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Alma desencantadora das ruas
Uma alma desencantada pode ficar cinza.Mas o cinza também recebeu muitos tons, como
tudo ganha tons no modo como se absorvem os contrários, o adverso, o oposto.Best –
opositoriun.
Não há encanto ou desencanto,só há des-encanto.E no des-encanto tanto faz andar,
perambular ou simplesmente estar.Tanto faz porque o que nos salva é o encontro,produzido
ou espontâneo,porém sempre fabricado.Sereia da era fabril das febres virais.
Também os incômodos gestam encontros.
No meu mais novo e velho conhecido in-cômodo, carioca rio,fabrico pelas palavras alguns
incômodos,me incomodando comigo mesm@.Embora saiba que “incomodada” ficasse
minha avó.Coitada, como tantas avós, vítima da violência dos homens.Fato noticiado e de
tão visível,banalizado.
A violência mais sutil e cotidiana a que se pode estar sujeita, a violência da indiferença, da
invisibilidade, aquela mesma violência da “gente-cinza”.
A mim, incomoda tudo e nada.Agradeço os buracos, as obras,o desemprego,
as incontornáveis faltas de gentilezas nesta cidade, desta cidade.São estas que me fazem
sentir um resto de vida em mim, por paradoxal experiência.Burguesa experiência.
Por mim,amaldiçôo tudo e nada.Amaldiçôo os buracos, as obras,o desemprego,
os indissociáveis progressos da mobilidade urbana, que em nada mobilizam
sensibilidades.Bem-ti-vi!São estes que me dão a mais sórdida certeza de que estamos
cinzas há séculos como homo-urbes.
Somos homo-sapiens;-ludens;-academicus;-urbes,e tantos outros homo-(já
quase me vejo como um sabão em pó proferindo homoteamo...)Neste lugar do dentro, o
mais capilar in,cresço longe de ser capim.Floresço assemelhada a um espinho.Mais um tom
de cinza, quase branco,mesmo de tez parda,um homo-total.
Uma alma des-encantada pode ficar vermelha.Capitulada pela mais venturosa traição,des-
encantadora alma atraindo pelos cômodos e espaços urbanos distrações.
E en-cabulada neste cômodo-cristal em tela,multiplico os incômodos por diferentes
cômodos,mobilidade ubíqua da palavra.Performático homo-incômodos.
Rio de Janeiro,25 de maio de 2014,por ANGELI ROSE

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  • 1. Alma desencantadora das ruas Uma alma desencantada pode ficar cinza.Mas o cinza também recebeu muitos tons, como tudo ganha tons no modo como se absorvem os contrários, o adverso, o oposto.Best – opositoriun. Não há encanto ou desencanto,só há des-encanto.E no des-encanto tanto faz andar, perambular ou simplesmente estar.Tanto faz porque o que nos salva é o encontro,produzido ou espontâneo,porém sempre fabricado.Sereia da era fabril das febres virais. Também os incômodos gestam encontros. No meu mais novo e velho conhecido in-cômodo, carioca rio,fabrico pelas palavras alguns incômodos,me incomodando comigo mesm@.Embora saiba que “incomodada” ficasse minha avó.Coitada, como tantas avós, vítima da violência dos homens.Fato noticiado e de tão visível,banalizado. A violência mais sutil e cotidiana a que se pode estar sujeita, a violência da indiferença, da invisibilidade, aquela mesma violência da “gente-cinza”. A mim, incomoda tudo e nada.Agradeço os buracos, as obras,o desemprego, as incontornáveis faltas de gentilezas nesta cidade, desta cidade.São estas que me fazem sentir um resto de vida em mim, por paradoxal experiência.Burguesa experiência. Por mim,amaldiçôo tudo e nada.Amaldiçôo os buracos, as obras,o desemprego, os indissociáveis progressos da mobilidade urbana, que em nada mobilizam sensibilidades.Bem-ti-vi!São estes que me dão a mais sórdida certeza de que estamos cinzas há séculos como homo-urbes. Somos homo-sapiens;-ludens;-academicus;-urbes,e tantos outros homo-(já quase me vejo como um sabão em pó proferindo homoteamo...)Neste lugar do dentro, o mais capilar in,cresço longe de ser capim.Floresço assemelhada a um espinho.Mais um tom de cinza, quase branco,mesmo de tez parda,um homo-total. Uma alma des-encantada pode ficar vermelha.Capitulada pela mais venturosa traição,des- encantadora alma atraindo pelos cômodos e espaços urbanos distrações. E en-cabulada neste cômodo-cristal em tela,multiplico os incômodos por diferentes cômodos,mobilidade ubíqua da palavra.Performático homo-incômodos. Rio de Janeiro,25 de maio de 2014,por ANGELI ROSE