verificadas no quaternário (Tagliani, 1995).
Devido a sua localização, está sob influência das interfaces lagunar,
estuarina e litorânea, desse modo, apresenta ambientes extremamente
diferenciados por suas características ecológicas (Tagliani, 2002), com
destaque para o Parque Nacional da Lagoa do Peixe, localizado no município
de Mostardas.
As atividades do setor primário representam a base da economia da
região e as práticas de uso do solo predominantes são as pastagens para
pecuária, a agricultura representada principalmente pelas lavouras de arroz e
cebola e a silvicultura (pinus e eucalipto). Tais usos causam alterações na
paisagem, devido às formas de manejo, que controladas por forças sociais,
políticas e econômicas, operam em diferentes escalas temporais e espaciais.
Devido ao seu isolamento geográfico a restinga norte da Lagoa dos
Patos representa um dos maiores vazios demográficos do Rio Grande do Sul.
Porém, o término da pavimentação da BR 101 que liga a região aos
municípios do litoral norte do Estado e o incremento da atividade portuária na
margem leste do canal do Rio Grande sugere um momento de crescimento
inédito na região.
2. A expansão portuária vem se intensificando, impulsionada pelo
crescimento do porto do Rio Grande, um dos mais importantes do País. A
Aracruz Celulose já iniciou as atividades para a implantação do primeiro
terminal marítimo na margem leste do canal do Rio Grande, no município de
São José do Norte, com previsão de finalização para 2010.
A tendência é que outros investimentos comecem a se concretizar,
causando um considerável impacto na socioeconomia local e o aumento da
pressão sobre os ambientes costeiros da restinga.
Na restinga da Lagoa dos Patos, extensas áreas de dunas obliteradas e
mantos de aspersão eólica foram florestados com Pinus elliottii a partir da
década de 70. Segundo Tagliani (2002), são cultivados aproximadamente 30
mil hectares de pinus na região que ainda não são explorados de forma
intensiva, constituindo um potencial para a expansão da atividade econômica e
de absorção de mão de obra local.
O gênero Pinus da família das Pinaceae é definido por plantas lenhosas,
em geral arbóreas, de altura que variam de 30 a 50 m, possuem tronco reto,
cilíndrico e copa em forma de cone. A forma das folhas são acículas,
agrupadas em fascículos. Na Restinga da Lagoa dos Patos a espécie cultivada
é o Pinus elliottii da qual é explorada a madeira e também a resina que possui
importante valor comercial, principalmente para a exportação.
3. Figura 1. Localização da Restinga da Lagoa dos Patos.
2- OBJETIVOS
2.1 - OBJETIVO GERAL
Avaliar dos aspectos socioeconômicos e ambientais da Silvicultura de
Pinus na Restinga norte da Lagoa dos Patos – RS.
2.2 - OBJETIVOS ESPECÍFICOS
• Analisar os aspectos socioeconômicos da silvicultura de Pinus;
• Analisar com o uso de ferramentas de Geoprocessamento, os conflitos
de uso do solo resultantes da pressão deste cultivo nos sistemas
ecológicos;
• Elaborar um SIG – Sistema de Informação Geográfica;
• Fornecer subsídios para o Zoneamento Ambiental para a Silvicultura no
Rio Grande do Sul (ZAS);
• Identificar tendências para a expansão da atividade e possíveis
impactos.
• Elaborar cenários futuros.
4. 3- JUSTIFICATIVA
A literatura científica tem abordado com grande freqüência e
preocupação os problemas decorrentes da pressão do desenvolvimento sobre
as zonas costeiras em todo o mundo (El-Sabh et alii, 1998 In: Tagliani, 2002).
A crescente pressão sobre os ecossistemas costeiros resulta
principalmente de conflitos referentes ao uso dos solos e de sérios problemas
de gestão. A intensificação nos usos dos ecossistemas litorâneos,
principalmente os lagunares e estuarinos, tem provocado impactos ao meio
ambiente das formas mais variadas possíveis.
Os conflitos de uso do solo, resultantes das mudanças introduzidas pelo
processo de desenvolvimento, vêm causando a alteração das paisagens
naturais, a perda de biodiversidade; o empobrecimento da identidade cultural e
a supressão de habitats importantíssimos.
Face às características que os distinguem na sua estrutura e função os
ambientes exibem diferentes capacidades de suporte e em conseqüência,
requerem diferentes níveis de manejo.
As mudanças climáticas também geram uma crescente preocupação
com os assentamentos urbanos em áreas costeiras. O aumento no nível do
mar observado no ultimo século representa uma ameaça significativa a essas
áreas (Turner et all, 2005).
Em 2003, o Ministério do Meio Ambiente (MMA) lançou o Mapa de Áreas
Prioritárias para Conservação, Utilização Sustentável e Repartição de
Benefícios da Biodiversidade Brasileira. No Rio Grande do Sul, o estudo indica
que a região da restinga da Lagoa dos Patos está entre as áreas consideradas
como de extrema importância para a conservação da biodiversidade brasileira.
As perspectivas de crescimento sócio-econômico, face a melhoria da
principal via de acesso terrestre ao município - BR 101 - e o recente processo
de instalação de um complexo portuário, levam a uma preocupação quanto ao
futuro da região, em função da fragilidade deste importante ecossistema - a
restinga da Laguna dos Patos.
Como conseqüência desses fatores, o aumento de investimentos na
região resultará na intensificação do processo de ocupação, na expansão das
5. atividades econômicas e potencialização dos conflitos ambientais,
principalmente, no que diz respeito ao uso e ocupação do solo.
Nesse contexto, fazem-se necessárias pesquisas que identifiquem e
avaliem os impactos socioeconômicos e as possíveis alterações causadas na
paisagem pela monocultura de espécies exóticas como o Pinus; e sirvam de
subsídio para conciliar os usos, com as restrições de cada região, de forma a
subsidiar uma gestão mais eficiente dos recursos naturais das regiões
costeiras.
4- METODOLOGIA
4.1 - Análise dos impactos socioeconômicos
Análise de aspectos socioeconômicos do município e levantamento de
informações relativas ao cultivo do Pinus, tais como: o número de empregos
diretos, área ocupada, contribuição econômica da atividade para o PIB,
perspectivas de expansão da atividade. Tais dados serão prospectados em
fontes como a FEE, o IBGE, prefeituras e outros órgãos públicos; além de
questionários direcionados e entrevistas com os principais atores nesse
contexto.
4.2 - Análise dos conflitos de uso do solo resultantes da pressão do
cultivo de pinus nos sistemas ecológicos
A análise será realizada com o uso de ferramentas de geoprocessamento em
um sistema de informações geográficas – SIG, utilizando o software IDRISI®
Andes.
A base de dados para este estudo consiste em fotografias aéreas e
imagens LANDSAT 7 / CYBERS com órbita-ponto 221_082 atuais em escala
adequada, além de arquivos vetoriais de atributos da área de estudo.
O georeferenciamento de imagens de satélite é realizado através de um
processo de transformação sistemática que suavemente “ajusta” a imagem
com base nas posições conhecidas de um conjunto de pontos de controle em
6. terra. No ambiente IDRISI® Andes essa tarefa pode ser realizada com o uso
do módulo Resample.
Com fotografias aéreas o processo é mais complexo. Distorções
causadas por mudanças de altitude da aeronave e a variação topográfica do
relevo, exigem um processo de restituição fotogramétrica para remover estas
distorções e permitir a elaboração de mapas mais exatos, não permitindo o uso
do mesmo método aplicado a imagens orbitais. Para se obter uma restituição
plena é necessário que as imagens estereoscópicas apresentem sobreposição
suficiente para proporcionar duas imagens independentes de cada parte da
paisagem. Usando pares estereoscópicos e pontos de controle no terreno com
posição e altitude conhecidas, é possível recriar inteiramente a geometria das
condições de visada e através disso, retificar medidas nas imagens e também
derivar medidas de altitude do terreno.
A classificação consiste em associar cada pixel da imagem a uma
determinada “classe” de informações temáticas que descrevem um objeto real
como vegetação, áreas urbanas, etc.
A classificação supervisionada permite a identificação de exemplos de
classes de interesse nas imagens (como tipos de cobertura do solo), em
seguida o sistema de processamento de imagens realiza a caracterização
estatística das reflectâncias para cada classe de informação. Depois de obtida
a caracterização estatística para cada classe de informação, a imagem é então
classificada através da análise das reflectâncias de cada pixel para decidir com
qual das assinaturas ele mais se parece. O módulo MAXLIKE permite a
classificação de imagens através do valor associado aos pixels de acordo com
a resposta espectral que apresentam.
O Land Change Modeler (LCM) for Ecological Sustainability é uma
ferramenta experimental do ambiente IDRISI® Andes orientada ao urgente
problema do acelerado processo de alteração nos ambientes naturais.
O LCM permite a análise das alterações na cobertura do solo,
projetando situações futuras através da modelagem digital e avaliando as suas
implicações nas mudanças nos habitat e na biodiversidade. Para isso são
necessários dados processados de forma a compor um cenário anterior e um
posterior, tais como: imagens georeferenciadas que cubram a mesma área,
referências físicas na superfície (estradas, estruturas fixas, etc), modelo de
7. elavação digital (DEM). Através do processamento desses dados o LCM
permite a projeção de cenários futuros de acordo com os processos de
mudança na cobertura do solo. Com a utilização desta ferramenta pretende-
se avaliar e quantificar as alterações na paisagem e a possibilidade de riscos
futuros aos ambientes adjacentes aos cultivos de Pinus na Restinga norte da
Lagoa dos Patos.
Por ser uma ferramenta experimental do ambiente IDRISI® Andes, o
LCM vem sendo explorado para que os seus recursos sejam avaliados e
demonstrem sua utilidade ao longo do trabalho.
4.3 – Elaboração de um SIG
Um Sistema de Informação Geográfica (SIG ou GIS - Geographic
Information System) é um sistema de hardware, software, informação espacial
e procedimentos computacionais, que permite e facilita a análise, gestão ou
representação do espaço e dos fenômenos que nele ocorre.
Os dados (quantitativos e qualitativos) levantados nesse estudo serão
agrupados e sistematizados em associação a representações gráficas da
região (imagens de satélite, fotos aéreas) formando um sistema de informação
de fácil acessibilidade que permitirá a análise dos aspectos socioeconomicos e
ambientais de forma rápida e dinâmica.
4.4 – Análise e discussão dos resultados
A análise dos resultados permitirá a identificação e a avaliação e dos
aspectos socioeconômicos do cultivo de pinus na Restinga norte da Lagoa dos
Patos e os conflitos de uso do solo resultantes dessa atividade, bem como, a
tendência de ocupação do solo e cenários futuros.
8. 5- ETAPAS
Trimestres 1º 2º 3º 4º
1. Analise dos aspectos socioeconômicos da silvicultura de X X
Pinus;
2. Analise dos conflitos de uso do solo resultantes da X X
pressão deste cultivo nos sistemas ecológicos;
3. Identificação de tendências para a expansão da X
atividade e possíveis impactos.
4.Elaboração de cenários futuros X X
5. Analise dos impactos resultantes, e discussão de suas X X
causas
6. Apresentação dos resultados X
6- RESULTADOS ESPERADOS
A realização desse estudo permitirá:
• Identificar e avaliar os aspectos socioeconômicos da silvicultura de
Pinus elliottii na Restinga norte da Lagoa dos Patos;
• Identificar os conflitos de uso do solo na região resultantes da pressão
da silvicultura de Pinus nos ambientes costeiros da Restinga;
• Identificar os níveis de vulnerabilidade dos ambientes costeiros face às
monoculturas;
• Elaborar um SIG possibilitando fácil acesso aos dados de forma
sistematizada e dinâmica;
• Identificar tendências de expansão da silvicultura de Pinus na região;
• Elaborar cenários futuros de acordo com as tendências;
• Gerar subsídios para o planejamento ambiental e para o Zoneamento
Ambiental para a Silvicultura no Rio Grande do Sul – ZAS.
9. 7- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
IDRISI® Andes Manual (2006). Clark Labs.
MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE – MMA (1996). Brasília, DF. Disponível em
“www.mma.gov.br”.
TAGLIANI, C. R. A. (2002). Mineração na porção média da Planície Costeira
do Rio Grande do Sul: Estratégia para gestão sob um enfoque de
Gerenciamento Costeiro Integrado. Tese de Doutorado. Programa de Pós-
graduação em Geociências - UFRGS. Porto Alegre, RS.
TAGLIANI,P.R. (1995). Estratégia de Planificação Ambiental para o Sistema
Ecológico da Restinga da Lagoa dos Patos-Planície Costeira do Rio
Grande do Sul. São Carlos, SP. Tese de Doutorado em Ecologia e Recursos
Naturais, Centro de Ciências Biológicas e da Saúde, Universidade Federal de
São Carlos, São Paulo.
TURNER, R.K.; SUBAK, S.E.; ADGER, W.N. (2005) Pressures, trends and
impacts in coastal zones: Interactions between socio-economic and
natural systems. CSERGE Working paper GEC 95-09.